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John G. Jackson
África e a Civilização da Europa:
O Império dos Mouros
John G. Jackson
1
Comentários por Abibiman Shaka Touré.
criador do slogan “Raça Primeiro!” – ambos eram ateus, e Jackson
apelidou Harrison “The Black Socrates”, O Sócrates Preto; o que,
hoje, bem sabemos se tratar de uma espécie de tautologia: nossos
estudos nos levam a crer que Sócrates só pode ter sido preto!...
Não só Socrates, como Jesus também era preto – e foi esta tese
~polêmica~, lançada e defendida pelo Professor John G. Jackson –
na esteira da pesquisa iniciada pelo grande Joel Augustus Rogers
– que lhe rendeu (pro bem e pro mal) certo destaque, causando
reações as mais diversas na atmosfera (dita) erudita estabelecida;
pela inovação e coragem, originalidade e audácia (para o tempo)
de seu projeto intelectual – para além, é claro, do rigor científico e
compromisso com as fontes requeridas pelo so-called Cânone
Ocidental acadêmico (ou brancadêmico: branco e eurocêntrico!) –
por aí se pode vislumbrar a robustez das teses/antíteses defendidas
por estes Sesh – Mestres do Conhecimento e do Saber, em língua
Medu Neter – sendo esta apenas uma dentre as muitas teses de
semelhante envergadura sustentadas nos livros do irmão, o que
por si só demonstra a que vieram os estudos centrados em África e
o movimento pela sistematização desta perspectiva, abordagem e
paradigma, o mecanismo de ensino-aprendizagem que nomeamos
Afrocentricidade – que muito deve ao próprio John G. Jackson.
A
maior parte do Norte da África é coberta pelas areias
desoladas do Deserto do Saara; mas esta região nem
sempre foi um deserto. Em tempos pré-históricos, essa
área era bastante fértil e abrigava uma cultura bastante avançada.
Um pioneiro no estudo da região foi o Professor Leo Frobenius.
Ao explorar muitas cavernas no Norte da África, Frobenius
encontrou numerosos afrescos, cerâmicas, estátuas e ideogramas.
Algumas das pinturas encontradas nessas cavernas são de
considerável mérito artístico. Entre eles estão fotos de aves
extintas e outros animais. As pinturas mostram elefantes e búfalos
de um tamanho maior do que nossas espécies contemporâneas, e
assim nos dão uma ideia de sua grande antiguidade.
Outra grande descoberta do passado do Norte da África foi
feita em 1933 por um jovem oficial do exército francês, o Tenente
Brenans. Este soldado estava em uma missão que o levou ao Platô
Tassili-n-Ajjer no Saara Central; e, enquanto se preparava para
passar a noite em uma caverna, notou o desenho de uma girafa na
parede. Depois de raspar um filme de poeira incrustando a figura,
o Tenente Brenans viu-se olhando para uma bela pintura feita em
cores por um artista pré-histórico. Na manhã seguinte, cavernas e
rochas vizinhas foram examinadas; e muitos outros desenhos,
datados de um passado remoto, foram descobertos. Brenans fez
esboços dos desenhos antigos e os enviou para Paris.
A resposta foi muito gratificante; para uma expedição que
foi organizada em Paris, que partiu para o Saara. Entre os
principais cientistas no grupo, estavam o professor Gauthier,
Reygrasse e Perret, e por último, mas não menos importante, um
jovem antropólogo, Henri Lhote. Depois de semanas de
exploração, os professores voltaram para a França, deixando
Brenans e Lhote para continuar o trabalho. As pinturas rupestres
de Tassili-n-Ajjer mostraram que há oito mil a nove mil anos a
região do Saara não era um deserto, mas um território fértil de
pradarias, florestas e rios, habitado por antílopes, girafas,
elefantes, crocodilos, hipopótamos e rinocerontes. Os habitantes
humanos parecem ter sido caçadores e povos pastorais.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Brenans morreu e
Lhote continuou o trabalho por conta própria. Felizmente, em
1955, o Centro Nacional de Pesquisa da França forneceu fundos
para contratar uma equipe de artistas e fotógrafos para ajudar
Lhote em suas explorações; e em 1957 o jovem cientista pôde
retornar a Paris com um grande número de belas reproduções dos
desenhos do Saara. Em algumas das rochas havia dezesseis
camadas de desenhos. Isso só poderia significar que a área abrigou
habitantes humanos durante um período de milhares de anos. Os
desenhos mostram que as tribos de caça foram sucedidas por
pastores acompanhados por seus rebanhos de gado.2 Em muitas
pinturas há cenas de rituais primitivos de natureza mágica ou
religiosa.
