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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Eng HELDER RAFAEL REPOSSI DOS SANTOS

A geração da capacidade Explosive Ordnance


Disposal nível 2 (EOD 2) no Exército Brasileiro e sua
aplicação no contexto internacional.

Rio de Janeiro
2021
Maj Eng HELDER RAFAEL REPOSSI DOS SANTOS

A geração da capacidade Explosive Ordnance Disposal


nível 2 (EOD 2) no Exército Brasileiro e sua aplicação no
contexto internacional.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Escola de Comando e Estado-Maior do Exército,
como requisito parcial para a obtenção do título
de Especialista em Ciências Militares, com
ênfase em Defesa.

Orientador: Ten Cel Eng Felipe Araújo Barros

Rio de Janeiro
2021
S237g Santos, Helder Rafael Repossi dos.

A geração da capacidade Explosive Ordnance Disposal nível 2


(EOD 2) no Exército Brasileiro e sua aplicação no contexto
internacional. / Helder Rafael Repossi dos Santos. – 2021.
95 f. : il. ; 30 cm.

Orientação: Felipe Araújo Barros.


Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências
Militares)一Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de
Janeiro, 2021.
Bibliografia: f. 92-95.

1. CAPACIDADES. 2. ARTEFATOS EXPLOSIVOS


IMPROVISADOS. 3. EOD. 4. DOPEMAI I. Título.
Maj Eng HELDER RAFAEL REPOSSI DOS SANTOS

A geração da capacidade Explosive Ordnance Disposal


nível 2 (EOD 2) no Exército Brasileiro e sua aplicação no
contexto internacional.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Escola de Comando e Estado-Maior do Exército,
como requisito parcial para a obtenção do título
de Especialista em Ciências Militares, com
ênfase em Defesa.

Aprovado em .

COMISSÃO AVALIADORA

________________________________________
Felipe Araújo Barros – Ten Cel Eng - Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

____________________________________________
Sérgio Munck – Ten Cel Art - Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_____________________________________________________
Jairo Luiz Fremdling Farias Júnior – Maj Inf - Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
Ao Senhor dos Exércitos, arquiteto do universo e
criador da vida, à minha família, base sólida da minha
vida e ao Centro de Instrução de Engenharia do 2º
Batalhão Ferroviário (CI Eng/2º B Fv).
AGRADECIMENTOS

Ao Senhor dos Exércitos, o Deus que me deu a vida, a saúde e a capacidade para
superar os desafios e seguir pelo caminho da verdade e amadurecimento pessoal.
Sem Ele eu não poderia fazer coisa alguma.

Ao meu orientador, TC Felipe Barros, companheiro mais antigo de outras jornadas,


pela orientação sempre precisa, oportuna e esclarecedora, fruto de sua
irrepreensível e notável carreira, especialmente como integrante do Instituto Meira
Mattos (IMM) da ECEME.

Aos meus pais, Cap QAO R1 Hildebrando dos Santos e Eliza Repossi dos Santos,
pessoas fantásticas e pais maravilhosos. Os valores em mim internalizados desde
tenra idade sempre me orientaram pelo caminho da integridade e da humildade. Os
seus exemplos de vida e conduta sempre serão um farol a iluminar meus passos.

À minha esposa e alma gêmea Polyane, pelo amor, companheirismo e dedicação


integral à construção de um lar estruturado e estável. Fui agraciado por Deus com
uma mulher sábia e carinhosa. Obrigado por estar sempre ao meu lado e por todo
o apoio, ele foi fundamental para eu chegar até aqui.

Aos meus filhos, Pedro Augusto e Letícia, meus mais preciosos tesouros. Frutos de
um amor verdadeiro, vocês me fazem sorrir todos os dias, mesmo naqueles dias
mais difíceis. Obrigado por trazerem mais significado e alegria à minha vida.

Ao amigo e camarada Maj Eng Daniel Augusto Del Gallo pelo apoio e
companheirismo ao disponibilizar sua excepcional tese de Mestrado profissional
para conferir qualidade e credibilidade a este trabalho científico.

Aos companheiros e camaradas: Cap Cavalcanti, Sgt Sander, Sgt Ricardo Barbosa,
Sgt Mauronny (todos do CI Eng/2º B Fv), Maj Del Gallo, Ten Silvério, e Sgt Novais
(antigos integrantes da Equipe DAE/2º BE Cmb). Vocês são mais que amigos, são
irmãos de farda com os quais tive a honra de servir e aprender. Muito obrigado.
“O Exército pode passar cem anos sem ser
usado, mas não pode passar um minuto sem
estar preparado”. (Rui Barbosa).
RESUMO

A geração de capacidades no Exército Brasileiro (EB) segue uma metodologia ainda


em aperfeiçoamento, porém já bem estruturada e sistematizada pela Doutrina Militar
Terrestre (DMT). Trata-se do Planejamento Baseado em Capacidades (PBC). Essa
metodologia de planejamento voltada para a geração de Capacidades Militares é um
modelo estratégico desenhado pelo Ministério da Defesa baseado no estabelecimento
de cenários prospectivos que balizarão o processo de geração de capacidades para
as Forças Singulares. Nesse contexto, a geração de Capacidades Operativas que
visam atender às Capacidades Militares Terrestres (CMT) são desenvolvidas no
âmbito do Exército Brasileiro com base nos fatores do acrônimo DOPEMAI (Doutrina,
Organização, Adestramento, Material, Ensino, Pessoal e Infraestrutura). Dessa forma,
a capacidade de Neutralização de Artefatos Explosivos, conhecida internacionalmente
pelo acrônimo em inglês Explosive Ordnance Disposal (EOD) em seus respectivos
níveis (1, 2, 3 e 3+) é analisada, no presente trabalho, como uma capacidade operativa
a ser gerada sob esses aspectos, tendo em vista as ameaças explosivas que
atualmente representam enormes riscos para vários países e Exércitos do mundo, em
particular pelo advento dos Artefatos Explosivos Improvisados (AEI), os quais
constituem-se em ameaças altamente letais, eficazes e cada vez mais latentes no
cenário internacional. Esses Artefatos Explosivos estão em constante evolução,
inclusive sob o ponto de vista tecnológico, incorporando cada vez mais dispositivos
eletrônicos acionados a distância, conferindo-lhes grande flexibilidade no uso e
enormes possibilidades de emprego. Os AEI, via de regra, são empregados por
grupos terroristas, insurgentes e Organizações Criminosas para desestabilizar
governos e Forças Armadas. Assim, a geração da capacidade EOD, e no âmbito deste
trabalho o EOD nível 2 (EOD 2), desenvolvida particularmente dentro da Arma de
Engenharia do EB, é norteada por princípios, prioridades, Táticas, Técnicas e
Procedimentos (TTP), mostrando-se fundamental para fazer frente às ameaças
explosivas, notadamente os AEI.

Palavras-chave: Planejamento Baseado em Capacidades (PBC), DOPEMAI,


Explosive Ordnance Disposal (EOD) e Artefatos Explosivos Improvisados (AEI).
RESUMEN

La generación de capacidades en el Ejército Brasileño (EB) sigue una metodología


que aún se está perfeccionando, pero ya bien estructurada y sistematizada por la
Doctrina Militar Terrestre (DMT). Esta es la planificación basada en capacidades
(PBC). Esta metodología de planificación orientada a la generación de Capacidades
Militares es un modelo estratégico diseñado por el Ministerio de Defensa basado en
el establecimiento de escenarios prospectivos que orientarán el proceso de
generación de capacidades para las Fuerzas Singulares. En este contexto, la
generación de Capacidades Operativas, que objetivan atender a las demandas
requeridas por las Capacidades Militares Terrestres (CMT), se desarrollan en el
ámbito del Ejército Brasileño con base en los factores del acrónimo DOPEMAI
(Doctrina, Organización, Entrenamiento, Material, Enseñanza, Personal e
Infraestructura). Así, la capacidad de Neutralización de Artefactos Explosivos,
internacionalmente conocida por el nombre en inglés Explosive Ordnance Disposal
(EOD) en sus respectivos niveles (1, 2, 3 y 3+) se analiza, en el presente trabajo, como
una capacidad operativa a ser generada bajo estos aspectos, en vista de las
amenazas explosivas que actualmente representan enormes riesgos para varios
países y Ejércitos del mundo, en particular por el tema de los Artefactos Explosivos
Improvisados (AEI), que constituyen amenazas altamente letales, efectivas y cada vez
más latentes en el escenario internacional. Estos Artefactos Explosivos están en
constante evolución, incluso desde el punto de vista tecnológico, incorporando cada
vez más dispositivos electrónicos activados a distancia, lo que les confiere una gran
flexibilidad de uso y enormes posibilidades de empleo. Por regla general, los AEI son
utilizados por grupos terroristas, insurgentes y organizaciones criminales para
desestabilizar gobiernos y Fuerzas Armadas. Así, la generación de la capacidad EOD,
y dentro del alcance de este trabajo el EOD nivel 2 (EOD 2), desarrollado
particularmente dentro del Arma de Ingeniería del EB, está guiado por principios,
prioridades, Tácticas, Técnicas y Procedimientos (TTP), se mostrando como
esenciales para hacer frente a amenazas explosivas, en particular los AEI.

Palabras clave: Planificación basada en capacidades (PBC), DOPEMAI, Explosive


Ordnance Disposal (EOD) y Artefactos explosivos explosivos (AEI).
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................12
1.1 PROBLEMA........................................................................................15
1.2 OBJETIVOS........................................................................................17
1.2.1 Objetivo Geral....................................................................................17
1.2.2 Objetivos Específicos.......................................................................17
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO..............................................................18
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................18
2 METODOLOGIA...................................................................................20
2.1 TIPO DE PESQUISA E OBJETIVO METODOLÓGICO.......................20
2.2 ABORDAGEM.......................................................................................21
2.3 COLETA DE DADOS............................................................................21
2.4 LIMITAÇÕES DE MÉTODO..................................................................21
3 GERAÇÃO DE CAPACIDADES NO EB..............................................22
3.1 O PLANEJAMENTO BASEADO EM CAPACIDADES (PBC)..............22
3.2 CAPACIDADES MILITARES TERRESTRES (CMT) E CAPACIDADES
OPERATIVAS (CO).............................................................................................28
4 AMEAÇAS EXPLOSIVAS....................................................................32
4.1 CONCEITUAÇÃO E CATEGORIZAÇÃO..............................................32
4.2 OS ARTEFATOS EXPLOSIVOS IMPROVISADOS (AEI).....................33
4.2.1 Conceituação........................................................................................33
4.2.2 A ameaça dos AEI no atual contexto Internacional............................35
5 PRINCÍPIOS, APLICAÇÕES, NÍVEIS, TÁTICAS, TÉCNICAS E
PROCEDIMENTOS (TTP) E AÇÕES EOD...........................................42
5.1 PRINCÍPIOS EOD.................................................................................42
5.2 APLICAÇÕES EOD...............................................................................44
5.3 NÍVEIS EOD............................................................................................45
5.4 AÇÕES EOD............................................................................................47
5.4.1 Limpeza de Vias.....................................................................................48
5.4.2 Limpeza de Área e Campos Minados...................................................49
5.4.3 Limpeza de Viatura Blindada de Combate (VBC)................................50
5.4.4 Busca de ameaças.................................................................................50
5.4.5 Coleta de Informações e investigação forense....................................51
5.4.6 Neutralização de Artefatos Explosivos...............................................52
5.4.7 Proteção de Pessoas e Instalações.....................................................53
5.4.8 Levantamento e Destruição de Engenhos Falhados.........................54
5.5 TÁTICAS, TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS (TTP) EOD....................55
5.5.1 NORMAS DE COMANDO.....................................................................56
5.5.2 TÉCNICAS DE VARREDURA E VASCULAHMENTO............................60
6 O EOD NO COMBATE ÀS AMEAÇAS EXPLOSIVAS NO CONTEXTO
INTERNACIONAL................................................................................62
7 A CAPACIDADE EOD 2 NO EB NO CONTEXTO DO DOPEMAI........67
7.1 DOUTRINA............................................................................................67
7.2 ORGANIZAÇÃO....................................................................................70
7.3 ADESTRAMENTO.................................................................................73
7.4 MATERIAL.............................................................................................75
7.5 ENSINO.................................................................................................77
7.6 PESSOAL..............................................................................................80
7.7 INFRAESTRUTURA..............................................................................82
7.8 RESUMO DA ANÁLISE.........................................................................84
8 CONCLUSÃO.......................................................................................87
REFERÊNCIAS....................................................................................92
12

1 INTRODUÇÃO

Segundo o Manual de Campanha - EB70-MC-10.223 – Operações (BRASIL,


2017, p. 2-1) o atual contexto onde ocorrem as Operações Militares1 caracteriza-se
pela inserção de novos atores (estatais e não estatais) no contexto dos conflitos,
aumentando a importância dos aspectos não militares para resolução destes, o que
leva à necessidade de geração de novas capacidades. Nesse contexto, o ambiente
operacional no qual as Operações Militares se desenrolam é constituído pelas
dimensões física, humana e informacional, e possui um conjunto de condições e
circunstâncias que afetam esse ambiente onde as forças militares atuam e que
interferem na forma como são empregadas.
Nesse sentido, o Manual de Fundamentos – EB20-MF-10.102 – Doutrina Militar
Terrestre (DMT) (BRASIL, 2019, prefácio), acrescenta que os conflitos atuais tendem
a ser limitados, não declarados, convencionais ou não, e de duração imprevisível e
que as ameaças são cada vez mais fluidas e difusas, exigindo, assim, que as forças
militares possuam as capacidades necessárias para serem empregadas eficazmente
tanto em situação de guerra como de não guerra.
Para tal, o Exército Brasileiro (EB) adota o Planejamento Baseado em
Capacidades (PBC) para a geração de forças. De acordo com o Manual de
Fundamentos DMT (BRASIL, 2019), o desenvolvimento de capacidades é baseado
na análise da conjuntura e em cenários prospectivos com o objetivo precípuo de
identificar as ameaças concretas e potenciais ao Estado brasileiro.
Com relação ao aspecto conceitual de capacidade voltada para a geração de
forças militares, o manual DMT (BRASIL, 2019) assim a define:
Capacidade é a aptidão requerida a uma força ou Organização Militar para
cumprir determinada missão ou atividade. Essa aptidão é exercida sob
condições e padrões determinados, pela combinação de meios para
desempenhar uma gama de tarefas (BRASIL, 2019, p.3-2).

No que diz respeito à obtenção das capacidades necessárias para o


atingimento dos objetivos elencados pela Política Militar Terrestre, o referido manual

1
De acordo com o Manual de Campanha EB70-MC-10.223 – Operações (2018), Operação Militar é o
conjunto de ações realizadas com forças e meios militares, coordenadas em tempo, espaço e
finalidade, de acordo com o estabelecido em uma diretriz, plano ou ordem para o cumprimento de uma
atividade, tarefa, missão ou atribuição. É realizada no amplo espectro dos conflitos, desde a paz até o
conflito armado/guerra, passando pelas situações de crise, sob a responsabilidade direta de autoridade
militar competente.
13

(DMT) assevera que esse processo de obtenção deve atender a um conjunto de sete
fatores considerados determinantes inter-relacionados e indissociáveis: Doutrina,
Organização (e/ou processos), Pessoal, Educação, Material, Adestramento e
Infraestrutura – que formam o acrônimo DOPEMAI.
Figura 1: DOPEMAI

Fonte: EB20-MF - 10.102

Neste contexto, o presente trabalho está voltado para o estudo da geração de


capacidades na área Explosive Ordnance Disposal (EOD), especificamente no Nível
2, no âmbito do Exército Brasileiro (EB), abarcando o processo de geração de
capacidades operativas considerando o conceito operativo do EB.
Os Internacional Mine Actions Standars (IMAS) são documentos elaborados
pelo United Nations Mine Actions Standars (UNMAS) que é uma Instituição orgânica
da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável por estabelecer as
normativas internacionais concernentes à Ação Contra Minas alcançando todos os
países que integram este Organismo supranacional. Segundo os IMAS 09.30.01/2014
(2014, p. 6), o termo EOD refere-se à detecção, identificação, avaliação, colocação
em segurança, recuperação e neutralização de artefato explosivo. Por sua vez, esse
mesmo documento de alcance mundial define artefato explosivo como:
O termo ‘Artefato Explosivo’ refere-se a todas as munições contendo
explosivos, fissões nucleares ou de materiais e agentes biológicos e
químicos. Incluem-se bombas e ogivas; mísseis balísticos e guiados;
artilharia, morteiro, foguetes e munição para armas pequenas; todas as
minas, torpedos e cargas de profundidade; pirotecnia; cartuchos e artefatos
acionados por propelentes; artefatos eletro-explosivos; artefatos explosivos
improvisados e clandestinos; e todos os itens ou componentes semelhantes
ou relacionados de natureza explosiva. (IMAS, 2014, p. 7, tradução: CI Eng/2º
B Fv).

No que diz respeito ao profissional EOD, ou seja, aquele militar capacitado


(operador EOD) para cumprir missões e tarefas EOD, as Normas Internacionais de
14

Ação Contra Minas (International Mine Action Standards – IMAS 09.30-01-2014,


2014), o operador EOD designa o profissional e, no presente contexto, o profissional
militar habilitado a detectar, identificar, avaliar, colocar em segurança, recuperar e
neutralizar artefatos explosivos. Já o manual do Exército Espanhol PD4-408 – Empleo
EOD/EOR (ESPANHA, 2011) define operador EOD como o militar da arma de
Engenharia capacitado para desativar munições e artefatos explosivos improvisados
ou de circunstância.
Nesse contexto, para fins deste trabalho, a atividade EOD designa um conjunto
de tarefas eminentemente técnicas, as quais, em última análise, objetivam neutralizar
uma ameaça explosiva, seja com explosivos convencionais ou improvisados, em
situação de guerra ou não guerra, em ambiente rural ou urbano.
De acordo com o Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de
Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro (BRASIL, 2021, p. 2-5), a atividade EOD é
escalonada em vários níveis que levam em consideração o nível de conhecimento
técnico, especialização e adestramento do Operador EOD, que, via de regra, é um
Oficial ou Sargento da arma de Engenharia capacitado para neutralizar Artefatos
Explosivos (AE). Nesse sentido, a capacitação EOD inicia no nível 1 podendo chegar
até o nível 3+, conforme convenções e padrões estabelecidos internacionalmente pela
International Mine Action Standards (IMAS). Sendo assim, o nível EOD 1 diz respeito
ao nível mais básico e o EOD 3+ designa o nível mais completo em termos de
especialização e conhecimento técnico.
Ainda segundo o Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de
Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro (BRASIL, 2021), a atividade EOD é
norteada por princípios os quais buscam, em última instância, a preservação da vida,
seja dos profissionais militares ou de civis num ambiente onde a ameaça explosiva se
faz presente, mas também visa preservar a propriedade e a volta à normalidade.
Ademais, essa atividade é caracterizada por tarefas e capacidades específicas que
balizam o emprego dos Operadores EOD. Por fim, no tocante à parte operativa, as
missões EOD são fundamentadas em Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) bem
definidos.
Atualmente verifica-se que essa área vem ganhando cada vez mais importância
no contexto internacional notadamente no campo militar fruto das características
atuais dos conflitos armados caracterizados pela assimetria nos combates, dificuldade
de identificação do oponente no âmbito das populações civis, diferentes ambientes
15

operacionais, além da importância do incremento tecnológico e da presença de atores


não combatentes como civis e órgãos de imprensa.
Nesse contexto, consoante com Barbero (2013) e Júnior (2011), as
experiências militares, particularmente do Exército norte-americano e de forças da
coalização da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), envolvendo o largo
emprego de Artefatos Explosivos, principalmente dos Artefatos Explosivos
Improvisados (AEI), especialmente no Oriente Médio, mostraram a importância dessa
capacidade em função do grande número de baixas causadas por esses artefatos.
Nesse sentido, a área EOD tem sido alvo de estudo, investimento e adestramento
pelos principais Exércitos do mundo, haja vista as consideráveis baixas ocorridas
resultantes do emprego indiscriminado dos AEI.
Sendo assim, atento a esse cenário, o Exército Brasileiro, por meio das
Portarias nº 157 e 160 158, 159, 161 e 162, todas do Estado Maior do Exército (EME)
do ano de 2020, extinguiu o antigo Estágio de Desminagem, criando e sistematizando
o Estágio de Explosivos e Desminagem por meio das Portarias nº 158, 159, 161 e
162. Esta reestruturação teve como objetivo desenvolver capacidades que possam
ser empregadas no ambiente interno e também no plano internacional. Para isso
agregou-se maior carga horária, atendendo de igual modo a capacitação de mais
recursos humanos para atuarem como Instrutores e Monitores, alocando maior
volume de recursos e adquirindo equipamentos de última geração.
Atualmente, o Estágio de Explosivos e Desminagem para Oficiais e Sargentos
da Arma de Engenharia é desenvolvido no Centro de Instrução de Engenharia do 2º
Batalhão Ferroviário (CI Eng/2º B Fv) e capacita os quadros para atuarem como EOD
2 em missões tanto dentro como fora do território nacional, constituindo-se num
importante vetor de geração de capacidades.

