Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Diabetes e Coração
Diabetes e Coração
ISSN 0103-8559
SOCIEDADE SOCESP
DE CARDIOLOGIA
DO ESTADO DE SÃO PAULO
Volume 17 — No 2 — Abr/Mai/Jun de 2007
DIABETES E CORAÇÃO
EDITOR CONVIDADO: SERGIO FERREIRA DE OLIVEIRA
ATUALIZAÇÃO EM
CARDIOPATIAS CONGÊNITAS
EDITORA CONVIDADA: IEDA BISCEGLI JATENE
www.socesp.org.br
REVISTA DA
SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Diretoria da SOCESP Presidentes Regionais
Biênio 2006/2007 ABCDM: José Luiz Aziz
Araçatuba: Celso Biagi
Araraquara: José Geraldo Bonfá
Presidente: Bráulio Luna Filho Araras: Daniel Izzet Potério
Vice-Presidente: Ari Timerman Bauru: Christiano Roberto Campos
Primeiro-Secretário: Ibraim Masciarelli Pinto Botucatu: Beatriz Bojikian Matsubara
Segunda-Secretária: Ieda Biscegli Jatene Campinas: Alexander Braun
Primeiro-Tesoureiro: João Nelson Rodrigues Branco Franca: Carlos Alves Pereira
Segundo-Tesoureiro: Miguel Antonio Moretti Jundiaí: Alberando Gennari Filho
Diretor de Publicações: Edson Stefanini Marília: Carlos Benedito A. Pimentel
Diretor de Regionais: Márcio Jansen de O. Figueiredo Piracicaba: Humberto Magno Passos
Diretor de Presidente Prudente: Luis Carlos Pontes
Infra-estrutura: Carlos Vicente Serrano Jr. Ribeirão Preto: Brasil Salim Melis
Santos: Carlos Alberto Cyrillo Sellera
Diretor de
São Carlos: José César Briganti
Informática: Moacyr Fernandes Godoy São José do Rio Preto: Luis Antonio Gubolino
Diretor de Defesa Sorocaba: Luiz Miguel Gaspar Henriques
Profissional: José Henrique Andrade Vila Vale do Paraíba: Maurício Garcia Lima
A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (ISSN 0103-8559) é editada trimestralmente pela
Diretoria de Publicações da SOCESP, Avenida Paulista, 2073 — Horsa I, 15 º andar, cj. 1512 — CEP 01311-300 —
Cerqueira César — São Paulo — SP / Tel.: (11) 3179-0044 / E-mail: socesp@socesp.org.br / Website: www.socesp.org.br
As mudanças de endereço, a solicitação de números atrasados e as cartas ao Editor deverão ser dirigidas à
Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, na sede da SOCESP. É proibida a reprodução total ou parcial de
quaisquer textos constantes desta edição sem autorização formal e expressa de seus editores.
Produção Gráfica: CEV - Casa Editorial Ventura / Impressão: AquaPrint Gráfica & Editora i
Para pedidos de reprints, por favor contate: SOCESP — Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo /
Diretoria de Publicações / Tel.: (11) 3179-0044 / E-mail: socesp@socesp@org.br
RSCESP
ABR/M AI/J UN 2007
Órgão Oficial da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo
Publicação Trimestral / Published Quarterly
Dados de Catalogação na Publicação Internacional (CIP)
CDD16 616.105
NLM W1
ISSN 0103-8559 WG100
RSCESP 72594 CDU 616.1(05)
DIABETES E ATUALIZAÇÃO EM
CORAÇÃO CARDIOPATIAS CONGÊNITAS
EDITOR CONVIDADO: EDITORA CONVIDADA:
SERGIO FERREIRA DE OLIVEIRA IEDA BISCEGLI JATENE
II — A Revista passa a ter periodicidade trimestral e no máximo 120 páginas. Cada edição
da Revista poderá ter um ou dois temas, a critério do Diretor de Publicações. No caso de apenas
um tema, o número máximo de artigos será de 10; para dois temas, o número máximo será de
5 artigos por tema. O Suplemento dos Departamentos passa a ter no máximo 24 páginas.
cev@servicoseditoriais.com
vi
RSCESP
A BR/MAI/JUN 2007
DIABETES E CORAÇÃO CARTA DO
A escolha do primeiro tema sobre diabetes melito teve como objetivo chamar a atenção de
cardiologistas, clínicos e endocrinologistas para aspectos relativos ao diagnóstico precoce da
EDITOR
aterosclerose e da isquemia silenciosa, com o objetivo de evitar complicações cardiovascula-
res. É de fundamental importância agir o mais cedo possível, pois estamos chegando tarde e
CONVIDADO
encontrando o paciente em estado de aterosclerose avançada, cujo resultado do tratamento é
muitas vezes decepcionante.
O segundo tema salienta a importância da hiperglicemia pós-prandial em pacientes com
síndrome metabólica e o aumento de risco de evoluírem para diabetes e apresentarem doença
arterial coronariana. Na prática clínica, poucos médicos pedem medida de glicemia duas horas
após a refeição em pacientes com glicemia de jejum entre 100 mg/dl e 126 mg/dl. Perde-se a
oportunidade, durante anos, de se fazer tratamento preventivo agressivo contra a aterosclerose.
O terceiro tema, já analisando as complicações cardiovasculares, salienta a importância da
hiperglicemia aguda no infarto agudo do miocárdio como preditor forte independente de mor-
talidade hospitalar em pacientes com e sem diabetes e a necessidade do controle glicêmico
intensivo com insulina nas primeiras 24 horas para reduzir o risco. Chama a atenção sobre a
influência da hiperglicemia na mortalidade hospitalar em não-diabéticos ultrapassando a dos
diabéticos.
O quarto tema analisa a revascularização miocárdica no diabetes e foi dividido em duas
partes: a modalidade por cateter com balão e colocação de stent e a modalidade cirúrgica.
Analisou-se a angioplastia por balão, passando pelo stent convencional e finalmente pelos
stents farmacológicos, os desafios em reduzir a reestenose e, mais recentemente, de evitar a
trombose tardia intra-stent. Resultados comparativos com a cirurgia são citados, assim como
novos estudos que estão sendo feitos para se esclarecer qual é a melhor forma de tratamento
para o diabético com doença arterial coronariana. A segunda parte desse tema aborda a evolu-
ção tanto da cirurgia de revascularização miocárdica como de aspectos técnicos relativos a
pacientes diabéticos, apresentando resultados imediatos e tardios de diferentes séries de paci-
entes operados.
O quinto tema abrange o aspecto evolutivo importante do paciente diabético decorrente da
exaustão das células beta do pâncreas, que reduzem a produção de insulina endógena. Os
hipoglicemiantes orais perdem sua eficácia, a glicemia se eleva e o médico deve começar a
insulinoterapia para evitar complicações cardiovasculares. Aspectos clínicos, farmacológicos
e de estratégia de tratamento são apresentados de forma didática para que possamos aprender
a manusear a insulina. Nós, cardiologistas, não temos formação suficiente para dominar a
técnica da insulinoterapia. Os ambulatórios de diabetes estão superlotados. Mas o paciente
precisa ser tratado corretamente. Não podemos ficar contemplando o paciente sob uso de hipo-
glicemiantes orais sucumbir gradativamente sob níveis de glicemia elevados.
Espero que a leitura dos cinco temas escolhidos seja profícua e esclareça alguns aspectos
de diagnóstico e tratamento do diabetes melito.
81
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
STEFANINI E e cols.
Diagnóstico de
isquemia miocárdica
DIAGNÓSTICO DE ISQUEMIA MIOCÁRDICA
silenciosa no diabético SILENCIOSA NO DIABÉTICO
EDSON STEFANINI
EMÍLIO MONTUORI NETO
SERGIO FERREIRA DE OLIVEIRA
0 1.504 0,54% 1
1-99 1.973 1% 1,9
100-399 686 5,5% 10,2
> 400 450 14% 26,2
“St. Francis Heart Study”, realizado em 4.903 paci- diabéticos o risco é maior, porque as placas com
entes para determinar a acurácia prognóstica da to- estenose < 50%, que não alteram a perfusão mio-
mografia computadorizada de feixe de elétrons cárdica durante o esforço, possuem intensa ativi-
(EBCT, “electron-beam computerized tomography”) dade inflamatória instável e podem se romper mais
e a relação do escore de cálcio com fatores de risco freqüentemente.
tradicionais e eventos cardiovasculares.22 O “Milan Study on Atherosclerosis and Dia-
Concluiu-se que o escore de cálcio prediz even- betes” (MiSAD)27 analisou 925 diabéticos e cor-
tos cardiovasculares com maior acurácia, incluin- relacionou a eletrocardiografia de repouso com a
do infarto agudo do miocárdio não-fatal e morte perfusão miocárdica Tl-201. A eletrocardiografia
coronariana, independentemente dos fatores de ris- anormal correspondeu a 25% de perfusão miocár-
co tradicionais. dica anormal e a eletrocardiografia normal relaci-
onou-se a 6% de perfusão anormal. Deve-se, por-
Avaliação da presença de isquemia miocárdica tanto, valorizar a eletrocardiografia de repouso
Eletrocardiografia de esforço anormal.
Estudo de Callaham – “Veterans Administra- A “American Diabetes Association” (ADA)28
tion Hospitals”23 demonstrou que alterações do recomenda a realização de testes de detecção de
segmento ST em diabéticos com ou sem dor re- isquemia miocárdica em diabéticos com eletrocar-
presentam aumento do risco de doença arterial co- diografia de repouso anormal, insuficiência vas-
ronariana. cular periférica, sintomas de angina, dispnéia e
O “Coronary Artery Surgery Study” (CASS)24 fadiga, e com dois ou mais fatores de risco.
relacionou a presença de isquemia silenciosa em O “American College of Cardiology/American
diabéticos a pior prognóstico. Heart Association” (ACC/AHA)29 recomenda ava-
A eletrocardiografia de esforço continua sen- liação não-invasiva para diabéticos que queiram
do um teste confiável e de baixo custo para esta- iniciar exercícios e que sejam portadores de doen-
belecer o diagnóstico e o prognóstico da doença ça arterial coronariana conhecida ou suspeita, di-
arterial coronariana em diabéticos. Apresenta sen- abetes melito do tipo 1 há mais de 15 anos, diabetes
sibilidade diagnóstica de 50% e especificidade de melito do tipo 2 há mais de 10 anos ou idade > 35
83% para eventos cardiovasculares (morte cardía- anos, com presença de fatores de risco adicionais e
ca, infarto agudo do miocárdio ou angina) em 41 evidência de doença microvascular ou de doença ar-
meses de seguimento25. terial periférica ou neuropatia autonômica.
Estresse-ecocardiografia (exercício ou estresse O estudo “Detection of Ischemia in Asympto-
farmacológico com dobutamina ou adenosina) matic Diabetics” (DIAD)30, utilizando perfusão mi-
A sensibilidade e a especificidade desse método ocárdica com MIBI, encontrou isquemia silencio-
são superiores às da eletrocardiografia de esforço. sa em 22% dos diabéticos. Se fossem adotados os
Estudo envolvendo 89 pacientes diabéticos e critérios da “American Diabetes Association”, 41%
147 não-diabéticos durante 25 meses demonstrou dos diabéticos com isquemia silenciosa não seri-
eventos cardiovasculares de 19% vs. 9,7%, infar- am identificados.
to agudo do miocárdio ou morte súbita de 12,4% No estudo da Mayo Clinic31, realizado em
vs. 5,6%, e eventos/ano de 6% vs. 2,7%.26 1.427 diabéticos assintomáticos, a perfusão mio-
Cintilografia miocárdica com MIBI ou Tl-201 cárdica SPECT com MIBI foi anormal em 58%
de esforço ou após infusão de droga (adenosina, dos pacientes. Destes, 18% foram considerados de
dipiridamol e dobutamina) alto risco (área de isquemia extensa ou fibrose as-
O estudo da perfusão miocárdica (SPECT, “sin- sociada).
84 gle-photon emission computed tomography”) com As diferenças entre os estudos DIAD e da
MIBI normal equivale ao risco anual de eventos Mayo Clinic decorreram dos critérios adotados na
RSCESP cardiovasculares < 1% em não-diabéticos, mas em seleção de pacientes. No estudo da Mayo Clinic,
ABR/MAI/JUN 2007
STEFANINI E e cols.
Diagnóstico de
isquemia miocárdica
silenciosa no diabético
85
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
STEFANINI E e cols.
Diagnóstico de
isquemia miocárdica
DIAGNOSIS OF SILENT MYOCARDIAL ISCHEMIA
silenciosa no diabético IN DIABETIC PATIENTS
EDSON STEFANINI
EMÍLIO MONTUORI NETO
SERGIO FERREIRA DE OLIVEIRA
88
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
Postprandial glycemia
POSTPRANDIAL GLYCEMIA AND CARDIOVASCULAR and cardiovascular
DISEASE IN DIABETES MELLITUS disease in
diabetes mellitus
The postprandial state is a factor for the development of atherosclerosis. The association of
postprandial hyperglycemia and dyslipidemia with atherosclerosis (indicated by an early
intima-media thickness of the carotid) supports the concept that macrovascular
complications are a postprandial phenomenon. Epidemiological and interventional
evidences are highly suggestive of the association of postprandial hyperglycemia and
atherosclerosis. The postprandial glycemia can be considered a marker of cardiovascular
risk.
Key words: diabetes mellitus, impaired fasting glucose, glucose intolerance, cardiovascular
disease, postprandial glycemia.
Figure 1. Meta-regression curves and 95% CIs (confidence intervals) of fasting and 2h glucose values
(compared with the reference fasting glucose of 72 mg/dl) vs RR (relative risk) of CV events. (Modified
from Coutinho et al.14)
adolescents with diabetes in whom the majority the best fit for the data, compared with the
have suboptimal blood glucose control. This is one reference fasting glucose of 75 mg/dl (RR = 1.0):
of the main reasons, besides prevention, delay, or a fasting glucose of 110 mg/dl, the threshold value
arrest of microangiopathic complications, why the for the classification of impaired fasting (at the
correction of hyperglycemia is the primary aim in time the study was performed), was associated
diabetes care, a poor control of hyperglycemia with a relative risk (RR) of cardiovascular events
appearing to play a significant role in the of 1.33 (95% CI 1.06-1.67); a 2-hour glucose of
development of cardiovascular disease (CVD) in 140 mg/dl, the threshold value for impaired
diabetes10. glucose tolerance, was associated with a RR of
In patients with well controlled diabetes cardiovascular events of 1.58 (95% CI 1.19-2.10).
(HbA1c < 7%, or within 1% of normal) or glucose After removal of any glucose values in the diabetic
intolerance (normal FPG and a 2-hour plasma range, the exponential relationship was
glucose of 140 to 200 mg/dl, after 75 g oral maintained, there was a suggestive trend (p =
glucose), postprandial hyperglycemia has a greater 0.056) between fasting glucose and cardiovascular
effect on HbA1c than FPG as shown by Monnier events, as there was a significant relationship
and Colette11 who observed, by using the diurnal between 2-hour glucose (p = 0.00064) and
glycemic profile, that PPG is the predominant cardiovascular events. This and other studies
contributor in patients with satisfactory to good provide support for the hypothesis that non diabetic
control of diabetes, whereas the contribution of degrees of fasting and postprandial hyperglycemia
FPG increases with worsening diabetes. Therefore, are associated with CVD and that dysglycemia (ie,
in patients with elevated HbA1c, the PPG may play any persistent elevation in glycemia) is a
a disproportionate lesser role in the genesis of both cardiovascular risk factor. Glucose is a continuous
microvascular and macrovascular complications risk factor for CVD, in both diabetic and
of diabetes12. nondiabetic people, the risk extending below
Several epidemiological studies in the past 20 impaired fasting and impaired glucose tolerance
years have shown an association between the 2- cutoffs. Therefore, dysglycemia should be added
hour plasma glucose, post 75 g oral glucose load, to the list of established continuous cardiovascular
and the occurrence of CVD in the general risk factors, such as blood pressure, and LDL-
population13. A meta-analysis of published data cholesterol. Postprandial plasma glucose appears
from 20 studies of 95,783 individuals who had to be the earliest dysglycemic marker for CVD
3,707 cardiovascular events over 12.4 years risk15. In the similar way, the relationship between
confirmed the association between 2-hour glucose HbA1c, CVD and total mortality were evaluated
90 levels after an oral glucose load and incident
cardiovascular events14. In Figure 1, it is indicated
in The Norfolk cohort of the European Prospective
Investigation into cancer and nutrition (EPIC-
RSCESP the exponential regression model which provided Norfolk), being followed 4,662 men and 5,570
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
women who were 45 to 79 years and residents of response during the hyperglycemic clamp, Postprandial glycemia
Norfolk, United Kingdom. HbA1c and CVD risk characterizes the postprandial hyperglycemia as and cardiovascular
factors were assessed from 1995 to 1997 and CVD well the impaired fasting glucose (IFG) while
events and mortality assessed during the follow- subjects with elevated PPG also have impaired
disease in
up period to 2003. In men and women, the late-phase insulin secretion, after 20 minutes of diabetes mellitus
relationship between HbA1c and CVD (806 that clamp. Furthermore, subjects with post-
events) and between HbA1c and all-cause prandial hyperglycemia have marked peripheral
mortality (521 deaths) was continuous and insulin resistance with only mild hepatic insulin
significant throughout the whole distribution. The resistance. On the other hand, in IFG there is severe
relationship was apparent in persons without hepatic insulin resistance and normal or near-
known diabetes. Persons with HbA1c less than 5% normal clamp-determined peripheral insulin
had the lowest rates of CVD and mortality. An sensitivity18, 19. Despite late hyperinsulinemia, at
increase in HbA1c of 1% was associated with a 30 minutes after an oral glucose challenge, the
RR of death from any cause of 1.24 (95% CI 1.14 impaired glucose tolerance results primarily from
to 1.34; p < 0.001) in men and with a RR of 1.28 reduced suppression of hepatic glucose output due
(95% CI 1.06 to 1.32; p < 0.001) in women. These to abnormal pancreatic islet-cell function (smaller
RRs were independent of age, body mass index, increases in plasma insulin and smaller reductions
waist-to-hip ratio, systolic blood pressure, serum in plasma glucose in comparison with normal
cholesterol, cigarette smoking and history of CVD. subjects, both p < 0.01)20.