A exploração arqueológica do continente Africano ainda
está em sua infância, e o futuro, sem dúvida, tem muitas
maravilhas e prodígios por revelar. Heródoto, enquanto viajava
amplamente pela Ásia e África no século cinco A.C., notou que na
África havia quatro grupos de pessoas facilmente reconhecíveis –
dois de origem nativa e dois de origem estrangeira. Os dois grupos
nativos eram os Etíopes e os Líbios, e os dois povos estrangeiros
eram os Fenícios e os Gregos. Os Líbios falavam um tipo
Hamítico de linguagem semelhante à dos Egípcios, o que não é de
surpreender, uma vez que ambos os povos eram membros do
grupo Africano Etíope. A palavra Hamita é frequentemente usada
de forma ambígua. Qualquer um que fale uma língua ou dialeto
Hamítico é um Hamita, e não há necessariamente conotação racial
envolvida. Mas certamente a ideia, amplamente difundida, de que
os antigos Hamitas da África eram de origem Caucasoide é
demonstravelmente insustentável. O falecido Sir Harry Johnston,
que era considerado uma autoridade sobre os Hamitas, os definiu
como: “Aquela raça Negroide que era o principal estoque do
antigo Egípcio, e é representada nos dias atuais pelos Somalis, os
Galla3 e alguns do sangue da Abissínia e da Núbia, e talvez pelos
povos do Deserto do Saara.” (The Uganda Protectorate, Vol. II, p.
473, por Harry H. Johnston.)
Esses Líbios são mencionados em registros antigos
frequentemente pelos nomes de suas várias tribos, como
Atalantas, Getulianos4, Maurusianos5, Nasamonianos e Tehennu.6
Heródoto tem um relato interessante de como um grupo de jovens
da tribo Nasamoniana atravessou o deserto do Saara e fez contato
com pigmeus que moravam às margens do rio Níger. O Pai da
2
Eis o advento da chamada revolução da agricultura.
3
Ver também Oromos.
4
Ver também Musulâmios, Tacfarinas.
5
Ver também Oranianos e Capsianos.
6
Tehennu ou THn-nw-w – nome pelo qual os Egípcios chamaram os Líbios, seus inimigos,
conforme registrado na Estela de Merenptah.
História7 primeiro nos diz que “os nasomonianos são uma raça
Líbia”; e então ele continua sua história da seguinte forma:
7
Há controvérsias. A esta altura, caso julgue necessário, seria bom reler nossos comentários.
8
Ver também Cabo Espartel e Cabo Contin.
9
Em outro registro – por Alberto da Costa e Silva: “Na Antiguidade, as ligações diretas entre
os litorais do Saara foram feitos incomuns, de se contarem pelos dedos no fluir das gerações.
Por isso, ganharam espaço na memória e nos livros. Heródoto, por exemplo, conta a história
de cinco jovens nasamonianos que resolveram, por ventura, explorar o deserto. Munidos de
água e alimentos, saíram de suas terras, junto ao golfo de Sidra, e viajaram muitos dias, para
sudoeste, até que encontraram algumas árvores. Colhiam frutos, quando foram atacados por
negros baixinhos, que os levaram, por território alagadiço, até uma cidade ao lado de um rio
que corria de oeste para leste. No rio – seria o Níger? – havia crocodilos. (...)” – A Enxada e
a Lança: A África antes dos portugueses (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 5ª ed., 2011).
Após a destruição da antiga cidade de Cartago, em 146
A.C., os Romanos estabeleceram um grupo de cinco províncias no
Norte da África, cujo território era chamado África Romana. Os
antigos habitantes desta região da Líbia, originalmente um ramo
dos Etíopes ocidentais, se misturaram com os imigrantes Fenícios,
Gregos e Romanos. As obsessões modernas de preconceito racial
e religioso eram desconhecidas no mundo antigo, e os vários
grupos étnicos se casaram entre si. Os Romanos chamavam os
habitantes indígenas do Norte da África de Berbéria (berberianos),
de onde temos o nome “berbere”. Assim, nos tempos medievais e
até modernos, os Norte-Africanos geralmente eram conhecidos
como berberes. Os Romanos apelidaram esses Africanos de
“barbatianos”, não por causa de qualquer inferioridade cultural,
mas simplesmente porque tinham certos costumes sociais
diferentes dos Romanos. Os Berberes Líbios possuíam um tipo
matriarcal de organização social, que era comum a todas as
sociedades Africanas, mas que parecia bastante curioso e estranho
para os Romanos da Europa.
