Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio de Janeiro
2021
Maj Eng HELDER RAFAEL REPOSSI DOS SANTOS
Rio de Janeiro
2021
S237g Santos, Helder Rafael Repossi dos.
Aprovado em .
COMISSÃO AVALIADORA
________________________________________
Felipe Araújo Barros – Ten Cel Eng - Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
____________________________________________
Sérgio Munck – Ten Cel Art - Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_____________________________________________________
Jairo Luiz Fremdling Farias Júnior – Maj Inf - Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
Ao Senhor dos Exércitos, arquiteto do universo e
criador da vida, à minha família, base sólida da minha
vida e ao Centro de Instrução de Engenharia do 2º
Batalhão Ferroviário (CI Eng/2º B Fv).
AGRADECIMENTOS
Ao Senhor dos Exércitos, o Deus que me deu a vida, a saúde e a capacidade para
superar os desafios e seguir pelo caminho da verdade e amadurecimento pessoal.
Sem Ele eu não poderia fazer coisa alguma.
Aos meus pais, Cap QAO R1 Hildebrando dos Santos e Eliza Repossi dos Santos,
pessoas fantásticas e pais maravilhosos. Os valores em mim internalizados desde
tenra idade sempre me orientaram pelo caminho da integridade e da humildade. Os
seus exemplos de vida e conduta sempre serão um farol a iluminar meus passos.
Aos meus filhos, Pedro Augusto e Letícia, meus mais preciosos tesouros. Frutos de
um amor verdadeiro, vocês me fazem sorrir todos os dias, mesmo naqueles dias
mais difíceis. Obrigado por trazerem mais significado e alegria à minha vida.
Ao amigo e camarada Maj Eng Daniel Augusto Del Gallo pelo apoio e
companheirismo ao disponibilizar sua excepcional tese de Mestrado profissional
para conferir qualidade e credibilidade a este trabalho científico.
Aos companheiros e camaradas: Cap Cavalcanti, Sgt Sander, Sgt Ricardo Barbosa,
Sgt Mauronny (todos do CI Eng/2º B Fv), Maj Del Gallo, Ten Silvério, e Sgt Novais
(antigos integrantes da Equipe DAE/2º BE Cmb). Vocês são mais que amigos, são
irmãos de farda com os quais tive a honra de servir e aprender. Muito obrigado.
“O Exército pode passar cem anos sem ser
usado, mas não pode passar um minuto sem
estar preparado”. (Rui Barbosa).
RESUMO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................12
1.1 PROBLEMA........................................................................................15
1.2 OBJETIVOS........................................................................................17
1.2.1 Objetivo Geral....................................................................................17
1.2.2 Objetivos Específicos.......................................................................17
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO..............................................................18
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................18
2 METODOLOGIA...................................................................................20
2.1 TIPO DE PESQUISA E OBJETIVO METODOLÓGICO.......................20
2.2 ABORDAGEM.......................................................................................21
2.3 COLETA DE DADOS............................................................................21
2.4 LIMITAÇÕES DE MÉTODO..................................................................21
3 GERAÇÃO DE CAPACIDADES NO EB..............................................22
3.1 O PLANEJAMENTO BASEADO EM CAPACIDADES (PBC)..............22
3.2 CAPACIDADES MILITARES TERRESTRES (CMT) E CAPACIDADES
OPERATIVAS (CO).............................................................................................28
4 AMEAÇAS EXPLOSIVAS....................................................................32
4.1 CONCEITUAÇÃO E CATEGORIZAÇÃO..............................................32
4.2 OS ARTEFATOS EXPLOSIVOS IMPROVISADOS (AEI).....................33
4.2.1 Conceituação........................................................................................33
4.2.2 A ameaça dos AEI no atual contexto Internacional............................35
5 PRINCÍPIOS, APLICAÇÕES, NÍVEIS, TÁTICAS, TÉCNICAS E
PROCEDIMENTOS (TTP) E AÇÕES EOD...........................................42
5.1 PRINCÍPIOS EOD.................................................................................42
5.2 APLICAÇÕES EOD...............................................................................44
5.3 NÍVEIS EOD............................................................................................45
5.4 AÇÕES EOD............................................................................................47
