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O SARGENTO DO EXÉRCITO BRASILEIRO: PROCESSO DE TRANSFORMAÇÃO DA

CARREIRA

TC ANDERSON ROCHA SILVA

RESUMO

O presente artigo objetiva apresentar as transformações na carreira dos Sargentos do Exército


Brasileiro (EB). Justifica-se pela mudança de nível da formação dos sargentos de técnico para
graduação tecnológica, processo gerenciado pela Diretoria de Educação Técnica Militar (DETMil).
A necessidade desta transformação foi motivada pelas aceleradas mudanças do século XXI, que têm
exigido um profissional mais reflexivo, possuidor de senso crítico e preparado para desafios incertos.
Desde 2017, o Exército Brasileiro tem realizado esforços no sentido de promover uma
transformação na carreiras dos sargentos, como a publicação do Decreto nº 9.171/2017, que alterou
o Regulamento da Lei de Ensino do Exército, o Estado-Maior do Exército emitiu a Diretriz para a
Equivalência dos Cursos Destinados aos Sargentos e Subtenentes e a Implantação dos Cursos de
Formação de Sargentos (CFS) no Grau Superior de Tecnologia. Como consequência, o Departamento
de Educação e Cultura do Exército (DECEx) publicou as Instruções Reguladoras necessárias à
orientação da nova formação dos Sargentos de Carreira da Força.
Até 2018, a formação oferecida aos graduados atendia à modalidade técnica de ensino,
equivalente ao nível médio. O ensino técnico dos graduados atendia aos paradigmas da Era Industrial,
com grande especialização em pequenas tarefas, sem preocupação com a visão de processo como
um todo. A visão de futuro para a formação dos militares deve atender às necessidades da Era do
Conhecimento, para fazer frente às demandas impostas pela missão constitucional da Instituição.
Emerge a necessidade de ter um nível superior tecnológico, pois, entre as competências a serem
desenvolvidas no discente do atual cenário está a capacidade de resolver problemas complexos e
ainda desconhecidos, além de habilidades para lidar com equipamentos de emprego militar
comprados de países desenvolvidos, com instruções em outros idiomas, e exigentes de conhecimentos
tecnológicos.
A pesquisa em andamento propõe apurar as medidas práticas de transformação dos cursos nas
3 (três) Escolas de Formação de Sargentos, também com a aplicação de instrumentos de pesquisa de
campo, além de acompanhar os desafios formais da implantação coordenada pela DETMil, que segue
as orientações do DECEx, e que proverá condições, até 2021, para que os sargentos tecnólogos
cheguem nas Organizações Militares com uma formação mais adequada aos desafios futuros, muitas
vezes incertos, da Profissão das Armas.

Palavras-Chaves: Sargento tecnólogo. Ensino superior militar. Carreira militar. Exército Brasileiro.

ABSTRACT

The aim of this article is to highlight the changes in the career of the Brazilian Army Sergeants (EB)
in the 21ST century, aiming at a professional more prepared for the uncertainties and challenges of
the modern and globalized world, which presents itself.
According to the author (MOTTA, 2001), the officers of the EB had their transformation of the career
at the Black Needles Military Academy (AMAN), but lacked the graduates, that is, the sergeants.
In this context, due to the soldiers already being selected by the average level, the sergeants were
outdated, because they were formed for the industrial age, and are now focused on the age of
knowledge, technology and strategic of the institution, hence The need to have a higher technological
level, because military employment equipment, purchased from developed countries in other
languages, and with great technological knowledge, have left obsolete our old materials (vehicles,
armaments, Teaching manuals, various military equipment).
t is also necessary to review the three (3) training schools of Sergeants: School of Weapons Sergeants
(ESA), School of Logistics Sergeants (EsSLog) and the Army Aviation Instruction Center (CIAvEx),
under the direct coordination of the Board of Directors of Military Technical Education (DETMil)
and following the guidelines of the Department of Education and Culture of the Army (DECEx),
which will promote, until 2021, that the Technologist sergeants arrive in the military organizations,
with a more appropriate training to the future challenges, Often uncertain, of the profession of arms.

