Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Reitor
Arody Cordeiro Herdy
4 Farmacologia Básica
Introdução
Dor é uma sensação subjetiva, desagradável, de caráter cognitivo e
emocional, em resposta a um estímulo nocivo ou fisiológico, no qual há aumento
da excitabilidade do sistema somatossensorial, como resposta à proteção do
nosso organismo. Considerada o 5º sinal vital, em condições patológicas, a dor
se torna tão intensa a ponto de prejudicar a função de um tecido.
Farmacologia Básica 5
1. Como Ocorre o Estímulo Doloroso
O estímulo doloroso ocorre em razão do disparo de terminações
nervosas nociceptivas primárias de alto limiar, geralmente ocorrendo na
periferia do organismo, mas também em órgãos mais internos, em respostas
a estímulos térmicos, mecânicos e químicos.
Saiba Mais
Para visualizar melhor o circuito de transmissão de dor descrito no texto
acima, desde a periferia até o SNC, as vias descendentes inibitórias que
participam do controle de portão medular e que freiam a transmissão
de entrada do impulso doloroso na medula, veja a figura 17.1 do livro
Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacologia. Para
acessar este conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e Leia mais
estar com a Minha Biblioteca aberta.
6 Farmacologia Básica
neurônios de projeção secundários, diminuindo ainda mais a entrada desse
estímulo da dor no SNC.
2. Anti-inflamatórios
A inflamação é uma resposta do organismo a uma lesão tecidual que
pode ser causada por danos físicos, agentes químicos ou infecciosos.
Farmacologia Básica 7
que ocorre devido ao edema, diminuição do pH e liberação dos mediadores
químicos inflamatórios e, finalmente perda da função tecidual que ocorre
quando o tecido sofre o reparo.
PLA2
Ácido araquedônico
(-)
AINES COX
Endoperóxido cíclico
8 Farmacologia Básica
A COX existe em duas isoformas distintas estruturalmente, a COX-
1 e a COX-2, mas que utilizam o mesmo substrato, o ácido araquidônico, e
produzem os mesmos produtos. A diferença (Quadro 1) é que a COX-1 é
uma enzima constitutiva e participa de uma série de processos fisiológicos
do nosso organismo, por isso está sempre presente nas células e ativa para
garantir a nossa homeostase. A COX-2 é induzida, ou seja, ela tem sua
expressão muito aumentada na presença de inflamação, isso garante aumento
da produção de eicosanoides levando à inflamação, ao aparecimento dos sinais
cardinais e, muitas vezes, a um quadro de febre.
Farmacologia Básica 9
Vasodilatação da arteríola aferente renal que garante bom Retenção de sódio e fluidos
PGE2
fluxo sanguíneo renal e taxa de filtração glomerular levando a edema.
PGE2 Indução de contrações em útero gravídico e
Prolongamento da gestação
PGF2α dismenorreia em útero não gravídico
Quadro 2: Papel dos autacoides sobre a homeostase do organismo e efeito dos AINES. Fonte: Do autor.
Quadro 3: AINES divididos em grupos de inibidores não seletivos da COX (inibem COX-1 e COX-2) e inibidores seletivos
somente da COX-2. Fonte: Do autor.
10 Farmacologia Básica
Os principais efeitos adversos dos AINES inibidores não seletivos da
COX ocorrem em razão da inibição da COX constitutiva (COX-1) (Quadro
2) e são:
Importante
O ácido acetilsalicílico, por inibir irreversivelmente as COX-1 e 2, é também utilizado em
baixas doses (AAS infantil) como antiagregante plaquetário em pacientes com distúrbios
da coagulação sanguínea, como em pacientes infartados, por exemplo, mas, pelo mesmo
motivo, não pode ser utilizado em pacientes com doenças hemorrágicas, como dengue e
zika, pois aumenta o risco de hemorragia.
Em ambas doenças é recomendado a dipirona, e somente se ela não fizer efeito, o
paracetamol, apesar deste medicamento ser hepatotóxico, em doses maiores que a
terapêutica, e o vírus também atacar o fígado do paciente. Esse efeito hepatotóxico do
paracetamol pode ser revertido com a administração de N-acetilcisteina IV, dentro de 10
horas após a intoxicação com o medicamento.