5.4.1 Limpeza de Vias.....................................................................................48
5.4.2 Limpeza de Área e Campos Minados...................................................49
5.4.3 Limpeza de Viatura Blindada de Combate (VBC)................................50
5.4.4 Busca de ameaças.................................................................................50
5.4.5 Coleta de Informações e investigação forense....................................51
5.4.6 Neutralização de Artefatos Explosivos...............................................52
5.4.7 Proteção de Pessoas e Instalações.....................................................53
5.4.8 Levantamento e Destruição de Engenhos Falhados.........................54
5.5 TÁTICAS, TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS (TTP) EOD....................55
5.5.1 NORMAS DE COMANDO.....................................................................56
5.5.2 TÉCNICAS DE VARREDURA E VASCULAHMENTO............................60
6 O EOD NO COMBATE ÀS AMEAÇAS EXPLOSIVAS NO CONTEXTO
INTERNACIONAL................................................................................62
7 A CAPACIDADE EOD 2 NO EB NO CONTEXTO DO DOPEMAI........67
7.1 DOUTRINA............................................................................................67
7.2 ORGANIZAÇÃO....................................................................................70
7.3 ADESTRAMENTO.................................................................................73
7.4 MATERIAL.............................................................................................75
7.5 ENSINO.................................................................................................77
7.6 PESSOAL..............................................................................................80
7.7 INFRAESTRUTURA..............................................................................82
7.8 RESUMO DA ANÁLISE.........................................................................84
8 CONCLUSÃO.......................................................................................87
REFERÊNCIAS....................................................................................92
12
1 INTRODUÇÃO
1
De acordo com o Manual de Campanha EB70-MC-10.223 – Operações (2018), Operação Militar é o
conjunto de ações realizadas com forças e meios militares, coordenadas em tempo, espaço e
finalidade, de acordo com o estabelecido em uma diretriz, plano ou ordem para o cumprimento de uma
atividade, tarefa, missão ou atribuição. É realizada no amplo espectro dos conflitos, desde a paz até o
conflito armado/guerra, passando pelas situações de crise, sob a responsabilidade direta de autoridade
militar competente.
13
(DMT) assevera que esse processo de obtenção deve atender a um conjunto de sete
fatores considerados determinantes inter-relacionados e indissociáveis: Doutrina,
Organização (e/ou processos), Pessoal, Educação, Material, Adestramento e
Infraestrutura – que formam o acrônimo DOPEMAI.
Figura 1: DOPEMAI
1.1 PROBLEMA
1.2 OBJETIVOS
As ameaças explosivas têm ganhado cada vez mais notoriedade nas últimas
décadas, notadamente os Artefatos Explosivos Improvisados (AEI), em virtude do seu
largo emprego em vários conflitos na atualidade. No Iraque e no Afeganistão, por
exemplo, Barbero (2013) afirma que esses artefatos causaram, entre os anos de 2001
e 2013, mais de 60% de todas as baixas militares norte-americanas naqueles países,
transformando-se rapidamente em um dos inimigos mais temidos e implacáveis
daqueles conflitos.
Nesse sentido, avulta-se de importância tudo o que envolve o combate à essas
ameaças explosivas, em especial aos AEI. Com efeito, as missões de combate aos
AEI, denominadas anti-AEI, são caracterizadas pelo emprego das Táticas, Técnicas
e Procedimentos EOD (TTP EOD) que visam em última instância neutralizar os
artefatos explosivos, apresentam-se como ferramentas essenciais no combate à
essas ameaças. Cabe destacar que para cumprir tal objetivo a capacitação, o
treinamento e o adestramento constante de recursos humanos são fundamentais.
Assim, cursos e estágios nessa área devem ser objeto de profunda análise por parte
dos decisores militares.
Sendo assim, o presente estudo mostra-se relevante para a sociedade
brasileira, uma vez que numa análise mais acurada diz respeito à segurança interna
19
2 METODOLOGIA
2.2 ABORDAGEM
cenários genéricos, que devem figurar nos conceitos estratégicos aprovados e serem
cuidadosamente refletidos na definição das missões.