1.1 PROBLEMA

A problemática que é objeto de estudo diz respeito às evoluções dos conflitos


atuais, conforme apontam o Manual de Fundamentos – O Exército Brasileiro - EB20-
MF-10.101 (BRASIL, 2014), o Manual de Campanha – Operações - EB70-MC-10.223
e o Manual de Fundamentos – Doutrina Militar Terrestre - EB20-MF-10.102, cujas
características apontam para cenários difusos, complexos e altamente voláteis. As
profundas mudanças causadas por tal contexto conduziram também a uma mudança
16

no pensamento militar. Antes, a articulação e o preparo das Forças Armadas eram


voltados para combater ameaças identificadas por um possível Estado agressor
baseadas em hipóteses de guerra, conflito e emprego. Atualmente, a predominância
da política, as novas conformações geopolíticas e as peculiaridades das Relações
Internacionais têm orientado a Defesa da Pátria, razão de ser das Forças Armadas a
patamares mais incertos e complexos.
De acordo com os manuais EB70-MC-10.223 – Operações e EB20-MF-10.102
– DMT, esses aspectos materializam-se pela dificuldade em se definir e caracterizar
o oponente ou ameaça, que geralmente constituem-se em forças irregulares infiltradas
na população local ou mesmo em grupos terroristas que se utilizam de táticas
extremamente violentas e agressivas para controlar e obter o apoio da população por
meio de ações que causem pânico e terror para assim dispor de meios e vantagens
frente à uma tropa regular ou a um Governo soberano e legítimo. Acresce-se a isso a
utilização cada vez mais recorrente e eficiente da tecnologia e das informações
compartilhadas e disseminadas em tempo real em prol dessas ações criminosas.
Ademais, a presença constante de agências e organismos não governamentais, além
da própria imprensa são fatores catalisadores para essas ações e impõem restrições
à atuação forças.
Esse ambiente multifacetado e complexo constitui-se terreno fértil para ações
que busquem infringir o máximo de baixas às forças legais por meio de táticas como
emboscadas, ataques surpresas e suicidas, utilizando por vezes a população local e
civis para apoiarem essas ações. Segundo Binnie e Wright (2013) muitas dessas
ações subversivas calcam-se no largo emprego de ameaças explosivas, notadamente
de Artefatos Explosivos Improvisados (AEI), uma vez que esses são baratos, de fácil
confecção e obtenção, além de altamente eficazes e letais.
Nesse contexto, segundo pondera Toy (2013) a experiência de vários Exércitos
ao redor do mundo, como por exemplo a atuação do Exército norte-americano
liderando outros Exércitos da Força de coalização da OTAN no Oriente Médio por
ocasião das Operações Liberdade do Iraque (2003) e Liberdade Duradoura
(Afeganistão - 2014), bem como o longo período de combates entre o Exército
Colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC), de acordo
com relatado por (PEDROSA, 2015), tem mostrado que a problemática dos AEI foi a
principal causa de baixas entre militares e civis.
17

Diante disso, os Exércitos envolvidos nesses conflitos e outros como o Exército


espanhol passaram a estudar e encarar esse problema de forma prioritária, investindo
em formação, treinamento, desenvolvimento de equipamentos e doutrina EOD
voltados para o combate aos AEI. De acordo com Toy (2013) tal postura refletiu-se
em resultados concretos e a partir de 2016 no Afeganistão, onde por exemplo, houve
uma significativa diminuição nas estatísticas de baixas causadas por AEI no âmbito
das Forças da Coalização capitaneadas pelos EUA, denotando a importância da
capacitação EOD para combates dessa natureza. Essa mudança de paradigma
reverberou também no EB por meio da reformulação do Estágio de Desminagem e o
incremento deste com a inserção de técnicas EOD, capacitando os quadros da Arma
de Engenharia como operadores EOD nível 2, aptos a atuarem no Brasil e no exterior.
Nesse sentido, o trabalho de conclusão de curso em tela desenvolve-se em
torno do seguinte problema: a geração de capacidades EOD no nível 2
contemplada pelo atual Estágio de Explosivos e Desminagem (EOD 2)
desenvolvido no CI Eng/2º B Fv atende aos requisitos definidos no PBC com
relação à geração de capacidades operativas baseadas no DOPEMAI?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Analisar a geração da capacidade EOD nível 2 dentro do EB para o combate


às ameaças explosivas, no contexto do PBC sob o enfoque da geração de
capacidades operativas, bem como sua aplicação no contexto internacional.

1.2.2 Objetivos específicos

a) apresentar o Planejamento Baseado em Capacidades (PBC) adotado pelo


EB, destacando o desenvolvimento das capacidades operativas.
b) apresentar a problemática das ameaças explosivas, enfatizando os Artefatos
Explosivos Improvisados (AEI) no contexto internacional.
c) apresentar os princípios, prioridades, aplicações, níveis e Táticas,
Técnicas e Procedimentos (TTP) EOD.
18

d) analisar os aspectos do DOPEMAI no contexto da geração da capacidade


EOD 2, buscando identificar as lacunas existentes no processo de geração dessa
capacidade.

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

O presente estudo limita-se a analisar a geração da capacidade EOD nível


2 desenvolvida pelo CI Eng/2º B Fv circunscrita ao contexto da geração de
capacidades operativas resultantes do PBC desenhado pelo EB. Nesse sentido,
estuda-se a evolução e a importância da atividade EOD, inclusive no plano
internacional utilizando-se exemplos de conflitos ocorridos a partir de 2001, como
a Guerra do Iraque (2003) e do Afeganistão (2014), assim como a problemática
envolvendo os AEI em alguns países africanos, nos quais essa atividade
mostrou-se preponderante e relevante no enfrentamento às ameaças explosivas.

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

As ameaças explosivas têm ganhado cada vez mais notoriedade nas últimas
décadas, notadamente os Artefatos Explosivos Improvisados (AEI), em virtude do seu
largo emprego em vários conflitos na atualidade. No Iraque e no Afeganistão, por
exemplo, Barbero (2013) afirma que esses artefatos causaram, entre os anos de 2001
e 2013, mais de 60% de todas as baixas militares norte-americanas naqueles países,
transformando-se rapidamente em um dos inimigos mais temidos e implacáveis
daqueles conflitos.
Nesse sentido, avulta-se de importância tudo o que envolve o combate à essas
ameaças explosivas, em especial aos AEI. Com efeito, as missões de combate aos
AEI, denominadas anti-AEI, são caracterizadas pelo emprego das Táticas, Técnicas
e Procedimentos EOD (TTP EOD) que visam em última instância neutralizar os
artefatos explosivos, apresentam-se como ferramentas essenciais no combate à
essas ameaças. Cabe destacar que para cumprir tal objetivo a capacitação, o
treinamento e o adestramento constante de recursos humanos são fundamentais.
Assim, cursos e estágios nessa área devem ser objeto de profunda análise por parte
dos decisores militares.
Sendo assim, o presente estudo mostra-se relevante para a sociedade
brasileira, uma vez que numa análise mais acurada diz respeito à segurança interna
19

e à manutenção da paz social na medida em que atua na prevenção da ocorrência de


atentados que possam vir a empregar artefatos explosivos improvisados ou não para
a prática de crimes contra pessoas, estruturas e instalações.
Esse estudo mostra-se relevante também para o Exército na medida em que
terá uma referência e um parâmetro sobre a atual situação da capacitação de seus
quadros na área EOD, o que lhe permitirá visualizar as possibilidades, limitações, bem
como lacunas relacionadas ao processo de geração de capacidades operativas
baseando-se nos requerimentos do DOPEMAI. Ademais, a verificação do
aproveitamento dessa capacidade para emprego no exterior revela-se de igual modo
relevante.
Nesse sentido, a apresentação de exemplos internacionais, no âmbito de
conflitos, nos quais a utilização de elementos especializados em EOD mostrou-se
importante serve de parâmetro e base para a relevância do presente estudo.
Por fim, a pesquisa será relevante para as Ciências militares pois permitirá o
aprofundamento neste tema por parte de outros pesquisadores, aperfeiçoando o
ensino militar.
20

2 METODOLOGIA

2.1 TIPO DE PESQUISA E OBJETIVO METODOLÓGICO

O presente estudo realiza-se, majoritariamente, por meio de uma pesquisa


bibliográfica, pois baseia-se sua fundamentação teórico-metodológica na
investigação sobre os assuntos relacionados à geração de capacidades EOD 2
no contexto do PBC implementado pelo Exército Brasileiro (EB) em livros,
manuais, trabalhos acadêmicos e artigos de acesso livre ao público em geral,
incluindo-se aqueles disponibilizados pela rede mundial de computadores. Ademais,
comporá a pesquisa bibliográfica materiais (manuais e artigos) de alguns Exércitos de
países como: EUA, Espanha, Colômbia, Mali e Nigéria, todos voltados para a área
EOD.
O objetivo metodológico definido para o trabalho a ser empreendido é de cunho
exploratório, que busca trazer mais luz a este tema ainda pouco explorado. Nesse
sentido, a metodologia aplicada utiliza-se de procedimentos que visem sustentar um
processo de sondagem e investigação, culminando na construção do conhecimento
sobre o assunto em tela.
Para tal, procede-se uma revisão bibliográfica, no qual a geração de
capacidades voltadas para o desenvolvimento do nível 2 da atividade EOD dentro do
EB, por meio Estágio de Explosivos e Desminagem do CI Eng/2º B Fv, com vistas a
identificar os possíveis gaps existentes nesse processo de geração de capacidade,
norteia a confecção do presente Trabalho.
Nesse sentido, buscar-se-á identificar os problemas, as limitações, as
potencialidades e as especificidades da questão levantada, objetivando extrair
conclusões lógicas e possíveis soluções aos problemas identificados com base num
encadeamento lógico tendo como foco a resolução do problema de pesquisa. Para
apoiar esse processo, utiliza-se como referências a literatura produzida pelo EB no
tocante à geração de capacidades, além de bibliografias internacionais que servirão
como parâmetro para a solução do problema em tela.
21

2.2 ABORDAGEM

Com relação ao método de abordagem a pesquisa pode ser considerada


dedutiva, pois viabilizará a solução do problema proposto a partir de uma ou mais
conclusões tiradas a partir de proposições (objetivos de estudo) dentro de um
processo lógico, ou seja, as conclusões levantadas visando uma aplicação prática a
partir de procedimentos de tomadas de decisões serão geradas a partir da análise dos
resultados obtidos por meio da coleta de dados.
No que diz respeito à forma de abordagem, o projeto do trabalho é classificado
como uma pesquisa qualitativa, pois trabalha com dados, pressupostos,
conhecimentos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis nem a
tratamentos estatísticos, relacionando a objetivos dos fatos analisados à subjetividade
do pesquisador.

2.3 COLETA DE DADOS

A coleta de dados do presente trabalho de conclusão de curso dar-se-á por


meio da coleta na literatura, realizando-se uma pesquisa bibliográfica na literatura
disponível, tais como livros, manuais, revistas especializadas, jornais, artigos,
internet, monografias, teses e dissertações, sempre buscando os dados pertinentes
ao assunto. Nessa oportunidade, serão levantadas as fundamentações teóricas para
a comprovação ou não da hipótese levantada.

2.4 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

A metodologia em questão possui limitações, particularmente, quanto à


profundida do estudo a ser realizado, pois não contempla, dentre outros aspectos, o
estudo de campo. Outra limitação diz respeito à carência de fontes de consulta
nacionais, uma vez que o tema tratado neste trabalho ainda é incipiente no
âmbito do EB, nomeadamente no tocante ao conhecimento e combate aos AEI .
Porém, devido ao fato de se tratar de um trabalho de término de curso, a ser
realizado em aproximadamente seis meses, o método escolhido é adequado e
possibilitará o alcance dos objetivos propostos no presente Projeto de Pesquisa.
22

3 GERAÇÃO DE CAPACIDADES NO EXÉRCITO BRASILEIRO

3.1 O PLANEJAMENTO BASEADO EM CAPACIDADES (PBC)

Segundo Leite (2011), fatores de instabilidade e incerteza, potencialmente


geradores de crises ou de conflitos, além de riscos diversificados e multifacetados,
passaram a fazer parte da agenda de segurança internacional, inclusive na América
do Sul. Em vista disso, alguns países e organizações de defesa, dentre os quais se
podem citar os Estados Unidos (EUA) e a OTAN, passaram a adotar uma metodologia
sistemática de planejamento voltada para a geração de força a longo prazo
denominada Planejamento Baseado em Capacidades (Capability-Based Planning -
CBP), abandonando o planejamento baseado em inimigos específicos.
Nesse contexto, Leite (2011) destaca que nesse ambiente multifacetado, não
há como se prever todos os cenários e hipóteses de emprego. Sendo assim, o
Ministério da Defesa (MD) vem se reestruturando, a fim de alcançar maior
interoperabilidade entre Forças Armadas (FA), bem como atender à diretriz da
Estratégia Nacional de Defesa (END), na qual está expresso que convém organizar e
estruturar o potencial estratégico das FA em torno de capacidades e não em torno de
inimigos específicos. Nesse sentido, o EB, como parte integrante da estrutura de
segurança e defesa do País, deverá se adaptar a essa nova realidade.
Na visão de Côrrea (2020), o PBC é uma ferramenta de gestão estratégica que
se mostrou muito apropriada para a área de Defesa por diversas razões e motivações
de cunho estratégico, sendo inclusive adotada pelas Forças Armadas de diversos
países.
Esta ferramenta metodológica de gestão estratégica tem sido adotada por
Forças Armadas de muitos países por muitas razões e motivações
estratégicas, dentre elas proporcionar um fundamento mais racional para a
tomada de decisões, oferecer soluções integrais às necessidades
associadas, definir pacotes de atualização e aplicar em cada uma das
capacidades militares que influenciarão na compra de armas e/ou de sistema
de armas, sua possível modernização ou a determinação dos gastos com
manutenção ou baixa do serviço, melhor identificação e avaliação de opções
específicas para mitigar os riscos em aquisições futuras, questões de
restrição orçamentária, evita dispersão de recursos e redundâncias, facilita
estabelecimento de prioridades etc. (CÔRREA, 2020, p. 31).

Nesse contexto, Côrrea (2020) conceitua capacidade como um meio de


alcançar os efeitos desejados, sob condições e padrões específicos, pela combinação
de recursos e formas de executar conjuntos de tarefas. Dessa forma, a capacidade,
23

no âmbito de uma organização, é o resultado de uma estrutura organizacional, das


habilidades, dos talentos e das competências de seus recursos humanos, da
infraestrutura, avaliação, monitoramento e controle, dos processos de gestão e dos
equipamentos que a integra.
No que diz respeito ao processo de geração de capacidades, Domingues da
Silva (2019) explica que este inicia-se no nível político, responsável por fornecer
insumos como orientações, diretrizes e recursos. São exemplos desses insumos as
Prioridades de Defesa, deduzidas da Estratégia Nacional de Defesa, os Cenários de
Defesa, os Cenários Militares de Defesa, a Análise Prospectiva e Tecnológica do
Setor de Defesa e a Análise Prospectiva Financeira e Orçamentária.
A partir dessas orientações, são concebidas Prioridades de Defesa e cenários
prospectivos, cujo escopo destes cenários será reduzido aos Cenários
Militares de Defesa (CMD). Estes são delimitados num horizonte temporal e
resultarão em Possibilidades de Atuação (PA) do Poder Militar, expressas
como desafios. A Concepção de Emprego das Forças Armadas (CEFA)
também se caracteriza como insumo e deverá ser observada. Com base nas
Prioridades de Defesa, nos CMD, nas PA, na CEFA, nas estimativas de
inteligência estratégica e prospectiva e em informações de prospecções
tecnológicas e industriais do setor de defesa, dar-se-á início à fase de análise
desses insumos por equipe de especialistas de diversas áreas do Ministério
da Defesa (MD) e das Forças Singulares (FS). As capacidades a serem
obtidas ao final do processo serão uma resposta robusta ao maior número de
desafios analisados e ao mesmo tempo exequível. (BRASIL, 2020, p. 4).

Barros (2021) ressalta que um projeto de desenvolvimento de capacidades,


para funcionar de forma plena, deve envolver diversas, senão todas, as expressões
do poder nacional (política, econômica, militar, psicossocial e científica-tecnológica),
e não somente a expressão militar. Ademais, pondera que o envolvimento do nível
político se faz necessário na execução do seu papel de integração e coordenação das
outras expressões do poder nacional.
O PBC é detalhado e trabalhado no nível estratégico, ou seja, no Ministério da
Defesa (nível setorial), orientando o planejamento estratégico militar das Forças
Singulares para a consecução de suas missões constitucionais no nível subsetorial.
Nesse sentido, Corrêa (2020) afirma que no nível estratégico-militar, existem
numerosos modelos de planejamento estratégico, entre eles o de ameaças e o de
cenários. Em geral, o modelo de planejamento estratégico mais empregado é o de
ameaças, no qual as capacidades exploram soluções qualitativas e quantitativas com
base em critérios de identificação de inimigos potenciais e da avaliação de suas reais
capacidades.
24

Já na metodologia de planejamento estratégico-militar por cenários, toma-se


por base situações especificadas por parâmetros ambientais e operacionais que,
segundo os objetivos estratégicos, constituem as bases para avaliar as capacidades
para o emprego de força. Ambas metodologias orientam os estrategistas militares a
remeterem conceitos de operação que descrevem como as Forças Armadas deverão
operar em resposta às ameaças, ou seja, delineando a concepção estratégica de cada
FA. Importante ressaltar que a análise de cenários também está presente no
planejamento baseado em ameaças, conforme pondera Corrêa (2020).
O planejamento baseado em capacidades está planejando, sob incerteza, o
fornecimento de capacidades adequadas para uma ampla gama de desafios
e circunstâncias modernas, enquanto trabalha dentro de uma estrutura
econômica que requer escolha. (Davis, 2007, apud CORRÊA, 2020, p. 32).

