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POEMAS PROSCRITOS
O fim tão seco como este resto de vinho ingerido neste dia/
Em minha garganta atingida por um golpe de uma espada milenar/
O sangue que escorre nesta minha sina de estar a um passo do abismo/
As mãos e os pés atados e o olhar repleto de nada.
Eu digo que não sou nem mais nem menos do que este coisa alguma
Este pronome qualquer que invade as minhas horas de insônia
Estou para os dias escuros e as cavernas mais distantes nas quais peleja um
animal qualquer
O corpo estirado no chão frio e o sangue a escorrer de um ferimento profundo/
Palavras lúgubres que descrevem esta cena triste em desterro
E que gritam por aí estranguladas como estes versos derramados sem alarde/
Lá fora um dia inteiro se vai como as árvores seculares que se rendem à
podridão de sua história/
Um tanto de raízes mortas e no mais restos de um tronco marrom e o verde
das plantas agora parte de um chão agourento.
-A cadela evidentemente.
Algo em mim zunia como uma faca atirada contra uma árvore secular.
32
Há muito tempo atrás desapareci entregue à própria sorte.
Tornei-me ninguém na sombra de meu abandono.
Perdi as palavras que me devoraram numa batalha sanguinolenta.
O silêncio dos proscritos tomou minha alma sem lugar.
33 Respiro fundo
Respiro fundo quando acordo bem cedo pela manhã.
Respiro fundo,
Respiro fundo quando acordo bem cedo pela manhã.
Respiro fundo
Respiro
Respiro.
36
Não guardo mais em mim o dizer daquilo que se manifesta
Senão de algo que desconheço e que pulsa no além de muros intransponíveis.
Explodir,Implodir
Implodir,Explodir:
O sangue escorre verso a verso como uma faca enterrada em meu peito:
É preciso ser simples para navegar nas escuras águas do desterro.
55 Canção maldita
Escuro, vazio,qualquer,ninguém.
67
O sol é hoje o poema que me faz sofrer mais um pouco.
O amarelo que ofusca os olhos, brilhantes, jóias raras e coisas afins.
Ode Frugal
Para morrer faça o bolo e coma-o com sorvete de creme após o último jantar/
Na sua própria casa ou na de quem quer que seja/
III Havia muita coisa que surgia fora de seus olhos.Tudo escapa agora mesmo
de suas mãos.
Este vício de procurar incertezas vem desde de muito cedo.Foi como se a
sensação de nascimento e morte já estivesse a correr em seu sangue desde as
mais remotas eras.
Tantas coisas se passam entre um calafrio e outro nas tórridas ou gélidas
noites de pensamentos que correm para todos os lados.
A solidão, a mais instigante manifestação dos antigos na angústia que
roça o inominável das coisas.
Esta estranheza de se estar assim, neste precário equilíbrio daqueles que
margeiam o inferno expelido em gotas de suor nas sarjetas do insondável.
Houve uma vez na qual entrei sem corpo no nenhum.Nada pude ver além do
que não via:
97 Palavras escurecem
Neste tanto de coisa alguma
Posso rasgar roupas num ataque de fúria
E beliscar este cão por excesso de fidelidade
Hoje invejo aqueles que se ocultam
Como sombras a fugir de si mesmas sempre assim
Gosto de cuspir o que resta de minha alma na sarjeta
E andar zonzo por entre os esgotos de minha verve sanguinária
98
Preciso de muito pouco
Para não ser quase nada
Uma lata de lixo em qualquer beco
Próximo às sombras da noite
Não mais tenho lugar
Onde quer que esteja em ninguém
Corto os meus pulsos quando levito
Sozinho no além de meu desterro.
99
Vou beber mais este drink
E zanzar pelas ruas deste inferno em chamas
Minha garganta efervescente há de roubar um corpo
De um homem acima dos setenta anos
Que se mova sem dificuldade
Para ser atropelado por um carro e morrer.
100
Esta vida é porca
Ordinária como estas roupas que visto
Quando não sinto mais nada
Nestes dias sem muito
Neste dias de pouco
Estirado como uma planície estéril
Repleta de animais famintos que sucumbem
Putrefatos no interior de uma palavra qualquer
Que dorme ao lado dos defuntos.
Troco de quarto
Com a palavra angústia
Para então devorar
A carcaça do tempo
Que descasca exposta ao sol
Nas palavras pele e clara
Que só sabem sangrar
Quando estão embriagadas.
102
Estou menor
Do que uma caixa esquecida
No bolso de qualquer um
Que goste de amassar papéis
Como quem vai apenas dar uma volta
Para verter o longe da tristeza
E transformar o que resta da morte
Na água que escorre do telhado
E que molha a fronte sombria
De uma alma que não deixa recados.