O Exército Brasileiro (EB) seguindo a evolução do contexto mundial
caracterizado pela transição da Era Industrial para a Era do Conhecimento,
implementou seu Projeto de Transformação visando torna-se mais apto a enfrentar os
desafios que se apresentam nesse contexto. Nesse sentido, Côrrea (2020) assim
coloca a visão do EB com relação ao PBC.
O Exército Brasileiro (EB) diagnosticou a necessidade de se transformar em
um processo de transição da Era Industrial para a Era do Conhecimento para
que as suas capacidades se tornem compatíveis com o anseio político
estratégico do Brasil de se tornar uma potência mundial. A atual conjuntura
do EB, mais do que a modernização da Força Terrestre, demanda por
transformação, capaz de ser operacional e estar em prontidão em qualquer
área de interesse geoestratégico do Brasil. Este processo sistemático de
Transformação do EB exige, portanto, um planejamento de longo prazo
coerente com a conjuntura nacional que determine um conjunto de ações
estratégicas baseado em capacidades militares. Muitos países e
organizações militares internacionais têm adotado o Planejamento Baseado
em Capacidades (PBC) como parte de seu processo de Transformação da
Defesa (CÔRREA, 2020, resumo).
De acordo com (BRASIL, 2018), o PBC está sendo adotado, a fim de possibilitar
a otimização dos recursos, tendo em vista as limitações financeiras, objetivando
desenvolver uma configuração de força adequada, analisando as opções de obtenção
(aquisição e/ou desenvolvimento) com base nos cenários prospectivos.
Segundo (ECEME, 2020), o PBC busca assessorar os níveis Político e o
Estratégico. Portanto o estudo das Cpcd deve levar em consideração os Elementos
de Força (Elm F), prioritariamente, de Módulo de Emprego (GU- Bda e Superiores,
considerada Elm F de nível estratégico que foi estudo no PI CPEAEx 2020) integrado
com Elm F especializados (Op Esp, DQBRN, GE, cibernética, por exemplo).
Figura 2: Representação gráfica das características do PBC.
Fonte: C DoutEx
28
Fonte: C DoutEx.
Fonte: C DoutEx
31
Nesse contexto, a Atividade EOD com suas respectivas Tarefas podem ser
empregadas em proveito do desenvolvimento de grande parte das Capacidades
Militares Terrestres (CMT) e por conseguinte das Capacidades Operativas.
Entretanto, o EOD guarda maior relação com a CMT 02 – Superioridade no
Enfrentamento, que segundo esse mesmo Catálogo de Capacidades (BRASIL, 2015,
p. 10), caracteriza-se por ser capaz de garantir o cumprimento bem sucedido das
missões atribuídas, empregando uma ampla gama de opções, em função da
diversidade de cenários possíveis, buscando uma posição vantajosa em relação à
ameaça que o oponente representa, para derrotá-lo e impor a vontade da força. Tal
assertiva justifica-se pelo fato de que o propósito final do EOD é a neutralização de
ameaças explosivas, constituindo-se, portanto, em um cenário de enfretamento a
essas ameaças.
32
4 AMEAÇAS EXPLOSIVAS
4.2.1 Conceituação
O século XXI presenciou a escalada do emprego dos AEI por parte de grupos
terroristas, insurgentes e forças irregulares em praticamente todos os continentes do
mundo. De acordo com Corderoy (2014, p.3), no século XXI a utilização dos AEI
cresceu exponencialmente, adaptando-se de maneira marcante às novas realidades
dos campos de batalha e do ambiente operacional. Em se tratando dos conflitos no
Oriente Médio, os AEI foram empregados preponderantemente por grupos
insurgentes no Iraque e no Afeganistão. Nesse sentido, os AEI foram decisivos para
36
Cabe enfatizar que o emprego dos AEI não ficou restrito apenas aos países do
Oriente Médio, tornando-se uma ameaça real e presente em praticamente todo o
mundo. Tal fato pode ser comprovado por meio de dados e estatísticas como as
apresentadas por Barbero (2013), segundo o qual “em todo o mundo, houve mais de
700 explosões de AEI por mês fora do Iraque e do Afeganistão – para um total de
mais de 17.000 explosões em 123 países desde janeiro de 2011.”