Fifteen percent (68 of 521) of the death in the
sample occurred in diabetics but 72% (375 of 521) DELETERIOUS EFFECTS OF THE
occurred in persons with HbA1c between 5% and POSTPRANDIAL HYPERGLYCEMIC
6.9%. However, whether HbA1c concentrations EXCURSIONS
and CVD are causally related cannot be concluded
from an observational study16. Most cardiovascular risk factors are affected
Of interest are the patients with isolated directly by an acute increase of glycemia such as21:
postprandial hyperglycemia, in whom about a – Increase in LDL oxidation.
twofold risk of CVD was found17. – Endothelial dysfunction (vasoconstriction and
Two important questions arise from these decreased vasodilating response to stimuli)
observations as put forward by Heine and probably linked with a reduced production/
Dekker 13: Is postprandial hyperglycemia an bioavailability of nitric oxide (NO), since
independent risk factor (i.e, causally related) to hyperglycemia-induced endothelial dysfunction
CVD, to which the enhanced risk can fully be is counterbalanced by arginine.
attributed? If so, do we need to consider the – Increased production of collagen from the
enhanced meal-related glucose excursions as a mesangial cell.
treatment target in patients with DM2? – Activation of blood coagulation that is likely
Alternatively, post prandial hyperglycemia to cause thrombosis.
might just be a marker for the increased risk of – Increase in blood pressure.
CVD. In that case other factors need to be – Increase in the circulating levels of
identified which can explain the epidemiological intracellular adhesion molecule 1 (ICAM-1),
observations. thus activating one of the first stages of the
From the presently available data, since the atherogenic process.
review from Heine and Dekker was published in – Increase in inflammation: increased
200213, epidemiological and observational studies, production of plasma interleukin-6,
it can be stated that despite postprandial interleukin-18 and tumor necrosis factor-
hyperglycemia being an independent risk factor (TNF-), considering that the concept of
for CVD other metabolic risk factors frequently atherosclerosis as an inflammatory disease
associated with the postprandial state, such as high even in diabetes is now well established.
concentrations of triglyceride-rich lipoproteins, are – Increase in oxidative stress: hyperglycemia
also present13. induces an overproduction of superoxide by the
mitochondrial electron-transport chain.
MECHANISMS OF POSTPRANDIAL Superoxide overproduction is accompanied by
HYPERGLYCEMIA increased NO generation, due to endothelial
NO synthase (eNOS) and inducible NO
The loss of the acute (0-10 minutes) insulin
secretion, after an intravenous glucose injection,
synthase (iNOS) uncoupled state, favoring the
formation of the strong oxidant peroxynitrite,
91
which correlates with the first-phase insulin which in turn damages DNA. DNA damage RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
Postprandial glycemia will result in acute endothelial dysfunction that, concentrations between dinner and bedtime. The long
and cardiovascular convincingly, contributes to the development duration of the so-called post-prandial state can
of CVD. Several indirect (use of antioxidants) probably be explained by the insulin resistant state
disease in and direct (estimate of the effects of acute (Fig. 2). Postprandial hyper-triglyceridemia and the
diabetes mellitus hyperglycemia on oxidative stress markers, associated atherogenic alterations of the lipoproteins
such as nitrotyrosine overgeneration,which is are considered to be part of the insulin resistant state22
an independent predictor of CVD) evidences also found in the postprandial hyperglycemic state,
support the concept that acute hyperglycemia as indicated before.
works through the production of an oxidative In an observational study of 145 DM2 patients
and nitrosative stress. The presence of oxidative and 30 nondiabetic subjects of the same
stress also activates pathways regulated by the geographical area (near Naples, Italy), 61% of
transcription factor nuclear factor-kappa (NF- DM2 had TG values higher than 200 mg/dl (a value
), which is known to have a central role in found to be linked to a greater intima-media
the pathogenesis of late diabetic complications. thickness of the carotid artery in DM2, as observed
Other known effects of postprandial by Teno et al.22) 3 hours after lunch and 49% before
hyperglycemia peaks are the reduction in retinal dinner; 23% of the diabetics had normal fasting
perfusion and increase in the glomerular filtration values(< 150 mg/dl). In the control group the
rate. percentage of subjects with a TG value above 200
mg/dl, 3 hours after lunch and before dinner was
POSTPRANDIAL TRIGLYCERIDE 17%23.
CONCENTRATIONS AS PREDICTORS There is the question of whether postprandial
OF CVD hypertriglyceridemia, which rises concomitantly
with postprandial hyperglycemia is a true CVD
Plasma triglyceride (TG) levels are generally risk factor13. However, evidence suggests that
increased for 3-6 hours after a meal and once postprandial hypertriglyceridemia and hyper-
postprandial hypertriglyceridemia occurs it is glycemia independently induce endothelial
exacerbated by the next meal and persists for the dysfunction through oxidative stress24. The known
entire day. In effect, postprandial hyper- inverse association between HDL-cholesterol and
triglyceridemia is a frequent feature in DM2, even in TG makes it very difficult to determine whether
patients with apparently normal fasting TG values TG are an independent risk factor for
of less than 2.2 mmol/l (< 195 mg/dl). After breakfast atherosclerotic vascular disease. A meta-analysis
the TG concentrations gradually rise to peak including data of 46,413 men and 10,864 women
Figure 3. Relative risk for all-cause mortality in subjects not known as diabetic (Diabetes Epidemiology:
Collaborative analysis of Diagnostic criteria in Europe – DECODE). (Adapted from The DECODE
Study Group31.)
* Hazard ratio (95% CI) could not be calculated because of zero event for acarbose group.
Figure 5. Effect of acarbose on the development of cardiovascular disease.41
CI = confidence interval.
the repaglinide group than in the glibenclamide received an oral glucose load (50 g) preceded by
group. The reduction in carotid intima-media either human regular insulin, reaching a peak of
thickness was associated with changes in 259 + 22 mg/dl at 100 minutes, or rapid but short-
postprandial but not fasting hyperglycemia, acting insulin lispro, the peak being earlier (80
suggesting that treating postprandial minutes) and lower (229 + 27mg/dl; p < 0.01), both
hyperglycemia may positively affect the given in a dose of 0.075 U/kg lean body mass45.
development of CVD43.
A similar study was performed in 8 DM2
Basal plasma glucose, insulin and endogenous
glucose production were similar in both occasions.
95
patients on two different occasions when they After the ingestion of plasma glucose, the RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
Postprandial glycemia
and cardiovascular
disease in
diabetes mellitus
Figura 6. Atherosclerosis regression in the carotid (CIMT reduction after 12 months) after postprandial
glucose control in type 2 diabetic patients.43
CIMT = carotid intima-media thickness.
Figure 7. Reduction in CIMT is associated with changes postprandial (PPG) but not with fasting (FPG)
glucose.43
CIMT = carotid intima-media thickness.
incremental glucose area under the curve was 46% in the overall rate of glucose disposal. During the
lower with lispro in comparison with regular initial 90 minutes, however, the rate of endogenous
insulin (p < 0.01) (Fig. 8). However, in spite of glucose production was suppressed in a prompter
comparable incremental areas of plasma insulin and more profound manner when lispro was
under the curve, the time course of plasma insulin administered (p < 0.05), while there was no
concentration was significantly different: after difference in the late prandial phase (Fig. 9). The
regular insulin, plasma insulin peaked at 120 authors45 concluded that an early rise in plasma
minutes while with lispro, the peak occurred at 60 insulin levels after the ingestion of glucose load is
96 minutes with higher insulin levels. Plasma glucose
kinetics indicated no difference in the two studies
associated with a significant improvement in
glucose tolerance due to a prompter, though short-
RSCESP in the rate of appearance of ingested glucose and lived, suppression of endogenous glucose
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
Postprandial glycemia
and cardiovascular
disease in
diabetes mellitus
Figure 8. AUC of plasma glucose (A) and insulin (B) after oral 50 g of glucose preceded by 0.075 U/kg
LBM of regular insulin and lispro insulin.45
AUC = area under the curve; LBM = lean body mass.
Figure 9. Time course of rate of appearance of oral glucose (A), rate of glucose disappearance (B) and
rate of endogenous glucose production (C) after oral 50 g of glucose preceded by 0.075 U/kg LBM of
regular ( ) and lispro (䢇) insulin.45
97
LBM = lean body mass. RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
Postprandial glycemia production. The amelioration in plasma glucose GLP-1 have emerged as a therapeutic strategy for
and cardiovascular profile prevents late hyperglycemia and enhancing GLP-1 action “in vivo” (incretin
hyperinsulinemia. Therefore, restoration of a more enhancers), particularly as they can be taken orally,
disease in physiologic profile of prandial plasma insulin once-daily dosing regimen. Presently two DPP-
diabetes mellitus profile represents a rational approach for treatment IV inhibitors, Sitagliptin (Januvia) and Vildagliptin
of postprandial hyperglycemia. (Galvus) will be available shortly, particularly the
first one.
CONCLUSIONS The effects of DDP-IV inhibition could be
mediated not only by GLP-1 but also by other
New antidiabetic drugs such as incretin mediators of the glucose-lowering actions of DPP-
mimetics and incretin enhancers target the IV inhibition in clinical studies, since it causes
suppression of postprandial hyperglycemia. In little increase in circulating endogenous GLP-1
effect, glucagons-like peptide-1 (GLP-1) receptor (while in GLP-1 receptor agonists the effect
agonists (mimetics) enhance insulin release when corresponds to that of pharmacological
glucose concentrations are elevated, suppress concentrations of native GLP-1), has little effect
postprandial glucagon secretion, in addition to on gastric emptying, does not cause nausea/
slowing gastric emptying and promoting satiety46. vomiting like GLP-1 and GLP-1 agonists, and it
The significant attenuation of post-meal is not associated with weight loss.50
hyperglycemia after the incretin mimetic As indicated with the incretin mimetics, both
(exenatide) injection was related to the reduction enhancers have similar clinical efficiency in
in the rate of oral glucose appearance in the reducing postprandial glucose excursions by
systemic circulation and enhancement of the improving beta-cell function with enhanced
suppression of endogenous glucose production: postprandial insulin secretion.
half of the decrease in endogenous glucose The epidemiological and intervention studies
production results from the inhibition of glucagon presented in the article support the conclusion that
secretion and half from increased insulin postprandial hyperglycemia in impaired glucose
secretion47. Finally, it was shown that the incretin tolerance and diabetic subjects is a more powerful
mimetics enhanced postprandial beta-cell function marker of CVD risk than fasting hyperglycemia
in patients with DM2 treated with metformin or then the treatment directed at specifically lowering
metformin and sulfonylurea.48, 49 postprandial glucose is crucial, as underlined by
Finally, the dipeptidyl peptidase-IV (DPP-IV) the American Diabetes Association1.
inhibitors preventing the degradation of native
98
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
Postprandial glycemia
GLICEMIA PÓS-PRANDIAL E DOENÇA and cardiovascular
CARDIOVASCULAR NO DIABETES MELITO disease in
diabetes mellitus
REFERENCES 2002;25:275-2.
6. Kannel WB, McGee DL. Diabetes and
1. American Diabetes Association. Postprandial cardiovascular disease. The Framingham study.
blood glucose. Diabetes Care. 2001;24:775-8. JAMA. 1979;241:2035-8.
2. UK Prospective Diabetes Study (UKPDS) 7. Lehto S, Ronnemaa T, Pyorala K, Laakso M.
Group. Intensive blood-glucose control with Cardiovascular risk factors clustering with
Sulphonylureas or insulin compared with endogenous hyperinsulinemia predict death
conventional treatment and risk of from coronary heart disease in patients with
complications in patients with type 2 diabetes type II diabetes. Diabetologia. 2000;43:148-
(UKPDS 33). Lancet. 1998;352:837-53. 55.
3. Avignon A, Radauceanu A, Monnier L. 8. Dahl-Jorgensen K, Larsen JR, Hanssen KF.
Nonfasting plasma glucose is a better marker Atherosclerosis in childhood and adolescent
of diabetic control than fasting plasma glucose type 1 diabetes: early disease, early treatment.
in type 2 diabetes. Diabetes Care. Diabetologia. 2005;48:1445-53.
1997;20:1822-6. 9. Bierman EL. Atherogenesis in diabetes.
4. El-Kebbi JM, Ziemer DC, Cook CB, Gallina Arterioscler Thromb. 1992;12:647-56.
DL, Barnes CS, Phillips LS. Utility of casual 10. Laakso M. Hyperglycemia and cardiovascular
postprandial glucose levels in type 2 diabetes disease in type 2 diabetes. Diabetes.
management. Diabetes Care. 2004;27:335-9. 1999;48:937-2.
5. Rohlfing CL, Wiemeyer HM, Little RR, England 11. Monnier L, Colette C. Contributions of fasting
JD, Tennill A, Goldstein DE. Defining the and postprandial glucose to hemoglobin A1c.
relationship between plasma glucose and Endocr Pract. 2006;12 Suppl 1:42-6.
HbA(1c): analysis of glucose profiles and
HbA(1c) in the Diabetes Control and
12. Bell DS. Importance of postprandial glucose
control. South Med J. 2001;94:804-9.
99
Complications Trial. Diabetes Care. 13. Heine RJ, Dekker JM. Beyond postprandial RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
Postprandial glycemia hyperglycemia: metabolic factors associated 25. Hokanson JE, Austin MA. Plasma triglyceride
and cardiovascular with cardiovascular disease. Diabetologia. level is a risk factor for cardiovascular disease
2002;45:461-75. independent of high-density lipoprotein
disease in 14. Coutinho M, Gerstein HC, Wang Y, Yusuf S. cholesterol level: a meta-analysis of
diabetes mellitus The relationship between glucose and incident population-based prospective studies. J
cardiovascular events. A metaregression Cardiovasc Risk. 1996;3:213-9.
analysis of published data from 20 studies of 26. Stampfer MJ, Krauss RM, Ma J, Blanche PJ,
95,783 individuals followed for 12.4 years. Holl LG, Sacks FM, et al. A prospective study
Diabetes Care. 1999;22:233-40. of triglyceride level, low-density lipoprotein
15. Gerstein HC. Is glucose a continuous risk factor particle diameter, and risk of myocardial
for cardiovascular mortality. Diabetes Care. infarction. JAMA. 1999;276:882-8.
1999;22:659-60. 27. Wolever TMS, Chiasson JL, Csima A, Hunt
16. Khaw K-T, Wareham N, Bingham S, Luben R, JA, Palmason C, Ross SA, et al. Variation of
Welch A, Day N. Association of Hemoglobin postprandial plasma glucose, palatability, and
A1c and cardiovascular disease and mortality symptoms associated with a standardized
in adults: The European Prospective mixed meal versus 75 g oral glucose. Diabetes
Investigation into Cancer in Norfolk. Ann Care. 1998;21:336-40.
Intern Med. 2004;141:413-20. 28. de Vegt F, Dekker JM, Ruhè HG, Stehouwer
17. Barrett-Connor E, Ferrara A. Isolated CDA, Nijpels GBLM, Heine RJ.
postchallenge hyperglycemia and the risk of Hyperglycemia is associated with all-cause and
fatal cardiovascular in older women and men. cardiovascular mortality in the Hoorn
The Rancho Bernardo Study. Diabetes Care. population: the Hoorn Study. Diabetologia.
1998;21:1236-9. 1999;42:926-31.
18. Abdul-Ghani MA, Tripathy D, DeFronzo RA. 29. Donahue RP, Abbott RD, Reed DM, Yano K.
Contributions of â-cell dysfunction and insulin Postchallenge glucose concentration and
resistance to the pathogenesis of impaired coronary heart disease in men of Japanese
glucose tolerance and impaired fasting glucose. ancestry: Honolulu Heart Program. Diabetes.
Diabetes Care. 2006;29:1130-9. 1897;36:689-92.
19. Meyer C, Pimenta W, Woerle HJ, Haeften TV, 30. Lowe LP, Liu K, Greenland P, Metzger BE,
Szose E, Mitrakou A, Gerich J. Different Dyer AR, Stamler J. Diabetes, asymptomatic
mechanisms for impaired fasting glucose and hyperglycemia, and 22-year mortality in black
impaired postprandial glucose tolerance in and white men: the Chicago Heart Association
humans. Diabetes Care. 2006;29:1909-4. Detection Project in Industry study. Diabetes
20. Mitrakou A, Kelley D, Mokan M, Veneman T, Care. 1997;20:163-9.
Pangburn T, Reilly J, Gerich J. Role of reduced 31. The DECODE Study Group, the European
suppression of glucose production and diminished Diabetes Epidemiology Group. Glucose
early insulin release in impaired glucose tolerance. tolerance and mortality: comparison of WHO
N Engl J Med. 1992;326:22-9. and American Diabetes Association diagnostic
21. Ceriello A. Postprandial hyperglycemia and criteria. Lancet. 1999;354:617-21.
diabetes complications. Is it time to treat? 32. The DECODE study group on behalf of the
Diabetes. 2005;54:1-7. European Diabetes Epidemiology Group.
22. Teno S, Uto Y, Nagashima H, Endoh Y, Glucose tolerance and cardiovascular
Iwamoto Y, Omori Y, et al. Association of mortality. Comparison of fasting and 2-h
postprandial hypertriglyceridemia and carotid diagnostic criteria. Arch Intern Med.
intima-media thickness in patients with type 2 2001;161:397-404.
diabetes. Diabetes Care. 2000;23:1401-6. 33. Balkau B, Shipley M, Jarrett RJ, Pyörälla K,
23. Iovine C, Vaccaro O, Gentile A, Romano G, Pyörälla M, Forhan A, et al. High blood glucose
Pisanti F, Riccardi G, et al. Post-prandial concentration is a risk factor for mortality in
triglyceride profile in a population-based middle-aged nondiabetic men: 20-year follow-
sample of type 2 diabetic patients. up in the Whitehall Study, the Paris Prospective
Diabetologia. 2004;47:19-22. Study, and the Helsinki Policemen Study.