Os imperialistas Romanos só conseguiram conquistar
Cartago [ver Guerras Púnicas] porque foram auxiliados pelo uso
da Numídia e Mauritânia e pelos cidadãos da colônia Fenícia de
Utica. O trágico resultado dessa política equivocada dos irmãos
Africanos dos Cartagineses é bem contada pelo Professor J. C.
DeGraft-Johnson, como segue:
10
Em outro relato – no poderoso discurso de Kwame Ture, Black Power – é dito o seguinte:
“Somos informados de que a Civilização Ocidental começa com os gregos e que o epítome
dessa civilização é Alexandre, o Grande. A única coisa de que me lembro em Alexandre, "o
Grande", foi que aos 26 anos ele chorou porque não havia mais pessoas para assassinar e
roubar. E este é o epítome da Civilização Ocidental. Se você não estiver satisfeito com isso,
você sempre pode tomar o Império Romano: seus passatempos favoritos eram ver homens
matando uns aos outros ou leões comendo homens – eles eram um povo "Civilizado". O fato
é que sua Civilização, como eles a chamavam, provinha de sua opressão sobre outros povos,
o que lhes permitia um certo luxo, à custa dessas outras pessoas.”
Após o fim da cultura Helenística de Alexandria, os
Romanos se tornaram os novos guardiões da civilização. Mas o
sistema Romano de sociedade não foi construído para durar; pois,
na perspicácia intelectual, os Romanos eram muito inferiores aos
Gregos. Nos campos da ciência pura e do pensamento abstrato, os
Romanos fizeram uma triste demonstração. Ao contrário, nas artes
industriais e nas ciências aplicadas, suas contribuições à cultura
eram de considerável mérito. Os defeitos do sistema Romano, no
entanto, ofuscaram suas virtudes e, no devido tempo, levaram à
sua desintegração. As principais deficiências da civilização
Romana eram a escravidão, o militarismo e um sistema fiscal
ruim; e esses vícios gradualmente levaram o Império ao desastre
da Idade das Trevas na Europa. A classe dominante Romana
tentou adiar a crise iminente, desestabilizando os antigos cultos
pagãos e tornando o Cristianismo a religião do Estado, mas isso
não adiantou. Os bárbaros começaram a invadir o Império
Romano do Ocidente no começo do século cinco E.C. (Era
Cristã); e no final do século, a civilização Romana se encontrava
em ruínas. O Império possuía um governo duplo, com um
imperador do Ocidente governando de Roma, e um imperador do
Oriente com seu trono em Constantinopla. No ano 476 D.C.
(Depois de Cristo), o último governante Romano do Ocidente foi
derrubado de seu trono, e o que restou do poder imperial Romano
foi transferido para o Império Bizantino, ou Império Romano do
Oriente. Um relato vívido dessa transferência de poder foi escrito
por uma eminente autoridade sobre a história medieval:
11
Outro exemplo que, quando “aportuguesado”, tem-se “Rodrigo”.
Mourisco, Tarik.12 General Tarik e seu exército desembarcaram
em um istmo entre uma escarpa, então chamado Mons Calpe e o
continente da Europa. (Depois disso, Mons Calpe foi renomeado
como Gebel Tarik – A Colina de Tarik – ou, como agora o
chamamos, Gibraltar.) O exército Africano de Tarik capturou
várias cidades Espanholas perto de Gibraltar, entre elas, Heracleia.
Então ele avançou para o norte, na Andaluzia. O Rei Roderick
soube da invasão e levantou um grande exército para defesa. Os
dois exércitos se encontraram em batalha perto de Xeres, não
muito longe do rio Gaudalete.
