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Conto Das Coisas Nas Coisas
Conto Das Coisas Nas Coisas
entendo que uma cadeira seja o que é entendo que, uma cadeira que é o
que é, também possa ser chamada de outra coisa.entendo que esta outra coisa
que ainda não é nem o que é nem o que deveria ser, entendo que esta coisa
possa ser chamada de algo que ainda não aconteceu.
entendo que este algo que ainda não aconteceu possa ser chamado de
algo apenas.entendo que este algo é o móvel desta fábula que se
insinua.entendo que, se chamar o tal objeto mesa de outra coisa, minha
mente vai desmoronar.entendo que se a minha mente desmoronar, as coisas
vão deixar de ser o que são.entendo que se as coisas deixarem de ser o que
são, esta estória tomará rumos estranhos.
prefiro agora voltar os olhos para aquele tal algo que ainda não
aconteceu. a tal cadeira pode ser chamada de outra coisa que certamente nem
sabe que é o que é. poderia chamar a cadeira de mesa ou a porta de janela ou
a janela de cozinha ou a cozinha de jardim ou o jardim de televisão ou o
ventilador de parede ou a parede de teto ou o teto de mar ou o mar de terra ou
o planeta de céu ou o inferno de paraíso ou a abelha de porco ou o leão de
girafa ou a lixeira de livro ou o caderno de cebola ou o a estante de sofá.
Às vezes tenho este jeito de garrafa. fico parado na geladeira e quando
me pegam e me esvaziam tenho ainda mais vontade de urinar. o sofá da tal
sala tem agora aquele jeito de estante do parágrafo anterior. É ali que pego os
meus livros em silêncio.
chamo a cadeira de mesa. então não sento à mesa, sento na cadeira para
comer em companhia de meus iguais. a mesa é agora o local em que todos se
sentam sobre para fumar o tal cigarro benfazejo após o almoço ou jantar.
as paredes que são tetos se abrem para os céus neste motel de boa ou
duvidosa qualidade. estamos aqui com este status de nome próprio comendo
um ao outro como saborosas frutas de estação.
minha consorte tem um jeito de manga espada. tem um jeito verde de
ser e um interior carnudo e amarelado. os fiapos desta manga eterna quase
sempre ficam grudados em meus dentes famintos. a marca indelével de um
amor com cheiro de comida gordurosa.
ela tem um jeito estranho de amar. gosta de levar alguns tapas na altura
da boca.ele gosta de ver o tanto de sangue que escorre da tal boca. gosta de
beijar o meu peito com aquele tanto de sangue que sai de sua boca.
ele também inverte o nome das coisas.ela me chama de latrina e diz que
todos os males deste mundo estão em mim transformados em fezes.eu a
chamo de barata e ela diz que vai rastejar sobre mim.o quarto daquele motel
vagabundo, nós agora os chamamos de espelho.
a minha consorte com aquele jeito de manga espada consumida ou
chupada até as últimas conseqüências.ele agora com os tais cabelos hirtos
frente ao tal espelho que testemunha a minha controlada agressividade quando
da penetração.ela agora transformada num pneu vazio atirado num canto da
oficina.ela com as pernas abertas a sorrir cinicamente lambendo aquele tanto
de sangue que caiu em seus dedos.
o quarto transformado em espelho e a cadeira transformada em
mesa e os nomes transformados em coisas que martelam nossa mente até o
extremo de um gozo.ela com jeito de manga chupada e eu com jeito de língua
assada com batatas e farofa num feriado santo no qual não se deva comer
carne.
ele agora transformado em porco que chafurda no interior de sua
angústia.ele olha para a tal mulher desfalecida de tanto gozo.ele primeiro pega
os pés da tal mulher com jeito de manga espada.ele diz para si mesmo que
aqueles pés são duas maçãs avermelhadas e apetitosas.ele corta as maçãs pela
metade e as consome lentamente como se elas fossem o que fossem.ele ouve
gemidos agonizantes e depois alguns gritos desesperados.ele está em frente a
uma árvore secular e pode ver um grupo de homens sinistros tramando o
assassinato de um imperador qualquer.ele continua a comer as maçãs.ele está
agora próximo aos tais homens que ignoram sua presença de sombra.ele
finalmente devora as tais maçãs e senta-se com seu jeito de sombra à beira da
cama e percebe que aquela mulher já não mais pertence a este mundo.
ele resolve que deve parar de comer as maçãs e decide se
transformar em manga chupada e amassada e exaurida.ele quer fazer isto para
encontrar com a tal mulher que agora sangra abundantemente ao ter os pés
cortados.ele então metamorfoseado em manga chupada e massacrada
inúmeras vezes por quem quer que seja.ele se lembra do fato de que levantou
um móvel com as mãos e o jogou para cima e deixou que o mesmo caísse em
sua cabeça.ele com um corte profundo bem no meio daquele couro
cabeludo.teve uma concussão cerebral e pôde ver o seu corpo estrebuchando
no chão indiferente daquele quarto de motel.
o motorista daquele caminhão não poderia ser culpado por aquele
acidente.ele estava vindo de onde estava vindo e isto é ponto pacífico.
a estrada estava escura e sua velocidade era normal ou dentro dos
limites estabelecidos por uma lei qualquer.ele se meteu na frente do tal
caminhão com o tal jeito de manga chupada.ele sentiu o que é ser atropelado
por um caminhão ao sair feito um louco após conseguir atingir o tal ponto g
daquela mulher.ele em pedaçinhos bem em frente ao quarto de motel de beira
de estrada.ele manga ou maçã ou esterco de qualquer animal bem em frente ao
tal quarto de motel de beira de estrada que atinge agora o ponto g da tal
mulher que vibra após gozar como uma cadela.
posso chamá-lo de qualquer coisa agora que a coisas não são como são e
nem como poderiam ser.
conto amassado
ele gostava de amassar os papéis deste jeito. ele sabia que só ele era capaz
de amassar os papéis daquele jeito.
ele guardava aquele segredo a sete chaves. ele sabia que ninguém poderia
entrar naquele banheiro para ver aquilo.
ele gostava de dobrar o tal papel higiênico. ele o dobrava para encontrar o
volume certo para a tal bola branca e amarronzada.
ele ia pegando mais e mais papel até que a bola tomasse corpo. ele então
evitava se limpar com aquela bola.
ele gostava de brincar com aquela bola de papel higiênico de boa
qualidade no banheiro.
ele molhava a tal bola na pia e a jogava para cima em frente ao espelho
daquele banheiro.
sabe-se que ele gostava da tal palavra banheiro. ele gostava da palavra
urinar e também da palavra defecar.
ele conhecia muito bem o humor daquela urina. por vezes um jato
grosso de um amarelo convincente. por vezes um jato enfraquecido com jeito
de coisa branca como uma clara de ovo quebrada.
conto desossado.