Farmacologia Básica 11
II, um potente vasoconstrictor. O resultado final é que haverá um aumento
da vasoconstrição, elevando a pressão arterial e o trabalho cardíaco, um risco
para pacientes hipertensos e com doença cardíaca isquêmica, além do aumento
do disparo da coagulação sanguínea catalisada pelo aumento da agregação
plaquetária, favorecendo a formação de trombos, um perigo para os mesmos
pacientes com isquemia cardíaca e os com histórico familiar de trombose.
12 Farmacologia Básica
AINES, aumentando a concentração plasmática livre e seu▪
efeito hipoglicemiante.
▪▪ Anti-hipertensivos: efeito antagonizado pelos AINES,
principalmente o grupo dos inibidores da ECA (por exemplo,
o captopril) e antagonistas do receptor de angiotensina 2 tipo 1
(AT1), como a losartana.
▪▪ Probenecida: fármaco que aumenta a excreção de ácido úrico,
utilizado no tratamento da gota, que tem efeito diminuído▪
pelo AAS.
▪▪ Lítio: estabilizador de humor, tem sua excreção diminuída pelos
AINES.
Saiba Mais
Para saber mais sobre as indicações e contraindicações individuais
dos AINES, é necessário analisar seus efeitos terapêuticos e adversos
para avaliar vantagens e desvantagens diante das diversas condições
patológicas, as características do paciente e o risco de interações
medicamentosas. Veja a figura 36.15 do livro Farmacologia ilustrada.
Para acessar este conteúdo, é necessário fazer login no Portal Leia mais
Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta.
Farmacologia Básica 13
Colesterol
Aldosterona
Progesterona
Testosterona Cortisol
Estradiol
Glândula supra-renal
Andrógenos Rim A
Catecolanas Uretra
Estrogênios e
Glicocorticoides Testosterona
Epinefrina e
Cortisol & Norepinefrina
Cortisona
Peptídeos
Mineralocorticoides
Somatostatina
Aldosterona e & Substância P
Corticosterona Medula
Cortex
14 Farmacologia Básica
Agora, veja o ciclo dos glicocorticoides.
B
Thamalus
Hipotálamo
Tronco
cerebral
Pituitária
(hipófise)
Núcleo
pré-óptico medial
Hipotálamo
Gonadotrofina
Liberando Hormona
Inibe
Anterior
Posterior
ACTH
Hipófise
(hipófise) Sinal de
estimulação
Manhã
Tarde
Glicemia aumentada
Noite para energia
Glococorticóide
(glicose + córtex + esteróide)
Figura 3: Em A, a glândula supra-renal, sua localização, divisão interna e hormônios produzidos em cada local; em B, a liberação
de glicocorticoides. O estímulo estressor faz com que os neurônios do núcleo pré-óptico medial disparem estimulando os neurônios
Farmacologia Básica 15
do hipotálamo a produzir e liberar GnRH estimulando as células da hipófise anterior (adenohipófise) a aumentar a liberação de
ACTH, que cai na circulação, atingindo a glândula adrenal e estimulando a produção e liberação de glicocorticoides. O aumento de
glicocorticoides no plasma irá inibir a liberação de GnRH pelo hipotálamo e ACTH pela hipófise. Fonte: Dreamstime.
Fármacos Glicocorticoides
Betametasona
Cortisona
Dexametasona
Fludrocortisona
Hidrocortisona
Metilpredinisona (metabólito ativo Metilpredinisolona)
Predinisona (metabólito ativo Predinisolona)
Triancinolona
Budesonida
Fluticasona
Mometasona
Beclometasona
Ciclesonida
16 Farmacologia Básica
Esses fármacos agem por inibir a fosfolipase A2 (PLA2) indiretamente
(Figura 4), pela indução da produção de lipocortina, que inibe diretamente
a enzima, diminuindo não só a produção de prostaglandinas, prostaciclina e
tromboxano A2, exercendo efeito analgésico, antipirético e anti-inflamatório,
mas também de leucotrienos, inibindo a quimiotaxia de leucócitos para o
local da inflamação (efeito imunossupressor).