Conforme esclarece Corrêa (2020) esse processo, que se inicia no nível


político, e é trabalhado e adaptado nos níveis abaixo é conhecido como top down
approach, haja vista que a tomada de decisão na promulgação da grande estratégia
ocorre de cima para baixo valendo-se da orientação de recursos políticos,
econômicos, diplomáticos e militares do Estado. Em países nos quais há um menor
engajamento de lideranças políticas e/ou da sociedade como um todo na formulação
de políticas públicas de defesa e na promulgação da grande estratégia nacional ou no
caso de os estrategistas militares decidirem unilateralmente os aportes do Estado em
matéria de capacidades, formas de emprego e ameaças, caracteriza o processo
denominado bottom up approach.
Ainda de acordo com Côrrea (2020), as capacidades e as áreas de capacidade
são analisadas, selecionadas e definidas com base nas ameaças, em geral,
apontadas pela avaliação de cenários prospectivos. Neste sistema de análise, as
capacidades são desagregadas ou decompostas. Côrrea (2020) pondera que na
maioria dos países que adotaram o PBC, as capacidades desagregadas ou
decompostas são nas áreas de material, infraestrutura, recursos humanos,
adestramento, doutrina, organização, liderança, interoperabilidade, aspectos que
dialogam com os fatores elencados pelo MD para a geração de capacidades, o
DOPEMAI.
De acordo com o Catálogo de Capacidades do EB – EB 20-C-07.001 (BRASIL,
2015, p. 6), alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa e a Doutrina da maioria
das Forças Armadas dos países ocidentais, o Exército Brasileiro passa a adotar a
geração de forças ou capacidades por meio do Planejamento Baseado em
25

Capacidades (PBC). Dessa forma, o desenvolvimento de capacidades baseia-se em


uma permanente análise da conjuntura e em cenários prospectivos, com o objetivo de
identificar tanto as ameaças concretas quanto as ameaças potenciais ao Estado
Brasileiro.
Segundo Barros (2021), o PBC destina-se a atender a necessidade da geração
de força militar por parte dos Estados em um cenário de incertezas, ambiguidades e
restrições orçamentárias.
Um dos fundamentos do PBC é a definição de cenários prospectivos os quais
nortearão o estabelecimento das capacidades requeridas para que o Estado Brasileiro
e por conseguinte o EB faça frente às ameaças vislumbradas. Nesse sentido, Barros,
(2021) advoga que por meio dos cenários desenhados no nível político, os
especialistas de defesa procuram conhecer os atores a eles associados (ameaças)
bem como suas capacidades de atingir o Estado (capacidades-ameaça). Seguindo
nessa linha de raciocínio, infere-se que da compreensão destas ameaças e
capacidades-ameaça é que derivam as capacidades que as FA devem desenvolver
para enfrenta-las.
Nesse sentido, a elaboração de cenários prospectivos para a Defesa visando
orientar o emprego da expressão militar do Poder Nacional é fundamental para que o
processo de geração de capacidades seja efetivo e assertivo. No âmbito do Estado
Brasileiro, o Ministério da Defesa, por meio da Assessoria de Planejamento
(ASPLAN), é o responsável pela confecção do Cenário Militar de Defesa (CMD).
Assim, trata-se de um instrumento de análise, projetando tendências, com reflexos
para a Defesa. Ademais, o CMD apresenta aspectos conjunturais e estruturais que
poderão afetar, nos diversos âmbitos analisados, a segurança e a defesa nacionais,
além de suas possíveis evoluções, as quais serão essenciais para a identificação das
capacidades necessárias à garantia da soberania e da integridade do Estado
brasileiro e das ações a implementar para obtê-las.
Definidas as responsabilidades, as capacidades a cargo do MD (capacidades
militares de defesa) são por esse assumidas e repartidas entre as forças
singulares, subdividindo-se em capacidades militares terrestre, aéreas, navais e
possivelmente, conjuntas, conforme enfatiza Barros (2021). Assim, com base nessa
divisão, as Forças passam a elaborar suas estratégias e planos de ação para o
desenvolvimento dessas capacidades, seja reforçando aquelas que já possuem, seja
adquirindo ou desenvolvendo as que lhes faltam, segundo Domingues da Silva (2019).
26

Estes projetos de obtenção de capacidades são, então, submetidos ao nível


político, que deverá, considerando os meios à sua disposição, realizar os ajustes
necessários para melhor atender às demandas. O resultado desse processo é
materializado em um Plano de Obtenção de Capacidades, que, por sua vez, irá
orientar as ações que serão desenvolvidas, ao longo de um horizonte temporal pré-
definido, a fim de que sejam obtidas as capacidades pretendidas.
De acordo com o Manual do MD - Sistemática de Planejamento Estratégico
Militar (BRASIL 2018, p. 16), o planejamento estratégico militar, no nível setorial, é
baseado na Política Nacional de Defesa (PND), na Estratégia Nacional de Defesa
(END), e no Cenário Militar de Defesa (CMD), e tem por finalidade construir uma
capacidade de defesa, com preponderância na expressão militar do poder nacional,
visando a garantia da manutenção da condição de segurança definida para o País, ou
seja, de sua soberania.
Para tanto, neste nível, é necessária a construção de um CMD e do
levantamento das Capacidades Militares de Defesa (CapMD). O levantamento das
CapMD é obtido por meio da análise minuciosa das possíveis áreas de atuação das
forças militares, pautando o direcionamento dos esforços das Forças Armadas para a
construção das capacidades militares necessárias para enfrentar o futuro projetado.
Essa construção de capacidades está diretamente relacionada ao preparo das Forças,
seja nos aspectos relacionados à aquisição de equipamentos, às características do
adestramento da tropa e à articulação das infraestruturas, equipamentos e efetivos
militares no território nacional, de acordo com o manual supramencionado.
Ainda de acordo com a Sistemática de Planejamento Estratégico Militar
(BRASIL, 2018), o PBC identifica as capacidades requeridas em quaisquer desafios,
considerando todos aqueles visualizados pelo CMD e, em seguida, avalia suas
interações, de modo a alcançar uma configuração de uma força robusta e aplicável
para uma gama de Possibilidades de Atuação (PA).
Leite (2011) esclarece que a abordagem por capacidades é particularmente
adequada quando as ameaças são incertas, difusas e de natureza variada. Isso ocorre
haja vista que, para que haja sua caracterização, o que é considerado mais importante
é a forma “como” o oponente ou a ameaça irá atuar e com que meios, e não tanto a
sua identificação (quem), nem o momento da sua ação (quando). No entanto, deve
ter-se sempre presente quais as potenciais ameaças e suas capacidades, em
27

cenários genéricos, que devem figurar nos conceitos estratégicos aprovados e serem
cuidadosamente refletidos na definição das missões.
O Exército Brasileiro (EB) seguindo a evolução do contexto mundial
caracterizado pela transição da Era Industrial para a Era do Conhecimento,
implementou seu Projeto de Transformação visando torna-se mais apto a enfrentar os
desafios que se apresentam nesse contexto. Nesse sentido, Côrrea (2020) assim
coloca a visão do EB com relação ao PBC.
O Exército Brasileiro (EB) diagnosticou a necessidade de se transformar em
um processo de transição da Era Industrial para a Era do Conhecimento para
que as suas capacidades se tornem compatíveis com o anseio político
estratégico do Brasil de se tornar uma potência mundial. A atual conjuntura
do EB, mais do que a modernização da Força Terrestre, demanda por
transformação, capaz de ser operacional e estar em prontidão em qualquer
área de interesse geoestratégico do Brasil. Este processo sistemático de
Transformação do EB exige, portanto, um planejamento de longo prazo
coerente com a conjuntura nacional que determine um conjunto de ações
estratégicas baseado em capacidades militares. Muitos países e
organizações militares internacionais têm adotado o Planejamento Baseado
em Capacidades (PBC) como parte de seu processo de Transformação da
Defesa (CÔRREA, 2020, resumo).

De acordo com (BRASIL, 2018), o PBC está sendo adotado, a fim de possibilitar
a otimização dos recursos, tendo em vista as limitações financeiras, objetivando
desenvolver uma configuração de força adequada, analisando as opções de obtenção
(aquisição e/ou desenvolvimento) com base nos cenários prospectivos.
Segundo (ECEME, 2020), o PBC busca assessorar os níveis Político e o
Estratégico. Portanto o estudo das Cpcd deve levar em consideração os Elementos
de Força (Elm F), prioritariamente, de Módulo de Emprego (GU- Bda e Superiores,
considerada Elm F de nível estratégico que foi estudo no PI CPEAEx 2020) integrado
com Elm F especializados (Op Esp, DQBRN, GE, cibernética, por exemplo).
Figura 2: Representação gráfica das características do PBC.

Fonte: C DoutEx
28

3.2 CAPACIDADES MILITARES TERRESTRES E CAPACIDADES OPERATIVAS

A partir da definição das Capacidades Militares de Defesa derivam as


Capacidades Militares Terrestres que são aquelas requeridas para o cumprimento da
missão constitucional do Exército. Segundo o Manual DMT (BRASIL, 2019, p. 2-9), as
capacidades militares terrestres também são concebidas a partir do nível político,
onde são determinadas quais capacidades são requeridas à F Ter (as Capacidades
Militares Terrestres) e, posteriormente, são definidas quais Capacidades Operativas
são necessárias às forças que serão empregadas – ou a cada Organização Militar –
para que possam executar as atividades e tarefas que lhes cabem.
Ainda de acordo com esse manual doutrinário, a capacidade militar terrestre
(CMT) é constituída por um grupo de capacidades operativas com ligações funcionais,
reunidas para que os seus desenvolvimentos potencializem as aptidões de uma força
para cumprir determinada tarefa dentro de uma missão estabelecida.
Segundo o Catálogo de Capacidades do EB (BRASIL, 2015), a CMT é
constituída por um grupo de capacidades operativas com ligações funcionais,
reunidas para que os seus desenvolvimentos potencializem as aptidões de uma força
para cumprir determinada tarefa dentro de uma missão estabelecida.
Já as Capacidades Operativas (CO) são as aptidões requeridas a uma força ou
Organização Militar (OM), para que se obtenha um efeito estratégico, operacional ou
tático. São as capacidades que a F Ter deve possuir, sendo obtidas a partir do
DOPEMAI, conforme dispõe o Manual DMT (BRASIL, 2019).
Ainda segundo essa fonte doutrinária, definidas as CMT, com base na análise
de cenários e ameaças, missões e base legal, a F Ter trabalha no sentido de identificar
as CO que não possui e de buscar estratégias para obtê-las, de modo a se colocar
em permanente condição de emprego. Tal aspecto reveste-se de importância tendo
em vista a rapidez com que as ameaças se apresentam na conjuntura e nos cenários
vislumbrados, fruto dos acelerados avanços no campo tecnológico.
O Catálogo de Capacidades do EB (BRASIL, 2015) assevera que a obtenção
dessas capacidades é primordial para possibilitar a atuação do Exército em todo o
espectro dos conflitos (amplo espectro) de forma a alcançar o efeito dissuasório
desejado.
Nesse contexto, as CO são traduzidas pela Política Militar Terrestre (PMT) em
Objetivos Estratégicos do Exército. De acordo com o Artigo Científico apresentado
29

pelo CPAEx 2020 – O PBC e os seus impactos no Sistema de Planejamento do


Exército (SIPLEx) - (ECEME, 2020), a Política para Configuração da Força Terrestre
(PCFT) é parte integrante da PMT, que seguindo a metodologia do Planejamento
Baseado em Capacidades (PBC), define “o que fazer”, com base nas Indicações de
Defasagens de Capacidades, resultado da Fase 2 – Avaliação Estratégica do SIPLEx.
Conforme pondera Barros (2021), norteado pelo que preconiza a Doutrina
Militar Terrestre (DMT) (BRASIL, 2019, p. 4–1), a Força Terrestre, instrumento de ação
do Exército, é constituída com base em módulos dotados de capacidades completas,
ou seja, capacidades contempladas por todos os fatores do DOPEMAI.
Apesar de não estar explícito na DMT, dividiremos esses módulos em dois
tipos – básicos e especializados – a fim de facilitar a compreensão do leitor.
A DMT prevê ainda que os módulos básicos deverão ser constituídos em
cima de estruturas organizacionais pré-existentes, a saber, os grandes
comandos (qualquer comando privativo de Oficial General, como as Brigadas,
Divisões e Corpos de Exército) e as Organizações Militares nível Unidade e
Subunidade, devendo ser configurados de forma a atender ao maior número
de alternativas de emprego, ou seja, possuir o maior número de capacidades
possível. (BARROS, 2021).

A partir da definição das CO requeridas pela F Ter, o processo de geração de


capacidades desenvolve as Atividades e Tarefas que visam mantê-la em permanente
estado de prontidão para o atendimento das demandas de segurança e defesa do
País, visando o cumprimento de sua missão constitucional, ou seja, contribuir para a
garantia da soberania nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem,
salvaguardando os interesses nacionais e cooperar para o desenvolvimento e o bem-
estar social.
Dessa forma, o Catálogo de Capacidades do Exército (BRASIL, 2015) assim
define as Atividades e Tarefas derivadas das CO. Atividades são Conjunto de tarefas
afins, reunidas segundo critérios de relacionamento, interdependência ou de
similaridade, cujos resultados concorrem para o desenvolvimento de uma
determinada função de combate. Já as Tarefas constituem-se num conjunto de ações
cujo propósito é contribuir para alcançar o objetivo geral da operação. É um trabalho
específico e limitado no tempo que agrupa passos, atos ou movimentos integrados,
segundo uma determinada sequência e destinado à obtenção de um resultado
determinado. As tarefas constituem ações a serem executadas pelos diversos
sistemas e elementos operativos.
No que diz respeito ao relacionamento entre as Tarefas e as capacidades
requeridas e desenvolvidas esse Catálogo de Capacidades, esclarece que durante a
30

fase de planejamento das operações, os comandantes e seus estados-maiores


identificam as tarefas a cumprir, selecionam as capacidades adequadas para que
cada tarefa seja realizada com eficácia e iniciam o detalhamento de como cumprir a
missão recebida.
Figura 3: Escalonamento do desenvolvimento de Capacidades.

Fonte: EB20-C-07.001 – Catálogo de Capacidades do EB.

Figura 4: Escalonamento piramidal do desenvolvimento de Capacidades e suas correlações


com os níveis decisórios.

Fonte: C DoutEx.

Figura 5: Representação gráfica do desenvolvimento das CMT e CO.

Fonte: C DoutEx
31

Nesse contexto, a Atividade EOD com suas respectivas Tarefas podem ser
empregadas em proveito do desenvolvimento de grande parte das Capacidades
Militares Terrestres (CMT) e por conseguinte das Capacidades Operativas.
Entretanto, o EOD guarda maior relação com a CMT 02 – Superioridade no
Enfrentamento, que segundo esse mesmo Catálogo de Capacidades (BRASIL, 2015,
p. 10), caracteriza-se por ser capaz de garantir o cumprimento bem sucedido das
missões atribuídas, empregando uma ampla gama de opções, em função da
diversidade de cenários possíveis, buscando uma posição vantajosa em relação à
ameaça que o oponente representa, para derrotá-lo e impor a vontade da força. Tal
assertiva justifica-se pelo fato de que o propósito final do EOD é a neutralização de
ameaças explosivas, constituindo-se, portanto, em um cenário de enfretamento a
essas ameaças.
32

4 AMEAÇAS EXPLOSIVAS

4.1 CONCEITUAÇÃO E CATEGORIZAÇÃO

De acordo com o Manual de Campanha - EB70-MC-10.223 – Operações, o


ambiente que envolve as Operações Militares caracteriza-se por ser altamente
complexo, volátil, flexível e amplo. Ainda de acordo com essa fonte doutrinária, o
ambiente operacional é constituído pelas dimensões física, humana e informacional,
e possui um conjunto de condições e circunstâncias que afetam o espaço onde as
forças militares atuam e que interferem na forma como são empregadas.
Nesse contexto, de forma mais abrangente, as ameaças concretas devem vir
associadas à proliferação de tecnologias, ao terrorismo internacional, ao narcotráfico,
aos movimentos insurgentes e subversivos. Estas questões configuram-se em
ameaças potenciais que podem servir de pretexto para legitimação de ações bélicas,
sejam estas regulares ou irregulares.
No que diz respeito às ameaças explosivas, OTAN (2015) assevera que estas
podem ser convencionais ou não convencionais. As ameaças explosivas
convencionais podem ser representadas por minas terrestres, engenhos explosivos
falhados, munições ou artefatos explosivos abandonados e os chamados restos ou
remanescentes de guerra. As ameaças não convencionais podem ser resumidas
pelos ditos Artefatos Explosivos Improvisados (AEI).
Conforme EUA (2013, p. 1-1), as ameaças explosivas estão presentes em
praticamente todas as fases de uma operação militar. Dessa forma, as tropas EOD,
segundo EUA (2016) tornaram-se essenciais no apoio à liberdade de manobra e à
proteção das forças empregadas nessas operações.
Nesse contexto, o Caderno de Instrução de Neutralização de Artefatos
Explosivos - EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021) traz uma classificação baseada na
urgência de esforços para a solução do incidente representado por uma ameaça
explosiva, escalonando da categoria A à categoria D. Nessa classificação, a mais
grave e urgente é a categoria A e a menos grave e urgente é a categoria D.
A categoria A inclui incidentes que impedem o esforço da unidade de manobra
para cumprir as missões designadas ou que ameaçam, de forma crítica e direta, alvos
importantes. Essa categoria é designada para incidentes que constituem uma ameaça
grave e iminente, que podem causar destruição em massa, contaminação espalhada
33

pelo vento, redução massiva do pessoal em combate ou perda significativa de


estruturas e infraestruturas. Os procedimentos EOD devem ser iniciados
imediatamente, mesmo que haja qualquer risco à equipe EOD.
Por sua vez, a categoria B engloba incidentes que possuem um risco indireto à
unidade de manobra e à sua capacidade de cumprimento de missão ou ameaçam
locais críticos. Geralmente, são pontos com valor militar. Antes de iniciar a operação
EOD, deve ser observado um período de espera para reduzir a ameaça ao pessoal
EOD. Essa categoria está relacionada à prioridade do relatório de incidente.
A categoria C por seu turno abarca incidentes que compõem uma ameaça de
menor potencial para interferir no cumprimento da missão ou que possui alvos não
críticos. Geralmente, os incidentes de categoria C são abordados após os de categoria
A e B, caso a situação permita. Seguem-se obrigatoriamente todos os tempos de
espera e medidas de segurança; a equipe EOD deve-se expor ao mínimo de risco
para o cumprimento das missões.
Por fim, a categoria D contempla os incidentes que não constituem ameaça e
não afetam as capacidades das unidades ou os objetivos. As ameaças categoria D
ainda constituem ameaça real e letal e exigem resposta EOD. Esses artefatos devem
ser sinalizados e deixados para uma posterior avaliação de uma equipe EOD.

