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Disciplina: Questões Étnico-Raciais

Professora: Claudia Furlanetto


Aluno: Pedro Jardel da Silva Coppeti

RELATÓRIO DO FILME “MENINO 23, INFÂNCIAS PERDIDAS NO BRASIL”

O “Menino 23” é um documentário baseado na tese de doutorado do


professor Sydney Aguilar Filho e que foi produzido pelo diretor Belisario Franco.

Lançado no ano de 2016 - ganhou o Grande Prêmio do Cinema


Brasileiro na categoria longa-metragem documentário, no ano seguinte -, a película
remonta alguns pontos da década de 30 do século XIX no Brasil, caracterizado por um
passado eugenista recente no País. Além disso, demostra como entidades filantrópicas
realizam a escravidão no Brasil pós-abolição e que esse pensamento está intimamente
ligado a grupos nazistas.

Ele demonstra, depois de aproximadamente 40 anos da abolição da


escravidão, como o ranço do racismo era forte e presente na sociedade brasileira. Em
síntese, o filme relata a vida de crianças órfãs negras que eram trazidas do Rio de
Janeiro para uma fazenda no interior de São Paulo. Contudo, essa propriedade escondia
o culto a ideologia nazista e os rastros da escravidão.

O documentário se desenrola expondo a história de três crianças que


foram levadas para a fazenda Cruzeiro do Sul, no município de Campina do Monte
Alegre, interior de São Paulo, propriedade da família Rocha Miranda. Logo que
chegam, essas três crianças negras enfrentam a falta de liberdade de ir e vir, são
colocadas de frente com a falta de educação formal e com a imposição do trabalho
forçado. Trabalhavam duramente apenas em troca de um prato de comida e sofriam
duras punições. Passado um tempo, os seus nomes deram lugar aos números pelos quais
seriam chamados. É desse fato que nasce o nome do documentário, “Menino 23”, já que
Aloiso da Silva teve o nome substituído por esse número, e assim ficou conhecido na
fazenda da família Rocha Miranda.

O primeiro ponto importante e que o filme aborda foi como o nazismo


fez parte da cultura brasileira, já que não há relatos de grandes repercussões do culto ao
nazismo e de uma sociedade eugênica. Esse pensamento – que tinha grande repercussão
nas décadas de 30 e 40 do século passado e contava com bastante seguidores – foi
esquecido por envergonhar a história recente brasileira. Entretanto, as falas demonstram
pouco ou quase nenhum conhecimento dessa situação ter acontecido em território
nacional, uma vez que, ao pensarmos em nazismo, sempre é com o pensamento além-
mar.

Nesse âmbito, o documentário acentua como a população brasileira e


como parte da elite tinha um pensamento de embranquecer a sociedade brasileira
(processo de embranquecimento) e estava ligada ao culto ao nazismo. Além de notar
esse branqueamento, é necessário abordar o fato de famílias estarem reproduzindo os
modos escravocratas, já que essas traziam crianças negras para escravizá-las e
desumanizá-las. Essa falta de humanidade não pode jamais ser esquecida, uma vez que
se nota que no Brasil não há um culto aos direitos humanos e aqueles que os defendem
são considerados pessoas de pensamento não tradicional.

Sob este prisma, o documentário denunciou a cor negra como marca


racial da discriminação e, também, como parte da elite brasileira estava ligada a regimes
autoritários de extrema direita. Essa produção faz todos relembrar como o racismo ainda
impera no nosso País.

Como um imenso soco no estômago, Menino 23 desnuda práticas


silenciosas da sociedade brasileira, que repercutem até os dias atuais pelo desinteresse
na integração racial e econômica aqueles menos favorecidos e pela falta de
oportunidades. Um filme contundente e necessário para entender o quanto o racismo
está entranhado no jeito de ser brasileiro e na própria história de nosso País,
potencializado pela trilha sonora pesarosa e o cuidado estético nas sequências de
transição entre as imagens de época e os depoimentos gravados.

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