Ácido araquedônico
COX 5-lipoxigenase
5-HPTE LTA4
Endoperóxido cíclico
Farmacologia Básica 17
aminoácidos para a gliconeogênese, acentuando a lipólise para a geração de
energia por meio da oxidação de ácidos graxos, diminuindo a resposta das
células à insulina, aumentando a glicose plasmática. Esses efeitos poderão levar
à atrofia muscular, à redistribuição da gordura e ao diabetes, respectivamente.
Além disso, eles diminuem a absorção de cálcio mediada pela vitamina D
e aumentam sua excreção renal, o que diminuirá sensivelmente o nível de
cálcio plasmático, levando ao aumento da liberação de paratormônio (PTH)
pelas glândulas paratireoides. Este efeito, aliado ao aumento da atividade dos
osteoclastos (macrófagos ósseos) e diminuição da atividade dos osteoblastos
(célula que produz matriz óssea), causados pelos mesmos fármacos, poderá
causar osteoporose no paciente.
18 Farmacologia Básica
Saiba Mais
Vários fármacos fazem parte do grupo dos anti-inflamatórios
esteroidais. Para conhecer o nome do fármaco e por quais vias de
administração podem ser utilizados, veja a figura 27.5 do livro
Farmacologia ilustrada. Para acessar este conteúdo, é necessário fazer
login no Portal Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta. Leia mais
Saiba Mais
Todos esses efeitos adversos dos glicocorticoides irão depender da dose
utilizada, tempo de uso, via de administração, faixa etária do paciente
e fármaco utilizado. Alguns fármacos, além de apresentarem efeito
glicocorticoide, também apresentam efeito mineralocorticoide grande, o
que aumenta a probabilidade de edema no paciente. Veja a figura 27.4
do livro Farmacologia ilustrada. Para acessar este conteúdo, é necessário Leia mais
fazer login no Portal Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta.
Farmacologia Básica 19
As interações medicamentosas também podem afetar a concentração
plasmática dos glicocorticoides e, consequentemente, seu efeito.
Fenitoína, barbitúricos,
Aceleram o metabolismo Podem diminuir o efeito
carbamazepina,
hepático dos GC farmacológico
rifampicina
Insulina,
hipoglicemiantes orais,
Alterações da glicemia,
anti-hipertensivos, Têm suas necessidades
pressão arterial, pressão
medicações para aumentadas pelos GC
intraocular
glaucoma, hipnóticos,
antidepressivos
GC podem facilitar a
Digitálicos (na Pode haver acentuação da toxicidade dos
toxicidade associada à
hipocalemia) digitálicos devido à alteração eletrolítica
hipocalemia
Aumento da incidência de
AINES Aumento da incidência de úlcera péptica
alterações gastrintestinais
Potencialização
da replicação dos
Vacinas e toxoides Atenuam a resposta
micro-organismo em
vacina de vírus vivos
Diuréticos depletadores
Repercussão clínica
de potássio (tiazídicos e Acentuação da hipocalemia
em razão da hipocalemia
de Alça)
Diminuição da eficácia
Salicilatos Diminuição dos níveis plasmáticos
do salicilato
20 Farmacologia Básica
2.3 Analgésicos Centrais – Fármacos Opioides
O terceiro grupo de fármacos que promovem analgesia não tem
efeito anti-inflamatório, como os anteriores, mas ainda pode promover
imunossupressão quando utilizado de forma crônica nos pacientes.
Saiba Mais
O mecanismo de ação dos opioides leva à diminuição da comunicação entre os neurônios
envolvidos no circuito da dor, por reduzir a excitabilidade, diminuindo a quantidade de
despolarizações destes neurônios, e por reduzir a liberação de
neurotransmissores excitatórios na fenda sináptica, o que colabora
para impedir a comunicação dos neurônios nociceptivos aferentes
primários com o neurônio de projeção secundário. Saiba como isso
ocorre na figura 14.4 do livro Farmacologia ilustrada. Para acessar este
conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e estar com a
Minha Biblioteca aberta.
