Você está na página 1de 56

Capítulo 4.

Oferta, Procura e Eficiência dos Mercados

Índice
4.1 Excedente do consumidor
4.2 Excedente do produtor
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência
4.4 Eficiência de mercado e políticas económicas
4.5 Aplicações

Bibliografia
• Mankiw e Taylor (2011), capítulos 7 e 8.
• Besanko e Braeutigam (2011), capítulo 10. 1
4.1 Excedente do consumidor

Capítulo 4. Oferta, Procura e Eficiência dos Mercados

No capítulo 2, viu-se como, nos mercados de concorrência perfeita, as forças da oferta e


da procura determinam os preços dos bens e as quantidades transacionadas. Analisou-se
a forma como o modelo do mercado de concorrência perfeita permite fazer previsões
acerca do modo como os mercados afetam recursos escassos na economia. Mas não se
analisou, nesse capítulo, se essa afetação é desejável à luz de critérios de bem estar da
sociedade. Dito de outro modo, fez-se uma análise positiva e não normativa.

Viu-se que num mercado livre e concorrencial, é de prever que o preço do bem se ajuste
de forma que, em equilíbrio, a quantidade procurada do bem é igual à quantidade
oferecida, nesse mercado. Surge, então, uma questão relativa ao modelo de mercado de
concorrência perfeita: Será que, em equilíbrio, a quantidade transacionada no mercado é
demasiado grande ou demasiado pequena? Esta é a questão da eficiência económica.

Viu-se que a economia estuda a afetação de recursos escassos a fins alternativos e que
os mercados concorrenciais constituem um mecanismo de afetação de recursos. A
afetação dos recursos envolve dois aspetos, o uso dos recursos na produção de bens e a
satisfação das necessidades de bens por parte dos consumidores que desejam consumir
esses bens. Neste capítulo vamos mostrar em que medida esse mecanismo é eficiente
nessa função de afetação dos recursos, quer na produção quer no consumo.

2
4.1 Excedente do consumidor

4.1 Excedente do consumidor

Exemplo: (Mankiw e Taylor, 2011, pp. 139-141)


Simplificadamente, admita-se um mercado de um bem (álbum de música) constituído por
4 potenciais compradores e que cada um dos consumidores está disposto a procurar uma
(única) unidade do bem.

Comprador Preço de Preço de mercado Quem compra ? Quantidade


reserva procurada
João 100 € Superior a 100 Ninguém 0
Paulo 80 € ] 80; 100 ] João 1

Jorge 70 € ] 70; 80 ] João + Paulo 2

Tomás 50 € ] 50 ; 70 ] João + Paulo + Jorge 3

Tabela 4.1 Inferior ou igual a 50 Os 4 4


Tabela 4.2

3
4.1 Excedente do consumidor

Se o preço de mercado for superior a 100 €, a quantidade procurada será zero, visto que
nenhum comprador estará disposto a comprar uma unidade do bem.
Se o preço de mercado for superior a 80 € mas inferior ou igual a 100 € (80 < P ≤ 100), o João
estará disposto a comprar uma unidade do bem; os restantes compradores potenciais não
comprariam, porque o seu preço de reserva seria inferior ao preço de mercado (ver Figura 4.1).
A análise continuaria considerando sucessivamente outros preços de mercado, comparando o
preço de mercado com os preços de reserva dos potenciais compradores.
Para qualquer preço de mercado (P), a quantidade procurada total (QD) é a determinada pela
disposição à procura do conjunto dos consumidores cujo preço de reserva é maior ou igual do
que esse preço de mercado ( PRes ≥ P ).
Note-se que:
para qualquer quantidade procurada, os preços correspondentes definem a curva da
procura;
os níveis da curva da procura refletem o preço de reserva da última unidade do bem ou
do comprador marginal; ou seja, do comprador que deixaria de comprar o bem se o preço
de mercado fosse um pouco superior (i.e., maior que o seu preço de reserva).
Nota: em língua inglesa, o preço de reserva que um consumidor atribuí a uma unidade de um bem designa-se
correntemente de “willingness to pay” 4
4.1 Excedente do consumidor