Hyde-Bales (2013) e Singer (2012) corroboram essa assertiva afirmando o
seguinte:
O que tem passado relativamente desapercebido é que o número de ataques
com AEI fora dessas duas nações [Iraque e Afeganistão] tem dobrado ao
longo dos últimos três anos. Os primeiros nove meses de 2011 viram uma
média de 608 ataques por mês em 99 países, de acordo com o Departamento
de Defesa. (SINGER, 2012, tradução nossa).
2
JIEDDO (Joint IED Defeat Organization): Organização dos Estados Unidos da América criada com o
objetivo de coordenar e liderar os trabalhos de pesquisa, desenvolvimento, aquisição e distribuição de
equipamentos, doutrina e treinamentos relacionados ao combate a artefatos explosivos improvisados,
e necessários para disponibilizar relacionados à pesquisa, desenvolvimento, aquisição e distribuição
de equipamentos, doutrina e treinamentos relacionados ao combate a artefatos explosivos
improvisados.
37
3
Operação Barkhane é uma operação anti-insurgente em curso na região do Sahel, na África, iniciada
em 1 de agosto de 2014. Consiste em uma força francesa de 3.000 militares, sediada em N'Djamena,
a capital do Chade (Wikipedia).
38
Já na Nigéria os AEI são empregados como armas por grupos terroristas como
o Boko Haram e o Estado Islâmico no Nordeste do País. De acordo com dados do
Exército nigeriano, entre maio de 2011 e junho de 2017 das 47.700 mortes provocadas
pelos grupos terroristas, cerca de 60% foram causadas pelos AEI.
Figura 8: região onde os AEI são mais empregados na Nigéria
concordam que o seu emprego de forma massiva pelas FARC remonta ao início do
século XXI, particularmente a partir do ano de 2001.
As FARC procuram instalar esses artefatos nos lugares de cultivo, fontes de
água, trilhas utilizadas por esses artefatos nos lugares de cultivo, fontes de água,
trilhas utilizadas por camponeses e outros locais afins – infraestruturas básicas para
a sobrevivência da população civil, disseminando, assim, o terror à sociedade. Tudo
isso representam os objetivos do emprego dos AEI por este grupo revolucionário, que
visam, em última análise, exercer pressão sobre o governo e, de alguma forma,
diminuir o desequilíbrio entre suas forças, conforme Pedrosa (2015).
Em que pese os recentes progressos nas negociações e acordos de paz com
os grupos guerrilheiros locais, ICBL-CMC (2015, p. 28) traz a triste evidência de que
a Colômbia foi o recordista mundial em vítimas militares de AEI em 2014, totalizando
187 baixas naquele ano e superando bastante os números verificados em países
como Mali (84 baixas militares), Paquistão (75), Argélia (54) e Síria (52), conforme
comenta Del Gallo (2017).
No contexto geral das baixas ocorridas em 2014 na Colômbia, incluindo vítimas
civis e militares, o país ocupou a trágica segunda colocação, com 286 vítimas, atrás
apenas do Afeganistão, com 1.296 pessoas mortas ou feridas ICBL-CMC (2015, p.
26).
Atualmente, fruto dos avanços nas negociações de paz e dos êxitos alcançados
pelo Plano Colômbia4, estes números têm melhorado. ICBL-CMC (2016, p. 44), por
exemplo, afirma que o número de vítimas de artefatos explosivos na Colômbia, apesar
de ainda figurar como um dos mais altos do mundo, vem caindo significativamente
nos últimos anos.
Entretanto, é importante pontuar que os civis (cidadãos comuns e indígenas)
não são as únicas vítimas das MAP e AEI na Colômbia. As Forças de Segurança
Pública, que incluem as Forças Armadas e a Polícia, ou seja, os militares em geral,
4
O Plano Colômbia (inicialmente chamado Plano pela Paz da Colômbia) foi um acordo bilateral entre
os governos da Colômbia e dos Estados Unidos. Concebido em 1999, durante as administrações dos
presidentes Andrés Pastrana Arango e Bill Clinton, foi originalmente projetado para durar seis anos.