Leia mais
Farmacologia Básica 21
Saiba Mais
A classificação dos fármacos opioides é realizada de acordo com sua atividade sobre os
receptores opioides, como agonista puro dos receptores µ, κ e δδ, ou agonistas mistos
(atividade agonista sobre algum receptor e antagonista sobre o
outro) ou antagonistas puros. Essa classificação também pode ser
realizada de acordo com sua eficácia clínica em alta, média e baixa
eficácia. Conheça mais sobre estes fármacos na tabela 31.2 do livro
Farmacologia básica e clínica. Para acessar este conteúdo, é necessário
fazer login no Portal Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta. Leia mais
Saiba Mais
Cada receptor opioide é responsável por uma série de efeitos dos
agonistas endógenos (endorfina, encefalina e dinorfina) e dos
fármacos opioides, mas também é a ativação destes receptores que
causarão a maioria dos efeitos adversos dos fármacos. A função dos
receptores opioides e seus agonistas endógenos pode ser observada na
tabela 31.1 do livro Farmacologia básica e clínica. Para acessar este Leia mais
conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e estar com a
Minha Biblioteca aberta.
22 Farmacologia Básica
Efeitos Adversos Causa
Inibição do centro respiratório, mediado pelo receptor µ, no tronco
Depressão respiratória
encefálico
Euforia Não está bem estabelecida
Disforia Não está bem estabelecida
Dependência física Não está bem estabelecida
Sedação Inibição do SNC
Tolerância Não está bem estabelecido
Bloqueio da dilatação reflexa da pupila por aumento da atividade
Constrição pupilar
parassimpática no circuito local
Redução da motilidade
gastrointestinal (diminuição peristalse Ativação dos receptores opioides no trato gastrointestinal
e constipação)
Náuseas e vômitos Ativação da zona de gatilho quimiorreceptora no SNC
Supressão do reflexo da tosse Inibição do centro bulbar da tosse
Urticária e prurido locais,
Degranulação de mastócitos com liberação de histamina
broncoconstrição e hipotensão
Retenção urinária Diminuição do fluxo sanguíneo renal
Redução da secreção de ADH
Ativação do receptor κ no hipotálamo.
(hormônio antidiurético) e ocitocina
Redução da secreção de CRF e GnRH Ativação de receptores opioides no hipotálamo e hipófise
Aumento de prolactina Ativação de receptores opioides no núcleo arqueado
Vasodilatação causada pelo aumento da pressão de CO2 e
Diminuição da pressão arterial
liberação de histamina.
Cólica biliar Aumento da pressão na vesícula biliar
Efeitos centrais sobre receptor µ que alteram a resposta simpática
Imunossupressão
e do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal
Farmacologia Básica 23
Saiba Mais
Os efeitos adversos dos opioides dependerão da sua eficácia e
classificação, se agonistas puros de alta, média ou baixa eficácia, ou
agonistas mistos, suas propriedades farmacocinéticas, principalmente
seu tempo de meia-vida, interações medicamentosas e podem aparecer
com o uso agudo ou o uso crônico do fármaco. Veja mais sobre efeitos
adversos desses fármacos na tabela 31.4 do livro Farmacologia básica
e clínica. Para acessar este conteúdo, é necessário fazer login no Portal Leia mais
Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta.
A heroína é uma droga de abuso que faz parte do grupo dos fármacos
opioides e é a droga com maior capacidade de causar dependência psíquica
e física, pois seu tempo de meia-vida é pequeno, requerendo muitas doses
diárias. Sua eficácia é alta, além disso, é a droga que entra no SNC mais
rápido, pois é a mais lipossolúvel do grupo.
24 Farmacologia Básica
uma necessidade de tomar o fármaco para impedir desconforto físico. Na
retirada abrupta do fármaco, o paciente desenvolve a síndrome de abstinência,
com sintomas como medo, ansiedade severa, fissura, inquietação, bocejos e
espirros recorrentes, sudorese, lacrimejamento, rinorreia, obstrução nasal,
náuseas e vômitos, midríase, tremor, piloereção, diarreia, espasmos e dores
musculares, aumento da pressão arterial, taquicardia, febre e calafrios. Com o
decorrer do tratamento ao vício, o paciente vai apresentar ainda hipotensão,
bradicardia, perda de energia, inapetência, insônia e fissura.