24. Ceriello A, Motz E. Is oxidative stress the Diabetes Care. 1998;21:360-7.
pathogenic mechanism underlying insulin 34. Hanefeld M, Fischer S, Julius U, Schulze J,
resistance, diabetes, and cardiovascular Schwanebeck U, Schmechel H, et al., the DIS
100 disease? The common soil hypothesis revisited.
Arterioscler Thromb Vasc Biol. 2004;24:816-
Group. Risk factors for myocardial infarction
and death in newly detected NIDDM: the
RSCESP 23. Diabetes Intervention Study, a 11-year follow-
ABR/MAI/JUN 2007
WAJCHENBERG BL
up. Diabetologia. 1996;39:1577-83. R, for the Campanian Post-prandial Postprandial glycemia
35. Hanenfeld M, Koehler C, Schaper F, Fuecker Hyperglycemia Study Group. Regression of and cardiovascular
K, Henkel E, Temelkova-Kurktschiev T. carotid atherosclerosis by control of postprandial
Postprandial plasma glucose is an independent hyperglycemia in type 2 diabetes mellitus.
disease in
risk factor for increased carotid intima-media Circulation. 2004;110:214-9. diabetes mellitus
thickness in non-diabetic individuals. 44. Cozma LS, Luzio SD, Dunseath GJ, Langendorg
Atherosclerosis. 1999;144:229-35. KW, Pieber T, Owens DR. Comparison of the
36. Brownlee M. The pathobiology of diabetic effects of three insulinotropic drugs on plasma
complications. A unifying mechanism. insulin levels after a standard meal. Diabetes
Diabetes. 2005;54:1615-25. Care. 2002;25:1271-6.
37. Koya D, King GL. Protein kinase C activation 45. Bruttomesso D, Pianta A, Mari A, Valerio A,
and the development of diabetic complications. Marescotti M-C, Avogaro A, et al. Restoration
Diabetes. 1998;47:859-66. of early rise in plasma insulin levels improves
38. Vinik A. The protein kinase C-â inhibitor, the glucose tolerance of type 2 diabetic patients.
ruboxistaurin, for the treatment of diabetic Diabetes. 1999;48:99-105.
microvascular complications. Expert Opin 46. Baggio LL, Drucker DJ. Incretin hormones in
Investig Drugs. 2005;14:1547-59. the treatment of type 2 diabetes: therapeutic
39. Report of the Expert Committee on the applications of DPP-IV inhibitors. Medscape
Diagnosis and Classification of Diabetes Diabetes & Endocrinology. 2006;8:1-5.
Mellitus. Diabetes Care. 1998;22 Suppl 1:S5- 47. Wajcberg E, Triplitt C, Sriwijitkamol A, De
S19. Fronzo R, Cerosimo E. Contribution of glucagon
40. Chiasson JL, Josse RG, Gomis R, Hanefeld suppression to improved postprandial
M, Karasik A, Laakso M, the STOP-NIDDM hyperglycemia induced by exenatide in patients
Trial Research Group. Acarbose for prevention with TT2MM [Abstract 118-OR]. Diabetes.
of type 2 diabetes: the STOP-NIDDM 2006;55 Suppl 1:A28.
randomized trial. Lancet. 2002;359:2072-7. 48. Mari A, Halseth A, Nanayakkara N, Nielsen L,
41. Chiasson JL, Josse RG, Gomis R, Hanefeld DeFronzo R, Ferrannini E. Mathematical
M, Karasik A, Laakso M, the STOP-NIDDM modeling shows exenatide improved
Trial Research Group. Acarbose treatment and postprandial -cell function in patients with type
the risk of cardiovascular disease and 2 diabetes treated with metformin or metformin
hypertension in patients with impaired glucose and sulfonylurea [Abstract 482-P]. Diabetes.
tolerance: the STOP-NIDDM trial. JAMA. 2005;54 Suppl 1:A119.
2003;290:486-94. 49. Mari A, Degn K, Brock B, Rungby J, Ferrannini
42. Hanefeld M, Chiasson JL, Koehler C, Henkel E, Schmitz O. Characterization of beta-cell
E, Schaper F, Temelkova-Kurktschiev T. function improvement by liraglutide: modeling
Acarbose slows progression of intima-media analysis of 24-h tests [Abstract 522 –P].
thickness of the carotid arteries in subjects with Diabetes. 2006;55 Suppl 1:A124.
impaired glucose tolerance. Stroke. 50. Drucker DJ. DPP-4 inhibitors in the management
2004;35:1073-8. of type 2 diabetes. Mechanisms in Medicine Inc.;
43. Esposito K, Giugliano D, Nappo F, Marfella 2006. p. 59.
101
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
OLIVEIRA SF
Papel da
hiperglicemia no
PAPEL DA HIPERGLICEMIA NO INFARTO
infarto agudo AGUDO DO MIOCÁRDIO
do miocárdio
The acute myocardial infarction in diabetic patients is related to higher level of mortality in
relation to non-diabetic patients. Recently the role of hyperglycemia as an acute myocardial
infarction prognosis determinant has been described. Acute hyperglycemia increases
mortality mainly in non-diabetic patients. The optimal glycemic control in 24 hours
improves the prognosis. Glycemic levels above 170 mg/dl were related to bad evolution in
non-diabetic patients. Glycemic and glicated hemoglobin changes above 50 mg/dl and 2%,
respectively, increases mortality in 20%.
105
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
CHAVES AJ e cols.
Revascularização
miocárdica no paciente
REVASCULARIZAÇÃO MIOCÁRDICA NO
diabético: intervenção PACIENTE DIABÉTICO: INTERVENÇÃO
coronariana percutânea
CORONARIANA PERCUTÂNEA
O diabetes melito é uma doença metabólica complexa, presente em 20% a 30% dos
indivíduos que necessitam revascularização miocárdica. Dados da literatura confirmam a
superioridade da revascularização cirúrgica em relação à angioplastia com balão em
diabéticos com doença multiarterial. A intervenção coronariana percutânea com o implante
de stents diminuiu a vantagem da cirurgia, mas a necessidade de reintervenções ainda é
maior com a angioplastia. Mais recentemente, os stents farmacológicos tornaram-se a
intervenção percutânea de escolha no tratamento da doença coronariana, pela notável
redução da reestenose coronariana e da revascularização do vaso-alvo, quando comparados
aos stents não-farmacológicos. A segurança dessas próteses, entretanto, tem sido
questionada ultimamente, no que diz respeito à ocorrência da trombose tardia do stent,
evento raro mas de conseqüências potencialmente graves. Recentemente, a “Food and Drug
Administration” (FDA, agência governamental americana que controla o setor de alimentos
e remédios) reconheceu que os benefícios dos stents farmacológicos suplantam o pequeno
risco de trombose tardia nas indicações aprovadas para seu uso (“on-label”). Pacientes com
lesões complexas, especialmente aqueles com lesões em bifurcações, lesões que exijam o
implante de stents com sobreposição das bordas (“overlapping”) ou lesões com trombos,
têm maior risco de trombose do stent, óbito ou infarto agudo do miocárdio e devem ter seu
tratamento individualizado, após a consideração dos riscos e benefícios do procedimeto.
Para resolver o problema da trombose dos stents farmacológicos, stents de segunda geração,
com novos fármacos antiproliferativos, diferentes sistemas de liberação que substituam os
polímeros duráveis e plataformas mecânicas inovadoras, já estão sendo avaliados.
111
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
CHAVES AJ e cols.
Revascularização
miocárdica no paciente
MYOCARDIAL REVASCULARIZATION IN
diabético: intervenção DIABETIC PATIENTS: PERCUTANEOUS
coronariana percutânea
CORONARY INTERVENTION
114
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
DALLAN LAO
e cols.
REVASCULARIZAÇÃO CIRÚRGICA DO MIOCÁRDIO Revascularização
NO PACIENTE DIABÉTICO cirúrgica do
miocárdio no
paciente diabético
LUÍS ALBERTO O. DALLAN, FERNANDO PLATANIA,
LUCIANO J. CARNEIRO, NOEDIR G. STOLF
Veia safena
Na década de 1970, a veia safena magna foi o
enxerto mais freqüentemente utilizado na revas-
cularização do miocárdio. Sua remoção de um ou
de ambos os membros inferiores é realizada si-
multaneamente à toracotomia. Outras vantagens
desse enxerto incluem extensão suficiente para
múltiplos enxertos, possibilidade de anastomoses
seqüenciais e fácil obtenção e uso em casos emer-
genciais, como isquemia aguda ou complicações
de angioplastia. A principal desvantagem do en-
xerto de veia safena está na sua degeneração, com
o passar do tempo. Já nos primeiros meses após
instalada, observa-se hiperplasia de sua camada A
íntima. Após três anos, existe infiltração lipídica Figura 3. A) Utilização das duas artérias toráci-
de sua parede e, transcorridos cinco anos, boa por- cas internas na revascularização do miocárdio.
centagem desses enxertos apresenta processo es- Observa-se aqui a artéria torácica interna esquer-
clerótico progressivo, especialmente em pacien- da anastomosada diretamente ao ramo interven-
tes diabéticos e hipercolesterolêmicos. tricular anterior da coronária esquerda. A artéria
O comprometimento dos enxertos venosos e a torácica interna direita foi anastomosada ao ramo
progressão da doença aterosclerótica nas artérias marginal esquerdo da artéria circunflexa. B) No
nativas são responsáveis por 67,9% da recorrên- reestudo cinecoronariográfico pós-operatório, ob-
cia anginosa em pacientes que necessitaram nova serva-se a disposição dos enxertos e as anastomo-
revascularização do miocárdio25. ses pérvias.
Outro problema do emprego da veia safena em ATID = artéria torácica interna direita; Ao = aorta;
pacientes diabéticos relaciona-se às complicações ATIE = artéria torácica interna esquerda; ME = ramo
infecciosas e de cicatrização dos membros inferi- marginal esquerdo da coronária circunflexa; RIA =
ores. Relatos de até 22% de infecção relacionados ramo interventricular anterior da coronária esquerda.
à extração de veia sanefa enfatizam essa possibi-
lidade26. O “pé diabético”, por si só, já é sede de B
lesões distróficas, sujeitas a complicações neuro-
lógicas e infecciosas. Dentre elas, destacam-se
neuropatia (com alterações de sensibilidade), dé-
ficit motor e áreas associadas de isquemia27.
Um avanço recente na obtenção da veia safena
é a possibilidade de sua retirada de modo mini-
mamente invasivo. Com o auxílio de extratores
providos de iluminação e de clipes metálicos, são
realizadas três ou quatro incisões de poucos cen-
tímetros, diminuindo a morbidade do procedimen-
to.
A
Figura 4. A) Enxerto combinado de artéria radial
com artéria torácica interna esquerda, em “Y” ar-
tificial. A artéria torácica interna esquerda foi anas-
tomosada diretamente ao ramo interventricular
anterior da coronária esquerda. B) A artéria radial
foi anastomosada em “Y” com a artéria torácica
interna e conduzida à parede póstero-lateral do
coração, onde foi anastomosada a três ramos mar-
ginais da coronária circunflexa (setas).
ATIE = artéria torácica interna esquerda; AR = ar-
téria radial; RIA = ramo interventricular anterior.
B
querda, de maneira término-lateral, constituindo Endarterectomia coronariana
um “Y” artificial. A seguir, a artéria torácica in- Quando a artéria coronária está difusamente
terna esquerda é anastomosada ao ramo interven- lesada ou completamente ocluída, porém relacio-
tricular anterior da artéria coronária esquerda, en- nada à área de miocárdio viável, pode-se obter a
quanto o outro enxerto arterial é anastomosado em revascularização completa realizando-se sua en-
seqüência para um ou mais ramos coronários da darterectomia36 (Fig. 6).
parede lateral do coração (Fig. 4). A técnica reve- Esse procedimento deve ser acompanhado da
la grande versatilidade, permitindo atingir ramos confecção de enxerto para o leito arterial rema-
arteriais posteriores ainda com calibre adequado nescente. Quando se tratar do ramo interventricu-
(Fig. 5). lar anterior da artéria coronária esquerda, em tese,
A
B
Figura 5. A) Enxerto combinado entre artéria torácica esquerda (pedículo) e artéria torácica direita
(livre), em “Y” artificial. A artéria torácica interna esquerda foi anastomosada diretamente ao ramo
interventricular anterior da coronária esquerda. A artéria torácica interna direita, utilizada como enxer-
to livre, foi anastomosada em “Y” artificial na torácica interna esquerda e anastomosada seqüencial-
mente a um ramo diagonal e a um ramo marginal. B) O reestudo cinecoronariográfico pós-operatório
mostra as anastomoses pérvias.
ATIE = artéria torácica interna esquerda; ATID = artéria torácica interna direita; RIA = ramo interven-
121
tricular anterior; DI = ramo diagonal; ME = ramo marginal esquerdo. RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
DALLAN LAO
e cols.
Revascularização
cirúrgica do
miocárdio no
paciente diabético
deve-se revascularizar com a artéria torácica in- bora sem interferência na mortalidade39, 40.
terna esquerda. Na prática, não é o que tem acon- Apesar de tecnicamente mais difícil, logra-se
tecido. Em extenso estudo que envolveu 2.501 revascularizar as artérias da parede anterior do co-
endarterectomias, observou-se que em apenas 30 ração e a artéria coronária direita dessa maneira.
(1,2%) pacientes empregou-se a artéria torácica Mesmo em pacientes multiarteriais, submetidos a
interna37. Isso se deve especialmente à extensão revascularização miocárdica completa e apenas
da incisão sobre a artéria coronária, que, muitas com enxertos arteriais, sem circulação extracor-
vezes, supera os 20 mm. Uma excelente opção pórea, a presença de diabetes não comprometeu a
nesses casos é empregar-se um retalho de veia sa- evolução a longo prazo, principalmente com rela-
fena, de modo a ampliar a artéria coronária endar- ção à perviedade dos enxertos.41
terectomizada, e, sobre esse retalho, anastomosar- É preciso destacar novamente a importância do
se a artéria torácica interna esquerda (Fig. 7). controle glicêmico e do adequado preparo pré-ope-
ratório dos diabéticos insulino-dependentes, pois,
NOVAS PERSPECTIVAS NA mesmo submetidos à revascularização cirúrgica sem
REVASCULARIZAÇÃO DO circulação extracorpórea, esses pacientes apresentam
PACIENTE DIABÉTICO maiores índices de complicações, principalmente
infecciosas, neurológicas e renais, embora não haja
Revascularização sem circulação diferença na mortalidade hospitalar.42
extracorpórea
São conhecidos os efeitos deletérios da circu- Técnicas minimamente invasivas
lação extracorpórea em pacientes diabéticos e ido- Há tendência atual na redução das incisões, es-
sos. Especialmente se prolongada, a circulação pecialmente evitando-se a esternotomia mediana
extracorpórea pode ocasionar problemas sobre completa. Nesse sentido, recentemente houve
vários sistemas, particularmente neurológico e grande impulso nas chamadas revascularizações
renal, e também sobre a homeostase da glicemia, do miocárdio minimamente invasivas. Correspon-
pela exacerbação do catabolismo38. dem a incisões de poucos centímetros na altura do
A revascularização miocárdica sem circula- quarto espaço intercostal do hemitórax esquerdo
ção extracorpórea minimiza esses problemas, com ou incisão apenas na porção inferior do esterno.
122 redução significativa de morbidade no pós-opera- Essas abordagens permitem a dissecção da artéria
RSCESP tório e menor tempo de internação hospitalar, em- torácica interna esquerda, com ou sem o auxílio
ABR/MAI/JUN 2007
DALLAN LAO
de videotoracoscopia, e sua anastomose com o larização cirúrgica48 ou a revascularização trans- e cols.
ramo interventricular anterior da artéria coronária miocárdica a “laser”49, a terapia celular tem deli- Revascularização
esquerda, sem circulação extracorpórea. neado, em seus primeiros resultados, futuro pro-
A cirurgia de revascularização do miocárdio missor para essa nova modalidade de tratamento.
cirúrgica do
minimamente invasiva tornou-se uma alternativa Os estudos, ainda em andamento, demonstram miocárdio no
para pacientes com lesão única da artéria inter- melhora clínica, melhora da perfusão miocárdica paciente diabético
ventricular anterior e para pacientes com lesões e redução dos sintomas, embora os mecanismos
multiarteriais, mas com problemas sistêmicos im- responsáveis ainda necessitem específica determi-
portantes, tais como insuficiência renal crônica, nação (Fig. 9).
anasarca, doença cerebrovascular, etc. Possibilita
recuperação mais rápida que a operação convencio-
nal, melhor resultado estético e menores custos.
Terapia celular
A terapia celular já se encontra em fase expe-
rimental em grandes centros, incluindo o Instituto RESULTADOS
do Coração do Hospital das Clínicas da Faculda-
de de Medicina da Universidade de São Paulo (In- Pacientes diabéticos freqüentemente apresen-
Cor/HC-FMUSP). Por meio de injeção direta no
miocárdio de células-tronco obtidas da medula
tam extenso comprometimento aterosclerótico co-
ronariano. Diversos trabalhos foram realizados, le-
123
óssea autóloga do paciente, associada a revascu- vando em consideração esses aspectos. Vários RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
DALLAN LAO
e cols. A
Revascularização
cirúrgica do
miocárdio no
paciente diabético
B
Figura 9. Injeção direta de células-tronco no músculo cardíaco (A), associada à revascularização cirúr-
gica direta de ramo coronário diagonal (B). Observa-se o local da aplicação das células em meio à área
infartada, localizada entre o ramo interventricular anterior da artéria coronária esquerda e seu ramo
diagonal, que foi revascularizado (seta).
deles compararam os resultados obtidos com a re- doença coronariana multiarterial53. Esses autores
vascularização clássica “versus” os procedimen- consideram os efeitos do diabetes similares no
tos de angioplastia. prognóstico do tratamento de ambos os grupos.