Há uma velha lenda sobre Roderick, que é tão cativante e
fantástica que consideramos apropriado transmiti-la ao leitor da
forma mais concisa possível. De acordo com esse conto, numa
época anterior à invasão Mourisca da Espanha, enquanto o Rei
Roderick estava sentado em seu trono em Toledo, dois homens
idosos entraram em sua sala de audiências. Eles estavam vestidos
com vestes brancas de estilo antigo, usando cintos adornados com
os signos do zodíaco, e de onde pendiam um grande número de
chaves. Então, dirigindo-se ao monarca, os anciãos disseram:
“Sabe, Ó Rei, que nos dias passados, quando Hércules montou
seus pilares no estreito oceânico, ele ergueu uma torre forte perto
desta antiga cidade de Toledo, e fechou dentro de si um feitiço
mágico, protegido por um pesado portão de ferro com fechaduras
de aço; e ordenou que cada novo rei estabelecesse uma nova
fechadura no portal, e previa a aflição e a destruição daquele que
deveria procurar desvendar o mistério do Agora, nós e nossos
antepassados mantivemos a porta da torre desde os dias de
Hércules até esta hora; e, embora tenha havido reis que
procuraram descobrir o segredo, seu fim sempre foi morte ou
espanto. Ninguém jamais penetrou além do limite. Agora, Ó Rei,
viemos implorar-te que fixes a tua fechadura na torre encantada,
12
Informações adicionais por Lélia Gonzalez: “A formação histórica de Espanha e Portugal
se deu no decorrer de uma luta plurissecular (a Reconquista), contra a presença de invasores
que se diferenciavam não só pela religião que professavam (Islã); afinal, as tropas que
invadiram a Ibéria em 711 não só eram majoritariamente negras (6700 mouros para 300
árabes), como eram comandadas pelo negro general (“Gabel”) Tárik-bin-Ziad (a corruptela
do termo Gabel Tárik resultou em Gibraltar, palavra que passou a nomear o estreito que
ficou conhecido como Colunas de Hércules). Por outro lado, sabemos que não só os soldados
como o ouro do reino negro de Ghana (África Ocidental) tiveram muito a ver com a
conquista moura da Ibéria (ou Al-Andalus). Vale notar, ainda, que as duas últimas dinastias
que governaram Al-Andalus procediam da África Ocidental: a dos Almorávidas e a dos
Almóhadas. Foi sob o reinado destes últimos que nasceu, em Córdova (1126), o mais
eminente filósofo do mundo islâmico, o aristotélico Averróes (Chandler, 1987).
Desnecessário dizer que, tanto do ponto de vista racial quanto civilizacional, a presença
moura deixou profundas marcas nas sociedades ibéricas (como, de resto, na França, Itália
etc.).” – A categoria político-cultural de amefricanidade, Rio de Janeiro, 1988.
como todos os reis antes de ti fizeram.” Depois de proferir este
discurso pitoresco, o casal idoso afastou-se da presença do rei.
Roderick, naturalmente, estava muito desejoso de descobrir o
segredo da torre e anunciou a sua corte que pretendia visitar a
torre e que planejava procurar seu segredo. Seus bispos e
conselheiros advertiram-no contra tal movimento e disseram-lhe
que ninguém jamais havia entrado na torre e vivido para contar; e
que nem mesmo o grande Júlio César se atreveu a tentar entrar
nessa fortaleza. Esses admoestadores do rei até mesmo
transmitiram a ele uma advertência em forma poética, que dizia o
seguinte:
Mas isso não impediu o Rei Roderick, que, cercado por seus
cavaleiros, um dia se aproximou da torre, que ficava em uma
rocha elevada, cercada por penhascos e precipícios. As paredes
dessa torre eram de mármore e jaspe, incrustadas de desenhos que
cintilavam nos raios do sol. A entrada era por meio de uma
passagem cortada em pedra, e estava fechada por um enorme
portão de ferro coberto de ferrugem que remontava aos dias de
Hércules; e de cada lado do portão ficavam os dois antigos que
visitaram a câmara de audiência do rei. Durante a maior parte do
dia, os dois anciãos vigias, auxiliados pelos cavaleiros do rei,
viraram chaves nas fechaduras vermelhas, até que, pouco antes do
pôr do sol, o portão foi aberto e a comitiva real entrou na torre.
Dentro do portão havia um corredor, do outro lado havia uma
porta, guardada por uma gigantesca figura de bronze de aspecto
terrível, que continuamente balançava uma grande maça que
atingia o chão na cercania com poderosos golpes. No peito deste
monstro de bronze, o Rei Roderick viu as palavras: “Eu faço o
meu dever”; então o rei apelou para a imagem animada para
deixá-lo passar, uma vez que ele não planejava sacrilégio, mas
apenas queria resolver o mistério da torre. A figura então ficou
imóvel, com a maça erguida, e permitiu que o rei e seus
companheiros passassem pela porta para a segunda sala. Então
eles se encontraram em uma câmara incrustada de pedras
preciosas, no meio da qual havia uma mesa que havia sido
instalada por Hércules; sobre a mesa havia um caixão, sobre o
qual estava gravada uma inscrição, que dizia: “Neste cofre está o
mistério da Torre. A mão de ninguém além de um rei pode abri-lo;
mas que ele fique atento, pois coisas maravilhosas serão reveladas
a ele, o que deve acontecer antes de sua morte”.