Farmacologia Básica 25
pois há risco de aumento da depressão do SNC, principalmente da
depressão respiratória;
▪▪ Com fármacos antipsicóticos (haloperidol, clozapina, risperidona,
quetiapina, sulpirida etc.), podem potencializar o efeito sedativo,
cardiovasculares e a depressão respiratória.
▪▪ Com antidepressivos inibidores da monoaminoxidase (IMAO),
como a fenelzina, a isocarboxazida e a tranilcipromina, aumenta o
risco de coma hiperpirético.
Classificação Fármaco
Alfentanila
Fentanila
Remifentanila
Heroína
Hidrocodona
Agonistas puros de Hidromorfona
alta eficácia Meperidina ou petidina
Metadona
Morfina
Oxicidona
Oximorfona
Sulfentanila
Agonistas puros de Codeína
baixa eficácia Tramadol
Buprenorfina
Butorfanol
Agonistas mistos
Nalbufina
Pentazocina
Naloxona
Antagonistas Naltrexona
Nalmefeno
Quadro 7: Exemplos de fármacos analgésicos opioides e sua classificação como agonista puros, mistos ou antagonistas. Fonte: Do autor.
26 Farmacologia Básica
3. Anestésicos
Os anestésicos são fármacos capazes de inibir o impulso elétrico
de neurônios nociceptivos aferentes primários localizados e impedir a
despolarização desses terminais nervosos locais, fazendo com que a informação
dolorosa não chegue no SNC produzindo anestesia local, ou inibir as
transmissões sinápticas no SNC, deprimindo-o como um todo, produzindo
a anestesia geral.
Farmacologia Básica 27
Procaína
O
CH3 A
N CH3
O
H2N
intermediária
hidrofílica
lipofílica
(éster)
Cadeia
Parte
Parte B
Lidocaina
H
N
N
O
intermediária
hidrofílica
(amida)
lipofílica
Cadeia
Parte
Parte
Figura 5: Estrutura de um anestésico local do tipo éster (A) e amida (B). Fonte: Do autor.
Saiba Mais
A estrutura da maioria dos anestésicos locais é composta por um grupamento lipofílico e um
grupamento hidrofílico unidos por uma cadeia intermediária que pode ser uma ligação do tipo
éster ou uma ligação do tipo amida. A estrutura química diferenciada
pela composição da cadeia intermediária determina algumas
propriedades farmacológicas desses fármacos. Para saber mais sobre
a estrutura dos anestésicos, veja a figura 26.1 do livro Farmacologia
básica e clínica. Para acessar este conteúdo, é necessário fazer login no
Portal Unigranrio e estar com a Minha Biblioteca aberta. Leia mais
28 Farmacologia Básica
Vasos sanguíneos
Nervo
espinhal
Perineuro
Fibra sem
mielina Feixe
Fibra com
mielina Fibra Feixe
Endoneuro
Fibra
Endoneuro
Agulha
* = anestésico local
Figura 6: Local de administração do anestésico local. O fármaco deverá entrar no feixe nervoso
e não cair nos vasos sanguíneos. Fonte: Adaptado de Mundo Educação.
Farmacologia Básica 29
Saiba Mais
A lipossolubilidade dos anestésicos locais está intimamente ligada a sua
potência anestésica e maior afinidade ao seu receptor, bem como ao
tempo de duração do seu efeito. Para saber mais sobre a classificação
dos anestésicos locais de acordo com sua estrutura química, correlação
com a potência e duração de ação do seu efeito, verifique a tabela
26.1 do livro Farmacologia básica e clínica. Para acessar este Leia mais
conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e estar com a
Minha Biblioteca aberta.
Canal de Na+
voltagem dependente
Membrana plasmática
Axônico Neurônio
Figura 7: Mecanismo de ação dos anestésicos locais. Observe que a quantidade de ALH+ aumenta em ambiente mais ácido, como o
citoplasma da célula. AL = anestésicos locais; ALH+ = anestésico local ionizado; H+ = próton Fonte: Adaptado de Dreamstime.