Em dois estudos, a história de diabetes foi as- Para eles, a escolha da estratégia da revasculari-
sociada a maior mortalidade entre cinco e oito anos zação inicial não deveria se basear exclusivamen-
após angioplastia transluminal coronariana, com- te na história de diabetes, mas levar em conside-
parada a pacientes sem diabetes50. Diabetes meli- ração outros fatores, tais como a condição angio-
to foi então identificado como fator de risco inde- gráfica e o estado clínico do paciente.
pendente para o desenvolvimento de reestenose Os dados do “Bypass Angioplasty Revascula-
após angioplastia transluminal coronariana com rization Investigation 2 in Diabetes” (BARI 2D)
balão ou implante de “stent”51. têm confirmado a menor incidência de infarto pós-
Em 1987, foi dado início ao estudo “Bypass operatório e a necessidade de reintervenção coro-
Angioplasty Revascularization Investigation” nariana nos pacientes submetidos a revasculariza-
(BARI) em pacientes com doença multivascular ção cirúrgica, em comparação com a angioplastia
associada a diabetes melito tratado. O BARI já de- transcutânea isolada54. A cirurgia oferece melho-
monstrou, no seguimento de cinco anos, taxa de res resultados mesmo em pacientes com angina
morbidade e mortalidade significativamente mai- estável ou assintomáticos com obstrução corona-
or nos pacientes submetidos a angioplastia trans- riana, desde que apresentem doença coronariana
luminal coronariana (34,5%), em comparação aos multiarterial, especialmente em coronária esquer-
submetidos a revascularização cirúrgica (19,4%; da, com padrão obstrutivo complexo e com fun-
p = 0,003)52. A perviabilidade a longo prazo da ção ventricular comprometida55.
artéria torácica interna esquerda contribuiu para Diversos estudos demonstram que as taxas de
esses resultados, reduzindo o infarto do miocár- mortalidade operatória são semelhantes entre pa-
dio. cientes diabéticos e não-diabéticos. No entanto,
Apesar dessas evidências, alguns autores, iso- os riscos de complicações infecciosas e necrose
ladamente, não confirmaram os resultados multi- de pele são observados com mais freqüência nos
124 cêntricos do BARI, quando se comparam os da-
dos de angioplastia transluminal coronariana e de
pacientes diabéticos56.
Em uma grande série retrospectiva de pacien-
RSCESP revascularização do miocárdio em pacientes com tes submetidos a revascularização miocárdica com
ABR/MAI/JUN 2007
DALLAN LAO
e sem circulação extracorpórea, o diabetes foi iden- des do ventrículo esquerdo são pareadas, as taxas e cols.
tificado como fator independente de risco para de sobrevida na revascularização cirúrgica do mi- Revascularização
prolongamento da internação na terapia intensiva, ocárdio são semelhantes entre pacientes diabéti-
instabilidade e/ou infecção de esterno, insuficiên- cos e não-diabéticos. Entretanto, é possível que o
cirúrgica do
cia respiratória, “delirium” pós-operatório, aciden- diabetes contribua para o reaparecimento de angi- miocárdio no
te vascular cerebral, insuficiência renal e necessi- na em seu seguimento. paciente diabético
dade de reintubação orotraqueal para ventilação Existem controvérsias sobre o fluxo obtido por
mecânica prolongada.57 meio dos enxertos venosos em pacientes diabéti-
Entretanto, Herlitz e colaboradores58 observa- cos. Verska e Walker64 não observaram redução
ram, ao final de dois anos, mortalidade duas vezes estatística no fluxo pelas pontes de veia safena em
superior em pacientes diabéticos revascularizados, pacientes diabéticos. Chychota e colaboradores56,
comparativamente aos não-diabéticos. ao contrário, verificaram redução significativa
Recentemente, o “Medicine, Angioplasty or nesse fluxo (54 ml/min nos pacientes diabéticos
Surgery Study” (MASS-II) tem demonstrado que vs. 71 ml/min no grupo controle; p < 0,001). O
não há diferença de prognóstico em relação à pre- estudo da perfusão miocárdica com radioisótopos
sença ou não de diabetes, em pacientes multiarte- pode quantificar mais apropriadamente o fluxo
riais (comprendendo 18,8% de diabéticos) subme- sanguíneo por intermédio da microcirculação car-
tidos comparativamente às três estratégias dispo- díaca e auxiliar na seleção de pacientes que mais
níveis para tratamento (clínico, cirurgia ou angio- poderiam se beneficiar com a revascularização.65
plastia). Apesar disso, o tratamento cirúrgico de- O seguimento a longo prazo dos pacientes revas-
monstrou significativa superioridade na elimina- cularizados demonstra a influência da gravidade
ção dos sintomas de angina, na redução de even- pré-operatória do diabetes nos resultados da re-
tos cardiovasculares e na redução da necessidade vascularização do miocárdio.
e do número de reintervenções coronarianas59, che- Lawrie e colaboradores66 acompanharam, por
gando a reduzir essas incidências em até 44%, após 15 anos, 212 pacientes diabéticos revasculariza-
cinco anos de seguimento60. Os pacientes diabéti- dos, comparando-os com 1.222 não-diabéticos
cos submetidos a tratamento cirúrgico apresenta- operados no mesmo período. Dentre eles, 108
ram mortalidade significativamente menor, num (50,9%) eram controlados com hipoglicemiantes
período de dois a cinco anos de pós-operatório, orais, 17 (8%) com insulina, e 87 (41%) apenas
em relação ao grupo tratado clinicamente, com- com regime alimentar. A mortalidade hospitalar
parável apenas ao tratamento por angioplastia61. foi semelhante nos dois grupos, assim como o alí-
Pacientes com mais de 65 anos de idade tam- vio da angina do peito. Decorridos 15 anos, a pro-
bém se beneficiaram com o tratamento cirúrgico. babilidade de sobrevivência foi de 0,53 no grupo
Esses pacientes apresentaram excelente evolução não-diabético, de 0,43 entre os diabéticos que não
a longo prazo com a revascularização, comparada recebiam drogas, de 0,33 naqueles com medica-
à terapia clínica. Tiveram também redução do grau ção oral e de 0,19 para os insulino-dependentes.
de mortalidade com a cirurgia, semelhante aos A perviabilidade dos enxertos variou de 78% a
pacientes não-diabéticos. Esses resultados indicam 90% e foi comparável nos dois grupos. A cirurgia
que a revascularização do miocárdio constitui im- foi efetiva para o alívio dos sintomas anginosos
portante opção terapêutica para o diabético idoso, em todos os grupos de pacientes diabéticos. Os
especialmente naqueles para os quais o risco do autores concluem que os níveis pré-operatórios de
tratamento clínico é alto62. glicose sanguínea constituíram importante fator
Segundo Faglia e colaboradores63, quando as preditivo de mortalidade tardia nos pacientes dia-
lesões coronarianas e a movimentação das pare- béticos.
125
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
DALLAN LAO
e cols.
Revascularização
CORONARY ARTERY BYPASS GRAFTING IN
cirúrgica do DIABETIC PATIENTS
miocárdio no
paciente diabético
Diabetes mellitus represents an important risk factor in the development of coronary artery
disease, associated with high morbidity and mortality rates, due to acute myocardial
infarction. On average, about 20% of the patients who underwent myocardial
revascularization are carriers of diabetes mellitus.
Although diabetic patients have a higher risk factor to coronary surgery, their surgical
mortality rate is not greatly affected. In such cases, there should be a rigorous preoperative
assessment, with evaluation of the many systems usually affected by diabetes, especially the
renal and the peripheral vascular systems. Also, one must pay special attention to the
insulin-dependent diabetic patients, because of the higher rates of surgical complications, in
comparison to the non-insulin-dependent diabetics. In spite of all this care, the incidence of
postoperative infection in diabetic patients is higher when compared to nondiabetic patients,
especially when one considers the limb from which the saphenous vein has been harvested.
The complete myocardial revascularization, treating all coronary branches with 50% or
more of its diameter obstructed, optimizes the prognosis of diabetic patients. Regarding this
matter, the angiographic evaluation of the coronary arteries of diabetic patients should be
very judicious, especially regarding the finer branches, as their diameters could be
underestimated because of low blood flow.
The use of one or both internal thoracic arteries in the revascularization of diabetic patients
has contributed in reducing myocardial infarction, due to its excellent long term durability.
As long as adequate precautions are taken, regarding prevention of deep sternal wound
infection, this technique has been shown to decrease mortality in surgically revascularized
diabetic patients, as opposed to those submitted to coronary angioplasty.
The use of other arterial grafts, such as the radial artery, right gastroepiploic artery and the
epigastric artery is an interesting alternative to the saphenous vein graft, especially in young
diabetic patients, with excellent results.
Minimally invasive coronary artery bypass graft, such as off-pump surgery, with our without
use of smaller thoracic incisions, tend to decrease the procedure-related morbidity, also
reducing in-hospital costs.
New procedures, such as the transmyocardial laser revascularization with a carbon-dioxide
laser, aiming to obtain perfusion of possible viable and ischemic areas that can’t be reached
surgically or through angioplasty, have been shown efficient in the relief of angina in all
groups of diabetic patients, regardless of their treatment (oral hypoglicemiants or insulin).
The long-term follow-up of such patients has demonstrated the influence of the preoperative
severity of diabetes in the results of myocardial revascularization.
130
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
LERARIO AC e col.
Insulinoterapia em
INSULINOTERAPIA EM PACIENTES COM DOENÇA pacientes com doença
ARTERIAL CORONARIANA E DIABETES DO TIPO 2 arterial coronariana e
diabetes do tipo 2
O diabetes melito do tipo 2 vem ganhando crescente importância entre os fatores de risco
para desenvolvimento e piores desfechos das doenças cardiovasculares. Apesar de ter sido
demonstrada, por diversos estudos epidemiológicos, a relação da doença arterial coronariana
com a hiperglicemia, o controle glicêmico adequado persistente nem sempre é mantido nos
portadores de diabetes melito do tipo 2. Para esses pacientes, a introdução de insulinoterapia
é imperativa. Considerando a possível persistência de reserva de insulina pancreática e a
comum resistência dos pacientes em aceitar o uso de medições injetáveis, costuma-se iniciar
a insulinoterapia com a introdução de injeção de insulina de ação lenta ao deitar, em
complementação ao uso diurno de antidiabéticos orais. Caso não seja obtido controle
glicêmico adequado, é indicada a substituição dos antidiabéticos orais pela insulinização
intensiva no regime basal/bolo, que consiste na combinação de uma ou duas injeções diárias
de insulina basal associadas a preparações de insulinas rápidas administradas antes das
refeições, ajustadas pela automonitorização glicêmica domiciliar. Uma alternativa
intermediária, antecedendo a insulinização intensiva, baseia-se no uso de preparações
insulínicas compostas por uma mistura de insulina lenta e rápida ou pelo uso de insulina
inalada administradas antes das refeições. Os principais eventos adversos conseqüentes à
insulinoterapia são: hipoglicemia, lipodistrofia e aumento do peso corporal. Atualmente, a
disponibilização de novos análogos sintéticos de insulina de ação ultra-rápida e lenta com
perfil mais fisiológico tem permitido melhor controle glicêmico com menor risco de
hipoglicemias e lipodistrofia e menor antigenicidade. Tendo em vista a freqüente dificuldade
de se obter controle metabólico adequado e persistente pela terapia baseada em mudanças
do estilo de vida associadas ou não ao uso de antidiabéticos orais, tem sido recomendada,
em portadores de diabetes melito do tipo 2, a insulinização mais freqüente e precoce.
131
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
LERARIO AC e col.
Insulinoterapia em INTRODUÇÃO mente se acompanhados de perda de peso, cetonúria
pacientes com doença e cetonemia, na gravidez, nas intercorrências clíni-
O diabetes melito do tipo 2 é uma doença muito cas tais como cirurgias, infecções, acidente vascular
arterial coronariana e freqüente e sua prevalência está aumentando em pra- cerebral e infarto do miocárdio, e em pacientes hi-
diabetes do tipo 2 ticamente todo o mundo, estimando-se que o núme- perglicêmicos em estado grave internados em uni-
ro de indivíduos diabéticos deverá sofrer incremen- dades de terapia intensiva. Nessas condições, após a
to de 50% até o ano de 2025. Por estar associado ao redução dos níveis glicêmicos, a insulinoterapia pode-
desenvolvimento de diversas complicações crônicas, rá ser substituída pela terapia com antidiabéticos orais
especialmente a macroangiopatia diabética, o recen- em função da correção da chamada “toxicidade à glico-
te aumento explosivo do diabetes vem ganhando cres- se”. Quando não é mais conseguido controle glicêmico
cente importância entre os fatores de risco para de- adequado e persistente com o uso de medicações orais,
senvolvimento e piores desfechos das doenças car- é indicada a introdução da insulinoterapia.
diovasculares. Em alguns estudos populacionais, tem
sido evidenciado que o risco de desenvolver doença BARREIRAS PARA O USO DA INSULINA
coronariana é duas a quatro vezes maior em pacien-
tes com diabetes que em indivíduos não-diabéticos. Apesar do demonstrado benefício aos pacientes
Outro fator preocupante se relaciona à constatação como uma das formas mais efetivas de prevenção
de que, apesar de ter sido observada redução da mor- das complicações crônicas do diabetes, além de me-
talidade por infarto do miocárdio nos pacientes não- lhoria do bem-estar e da qualidade de vida, observa-
diabéticos, as taxas de mortalidade por infarto do se com muita freqüência alguma resistência por par-
miocárdio em pacientes diabéticos, especialmente te dos pacientes e mesmo do próprio médico à intro-
mulheres, vêm se elevando. dução da insulinoterapia. Por parte do paciente, des-
O papel da hiperglicemia para a gênese das com- tacam-se como principais barreiras o temor das pi-
plicações tem sido nitidamente demonstrado por di- cadas das injeções, a associação do uso de insulina à
versos estudos epidemiológicos de longo prazo, como piora da doença, e, muitas vezes, alguns mitos, como
“United Kingdom Prospective Diabetes Study” a associação do uso de insulina ao desenvolvimento
(UKPDS), Kumamoto e “Diabetes Control and Com- de cegueira e o risco de que ao iniciar o uso de insu-
plications Trial” (DCCT), que observaram menor lina os antidiabéticos orais não podem mais ser utili-
incidência dessas complicações em pacientes com zados pois o paciente se torna dependente da mes-
manutenção de melhor controle metabólico obtido ma. Por parte do médico, a principal barreira baseia-
por meio de tratamento intensivo. O tratamento atu- se na falta de experiência com a insulinização e o
al tem como estratégia principal maior rigor do con- medo de provocar episódios hipoglicêmicos. Procu-
trole glicêmico, que deverá ser mantido em níveis rando convencer o médico a evitar a introdução da
que espelhem as variações glicêmicas fisiológicas insulina, muitos pacientes acabam propondo uma ne-
ou que deles mais se aproxime desde as fases inici- gociação com o médico, no sentido de maior disci-
ais da doença, quando ainda é praticamente assinto- plina dietética ou posológica, ou mudando de médi-
mática e com predomínio de alterações glicêmicas co, com o objetivo de manter a terapia oral, poster-
pós-prandiais. Com base nessas evidências, as di- gando, dessa forma, a melhoria de seu controle gli-
versas entidades científicas da especialidade reco- cêmico e aumentando seu risco de desenvolver com-
mendam que em todos os pacientes com diabetes se plicações. O primeiro passo a ser dado para que se
busque a manutenção de bom controle glicêmico sus- consiga introduzir a insulinoterapia, portanto, é a
tentado, procurando manter os valores de hemoglobina conscientização do médico da real necessidade da
glicada abaixo de 7% ou 6,5%. Assim, sempre que o insulinoterapia, o que será fundamental para que o
controle glicêmico deixar de ser mantido pelo uso isola- paciente tenha boa receptividade para com a nova
do de drogas antidiabéticas orais ou dietas, a introdução forma de terapia de seu diabetes. Nessas condições,
da insulina é indicada, motivo pelo qual tem sido obser- o médico deverá procurar informar o paciente quan-
vado aumento e maior precocidade da insulinoterapia to aos reais benefícios da nova terapêutica e iniciar a
em portadores de diabetes melito do tipo 2. insulinização de forma gradual, evitando a insulini-
zação intensiva imediata. Geralmente a maior ade-
COMO E QUANDO INICIAR O USO rência a essa terapia é facilitada quando, após sua
DA INSULINA NO DIABETES MELITO introdução, o paciente passa a reconhecer melhora
DO TIPO 2 acentuada de seu bem- estar.
RSCESP glicose plasmática estão muito elevados, especial- A introdução da insulina para o tratamento do
ABR/MAI/JUN 2007
LERARIO AC e col.
diabetes, em 1921, modificou a evolução da doença. mais prolongada, para cobrir períodos de jejum no- Insulinoterapia em
Os indivíduos que se tornavam diabéticos morriam turno. Por causa do início mais tardio e do tempo pacientes com doença
em pouco tempo por desnutrição ou coma. As insu- mais prolongado em relação ao perfil da insulina
linas eram inicialmente obtidas a partir de pâncreas pancreática fisiológica, pode não cobrir adequada-
arterial coronariana e
de porco e de boi; posteriormente, com a evolução mente o pico glicêmico pós-prandial e causar hipo- diabetes do tipo 2
da tecnologia, surgiu a insulina humana por meio da glicemia algumas horas após a refeição. Uma forma
técnica de DNA recombinante. Atualmente temos os de adequação fisiológica para seu uso é que seja apli-
análogos de insulina, que são obtidos pela modifica- cada 30 a 60 minutos antes das refeições. Essa é a
ção da seqüência de aminoácidos na cadeia da insu- tentativa de adequar a farmacocinética da absorção
lina humana. de insulina com o pico da absorção de hidrato de
As preparações insulínicas atualmente disponí- carbono após a refeição, de modo que esse retardo
veis podem ser divididas conforme sua origem e perfil na absorção da insulina regular pode limitar sua efe-
de ação. Quanto a sua origem, as insulinas tradicio- tividade em controlar a glicemia pós-prandial.
nalmente eram obtidas a partir de pâncreas bovino Análogos de ação ultra-rápida
ou suíno, que, entretanto, vêm sendo gradualmente Nesse grupo encontram-se os análogos sintéti-
substituídas por insulinas sintéticas, cujas vantagens cos de insulina lispro e aspart, que foram obtidos por
são: maior pureza, menor antigenicidade, menor ris- bioengenharia alterando a configuração molecular
co de contaminações decorrentes do fato de sua ori- da insulina.
gem ser de outra espécie animal, e poder, em sua Na insulina lispro (Humalog®), o aminoácido pro-
preparação, ser modificadas molecularmente para se lina na posição 28 troca de posição com o aminoáci-
obter um perfil de ação que melhor se espelhe a se- do lisina na posição 29 da cadeia beta, modificando
creção insulínica fisiológica. Quanto ao perfil de ação, a estrutura espacial da cadeia de insulina. O rearran-
atualmente dois grandes grupos de insulinas estão jo desses aminoácidos reduz a capacidade de auto-
disponíveis: as insulinas de ação rápida e as insuli- agregação da insulina no tecido celular subcutâneo,
nas de ação prolongada. Na Tabela 1 estão apresen- resultando em absorção mais rápida da insulina e
tadas as insulinas disponíveis comercialmente no duração mais curta de sua ação em relação à insulina
mercado brasileiro. regular, quando administrada por via subcutânea.
