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Vitória
2023
Mary Helen Porto Dias
Vitória
2023
Folha de aprovação
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Prof. Dr. UFES
Orientador (a)
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Prof. Dr.
Universidade
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Prof. Dr.
Universidade
Dedico esta monografia à minha querida e
inesquecível avó Dona Nilza (In
memoriam). À minha querida e amável
mãe Lúcia, que é o maior incentivo, e
sempre me encorajou a lutar pelos meus
objetivos. Sem vocês eu não seria o que
eu sou.
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos que foram meus professores de filosofia durante minha
caminhada pela escola E.E.E.F.M “Narceu de Paiva filho”, Angelita e Cássio pela
grande influência.
Agradeço aos amigos com quem tive o privilégio de construir uma linda
amizade durante os anos dentro da universidade, e estiveram sempre comigo nessa
longa jornada, tornando a luta um pouco mais leve e possível de ser alcançada.
“...uma vez que nosso povo seja ensinado sobre a gloriosa
civilização que existia no continente africano, eles não terão
mais vergonha de quem eles são. ”
Malcolm X
Resumo
O presente trabalho busca discutir as questões epistêmicas do ensino de
filosofia nas escolas de ensino médio da rede pública, com a implementação da lei
10.639/03, e seus possíveis efeitos na diversidade curricular, bem como analisar a
formação acadêmica dos profissionais de ensino e sua capacitação para ofertar aos
alunos matérias de filosofia africana, a fim de ter como resultado dessa prática o fim
do racismo epistêmico, que necessita ser visto como uma responsabilidade moral
para destruir o pensamento segregacionista e se construir um novo ensino de
filosofia, mais pluriversalista e afroperspectivista. No campo do ensino superior e da
sua formação de professores, o racismo epistêmico percorre toda a graduação
inviabilizando uma perspectiva africana em disciplinas acadêmicas. A monografia
busca mostrar a extrema importância desses debates, principalmente para os alunos
negros que, mais conscientes e participativos de sua história, compreendem como
contestar o racismo e representar a comunidade negra no meio acadêmico.
1
Professor do Departamento de Educação e Sociedade (DES), do Programa de Pós-
Graduação em Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos
Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEduc) da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro (UFRRJ), Pesquisador do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Leafro),
doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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Professor adjunto de Filosofia da Educação no Departamento de Estudos da Subjetividade e
Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Coordenador do
MULUNGU: grupo de estudos em leituras contra-coloniais. Coordenador da área de Filosofia Africana
e Afrodiaspórica da ABPN. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Giro cosmopolitico: o corpo na
filosofia da formação humana da UERJ; Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UERJ.
3
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-
se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
europeu. Por ser o Brasil um país com a maioria de sua população negra, é
inadmissível o fato de a história desse povo não ser contada dentro dos muros das
escolas. O problema não é somente a criação de leis, mas sobre colocar essas leis
em vigor, e inspecionar esses estudos, investindo na formação de professores e em
materiais didáticos necessários para isso. Não deve ser distante para o povo negro,
a ideia e a possibilidade de viver entre si, principalmente dentro do ambiente de
ensino, e poder conhecer mais sobre a cultura de seu próprio povo.
Hoje, temos leis que tornam obrigatórios o ensino da história e cultura afro-
brasileira dentro das escolas, o que por sua vez integra um diálogo antirracista que
modifica a visão da juventude para com o mundo e os outros homens e mulheres.
Nesse mesmo sentido, este trabalho propõe pensar a necessidade e importância da
filosofia participar desse diálogo, para que se possa recriar o seu ensino na
perspectiva da superação do racismo epistêmico.
Capítulo I: O Eurocentrismo e o Ensino de Filosofia
O racismo nesse caso não ocorre somente de uma forma moral, mas também
de forma estratégica e ideológica, através do eurocentrismo. Pois invalida toda ação
de um grupo determinado de pessoas e naturaliza a hierarquia que se cria entre
povos distintos, fora dos padrões racionais e humanitários. Esse padrão humanitário
criado pelo opressor, é fundamentado na tese aristotélica de animal racional.