30 Farmacologia Básica
pH mais alcalino da matriz extracelular em comparação ao pH do citoplasma
da célula, o que favorece a formação da espécie não ionizada (lipossolúvel).
Por isso, a administração de bicarbonato de sódio, uma substância alcalina,
muitas vezes é utilizada na prática clínica para que o fármaco tenha um
início de ação mais rápido. Por outro lado, em tecidos inflamados, o pH
dessa matriz diminui e fica ácido, fazendo com que aumente a quantidade de
fármaco na forma ionizada (ALH+) e diminua a entrada do anestésico local no
feixe nervoso. Aliado a isso, ainda haverá a vasodilatação localizada, causada
pelos mediadores inflamatórios, que aumentará o fluxo sanguíneo no local,
aumentando a absorção do fármaco, retirando-o do local onde se encontra no
feixe nervoso e reduzindo seu efeito.
Saiba Mais
A susceptibilidade ao efeito anestésico pode variar de acordo com: o tipo de fibra nervosa;
espessura e frequência de despolarizações, altas ou baixas; se mielinizada ou não; e posição
no feixe nervoso. As fibras mais susceptíveis ao bloqueio são as
mielinizadas, mais delgadas, com maior frequência de despolarizações
e as fibras proximais localizadas na porção externa do feixe nervoso.
Veja mais em tabela 26.3 do livro Farmacologia básica e clínica. Para
acessar este conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e
estar com a Minha Biblioteca aberta. Leia mais
Farmacologia Básica 31
mas, também, assim que caem na corrente sanguínea, causando menor risco
de toxicidade para o paciente. Porém, os anestésicos locais do tipo amida
só serão metabolizados por enzimas hepáticas. Portanto, precisa circular no
organismo até chegar ao fígado para ser inativado. Por isso, há um risco maior
de esses últimos fármacos citados chegarem a diferentes tecidos no organismo,
causando efeitos adversos ou tóxicos, dependendo da dose administrada.
No SNC:
▪▪ Sonolência;
▪▪ Tonteira;
▪▪ Distúrbios visuais e auditivos;
▪▪ Inquietação;
▪▪ Dormência e gosto metálico (sintomas precoces de▪
toxicidade);
▪▪ Nistagmo, contrações musculares espasmódicas, convulsões e
morte (efeitos tóxicos).
No sistema cardiovascular:
32 Farmacologia Básica
Os anestésicos locais também podem causar efeitos adversos e tóxicos
locais, como lesão neural e alguns sintomas neurológicos transitórios, como
exemplo, síndrome de dor ou disestesia transitória e parestesia.
Como são fármacos bases fracas, sua eliminação pode ser acelerada
com a acidificação da urina.
Farmacologia Básica 33
miastenia grave, doença neuromuscular, comprometimento da circulação
cerebral e histórico de hipertermia maligna), pacientes em que a função
pulmonar esteja comprometida, pacientes com doenças cardiovasculares, pois
pode ocorrer diminuição da perfusão dos tecidos o que pode desencadear
lesões por isquemia, além disso alguns anestésicos podem desencadear
arritmias cardíacas e pacientes com diminuição da função hepática e renal, o
que pode afetar a distribuição e eliminação destes fármacos, respectivamente.
Outro tipo de paciente que deve ser avaliado são as mulheres grávidas,
pois já existem relatos de teratogenicidade causada por anestésicos utilizados
no início da gestação, além do risco de abortamento.
Saiba Mais
Além do uso do anestésico geral para atos cirúrgicos, também é comum o uso de fármacos
adjuvantes para garantir alguns efeitos desejáveis e inibir os indesejáveis, para facilitar a
manipulação cirúrgica do paciente, por exemplo antagonistas do receptor de histamina do
tipo 2 (bloqueadores H2), como a ranitidina, anti-histamínicos (bloqueadores H1), como
a prometazina, anti-eméticos, como a ondansetrona e bloqueadores
neuromusculares, como o pancurônio e succinilcolina. Para saber mais
sobre a ajuda desses fármacos durante uma cirurgia, veja a figura
13.2 do livro Farmacologia ilustrada. Para acessar este conteúdo,
é necessário fazer login no Portal Unigranrio e estar com a Minha
Biblioteca aberta. Leia mais
34 Farmacologia Básica
As concentrações dos anestésicos utilizados devem ser controladas
para manter o paciente em estado III.