Como resultado, seu pico de ação é significantemente
Insulinas de ação rápida maior e mais precoce que o da insulina regular. Na insu-
Insulina regular lina aspart (Novorapid®), o aminoácido aspartato subs-
A insulina de ação curta, simples, regular ou R titui a prolina na posição 28 da cadeia B. Essa mudança
foi a primeira insulina a ser utilizada. Por ter seu introduz uma carga negativa que diminui a auto-agrega-
pico de ação entre uma e duas horas e retorno ao ção das moléculas. A insulina aspart apresenta declínio
basal em seis a oito horas, tem sido tradicionalmente em sua concentração um pouco mais lento.
utilizada para o controle rápido da hiperglicemia e O uso clínico dos dois análogos é equivalente e
da hiperglicemia pós-prandial e no uso de infusões suas doses e horários de aplicação devem ser sempre
contínuas em soluções salinas. Por ter seu tempo de individualizados. Ambas são usadas antes das refei-
ação curto, geralmente é associada a insulinas de ação ções, com a finalidade de corrigir os picos pós-pran-
De ação rápida
- Análogo de insulina ultra-rápida (UR) Humalog, Novo Rapid
- Insulina humana rápida (R) Humulin R, Novolin R
De ação lenta
- Insulina de ação intermediária
Insulina humana NPH (N) Humulin N, Novolin N
Insulina humana lenta (L) Humulin L, Novolin L
- Análogo de insulina ultralenta
Glargina Lantus
Detemir Levemir
Pré-misturas (UR + N)
- 75/25 Humalog Mix 25
- 70/30 Novo Mix 30 133
Insulina inalada Exubera RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
LERARIO AC e col.
Insulinoterapia em diais de glicose depois da refeição; e em decorrência da humana, é a das insulinas de origem animal, que,
pacientes com doença de seu tempo de ação mais curto, causam menos fre- por sofrerem alterações sintéticas de seus aminoáci-
qüentemente hipoglicemia no período pós-prandial. dos, apresentam configuração molecular semelhan-
arterial coronariana e Os análogos de ação ultra-rápida demonstram me- te à humana. São também conhecidas como insuli-
diabetes do tipo 2 nor variabilidade de absorção no local da injeção e nas humanizadas. A insulina humana NPH é a pre-
menor variação intra ou entre pacientes quando com- paração insulínica com início em uma a três horas,
parados à insulina regular. De forma semelhante à pico em cinco a sete horas e duração de ação entre
insulina regular, geralmente é utilizada em associa- 13 e 16 horas após a aplicação subcutânea, sendo
ção com a insulina de ação prolongada, sendo utili- mais rápida que a insulina NPH animal.
zada nos esquemas de infusão de insulina contínua Análogos de ação lenta e ultralenta
em pacientes hospitalizados e para o uso de bombas A necessidade de uma insulina basal, de perfil
de infusão contínua subcutânea ambulatorial. menos variável e mais consistente, com período de
ação prolongado, levou ao desenvolvimento de aná-
Insulinas de ação prolongada logos de ação prolongada: a insulina glargina e a in-
Insulina NPH e lenta sulina levemir. Na insulina glargina, a molécula de
São insulinas que têm seu perfil de ação mais insulina sofreu modificação, com a substituição do
prolongado, visando à maior cobertura diária de in- aminoácido glicina na posição 21 da cadeia A pela
sulinização e à cobertura dos períodos de jejum pro- asparagina e a adição de duas moléculas de arginina
longado. Seu maior tempo de ação baseia-se no re- na posição 30 da cadeia B. Pelo seu elevado ponto
tardamento de sua absorção subcutânea pela adição isoelétrico e pH ácido, é liberada lentamente no teci-
de protamina e zinco e por diferentes formas de sua do subcutâneo, aumentando seu longo tempo de ação.
cristalização, e pelo fato de sua ação não perdurar as Comparada à NPH, a insulina glargina resulta em
24 horas são também designadas como insulinas de prolongada absorção e mostra discreto pico de iní-
ação intermediária. As duas formas mais utilizadas cio da ação. A velocidade de absorção da insulina
são a insulina “neutral protamin Hagedorn” (NPH) nos diferentes locais de aplicação não se mostrou
e a insulina lenta. A insulina NPH ou isofana foi de- diferente, como também não há sinais de que a mes-
senvolvida em 1946, e por seu perfil farmacocinéti- ma se acumula após múltiplas injeções. Também não
co é utilizada geralmente uma a duas vezes por dia, há alteração do padrão de ação, independentemente
pela manhã e à noite, associada ou não à insulina dos horários de aplicação (pela manhã, no jantar ou
rápida. Alguns autores sugerem que, em função dos à noite, ao deitar). Estudos farmacodinâmicos de-
hábitos alimentares de diferentes populações, espe- monstram que a ação da insulina glargina dura em
cialmente quando o almoço constitui a principal re- média 22 a 24 horas. Apesar de os estudos não en-
feição, as doses da insulina intermediária poderão contrarem diferenças significativas no controle gli-
ser fracionadas em três doses diárias, antecedendo o cêmico quando a glargina foi comparada a pacientes
café da manhã, o almoço e o jantar. Outra insulina utilizando insulina NPH, foi observada queda expres-
de ação intermediária é a insulina lenta, introduzida siva do risco de hipoglicemia no horário noturno.
comercialmente na década de 1950, cujo aumento A insulina detemir foi outro análogo de insulina
de ação se baseia na sua forma diferente de cristali- de ação longa desenvolvido, mas utilizando uma téc-
zação. Apresenta perfil semelhante ao da insulina nica diferente das anteriores, ou seja, a ligação à al-
NPH, obtido por outra tecnologia, sendo seu uso bumina. Um ácido graxo alifático foi “acilado” ao
menos comum em nosso meio. A insulina ultralenta aminoácido B29 (lisina) e o aminoácido B30 (treo-
baseia-se no prolongamento do tempo de ação da nina) foi removido. Essas alterações resultaram na
insulina intermediária de origem animal, pela dife- possibilidade de ocorrer ligação reversível entre a
rente proporção de cristais de zinco, e seu tempo de albumina e o ácido graxo acilado introduzido na
ação ultrapassa 24 horas. No momento não são dis- molécula da insulina. Após a aplicação subcutânea
poníveis comercialmente em nosso meio. Entretan- da detemir e depois de sua passagem para a corrente
to, essa é uma das formulações de insulina que apre- sanguínea, 98% dessa insulina ligam-se à albumina,
sentam grande variabilidade em sua absorção, po- circulando ligada a essa proteína e somente a fração
dendo estar associada, em alguns pacientes, a gran- livre está disponível para interagir com o receptor da
de variabilidade no controle da glicemia. insulina. A liberação gradual de sua fração ligada à
Insulina humana albumina permite a manutenção e o prolongamento
Apresenta perfil de ação semelhante ao das insu- da ação da detemir. O perfil de ação da insulina dete-
linas intermediárias N e L, mas é produzida sinteti- mir é caracterizado por um pico de atividade entre
camente por bioengenharia molecular. Por ser mais seis e oito horas e duração de ação em torno de 24
134 pura e menos antigênica, além de permitir maior pro-
dução em escala, tende a substituir as insulinas de
horas após sua aplicação subcutânea. Comparada à
NPH, a insulina detemir é absorvida mais lentamen-
RSCESP origem animal. Outra forma de insulina, denomina- te e não apresenta pico de ação pronunciado. Além
ABR/MAI/JUN 2007
LERARIO AC e col.
disso, tem demonstrado menor variabilidade intra- sol, tendo perfil semelhante ao da insulina regular, Insulinoterapia em
paciente e menor risco de hipoglicemia. É utilizada tanto por sua efetividade como por seus efeitos cola- pacientes com doença
com insulina basal em uma ou duas aplicações diári- terais. Sua ação se assemelha à da insulina injetável
as, pela manhã e à noite. Os análogos de ação lenta, de ação rápida e pode ser associada ao uso de antidi-
arterial coronariana e
usados como insulina basal combinada aos análo- abéticos orais ou a insulinas basais. diabetes do tipo 2
gos de ação ultra-rápida (lispro, aspart) nas refeições,
são provavelmente o modelo terapêutico mais fisio- ESTRATÉGIAS DE INSULINIZAÇÃO
lógico de reposição de insulina disponível para paci-
entes que não utilizam bomba subcutânea de infu- Basicamente são três as etapas de insulinização:
são contínua de insulina . uso de insulina e antidiabéticos orais, insulinização
convencional e insulinização intensiva (basal/bolo).
Pré-misturas de insulinas Neste artigo serão abordadas apenas a segunda e a
Com o objetivo de melhorar a aderência e a ope- terceira etapas.
racionalidade dos pacientes que utilizam as misturas
de insulina (com diferentes períodos de ação), exis- Insulinização convencional
tem preparações insulínicas que apresentam dois ti- No esquema convencional estão incluídos os pa-
pos de ação (rápida e lenta) pré-misturados no mes- cientes que utilizam uma a duas aplicações de insu-
mo frasco. lina NPH por dia, associada ou não a insulina regu-
Atualmente encontra-se no mercado somente a lar. Esse modelo terapêutico, tão utilizado até a dé-
pré-mistura de análogos: Humalog Mix® 75/25, cons- cada de 1980, está associado a níveis mais elevados
tituída de 75% de “neutral protamine lispro” (NPL), de hemoglobina glicosilada (HbA1c) e a maior risco
equivalente a uma insulina monomérica com perfil de complicações microvasculares, e, por isso, tem
de atividade semelhante ao da insulina NPH e 25% sido abandonado. Na década de 1990, para evitar a
de insulina lispro; e NovoMix® 70/30, com 70% de hipoglicemia noturna tão comum após a aplicação
“protaminated insulin aspart” (PIA) e 30% de as- de insulina NPH associada a insulina regular no jan-
part. Os análogos pré-mistura podem controlar os tar, separou-se a insulina NPH da regular no jantar,
níveis de glicemia tanto basal como prandial, sem transferindo-se a insulina NPH para o horário de dor-
aumentar o risco de hipoglicemia, devendo ser ad- mir (“bedtime”).
ministrados antes das refeições. Embora não exista uma fórmula determinada para
se estabelecer as necessidades diárias de insulina, a
Insulina inalada dose recomendada varia de 0,5 U/kg a 1 U/kg de
Uma nova via alternativa para o uso da insulina é peso divididas em duas aplicações para a insulina
a insulina administrada por via inalatória (pulmo- NPH (dois terços pela manhã e um terço às 22 ho-
nar). A insulina é utilizada em forma de pó ou aeros- ras), uma aplicação para a insulina glargina e uma a
Ultra-rápida
- Lispro 5-15 minutos 30-90 minutos 5 horas
- Aspart
Rápida
- Regular 30-60 minutos 2-3 horas 5-8 horas
Intermediária
- NPH 2-4 horas 4-10 horas 10-16 horas
Lenta/plana
- Glargina
- Levemir 2-4 horas Sem pico 20-24 horas
Pré-mistura
- 75% NPL/25% lispro 5-15 minutos Duplo 10-16 horas
- 70% NP/30% aspart 5-15 minutos Duplo 10-16 horas
Inalada 10-20 minutos 30-90 minutos 6 horas
135
NPH = “neutral protamin Hagedorn”; NPL = “neutral protamine lispro”.
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
LERARIO AC e col.
Insulinoterapia em duas aplicações para a insulina detemir. na. No cálculo da dose de insulina de ação rápida
pacientes com doença O ajuste da dose é feito pela média da glicemia antes das refeições, deve-se levar em consideração a
de jejum de três dias para a dose noturna de NPH e glicemia pré-prandial e a quantidade de carboidrato
arterial coronariana e para as doses de insulina glargina e detemir. Para o que será ingerida na refeição.
diabetes do tipo 2 ajuste da dose da manhã da insulina NPH, deve-se Os análogos de insulina de ação longa (glargina
levar em consideração a glicemia medida antes do e detemir) têm demonstrado algumas vantagens como
jantar. O ajuste pode ser feito conforme apresentado insulina basal. A conveniência da utilização em dose
na Tabela 3. única (apesar de alguns pacientes necessitarem de
duas doses diárias com detemir), o fato de não apre-
sentarem pico de ação e, com isso, diminuírem de
Tabela 3 - Ajuste da dose de insulinização modo significativo a gravidade e a freqüência das
hipoglicemias, e a vantagem da maior flexibilidade de
Glicemia Ajuste da dose de insulina vida na utilização dessas insulinas (o paciente pode omitir
uma refeição ou atrasá-la sem riscos) associadas às in-
< 80 mg Diminuir 1-2 UI sulinas de ação rápida têm sido as razões para a prefe-
80-100 mg Manter a dose rência de muitos médicos e pacientes para esse modelo
100-180 mg Aumentar 2-4 UI terapêutico. O cálculo da dose de insulina basal é o mes-
180-250 mg Aumentar 4-8 UI mo que o da insulinização convencional.
Type 2 diabetes mellitus is an important risk factor for the development and worsening of
cardiovascular disease outcomes. Although epidemiologically associated with cardiovascular
disease, control of fast and overall hyperglycemia is not always obtained. In these patients
introduction of insulin therapy is mandatory. Since some degree of pancreatic insulin secretion
could persist and frequently there is some resistance among type 2 diabetes mellitus patients to
accept insulin injections, insulin is usually initiated by a single dose of long acting insulin
injection at bedtime maintaining daily anti-diabetic oral agents. If adequate glycemic control is
not achieved complete insulinization is indicated being anti-diabetic oral agents substituted by
basal bolus insulin regimen that is consisted on the combination of short action insulin bolus
administered before meals and 1 or 2 daily basal insulin injections, being the insulin dose
adjusted by home glycemic auto-monitorization. An intermediate alternative strategy to intensive
basal insulinization is the use of pre-mixed rapid/lent insulin or inhaled insulin before main
meals. The more frequently observed adverse effects of insulinization are: hypoglycemia,
lipodistrophy and increased body weight gain. New available synthetic long and short acting
insulin analogs, that better mirrors the pancreatic physiological insulin, permit an improvement
in glycemic control with less hypoglycemia, lipodistrophy and lower antigenicity. Since an
adequate glycemic management in several type 2 diabetes mellitus patients is not easily achieved
only by lifestyle changes and anti-diabetic oral agents use, the introduction of insulin therapy
should be more frequently and precociously indicated.
Key words: insulin therapy, type 2 diabetes mellitus, coronary artery disease.
(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2007;2:131-8)
RSCESP (72594)-1651
139
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA MAP
Gravidez e
anticoncepção
GRAVIDEZ E ANTICONCEPÇÃO
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA MAP
ga a aumentar 80% em Gravidez e
relação ao período antes anticoncepção
da gestação, em decor-
rência do aumento da
freqüência cardíaca (dor
e ansiedade) e do adici-
onal aumento do volume
sanguíneo resultado da
contração uterina (300
ml a 500 ml). No puer-
pério, apesar das perdas
sanguíneas (500 ml
quando o parto é nor-
mal), há aumento do dé-
bito cardíaco secundário
à contração uterina, e
aumento da resistência
vascular periférica e do
retorno venoso sistêmi-
Figura 1. Gravidez e anticoncepção: riscos maternos.
co. Em mulheres nor-
mais, os ajustes são bem
tolerados, o que nem
sempre acontece em cardiopatas. Nesse grupo, destaca-se a tetralogia de Fallot de
Dois pontos fundamentais comandam as com- boa anatomia, a atresia pulmonar com septo ven-
plicações cardiovasculares na gestação: a função tricular aberto e circulação sistêmico-pulmonar
miocárdica e a presença, ou não, de cianose. colateral, a anomalia de Ebstein, e, mais raramen-
O grau de disfunção miocárdica tem estreita te, a conexão atrioventricular univentricular e ou-
relação com o prognóstico materno e fetal, sendo tras.
a classificação da “New York Heart Association” Complicações clínicas podem ocorrer durante
usada como preditor dos riscos. A mortalidade a gestação. Destacam-se a poliglobulia e a ane-
materna em mães em classes I e II é inferior a 1%, mia, as discrasias sanguíneas, os acidentes cere-
e os problemas surgem em classes III e IV, com brovasculares, os abscessos cerebrais e a deterio-
mortalidade materna de 6,8% e fetal de 30%.8 A ração miocárdica hipóxica, levando a insuficiên-
síndrome hipercinética da gravidez é fator desen- cia cardíaca e arritmias. Em alguns casos, a queda
cadeante ou precipitante de quadros de insufici- da resistência sistêmica associada à hipotensão e
ência cardíaca em corações com sobrecargas vo- à anemia fisiológica da gravidez precipitam cri-
lumétricas das cardiopatias de “shunt” ou com dis- ses de hipóxia, aumentando o risco materno e fe-
funções sistólica ou diastólica dos defeitos obs- tal.
trutivos.