O rei abriu o cofre e no interior havia um pedaço de
pergaminho dobrado entre duas placas de cobre. No pergaminho
havia retratos de guerreiros ferozes a cavalo armados com arcos e
cimitarras e acima deles estava o slogan: “Eis o homem apressado,
aqueles que te lançarão do teu trono e subjugarão o teu reino.”
Quando o rei e seus cortesãos olharam para as figuras no
pergaminho, de repente eles ouviram os sons da batalha e as
figuras dos cavaleiros começaram a se mover, e antes deles surgiu
uma visão de guerra:
13
Até onde pesquisamos, só encontramos um autor para o nome Ibn al-Awam e Abu Zacaria.
14
Kwame Ture observa o seguinte: “Karl Marx não inventou nem fundou o socialismo,
mesmo que muitos digam isso. Ele apenas descobriu. Isso é tudo. Ele descobriu as leis do
socialismo. Ele não as fundou. Chamamos de ‘lei da gravidade’ – Newton não inventou que
um corpo cai a 32 pés por segundo ao quadrado. Marx não pode inventar a forma como o
capital oprime o trabalho, e que trabalhadores se levantarão contra o capital. Marx não pode
inventar isso. A propósito, gostaria que o Prof. Asante fosse ler Ibn Khaldun. Um Africano,
tunisiano do século 12, que em seus escritos usa termos como ‘excedente’, ‘valores
excedentes’, ‘propriedade’, ‘direito a propriedade’ – ele usa todos os termos que Karl Marx
usa. Ele escreveu isso no século 12, e ele era Africano. Valores socialistas encontrados no
comunismo.” – debate Kwame Ture/Molefi Asante, África e o Futuro, Cincinnati, 1996.
moderna mantém apenas um fragmento do sistema de irrigação
fino construído pelos engenheiros Mouriscos, que também
ergueram grandes silos subterrâneos para o armazenamento de
grãos em caso de emergência.
A riqueza mineral da terra não foi negligenciada; ouro,
prata, cobre, mercúrio, estanho, chumbo, ferro e alume foram
extraídos em grande escala. Até o século doze, o comércio
marítimo dos Sarracenos no Mediterrâneo era maior que o dos
Cristãos; centenas de navios estavam envolvidos, e esse comércio
generalizado estimulou naturalmente a manufatura. As espadas de
Toledo eram as mais excelentes e bonitas de toda a Europa, e uma
fábrica perto de Córdoba tinha uma produção de doze mil escudos
por ano. Múrcia ficou famosa pela fabricação de todos os tipos de
instrumentos de latão e ferro; os curtumes de Córdoba e Marrocos
eram os melhores do mundo; Almeria produzia faixas famosas por
toda parte, pelas cores vivas e textura fina; tapetes foram feitos em
Teulala; e lã de cores vivas vieram de Baza e Granada. Os Mouros
também produziram vasos de vidro e cerâmica, mosaicos e joias.
Córdoba no século dez era muito parecida com uma cidade
moderna; as ruas estavam bem pavimentadas e havia calçadas
para pedestres. À noite, podia-se andar por dezesseis quilômetros
à luz das lâmpadas, ladeado por uma extensão ininterrupta de
edifícios; e isso foi centenas de anos antes de haver uma rua
pavimentada em Paris ou uma lâmpada de rua em Londres. A
população da cidade era de mais de 1.000.000; e havia 200.000
lares, 800 escolas públicas, muitas faculdades e universidades,
10.000 palácios dos ricos, além de muitos palácios reais, cercados
por belos jardins. Havia 5.000 usinas em Córdoba quando ainda
não havia nem uma no resto da Europa; e havia 900 banhos
públicos, além de um grande número de casas particulares, numa
época em que o resto da Europa considerava o banho
extremamente perverso e a ser evitado o máximo possível.
Córdoba também foi agraciado por um sistema de mais de 4.000
mercados públicos.