3. Recuperação: momento em que a combinação de fármacos para
efeito anestésico é cessada até a recuperação da consciência (inverso
da indução).
Saiba Mais
Existem 4 estágios de depressão do SNC, entre os estados de vigília até a morte, e que
podem ser atingidos farmacologicamente: estágio I ou estado de analgesia, mais próximo
do estado de vigília; estágio II ou de excitação; estágio III ou
de anestesia; e estágio IV de depressão bulbar. Para saber por
que o paciente anestesiado deve ficar no estágio III durante uma
cirurgia, observe a figura 16.1 do livro Princípios de farmacologia:
a base fisiopatológica da farmacologia. Para acessar este conteúdo,
é necessário fazer login no Portal Unigranrio e estar com a Minha
Leia mais
Biblioteca aberta.
Farmacologia Básica 35
3.2.1 Anestésicos Inalatórios
Os anestésicos inalatórios são pequenas moléculas de hidrocarbonetos
halogenados, voláteis, lipossolúveis, não inflamáveis nem explosivos, capazes
de atravessar as membranas alveolares e chegar rapidamente ao sangue para
ser distribuído pelos tecidos corporais. Sua farmacocinética dependerá da sua
solubilidade relativa no sangue e na gordura corporal.
36 Farmacologia Básica
aumentará, mas sua distribuição por todos os tecidos corporais (e
não somente no SNC) também será aumentada, fazendo com que
a indução da anestesia seja mais demorada.
Farmacologia Básica 37
O mecanismo de ação desses fármacos ainda não é bem esclarecido.
Sabe-se que há um aumento da inibição da comunicação entre neurônios
no SNC, seja pelo aumento da inibição sináptica ou por diminuição da
neurotransmissão excitatória. Os receptores ionotrópicos são os principais
alvos destes fármacos que podem agir por aumentar a transmissão inibitória,
seja elevando a permeabilidade, do cloreto através de receptores GABAA ou
de glicina, ou de potássio, hiperpolarizando os neurônios tornando mais
difícil sua despolarização, ou pela inibição de receptores excitatórios como os
nicotínicos para acetilcolina, receptores NMDA e AMPA para glutamato e
receptores 5-HT3 e 5-HT2 para serotonina.
Saiba Mais
Anestésicos gerais agem sobre sinapses inibitórias e excitatórias, aumentando a atividade
dos neurotransmissores inibitórios, como GABA e glicina, sobre seus receptores gabaérgicos
e glicinérgicos, também aumentando abertura dos canais de potássio,
e inibindo a atividade dos neurotransmissores excitatórios, como a
acetilcolina, glutamato e serotonina sobre seus receptores nicotínicos,
NMDA, AMPA e cainato e 5-HT3 e 5-HT2. Você pode entender melhor
essa ação na figura 25.1 do livro Farmacologia básica e clínica. Para
acessar este conteúdo, é necessário fazer login no Portal Unigranrio e
Leia mais
estar com a Minha Biblioteca aberta.
38 Farmacologia Básica
É um fármaco que age sobre os receptores gabaérgicos, promovendo o
aumento da abertura do canal de cloreto, maior entrada deste íon no neurônio
e sua hiperpolarização, deixando os neurônios menos despolarizados.
Farmacologia Básica 39
Esses fármacos agem por potencializar a ação do GABA pelo
receptor GABAA, aumentando a permeabilidade neuronal ao cloreto,
hiperpolarizando-o, o que aumenta a inibição do SNC.
40 Farmacologia Básica
Síntese
A dor é uma resposta subjetiva e complexa do organismo, que ocorre
em razão de um estímulo nocivo ou não e pode ter diversas etiologias, nem
todas bem esclarecidas. Seu tratamento não é menos complexo, pois o arsenal
terapêutico para garantir a analgesia é muito grande.
Farmacologia Básica 41
Referências
GOLAN, D. E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da
farmacologia. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan LTDA., 2014.
42 Farmacologia Básica