O ensino de filosofia que será proposto pelo docente que teve uma formação
adequada dentro da universidade com filosofias pluriversais não servirá apenas
como enriquecimento intelectual para o aluno, principalmente o aluno negro, à
medida que vai aguçar o pensamento crítico e a vontade de lutar por seus direitos e
saberes de forma argumentativa e ética, e principalmente saber e poder se
posicionar contra o racismo, através do legado filosófico africano que ele terá acesso
e conhecimento através do docente que pôde analisar e estudar essas questões
dentro da universidade. Por isso é preciso reescrever a história da filosofia e seu
ensino desde a formação do docente, incluindo produções pluriversais de origens
africanas, asiáticas e indígenas.
Por que então se faz tão importante pensar e praticar filosofia também da
perspectiva africana? Tendo os africanos sido deslocados de sua identidade, surgiu
a necessidade de pensar estratégias para reintegrar esses povos do continente
africano a suas identidades, para que não mais vivam somente da experiência
eurocêntrica. Cria-se a possibilidade de uma nova narrativa para esses povos, com
seus valores e pensamentos protegidos. É o que chamamos de afrocentricidade.
Não podemos cair também na armadilha de outro fator que gira em torno da
questão sobre filosofia africana, a sua etnofilosofia, ou seja textos escritos e
produzidos somente por povos tradicionais africanos. Propor que haja diálogos e
discussões acerca da filosofia africana e sua inserção nos currículos escolares não
quer dizer trazer somente textos escritos e produzidos por povos tradicionais
africanos, pois a proposta da filosofia africana não se resume somente a isso.
Temos que ter o cuidado de não propor, mesmo que seja de modo não intencional,
que os africanos não tinham consciência da sua própria filosofia e de que apenas
analistas ocidentais poderiam traçar e mostrar suas sabedorias. A prática da filosofia
africana então significa trazer as questões que são pertinentes para o próprio
continente africano através de filósofos e filósofas africanos mostrando a forma
como o povo africano do passado e do presente compreendem o seu próprio destino
e o do mundo no qual vivemos, abordando suas crenças, valores, linguagens e
práticas da cultura.
Considerações finais
Vimos como que a filosofia pode ser antirracista na medida em que se propõe a
buscar uma razão pluriversal e afroperspectivista, combatendo o racismo epistêmico
através do processo de reconhecimento das produções intelectuais de todo os
povos e promovendo, através da prática de seu ensino, um aprendizado antirracista
e construtivo, moral e eticamente. Temos que entender por filosofia não somente
uma formação disciplinar, mas também uma produção de práticas humanas globais
e pluriversais, não sendo somente de um povo ou uma etnia. Portanto podemos
dizer que há uma filosofia própria no modo de reflexão, de sabedoria da tradição
africana.
Finalizando a proposta de uma filosofia afroperspectivista, citada por
NOGUERA, Renato concluímos que não se resume apenas em incluir nos currículos
escolares a filosofia africana, mas que se trata também de um processo de
desmarginalização essencial das produções africanas. Seguindo como proposta
também de incluir nos cursos de licenciatura em filosofia as Diretrizes para
Educação das Relações Étnico-Raciais, Ensino e Cultura Afro-Brasileira que
englobam o ensino de teoria do conhecimento, ética, lógica, problemas metafísicos e
a própria história da filosofia. Para impulsionar pesquisas na área da filosofia que
buscam romper com o preconceito e o racismo, problematizando radicalmente sobre
a realidade sistemática opressora na sociedade atual, a fim de tornar a filosofia
africana protagonista de sua história e não mais resumos ou reproduções ocidentais.
REIS, Diego dos Santos. A filosofia fora das grades (curriculares): a Lei
10.639/03 e os desafios para um ensino de filosofia antirracista. Revista Teias. Rio
de Janeiro. v.23. n.68. p.134-146. Jan. – Mar. 2022
RIBEIRO, Katiúscia. Kemet, Escolas e Arcádeas: A Importância da Filosofia
Africana no Combate ao Racismo Epistêmico e a Lei 10639/03. Dissertação
(Mestrado) Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca,
2017.