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Curso: Reabilitação Urbana com foco em Áreas Centrais

O Iphan e o patrimônio cultural brasileiro

 Registram-se os primeiros debates sobre a proteção do patrimônio cultural, no


Brasil, durante a Semana de Arte Moderna de 1922, onde foi amplamente
discutida a necessidade de busca da identidade nacional e a instauração de uma
política cultural.

 Em 1934, foi criada a Inspetoria de Monumentos Nacionais-IPM, ligada a Museu


Histórico Nacional. A IPM objetivou impedir a retirada do país de bens móveis
ligados à memória da nação e também evitar a destruição de edificações
monumentais e serviu como base para a criação do Serviço de Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional – atual Iphan.

 No mesmo ano ocorreu o tombamento constitucional da cidade de Ouro Preto, no


livro de Belas-Artes.

 Em 1937 o Sphan foi criado. Nesta época considerava-se patrimônio como o


conjunto de bens materiais de natureza arquitetônica, urbanística, histórica, artística,
arqueológica e documental, como de acordo com o Decreto-Lei Nº 25 que organiza
a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional:

Art. 1º Constitue o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos


bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interêsse
público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil,
quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou
artístico.
§ 1º Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte
integrante do patrimônio histórico o artístico nacional, depois de inscritos
separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata
o art. 4º desta lei.
§ 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também
sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e
paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que
tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana.
(BRASIL, 1937)

 Os anos de 1937 a 1967 correspondem à “fase heróica” do Iphan, onde ocorreram,


principalmente, inventários, estudos, pesquisas, além trabalhos de conservação e
restauração. Neste período, foram privilegiadas edificações que representam
estilisticamente o período colonial: igrejas, fortificações, engenhos e casas de
câmara.

 O instrumento utilizado para a proteção do patrimônio foi o tombamento. Depois de


escrito no livro de tombo, a proteção e conservação do monumento é de
responsabilidade compartilhada do poder público e do proprietário.
 O Decreto definiu restrições aos proprietários das coisas tombadas:

Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas,
demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou
restauradas, sob pena de multa de cinqüenta por cento do dano causado.
(BRASIL, 1937)

 O Decreto também definiu procedimentos para a vizinhança das coisas


tombadas:

Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e


Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer
construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar
anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o
objeto, impondo-se neste caso a multa de cinqüenta por cento do valor do
mesmo objeto. (BRASIL, 1937)

 Estas determinações do Decreto-lei nº 25 são consideradas pioneiras, no Direito


Brasileiro, da indicação do conceito da Função Social da Propriedade, que indica
que o direito à propriedade privada somente será reconhecido se esta propriedade
cumprir uma função social.

 O conceito de propriedade social já estava presente na Constituição de 1934:


Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à
subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes;
(...)
17) É garantido o direito de propriedade, que não poderá ser exercido
contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determinar.
(BRASIL, 1934)

 Nas décadas de 1950 e 60, acompanhando um movimento mundial, observa-se a


evolução da proteção, que passou a ser feita de forma mais sistemática em conjuntos
arquitetônicos.

 Na década de 1970, o Iphan começou a ampliar o conceito de patrimônio à medida


que incorporou a ideia de bem cultural, do qual fazem parte as manifestações
populares e bens ligados a outros grupos sociais, além da burguesia. Assim, o
recorte de bens protegidos passou a representar o patrimônio cultural, não só
histórico e artístico.

 Entre 1967 e 1979, ocorreu uma gradativa transformação nas ações do Iphan, onde
procurou-se substituir a imagem de “preservador radical” para negociador que
indica que a preservação não é, obrigatoriamente, contrária ao desenvolvimento.
 A partir de 1979, o IPHAN atravessa seu “momento renovador” onde é valorizada a
participação da população e a descentralização das ações. Porém, durante os anos
80, a principal forma de ação de preservação continuou a ser o tombamento.

 A Constituição de 1988 trouxe a ampliação do conceito de patrimônio, bem como


um artigo específico sobre o patrimônio cultural, abarcando essa visão mais
abrangente e definindo a competência da preservação:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza


material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados
às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários,
registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação. (BRASIL, 1988)

 A Constituição de 1988 definiu também o conceito de função social da propriedade


com maior precisão:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social. (BRASIL, 1988)

 A proteção do patrimônio imaterial foi oficializada pelo Iphan por meio do Decreto
nº 3.551, de 04 de agosto de 2000.

 Em 2009 foi regulamentado pelo Iphan o conceito de paisagem cultural na Portaria


nº 127, de 30 de Abril de 2009: “Art. 1º. Paisagem Cultural Brasileira é uma
porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do
homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas
ou atribuíram valores” (BRASIL, 2009).

 Atualmente, patrimônio cultural abrange bens imóveis e conjuntos urbanos, bens


móveis e integrados, sítios arqueológicos, patrimônio imaterial, paisagem cultural,
acervos museológicos, bibliográficos, arquivísticos e audiovisuais. A política de
preservação deste patrimônio envolve intervenções físicas de conservação e
restauração, mas também ações de valorização dos bens de modo que seja resgatada
sua relação de memória e afeto com a comunidade.
Fonte:

www.iphan.gov.br

OLIVEIRA, Cléo Alves Pinto de; COELHO, Ricardo Correa (orientador). Educação
patrimonial no Iphan. Monografia de Especialização em Gestão Pública. Brasília:
Escola Nacional de Administração Pública, 2011.

BRASIL. Decreto-Lei nº 25 de 30 de novembro de 1937: Organiza a proteção do


patrimônio histórico e artístico nacional. [S.n], 1937.
BRASIL. Constituição da República do Brasil. Brasília: [S.n], 1934.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: [S.n], 1988.
BRASIL. Decreto nº 3.551, de 04 de agosto de 2000: Institui o Registro de bens
culturais de natureza imaterial que constituem o Patrimônio Cultural Brasileiro, cria o
Programa Nacional do Patrimônio Imaterial e dá outras providências. [S.n], 2000.
BRASIL. Portaria Nº 127, de 30 de Abril de 2009: Estabelece a chancela da Paisagem
Cultural Brasileira. [S.n], 2009.

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