Seus objetivos declarados eram: criar uma estratégia para eliminar o narcotráfico no território
colombiano; por um fim ao conflito armado na Colômbia, que já durava 40 anos na época,
desestruturando os grupos guerrilheiros, notadamente as FARC; promover o desenvolvimento social e
econômico. O sucessor de Pastrana, Álvaro Uribe (2002-2010) prosseguiu a implementação do Plano,
porém com maior ênfase nas questões de segurança. (Wikipedia).
40
estão entre as principais vítimas dos AEI. A seguir apresenta-se uma tabela
comparativa contendo as estatísticas das vítimas fatais por grupo desde o ano 2006.
Quadro 1: Estatística de vítimas por MAP e AE na Colômbia (tradução nossa).
Ano Civil Força Pública Total
2016 38 52 90
2017 40 17 57
2018 94 85 179
2019 65 49 114
2021 39 26 65
Fonte: o autor
Figura 10: AEI com duplo acionamento – sensor de movimento e radiofrequência – encontrado em
Araçatuba - SP.
Fonte: o autor
41
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: o autor
Por fim, o nível mais alto, ou seja, o EOD 3+, em adição às habilidades dos
níveis 1, 2 e 3, as quais cobrem as necessidades de rotina em atividades de ações
contra minas, podem ser exigidas habilidades adicionais de um especialista. Nesse
47
Brasil (2021, p. 3-2) trata das tarefas atinentes à atividade de Limpeza de Vias.
Nesse sentido são elencadas as seguintes tarefas para as ações de Limpeza de Vias:
detecção, investigação e neutralização.
A tarefa de detecção é a ação de localizar uma possível ameaça por meio de
detectores de metal veiculares ou portáteis; detectores de anomalia no solo; animais
adestrados para o faro de explosivos; ou observação direta de objetos estranhos, fios,
buracos ou saliências e outros sinais.
Já a investigação é a confirmação ou descarte da ameaça explosiva. Pode ser
realizada por um operador EOD com meios remotos ou manuais, tais como robôs
EOD com seus implementos; viaturas especializadas; sensores de explosivos; kit
movimento, entre outros. A remoção do artefato do local onde foi encontrado deve ser
49
feita por robôs ou por cordas e roldanas, tomando cuidado para não deslocar o artefato
na direção do comboio.
Por fim, a neutralização é a ação realizada sobre a ameaça para colocá-la em
segurança. Pode acontecer com o emprego de explosivos ou com ação no sistema
de iniciação do artefato. É importante ter atenção aos efeitos colaterais de uma
possível detonação do artefato. Artefatos nos quais se espera encontrar grande
quantidade de explosivos, como minas anticarro, podem bloquear a passagem em
uma estrada caso venham a detonar, sendo desejável a sua remoção para uma parte
fora da estrada para sua neutralização.
Figura 15: Atividade de limpeza de vias (Estágio de Explosivos e Desminagem do CI Eng)
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
As TTP EOD norteiam-se por normas de comando que balizam o emprego das
equipes EOD em todas as situações com as quais se depararem. Nesse sentido, as
atividades previstas nas Normas de Comando são as seguintes: recebimento da
missão; planejamento inicial/preliminar; deslocamento e chegada ao local;
procedimentos EOD; acesso/consolidação da área; diagnóstico; procedimentos
seguros de neutralização; recuperação/exploração; ações finais e elaboração de
relatórios, conforme o Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de
Artefatos Explosivos no Exército Brasileiro (BRASIL, 2021).
A primeira etapa das Normas de Comando é o recebimento da missão.
Segundo essa referência, esta etapa é caracterizada pelos primeiros movimentos e
ações para a resolução da ameaça. Inicialmente deve-se estabelecer um Posto de
Reunião (PR), verificando se este já fora utilizado anteriormente por alguma Equipe
EOD, observando particularmente se o incidente tenha sido com AEI. Caso positivo,
antes de estabelecer este Posto deve-se verificar com a Equipe anterior se o incidente
foi totalmente resolvido. Após isso, deve-se planejar o itinerário; verificar o histórico
de ataques utilizando-se AEI naquela região; evitar zonas de risco; verificar existência
de áreas minadas; verificar histórico de emboscadas; verificar pontos sensíveis (check
points); questionar o controlador do incidente sobre itinerário seguro e recolher
informações julgadas úteis.