Keywords: Technologist sergeant. Military higher education. Military Career Brazilian army.

INTRODUÇÃO

O objetivo desse artigo é investigar as motivações do Exército Brasileiro para promover as


transformações na carreira dos Sargentos do Exército Brasileiro visando um profissional mais
preparado para o mundo moderno e globalizado.
A Instituição, através do Plano Estratégico do Exército 2016-2019 (PEE12), inseriu o
desenvolvimento de um novo e efetivo Sistema de Educação e Cultura,

Durante o período de 4 (quatro) anos, em que o General de Exército Villas Boas exerceu o
Comando Exército (2015-2018), iniciou-se um processo de transformação das carreiras dos
sargentos, como a publicação do Decreto nº 9.171/2017, que alterou o Regulamento da Lei de Ensino
do Exército (Decreto nº 3.182, de 23 de setembro de 1999). Esta mudança abriu o caminho para que
os sargentos pudessem ser inseridos na Educação Superior Militar.

O Estado-Maior do Exército (EME) emitiu a Diretriz para a Equivalência dos Cursos


Destinados aos Sargentos e Subtenentes e com a implantação do Ensino Superior de Tecnologia,
regulando as atividades necessárias à efetivação do texto legal sancionado.

Em seguida, o DECEx publicou as Instruções Reguladoras (IR) necessárias à orientação da


nova formação dos Sargentos de Carreira da Força, detalhando as ações necessárias para que
ocorresse a transformação dos Cursos de Formação de Sargentos (CFS) em Cursos de Formação e
Graduação de Sargentos (CFGS).

Os CFGS do Exército Brasileiro, estão incluídos no Catálogo Nacional de Cursos Superiores


de Tecnologia, o que demonstra o alinhamento com a Educação Superior Nacional.

1. A GÊNESE DA TRANSFORMAÇÃO

O Exército Brasileiro para viabilizar a transformação da formação dos Sargentos, através do


seu Órgão de Direção Setorial (ODS), o DECEx , implementou a Diretriz de Implantação do Curso
de Sargento Superior Tecnólogo, visando:

a) Nortear a construção curricular, estimulando o auto aperfeiçoamento e gerando uniformidade nos


processos pedagógicos, tendo como farol o Processo de Transformação do Exército, devendo a
DETMil analisar os Perfis Profissiográficos, os Mapas Funcionais, os Planos de Disciplinas
(PLADIS), os Planos Integrados de Disciplinas (PLANID) e os Quadro Gerais de Atividades
Escolares (QGAEs).
b) priorizar a capacitação de instrutores e monitores, podendo utilizar a modalidade de educação a
distância, oportunizando um ambiente virtual que possibilite alcançar os docentes não apresentados
no Estabelecimento de Ensino.

Para atender a essa nova demanda, a formação foi ampliada de 77 (setenta e sete) para 96
(noventa e seis) semanas de instrução. Foram incluídos os conteúdos castrenses e o idioma inglês.
Ademais, a disciplina do Primeiro Ano Básico são: disciplinas comuns da formação estritamente
militar, História Militar (mais conceitual), Inglês I, Noções de Direito (Direito Internacional dos
Conflitos Armados (DICA), Direito Internacional Humanitário (DIH), Constitucional, Penal Militar
e Administrativo.

As disciplinas do Segundo Ano Qualificação, são: disciplinas comuns da formação


estritamente militar, disciplinas específicas das Qualificações Militares, Inglês II, Raciocínio Lógico,
Português Instrumental, Didática, Metodologia da Pesquisa Científica, tudo com o objetivo de
desenvolver os valores e os conhecimentos institucionais.