4.2 OS ARTEFATOS EXPLOSIVOS IMPROVISADOS (AEI)

4.2.1 Conceituação

Segundo EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021), Artefatos Explosivos Improvisados


(AEI) são objetos projetados para matar, ferir ou causar pânico. Podem ser
construídos unicamente com componentes retirados de objetos que isoladamente não
representam ameaça ou misturados com componentes convencionais para
acionamento de explosivos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) define os Artefatos Explosivos
Improvisados (AEI) como sendo dispositivos instalados ou fabricados de maneira
improvisada, incorporando materiais explosivos, destrutivos e letais projetados para
destruir, hostilizar ou distrair forças oponentes. Apesar da possibilidade de serem
construídos com componentes militares, esses artefatos normalmente utilizam apenas
materiais de uso comum ONU (2015).
34

Razoavelmente simples de construir, letais e capazes de provocar efeitos


estratégicos totalmente desproporcionais em relação ao seu custo e dimensões, os
AEI são uma das armas mais eficazes quando em mãos de terroristas, insurgentes e
organizações criminosas, conforme advoga Hyde-Bales (2013).
Segundo EUA (2012), os AEI são fabricados das mais diversas maneiras e
utilizam métodos de acionamento dos mais variados. Os AEI tornaram-se a principal
arma no arsenal de terroristas, criminosos e insurgentes, permitindo que esses grupos
ataquem não apenas alvos militares de elevado valor, mas também estruturas e
instituições estratégicas, uma vez que estes dispõem de uma arma de baixo custo
capaz de provocar impactos estratégicos de proporções significativas.
O AEI é uma arma fabricada ou instalada de uma maneira não convencional,
incorporando produtos destrutivos, letais, nocivos, pirotécnicos ou químicos
incendiários projetados para matar, destruir, incapacitar, intimidar, negar a
mobilidade ou distrair. Os AEI podem incorporar munições militares [...] mas
geralmente são compostos por materiais de natureza não militar. (EUA, 2012,
p. I-1, tradução nossa).

Aprofundando um pouco mais na conceituação dos AEI e suas características,


bem como as principais consequências de seu emprego, pode-se dizer que os AEI
são armas fabricadas ou instaladas de uma maneira não convencional, incorporando
produtos destrutivos, letais, nocivos, pirotécnicos ou químicos incendiários projetados
para matar, destruir, incapacitar, intimidar, impedir a mobilidade ou distrair. Os AEI
podem incorporar munições militares, no entanto geralmente são compostos por
materiais de natureza não militar, conforme assevera EUA (2012, p. I-1).
Segundo EUA (2007) os AEI são confeccionados com a clara intenção de
provocar mortes, ferimentos e danos severos em seus alvos, podendo apresentar uma
quantidade praticamente infinita de formas, tipos e métodos de acionamento, incluindo
empregar explosivos comerciais, caseiros e militares, assim como artefatos explosivos
abandonados ou capturados, como por exemplo granadas e munições de artilharia.
35

Figura 6: AEI confeccionado com artefatos explosivos abandonados

Fonte: Corderoy (2014, capa)


As munições, artefatos explosivos, granadas e morteiros abandonados,
conhecidos como Abandoned Explosive Ordnance (AXO), as munições não
detonadas ou falhadas, conhecidas também como engenhos falhados - Unexploded
ordnance (UXO) e os restos explosivos de guerra - Explosive Remnants of War (ERW)
constituem-se nos principais meios para a obtenção das cargas principais dos AEI.
Figura 7: Munições 125mm HEAT abandonadas na Líbia. Estes artefatos constituem uma valiosa
matéria prima para a construção de AEI

Fonte: Corderoy (2014, p. 8)

4.2.2 A ameaça dos AEI no atual contexto internacional

O século XXI presenciou a escalada do emprego dos AEI por parte de grupos
terroristas, insurgentes e forças irregulares em praticamente todos os continentes do
mundo. De acordo com Corderoy (2014, p.3), no século XXI a utilização dos AEI
cresceu exponencialmente, adaptando-se de maneira marcante às novas realidades
dos campos de batalha e do ambiente operacional. Em se tratando dos conflitos no
Oriente Médio, os AEI foram empregados preponderantemente por grupos
insurgentes no Iraque e no Afeganistão. Nesse sentido, os AEI foram decisivos para
36

neutralizar a esmagadora superioridade militar norte-americana naqueles países,


conforme afirma Singer (2012).
Ratificando essa proposição, Wilson (2015) posiciona-se da seguinte forma
sobre o emprego dos AEI no século XXI, particularmente sobre o crescimento desse
emprego no Oriente Médio:
Contudo, foi no Iraque e no Afeganistão que os AEI se tornaram a arma mais
importante da atualidade – responsável por aproximadamente dois terços de
todas as baixas da coalizão no sudoeste asiático, começando pela primeira
morte confirmada [provocada por AEI] na primavera de 2003 no Afeganistão
(WILSON, 2015, tradução nossa).

Cabe enfatizar que o emprego dos AEI não ficou restrito apenas aos países do
Oriente Médio, tornando-se uma ameaça real e presente em praticamente todo o
mundo. Tal fato pode ser comprovado por meio de dados e estatísticas como as
apresentadas por Barbero (2013), segundo o qual “em todo o mundo, houve mais de
700 explosões de AEI por mês fora do Iraque e do Afeganistão – para um total de
mais de 17.000 explosões em 123 países desde janeiro de 2011.”
Hyde-Bales (2013) e Singer (2012) corroboram essa assertiva afirmando o
seguinte:
O que tem passado relativamente desapercebido é que o número de ataques
com AEI fora dessas duas nações [Iraque e Afeganistão] tem dobrado ao
longo dos últimos três anos. Os primeiros nove meses de 2011 viram uma
média de 608 ataques por mês em 99 países, de acordo com o Departamento
de Defesa. (SINGER, 2012, tradução nossa).

De janeiro a novembro do ano de 2011, a [...] JIEDDO 2 registrou que houve


em todo o planeta 6.832 incidentes envolvendo AEI fora do Iraque e do
Afeganistão em 111 diferentes países, resultando em um total de 12.286
vítimas (HYDE-BALES, 2013, p. 13, tradução nossa).

Atualmente o continente africano tem ganhado protagonismo no cenário


internacional no que diz respeito ao emprego dos AEI. Tal fato pode ser comprovado
pelas recentes notícias de ataques terroristas e de organizações criminosas
(ORCRIM) em vários países da África como Mali, Somália e Nigéria.
Segundo declaração proferida no dia 8 de abril do corrente ano pelo atual
Secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, tanto
as minas quanto os AEI representam uma ameaça para as Operações de Paz da

2
JIEDDO (Joint IED Defeat Organization): Organização dos Estados Unidos da América criada com o
objetivo de coordenar e liderar os trabalhos de pesquisa, desenvolvimento, aquisição e distribuição de
equipamentos, doutrina e treinamentos relacionados ao combate a artefatos explosivos improvisados,
e necessários para disponibilizar relacionados à pesquisa, desenvolvimento, aquisição e distribuição
de equipamentos, doutrina e treinamentos relacionados ao combate a artefatos explosivos
improvisados.
37

Somália ao Mali, conforme registrado no seguinte sítio eletrônico:


https://www.istoedinheiro.com.br/onu-pede-adesao-a-convencao-que-proibe-minas-
antipessoais/.
Segundo o Departamento de Engenharia das Forças de Defesa e Segurança
do Mali (MDSF), desde a reconquista das regiões ao norte do País em 2013, os
ataques com AEI aumentaram consideravelmente nesta região. As minas eram
essencialmente utilizadas em adição a alguns AEI cujos principais alvos eram os
postos avançados MDSF e BARKHANE3 nos arredores desta região. O objetivo tático
do emprego dos AEI era principalmente canalizar e emboscar as MDSF e as Forças
da BARKHANE nos principais Eixos Logísticos.
No Mali, onde a ameaça dos AEI atingiu um nível gravíssimo, Sharland (2015,
p. 2) comenta que desde que foi estabelecida a Missão das Nações Unidas de
Estabilização Multidimensional Integrada no Mali (MINUSMA) em 2013, a maioria das
mortes dos integrantes daquela missão foram resultantes de incidentes com AEI –
quantidade esta que correspondeu também ao maior número de baixas fatais
registrado dentre todas as outras missões de paz da ONU em 2014.
Os dados referentes a MINUSMA são tão preocupantes que Butler (2015)
afirma que os AEI causaram cerca de 89% das 158 baixas registradas naquela
missão, totalizando 142 baixas desde 2013.
Contudo, o perigo representado pelos AEI às tropas de paz vai muito além das
fronteiras do Mali. Em consonância com a tendência mundial de proliferação desta
ameaça, Sharland (2015, p. 2) reforça que os ataques com estes artefatos também
têm sido cada vez mais frequentes nas Colinas de Golan, no Líbano e na Somália.
A ameaça representada pelos AEI ganhou tanta importância que o ex
Secretário-Geral da ONU, Sr. Ban Ki-moon, entendendo a extrema gravidade do
problema, reiterou em setembro de 2014, que os Estados Membros da ONU deveriam
se empenhar para proporcionar imediatamente melhor proteção das tropas de paz
contra os AEI, conforme registrado por ONU (2014). Essa necessidade, segundo ele,
representaria uma das seis necessidades mais críticas a serem solucionadas no
âmbito das missões de paz sob a égide da ONU.

3
Operação Barkhane é uma operação anti-insurgente em curso na região do Sahel, na África, iniciada
em 1 de agosto de 2014. Consiste em uma força francesa de 3.000 militares, sediada em N'Djamena,
a capital do Chade (Wikipedia).
38

Nesse contexto, os ataques empregando AEI dirigidos atualmente às tropas da


ONU, as quais representam, em diversos locais, o alvo preferencial de insurgentes,
terroristas e criminosos. O exemplo a seguir, extraído de Relatório da própria ONU
sobre a situação de segurança no Mali, materializa perfeitamente essa situação:
A estagnação do processo político, a retirada das forças malianas [...], a
transição do comando francês da operação para um comando regional com
sede no Chad e a degradação da situação de segurança na região e no Mali
transformaram a Missão [MINUSMA] na força mais visível no terreno e o alvo
prioritário dos ataques assimétricos conduzidos pelos grupos extremistas
(ONU, 2014, p. 3, tradução nossa).

Já na Nigéria os AEI são empregados como armas por grupos terroristas como
o Boko Haram e o Estado Islâmico no Nordeste do País. De acordo com dados do
Exército nigeriano, entre maio de 2011 e junho de 2017 das 47.700 mortes provocadas
pelos grupos terroristas, cerca de 60% foram causadas pelos AEI.
Figura 8: região onde os AEI são mais empregados na Nigéria

Fonte: Exército da Nigéria

A Colômbia, localizada no subcontinente sul-americano, também foi alvo da


utilização dos AEI, sendo empregados particularmente pelas autodenominadas
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), movimento insurgente que se
sublevou contra o Estado Colombiano a partir da década de 1950 e que tinha objetivos
políticos. A atuação das FARC caracterizava-se pela utilização do terror e da violência
indiscriminados para atingirem seus objetivos.
Nesse escopo, cabe ressaltar que segundo o Protocolo de Desminado,
documento produzido pelo governo colombiano, aludido por Pedrosa (2015), os
conceitos de mina antipessoal (MAP) improvisada ou não e AEI se confundem. Nesse
sentido, o exército colombiano utiliza o termo “mina” para designar tanto AEI quanto
MAP empregados pelas FARC.
Ainda segundo Pedrosa (2015) não há registro sobre quando começou o
emprego de minas na Colômbia. No entanto, de acordo com ele, especialistas
39

concordam que o seu emprego de forma massiva pelas FARC remonta ao início do
século XXI, particularmente a partir do ano de 2001.
As FARC procuram instalar esses artefatos nos lugares de cultivo, fontes de
água, trilhas utilizadas por esses artefatos nos lugares de cultivo, fontes de água,
trilhas utilizadas por camponeses e outros locais afins – infraestruturas básicas para
a sobrevivência da população civil, disseminando, assim, o terror à sociedade. Tudo
isso representam os objetivos do emprego dos AEI por este grupo revolucionário, que
visam, em última análise, exercer pressão sobre o governo e, de alguma forma,
diminuir o desequilíbrio entre suas forças, conforme Pedrosa (2015).
Em que pese os recentes progressos nas negociações e acordos de paz com
os grupos guerrilheiros locais, ICBL-CMC (2015, p. 28) traz a triste evidência de que
a Colômbia foi o recordista mundial em vítimas militares de AEI em 2014, totalizando
187 baixas naquele ano e superando bastante os números verificados em países
como Mali (84 baixas militares), Paquistão (75), Argélia (54) e Síria (52), conforme
comenta Del Gallo (2017).
No contexto geral das baixas ocorridas em 2014 na Colômbia, incluindo vítimas
civis e militares, o país ocupou a trágica segunda colocação, com 286 vítimas, atrás
apenas do Afeganistão, com 1.296 pessoas mortas ou feridas ICBL-CMC (2015, p.
26).
Atualmente, fruto dos avanços nas negociações de paz e dos êxitos alcançados
pelo Plano Colômbia4, estes números têm melhorado. ICBL-CMC (2016, p. 44), por
exemplo, afirma que o número de vítimas de artefatos explosivos na Colômbia, apesar
de ainda figurar como um dos mais altos do mundo, vem caindo significativamente
nos últimos anos.
Entretanto, é importante pontuar que os civis (cidadãos comuns e indígenas)
não são as únicas vítimas das MAP e AEI na Colômbia. As Forças de Segurança
Pública, que incluem as Forças Armadas e a Polícia, ou seja, os militares em geral,

4
O Plano Colômbia (inicialmente chamado Plano pela Paz da Colômbia) foi um acordo bilateral entre
os governos da Colômbia e dos Estados Unidos. Concebido em 1999, durante as administrações dos
presidentes Andrés Pastrana Arango e Bill Clinton, foi originalmente projetado para durar seis anos.
Seus objetivos declarados eram: criar uma estratégia para eliminar o narcotráfico no território
colombiano; por um fim ao conflito armado na Colômbia, que já durava 40 anos na época,
desestruturando os grupos guerrilheiros, notadamente as FARC; promover o desenvolvimento social e
econômico. O sucessor de Pastrana, Álvaro Uribe (2002-2010) prosseguiu a implementação do Plano,
porém com maior ênfase nas questões de segurança. (Wikipedia).
40

estão entre as principais vítimas dos AEI. A seguir apresenta-se uma tabela
comparativa contendo as estatísticas das vítimas fatais por grupo desde o ano 2006.
Quadro 1: Estatística de vítimas por MAP e AE na Colômbia (tradução nossa).
Ano Civil Força Pública Total

2006 434 790 1224

2016 38 52 90

2017 40 17 57

2018 94 85 179

2019 65 49 114

2020 107 64 171

2021 39 26 65

Total 4800 7251 12051


Fonte: http://www.accioncontraminas.gov.co/Estadisticas/estadisticas-de-victimas

Figura 9: AEI preparado para acionamento por radiofrequência encontrado na Colômbia.

Fonte: o autor

Figura 10: AEI com duplo acionamento – sensor de movimento e radiofrequência – encontrado em
Araçatuba - SP.

Fonte: o autor
41

Com relação às consequências do uso indiscriminado dos AEI, os especialistas


afirmam que a principal consequência é a progressiva proliferação destas armas.
Nesse sentido, Singer (2012) destaca que:
A primeira [consequência] é a de que o perigo [dos AEI] não irá desaparecer
mesmo quando terminada a Operação no Afeganistão. Os AEI provaram ser
baratos, relativamente fáceis de usar tanto contra civis como contra forças
militares muito bem adestradas. Portanto, eles [os AEI] continuarão sendo
copiados. Os AEI não estão desaparecendo. Pelo contrário, eles estão se
proliferando (SINGER, 2012, tradução nossa, grifo nosso).

O vertiginoso crescimento do emprego dos AEI nos últimos anos está


associado a vários fatores, dentre eles, Hunter (2010) afirma que a grande
disponibilidade e o baixo custo dos componentes para sua confecção, bem como a
extrema facilidade com que esses componentes podem ser “combinados”, criando
uma grande gama de mecanismos de ativação, explicam esse significativo
crescimento.
Outro fator igualmente importante para explicar a crescente proliferação dos
AEI é a tecnologia, notadamente à ligada aos meios de comunicação em massa e à
tecnologia da informação, em especial a internet. A rede mundial de computadores
proporciona uma infinidade de ferramentas e oportunidades que auxiliam na
confecção de um AEI, desde instruções de fabricação a orientações quanto à
instalação e ao emprego.
Ademais, Corderoy (2014) esclarece que as instruções para a construção de
AEI também passaram a ser compartilhadas através da rede mundial de
computadores permitindo que grupos armados em todo o mundo tenham acesso a um
banco de dados completo e facilmente acessível que pode ser utilizado de maneira
anônima e rápida, inclusive para o planejamento e preparação de atentados,
alavancando ainda mais a disseminação do conhecimento e potencializando os
efeitos desta ameaça.
42

5 PRINCÍPIOS, APLICAÇÕES, NÍVEIS, TÁTICAS, TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS


(TTP) E AÇÕES EOD

5.1 PRINCÍPIOS EOD

De acordo com Espanha (2011, tradução nossa), a neutralização de Artefatos


Explosivos deve seguir determinados princípios cujo principal propósito é proceder a
neutralização em total segurança para o pessoal, material e propriedades. Nesse
sentido, este manual elenca os seguintes princípios EOD.
Risco mínimo. Deve-se sempre buscar um equilíbrio entre o cumprimento da
missão e o risco a ser assumido pela equipe EOD. A segurança da equipe sempre
será o fator primordial a se considerar, exceto para o que é estabelecido na categoria
de incidentes enquadrados como ameaças de categoria A. Ademais, dever-se-á atuar
no sentido de tornar mínimos os riscos para as equipes de apoio, os materiais
empregados e o ambiente circundante.
Mínimo pessoal e mínimo de especialistas EOD sobre a ameaça. Durante a
execução das missões de neutralização de artefatos explosivos, o número de pessoas
dentro da área do incidente EOD deve ser o mínimo, assim como o número de
operadores EOD também deve ser mínimo reduzido ao estritamente necessário para
a neutralização da ameaça, especialmente em se tratando de AEI.
Mínimo tempo de exposição. Durante a execução da missão, a equipe EOD
deverá permanecer na área de perigo somente o tempo mínimo imprescindível para
o cumprimento da missão.
Hipótese mais perigosa. Independentemente do procedimento de neutralização
empregado, serão implementadas as medidas de proteção necessárias para mitigar
os piores danos possíveis que poderiam ser causados.
Unidade de Comando. No desenvolvimento de uma missão, a cadeia de
comando deve ser claramente definida. Haverá um controlador de incidentes
responsável pela resolução do incidente de EOD que irá coordenar a ação da equipe
EOD com todos os elementos envolvidos, como serviços de saúde, forças de
proteção, bombeiros, etc. O chefe da equipe EOD, é responsável pela direção técnica
da resolução do referido incidente, sendo o primeiro operador EOD responsável pela
sua execução.
43

Intervenção. Se o Cmt da equipe EOD ou qualquer operador EOD presente na


área do incidente tem dúvidas de segurança quanto à aplicação do procedimentos de
neutralização pelo primeiro operador EOD, informará o escalão superior de EOD na
área do incidente. Este é o único que pode intervir na ação EOD, indo até ao ponto de
optar por dispensar o operador.
Qualificação / instrução. Para realizar tarefas de neutralização, é obrigatório
que toda a equipe tenha o treinamento EOD correspondente.
Planejamento e preparação adequados. Como regra geral, as ações de
planejamento e a preparação serão realizados fora da zona de perigo, evitando-se
improvisações dentro dela. Os detalhes de execução da missão EOD serão
concluídos no ponto de verificação EOD (local e fase antes da neutralização
propriamente dita).
Uma equipe - Uma nação. Para evitar confusão sobre as técnicas nacionais de
EOD e / ou procedimentos operacionais discrepantes, a formação de uma equipe EOD
não é recomendada com operadores / técnicos de diferentes nações. Caso contrário,
deve-se especificar claramente a distribuição de tarefas e responsabilidades.
Trazendo para o contexto do EB, o Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 –
Neutralização de Artefatos Explosivos no EB, elenca os princípios EOD que orientam
a atuação das Equipes e Operadores EOD. Nesse sentido, apresenta-se os princípios
EOD do EB.
O primeiro princípio é a preservação da vida. Assim, segundo EB70-CI-11.452
(BRASIL, 2021), deve-se buscar o mínimo de exposição dos operadores EOD ou
outros indivíduos na área de perigo. Além disso, busca-se preservar, sobretudo, a vida
de civis que estejam naquela área ou possam ser afetados pelos efeitos colaterais.
O segundo princípio é a preservação da propriedade. Nesse sentido, este
mesmo Caderno de Instrução (CI), esclarece que após a avaliação dos riscos de
pessoal, deve-se analisar o efeito de uma eventual explosão nas construções e nas
instalações próximas do artefato. Os danos colaterais de uma explosão, planejada ou
não, devem ser informados ao escalão superior. Deve-se também considerar que
haverá uma detonação de alta ordem, mesmo com a escolha de procedimentos que
busquem uma detonação de baixa ordem, por exemplo.
A seguir, identifica-se a preservação da prova forense e informações. Dessa
forma, deve-se buscar coletar o máximo de informações com meios passivos, assim
como preservar o local da detonação, caso ela ocorra. Esse princípio inclui ações de
44

busca de estilhaços, destroços ou partes do artefato explosivo, assim como a


obtenção de imagens do dispositivo antes das ações.
O quarto e último princípio trazido pelo CI em tela é o retorno à normalidade.
Assim, de acordo com deve-se tentar sanar o incidente o mais rápido possível para
não gerar pânico ou desestabilizar o local de incidente. A área de segurança
estabelecida para evacuação parcial ou total deve ser desativada tão logo o incidente
EOD seja sanado.