Preço de um
álbum

100 € Preço de reserva do João

80 € Preço ’de reserva do Paulo

70 €
Preço de reserva do Jorge

50 € Preço de reserva do Tomás

Curva da Procura

Figura 4.1

0 1 2 3 4 Quantidade de álbuns

Copyright©2003 Southwestern/Thomson Learning


4.1 Excedente do consumidor

Exemplo: (Mankiw e Taylor, 2011, pp. 139-141) – continuação

Admita-se que:
(i) o preço de mercado é igual 80 €, e
(ii) todos os consumidores pagam esse mesmo preço de mercado.
Neste caso (ver Figura 4.2), o João está disposto a adquirir o bem, porque o preço de
mercado é inferior ao seu preço de reserva: o João paga 80 € por uma unidade do bem e
estaria disposto a pagar 100 €. Diz-se que obtém um excedente económico de 20 € .
O Paulo tem um preço de reserva de 80 €, igual ao preço de mercado; adquire o bem,
mas o seu excedente económico é nulo.
Os restantes compradores não estão dispostos a comprar o bem visto que os seus preços
de reserva são inferiores ao preço de mercado de 80 €. Assim, dado que não adquirem o
bem, o excedente económico de cada um dos restantes compradores potenciais neste
mercado é igual a zero.

6
4.1 Excedente do consumidor

Preço de um
Figura 4.2 Medição do excedente do consumidor a
álbum
partir da curva da procura
Preço de mercado = 80 €
100 € Preço de reserva do João

Excedente do João

80 €

70 €

50 €

Curva da Procura

0 1 2 3 4 Quantidade de álbuns

Copyright©2003 Southwestern/Thomson Learning


4.1 Excedente do consumidor

Preço de um
Figura 4.3 Medição do excedente do consumidor a partir
álbum
da curva da procura
Preço de mercado = 70 €

Excedente do João

80 €
Excedente
’ do Paulo
70 €

Excedente do
consumidor
50 €

Curva da Procura

0 1 2 3 4 Quantidade de álbuns

Copyright©2003 Southwestern/Thomson Learning


4.1 Excedente do consumidor

Excedente económico de um consumidor: é a diferença entre o valor máximo que


o consumidor está disposto a pagar pelo bem e a quantia que efetivamente paga, ou
seja, é o benefício líquido resultante do consumo do bem.

Ao preço de 70 €, o excedente económico do João é de 30 € , o do Paulo é de 10 € e o


dos restantes compradores é zero.
Excedente do consumidor (EC): tendo em atenção uma determinada quantidade
transacionada no mercado, o excedente do consumidor é a diferença entre o valor
máximo que os consumidores estão dispostos a pagar por essa quantidade do bem
e o montante efetivamente pago. Ou seja, é uma medida do benefício líquido do
conjunto dos consumidores que adquirem o bem ao preço de mercado, em resultado
do consumo do bem.

No caso do preço de mercado ser de 70€, a soma dos excedentes económicos dos
consumidores, ou seja, o EC, é igual a 40 €.
A unidade de medida do excedente do consumidor é a unidade de medida na qual o preço
do bem está expresso. Se o preço do bem está expresso em termos de unidades
monetárias (u.m.), então o excedente do consumidor tem como medida uma grandeza
monetária.
Como a curva da procura reflete o preço de reserva dos compradores, o excedente do
consumidor é a área abaixo da curva da procura de mercado e acima do preço de 9
mercado.
4.1 Excedente do consumidor

O excedente do consumidor num dado mercado é uma medida do benefício líquido dos
consumidores resultante do consumo do bem ao preço de mercado. Consequentemente, é
um instrumento económico útil para medir o impacto de uma variação do preço de mercado
no bem-estar dos consumidores.
O conceito de excedente do consumidor é válido para qualquer curva da procura.
Considere a Figura 4.4, em que a curva D é a curva da procura de mercado de um bem.
No exemplo anterior considerou-se uma curva da procura ‘em degraus’ para ilustrar o
excedente do consumidor das unidades consumidas, uma vez que a procura aí era por
unidades discretas de um bem.

Para iniciar a análise, vamos supor que o preço de mercado é igual a P1.
O excedente do consumidor é a área abaixo da curva da procura de mercado e acima do
preço de mercado. Ou seja, ao preço de mercado P1, o excedente do consumidor é a área
do triângulo A C P1 .