Visualiza-se, ainda, a possibilidade da centralização dos Cursos de Formação e Graduação de


Sargentos em um Escola construída para esta fim, padronizando o ensino.

2. UM BREVE HISTÓRICO DA FORMAÇÃO

Até 2006, a Formação dos Sargentos de Carreira durava aproximadamente 9 meses e era
realizada nos seguintes estabelecimentos de ensino:

a) Infantaria, Cavalaria, Engenharia, Artilharia e Comunicações, na ESA,

b) Intendência, Topografia e Música (apartir de 2006 começou a funcionar na Escola de


Instrução Especializada (EsIE);

c) Comunicações na Escola de Comunicações (EsCom) (no local que atualmente funciona


Centro de Educação a Distância do Exército) e atualmente a EsCom funciona em Brasília-DF;

d) Saúde: Na Escola de Saúde do Exército (EsSEx);


e) Aviação: teve a primeira turma em 1995 no Centro de Instrução de Aviação do Exército
(CIAvEx – Taubaté/SP).

A Formação do Sargento antes de 2006 possuía como característica a descentralização o que


ocasionava falta de padronização nas instruções e principalmente nas atitudes.

A partir de 2006 os CFS passaram a ter o grau médio e a modalidade de formação, sendo
realizado em 2 (dois) períodos: o primeiro (Período Básico), com a duração de 34 (trinta e quatro)
semanas, destinado à formação básica em Organização Militar de Corpo de Tropa (OMCT) designada
pelo EME, e o segundo (Período de Qualificação), com a duração de 43 (quarenta e três) semanas,
destinado à qualificação na ESA, EsIE, EsMB, EsSEx e CIAvEx.

As 12 (doze) primeiras OMCT foram criadas através da PORTARIA N° 031-EME, DE 11 DE


ABRIL DE 2005, para realizarema condução do Período Básico dos Cursos de Formação de
Sargentos. Foi um grande salto de qualidade por ampliar os cursos e dar a oportunidade do
aprofundamento nos conteúdos castrenses, o que não era possível no formato anterior.

Ao longo dos anos as OMCT passaram de 12 (doze) para 13 (treze)(Portaria nº 293-EME, 11


de dezembro de 2018, espalhadas pelo Brasil.

Atualmente as OMCT atingiram a maturidade puderam ser ser designadas Unidades de


Educação Tecnológicas (UET), a fim de estarem alinhadas com a perspectiva do ensino superior.

Atualmente o período Básico divide os alunos em 13 (treze) UET:


 20º Regimento de Cavalaria Blindado (20º RCB) - Campo Grande/MS.
 12º Grupo de Artilharia de Campanha (12º GAC) – Jundiaí/SP.
 1º Grupo de Artilharia Antiaérea (1º GAAAe) - Rio de Janeiro/RJ.
 41º Batalhão de Infantaria Motorizada (41º BIMtz) – Jataí/GO.
 14º Grupo de Artilharia de Campanha (14º GAC) - Pouso Alegre/MG.
 23º Batalhão de Caçadores (23º BC) – Fortaleza/CE.
 6º Regimento de Cavalaria Blindado (6º RCB) – Alegrete/RS.
 23º Batalhão de Infantaria (23º BI) – Blumenau/SC.
 10º Batalhão de Infantaria Leve (10º BIL) - Juiz de Fora/MG.
 4º Grupo de Artilharia de Campanha (4º GAC) - Juiz de Fora/MG.
 13º Regimento de Cavalaria Mecanizado (13º R C Mec) – Pirassununga/SP.
 16º Batalhão de Infantaria Motorizado (16º B I Mtz) - Natal/RN (desde 2018).
 4º Batalhão de Engenharia de Combate (4º B E Cmb) - Itajubá/MG (desde 2019).
Já foram UET, até o momento:
 51º Batalhão de Infantaria de Selva (51º BIS) - Altamira/PA (2006 a 2016)
 4º Batalhão de Polícia do Exército (4º BPE) - Recife/PE (2006 a 2017)