5.2 APLICAÇÕES EOD

As ações técnicas face às ameaças explosivas também são abordadas pelo


Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de Artefatos Explosivos no
Exército Brasileiro. Nesse contexto, as aplicações EOD nas ações contra Artefatos
Explosivos são as seguintes: desativação, inativação, eliminação, remoção,
destruição e neutralização.
A desativação consiste no desmonte com a separação dos componentes,
mantendo-se a possibilidade de uma nova montagem do AE.
Por sua vez, a inativação caracteriza-se pela anulação temporária da cadeia
explosiva, atuando na cadeia explosiva sem agir diretamente no artefato.
No que diz respeito à eliminação, esta caracteriza-se pelo esfacelamento
completo do artefato explosivo, de maneira que não reste nenhum componente ou
peça.
A ação de remoção consiste na correta movimentação e transporte do artefato
explosivo ou de suas partes. Para esta ação deve-se ter especial atenção com as
normas de segurança, notadamente aquelas relacionadas com as distâncias de
segurança, assim como as normas de segurança voltadas para o transporte dos AE.
Em relação à ação de destruição, esta consiste no desmantelamento do
artefato explosivo, separando seus componentes, impossibilitando uma nova
montagem.
Por fim, no que concerne à neutralização, este Caderno de Instrução traz que
é o ato de tornar inofensiva a ação do explosivo do artefato, em caso de detonação
ou não. Engloba todas as ações descritas acima, de forma genérica, ou seja, para fins
desta pesquisa, considera-se que esta aplicação abarca todas as outras.
45

5.3 NÍVEIS EOD

De acordo com o CI – Neutralização de AE no EB (BRASIL, 2021, p. 2-5), os


níveis EOD indicam as habilidades e competências para o desempenho de missões
EOD, apresentando as qualificações necessárias que caracterizam cada nível.
Dessa forma os níveis EOD são escalonados do nível mais básico (EOD 1), ou
seja, aquele que contempla as atividades menos complexas do ponto de vista técnico,
até o nível mais alto (EOD 3+), o qual abarca as atividades mais complexas e
perigosas tecnicamente falando, conforme explicado pelo Caderno de Instrução
EB70-CI-11.452 – Neutralização de Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro. Cabe
ressaltar que a progressão nos níveis superiores ocorrem a partir do atendimento aos
requisitos dos níveis abaixo, sendo condicionante para tal progressão.
Assim, o EOD nível 1 ou apenas EOD 1, habilita o indivíduo treinado a localizar,
expor e destruir no local, quando possível, artefatos individualmente e restos de
explosivos de guerra (REG) específicos para os quais recebeu treinamento. O EOD 1
contempla, ainda, os operadores habilitados a destruir apenas componentes
específicos de artefatos. Além disso, habilita a realizar trabalhos de abertura e
balizamento de passagens em campos de minas, em situações de combate urbano e
rural, assim como na limpeza de vias.
Figura 11: Atividade de localização de AE – EOD 1

Fonte: CI Eng/2º B Fv

O EOD 2, em adição às habilidades do EOD Nível 1, o EOD Nível 2 habilita o


indivíduo a determinar quando é seguro movimentar e transportar munições e a
conduzir a detonação múltipla de artefatos explosivos empregando troncos e linhas
principais. Essa qualificação aplica-se apenas para as minas e REG específicos para
os quais o indivíduo foi treinado. Habilita ainda a realizar assessoramentos e
46

treinamentos para a transposição de tropas em campos de minas e em limpeza de


vias na presença do inimigo. Pode assessorar, ainda, em incidentes isolados que
envolvam artefatos explosivos em ambiente urbano ou rural.
Figura 12: Exposição e movimentação de AE – EOD 2

Fonte: CI Eng/2º B Fv

O EOD nível 3, em adição às habilidades do EOD Ni 2, o EOD Ni 3 habilita o


operador a realizar procedimentos de interrupção do funcionamento ou separar os
componentes do explosivo, bem como realizar a eliminação definitiva de uma grande
variedade de tipos de artefatos explosivos para os quais o indivíduo foi treinado.
Figura 13: grande quantidade de munições sendo preparadas para destruição – EOD 3

Fonte: o autor

Por fim, o nível mais alto, ou seja, o EOD 3+, em adição às habilidades dos
níveis 1, 2 e 3, as quais cobrem as necessidades de rotina em atividades de ações
contra minas, podem ser exigidas habilidades adicionais de um especialista. Nesse
47

aspecto, o CI em tela (BRASIL, 2021), elenca as especialidades requeridas deste


nível, quais sejam:
a) limpeza de viaturas blindadas de combate (VBC);
b) contaminações por urânio empobrecido relacionado ou não a artefatos
explosivos; e
c) neutralização dos seguintes artefatos explosivos:
- armamento com sistema guiado, na condição de AEA, onde o míssil está
instalado no lançador;
- munições cluster intactas;
- AEI;
- AE subaquáticos; e
- AE químicos.
(BRASIL, 2021, p. 2-5 e 2-6).

As Internacional Mine Actions Standars (IMAS) - IMAS 09.30.01/2014 também


tratam dos níveis EOD, no entanto voltado para as atividades de Ação contra minas,
conhecida também como Desminagem Humanitária. Portanto, apresenta
similaridades, diferenças e especificidades. A abordagem feita por esse documento
sobre os níveis EOD traz um destaque importante para o combate aos AEI.
Como perigos explosivos pós-conflito têm evoluído, há uma maior
necessidade de ampliar o âmbito das Normas de competência EOD ao definir
os requisitos em níveis 1 a 3 e formalizar um novo padrão de Nível 3+, que
abrange as atividades EOD especializadas acima da capacidade dos níveis
1 a 3. Isso inclui a exigência para abranger os Artefatos Explosivos
Improvisados (Improvised Explosive Devices - IEDs), munições com perigos
secundários e artefatos explosivos químicos, todos os quais têm sido
utilizados em conflitos recentes. (IMAS 09.30.01/2014, p. 5).

5.4 AÇÕES EOD

Segundo EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021), durante uma operação, uma força


militar pode ser desdobrada para combater em diferentes ambientes operacionais
simultaneamente. O desafio para o operador EOD é garantir que os seus recursos
estejam posicionados em local adequado para o apoio ao comandante da área de
operações ou de responsabilidade. Também é importante que o operador
compreenda como suas especialidades podem ser empregadas em proveito do todo,
de forma a implementar medidas de proteção, ao mesmo tempo em que minimizam o
risco de danos colaterais.
As ações EOD correspondem a diversas missões que as equipes EOD têm
capacidade de desempenhar no sentido de neutralizar uma ameaça. Trata-se de um
48

conceito mais amplo e abrangente que engloba os trabalhos a serem executados,


conforme Brasil (2021, p. 3-1).

5.4.1 Limpeza de Vias

De acordo com EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021) as equipes EOD são


encarregadas de uma operação de limpeza de vias fornecendo conhecimentos
técnicos nas ações de neutralização de AE encontrados. Os Operadores EOD podem
fazer parte de uma equipe responsável por limpeza de via ou podem ser acionados
após a solicitação por meio de um relatório elaborado pelo próprio Elemento de
Manobra empregado em 1º Escalão ou por qualquer tropa que se deparar primeiro
com este AE.
Figura 14: Exemplo de organização de uma Equipe EOD numa Ação de Limpeza de Vias.

Fonte: Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de Artefatos Explosivos no


Exército Brasileiro.

Brasil (2021, p. 3-2) trata das tarefas atinentes à atividade de Limpeza de Vias.
Nesse sentido são elencadas as seguintes tarefas para as ações de Limpeza de Vias:
detecção, investigação e neutralização.
A tarefa de detecção é a ação de localizar uma possível ameaça por meio de
detectores de metal veiculares ou portáteis; detectores de anomalia no solo; animais
adestrados para o faro de explosivos; ou observação direta de objetos estranhos, fios,
buracos ou saliências e outros sinais.
Já a investigação é a confirmação ou descarte da ameaça explosiva. Pode ser
realizada por um operador EOD com meios remotos ou manuais, tais como robôs
EOD com seus implementos; viaturas especializadas; sensores de explosivos; kit
movimento, entre outros. A remoção do artefato do local onde foi encontrado deve ser
49

feita por robôs ou por cordas e roldanas, tomando cuidado para não deslocar o artefato
na direção do comboio.
Por fim, a neutralização é a ação realizada sobre a ameaça para colocá-la em
segurança. Pode acontecer com o emprego de explosivos ou com ação no sistema
de iniciação do artefato. É importante ter atenção aos efeitos colaterais de uma
possível detonação do artefato. Artefatos nos quais se espera encontrar grande
quantidade de explosivos, como minas anticarro, podem bloquear a passagem em
uma estrada caso venham a detonar, sendo desejável a sua remoção para uma parte
fora da estrada para sua neutralização.
Figura 15: Atividade de limpeza de vias (Estágio de Explosivos e Desminagem do CI Eng)

Fonte: CI Eng/2º B Fv

5.4.2 Limpeza de áreas e campos minados

A atividade de abertura de trilhas e brechas em proveito da Manobra podem


ser executadas por tropas convencionais de Engenharia ou por equipes EOD. Nesse
sentido, segundo EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021), as tarefas vocacionadas para essa
ação são as seguintes: neutralização, obscurecimento da observação inimiga,
supressão dos fogos inimigos, redução/abertura de Passagens (trilhas ou brechas) e
balizamento/liberação das passagens.
A tarefa de neutralização caracteriza-se pela inativação dos sistemas de fogos
coletivos diretos do inimigo visando permitir a aproximação do obstáculo.
O obscurecimento da observação inimiga consiste na cobertura das vistas do
Inimigo empregando fumígenos, que se bem empregados permitem que a observação
do inimigo seja obscurecida sobre o local de abertura da passagem.
50

A supressão dos fogos inimigos emprega as armas próprias do apoio de fogo


dos elementos de manobra, assim como coordenações de apoio de fogo, sempre que
possível.
Por sua vez a redução ou a abertura de passagens (trilhas ou brechas) deve
ser realizada o mais rápido possível, sendo desejável o emprego de meios mecânicos
de abertura, com dispositivos explosivos lineares.
Por fim, segue-se o balizamento e a consequente liberação das passagens. Os
tipos de balizamento variam conforme a situação tática do apoio de engenharia.
Geralmente, o primeiro escalão do ataque é apoiado com um balizamento tipo I; o
segundo escalão com o balizamento tipo II; e a reserva, com o balizamento tipo III. É
extremamente importante o treinamento da passagem da tropa a ser apoiada pelo
balizamento, utilizando-se os mesmos meios que serão empregados na ação.

5.4.3 Limpeza de Viaturas Blindadas de Combate (VBC)

De acordo com EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021) uma viatura blindada de


combate danificada ou destruída pode constituir uma ameaça às tropas durante os
conflitos, assim como para a população civil após o conflito. A limpeza desse tipo de
veículo pode incluir a destruição de munições inservíveis ou instáveis, dentro ou nas
proximidades, possibilitando a posterior remoção da viatura. Os propósitos dessa
limpeza são a proteção do pessoal das tropas amigas e da população civil e a
prevenção do uso de munições ou de seus componentes pelo inimigo.
O método de limpeza de VBC segue passos e etapas bem definidas: inspeção
visual inicial, identificação das condições da blindagem reativa, identificação de como
a VBC foi destruída ou danificada, ações no AE localizado na carcaça de uma VBC,
remoção da blindagem reativa, acesso ao interior da VBC, verificação visual do
interior, remoção de restos mortais e a retirada dos estoques de munições.

5.4.4 Busca de ameaças

Conforme EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021), a atividade de busca de ameaças


explosivas tem por finalidade definir as áreas onde há ou não evidências da existência
de ameaças explosivas, sejam por artefatos explosivos convencionais ou
51

improvisados (AEI). Essa atividade é composta pelas seguintes tarefas: isolamento


da área e identificação da ameaça.
Nesse contexto, o isolamento da área compreende as ações de definir os
limites da área; balizar o local, utilizando materiais de fácil visualização; e impedir o
acesso de pessoas estranhas ou que não fazem parte da equipe EOD.
Já a identificação da ameaça consiste na capacidade de reconhecer e
identificar: o tipo da ameaça; as características do Artefato Explosivo; o método de
acionamento e o sistema de iniciação; e o levantamento de evidências que apontem
o possível ou possível(is) autor(es). Tais ações podem ser executadas pelos
elementos de manobra empregados em 1º escalão, caso disponham de capacidade
técnica para isso, ou pela Equipe EOD propriamente dita.
Figura 16: Operador EOD analisando material suspeito empregando aparelho de raio X.

Fonte: CI Eng/2º B Fv

5.4.5 Coleta de informações e investigação forense

Segundo EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021) esta ação a ser desenvolvida pelas


Equipes EOD maximizam o poder de combate e facilitando a atualização da
consciência situacional por meio da coleta de informações técnicas e táticas com
processamento, investigação e análise de componentes associados com artefatos
explosivos. Informações técnicas são obtidas pela investigação de materiais
estranhos, produzidas pelos comandantes nos níveis estratégico, operacional e tático.
O processo de coleta tem início no local de incidente durante a condução da
neutralização, investigação do local e análise pós-detonação. O Operador EOD
determina o tipo de espoleta, acionador, sistema de acionamento e funcionamento do
artefato explosivo. Além disso, coleta informações forenses e materiais identificados
por sensores, além de fazer a análise das técnicas de emprego e instalação de AE.
52

Esse operador irá desenvolver e integrar o relatório de informações,


desenvolvendo e atualizando as técnicas de neutralização e preparando itens do
artefato para envio até um local com maiores possibilidades e meios para investigação
e análise. As informações coletadas de um artefato explosivo fundamentam ações
antiAEI ou contraAEI, direcionando o combate contra as TTP inimigas, desenvolvendo
e refinando as contramedidas eletrônicas ou de exploração do espectro
eletromagnético, voltadas para artefatos explosivos.
No que diz respeito à investigação forense, esta é uma atividade
preponderantemente técnica, exigindo militares bem treinados e com profundo
conhecimento sobre Direito, Perícia Forense, Química Forense e Ensaios laboratoriais
forenses. Em síntese, essa atividade caracteriza-se pelo recolhimento de materiais
que possam constituir-se em evidências que, após um criterioso e metódico processo
de investigação, poderão apontar os prováveis responsáveis pela ameaça
identificada. Um aspecto importante de tal atividade é buscar preservar, o máximo
possível, a cena de uma ameaça que redundou ou não numa detonação, interferindo
de maneira pontual e segura. Deve-se, também, ter cuidado para não “contaminar” os
materiais recolhidos (evidências). Para isso, é importante utilizar equipamentos e
acessórios adequados, como luvas, máscaras e recipientes plásticos apropriados.

5.4.6 Neutralização de Artefatos Explosivos (AE)

De acordo com EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021), a neutralização é uma


atividade que exige capacitação específica, treinamento apropriado e conhecimento
técnico elevado, e geralmente é o produto final das missões EOD. As tarefas
referentes a essa atividade podem ser sintetizadas na premissa de neutralizar
artefatos explosivos, preservando, assim, pessoas, propriedades, informações e
provas forenses.
Nesse sentido, o referido CI afirma que os procedimentos de neutralizar AE
envolvem substancialmente a aplicação de métodos e ferramentas EOD
especializados, a fim de interromper o funcionamento ou separar os elementos
essenciais dos AE, para prevenir uma detonação inaceitável ou indesejada.
53

Figura 17: preparação de cargas para neutralização de munições

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 18: neutralização de munição 90 mm utilizando carga direcional

Fonte: CI Eng/2º B Fv

5.4.7 Proteção de pessoas e instalações

Segundo o CI – Neutralização de Artefatos Explosivos no EB (BRASIL, 2021)


esta atividade pode empregar equipes ou operadores EOD quando requisitado por
agências do governo, o operador EOD pode realizar apoio de proteção a grandes
eventos ou operações táticas. O elemento EOD do exército realiza, ainda, apoio de
proteção às instalações e construções da Força Terrestre, atuando como principal
assessor para temas de ameaças explosivas.
54

Figura 19: Operador EOD investigando possível ameaça em uma instalação

Fonte: CI Eng/2º B Fv

5.4.8 Levantamento e destruição de Engenhos Falhados

O Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de Artefatos


Explosivos no Exército Brasileiro traz a definição de engenhos falhados como sendo
as munições e artefatos explosivos convencionais como granadas, projéteis e minas
convencionais preparados para utilização (espoletados, armados ou escorvados) ou
empregados e não detonados, seja por mau funcionamento ou qualquer outra razão.
Nesta publicação doutrinária, os termos “munições sem explodir (MUSE)” e “engenhos
falhados” são intercambiáveis. A atividade denominada de Levantamento e Destruição
de Engenhos Falhados encontra-se no rol de missões que uma Equipe EOD poderá
cumprir.
No entanto, tal atividade é desempenhada também pelas Turmas de
Levantamento e Destruição de Engenhos Falhados (TuLeDEF), que são equipes
constituídas geralmente por militares da função de combate Logística, dentro das
próprias organizações militares dotadas de capacidade técnica para realizarem a
identificação e destruição de munições e artefatos explosivos convencionais no local
(in situ), conforme explicado no referido CI.
O emprego dessas Turmas está previsto no Manual de Campanha C 9-1
Emprego do Material Bélico. Um aspecto importante a ser considerado, de acordo
com essa norma doutrinária, é que os engenhos falhados serão destruídos somente
mediante ordem da autoridade detentora do material, independentemente de ordem
dos órgãos técnicos superiores.
55

5.5 Táticas, Técnicas e Procedimentos EOD (TTP EOD)

Segundo o Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de Artefatos


Explosivos no Exército Brasileiro (BRASIL, 2021) as TTP EOD correspondem a um
conjunto de ações a serem realizadas pelos envolvidos na coordenação e controle de
um incidente uma potencial ameaça explosiva. Algumas são específicas para os
operadores EOD e outras são destinadas a todos os elementos que presenciam ou
que se envolvem com o incidente.
Nesse sentido, um primeiro aspecto a se considerar são as ações preliminares
e imediatas que devem ser adotadas ao se deparar com uma ameaça explosiva.
Assim, este CI enumera as ações imediatas a serem adotadas por ocasião de um
incidente envolvendo ameaças explosivas.
Em primeiro lugar deve-se proceder a confirmação da ameaça. A ratificação da
presença e da localização do AE ensejará o estabelecimento de uma área perigosa,
exigindo evacuação imediata. Em caso de dúvida, deve-se considerar a existência de
uma ameaça explosiva concreta.
Após a confirmação procede-se a limpeza da área perigosa ou zona de perigo.
Limpar a zona de perigo significa impedir a circulação de pessoas, esvaziando a área
e estabelecendo um raio de segurança conforme o potencial destrutivo da ameaça.
O próximo passo é a comunicação. Para tal, deve-se relatar as características
e a localização da ameaça ao escalão superior com a descrição mais detalhada e
precisa possível sobre aquela ameaça. Essa comunicação pode ser verbal ou por
meio de um Relatório específico, por exemplo o chamado Relatório “9 Linhas”. Esse
Relatório contém as informações básicas necessárias ao planejamento e preparação
da Equipe EOD como por exemplo a localização da ameaça, o GDH da identificação
desta, a tropa que se deparou com ela, se é um AE convencional ou trata-se de um
AEI, o provável método de acionamento, as características como peso, dimensões
aproximadas, se existe algum elemento QBRN presente, dentre outros.
Em seguida, procede-se o isolamento. Após o reconhecimento inicial do AE,
deve-se isolar a área perigosa de acordo com a quantidade de explosivos que se
espera que a ameaça contenha, aumentando ou diminuindo o raio de segurança
estabelecido inicialmente.
56

Por fim, implementa-se o controle sobre a área ou zona de perigo. Nesse


sentido, busca-se controlar entradas e saídas da área perigosa, seja de pessoas, seja
de veículos. Para tanto, deve-se estabelecer o Posto de Controle do Incidente (PCI).