Figura 4.4 Variação no


excedente do
E consumidor
.

10
4.1 Excedente do consumidor

Admita-se agora que o preço de mercado é P2. O excedente do consumidor passa a ser
igual à área do triângulo A F P2 . Neste mercado, a um preço menor vai gerar-se um
aumento no excedente do consumidor, num montante igual à área C F P2 P1 .
Este aumento do excedente do consumidor pode ser decomposto em duas partes:
- a área do retângulo P1 C E P2 e
- a área do triângulo C E F .

Note-se que os compradores que compravam Q1 ao preço P1 passam a comprar essa


quantidade a um preço menor, P2. A área do retângulo P1 C E P2 corresponde ao
aumento no excedente do consumidor resultante da diminuição da quantia paga (redução
do preço por unidade do bem) pelos consumidores que adquiriram a quantidade Q1 ao
preço P1.
A descida do preço de mercado de P1 para P2 provoca um aumento da quantidade
procurada no mercado, de Q1 para Q2 . A área do triângulo C E F corresponde ao
aumento do excedente do consumidor resultante do aumento da quantidade procurada.

Nota: Um aumento da quantidade procurada no mercado pode resultar de:


um aumento da quantidade procurada dos consumidores que já consumiam o bem,
e/ou da entrada de novos consumidores que anteriormente não consumiam o bem e que,
com a diminuição do preço de mercado, estão dispostos a adquirir uma certa quantidade do
bem.

11
4.2 Excedente do produtor

4.2 Excedente do produtor


Toma-se por base o princípio da maximização do lucro por parte dos produtores.
O preço mínimo que um dado produtor requer para vender uma unidade adicional do bem
no mercado é igual ao seu custo de produção dessa unidade adicional. Para efeito da
decisão de um dado produtor sobre se vai oferecer uma unidade adicional do bem no
mercado, ou não, o custo marginal representa o preço de reserva do produtor.
Exemplo: (Mankiw e Taylor, 2011)
Simplificadamente, admita-se que temos 4 produtores no mercado e que, cada produtor
tem a capacidade para oferecer uma única unidade do bem nesse mercado. E admita-se
que:

Preço de mercado Quem vende ? Quantidade


Vendedor Custo Oferecida
marginal
Superior ou igual a 900 Todas 4
Emília 900 €
[ 800; 900 [ Júlia + Paula + Inês 3
Júlia 800 € [ 600; 800 [ Paula + Inês 2
Paula 600 € [ 500; 600 [ Inês 1
Inês 500 € Inferior a 500 Nenhuma 0
Tabela 4.3
Tabela 4.4 12
4.2 Excedente do produtor

Curva da Oferta
Preço unitário

Custo marginal da Emília


900 €
800 € Custo marginal da Júlia

600 € Custo marginal da Paula

500 € Custo marginal da Inês

Figura 4.5
0 1 2 3 4
Quantidade

13
4.2 Excedente do produtor

Para qualquer preço de mercado (P), a quantidade oferecida total (QS) é a determinada
pela disposição à oferta do conjunto dos produtores cujo preço de reserva é menor ou
igual do que esse preço de mercado ( PRes ≤ P ).

Note-se que:
a qualquer quantidade oferecida, os preços correspondentes definem a curva da
oferta;
os níveis da curva da oferta refletem o preço de reserva ou custo de produção da
última unidade do bem ou do vendedor marginal; ou seja, do vendedor que deixaria
de vender o bem se o preço de mercado fosse um pouco inferior (i.e., menor que o
seu preço de reserva).

14
4.2 Excedente do produtor

No exemplo aqui apresentado:


Para uma quantidade oferecida de 3 unidades: se o preço de mercado for de 800 €,
há três produtores dispostos a oferecer o bem, dados os seus preços de reserva. A
um preço de mercado de 800 €, a Inês tem um excedente de 300€, a Paula um
excedente de 200 €, e a Júlia um excedente nulo. Dado que o preço de reserva da
terceira vendedora (Júlia) é de 800 €, ela está disposta a oferecer o bem a esse
preço; neste caso, a Júlia é a vendedora marginal.
Para uma quantidade oferecida de 4 unidades: se o preço de mercado for de 900 €,
os quatro produtores estão dispostos a oferecer o bem. Com efeito, dado que o preço
de reserva da quarta vendedora (Emília) é de 900 €, ela está disposta a oferecer o
bem a esse preço; neste caso, a Emília é a vendedora marginal.