Toledo, Sevilha e Granada eram rivais de Córdoba em
relação à magnificência. A educação era universal na Espanha
Muçulmana, sendo dada aos mais humildes, enquanto na Europa
cristã 99% das pessoas eram analfabetas e até os reis não sabiam
ler nem escrever. Os governantes Mouriscos viviam em palácios
suntuosos, enquanto os monarcas da Alemanha, França e
Inglaterra moravam em grandes celeiros, sem janelas de fumaça e
sem chaminés, e com apenas um buraco no teto para a saída da
fumaça.
Em meados do século dez, um pequeno grupo de Alemães
conduziu um monge à corte de Abd-er-Rahman III, Califa de
Córdoba. O monge entregou uma carta ao Califa, que lhe fora
enviada pelo Imperador Otto, o Grande, do Sacro Império
Romano. As maravilhas de Córdoba e a beleza cênica de seus
subúrbios e da paisagem da Andaluzia devem ter feito os viajantes
Alemães roçarem os olhos em perplexidade; pois eles certamente
achavam que tinham sido enfeitiçados e transportados por algum
feiticeiro para o reino das fadas. Uma reconstituição vívida dos
esplendores da Espanha Mourisca, vista pelo monge e seus
companheiros, foi preservada para nós por uma autoridade
reconhecida na história do período:
15
A “lei” aqui refere-se à Sharia, a lei islâmica.
Marrocos, Yahia morreu em 1056, e foi sucedido por seu irmão
Abu Bekr, que liderou seus exércitos para novas vitórias.16 Abu
Bekr retirou-se para o sul do Marrocos e entregou a parte norte do
país a seu primo Yusuf Tachefin, que logo se tornou o mestre do
noroeste da África.
17
Atual Tunísia.
18
Ver também Nasridas.
19
A saber, neto de Gengis Khan.
20
E uma vez perseguidos na Espanha, procuraram refúgio em território Haféssida.
a uma raça Marrom arbitrária, e outros os rotulam como Brancos-
Escuros. O falecido Joseph McCabe certa vez observou que talvez
um antropólogo Africano chamasse essas pessoas de Pretos-
Pálidos. Nos tempos medievais, o nome de Mouro não se
restringia aos habitantes de Marrocos, mas era costume referir-se a
todos os Africanos como Mouros. A palavra altamente ambígua
“Negro” ainda não havia sido inventada.21 Sabemos, a partir de
registros contemporâneos que nos chegaram da época da
supremacia Mourisca medieval, que os Mouros não se
consideravam homens brancos. Uma discussão interessante sobre
esse ponto pode ser encontrada em algumas das muitas palavras
valiosas do professor J. B. S. Haldane, como segue:
21
Malcolm X mesmo fala, o “Negro” foi cientificamente produzido pelo homem branco –
ele diz: “Nós fomos cientificamente produzidos pelo homem branco. Sempre que você vê
alguém que se chama de Negro, eis um produto da civilização ocidental – não apenas da
civilização ocidental, mas também do crime ocidental. O Negro, como é chamado ou se
chama no ocidente, é a melhor evidência que pode ser usada contra a civilização ocidental
hoje. Uma das principais razões pela qual somos chamados de Negro é que não saberemos
quem realmente somos. E quando você se chama assim, você não sabe o que é seu. Contanto
que você se chame de Negro, nada é seu. Sem idioma – você não pode reivindicar qualquer
idioma, nem mesmo o inglês; você estraga tudo. Você não pode tentar reivindicar qualquer
nome, qualquer tipo de nome que o identifique como algo que você deveria ser. Você não
pode reivindicar qualquer cultura uma vez que usa a palavra "Negro" para se identificar. Ela
não atribui você a nada. Nem sequer identifica sua cor.” – Algumas reflexões sobre a
“Semana da História do Negro”, 1965.
conotação de superioridade racial, e os sujeitos Persas e Turcos ‘o
povo ruivo’, com uma conotação de inferioridade racial, ou seja,
eles traçaram a distinção que traçamos entre loiros e morenos, mas
inverteram o valor.” (A Study of History, Vol. I. por Arnold J.
Toynbee.) A curiosa ideia de que uma grande raça branca foi
responsável por todas as grandes civilizações do passado não é
mais do que uma superstição grosseira propagada principalmente
por historiadores racistas de orientação Europeia; e pensamos que
a memória dos dissidentes corajosos dessa teoria deve ser mantida
em honra e respeito.
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