Entre as cardiopatias congênitas cianogênicas CARDIOPATIAS CONGÊNITAS
que cursam com insuficiência cardíaca na vida ACIANOGÊNICAS E GRAVIDEZ
adulta, destacam-se a anomalia de Ebstein e a sín-
drome de Eisenmenger. A primeira, muitas vezes Dois grupos principais de cardiopatias serão
não corrigida pela pouca repercussão, instabiliza- enfocadas, considerando os defeitos acianogêni-
se diante das alterações da gravidez, com surgi- cos: as cardiopatias com fluxo pulmonar aumen-
mento ou piora da insuficiência cardíaca, arritmi- tado (“shunts” esquerda-direita) e as cardiopatias
as, poliglobulia e embolia paradoxal. de barreira à direita ou à esquerda. Destaque es-
Uma minoria de pacientes com doença cardía- pecial será dado à síndrome de Marfan, pelas im-
ca cianogênica sobrevive até a vida adulta sem cor- plicações à mãe grávida e ao concepto.
reção. A cianose e a hipóxia comprometem mar- Vários fatores influenciam os “shunts” esquer-
cadamente a evolução tanto materna como fetal. da-direita, destacando-se a idade, a localização do
A má evolução relaciona-se diretamente com o defeito, o tamanho e, fundamentalmente, a rela-
grau de hipoxemia materna, monitorada pelas do- ção entre as resistências vasculares pulmonar e
sagens de hematócrito e hemoglobina e de satura- sistêmica. As conseqüências hemodinâmicas se-
ção arterial de oxigênio. Quando a hemoglobina rão: a insuficiência cardíaca, a sobrecarga volu-
materna é superior a 18 g/dl e o hematócrito é aci- métrica dos ventrículos, o hiperfluxo pulmonar, o
141
ma de 65%, geralmente o feto não sobrevive.9 comprometimento do débito cardíaco e a temida RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA MAP
Gravidez e regurgitações valvares associ-
anticoncepção adas. Fator agravante é a hi-
pertensão pulmonar, com
“shunt” invertido e cianose,
podendo ser necessária a in-
terrupção da gravidez (Fig. 2).
Comunicação
interventricular
Infreqüente na gravidez,
pela alta incidência de fecha-
mento espontâneo e correção
precoce dos casos com reper-
cussão hemodinâmica ou de-
feitos associados. O curso clí-
nico durante a gestação depen-
de do tamanho do defeito, da
resistência vascular pulmonar
e da presença de defeitos as-
Figura 2. Gravidez e anticoncepção: comunicação interatrial. sociados. O “shunt” esquerda-
direita não se altera, porque na
gestação caem as resistências
em ambos os circuitos.12 Le-
hipertensão pulmonar. sões já corrigidas só trazem problemas à gestação
quando existem defeitos residuais, alteração do sis-
Comunicação interatrial tema de condução ou dano miocárdico.
É a malformação mais encontrada na gravidez. Diagnosticada na gravidez, um estudo cuida-
Duas vezes mais freqüente em mulheres, tem evo- doso se impõe, no sentido de se avaliar bem a re-
lução benigna por vários anos, e o advento da hi- percussão hemodinâmica e o grau de hipertensão
pertensão pulmonar é tardio. Apesar disso, sua pulmonar. Recomenda-se controle medicamento-
história natural é muito variada e a deterioração so da insuficiência cardíaca e das arritmias, e pre-
progressiva por sobrecarga do ventrículo direito venção da endocardite infecciosa em caso de ma-
leva a insuficiência cardíaca e disfunções valva- nipulação dentária, genitourinária, procedimentos
res atrioventriculares. Após a quarta década, há cirúrgicos ou infecções intercorrentes. Evitar hi-
aumento da incidência de arritmias supraventri- potensão, comum na anestesia e no pós-parto. A
culares, especialmente fibrilação ou “flutter” atri- presença de hipertensão pulmonar fixa é contra-
ais, resultando insuficiência cardíaca e edema pe- indicação para gestação e indicação de interrup-
riférico, o que aumenta a estase venosa e o risco ção pelo alto risco de morte materna.13
de tromboflebite.10 A hipertensão pulmonar tor-
na-se mais freqüente. Persistência do canal arterial
A sobrecarga de volume e a anemia fisiológi- Cardiopatia de fácil diagnóstico clínico, pelo
ca da gravidez, associadas ao “shunt” esquerda- sopro em maquinaria, pulsos amplos e pressão ar-
direita da comunicação, agravam o trabalho do terial diferencial alargada, é corrigida precocemen-
ventrículo direito. Apesar disso, em comunicações te por cirurgia ou pelo cateterismo terapêutico, com
pequenas a moderadas, a gravidez é bem tolerada, riscos baixos e cura total do defeito.
o que pode não acontecer com comunicações gran- Em canais com repercussão hemodinâmica, a
des ou complicadas com outros defeitos. Surgem gravidez pode ser um fator desencadeante de qua-
insuficiência cardíaca, arritmias ou hipertensão dros de insuficiência cardíaca. A presença de re-
pulmonar. A embolia pulmonar por trombo ou flui- sistência vascular pulmonar fixa eleva muito o ris-
do amniótico pode decorrer de “shunt” reverso, co da gravidez, para a mãe e para o feto. Nesses
mas é raro. Meticuloso cuidado com as pernas mi- casos, o declínio da resistência sistêmica aumenta
nimiza a estase e a possibilidade de trombose11. o “shunt” direita-esquerda por meio do ducto e
Deve ser tratada de preferência na infância. aumenta a insaturação do sangue que chega ao
Quando diagnosticada na gravidez, os cuidados útero (cianose diferencial materna), com alto ris-
142 devem ser voltados para a possibilidade de des- co fetal por hipóxia.11
compensação, arritmias e tromboembolismo. A en- Quando o diagnóstico de canal arterial é feito
RSCESP docardite infecciosa pode ocorrer quando existem na gravidez, só se justifica a interrupção em casos
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA MAP
Gravidez e
anticoncepção
Figura 3. Paciente de 21 anos de idade, com 18 semanas de gestação. Aortoplastia com sucesso e
implante de stent.
144 Síndrome de
Marfan Figura 5. Valvoplastia pulmonar em paciente na 31a semana de gestação,
RSCESP As manifestações GDMax 90 mmHg no pré-procedimento e sem gradiente no pós-procedimento.
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA MAP
pontâneo, baixo peso ao Gravidez e
nascimento e parto pre- anticoncepção
maturo.
Tetralogia de Fallot
É a malformação
congênita cianogênica
mais encontrada no
adulto. Apesar disso,
40% morrem antes dos
três anos, 70% antes dos
10 anos e 95% estarão
mortos antes dos 40
anos de idade.20
Em pacientes não
operados, o risco é mai-
or quando a saturação de
oxigênio é inferior a
85%, a pressão em ven-
Figura 6. Gravidez e anticoncepção: síndrome de Marfan. trículo direito é maior
que 100 mmHg, o hema-
tócrito é superior a 60%
pressão de pulso e alterações histoquímicas sobre e na presença de síncopes recorrentes. A queda da
os vasos). Dissecção, ruptura e insuficiência aór- resistência periférica aumenta o “shunt” direita-
tica, insuficiência cardíaca e endocardite infecci- esquerda, piorando a hipóxia. A anemia fisiológi-
osa são complicações possíveis. ca e a síndrome hipercinética da gravidez precipi-
Segundo Pyeritz19, a gravidez deveria ser con- tam as crises de hipóxia. A mortalidade materna é
tra-indicada na presença de insuficiência cardíaca estimada em 4% a 15% e as perdas fetais, próxi-
prévia, dilatação da aorta com diâmetro maior que mo a 30% (Fig. 7).21
44 mm pelo ecocardiograma e insuficiência aórti- Raros casos de gravidez em mulheres com atre-
ca. sia pulmonar com septo aberto são descritos. Com-
Em grávidas, recomenda-se restrição da ativi- plicações maternas, como insuficiência cardíaca,
dade física e controle rigoroso da pressão arterial. trombose, arritmias e alterações da coagulabilida-
Pode ser indicado o uso de betabloqueadores para de, e fetais, como aborto, prematuridade e baixo
diminuir a freqüência cardíaca, a força de contra- peso, são comuns.22
ção do ventrículo esquerdo e o impacto na parede Pacientes operados com sucesso têm muito me-
doente da aorta. A pre-
venção da endocardite
infecciosa é fundamen-
tal quando há insuficiên-
cia mitral e/ou insufici-
ência aórtica.
CARDIOPATIAS
CONGÊNITAS
CIANOGÊNICAS
E GRAVIDEZ
A gravidez em mu-
lheres com cardiopatias
cianogênicas não corri-
gidas ou com resíduos
significantes representa
grande risco de compli-
cações maternas e fetais, 145
com possibilidade de
morte, abortamento es- Figura 7. Gravidez e anticoncepção: hipóxia e gravidez. RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA MAP
Gravidez e lhor prognóstico. Apesar disso, é imperativa a ava- nar, piorando a hipóxia. Precordialgia, síncope,
anticoncepção liação completa cardiológica, com exames com- fenômenos embólicos, insuficiência cardíaca e
plementares como ecocardiografia, Holter e teste arritmias ocorrem.9, 25 Gravidez, pré-parto, parto e
de esforço. Pacientes com obstrução residual na puerpério são igualmente preocupantes (Fig. 8).
via de saída do ventrículo direito, insuficiência Segundo Gleicher e colaboradores, a mortali-
pulmonar grave, disfunção ventricular ou insufi- dade materna em portadoras de síndrome de Ei-
ciência tricúspide podem evoluir com insuficiên- senmenger chega a 52%.26 Aborto espontâneo, pre-
cia cardíaca e arritmias.23 maturidade, baixo peso ao nascimento e maior
mortalidade perinatal são os problemas fetais. Com
Anomalia de Ebstein base nesses dados, a maioria dos autores desacon-
Sua ocorrência na gravidez não é rara, poden- selha a gravidez e indica a interrupção da gesta-
do ter sucesso em casos com pouca repercussão ção e a laqueadura. Período bastante crítico é o
hemodinâmica, sem cianose e sem arritmias. Ape- puerpério. Um círculo vicioso entre sangramento
sar disso, a sobrecarga adicional imposta ao ven- e trombose parece explicar a deterioração súbita e
trículo direito faz com que possa ocorrer falência, irreversível de algumas pacientes. As alterações
levando ao aparecimento ou agravamento da in- morfológicas das arteríolas pulmonares justificam
suficiência cardíaca, e com que o “shunt” direita- a falta de adaptação da circulação pulmonar.27 In-
esquerda aumente, piorando a cianose e facilitan- ternação precoce (a partir da vigésima semana),
do fenômenos tromboembólicos. A presença de anticoagulação, oxigenoterapia, repouso e hospi-
Wolff-Parkinson-White e a dilatação atrial preci- talização de no mínimo 15 dias após o parto são
pitam o aparecimento de arritmias, sobretudo ta- cuidados que asseguram a vida materna.6
quicardia supraventricular, e fibrilação e “flutter”
atriais.24 ANTICONCEPÇÃO
A indicação cirúrgica prévia obedece a alguns
critérios básicos: 1) grau funcional, 2) grau de car- Em mulheres portadoras de doenças cardíacas,
diomegalia, 3) poliglobulia e 4) arritmias refratá- a gravidez deve ser prévia e cuidadosamente con-
rias. A operação pode não corrigir todo o distúr- siderada e os riscos avaliados: prognóstico e re-
bio hemodinâmico, sendo importante avaliação percussão da doença materna, necessidade de cor-
prévia e individual. Profilaxia para endocardite se reção, durabilidade de próteses e condutos, risco
faz necessária. de endocardite infecciosa, e necessidade de anti-
coagulação. Para o feto: risco de morte, prematu-
Síndrome de Eisenmenger ridade, baixo peso ao nascimento e recorrência de
A redução da resistência vascular sistêmica da malformações.
gravidez, diante da alta resistência vascular pul- Existem situações em que a gestação é contra-
monar fixa, causa aumento do “shunt” direita-es- indicada e a interrupção é recomendada: a) hiper-
querda e diminuição do fluxo sanguíneo pulmo- tensão pulmonar idiopática; b) síndrome de Eisen-
menger, com mortalidade
materna chegando a 50%;28
c) disfunções ventriculares
levando a insuficiência car-
díaca em graus III e IV; d)
lesões obstrutivas graves,
como estenoses aórticas e
pulmonares de grau signi-
ficativo e coarctação da
aorta; e) síndrome de Mar-
fan, quando a aorta é dila-
tada além de 44 mm ou se
associa a insuficiência aór-
tica; f) cardiopatias corrigi-
das, com resíduos graves e
arritmias complexas; e g)
cardiopatias cianogênicas,
sem possibilidade de corre-
146 ção prévia. Saturação bai-
xa e hematócrito elevado
Figura 8. Gravidez e anticoncepção: síndrome de Eisenmenger.
RSCESP RV = resistência vascular; RVP = resistência vascular pulmonar. põem em risco a mãe e o
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA MAP
feto pela hipóxia e por alterações da coagulabili- uma gravidez de sucesso. Gravidez e
dade e complicações cerebrovasculares.29 Métodos de barreira e comportamentais anticoncepção
Outro detalhe também importante é a idade ma- Mais perigosos em pacientes de alto risco, pela
terna e sua relação com a ocorrência de síndrome possibilidade de falhas. Preservativos e diafrag-
de Down. Até 30 anos, a incidência é de uma a mas combinados com espermicidas apresentam
cada 1.200 gestações. Aos 40 anos, é de uma a insucesso de 3 a 5 para cada 100 mulheres/ano.
cada 100 gestações.30 Anticoncepcionais hormonais do tipo
Uma vez determinada a necessidade de anti- combinado oral
concepção, o conhecimento da inter-relação entre A redução da concentração de estrógenos e pro-
anticoncepcionais e problemas intrínsecos do ca- gesterona nas pílulas de quarta geração diminuiu
sal, sobretudo da mãe, no que diz respeito à pre- sobremaneira as complicações relacionadas aos
sença de hipertensão, dislipidemia, diabetes, coa- estrógenos (fenômenos tromboembólicos)31 e à
gulopatias e fumo, vai ajudar na decisão. A esco- progesterona (aterogenicidade, dislipidemia).32
lha do método contraceptivo exige a integração São contra-indicações para seu uso: hipertensão
de eficácia, tolerância, segurança e inocuidade em pulmonar idiopática ou secundária, cardiopatias
relação à cardiopatia. cianogênicas, doenças valvares com arritmias tipo
fibrilação atrial e aqueles em uso de anticoagu-
Métodos irreversíveis lantes.
Ligadura tubária Outros anticoncepcionais hormonais, do tipo
Deve ser feita por minilaparotomia. A lapa- injetável, podem ser mensais ou trimestrais. Os
roscopia leva a maior risco ao aumentar a pres- mensais, praticamente sem efeito deletério ao co-
são abdominal e diminuir o retorno venoso sis- ração e lípides sanguíneos, têm eficácia de 99,98%.
têmico, resultando hipotensão. Como se trata de O tipo injetável trimestral tem o inconveniente de
esterilização definitiva, requer informação ple- promover ganho ponderal e distúrbios menstru-
na das indicações e aceitação pelo casal. É re- ais, mas é também de grande eficácia.
comendada nas situações de alto risco referidas Dispositivos intra-uterinos
anteriormente. Método permanente, mas reversível, de baixo
Vasectomia custo e eficaz (falência estimada em 0,5 a 1 por
Considerada com cautela por causa da alta mor- 100 pacientes/ano). Seu uso em cardiopatas é res-
bidade materna, tirando a chance de o homem ter trito, tendo em vista os riscos de endocardite, sep-
filhos com outras parceiras. ticemia, sangramento intermenstrual e hiperme-
norréia. São contra-indicados nas cardiopatias
Métodos reversíveis congênitas não corrigidas ou com seqüelas pós-
Portadoras de cardiopatias de risco intermedi- operatórias, próteses valvares ou condutos e do-
ário ou pequeno são beneficiadas por esse tipo de enças que necessitam de anticoagulação.33 A sín-
controle. Nesses casos, a melhora do distúrbio he- drome de Eisenmenger oferece riscos relaciona-
modinâmico por correção cirúrgica, percutânea ou dos a instabilidade hemodinâmica, alterações da
medicamentosa, devolve à mulher a chance de ter coagulabilidade e risco de endocardite.34
147
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA MAP
Gravidez e
anticoncepção
PREGNANCY AND ANTICONCEPTION
According to the development of new diagnostic tools and increased experience with
surgical and therapeutic catheterization, the life expectancy of patients with congenital heart
disease has increased and a greater number of female patients reach reproductive age.
Among the defects more frequently manifested in adults, we mention the conditions of left
to right shunt and obstructive lesions. Less often, we observe cyanogenic congenital lesions
in the adolescence, such as tetralogy of Fallot and Ebstein’s anomaly.
149
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
HOSSRI CAC
Atividade esportiva
nas cardiopatias
ATIVIDADE ESPORTIVA NAS
congênitas CARDIOPATIAS CONGÊNITAS
O estilo de vida ativo é caracterizado por exercícios físicos regulares e até mesmo a prática
de atividades esportivas recreativas parece ser salutar para a população em geral. A infância
e a adolescência são a época ideal para o incentivo dessas atividades, promovendo-se o
desenvolvimento de habilidades físicas motoras, tanto em crianças hígidas e saudáveis como
naquelas portadoras de malformações cardíacas.
Existe uma grande variedade de defeitos cardíacos congênitos, uni ou bicamerais (atriais ou
ventriculares septais), persistência do canal arterial e obstruções dos grandes vasos (estenose
pulmonar ou aórtica), cujos portadores, após correção cirúrgica, podem participar de
quaisquer atividades esportivas, exceto se ocorrerem alterações residuais significativas ou
distúrbios rítmicos mais graves, que são raros.
Crianças com cardiopatias cianogênicas, corrigidas cirurgicamente ou não, usualmente
poderão participar apenas de atividades esportivas de baixa intensidade, assim como aquelas
portadoras de doenças genéticas (como, por exemplo, síndrome de Marfan).