15
4.2 Excedente do produtor

Figura 4.7 Medição do excedente do produtor


a partir da curva da oferta
Preço unitário Preço de mercado = 800 €

900 €
800 €
Excedente da Paula
600 € (200 €)
500 €
Excedente
’ da
Inês (300 €)

0 1 2 3 4
Quantidade

16
4.2 Excedente do produtor

Excedente económico de um produtor: é a diferença entre o montante que o


produtor efetivamente recebe pela venda do bem e o valor mínimo que está disposto a
aceitar para produzir e oferecer o bem, ou seja, é o benefício líquido do produtor
resultante da venda do bem.

Se o preço de mercado for de 800 €, a Inês e a Paula vendem, cada uma, uma unidade
do bem e as restantes produtoras potenciais não estão dispostas a vender o bem. Nesta
situação, o excedente económico da Inês é de 300 €, o da Paula é de 200 € e o dos
restantes produtores é igual a zero.

Excedente do produtor (EP): é a diferença entre o que os produtores efetivamente


recebem por determinada quantidade do bem e o valor mais baixo que estão dispostos a
aceitar para produzir essa quantidade.

No exemplo que vimos, se o preço de mercado for de 800 €, a soma dos excedentes
económicos dos produtores, ou seja, o EP é igual a 500 € .

O excedente do produtor é uma medida (monetária) do benefício líquido dos produtores


resultante da produção e venda de uma dada quantidade do bem ao preço de mercado.

17
4.2 Excedente do produtor

Para uma dada quantidade transacionada no mercado a um dado preço, o


excedente do produtor é determinado pela diferença entre:
a receita total do conjunto dos produtores gerada pela transação dessa
quantidade
o somatório dos custos de oportunidade do conjunto dos produtores, ou seja, o
somatório dos seus custos marginais, que é o custo variável total e, portanto,
não engloba os custos fixos.

O excedente do produtor é uma medida do benefício líquido dos produtores


resultante da produção e venda de um bem ao preço de mercado.

De seguida, vamos analisar o efeito de uma variação do preço de mercado de um


bem na magnitude do excedente do produtor.

18
4.2 Excedente do produtor

Considere-se a Figura 4.8, em que a curva S é a curva da oferta de mercado de um bem.

Vamos supor que o preço de mercado é inicialmente igual a P1. O excedente do produtor
é a área acima da curva da oferta de mercado e abaixo do preço de mercado. Assim, o
excedente do produtor ao preço P1 é a área do triângulo [ A B C ] , assinalado na Fig. 4.8.
Admita-se, em alternativa, que o preço de mercado é igual a P2 . O excedente do produtor
passa a ser igual à área do triângulo [ A D F ] . O aumento do preço de mercado gerou um
aumento no excedente do produtor igual à área [ B D F C ] .

S
D E F
P2
Figura 4.8 Variação no excedente
B C do produtor.
P1

Q1 Q2 Q

19
4.2 Excedente do produtor

Este aumento no excedente do produtor pode ser decomposto em duas partes:


- a área do retângulo [ B D E C ] e
- a área do triângulo [ C E F ].

Note que os produtores que vendiam Q1 ao preço P1 passam a vender essa quantidade a
um preço maior, P2. A área do retângulo [ B D E C ] corresponde ao aumento do
excedente do produtor resultante do aumento da quantia recebida (aumento do preço por
unidade do bem) pelos produtores que ofereceram e venderam a quantidade Q1 ao preço
P1.

O aumento do preço de mercado de P1 para P2 provoca um aumento da quantidade


oferecida de Q1 para Q2. A área do triângulo [ C E F ] corresponde ao aumento do
excedente do produtor resultante do aumento da quantidade oferecida.

Nota: Um aumento da quantidade oferecida no mercado pode resultar de:


um aumento da quantidade oferecida dos produtores que já produziam e vendiam o
bem
e/ou da entrada de novos produtores que anteriormente não produziam o bem e que,
com o aumento do preço de mercado, estão dispostos a oferecer uma certa
quantidade do bem.