A segunda atividade prevista nas Normas de Comando apresentadas pelo
Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 – Neutralização de Artefatos Explosivos no
Exército Brasileiro é o planejamento inicial/preliminar. Para tal elencam-se as
seguintes ações: realizar a análise da informação recolhida; realizar o enquadramento
na situação tática; estabelecendo no mínimo a hipótese mais perigosa, a hipótese
mais provável, meios e equipamentos a transportar e o itinerário a seguir.
Após o planejamento segue-se o deslocamento e chegada ao local do
incidente. Para tal deve-se realizar a revisão do equipamento e material antes de
deslocar-se ao local do incidente, verificando plano de embarque (pessoal e material)
57
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Após acessar a área, esse CI orienta elaborar o diagnóstico que deve atender
às seguintes condicionantes: Qual a localização do AE? Quais são as dimensões,
cores, formatos e outras características da ameaça? Existe algo de estranho no local,
além do AE (fios, celulares, antenas etc.)? A testemunha/guia poderia acompanhar
até o local por um caminho seguro? Quando a ameaça explosiva foi colocada? Alguma
coisa foi vista ou ouvida (testemunhas oculares, fotos ou vídeos de segurança)?
58
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
que não existem outros AE); artefatos incendiários (podem ser neutralizados por
disrupção e não existem outros AE).
O Caderno de Instrução EB70-CI-11.452 (BRASIL 2021, p. 4-5) traz outros
aspectos importantes devem ser considerados por ocasião da
recuperação/exploração do incidente, tais como: permanecer o menor tempo possível
na área de perigo, garantindo o mínimo de aproximações ao AE pelo menor tempo
possível. Além disso, deve-se buscar manter o efetivo mínimo na área de perigo e o
permanente contato com a Equipe EOD responsável pela neutralização do AE ou AEI.
As ações finais ocorrem após a liberação da área para recuperação/exploração.
Para tal deve-se realizar o registro de imagens (fotos e vídeos); recolher as partes
remanescentes; analisar os resultados obtidos; revisar o planejamento da atividade
realizada; destruir os componentes explosivos remanescentes (cargas principais e ini-
ciadoras, pólvoras, espoletas etc.); se viável no próprio local; avaliar transportabilidade
das partes remanescentes para destruição posterior; informar ao PCI a “Área Limpa”
e recolher amostras para informações/exploração forense.
Por fim, a última atividade prevista nas Normas de Comando é a elaboração de
relatórios. Constituem-se desses relatórios, o relatório “9 linhas” e os relatórios
técnicos elaborados pelas Equipes EOD, os quais serão encaminhados aos Escalões
enquadrante e superiores.
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Figura 25: técnica de vasculhamento remota em veículo utilizando o robô EOD TEODHOR.
Fonte: CI Eng/2º B Fv
62
Fonte: Adaptado por DEL GALLO (2017) de OTAN (2012, p. 1-7) e EUA (2016, p. II-7)
Nesse sentido, Del Gallo (2017) advoga que dentre as diversas providências
adotadas pelos Estados Unidos, uma das medidas implementadas foi a criação de
tropas diretamente responsáveis pelo combate aos AEI instalados nos itinerários de
movimento das tropas. Visando o cumprimento desta missão, foram implementadas
as chamadas tropas de limpeza de vias, cuja organização será abordada com mais
detalhes na presente seção.
Dessa forma, segundo Júnior (2013), foi criada no Exército dos EUA, no ano
de 2004, a Companhia de Limpeza (Clearance Company), fazendo parte da
organização das Unidades de Engenharia, tendo por missão realizar operações de
detecção e neutralização de ameaças AEI ao longo de vias ou em áreas. Essa
subunidade era formada por três pelotões de limpezas de vias (Route Clearance
Platoon) e um pelotão de limpeza de áreas (Area Clearance Platoon).
A atuação dessa SU no Iraque e posteriormente no Afeganistão mostrou-se
extremamente exitosa, trazendo resultados altamente positivos para as tropas da
coalizão. O mais significativo destes resultados foi a vertiginosa queda no número de
baixas em combate (feridos e mortos), tanto de forças militares quanto de civis. Este
resultado pôde ser comprovado a partir de 2010 no Afeganistão, conforme gráfico
abaixo.