5.5.1 Normas de Comando

As TTP EOD norteiam-se por normas de comando que balizam o emprego das
equipes EOD em todas as situações com as quais se depararem. Nesse sentido, as
atividades previstas nas Normas de Comando são as seguintes: recebimento da
missão; planejamento inicial/preliminar; deslocamento e chegada ao local;
procedimentos EOD; acesso/consolidação da área; diagnóstico; procedimentos
seguros de neutralização; recuperação/exploração; ações finais e elaboração de
relatórios, conforme o Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de
Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro (BRASIL, 2021).
A primeira etapa das Normas de Comando é o recebimento da missão.
Segundo essa referência, esta etapa é caracterizada pelos primeiros movimentos e
ações para a resolução da ameaça. Inicialmente deve-se estabelecer um Posto de
Reunião (PR), verificando se este já fora utilizado anteriormente por alguma Equipe
EOD, observando particularmente se o incidente tenha sido com AEI. Caso positivo,
antes de estabelecer este Posto deve-se verificar com a Equipe anterior se o incidente
foi totalmente resolvido. Após isso, deve-se planejar o itinerário; verificar o histórico
de ataques utilizando-se AEI naquela região; evitar zonas de risco; verificar existência
de áreas minadas; verificar histórico de emboscadas; verificar pontos sensíveis (check
points); questionar o controlador do incidente sobre itinerário seguro e recolher
informações julgadas úteis.
A segunda atividade prevista nas Normas de Comando apresentadas pelo
Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de Artefatos Explosivos no
Exército Brasileiro é o planejamento inicial/preliminar. Para tal elencam-se as
seguintes ações: realizar a análise da informação recolhida; realizar o enquadramento
na situação tática; estabelecendo no mínimo a hipótese mais perigosa, a hipótese
mais provável, meios e equipamentos a transportar e o itinerário a seguir.
Após o planejamento segue-se o deslocamento e chegada ao local do
incidente. Para tal deve-se realizar a revisão do equipamento e material antes de
deslocar-se ao local do incidente, verificando plano de embarque (pessoal e material)
57

da(s) viatura(s), atentando para as regras de segurança, solicitar a proteção para o


deslocamento, estabelecer/manter contato via rádio, celular ou outros meios
disponíveis, manter/cumprir TTP.
A próxima fase apresentada pelo Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 –
Neutralização de Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro é a adoção dos
procedimentos EOD. Nesta fase quando da chegada ao local deve proceder as
seguintes atividades: estabelecer ligação com PCI, identificar localização exata da
ameaça, verificar o cumprimento das medidas de segurança implementadas,
localização/proteção do PCI (segurança da equipe), perímetro de segurança/medidas
de proteção (segurança dos outros), verificar a separação de testemunhas, verificar o
funcionamento do PCI (estabelecer PCI secundário, se necessário),
solicitar/identificar apoios solicitados para o local e estabelecer o perímetro inicial de
segurança.
A quinta etapa trazida pelo Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 é o
acesso/consolidação da área. Nessa etapa o objetivo é utilizar o itinerário de acesso
mais seguro até o AE. Ademais, busca-se também que este itinerário seja o mais curto
e direto possível. No entanto, deve-se atentar para a existência de outros AE não
identificados (armadilhas e dispositivos de proteção), dentre outras ameaças.
Figura 20: Operador EOD acessando a área do incidente empregando detector de minas.

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Após acessar a área, esse CI orienta elaborar o diagnóstico que deve atender
às seguintes condicionantes: Qual a localização do AE? Quais são as dimensões,
cores, formatos e outras características da ameaça? Existe algo de estranho no local,
além do AE (fios, celulares, antenas etc.)? A testemunha/guia poderia acompanhar
até o local por um caminho seguro? Quando a ameaça explosiva foi colocada? Alguma
coisa foi vista ou ouvida (testemunhas oculares, fotos ou vídeos de segurança)?
58

Figura 21: Operadores EOD realizando o diagnóstico da ameaça.

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Segue-se as técnicas e procedimentos de neutralização das ameaças


explosivas. Nesse contexto, realiza-se a análise da ameaça de acordo com a
informação obtida no diagnóstico, identificando as hipóteses. Após esta análise
realiza-se o julgamento das opções disponíveis: não fazer nada (até que outras ações
sejam executadas); ataque remoto (abordagem remota com os meios disponíveis);
ataque semirremoto (abordagem manual e ação à distância/remota) e ataque manual
(abordagem manual e ação manual).
O resultado advindo da seleção da opção mais viável irá direcionar a adoção
de uma das possíveis Linha de Ação, quais sejam: Linha de ação mais provável, mais
perigosa ou mais favorável.
Identificada a Linha de Ação procede-se a análise das técnicas de
neutralização, as quais, segundo o CI de Neutralização de AE no EB (BRASIL, 2021)
podem ser as seguintes: eliminação/Destruição in situ (instalar carga explosiva
próxima ao AE), inativação (anulação temporária da cadeia explosiva), desativação
(desmonte e separação dos componentes por baixa ordem ou disrrupção do AE),
remoção (por meios remotos ou manualmente), contenção/medidas de proteção
(definidas para a linha de ação mais perigosa).
59

Figura 22: remoção da ameaça utilizando meio remoto (robô EOD)

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 23: neutralização de AE empregando a técnica de disrrupção (canhão disrruptor)

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Após a neutralização da ameaça explosiva, tem-se a recuperação/exploração


do incidente. Esta atividade inicia-se por informar ao controlador de incidente a Linha
de Ação (LA) adotada. Em seguida procede-se com a verificação se a evacuação de
pessoas estranhas e civis está completa e se o cordão de segurança está
estabelecido.
Ademais, verifica-se as condições da área e da altura autorizada para emprego
de SARP. Nessa fase deve-se ter especial atenção ao tempo de espera (TE) para que
a área possa ser liberada. Para fins de cálculo do tempo de espera deve-se considerar
a última vez que o AE ou AEI foi colocado/descoberto ou movimentado. Brasil (2021,
p. 4-5) classifica em tempo de espera primário e tempo de espera secundário. O TE
primário para abordagem manual inicial, deve ser no mínimo de 40 minutos. Já o TE
secundário também para abordagem manual após ação EOD, no mínimo 30 minutos.
Cabe ressaltar que Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 (BRASIL, 2021)
esclarece que há possibilidade de se dispensar o TE primário em virtude de alguns
fatores, tais como: incidente categoria A; após a detonação do AE (confirmando-se
60

que não existem outros AE); artefatos incendiários (podem ser neutralizados por
disrupção e não existem outros AE).
O Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 (BRASIL 2021, p. 4-5) traz outros
aspectos importantes devem ser considerados por ocasião da
recuperação/exploração do incidente, tais como: permanecer o menor tempo possível
na área de perigo, garantindo o mínimo de aproximações ao AE pelo menor tempo
possível. Além disso, deve-se buscar manter o efetivo mínimo na área de perigo e o
permanente contato com a Equipe EOD responsável pela neutralização do AE ou AEI.
As ações finais ocorrem após a liberação da área para recuperação/exploração.
Para tal deve-se realizar o registro de imagens (fotos e vídeos); recolher as partes
remanescentes; analisar os resultados obtidos; revisar o planejamento da atividade
realizada; destruir os componentes explosivos remanescentes (cargas principais e ini-
ciadoras, pólvoras, espoletas etc.); se viável no próprio local; avaliar transportabilidade
das partes remanescentes para destruição posterior; informar ao PCI a “Área Limpa”
e recolher amostras para informações/exploração forense.
Por fim, a última atividade prevista nas Normas de Comando é a elaboração de
relatórios. Constituem-se desses relatórios, o relatório “9 linhas” e os relatórios
técnicos elaborados pelas Equipes EOD, os quais serão encaminhados aos Escalões
enquadrante e superiores.

5.5.2 Técnicas de Varredura e Vasculhamento

Segundo o CI em tela (BRASIL, 2021), a varredura é o procedimento


empregado para localizar alvos específicos por meio da avaliação de informações,
procedimentos sistemáticos e técnicas de detecção apropriadas. É essencial que o
treinamento, o planejamento e a execução dessas missões contem com a participação
de indivíduos especializados em AEI.
Os objetivos de uma varredura que envolva o assessoramento EOD são
determinar a existência de artefatos explosivos e localizar indícios de componentes
de AE ou de recursos insurgentes. A varredura pode ter caráter defensivo, tendo como
produto final a proteção de potenciais alvos, como uma segurança de autoridades, de
uma tropa, de um evento ou instalação. Pode também assumir caráter ofensivo, tendo
como produto final a obtenção de informações, a negação de recursos aos
61

insurgentes e o asseguramento de provas forenses, conforme pondera (BRASIL,


2021).
As técnicas de varredura e vasculhamento devem seguir alguns princípios.
Estes são explicitados pelo Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de
Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro.
a) segurança dos envolvidos;
b) emprego de uma busca sistemática e metódica; e
c) atenção aos objetos ou situações fora de contexto, os quais podem ser
indícios de AE.
(BRASIL, 2021, p. 4-9).

As técnicas de varredura preconizadas no Caderno de Instrução EB70-CI-


11.452 – Neutralização de Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro aplicam-se para
verificação de áreas, instalações, veículos e pessoas.
Figura 24: técnica de vasculhamento manual em veículo.

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 25: técnica de vasculhamento remota em veículo utilizando o robô EOD TEODHOR.

Fonte: CI Eng/2º B Fv
62

6 O EOD NO COMBATE ÀS AMEAÇAS EXPLOSIVAS NO CONTEXTO


INTERNACIONAL

O combate às Ameaças Explosivas, representadas notadamente pelos


Artefatos Explosivos Improvisados (AEI), é materializado por ações antiAEI ou Contra
– AEI (C-AEI). Segundo o Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de
Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro (BRASIL, 2021), as missões antiAEI devem
abranger inteligência, informação, treinamento, operações, material, tecnologia,
regulamentação e recursos para a obtenção de uma solução e a garantia de que o
resultado seja a predição, detecção, prevenção, neutralização e mitigação de uma
ameaça AEI. Essas ações devem relacionar-se com as circunstâncias do teatro de
operações, e os diversos vetores de uma operação devem ser executados em paralelo
com as operações em andamento.
Nesse contexto, de acordo com esse CI os objetivos fundamentais das ações
antiAEI são: ataque à rede das Forças Adversas, eliminação das ameaças AEI e
treinamento das Forças, em especial das equipes EOD. A consecução destes
objetivos viabiliza garantir a liberdade de movimento e manobra, bem como atender
aos princípios EOD.
Figura 26: Linhas de Operação para Atividades C-AEI/antiAEI

Fonte: Adaptado por DEL GALLO (2017) de OTAN (2012, p. 1-7) e EUA (2016, p. II-7)

Considerando as experiências do Exército norte-americano no Oriente Médio,


particularmente com relação ao combate aos AEI no Iraque e no Afeganistão,
verificou-se que a organização, o treinamento e o adestramento de equipes EOD foi
63

fundamental para reverter o elevado percentual de baixas causadas pelo emprego


dos AEI, conforme pondera Barbero (2013) que afirma que os AEI foram diretamente
responsáveis por mais de 60% das baixas militares dos EUA no Iraque e no
Afeganistão entre 2001 e 2013, provocando também, segundo Smith (2011), uma
surpresa estratégica letal para a qual suas tropas, definitivamente, não estavam
preparadas.
Diante do crescente número de baixas provocadas pela ação dos AEI no
Iraque, bem como inquietados pela grande falta de capacidade de
desativação dos artefatos por parte de suas equipes, as autoridades militares
americanas passaram a estudar como resolver o problema em questão
(JÚNIOR, 2013, p. 56).

Nesse sentido, Del Gallo (2017) advoga que dentre as diversas providências
adotadas pelos Estados Unidos, uma das medidas implementadas foi a criação de
tropas diretamente responsáveis pelo combate aos AEI instalados nos itinerários de
movimento das tropas. Visando o cumprimento desta missão, foram implementadas
as chamadas tropas de limpeza de vias, cuja organização será abordada com mais
detalhes na presente seção.
Dessa forma, segundo Júnior (2013), foi criada no Exército dos EUA, no ano
de 2004, a Companhia de Limpeza (Clearance Company), fazendo parte da
organização das Unidades de Engenharia, tendo por missão realizar operações de
detecção e neutralização de ameaças AEI ao longo de vias ou em áreas. Essa
subunidade era formada por três pelotões de limpezas de vias (Route Clearance
Platoon) e um pelotão de limpeza de áreas (Area Clearance Platoon).
A atuação dessa SU no Iraque e posteriormente no Afeganistão mostrou-se
extremamente exitosa, trazendo resultados altamente positivos para as tropas da
coalizão. O mais significativo destes resultados foi a vertiginosa queda no número de
baixas em combate (feridos e mortos), tanto de forças militares quanto de civis. Este
resultado pôde ser comprovado a partir de 2010 no Afeganistão, conforme gráfico
abaixo.
Corroborando esse aspecto, segundo Del Gallo (2017), ao realizar um trabalho
fundamental no apoio à mobilidade das tropas, a experiência do emprego dessas
Companhias nas estradas iraquianas foi tão positiva que estas SU passaram a ocupar
um papel de grande destaque na doutrina militar dos EUA, assumindo rapidamente —
e com reconhecido sucesso — uma posição central no esforço para reduzir as
milhares de baixas provocadas pelos AEI em suas tropas.
64

Gráfico 1 — Representação gráfica do número total de mortes provocadas por AEI no Afeganistão e a
queda após o emprego de Equipes EOD

Fonte: iCasualties (apud DEL GALLO, 2017, p.115).

No caso da Colômbia, a capacitação na especialidade EOD de militares da


arma de Engenharia daquele País tem sido um fator determinante para a queda nos
percentuais de vítimas de AEI, conforme verifica-se na quadro 1 (p. 40) deste trabalho.
Segundo Del Gallo (2017), pode-se depreender que a própria realidade do país gera
uma significativa experiência de combate aos AEI entre seus militares, exigindo dos
mesmos constantes treinamentos e preparo para que possam enfrentar uma ameaça
tão letal e abundante dentro de seu território.
Já no caso do continente africano, a atuação das equipes EOD tem contribuído
para a mitigação dos efeitos nefastos dos AEI. No Mali, por exemplo, foi criado um
Centro de Treinamento EOD que atualmente formam especialistas EOD nos níveis 2
e 3 com ênfase em ações antiAEI, exemplificado no gráfico abaixo que apresenta o
número de operadores EOD formados por nível de especialização.
65

Gráfico 2 – número de operadores EOD formados no Centro de Treinamento do Exército


Maliano.

Fonte: Departamento de Engenheiros das Forças de Segurança e Defesa do Mali.

Gráfico 3 - comparação das ocorrências envolvendo AEI e outros AE no Mali nos anos de
2020 e 2021.

Fonte: Departamento de Engenharia das Forças de Defesa e Segurança do Mali (MDSF).

A partir da análise dos gráficos acima referente à situação dos AEI no Mali,
verifica-se uma significativa queda no número de incidentes envolvendo
principalmente VOIED (victim operated improvised explosive device), ou seja, AEI
ativado pela própria vítima e RCIED (remote controlled IED), isto é, AEI acionado
remotamente. Destaca-se também o decréscimo nos incidentes envolvendo minas
(mine), que são Artefatos considerados convencionais.
Verifica-se que essa queda vertiginosa nas estatísticas envolvendo minas e AEI
no Mali deveu-se em grande parte à formação e emprego de equipes EOD dentro do
próprio País, denotando a importância fundamental deste ente no combate às
ameaças explosivas.
Em se tratando da Nigéria, as ações para combater os AEI centraram-se em 4
(quatro) pilares: atacar a rede terrorista, preparar a força, neutralizar os AEI e criação
66

de estratégias preventivas para impedir ataques terroristas. Tais ações passaram a


ser implementadas a partir de 2016 com resultados expressivos, mitigando os efeitos
do emprego dos AEI lançados pelo grupo terrorista Boko Haram, em especial. Nesse
sentido, os esforços estratégicos impactaram na redução significativa de ataques com
AEI fora da região Nordeste da Nigéria de 82 ataques em 2015 para 10 ataques em
2020.
Figura 27: Equipamento mecânico para a remoção de minas e AE adquirido pelo Exército nigeriano.

Fonte: Exército da Nigéria

Figura 28: treinamento de militares nigerianos para localização de minas e AEI.

Fonte: Exército da Nigéria

Figura 29: treinamento de militares nigerianos para localização de minas e AEI.

Fonte: Exército da Nigéria


67

7. A CAPACIDADE BRASILEIRA EOD 2 NO CONTEXTO DO DOPEMAI

7.1 DOUTRINA

De acordo com o marco conceitual preconizado pelo manual EB 20-MF-10.102


– Doutrina Militar Terrestre, a Doutrina Militar caracteriza-se pelo conjunto harmônico
de ideias e de entendimentos que define, ordena, distingue e qualifica as atividades
de organização, preparo e emprego das Forças Armadas (FA). Engloba a
administração, a organização e o funcionamento das instituições militares (como
organizar, como equipar, como combater).
Esta mesma fonte doutrinária assim define a Doutrina Militar Terrestre:
A Doutrina Militar Terrestre (DMT) é o conjunto de valores, fundamentos,
conceitos, concepções, táticas, técnicas, normas e procedimentos da F Ter,
estabelecido com a finalidade de orientar a Força no preparo de seus meios,
considerando o modo de emprego mais provável, em operações singulares e
conjuntas. (BRASIL, 2019, p. 1-2).

