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O MENINO ESTRANHO

Seu nome era Sid, e era conhecido pelo apelido de Neivisol ou Xoxó, que era o nome de um
famoso palhaço de circo.Morava num vilarejo tranquilo onde se podia respirar ar puro e ouvir
pássaros cantando nas árvores que eram abundantes nesse local. Esse vilarejo tinha um
pouco mais de mil habitantes e todos se conheciam pelo nome. Um lugar mágico, sossegado e
muito gostoso de se viver. Ali funcionava apenas uma fábrica de calçados e um curtume que
sustentavam a economia local, além de pequenos comércios. A agricultora também tinha vital
importância para a comunidade. Plantavam de tudo e isso servia para abastecer seus
habitantes.
O que mais se destacava era famosa plantação de pimenta. Anos depois foi classificada como
a Capital nacional da pimenta. A pequena escola onde Neivisol estudava era o Grupo
Escolar, Dr. Urbano Garcia.
Os professores eram poucos e rígidos nos ensinamentos. Cada professor podia lecionar várias
matérias alternadamente. Havia mãe que ia à escola reclamar dos castigos infligidos aos
alunos que cometiam algum deslize e eram castigados com puxões de orelha e a famosa
palmatória.

Nesse lugarejo havia uma enorme roda em forma de engrenagem defronte à fábrica que
simboliza o progresso do lugar e segurança para os trabalhadores e foi o primeiro sistema de
fornecimento de energia elétrica para a Empresa e para os primeiros aglomerados da Vila
Lange, hoje, Turuçu.
Foi transformado em monumento histórico junto ao acesso principal do município. A polia de
aproximadamente 3,50m de diâmetro foi utilizada na Empresa Arthur e Filhos em 1935. Os
jovens costumavam se reunir ali para bater papo e namorar.
Neivisol, pouco participava dessas atividades pois sentia-se um menino muito estranho com
tudo o que acontecia. Sempre agitado e nervoso ao extremo.Seus passos eram rápidos e
curtos e sempre caminhava, cabisbaixo, e segundo diziam as pessoas dessa pequena
comunidade. vivia "no mundo da lua".Tímido ao extremo. Não conseguia concatenar seus
pensamentos de forma racional pois eram muito dispersos. Falava pouco e parecia estar
alienado do mundo. Até que tentava fazer novos amigos mas sempre resultava em investidas
infrutíferas. Na escola ia muito mal e quase sempre levava a pior numa briga. Sentia-se inferior
aos demais colegas.
Neivisol, apesar de todas as dificuldades, tinha um sonho! Ser radialista ou ator. Se imaginava
desempenhando grandes papéis e no cinema ou um locutor de rádio. Mas aquilo estava tão
distante de sua realidade que parecia impossível para outras pessoas, não para ele que
ousava sonhar e apreciava muito as divertidas sessões de cinema que eram realizadas na
Sede Social da Fundação dos funcionários da fábrica comandada pelo operador, Fritz, que
amava demais a Sétima Arte.
Como não existiam cadeiras suficientes para todos, eram improvisadas, colocando tábuas
felpudas sobre engradados de cerveja.
Eram momentos mágicos que marcaram a vida desse garoto e que mais tarde teriam influência
sobre sua vida.
Vez por outra também era visitada por Aci Portela, grande ventriluco e mágico, que manipulava
e animava seus bonecos de forma magistral. Não se percebia a movimentação labial, tamanha
era a perfeição com que executava os movimentos quase impercetíveis mesmo aos ovos mais
atentos.
Para quem não conhece esse termo,ventriloquia ou ventriloquismo é a arte de projectar a voz,
sem que se abra a boca ou mova-se os lábios, de maneira que o som pareça vir doutra fonte
diferente do falante e seus personagens pareciam ter personalidade e vida própria.
Neivisol, trabalhava como pintor de móveis no Brechó onde eram feitas as apresentações de
Acii Portela. Os móveis eram organizados de tal forma que as apresentações aconteciam no
centro do galpão rodeado de móveis.

A mãe de Neivisol era muito querida pela comunidade. Pessoa muito sofrida pelas dificuldades
que enfrentara durante a vida toda mas nem por isso deixava de ser alegre e enfrentava os
problemas com bom humor e otimismo. Gostava de ouvir o programa Radiofônico de Omar
Cardoso "o verdadeiro professor de otimismo".
Quando ficava zangada com Neivisol ou um de seus irmão e perdia a calma usava sua vara
verde de marmelo que era bastante flexível e nunca quebrava.
Ele vivia sobressaltado e o medo o aprisionava. Tinha quase sempre pesadelos terríveis à
noite.Era tratado com frieza e indiferença e raramente recebia carinho de sua progenitora. Ele
intuitivamente sabia que tinha alguma coisa errada e que não era culpa dela.Isso tinha uma
origem, visto que fora criada por parentes que a maltratavam depois que sua mãe se matara
envenenada. Seu pai distribuiu imediatamente todos os filhos pela casa dos parentes. Ele
concluiu que por esse motivo sua mãe o tratava dessa forma. Sua avó, que era benzedeira,
acabou por se matar com veneno de rato, e o pior de tudo, grávida de oito meses. Isso
certamente influiu sobre a vida de sua mãe e talvez sobre sua própria vida.
No momento ele não sabia que tudo o que sentia estava ligado ao seu passado e indiretamente
ao de seus antepassados. Era como estivesse aprisionado dentro dele mesmo. Não parecia
fazer parte desse mundo e todos também lhe eram muito estranhos.Sempre dizia que não era
desse planeta e que os terráqueos eram muito equivocados no seu modo de pensar e agir. Ele
procurava desesperadamente uma saída para que seus sentimentos se equilibrassem, mas
não sabia como fazer isso. Internamente algo lhe dizia que existia uma chave para abrir as
portas que o levariam a libertação. Onde estaria essa chave?

MEU PAI,
MARCOS MILITAO DE BORBA
Meu progenitor era um homem muito honesto e trabalhador e muito querido pela comunidade
da antiga Vila Arthur Lange.Fabricava tijolos e telhas de saibro.Era um trabalho muito duro
principalmente quando fazia a queima de tijolos.Eram 3 dias consecutivos sem dormir pois as
fornalhas tinham que estar bem abastecidas para que o calor se mantivessem constante e
uniforme. Além disso, meu pai era muito versátil e "se virava" em outras atividades: Vendia
roupas masculinas para os operários da fábrica e dividia os pagamentos em várias vezes.
Também exercia a profissão de carpinteiro, pedreiro e ainda consertava baterias. Inventou uma
engenhoca que funcionava com a força do vento e produzia energia elétrica que alimentava
toda a casa. Ele a chamava de aerodínamo. O nome correto é cata-vento, ou veleta, que é um
dispositivo que aproveita a energia dos ventos (energia eólica).
Eu acho que foi ele que "inventou os modernos cata-ventos."
Tenho muito orgulho de meu pai que virou nome de uma das mais importantes ruas, MARCOS
MILITÃO DE BORBA, na Cidade de Turuçu, RS.

Banho no Arroio
Estância
Chalé
Cebola
Pintor de móveis
Ping ping
Paixão pela Mariza
Coreia
Gravador
Locutor
Seminário
Cassimba de água
Arame bambo
A ansiedade rápido em tudo
Circo e o livro

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