Em 2011, foi criada a Escola de Sargentos de Logística com a extinção da Escola de Material
Bélico. Com isso o DECEx centralizou todos os cursos anteriormente realizados na EsIE, EsSEx,
EsCom e EsMB.
A evolução de uma Força Armada não pode prescindir de incluir em seus quadros o sexo
feminino. Isso já ocorria há muito no âmbito dos oficias do Serviço de Saúde, do Quadro de
Engenheiros Militares e do Quadro Complementar de Oficiais. Também, na QMS de Saúde – Técnico
de Enfermagem e, mais tarde na Música. Atualmente, todas as QMS técnico-logísticas e de Aviação
do Exército recebem mulheres que ombreiam, em pé de igualdade, com os homens, vencendo todas
as dificuldades cognitivas, físicas e psicológicas da árdua formação do sargento. As primeiras
sargentos concluíram sua formação em dezembro de 2018.

3. VALORES

O processo de Transformação da Carreira do Sargento do EB tem grande foco nos valores


militares, pela importância para o estamento militar. Um grupo social de características próprias e
sujeição a princípios éticos e morais rígidos. Em em que militares são preparados para o combate, e
o risco e o perigo de vida encontram-se até nos treinamentos. Tiros com munição real; manuseio de
explosivos; armas de defesa químicas, biológicas e nucleares; salto de paraquedas; mergulho em
águas escuras; escaladas em montanhas geladas são algumas das atividades arriscadas realizadas por
esses militares. Por esse mesmo motivo, o culto a heróis é algo extremamente necessário como
incentivo para que essas atividades sejam realizadas. Assim, só encontramos o sargento da Força
Expedicionária Brasileira, Max Wolff, que tenha sido capa da Revista Verde Oliva, que tenha sido
homenageado com nome do 20º Batalhão de Infantaria Blindado e o nome da ESA (Escola Sgt Max
wolf Filho).
Na Força Terrestre, cada Arma tem seu patrono, ou seja, um herói escolhido para representar
a própria atividade desempenhada por aquela qualificação militar. Seu próprio nome mantém vivas
as tradições militares específicas daquela função. O Marechal Luís Alves de Lima e Silva, o Duque
de Caxias, o maior herói no panteão de patronos, é considerado o soldado completo e por isso é o
patrono do próprio Exército. O Brigadeiro Antônio Sampaio é o representante da Arma de Infantaria;
o Marechal Manuel Luís Osório, Marque de Herval, patrono da Arma de Cavalaria; o Marechal
Emílio Luís Mallet, Barão de Itapevi, patrono da Arma de Artilharia; o Tenente-Coronel João Carlos
de Vilagran Cabrita patrono da Arma de Engenharia; e o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon,
o da Arma de Comunicações. Não existe sargento patrono de Arma alguma. Todos os patronos são
oficiais de alta patente, e a identificação dos militares com eles começa na escola de formação.
Embora os sargentos também sejam integrantes das Armas do Exército, sua identificação com os
patronos está muito distante, pois funcionalmente nunca chegarão a ocupar os mesmos cargos e
funções que seus patronos de armas, e nunca serão oficiais de alta patente. Os dados mostram que
não há que nenhum herói sargento dentro da Força Terrestre. Exceto Rondon, todos os patronos das
Armas são heróis da Guerra do Paraguai, último grande conflito em que o Exército participou antes
da 2ª Guerra Mundial. Já o culto a Max é semelhante ao culto aos grandes patronos de Armas do
Exército, com direito até colocação de corbelha de flores em seu busto.
O processo de invenção de um herói pode ser lento. Segundo Celso Castro, a criação de Caxias
como mito do Exército se inicia na década de 20 do século passado. A partir desse momento, são
criados diversos símbolos em que a figura do herói é referenciada: o espadim do cadete da Academia
Militar das Agulhas Negras é a réplica de sua espada, a medalha Caxias, sua escolha como patrono
do Exército em 1962 até culminar no Livro de Heróis da Pátria. Acreditamos que um processo
semelhante está ocorrendo com o sargento Max Wolff Filho. Para toda criação de mito existe um
propósito, o da criação de Caxias era “a afirmação do valor da legalidade e do afastamento da política,
a bem da unidade interna do Exército, despedaçada, nos anos 20, por diversas revoltas internas,
clivagens políticas” e contra a indisciplina e politização dos militares.
Segundo (Carvalho,1990), em A Formação da Almas, o processo de criação de um herói
nacional, Tiradentes, a necessidade de criação de uma nova identidade para o país, agora republicano,
necessitava romper com a velha identidade de um Brasil monárquico. E para isso se iniciou a caçada
a novos símbolos ou à nova roupagem de velhos símbolos, como foi o caso da Bandeira Nacional. A
nova forma de governo precisava de mais, precisava achar alguém que tivesse lutado pela nova causa
sem ter, principalmente, uma fidalguia que o ligasse à monarquia derrubada. Foi nesse contexto que
o Alferes Joaquim José da Silva Xavier foi tirado dos autos judiciais, para se tornar herói nacional. O
Alferes, mais conhecido como Tiradentes, se tornou herói pois preenchia os quesitos buscados pela
jovem República. Era preterido em suas promoções a oficial, assumiu sua culpa, acreditava em sua
causa, não entregou ninguém em troca de perdão ou por diminuição de pena, e o melhor de tudo,
morreu tragicamente por suas convicções contra a Coroa Portuguesa. A criação de Tiradentes como
herói nacional e como mito foi um sucesso total.