Neste artigo, o autor procura fazer uma abordagem global sobre as atividades físicas e
esportivas recreativas nas principais cardiopatias congênitas, no pré e no pós-operatório das
diversas correções anatômicas ou funcionais, e também sobre as recomendações para os
jovens pacientes com doenças genéticas cardiovasculares.
Além de buscar as condutas das diretrizes de reconhecimento internacional, o autor descreve
alguns estudos pioneiros realizados em nosso meio.
152
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
HOSSRI CAC
dades recreativas do tipo B permitem maior con- As atividades esportivas competitivas organi- Atividade esportiva
trole da faixa de treinamento físico proposta, que zadas apresentam diversos níveis de intensidade e nas cardiopatias
habitualmente, quando permitida, deverá ser em a visão médica deve ser individualizada no julga-
torno de 70% da freqüência cardíaca máxima pre- mento das diferentes formas de atividade física,
congênitas
conizada para a idade, com duração de 20 a 30 particularmente para crianças com menos de 12
minutos por sessão e na freqüência de 3 a 5 vezes anos de idade.
por semana. Com relação às atividades recreati- As atividades esportivas representam, hoje, um
vas do tipo A, somente poderão ser liberadas após estilo de vida. Existe, portanto, uma lacuna de di-
reavaliação médica criteriosa, com provas anato- ferenciação entre a definição da atividade esporti-
va recreativa, que se apresenta
com potencial preventivo e sau-
Tabela 2 - Atividades recreativas dável, física e socialmente, além
da diminuição do risco de even-
Tipo A Tipo B tos cardiovasculares14, e da ativi-
dade esportiva competitiva, em
Futsal e futebol de campo Natação que o risco de complicações como
Basquete Ciclismo estacionário acidentes traumáticos (osteomio-
Ginástica rítmica Atividades físicas escolares articulares) e/ou cardiocirculató-
Tênis Exercícios de alongamento rios está inserido com maior po-
Esqui na neve Ioga tencial.
Natação Hoje em dia, as cardiopatias
Equitação congênitas são diagnosticadas de
forma precoce e tratadas cirurgi-
Modificada de Picchio e cols.19 camente em tempo adequado.
Isso implica o aumento do núme-
ro de pacientes com anomalias
mofuncionais semelhantes às das crianças isentas corrigidas, algumas vezes muito complexas, os
de anomalias cardiovasculares. quais, quando atingem a idade adulta, questionam
seus cardiologistas no que se refere à liberação da
PREVALÊNCIA DAS CARDIOPATIAS prática de esportes ou exercícios de alto rendimen-
CONGÊNITAS to.15 Por isso, as recomendações de exercícios nes-
ses pacientes são derivadas principalmente das
São escassos os estudos em larga escala com considerações fisiopatológicas ou da experiência
jovens portadores de cardiopatias congênitas, ape- análoga das doenças cardíacas adquiridas.16
sar de os mais recentes estudos de prevalência glo- Ainda é questionado se o significado das arrit-
bal das mesmas, disponíveis na literatura, demons- mias nas cardiopatias congênitas é o mesmo das
trarem variação de 3,4 a 10,2 por mil nascidos vi- cardiopatias adquiridas ou se mecanismos com-
vos9-12. Estudo realizado no Estado de Nevada, pensatórios são de similar valor em ambas as con-
Estados Unidos, com 5.615 crianças e adolescen- dições.7 Assim, o acompanhamento individual das
tes esportistas, revelou 10,4% de anormalidades malformações cardíacas em cada paciente parece
cardiovasculares13; entretanto, após avaliações ser de crucial importância, e as recomendações
adicionais, 22 crianças (3,9%) foram vetadas para sobre a capacidade de exercício do jovem cardio-
a prática esportiva competitiva. pata devem considerar sua autodisciplina com o
ambiente (escolar e domiciliar) e devem ser peri-
COMO RECOMENDAR ATIVIDADE ódicas, pelo menos anual, por causa das rápidas
FÍSICA RECREACIONAL E QUANDO mudanças hemodinâmicas que ocorrem durante o
LIBERAR UMA CRIANÇA CARDIOPATA crescimento.14
PARA ESSE TIPO DE ATIVIDADE OU
MESMO PARA ESPORTE COMPETITIVO ABORDAGEM CLÍNICA-CARDIOLÓGICA
DE MAIOR DESEMPENHO?
Como toda análise clínica, o conhecimento
A atividade esportiva de recreação está justa- mais profundo sobre a história clínica (com infor-
posta às atividades esportivas competitivas, mas mações detalhadas sobre procedimentos eventu-
existem características específicas nestas últimas almente realizados), o exame físico e o entendi-
em que freqüentemente os participantes (atletas) mento fisiopatológico de cada cardiopatia congê- 153
suplantam seus limites de esforço físico e, muitas nita tornam-se imprescindíveis para o atendimen-
vezes, por tempo prolongado. to médico ótimo e desejável. RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
HOSSRI CAC
Atividade esportiva Exames diagnósticos complementares forne- Defeitos septo-atriais menores com “shunts”
nas cardiopatias cerão detalhes anatômicos e funcionais, como a abaixo de 30% ou razão de fluxo sistêmico-pul-
ecodopplercardiografia, a ressonância nuclear monar inferior a 1,5 não representam maior so-
congênitas magnética, a angio-ressonância e a angiotomogra- brecarga volumétrica ventricular direita; ao con-
fia computadorizada “multi-slice”. trário, grandes defeitos septais implicam signifi-
O teste ergométrico, a eletrocardiografia dinâ- cativa sobrecarga, com subseqüente hipertensão
mica (Holter), o cateterismo cardíaco e o estudo pulmonar, devendo, portanto, ser mais rapidamente
eletrofisiológico permitem análise e tratamento de encaminhados para tratamento cirúrgico.23
diversas arritmias cardíacas e auxiliam na libera- Forame oval patente e possibilidade de embo-
ção do nível de atividade física a ser prescrita.18 lia paradoxal, especialmente durante a manobra
No método de avaliação funcional desse gru- de Valsalva, foram mais freqüentemente observa-
po populacional, o teste ergométrico16 e, quando dos durante exercícios estáticos, tais como levan-
possível ou disponível, o teste cardiopulmonar (er- tamento de peso, devendo, portanto, ser vetados,
goespirométrico) são a maneira mais simples e efe- apesar de não terem sido reportadas incidências
tiva de se analisar a composição da reserva cardí- elevadas em atletas.
aca: reserva cronotrópica, reserva inotrópica (pela Atenção especial deve ser dada em ambientes
análise da pressão arterial), reserva dromotrópica sob condições alteradas de pressão, como mergu-
e reserva coronariana (por meio de alterações ele- lho ou exercícios em grandes altitudes, em que ha-
trocardiográficas).20 verá maior risco de complicação cardiovascular.
A 36a Conferência de Bethesda apresenta como Recomendações
um dos focos principais à elegibilidade de atletas Em pacientes com pequenos defeitos septo-atri-
competitivos com anormalidades cardiovasculares ais, sem volumes significantes de “shunt”, não exis-
as inúmeras cardiopatias congênitas15, 21, como as tem maiores restrições para as atividades físicas.
objetivamente descritas a seguir. Estudos de Goldberg e Mendes24 e de Reybrou-
ck e colaboradores25 demonstraram algumas contro-
CLASSIFICAÇÃO DAS CARDIOPATIAS vérsias; entretanto, houve concordância no fato de
CONGÊNITAS que o nível de condicionamento físico em portado-
res de comunicação do septo interatrial influencia o
Em decorrência do amplo espectro dos graus desempenho no cicloergômetro ou na esteira rolan-
de complexidade das cardiopatias congênitas, uma te.24-27
divisão simples, de acordo com o aspecto clínico Na existência de maiores “shunts” direita-esquer-
da existência ou não de cianose, tornou-se ampla- da, atividades físicas leves podem ser toleradas; caso
mente aceita: acianóticas e cianóticas. existam condições associadas, como arritmias, cui-
A seguir são descritas, de forma objetiva, as dados individuais devem ser tomados para liberação
principais malformações cardíacas com as reco- de atividades físicas leves.
mendações sugeridas com relação à prática das ati- Após correção cirúrgica ou por meio de técnicas
vidades esportivas. percutâneas por cateterismo cardíaco, habitualmen-
te não ocorrem seqüelas significativas; no entanto,
Comunicação interatrial (defeito do septo existe alta incidência de arritmias supraventricula-
interatrial não-tratado e pós-correção) res28, especialmente correções mais tardias.
A comunicação interatrial é a malformação car- Recomenda-se, antes de iniciar atividade física
díaca acianogênica mais prevalente10, representan- regular ou esportiva, que seja feita avaliação clínica
do de forma isolada 7% de todas as anomalias cardiológica e sejam realizados exames adicionais,
congênitas do coração, com predomínio no sexo incluindo-se eletrocardiografia, teste ergométrico,
feminino22. A modalidade tipo II, “ostium secun- radiografia de tórax e ecodopplercardiografia bidi-
dum”, é a mais comum. Em 25% dos casos está mensional, que podem fornecer dados importantes
associada à drenagem anômala das veias pulmo- para liberação mais segura, especialmente nos paci-
nares. Os pacientes, especialmente as crianças, em entes com maiores “shunts” e presença de hiperten-
sua maioria, não apresentam sintomas e o reparo são pulmonar prévia à correção cirúrgica.29
cirúrgico ou por via percutânea deverá ser reali-
zado ainda durante a infância, antes da prática de Comunicação interventricular
atividades físicas de alta intensidade.7 Os defeitos do septo interventricular são en-
Nas crianças ainda não tratadas, o volume do contrados em diversos locais do septo, por vezes
“shunt” esquerda-direita deverá ser avaliado pela associados com anomalias complexas.
154 ecocardiografia, em que a constatação de alarga-
mento atrial direito usualmente indica “shunt”
É a cardiopatia congênita mais comum ao nasci-
mento e seu fechamento espontâneo pode ocorrer
RSCESP superior a 40%. até os dois anos de idade em até 70% dos casos. As
ABR/MAI/JUN 2007
HOSSRI CAC
alterações fisiopatológicas irão depender do tama- Persistência do canal arterial (ducto arterioso Atividade esportiva
nho do defeito e do grau de resistência vascular pul- patente) nas cardiopatias
monar. As comunicações interventriculares podem A persistência do canal arterial pode ser clas-
ser classificadas de acordo com o volume do “shunt”, sificada em pequena, moderada e grande, depen-
congênitas
a relação de fluxo e a resistência vascular pulmonar dendo de suas dimensões. A pequena persistência
(Tab. 3)30. Os sintomas clínicos dependerão das di- do canal arterial não apresenta sintomas clínicos
mensões da comunicação interventricular; habitual- e as dimensões cardíacas encontram-se normais.
mente, pequenos (leves) defeitos não causam maio- Pacientes com moderada persistência do canal ar-
res limitações ou repercussões hemodinâmicas. terial podem apresentar hipertensão pulmonar, em
Figura 2. Ecocardiogra-
fia de esforço. A ecodop-
plercardiografia de es-
forço é o método ideal na
avaliação morfofuncio-
nal cardíaca em diversas
cardiopatias congênitas,
dentre as quais a esteno-
se aórtica e a cardiomio-
patia hipertrófica, ao per-
mitir a análise do gradi-
ente ventrículo esquer-
do-aorta e da função ven-
tricular no exercício de
maneira simultânea à
análise física-funcional e
eletrocardiográfica.
de procedimento terapêutico invasivo deve ser feita Já os pacientes que apresentarem dilatação signi-
por teste de esforço, estudo ecodopplercardiográ- ficativa da aorta ou formação aneurismática ape-
fico, ressonância magnética e/ou estudo angiográ- nas poderão ser liberados para atividades esporti-
fico. vas competitivas de baixa intensidade (classes IA
A terapêutica pode ser realizada por via per- e IB).
cutânea com cateter por balão ou “stent” ou por
tratamento cirúrgico. Cardiopatias congênitas com hipertensão
Após o reparo podem persistir anormalidades, pulmonar
como leve gradiente, hipertrofia ventricular e hi- Os pacientes com doença vascular pulmonar e
pertensão arterial sistêmica. Dessa forma, antes cardiopatia congênita apresentam risco de morte
da liberação para prática esportiva os pacientes súbita durante as atividades esportivas. Com a pro-
devem ser submetidos a estudos diagnósticos, gressão da resistência vascular pulmonar desen-
como eletrocardiografia, radiografia de tórax, tes-
te ergométrico e ecodopplercardiografia. A resso-
volve-se cianose ao repouso, com intensificação
durante o esforço. Embora a maioria desses paci-
157
nância magnética pode ser útil na documentação entes tenha suas atividades autolimitadas, eles não RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
HOSSRI CAC
Atividade esportiva devem participar de atividade esportiva. cientes apresentam melhora clínica dos sintomas
nas cardiopatias Pacientes com suspeita de aumento da pressão ao repouso, mas freqüentemente persiste a dessa-
arterial pulmonar após procedimentos intervenci- turação arterial durante o exercício29, especialmen-
congênitas onistas percutâneos ou cirúrgicos para lesões de te em afecções como a atresia tricúspide, bastante
“shunts” devem ser avaliados com ecodopplercar- estudada por Driscol e colaboradores33.
diografia ou cateterização cardíaca antes de se Recomendações
engajarem em atividades atléticas competitivas. Os pacientes podem participar de atividades
Recomendações esportivas competitivas de baixa intensidade (clas-
Se a pressão arterial pulmonar máxima (pico) se IA), estabelecidos os seguintes critérios:
for inferior a 30 mmHg, a criança atleta está libe- - Saturação arterial deve ser mantida em torno
rada para participar de todas as modalidades es- de 80%.
portivas. - Ausência de eventos taquiarrítmicos ou sin-
Se a pressão da artéria pulmonar for superior a tomas com perda da consciência.
30 mmHg, é necessária completa avaliação e pres- -Ausência de disfunção ventricular moderada/
crição individual do exercício para participação grave.
em atividades atléticas ou esportivas.
Tetralogia de Fallot
Disfunção ventricular após cirurgia cardíaca É a cardiopatia congênita cianótica mais co-
Disfunção ventricular tanto direita como es- mum em crianças com mais de 1 ano de idade. As
querda pode ocorrer após o tratamento cirúrgico alterações fisiopatológicas dependem principal-
de cardiopatia congênita complexa ou simples e mente do grau de estenose pulmonar, do tamanho
afetar o desempenho na atividade física esportiva. da comunicação interventricular e da resistência
Avaliações periódicas para participação esportiva vascular sistêmica. Quando a criança portadora de
são necessárias, pois a função ventricular pode tetralogia de Fallot realiza uma atividade física,
deteriorar a qualquer tempo. pode apresentar crise de hipóxia grave e até cul-
Recomendações minar com a morte. A conseqüente queda da re-
Pacientes com função ventricular normal ou sistência vascular periférica e o aumento da des-
próxima do normal e fração de ejeção normal (50% carga adrenérgica com taquicardia promovem
ou mais) não têm restrições para participação es- maior obstrução ao fluxo sanguíneo pulmonar,
portiva. elevação do “shunt” direita-esquerda (via comu-
Atletas com função ventricular levemente de- nicação interventricular), queda do pH, elevação
primida (fração de ejeção entre 40% e 50%) po- da pCO2 (acidose) e crise de hipóxia.
derão participar de atividades esportivas competi- O momento ideal para a liberação da prática
tivas com baixa intensidade do componente está- desportiva pelos portadores de tetralogia de Fallot
tico (classes IA, IB e IC). é após a correção cirúrgica.
Pacientes com função ventricular comprome- Segundo a revisão de Wessel36 sobre estudos
tida de grau moderado a grave (fração de ejeção do exercício na tetralogia de Fallot, das 4 mil re-
inferior a 40%) não estão liberados para partici- ferências na literatura desde 1965, apenas 87 en-
par de atividade competitiva. volviam o exercício.
O teste ergométrico tem papel fundamental na
Cardiopatia congênita cianótica não-operada avaliação da capacidade funcional no pós-opera-
A cardiopatia congênita cianótica está associ- tório da tetralogia de Fallot, e diversos estudos
ada a intolerância ao exercício e a progressiva hi- demonstram a importância do tempo da realiza-
poxemia com o aumento do esforço físico. Habi- ção da correção cirúrgica, além de colocações so-
tualmente esses pacientes não estão engajados em bre as técnicas realizadas para o procedimento.
atividades esportivas competitivas, em decorrên- Assim, observa-se, em comparação com crianças
cia de sua autolimitação. normais, menor capacidade de trabalho, menor
Recomendações difusão, maiores alterações ventilatórias, e fre-
Pacientes com cardiopatia cianogênica não-tra- qüentes eventos arrítmicos (de 20% a 35%, inclu-
tada em geral podem participar de atividades es- indo-se taquicardias supraventriculares e ventri-
portivas competitivas de baixa intensidade (ape- culares).37
nas da classe IA). Recomendações
Crianças antes da correção cirúrgica somente
Pós-operatório paliativo de cardiopatias poderão participar de atividades de baixa intensi-
158 congênitas cianogênicas
Os procedimentos cirúrgicos paliativos podem
dade (classe A) e obedecendo aos critérios: leve
repercussão hemodinâmica e cuidadosa monitori-
RSCESP promover fluxo pulmonar mais adequado e os pa- zação individual.