Corroborando esse aspecto, segundo Del Gallo (2017), ao realizar um trabalho
fundamental no apoio à mobilidade das tropas, a experiência do emprego dessas
Companhias nas estradas iraquianas foi tão positiva que estas SU passaram a ocupar
um papel de grande destaque na doutrina militar dos EUA, assumindo rapidamente —
e com reconhecido sucesso — uma posição central no esforço para reduzir as
milhares de baixas provocadas pelos AEI em suas tropas.
64
Gráfico 1 — Representação gráfica do número total de mortes provocadas por AEI no Afeganistão e a
queda após o emprego de Equipes EOD
Gráfico 3 - comparação das ocorrências envolvendo AEI e outros AE no Mali nos anos de
2020 e 2021.
A partir da análise dos gráficos acima referente à situação dos AEI no Mali,
verifica-se uma significativa queda no número de incidentes envolvendo
principalmente VOIED (victim operated improvised explosive device), ou seja, AEI
ativado pela própria vítima e RCIED (remote controlled IED), isto é, AEI acionado
remotamente. Destaca-se também o decréscimo nos incidentes envolvendo minas
(mine), que são Artefatos considerados convencionais.
Verifica-se que essa queda vertiginosa nas estatísticas envolvendo minas e AEI
no Mali deveu-se em grande parte à formação e emprego de equipes EOD dentro do
próprio País, denotando a importância fundamental deste ente no combate às
ameaças explosivas.
Em se tratando da Nigéria, as ações para combater os AEI centraram-se em 4
(quatro) pilares: atacar a rede terrorista, preparar a força, neutralizar os AEI e criação
66
7.1 DOUTRINA
7.3 ADESTRAMENTO
Fonte: CI Eng/2º B Fv
7.4 MATERIAL
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
77
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
7.5 ENSINO/EDUCAÇÃO
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Figura 43: Avaliação prática – Desminagem e APH tático (Estágio de Explosivos e Desminagem)
Fonte: CI Eng/2º B Fv
80
7.6 PESSOAL
Quadro 6: principais destinos de militares brasileiros no exterior para a realização de cursos na área
EOD.
7.7 INFRAESTRUTURA
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
Fonte: CI Eng/2º B Fv
84
Por fim, conclui-se, que concernente aos fatores do DOPEMAI para a geração
da capacidade EOD, o EB tem progredido consideravelmente no sentido de ampliar o
alcance dessa especialização, principalmente investindo na capacitação de pessoal
por meio de cursos e estágios tanto no Brasil quanto no exterior, na aquisição de
material específico e técnico, além do investimento em infraestrutura. Contudo, ainda
não se pode afirmar que a geração desta capacidade encontra-se no escopo de uma
Capacidade Operativa.
87
8. CONCLUSÃO
Nesse sentido, para que uma CO seja plenamente desenvolvida é preciso estar
subordinada à uma CMT, contribuindo para sua consecução, bem como atender a
todos os aspectos do DOPEMAI. Para tanto torna-se necessário um planejamento no
nível estratégico-militar para que a geração de determinada capacidade está
condicionada à um complexo processo no qual seja previsto a concepção de uma
Doutrina peculiar, uma Organização processual e estrutural adequada, ciclo de
Adestramentos planejados e factíveis, Material e Equipamentos adequados e
eficientes, um Sistema de Ensino eficaz e bem estruturado, uma previsão de dotação
de Pessoal para cumprir as Atividades e Tarefas demandadas e uma Infraestrutura
condizente com a capacidade a ser desenvolvida. Dessa forma, denota-se que é um
processo extremamente complexo e custoso.
Cabe ressaltar que, a despeito do PBC orientar o planejamento estratégico com
base na elaboração de cenários prospectivos, a identificação de ameaças ainda
continua sendo um aspecto muito importante levando em consideração as
características de um contexto altamente complexo, volátil e ambíguo, características
que tornam as ameaças difíceis de serem identificadas.