No século XX, o Exército estava envolvido em uma Guerra da Era Industrial, com treinamentos
de habilidades táticas militares, sendo os conhecimentos adquiridos por experiências em conflitos na
Segunda Guerra Mundial (2ª GM). O ambiente operacional, segundo (COELHO, 2018) são
fundamentais, as inovações tecnológicas, as motivações e a própria globalização mudaram
radicalmente. Os reflexos dessas transformações incidirão na formação, especialização e treinamento
dos futuros líderes - oficiais ou sargentos, que serão comandantes nos combates futuros.
O ensino tradicional, ainda está focado na transmissão do conhecimento dentro de um espaço
físico restrito, preparado especificamente para a atividade de estudo, com mesas, cadeiras, meios
audiovisuais e um espaço de destaque para quem vai conduzir o processo de aprendizagem. Segundo
(MORGADO, 2017), com a disponibilidade de acesso às inúmeras fontes de conhecimento, fora dos
estudos militares tradicionais, independente do local e da hora, não será necessário o educador estar
presente em uma sala de aula para que a transmissão do conhecimento seja efetiva. O formato será
outro, com a presença de várias pessoas, compartilhando e interagindo no momento de estudo que
poderá ser virtual, e ilimitado no tempo e espaço. O individuo conectado poderá se envolver, através
da rede, com pessoas que partilham de seus interesses e passaram por experiências diferentes, de
acordo com sua disponibilidade.
O discente necessita estar convencido de que ele pode e deve aprender em todos os lugares e
momentos, que ele pode formar grupos, que o auxiliem a desenvolver ainda mais suas capacidades
e superar suas deficiências para as incertezas futuras. Dessa maneira, é essencial, que ele seja exposto
a situações em que seja obrigado a “falar” de improviso e estar preparado o máximo possível para
lidar com essas incertezas.
Segundo (MOYAR, 2009), as lideranças militares, precisam de atributos críticos mais eficazes
para os combates modernos, características e comportamentos desejáveis no perfil do militar que está
em formação.
Segundo ( PARK, 2016, p.63), o Exército de acordo com um cenário duvidoso, deve formar
para a Incerteza, e o currículo deve espelhar essa prioridade. A principal competência a ser
desenvolvida no discente é a capacidade de resolver problemas complexos e ainda desconhecidos,
sendo para isto necessário que o docente apresente-se preparado para ensinar a aprender.
Os novos desafios justificam a reconfiguração da formação dos sargentos. Por exemplo,
recentemente no ano de 2018, houve a Intervenção Federal no Rio de Janeiro, o EB recebeu a missão,
e não existia em toda História Militar Brasileira, estudos sobre esse tipo de operação militar ou civil.
Alguns autores justificam a importância da reconfiguração da formação dos sargentos do EB,
como a aceitação das regras de viver no grupo da família militar, de se comportar corretamente, a
correntes de pensamento de Hobbes, se encaixa na vida do militar. (Hobbes, 1974), o contrato social,
nesse meio, não há indústria, agricultura, artes, medicina ou qualquer forma de progresso. O indivíduo
luta continuamente por seus interesses, não se importando com o outro. Porém, em um determinado
momento, estaria disposto a depositar sua devoção em uma entidade maior, capaz de protegê-lo
continuamente, no momento em que dorme, descansa: o Estado. Logo, pensar e refletir sobre Thomas
Hobbes, Nicolau Maquiavel, filósofos da Escola Realista, assim, os Sargentos do Exército Brasileiro,
devem possuir o senso crítico e poder de decisão.
Max Webber, por outro lado, pauta a sua teoria a partir do otimismo kantiano da “paz perpétua”,
considerando que os seres-humanos são capazes não apenas de agir, mas também de se unirem uns
aos outros para “gerar” poder a partir do consenso.
A sinergia para atingir objetivos comuns é algo importante para o estamento militar. É um
sentimento necessário para a criação do espírito de corpo que diferencia as tropas disciplinadas e
eficazes daquelas indisciplinadas e ineficazes.