Nesse contexto, o EB como Força Armada Singular vocacionada para suas


missões constitucionais e para vencer o combate terrestre é composto pelas
organizações militares (OM), pelas instalações, pelos equipamentos e pelo pessoal
em serviço ativo ou na reserva, conforme pondera o Manual de Fundamentos –
Doutrina Militar Terrestre (BRASIL, 2019).
Essa fonte doutrinária aborda que a F Ter é o instrumento de ação do EB. Para
tanto deve ser organizada, preparada e estruturada com base em capacidades, a
partir dos fatores determinantes: Doutrina, Organização (e/ou processos),
Adestramento, Material, Educação, Pessoal e Infraestrutura, com vistas ao emprego
no Amplo Espectro dos Conflitos. Em situação de paz, a F Ter está distribuída pelos
Comandos Militares de Área (C Mil A), que são os responsáveis pelo cumprimento de
missões operativas. Em situação de guerra, é objeto de organização específica.
Nesse sentido, da Doutrina em seu conceito mais amplo derivam documentos
e orientações para a geração de capacidades, preparação e emprego.
Da Doutrina derivam:
a) as normas e os procedimentos que constituirão o objeto das publicações
doutrinárias da F Ter;
b) as bases para a elaboração dos planos/programas de adestramento das
unidades e de instrução das tropas;
c) os fundamentos da educação militar, que delinearão os planos de ensino
nos diversos níveis;
d) os critérios para o aperfeiçoamento das estruturas operativas e a
determinação de meios com tecnologia adequada; e
68

e) as bases para a formação moral, intelectual e física do combatente.


(BRASIL, 2019, p. 1-3).

Em se tratando dos trabalhos empregando explosivos como destruições


preparadas, abertura de crateras, demolições, neutralização de artefatos explosivos,
minas e engenhos falhados, doutrinariamente estes cabem à arma de Engenharia no
contexto de suas atividades em prol da Mobilidade, Contramobilidade e Proteção,
conforme o Manual de Campanha – EB70-MC-10.237 – A Engenharia nas Operações.
A Engenharia é a arma de apoio ao combate que tem como missão principal
apoiar as operações conduzidas pela Força Terrestre, por intermédio das
atividades de Ap MCP e Ap Ge Eng. Estas atividades visam a multiplicar o
poder de combate das forças amigas e a destruir, neutralizar ou diminuir o
poder de combate inimigo, propiciando a conquista e manutenção dos
objetivos estabelecidos. (EB70-MC-10.237, 2018, p. 2-1)

No que diz respeito às publicações doutrinárias que fundamentam e legitimam


a doutrina, estas são de responsabilidade do Centro de Doutrina do Exército (C Dout
Ex), subordinado diretamente ao Comando de Operações Terrestres (COTER). Cabe
ao C Dout Ex expedir as diretrizes e regulamentar toda a produção doutrinária do EB.
Nesse sentido, o C Dout Ex elaborou as Instruções Gerais para o Sistema de
Doutrina Militar Terrestre (SIDOMT) (EB10-IG 01.005) que normatizam as publicações
doutrinárias, escalonando-as em níveis que correspondem necessidades de
formulação e de aprovação cuja responsabilidade cabe a diferentes órgãos, conforme
ilustrado a seguir.

Figura 30 – Hierarquia das publicações Doutrinárias dentro do SIDOMT


Fonte: EB10-IG 01.005

Os Manuais de Fundamentos (MF) são publicações que incluem um universo


de conhecimentos que abrangem princípios e valores, para obtenção de objetivos
individuais e institucionais, e concepções e conceitos relacionados à doutrina e a
69

outras atividades funcionais de abrangência Exército Brasileiro e se encontram no 1º


nível, que abarca as publicações que abordam um universo de conhecimentos
destinados ao emprego da F Ter, que abrangem princípios, valores, concepções e
conceitos doutrinários e funcionais de âmbito do Exército Brasileiro.
Os Manuais de Campanha (MC), por sua vez, regulam as concepções, os
conceitos operativos e as táticas dos escalões da F Ter (Unidade ou Grande Unidade),
bem como as formas de emprego desses escalões. Encontram-se presentes nos 2º e
3º níveis. No 2º nível enquadram-se as publicações que tratam de concepções e
conceitos operativos para o emprego da F Ter, traduzindo os princípios estabelecidos
nas publicações do 1º nível. No que tange ao 3º nível, as publicações deste nível
versam sobre a tática dos escalões da F Ter, ou seja, a forma pela qual são
empregados os seus meios. São exemplos os manuais que tratam das grandes
unidades e unidades.
Os Manuais de Ensino (ME), que também encontram-se no 3º nível publicação,
estabelecem definições e orientações de caráter pedagógico sobre o emprego da F
Ter, incluindo as suas organizações e materiais de emprego militar (MEM) que
mereçam ser estudados nos estabelecimentos de ensino (Estb Ens).
Por fim, no 4º nível têm-se os Manuais Técnicos (MT), os Cadernos de
Instrução (CI) e os Vade-Mécum (VM). Os MT são publicações que estabelecem
técnicas e procedimentos para o emprego de frações da F Ter, bem como para a
utilização de materiais de emprego militar. Os Cadernos de Instrução são publicações
que regulam procedimentos relacionados ao preparo do pequeno escalão (até
subunidade) da F Ter. Já os VM são produtos de conteúdo prático que apresenta
dados médios de planejamento para o emprego das armas/quadros/serviços ou de
cerimonial militar. Todas essas publicações compõem o 4º nível, o qual regula os
procedimentos de pequeno escalão, inclusive a subunidade (SU), bem como a parte
técnica dos materiais e os dados médios de planejamento, entre outros assuntos de
caráter normativo.
No que diz respeito à atividade EOD, o EB dispõe das seguintes publicações
doutrinárias: Manual C 5-25 – Explosivos e Destruições, que trata basicamente dos
procedimentos para o emprego de explosivos voltados para demolições ou
destruições, estabelecendo, inclusive, as normas de segurança. Ademais, têm-se o
Manual C 5-37 – Minas e Armadilhas, que dispõe sobre o emprego de minas, no
lançamento de campos minados, técnicas de desminagem e tipos e normas para o
70

emprego de armadilhas. Por fim, a publicação mais atual é o Caderno de Instrução


EB70-CI-11.452 – Neutralização de Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro,
confeccionado pelo CI Eng/2º B Fv, constituindo-se atualmente na única publicação
oficializada pelo COTER que direciona as atividades de neutralização de AE no
contexto do EOD. Dessa forma, trata-se de uma lacuna no processo de geração de
Capacidades Operativas (CO).

7.2 ORGANIZAÇÃO (E/OU PROCESSOS)

Segundo Brasil (2019, p. 3-3) a organização e/ou processos expressam-se por


intermédio da Estrutura Organizacional dos elementos de emprego da F Ter. Algumas
capacidades são obtidas por processos, com vistas a evitar competências
redundantes, quando essas já tenham sido contempladas em outras estruturas.
Nesse contexto, a geração da capacidade EOD 2 desenvolvida no CI Eng/2º B
Fv segue um processo bem estruturado de Ensino gerenciado pelo Departamento de
Educação e Cultura do Exército (DECEx) por meio da Diretoria de Educação Técnica
Militar (DetMil) com assessoramento do Departamento de Engenharia e Construção
(DEC).
No que diz respeito à previsão de equipes EOD em Organizações Militares ou
mesmo em Grandes Unidades (GU) ou Grandes Comandos verifica-se que
atualmente não existe esta previsão, constituindo-se num aspecto a ser estudado e
se for o caso implementado.
É importante ressaltar que em alguns Exércitos que são referência nesta área
EOD como EUA e Espanha a organização EOD já é uma realidade e encontra-se bem
estruturada, conforme mostrado abaixo. Cabe salientar também que existe uma
organização, ainda incipiente, de uma equipe EOD no 2º BE E Cmb, sediado em
Pindamonhangaba – SP. Esta organização, também descrita a seguir poderia ser
utilizada como um modelo a ser implementado por exemplo em OM de Engenharia
nível Batalhão na dosagem de uma Eqp por Comando Militar de Área.
71

Quadro 2: Organização da Eqp EOD do 2º B E Cmb.


Posto/Graduação Função Efetivo
1º ou 2º Ten Op EOD e Cmt Eqp/Dst 01
1º, 2º ou 3º Sgt Op EOD 03
Cb/Sd Auxiliares 04
Total 8 (oito) militares
Fonte: 2º B E Cmb adaptado pelo autor.

No organograma dos Batalhões de Engenharia do Exército espanhol, verifica-


se que existe 01 (um) Pelotão de Desativação de AE (EOD) e 02 (dois) Grupos de
Limpeza de Vias que também podem atuar na neutralização de ameaças explosivas
em Vias de Acesso. Tal fato demonstra a importância de se prever essa Atv EOD na
Organização de um Exército.
Figura 31: organograma de um Batalhão de Engenharia Espanhol previsto para o ano de 2025.

Fonte: Júnior (apud DEL GALLO, 2017, p. 226)

Com relação à organização de tropas especializadas em EOD, os EUA contam


com uma estrutura extremamente completa e bem distribuída. O escalão mais elevado
da tropa EOD é o Grupamento, responsável por coordenar os trabalhos de até 07
(sete) Batalhões EOD. Abaixo do Grupamento, seguindo uma estrutura similar à
brasileira, encontram-se os Btl EOD, as SU EOD, os Pel EOD e as Eqp EOD.
72

Quadro 3: Constituição Básica das Tropas EOD no Exército dos EUA


Escalão Constituição Básica
(Exército dos EUA)
Grupamento EOD 01 (um) por Corpo de Exército
Batalhão EOD 01 (um) por Divisão de Exército
Subunidade EOD 01 (uma) por Brigada (qualquer natureza)
Pelotão EOD 01 (um) por Elm Man Esc Btl
Fonte: adaptado de EUA (2016a, p. B-2)
Segundo EUA (2016a), os Pelotões e Equipes EOD são as frações
efetivamente responsáveis pela neutralização de eventuais artefatos convencionais
e/ou improvisados, sendo, portanto, diretamente responsáveis pelo apoio à
mobilidade e à proteção de uma tropa em movimento.
Nesse sentido, os Pel EOD norte-americanos são normalmente empregados
em apoio a Unidades nível Batalhão e têm a missão de prover liderança, coordenação,
supervisão e orientação de 3 (três) a 4 (quatro) Equipes EOD, podendo apoiar os
trabalhos C-AEI que envolvem artefatos explosivos, QBRN, AEI e engenhos
explosivos falhados de procedência norte-americana ou estrangeira EUA (2016a, p.
B-6).
As Equipes EOD, por sua vez, representam a fração eminentemente
operacional do sistema, sendo responsáveis diretas pela execução das missões desta
natureza. “A Equipe EOD é o pilar central da força EOD” EUA (2013a, p. 2-11). São
constituídas geralmente por 03 (três) especialistas EUA (2016a, p. B-6), sendo um
deles designado o líder da equipe. O emprego dessas Equipes EOD é semelhante ao
emprego dos Grupos de Engenharia (GE) orgânicos dos Pelotões de Engenharia de
Combate que são as frações mínimas de trabalho da Engenharia.
Figura 32 — Organograma do Pel EOD no Exército dos EUA

Fonte: EUA (2013a, p. 1-6)


73

Pelo exposto verifica-se a importância de se prever estruturas organizacionais


contemplando a área EOD para o desenvolvimento desta capacidade no âmbito do
EB, podendo-se utilizar como modelo o organograma adotado pela Equipe EOD do 2º
BE Cmb.

7.3 ADESTRAMENTO

O Manual doutrinário de Fundamentos – DMT (BRASIL, 2019, p. 3-3) afirma


que este fator compreende as atividades de preparo, obedecendo a programas e
ciclos específicos, incluindo a utilização de simulação em todas as suas modalidades:
virtual, construtiva e viva.
Nesse sentido, a equipe DAE/2º BE Cmb, como equipe EOD atualmente
operativa no âmbito do EB, participa de diversos exercícios e atividades de
adestramento, seja em operações, seja em atividades de treinamento da própria
equipe.
Como exemplo cita-se apoio ao Estágio de Explosivos e Desminagem/EOD 2
do CI Eng/2º B Fv, participação no Estágio de Operações Urbanas do Centro de
Instrução de Operações Urbanas (CIOU/28º BIL), Manobra Escolar da AMAN,
Operação Anhanguera, Operação SACI da Brigada PQDT, apoio ao Curso de Forças
Especiais, além de ministrar o Estágio Setorial de Explosivos no âmbito do CMSE e
participar de Pedidos de Cooperação de Instrução (PCI) na Cia DQBRN.
Ressalta-se que, a despeito de a Equipe de Instrução do CI Eng/2º B Fv estar
vocacionada para as atividades de ensino, ela participa de exercícios e operações
como a certificação de uma Cia E F Paz para missões de paz sob a égide da ONU.
Assim, verifica-se que as atividades de Adestramento envolvendo a
especialidade EOD existem e cumprem os objetivos para a manutenção dos padrões
de treinamento e especialização tanto da Equipe EOD do 2º BE Cmb quanto da
Equipe de Instrução EOD do CI Eng/2º B Fv, porém de forma parcial, uma vez que
não existem documentos que prevejam um ciclo de Adestramento para esta
capacitação como um Programa Padrão de Adestramento (PPA). Ademais, este
aspecto enseja ser ampliado com a previsão de mais atividades promovendo
principalmente a integração entre a Equipe EOD/2º BE Cmb e os docentes e discentes
do CI Eng/2º B Fv.
74

Figura 33: Emprego da Eqp EOD do 2º BE Cmb em Op Urbanas

Fonte: Equipe EOD/2º BE Cmb

Figura 34: adestramento da Equipe EOD em Ap à arma-base

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 35: Emprego da Equipe e Material EOD em área sensível (refinaria)

Fonte: Equipe EOD/2º BE Cmb


75

7.4 MATERIAL

De acordo com Brasil (2019) o aspecto Material compreende todos os materiais


e sistemas para uso na F Ter, acompanhando a evolução de tecnologias de emprego
militar e com base na prospecção tecnológica. Esse aspecto é expresso pelo Quadro
de Distribuição de Material das Organizações Militares da F Ter e inclui as
necessidades decorrentes da permanência e sustentação das funcionalidades desses
materiais e sistemas, durante todo o seu ciclo de vida (permanência no inventário da
F Ter).
Com relação ao Material EOD, o EB tem investido na aquisição de material
especializado que está mobiliando tanto o Centro de Instrução de Engenharia do 2º
Batalhão Ferroviário (CI Eng/2º B Fv) quanto a equipe DAE/2º BE Cmb, conforme
anexos, fato que tem conferido uma significativa capacidade de formação e
adestramento de operadores EOD.
Entretanto, existem algumas oportunidades de melhoria no que diz respeito a
esse aspecto de material. Nesse sentido, cita-se os Vtr Blindadas vocacionadas para
a Atv EOD, robôs EOD, como por exemplo o THEODOR, de fabricação americana e
o TELEMAX, de fabricação alemã. Atualmente, existe um exemplar do robô TELEMAX
no CI Eng/2º B Fv e um exemplar do robô THEODOR na equipe DAE/2º BE Cmb.
Ademais, cita-se também a necessidade de aquisição de materiais voltados
para a área de eletrônica aplicada à área de explosivos. Além disso, ressalta-se os
materiais e equipamentos voltados a investigação forense, basicamente materiais e
equipamentos de perícia em material e pessoal, bem como a aquisição de explosivos
plásticos e cargas direcionais.
Ante ao exposto, verifica-se que esse aspecto atende de forma satisfatória às
exigências para a geração da capacidade EOD 2 no âmbito do DOPEMAI. Entretanto,
para a geração desta capacidade na plenitude, bem como para alcançar níveis mais
altos como o EOD 3 ou 3+ torna-se necessário a aquisição de materiais e
equipamentos já elencados.
76

Figura 36: material EOD disponível no CI Eng/2º B Fv (traje EOD)

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 37: Detectores de minas utilizados pelo CI Eng/2º B Fv

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 38: material EOD disponível no CI Eng (canhão disrruptor).

Fonte: CI Eng/2º B Fv
77

Figura 39: material EOD (robô EOD TELEMAX)

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 40: Robô EOD TEODHOR

Fonte: CI Eng/2º B Fv

7.5 ENSINO/EDUCAÇÃO

A Educação compreende todas as atividades continuadas de capacitação e


habilitação, formais e não formais, destinadas ao desenvolvimento do integrante da
Força Terrestre quanto à sua competência individual requerida. Essa competência
deve ser entendida como a capacidade de mobilizar, ao mesmo tempo e de maneira
inter-relacionada, conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e experiências, para
decidir e atuar em situações diversas, conforme pondera Brasil (2019).
Atualmente, esse aspecto é atendido pelo Estágio de Explosivos e
Desminagem/EOD 2 ministrado no CI Eng/2º B Fv para Oficiais e Sargentos da Arma
de Engenharia. Esse Estágio é normatizado pelas Portarias 158 e 159 – EME, de 8
de julho de 2020, que criou e que regula as condições de funcionamento para Oficiais
respectivamente. Para o Estágio direcionado para Sargentos, as Portarias 161 e 162
78

– EME, de 8 de julho de 2020 criou e regula as condições de funcionamento


respectivamente.
O atual Estágio é uma evolução do Estágio de Emprego de Minas, criado em
1995 e que funcionou até 2017 na Escola de Instrução Especializada, localizada no
Rio de Janeiro – RJ e tinha duração de 4 (quatro) semanas.
O Estágio de Explosivos e Desminagem ministrado no CI Eng capacita o militar
a desempenhar as atribuições em EOD nível 2 que além de incluir as habilidades do
nível 1, o EOD 2 habilita o elemento a determinar quando é seguro movimentar e
transportar munições e a conduzir a detonação múltipla de artefatos explosivos
empregando troncos e linhas principais. Essa qualificação aplica-se apenas para as
minas e ERW (acrônimo em para Explosive Remnants of War) específicos para os
quais o indivíduo foi treinado. Habilita ainda a realizar assessoramentos e
treinamentos para a transposição de tropas em campos de minas e em limpeza de
vias, na presença do inimigo. Pode assessorar ainda, em situações como em
incidentes isolados em ambiente urbano ou rural, que envolvam artefatos explosivos.
No atual formato, o Estágio de Explosivos e Desminagem/EOD 2 tem duração
de 6 (seis) semanas presenciais. Com a evolução dessa capacitação, houve uma
reformulação no Plano de Disciplinas (PLADIS), ora anexado à este trabalho, com a
inserção de disciplinas importantes como identificação e neutralização de Artefatos
Explosivos Improvisados (AEI), TTP EOD, Primeiros Socorros (Atendimento pré-
hospitalar tático) e Ação Contra Minas.
Dessa forma, o EB possui uma capacitação EOD 2 bem estruturada e que
atende às atuais demandas do EB, bem como atende parcialmente às exigências para
o emprego em missões internacionais. Como oportunidade de melhoria para essa
capacitação poderiam ser inseridas disciplinas como investigação forense e o
incremento de disciplinas como AEI e eletrônica aplicada.
79

Figura 41: Instrução de Explosivos e Demolições (Estágio de Desminagem e Explosivos do CI Eng)

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 42: Instrução de Explosivos e Demolições (Estágio de Desminagem e Explosivos do CI Eng)

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 43: Avaliação prática – Desminagem e APH tático (Estágio de Explosivos e Desminagem)

Fonte: CI Eng/2º B Fv
80

7.6 PESSOAL

O fator relacionado ao Pessoal abrange todas as atividades relacionadas aos


integrantes da força, nas funcionalidades: plano de carreira, movimentação, dotação
e preenchimento de cargos, serviço militar, higidez física, avaliação, valorização
profissional e moral. É uma abordagem sistêmica voltada para a geração de
capacidades, que considera todas as ações relacionadas com o planejamento, a
organização, a direção, o controle e a coordenação das competências necessárias à
dimensão humana da Força, segundo assevera Brasil (2019).
Nesse contexto cabe ressaltar que a seleção dos especialistas EOD, assim
como a capacitação destes é fator fundamental para o sucesso das missões EOD
tendo em vista a sensibilidade e o alto grau de periculosidade desta atividade.
Nesse sentido, o fator pessoal é crucial para a geração da capacidade EOD no
âmbito do EB, conforme pondera Leão (apud DEL GALLO, 2017, p. 205).
A seleção de pessoal é um processo importantíssimo na estruturação de um
grupo antibombas. Uma boa seleção pode identificar pessoas com
características psicológicas e comportamento condizente com a função, e
eliminar pessoas sem aptidão ou com perfil inadequado ao trabalho, que irão
se transformar, posteriormente em um problema administrativo para o grupo
e até comprometer operacionalmente os trabalhos. Um técnico e bombas
deve ter um elevado controle emocional, inteligência, forte vínculo sociais e
familiares, decidir suas ações com racionalidade. Um bom explosivista
baseia-se em cálculos, avalia o desconhecido e inova suas ações baseado
na experiência e treinamento. O mau explosivista baseia-se na sorte, desafia
o desconhecido e reage baseado em sua intuição (LEÃO, 2016, apud DEL
GALLO, p. 205).