Nesse contexto, as ameaças explosivas surgem como ameaças cada vez mais
latentes, capilarizadas e desafiadoras. No cenário atual as ameaças explosivas
representadas pelos Artefatos Explosivos Improvisados são, sem dúvidas a principal
ameaça para muitos Exércitos do mundo. Artefatos relativamente simples de serem
construídos, utilizando componentes baratos e de fácil aquisição e altamente eficazes
e letais, constituem-se em verdadeiras armas capazes não só de matar, mas também
podem gerar mutilações e ferimentos graves.
É importante destacar que os AEI não diferenciam entre combatentes e não
combatentes, sendo assim, os efeitos causados por eles refletem em todos os campos
do Poder Nacional, principalmente nos aspectos político, econômico, psicossocial e
militar.
Essas armas quando em mãos de Organizações Criminosas, terroristas e
insurgentes constituem-se em riscos potenciais à estabilidade dos países e confrontos
de alto risco para as Forças Armadas, em especial para os Exércitos. Nesse sentido,
verifica-se que alguns países no presente século foram palco da atuação de grupos
terroristas e insurgentes que empregaram largamente os AEI. Destaca-se entre esses:
Afeganistão, Iraque, Colômbia e Mali.
89
numa doutrina de atuação que permite às forças militares combaterem com eficácia
esses ameaças. Nesse sentido, as Táticas, Técnicas e Procedimentos (TTP) EOD são
basilares e cruciais para o enfrentamento das ameaças explosivas.
As TTP EOD são, via de regra, a consolidação de experiências de equipes e
operadores EOD que atuam em missões reais e estão em constante evolução, na
medida em que os AE e em especial os AEI também evoluem, notadamente em
função do desenvolvimento tecnológico. Em síntese, as TTP EOD fundamentam-se
em princípios, prioridades e tarefas conforme as ameaças que se apresentam,
segundo a categoria de risco que estas representam para uma Operação militar.
As atividades desenvolvidas pelas TTP EOD podem ser sintetizadas nas
seguintes ações: busca de ameaças explosivas, neutralização de AE e volta à
normalidade. Nesse sentido, o que irá modificar será a complexidade da ameaça que
determinará qual o nível EOD será mais adequado para o enfrentamento àquela
ameaça.
Ante ao exposto, verifica-se que a capacidade EOD representa, atualmente,
uma importante vantagem num ambiente operacional extremamente complexo, difuso
e volátil, no qual as operações no amplo espectro dos conflitos primam pela segurança
e legitimidade das ações. No contexto internacional, essa assertiva mostra-se ainda
mais significativa, constituindo-se num meio indispensável em se tratando de
ameaças explosivas, notadamente os AEI.
No contexto da geração de capacidades norteada pelo PBC, a capacidade
operativa EOD, particularmente no nível 2 (dois) poderia incrementar o rol de
capacidades atuais do EB, contribuindo para o cumprimento de sua missão
constitucional com eficiência e credibilidade. Nesse sentido, essa capacidade poderia
ser empregada tanto em operações de guerra convencional (defesa externa) quanto
em ações subsidiárias, seja em ambiente urbano ou rural. Verifica-se também que a
especialidade EOD 2 seja coerente com as atuais necessidades operacionais do
Exército.
Por fim, conclui-se que a atual capacitação na atividade EOD nível 2
proporcionada pelo Estágio de Explosivos e Desminagem desenvolvido no CI Eng/2º
B Fv está alinhado com as demandas exigidas para o combate aos AE e AEI, haja
vista que a estruturação do Estágio e as disciplinas abarcadas possibilitam cumprir as
missões de busca de ameaças, neutralização destas e a volta à normalidade com
segurança.
91
REFERÊNCIAS
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). United Nations Mine Action Service
(UNMAS). International Mine Action Standards (IMAS) Colection. New York, 2013.
BUTLER, Josh. Landmine Threats Down, IED Threats Rising. Global Issues, 02 abr.
2015. Disponível em: <http://www.globalissues.org/news/2015/04/02/20821>. Acesso
em: 27 set. 2021.
WILSON, J.R. IED Hunters Adapt to Sophisticated Threats. Military & Aerospace
Electronics. [Tulsa], 11th June 2015. Disponível em:
<http://www.militaryaerospace.com/articles/print/volume-26/issue-6/special-
report/ied-hunters-adapt-to-sophisticated-threats.html>. Acesso em: 21 abr. 2016.