CONCLUSÃO

Os novos desafios e demandas justificam a reconfiguração da formação do curso de sargento de


técnico para tecnólogo, pois o discente necessita estar convencido de que ele pode e deve aprender
em todos os lugares e momentos, desenvolver ainda mais suas capacidades, superar suas deficiências
para as incertezas futuras. E os docentes também, tem a obrigação de estar preparado e capacitado
para assumir um papel de Liderança, conduzindo o aluno para a área de interesse desejada para a sua
completa formação.
Além do exposto, os diversos autores citados, conduzem a importância do senso crítico, do
cumprimento de ordens, da aceitação, do poder de decisão, o que implica na consciência de que os
sargentos, também serão os líderes no futuro e de que o embasamento teórico é um “auto-
compromisso”, passam a integrar características e comportamentos desejáveis no perfil do militar que
está em formação.
Os sargentos de carreira do futuro, devem treinar bastante situações de conduta, obrigando os
comandantes de frações nível grupo de combate e pelotão, a fugirem do planejamento padrão inicial
e raciocinarem com rapidez. Isso pode ser realizado pelo fornecimento de informações imprecisas,
erradas sobre o inimigo e terreno, relatórios contraditórios, dilemas éticos envolvendo civis e
minorias, perdas de elementos em função chaves ou troca de comando, além de problemas logísticos
ou simulação de desastres naturais.
Em resumo, o ensino técnico dos graduados atendia aos paradigmas da Era Industrial, com
foco em pequenas tarefas, sem preocupação com a visão de processo como um todo. Já com a visão
de futuro para atender às necessidades da Era do Conhecimento, a formação dos sargentos precisou
reconfigurar, para fazer frente às demandas impostas pela missão constitucional da Instituição.
Emerge a necessidade de ter um nível superior tecnológico, pois, entre as competências a serem
desenvolvidas no discente do atual cenário está a capacidade de resolver problemas complexos e
ainda desconhecidos, de forma a fomentar a reflexão, criatividade, o poder de decisão, formar para a
Incerteza, e o currículo deve espelhar essa prioridade.
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