ABR/MAI/JUN 2007
HOSSRI CAC
Portadores de tetralogia de Fallot pós-opera- trátil como metabólica de pacientes no pós-opera- Atividade esportiva
dos e com excelente reparo poderão participar de tório tardio de transposição das grandes artérias nas cardiopatias
todos os esportes, desde que estabelecidos os se- por meio de ecodopplercardiografia bidimensio-
guintes critérios: nal de esforço e de teste cardiopulmonar, foi ob-
congênitas
- Pressão normal ou quase normal no coração servada capacidade aeróbica preservada na maio-
direito. ria dos pacientes, com função ventricular direita
- Ausência ou mínima sobrecarga ventricular comprometida em apenas um paciente (pós-cirur-
direita. gia de Senning).39
- Sem evidências de “shunt” residual signifi- Recomendações
cativo. Pacientes selecionados podem se engajar em
- Ausência de arritmias atriais ou ventricula- esportes competitivos leves a moderados com com-
res à eletrocardiografia ambulatorial ou durante ponente estático leve (classes IA e IIA), desde que
teste ergométrico ou ergoespirométrico. estabelecidos os seguintes critérios:
Pacientes com significativa regurgitação pul- - Aumento leve ou ausência de aumento de câ-
monar, sobrecarga ventricular direita e hiperten- maras cardíacas na radiografia torácica, na eco-
são ventricular direita (pico da pressão sistólica dopplercardiografia ou na ressonância magné-
do ventrículo direito maior ou igual a 50% da pres- tica cardíaca.
são sistêmica) ou taquiarritmias atriais ou ventri- - Ausência de história de “flutter” atrial ou ta-
culares só poderão participar de atividades espor- quiarritmias ventriculares.
tivas competitivas de leve intensidade (classe IA). - Ausência de síncope ou de sintomas cardio-
vasculares.
Transposição das grandes artérias – pós- - Teste ergométrico definido como normal
operatório de Senning ou Mustard (tempo de exercício, carga, freqüência cardía-
Os pacientes submetidos a cirurgia para corre- ca, eletrocardiografia e resposta pressórica para
ção da transposição das grandes artérias pela téc- idade e gênero).
nica de Senning ou Mustard podem apresentar al- - Pacientes que não se enquadram nas condi-
terações hemodinâmicas significativas, incluindo- ções acima requerem avaliação e prescrição in-
se prejuízos no retorno venoso sistêmico, esteno- dividualizada do exercício.
se ou hipertensão pulmonar e importantes arrit-
mias atriais. A capacidade de exercício está com- Transposição das grandes artérias – pós-
prometida em relação ao grupo de crianças nor- operatório de Jatene (“switch operation”)
mais38. Após a correção anatômica da transposição das
Após reparo atrial, o ventrículo direito fica sub- grandes artérias pela técnica de Jatene, como pode
metido a pressão sistêmica, e as conseqüências da ser constatado no estudo de avaliação da capaci-
hipertrofia e da dilatação em indivíduos treinados dade funcional contrátil e metabólica pela ecocar-
após excelente reparo atrial da transposição ainda diografia de esforço e ergoespirometria (Fig. 3), o
são desconhecidas. consumo máximo de oxigênio (VO2 máx) e a fun-
Em estudo da avaliação funcional tanto con- ção biventricular estavam preservados, possibili-
tando a liberação desse
grupo para a prática es-
portiva.39 Estudo de Ho-
vels comprova, pelo tes-
te ergométrico, a boa
evolução tardia no pós-
operatório da transposi-
ção das grandes artérias
pela correção anatômi-
ca40.
Recomendações
Pacientes com fun-
Figura 4. Resposta da
freqüência cardíaca du-
rante o teste ergométri-
co em portadores de blo-
queio atrioventricular
total congênito.
TE = teste ergométrico;
BATV = bloqueio atrio-
ventricular total; FC =
freqüência cardíaca.
Figura 5. Gráfico
14,9 da resposta crono-
11,7
trópica (A) e grá-
fico da capacidade
funcional (B).
nascidos vivos e predomínio do sexo feminino, cor- 1) tolerância ao exercício superior a 7 Mets (se-
responde de 3% a 4% de todas as causas de blo- gundo estágio do protocolo de Bruce);
queio atrioventricular total. 2) reserva cronotrópica superior a 50 bpm (eleva-
Considerado doença de caráter benigno, o blo- ção da freqüência cardíaca basal > 70 bpm);
queio atrioventricular total congênito caracteriza- 3) ausência de arritmias ventriculares complexas.43
se por batimentos lentos com dissociação atrio-
ventricular e episódios de síncope. Habitualmen- AVALIAÇÃO FUNCIONAL NO
te não é associado à cardiopatia congênita, mas PÓS-OPERATÓRIO DAS
quando esta se faz presente a transposição corri- CARDIOPATIAS CONGÊNITAS
gida das grandes artérias e a comunicação intera-
trial são as mais comuns. Como não existiam parâmetros da capacidade
162 Discute-se, muitas vezes, sobre o momento
ideal para o implante do marcapasso artificial de-
funcional para crianças normais, bem como para
as portadoras de cardiopatias congênitas, foi rea-
RSCESP finitivo, que é causa de trauma e transtornos nas lizado um estudo com o objetivo de estabelecer
ABR/MAI/JUN 2007
HOSSRI CAC
Tabela 6 - Valores de referência da avaliação da capacidade funcional de crianças e adolescentes
Atividade esportiva
com idade de 4 a 19 anos nas cardiopatias
congênitas
Grupo pós-operatório de
Grupo controle de cardiopatias congênitas diversas
* p < 0,01.
163
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
HOSSRI CAC
Atividade esportiva
nas cardiopatias
SPORTS ACTIVITY IN CONGENITAL HEART DISEASES
congênitas
The active lifestyle has been characterized by regular physical exercises, and even
recreational sport activities seem to be health-giving in the general population. Childhood
and adolescence are the ideal time to encourage physical activities and to develop a wide
range of skills in normal subjects as well as in those with congenital heart diseases.
It does exist a variety of congenital cardiac defects, such as a hole in the upper part of the
heart (atrial septal defect), or in the lower part between the two pumping chambers
(ventricular septal defect), patent ductus arteriosus, and stenosis of big vessels, and these
patients could also participate in all sports, particularly those children who have undergone
surgical correction of their defect, unless they present high pressures in the arteries to the
lungs, or irregularities of their heart rhythm which, fortunately, are extremely rare.
Children with cyanosis, which has been either surgically corrected or not, usually could
participate only in low-intensity competitive sports as well as those children with genetic
cardiovascular diseases (as, for example, Marfan syndrome). In those cases, individual
exercise prescriptions are recommended.
The author analyzes congenital heart diseases and their relationship with physical activities
and sports. This article presents recommendations based on worldwide guidelines and
describes some of the pioneer studies in this matter.
166
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
JATENE MB e cols.
Cirurgia no
CIRURGIA NO PRIMEIRO ANO DE VIDA primeiro ano de vida
Considering the different congenital heart defects presented in the first year of life, many
need immediate, either palliative or definitive surgical correction. The neonates could be
considered a particular group, not only for the low weight and age, but mainly for the
complexity of the majority of the defects that require surgical treatment in the neonatal
period. The surgical treatment of congenital heart diseases, cyanotic or noncyanotic, in the
first year of life aims to correct symptoms (not always present), to offer better quality of life
and favorable long term follow-up. The main congenital heart defects operated on in the first
year of life are: ventricular septal defect, aortic coarctation, tetralogy of Fallot, total
atrioventricular canal, transposition of the great arteries, aortic valve stenosis, truncus, total
anomalous pulmonary venous drainage and hypoplastic left heart syndrome. Morbidity is
different, according to specific anatomical complexity and clinical condition preoperatively.
Definitive correction is usually indicated, with exception of unfavorable clinical condition,
when palliative treatment is initially indicated.
176
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
PACHÓN MATEOS
JC e cols.
ARRITMIAS NA INFÂNCIA Arritmias na infância
Arritmias cardíacas de algum tipo ocorrem entre 10% e 30% nos exames de Holter nas
crianças. Podem ser assintomáticas e benignas, porém em muitos casos produzem sintomas
incapacitantes e risco de morte súbita. Freqüentemente estão relacionadas a cardiopatias
congênitas ou a cirurgias de correção, assim como à presença de feixes ou vias anômalas ou
a cardiopatias adquiridas. A ablação por cateter por meio de radiofreqüência mudou a
história natural de muitas arritmias pediátricas, permitindo a cura definitiva na maioria dos
casos. Adicionalmente, marcapassos especiais, desfibriladores e ressincronizadores estão
cada vez mais estendendo seus benefícios ao pequeno paciente. Análises clínica e
laboratorial cuidadosas permitem identificar o susbstrato arritmogênico, os fatores
moduladores, os fatores deflagradores e, principalmente, se existe ou não cardiopatia
subjacente. Esses elementos são fundamentais para determinar o prognóstico e o tratamento
adequado em cada caso.
Trata-
Sinto- Trata- mento
Etiologia/ mas/ mento defini-
Tipo mecanismo QRS P/QRS risco na crise tivo Observações
AV = atrioventricular; E = QRS estreito, podendo ser largo se bloqueio de ramo ou aberrância (*); L = QRS largo por feixe
anômalo; A = freqüência atrial; V = freqüência ventricular; MV = manobra vagal; V = verapamil; A = adenosina; P =
propafenona; Pr = procainamida; Q = quinidina; Am = amiodarona; CV = cardioversão; Cete = cardioestimulação transe-
sofágica; AA = antiarrítmicos; RF = ablação por radiofreqüência por cateter.
Sinto- Cardio-
Etiologia/ mas/ Função patia Trata-
Tipo mecanismo risco do VE estrutural mento Observações
184
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
PACHÓN MATEOS
JC e cols.
ARRHYTHMIAS IN CHILDHOOD Arritmias na infância
Some kind of cardiac arrhythmia is usually present in about 10% to 30% of children’s
Holter recordings. Frequently they are asymptomatic and benign but in many cases they
cause symptoms, sudden death risk and disabilities. Commonly they are related to
congenital cardiac diseases, to their surgical corrections, to the presence of abnomalous
bundles or to acquired cardiopathies. The radiofrequency catheter ablation has changed the
natural history of several pediatrics arrhythmias achieving the cure in most cases.
Furthermore special pacemakers, defibrillators and resynchronizers are progressively
extending its benefits to the little patient. The careful clinical and laboratorial evaluation
allows identifying the arrhythmogenic substratum, the modulator factors, the triggers and
mainly the presence of the underlying cardiopathy. These clues are essential to determine
the prognosis and the best treatment.
186
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA CMC e cols.
Forâmen oval
FORÂMEN OVAL PATENTE: EMBOLIA PARADOXAL patente: embolia
E ENXAQUECA paradoxal e
enxaqueca
O forâmen oval patente com ou sem aneurisma septal tem sido associado a vários
problemas, como acidente vascular cerebral isquêmico, embolia paradoxal, doença da
descompressão, platipnéia-ortostática e enxaqueca, muito embora a relação causa-efeito
entre forâmen oval patente e esses eventos ainda não esteja bem esclarecida. Avanços
tecnológicos ofereceram mais opções terapêuticas, como a oclusão percutânea do forâmen
oval patente. Todavia, evidência definitiva de sua eficácia ainda está em discussão, e o
fechamento parece ser recomendado apenas como profilaxia secundária para recorrência de
acidente vascular cerebral isquêmico.
Tabela 1 - Resumo dos principais estudos sobre a relação entre forâmen oval patente e enxaqueca
Wilmshurst e cols.17 2000 Inglaterra 21 86% Pacientes foram entrevistados para enxaqueca após
fechamento do FOP; 78% dos casos eram
mergulhadores.
Morandi e cols.18 2003 Itália 17 88% Prospectivo; pacientes com AVC ou AIT.
Post e cols.14 2004 Bélgica 26 60% Retrospectivo; pacientes com AVC criptogênico.
Schwerzmann 2004 Suíça 48 81% Retrospectivo; dependente de memória de cefaléia;
e cols.19 pacientes com evento cerebral isquêmico;
comparam com outras cefaléias.
Azarbal e cols.20 2005 Estados 37 76% Retrospectivo; pacientes com AVC criptogênico.
Unidos
Reisman e cols.21 2005 Estados 50 79% Retrospectivo; pacientes com AVC ou AIT
Unidos criptogênico.
Anzola e cols.15 2006 Itália 50 90% Prospectivo; controle medicamentoso;
pacientes com e sem AVC.
Giardini e cols.22 2006 Itália 35 91% Retrospectivo; pacientes com AVC criptogênico.
Rigatelli e cols.23 2006 Itália 10 100% Prospectivo; pacientes exclusivamente
com enxaqueca.
n = número de pacientes com enxaqueca; FOP = forâmen oval patente; AVC = acidente vascular cerebral; AIT = ataque
isquêmico transitório.
Key words: patent foramen ovale, stroke, migraine, paradoxical embolism, transcatheter
closure.
192
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA CMC e cols.
REFERÊNCIAS cação internacional das cefaléias. 2 ed. São Forâmen oval
Paulo: Segmento Farma Editores; 2004. p. 272. patente: embolia
1. Hagen PT, Scholz DG, Edwards WD. Incidence 12. Schewedt TJ, Dodick DW. Patent foramen paradoxal e
and size of patent foramen ovale during the first ovale - bringing closure to the subject. enxaqueca
ten decades of life: an autopsy study of 965 nor- Headache. 2006;46:663-71.
mal heart. Mayo Clin Proc. 1984;59:17-20. 13. Del Sette M, Angeli S, Leandri M, Ferriero G,
2. Adams Jr HP. Patent foramen ovale: paradoxi- Bruzzone GL, Finocchio C, et al. Migraine
cal embolism and paradoxical data. Mayo Cli- with aura and right-to-left shunt on transcranial
nic Proc. 2004;79:15-20. Doppler: a case control study. Cerebrovasc Dis.
3. Soliman OI, Geleijnse ML, Meijboom FJ, Ne- 1998;8:327-30.
mes A, Kamp O, Nihoyannopoulos P, et al. The 14. Post MC, Thijs V, Herroelen L, Budts WI. Clo-
use of contrast echocardiography for the de- sure of a patent foramen ovale is associated
tection of cardiac shunts. Eur J Echocardiogr. with a decrease in prevalence of migraine.
2007;8:S2-S12. Neurology. 2004;62:1439–40.
4. Di Tullio MR, Sacco RL, Sciacca RR, Jin Z, 15. Anzola GP, Frisoni GB, Morandi E, Casili F,
Homma S. Patent foramen ovale and the risk Onorato E. Shunt-associated migraine respon-
of ischemic stroke in a multiethnic populati- ds favorably to atrial septal repair: a case-con-
on. J Am Coll Cardiol. 2007;49:797-802. trol study. Stroke. 2006;37:430-4.
5. Meissner I, Khandheria BK, Heit JA, Petty GW, 16. Dowson A, Wilmshurst PT, Mullen M, et al. A
Sheps SG, Schwartz GL, et al. Patent foramen prospective, multicenter, randomized, double
ovale: innocent or guilty? Evidence from a blind, placebo-controlled trial to evaluate the
prospective population-based study. J Am Coll efficacy of patent foramen ovale closure with
Cardiol. 2006;47:440-5. the StarFlex septal repair implant to prevent
6. Mas JL, Arquizan C, Lamy C, Zuber M, Caba- refractory migraine headaches: The MIST Tri-
nes L, Derumaux G, et al., for the PFO and al. Presented at: ACC 55th Annual Scientific
Atrial Septal Aneurysm Study Group. Recur- Session, Atlanta, GA, March 11-14, 2006.
rent cerebrovascular events associated with 17. Wilmshurst PT, Nightingale S, Walsh KP,
patent foramen ovale, atrial septal aneurysm Morrison WL. Effect on migraine of closure
or both. N Engl J Med. 2001;345:1740-6. of cardiac right-to-left shunts to prevent recur-
7. Homma S, Sacco RL, Di Tullio MR, Sciacca rence of decompression illness or stroke or for
RR, Mohr JP, for the Patent Foramen Ovale in haemodynamic reasons. Lancet. 2000;356:
Cryptogenic Stroke Study (PICSS) investiga- 1648-51.
tors. Effect of medical treatment in stroke pa- 18. Morandi E, Anzola GP, Angeli S, Melzi G,
cients with patent foramen ovale in Cryptoge- Onorato E. Transcatheter closure of patent fo-
nic Stroke Study. Circulation. 2002;105:2625- ramen ovale: a new migraine treatment? J In-
31. terven Cardiol. 2003;16:39-42.
8. Khairy PO, Donnel CP, Landzberg MJ. Trans- 19. Schwerzmann M, Wiher S, Nedeltchev K,
catheter closure versus medical therapy of pa- Mattle HP, Wahl A, Seiler C, et al. Percuta-
tent foramen ovale and presumed paradoxical neous closure of patent foramen ovale reduces
thromboemboli: a systematic review. Ann In- the frequency of migraine attacks. Neurology.
tern Med. 2003;139:753-60. 2004;62:1399-401.
9. Bousser MG. Patent foramen ovale and migrai- 20. Azarbal B, Tobis J, Suh W, Chan V, Dao C,
ne. Rev Neurol (Paris). 2007;163:17-25. Gaster R. Association of interatrial shunts and
10. Tembl J, Lago A, Sevilla T, Solis P, Vilchez J. migraine headaches: impact of transcatheter
Migraine, patent foramen ovale and migraine closure. J Am Coll Cardiol. 2005;45:489-92.
triggers. J Headache Pain. 2007;8:7-12. 21. Reisman M, Christofferson RD, Jesurum J,
11. Subcomitê de Classificação das Cefaléias da
Sociedade Internacional de Cefaléia. Classifi-
Olsen JV, Spencer MP, Krabill KA, et al. Mi-
graine headache relief after transcatheter clo-
193
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007
SILVA CMC e cols.
Forâmen oval sure of patent foramen ovale. J Am Coll Car- M, Cardaioli P. Primary patent foramen ovale
patente: embolia diol. 2005;45:493-5. closure to relieve severe migraine. Ann Intern
paradoxal e 22. Giardini A, Donti A, Formigari R, Salomone Med. 2006;144:458-60.
enxaqueca L, Prandstraller D, Bonvicini M, et al. Trans- 24. Yankovsky AE, Kuritzki A. Transformation into
catheter patent foramen ovale closure mitiga- daily migraine with aura following transcuta-
tes aura migraine headaches abolishing spon- neous atrial septal defect closure. Headache.
taneous right-to-left shunting. Am Heart J. 2003;43:496-8.
2006;151:922-5. 25. Gupta V. Closure of atrial septal defect and
23. Rigatelli G, Braggion G, Aggio S, Chinaglia migraine. Headache. 2004;44:291-2.
194
RSCESP
ABR/MAI/JUN 2007