Atualmente o EB vem capacitando anualmente Oficiais e Sargentos da arma


de Engenharia na especialidade EOD 2 por meio do Estágio de Explosivos e
Desminagem/EOD 2, conforme tabela abaixo.
Quadro 4: Efetivo de Of/Sgt concludentes do Estg Explosivos e Desminagem/EOD 2.
Ano/Posto/Grad 2018 2019 2020 2021 Total
Oficiais 10 17 10 6 43
Sargentos 9 0 10 0 19
Fonte: CI Eng/2º B Fv

Cabe ressaltar que este efetivo capacitado no CI Eng/2º B Fv integra os


quadros de diversas OM de Engenharia, bem como Escolas de Formação, resultando
em uma gama de pessoal disponível e capacitado para cumprir missões EOD em todo
o território nacional, assim como no exterior.
81

Ademais, destaca-se também que os Instrutores e Monitores do CI Eng/2º B Fv


além de possuírem capacitação no âmbito do EB, possuem cursos e missões no
exterior como na Colômbia, Espanha e Portugal, incrementando qualitativamente este
aspecto do DOPEMAI.
Ainda concernente à capacitação de pessoal para a atividade EOD, Del Gallo
(2017, p. 425) traz um levantamento de militares de Engenharia que recentemente
realizaram Cursos no Exterior na área de neutralização de Artefatos Explosivos e EOD
até o ano de 2017.
Quadro 5: Cursos realizados por militares brasileiros no exterior na área de Explosivos e EOD até
2017.

Fonte: Del Gallo (2017, p. 425).

Quadro 6: principais destinos de militares brasileiros no exterior para a realização de cursos na área
EOD.

Fonte: Del Gallo (2017, p. 425)


82

Ante ao exposto, depreende-se que o Exército Brasileiro está alinhado


majoritariamente com a perspectiva internacional de especializar militares na área
EOD, haja vista a importância desta capacitação no contexto atual, uma vez que a
ameaça, sobretudo dos AEI, é cada vez mais latente, multifacetada e que avançada
mundo afora em velocidade surpreendente.
Todavia, como oportunidade de melhoria, poderia se investir na capacitação de
militares na área de AEI, investigação forense e eletrônica aplicada. Essa capacitação
poderia ser feita em Estabelecimentos de Ensino nacionais como o Instituto Militar de
Engenharia ou mesmo em Órgãos de Segurança Pública como a Polícia Civil. Além
disso, a capacitação de militares no exterior também seria viável, principalmente se
houver, por parte do EB, a intenção de galgar níveis EOD acima do nível 2.
Uma outra alternativa para suprir essa lacuna seria a contratação de servidores
civis capacitados e com estas expertises.
Figura 44: Operador EOD 2 capacitado a executar missões reais

Fonte: Equipe EOD/ 2º BE Cmb

7.7 INFRAESTRUTURA

Este aspecto do DOPEMAI engloba todos os elementos estruturais (instalações


físicas, equipamentos e serviços necessários) que dão suporte ao preparo e ao
emprego dos elementos da F Ter, de acordo com a especificidade de cada um e o
atendimento aos requisitos do exercício funcional, conforme preconiza o manual de
DMT (BRASIL, 2019).
Nesse sentido, o CI Eng/2º B Fv encontra-se em processo de ampliação com a
construção de um pavilhão EOD no nível dos melhores Exércitos do mundo que
possuem esta capacidade EOD bem desenvolvida. Este pavilhão contempla
83

estruturas importantes como: laboratório de análise forense, laboratório de eletrônica


aplicada à atividade EOD, sala de Instrução, pistas de desminagem, sala para prática
de primeiros socorros, casa simulada para varredura, dentre outras.
Figura 45: interior do Pavilhão de Instrução EOD no CI Eng/2º B Fv

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 46: fachada do Pavilhão de Instrução EOD do CI Eng/2º B Fv

Fonte: CI Eng/2º B Fv

Figura 47: Pista de treinamento para técnicas de demolições

Fonte: CI Eng/2º B Fv
84

7.8 RESUMO DA ANÁLISE

Quadro 7: Resumo da análise dos fatores do DOPEMAI


Fator Características Elementos Conclusão
(DOPEMAI) observados
Doutrina Existência de Foram observados Não atende
publicações doutrinárias elementos
que regulem a atividade. insuficientes que
não atendem
integralmente ao
aspecto.
Organização Previsão de estruturas Foram observados Não atende
organizacionais e aspectos que
processos que regulem atendem
toda a capacidade parcialmente a este
desde a preparação até fator.
o emprego propriamente
dito.
Pessoal Existência de recursos Foram observados Atende
humanos devidamente dados que atendem
capacitados e plenamente ao
preparados para exercer desenvolvimento da
de forma plena a capacidade EOD 2.
capacidade.
Ensino/Educação Existência de uma Foram verificadas Atende
estrutura completa evidências e
voltada para o ensino processos que
desde documentos cumprem
oficiais de ensino, integralmente os
metodologias requisitos deste
apropriadas, instalações fator.
e materiais apropriados
e docentes capacitados,
tudo aprovado e
sistematizado pelo
DECEx.
Material Existência e articulação
Para a capacidade Atende
de materiais e
EOD 2, foi
equipamentos mínimos constatado que os
necessários para o
materiais e
desenvolvimento e
equipamentos
aplicação da
atualmente
capacidade. existentes no EB
satisfazem às
demandas deste
aspecto.
Adestramento Previsão em Observou-se que Não atende
documentos oficiais de este aspecto é
Atv voltadas para a atendido de forma
85

manutenção dos de parcial,


qualificação e necessitando de um
treinamento dos planejamento
recursos humanos com aprovado e
vistas a manter forças e oficializado em
tropas sempre prontas e documentos
em condições de apropriados (PPA)
emprego da capacidade. pelo EB.
Infraestrutura Existência e instalações Verificou-se a Atende
e áreas adequadas para existência de uma
o desenvolvimento e infraestrutura
aplicação da adequada e
capacidade. compatível com as
demandas da
especialidade EOD
2.

Da análise dos fatores componentes do DOPEMAI acima descritos, é possível


concluir que o Exército Brasileiro ainda não possui elementos suficientes para afirmar
que possui a Capacidade Operativa do EOD 2. Como foi observado, os fatores:
Doutrina, Organização e Adestramento ainda carecem de elementos suficientes para
serem considerados como plenamente obtidos pelas Força, sendo necessários
estudos e ações para que tais aspectos sejam contemplados no Planejamento
Estratégico do EB para a obtenção de tal capacidade.
A fim de que a capacidade de EOD 2 seja plenamente atingida, é necessário
que o Exército, minimamente, alcance os seguintes objetivos:
- Elabore e publique manuais doutrinários de 3º nível (MC e ME) a cargo do
COTER, além de Manuais Técnicos (MT) de 4º nível, que configurariam a existência
de uma doutrina militar terrestre de EOD 2;
- Defina se o EOD será uma capacidade própria dos elementos de emprego
básico ou uma capacidade a ser desenvolvida em módulos especializados;
- Contemple a previsão de claros em QC e QCP para incorporar as equipes de
EOD nos QO das OM Eng (SFC) ou que haja pelo menos uma Equipe EOD por
Comando Militar de Área sediada em uma OM de Eng pertencente a este C Mil A a
fim de atender ao fator Organização.
- Implementação de um Programa Padrão de Adestramento (PPA) abarcando
a atividade EOD, buscando integrá-lo aos PPB e PPQ da arma de Engenharia, bem
como às Atividades do Estágio de Explosivos e Desminagem do CI Eng, além de uma
maior integração entre as Equipes EOD do 2º BE Cmb e CI Eng/2º B Fv.
86

Por fim, conclui-se, que concernente aos fatores do DOPEMAI para a geração
da capacidade EOD, o EB tem progredido consideravelmente no sentido de ampliar o
alcance dessa especialização, principalmente investindo na capacitação de pessoal
por meio de cursos e estágios tanto no Brasil quanto no exterior, na aquisição de
material específico e técnico, além do investimento em infraestrutura. Contudo, ainda
não se pode afirmar que a geração desta capacidade encontra-se no escopo de uma
Capacidade Operativa.
87

8. CONCLUSÃO

O Planejamento Baseado em Capacidades (PBC) ora em voga no EB, surgiu


da necessidade de adaptação a um contexto altamente volátil, incerto, complexo e
ambíguo, no qual torna-se difícil identificar ameaças em potencial e os riscos advindos
do ambiente externo que possam impactar diretamente para uma Organização ou
Instituição. Nesse sentido, o Ministério da Defesa adotou o PBC como uma ferramenta
voltada ao Planejamento Estratégico das Forças Armadas.
O PBC é baseado no modelo de gestão conhecido top down no qual as
capacidades geradas no mais alto nível estratégico são replicadas para os níveis
inferiores ou subordinados, adaptando-as, obviamente às especificidades de cada
nível. Nesse sentido, no nível estratégico-militar, representado pelo Ministério da
Defesa, planeja a geração das Capacidades Militares de Defesa (CMD), voltadas
principalmente para o cumprimento da missão constitucional das Forças Armada, bem
como para atender à estratégia da dissuasão.
A partir da definição das CMD, os níveis subordinados, ou seja, as Forças
Singulares (Marinha, Exército e Força Aérea) concebem seus planejamentos para a
geração das capacidades requeridas alinhados às CMD. Em se tratando do EB, o foco
é a geração das Capacidades Militares Terrestres (CMT). Tais capacidades visam em
última instância o cumprimento da missão constitucional do EB e as ações que dela
decorrem, quais sejam: defesa da pátria e da soberania nacional, realizar ações
subsidiárias, contribuir com o desenvolvimento nacional e atuar como elemento
dissuasório no contexto internacional.
Dessa forma, o EB vale-se da Força Terrestre (F Ter) para cumprir suas
atribuições. A F Ter está articulada pelos Comandos Militares de Área (C Mil A) e suas
Organizações Militares Diretamente Subordinadas (OMDS). No contexto do PBC a F
Ter atua na geração das Capacidades Operativas (CO) que estão fundamentadas
pelos fatores do DOPEMAI (Doutrina, Organização, Adestramento, Meios, Ensino,
Pessoal e Infraestrutura).
É importante destacar que para cada CMT decorre uma ou mais CO. Assim por
exemplo, de acordo com (EB 20-C-07.001 – Catálogo de Capacidades do Exército),
para a CMT 07. Proteção, decorrem as CO 28 - Proteção ao Pessoal e CO 29 –
Proteção física.
88

Nesse sentido, para que uma CO seja plenamente desenvolvida é preciso estar
subordinada à uma CMT, contribuindo para sua consecução, bem como atender a
todos os aspectos do DOPEMAI. Para tanto torna-se necessário um planejamento no
nível estratégico-militar para que a geração de determinada capacidade está
condicionada à um complexo processo no qual seja previsto a concepção de uma
Doutrina peculiar, uma Organização processual e estrutural adequada, ciclo de
Adestramentos planejados e factíveis, Material e Equipamentos adequados e
eficientes, um Sistema de Ensino eficaz e bem estruturado, uma previsão de dotação
de Pessoal para cumprir as Atividades e Tarefas demandadas e uma Infraestrutura
condizente com a capacidade a ser desenvolvida. Dessa forma, denota-se que é um
processo extremamente complexo e custoso.
Cabe ressaltar que, a despeito do PBC orientar o planejamento estratégico com
base na elaboração de cenários prospectivos, a identificação de ameaças ainda
continua sendo um aspecto muito importante levando em consideração as
características de um contexto altamente complexo, volátil e ambíguo, características
que tornam as ameaças difíceis de serem identificadas.
Nesse contexto, as ameaças explosivas surgem como ameaças cada vez mais
latentes, capilarizadas e desafiadoras. No cenário atual as ameaças explosivas
representadas pelos Artefatos Explosivos Improvisados são, sem dúvidas a principal
ameaça para muitos Exércitos do mundo. Artefatos relativamente simples de serem
construídos, utilizando componentes baratos e de fácil aquisição e altamente eficazes
e letais, constituem-se em verdadeiras armas capazes não só de matar, mas também
podem gerar mutilações e ferimentos graves.
É importante destacar que os AEI não diferenciam entre combatentes e não
combatentes, sendo assim, os efeitos causados por eles refletem em todos os campos
do Poder Nacional, principalmente nos aspectos político, econômico, psicossocial e
militar.
Essas armas quando em mãos de Organizações Criminosas, terroristas e
insurgentes constituem-se em riscos potenciais à estabilidade dos países e confrontos
de alto risco para as Forças Armadas, em especial para os Exércitos. Nesse sentido,
verifica-se que alguns países no presente século foram palco da atuação de grupos
terroristas e insurgentes que empregaram largamente os AEI. Destaca-se entre esses:
Afeganistão, Iraque, Colômbia e Mali.
89

Nesse contexto, os AEI foram os grandes responsáveis pelas baixas (mortos e


feridos) tanto entre militares quanto entre civis. No Afeganistão e no Iraque, por
exemplo, o emprego dos AEI causou mais de 50% das baixas nas tropas da
coalização lideradas pelos EUA, fato que causou um ponto de inflexão nas Operações
ao se buscar incrementar e aumentar a atuação das Equipes e frações EOD. Verifica-
se que tal medida contribuiu decisivamente para a vertiginosa queda nas baixas
ocasionadas na Força de Coalizão.
No caso da Colômbia, os AEI foram utilizados indiscriminadamente pelas FARC
tanto em ambiente urbano quanto no ambiente rural atingindo uma considerável
parcela da população civil que foram vítimas desses artefatos em função da presença
dos AEI em campos de cultivo e pastagens. No ambiente urbano os AEI foram
instalados principalmente em prédios públicos e locais de grande circulação. O
resultado disso foram elevadas estatísticas de vítimas tanto civis quanto integrantes
das Forças Armadas colombianas. Ademais, o impacto político foi tamanho a ponto
de desestabilizar vários governos vigentes no final da década de 1990 e na primeira
década do século XXI. Nesse contexto, no escopo de um amplo plano de combate às
ações das FARC (Plano Colômbia) estava o investimento na capacitação de tropas
EOD. Essa medida mostrou-se muito eficaz reduzindo consideravelmente os índices
de morte e mutilações principalmente após 2010.
Finalizando a análise do contexto internacional concernente à presença dos
AEI, observa-se, que, atualmente o continente africano constitui-se num ambiente
extremamente complexo no qual os AEI encontram terreno fértil para sua
disseminação. A instabilidade das instituições e dos governos, aliada aos conflitos
internos abrem espaço para a atuação de grupos terroristas como o Al-Shabab em
Ângola, Boko-Harã na Nigéria e o Estado Islâmico no Mali, os quais lançam mão dos
AEI como meios para causar pânico na população e desestabilizar as autoridades
vigentes e assim obterem vantagens estratégicas. Nesse ambiente, as Forças da
ONU que atuam em missões de paz deparam-se com uma situação extremamente
sensível e perigosa. Também nesse aspecto as equipes EOD das tropas da ONU
estão sendo fundamentais no combate aos AEI neste continente.
Dessa forma, infere-se que diante do atual contexto relativo às ameaças
explosivas, a capacitação EOD mostra-se fundamental, principalmente no tocante à
ameaça dos AEI. No entanto, é importante pontuar que a atuação dos operadores e
equipes EOD deve seguir normas e procedimentos bem definidos consubstanciados
90

numa doutrina de atuação que permite às forças militares combaterem com eficácia
esses ameaças. Nesse sentido, as Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) EOD são
basilares e cruciais para o enfrentamento das ameaças explosivas.
As TTP EOD são, via de regra, a consolidação de experiências de equipes e
operadores EOD que atuam em missões reais e estão em constante evolução, na
medida em que os AE e em especial os AEI também evoluem, notadamente em
função do desenvolvimento tecnológico. Em síntese, as TTP EOD fundamentam-se
em princípios, prioridades e tarefas conforme as ameaças que se apresentam,
segundo a categoria de risco que estas representam para uma Operação militar.
As atividades desenvolvidas pelas TTP EOD podem ser sintetizadas nas
seguintes ações: busca de ameaças explosivas, neutralização de AE e volta à
normalidade. Nesse sentido, o que irá modificar será a complexidade da ameaça que
determinará qual o nível EOD será mais adequado para o enfrentamento àquela
ameaça.
Ante ao exposto, verifica-se que a capacidade EOD representa, atualmente,
uma importante vantagem num ambiente operacional extremamente complexo, difuso
e volátil, no qual as operações no amplo espectro dos conflitos primam pela segurança
e legitimidade das ações. No contexto internacional, essa assertiva mostra-se ainda
mais significativa, constituindo-se num meio indispensável em se tratando de
ameaças explosivas, notadamente os AEI.
No contexto da geração de capacidades norteada pelo PBC, a capacidade
operativa EOD, particularmente no nível 2 (dois) poderia incrementar o rol de
capacidades atuais do EB, contribuindo para o cumprimento de sua missão
constitucional com eficiência e credibilidade. Nesse sentido, essa capacidade poderia
ser empregada tanto em operações de guerra convencional (defesa externa) quanto
em ações subsidiárias, seja em ambiente urbano ou rural. Verifica-se também que a
especialidade EOD 2 seja coerente com as atuais necessidades operacionais do
Exército.
Por fim, conclui-se que a atual capacitação na atividade EOD nível 2
proporcionada pelo Estágio de Explosivos e Desminagem desenvolvido no CI Eng/2º
B Fv está alinhado com as demandas exigidas para o combate aos AE e AEI, haja
vista que a estruturação do Estágio e as disciplinas abarcadas possibilitam cumprir as
missões de busca de ameaças, neutralização destas e a volta à normalidade com
segurança.
91

Todavia, para que esta especialidade possa, de fato, constituir-se numa


Capacidade Operativa no que concerne aos aspectos do DOPEMAI, verifica-se a
necessidade de aprimoramento em particularmente 3 (três) desses aspectos, quais
sejam: Doutrina, Organização e Material.
Dessa forma, os recursos humanos do EB com esta especialidade estão aptos
a cumprir missões dessa natureza no exterior, projetando assim, capacidade militar
do EB no contexto internacional, contribuindo para um efetivo efeito dissuasório.
92

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