20
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

Os excedentes do consumidor (EC) e do produtor (EP) são instrumentos económicos que


se utilizam para medir o bem-estar dos consumidores e dos produtores, respetivamente.

Excedente económico total: é a soma do excedente do consumidor e do excedente do


produtor.

Assim, e na ausência de intervenção do Estado no funcionamento do mercado, o


excedente económico total é dado por: EET(Q) = EC(Q) + EP (Q) .

O excedente económico total é a medida do bem-estar (“welfare”) num mercado.

21
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

Por definição, o excedente do consumidor é a diferença entre valor máximo que os


consumidores estão dispostos a pagar por uma dada quantidade de um bem e o
montante pago pelos consumidores por essa quantidade (ou despesa total); o excedente
do produtor é a diferença entre o montante recebido pelos vendedores (ou receita total) e
o custo variável de produção dessa quantidade. Como a despesa total dos consumidores
é igual à receita total dos vendedores, o excedente económico total é a diferença entre
valor máximo que os consumidores estão dispostos a pagar por uma dada quantidade de
um bem e o custo variável de produção dessa quantidade.

Afetação de recursos eficiente: é uma afetação de recursos que gera o excedente


económico total máximo ou bem-estar económico máximo.

Considere-se o seguinte exemplo para analisar as seguintes questões: medir o bem-estar


económico gerado pela produção e consumo de um bem e determinar o preço e a
quantidade do bem que maximiza o bem-estar.

22
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

Exemplo: (adaptado dos exemplos 7.1, 7.2 e 7.3 de Frank & Bernanke, 2003, pp. 168-171)

Considere-se o mercado do leite com as seguintes funções procura de mercado do leite e


de oferta de mercado:
QD = 12 – 4P
QS = 2P , em que: Q representa milhões litros de leite / semana
P representa u. m. / litro de leite.

A Figura 4.9 apresenta o equilíbrio de mercado, representado pelo ponto E.

No equilíbrio de mercado: Pe = 2 u.m. / litro de leite


Qe = 4 milhões litros de leite / semana.

Temos então que no ponto de equilíbrio (ver Figura 4.9) :


- excedente do consumidor ( EC ) é a área do triângulo [ Pe A E ],
- excedente do produtor ( EP ) é a área do triângulo [ O Pe E ] ,
- excedente económico total ( EET ) é a área [ O A E ], que é igual à área
entre as curvas da procura e da oferta até à
quantidade transacionada em equilíbrio.

23
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

Figura 4.9 Excedente económico


total no mercado do leite,
numa dada semana.

(milhões de litros)

Como quantificar cada um dos excedentes?

4 milhões litros / semana × 1 u .m . / litro


EC (Q = 4) = = 2 milhões de u .m . / semana
2
4 milhões litros / semana × 2 u .m . / litro
EP (Q = 4) = = 4 milhões de u .m. / semana
2
EET (Q = 4) = EC(Q = 4) + EP(Q = 4) = 6 milhões de u .m. / semana

24
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

O excedente económico total neste mercado do leite mede o bem-estar económico gerado
pela produção e consumo de 4 milhões de litros de leite semanalmente.

Já estudámos num capítulo anterior: Quando no mercado se realizam todas as transações


desejadas ao preço de equilíbrio, realiza-se o máximo de transações possíveis. Todos os
agentes que têm uma dada disposição à troca ao preço de equilíbrio poderão realizar
essa disposição.

Mas ainda não fizemos a análise da eficiência das trocas num mercado de concorrência
perfeita.

Vamos responder às seguintes questões:


i) Será que existe uma quantidade total transacionada no mercado diferente da
quantidade Qe que gere um excedente económico superior?
ii) Quando as transações são efetuadas ao preço de equilíbrio de concorrência perfeita,
será que o volume de transações realizado permite gerar o excedente máximo alcançável
no mercado?
iii) A afetação de recursos no equilíbrio de mercado de concorrência perfeita é eficiente?

25
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

(i) Consideremos o mercado do leite, conforme vimos atrás:

2,5

Figura 4.10 Mercado do leite,


numa dada semana.

Suponha-se que a quantidade já transacionada no mercado é de 2 milhões de litros de


leite/semana. Nessa situação, o preço de reserva de uma unidade adicional para algum(s)
consumidor(es) é de 2,5 u.m. e o custo de produzir uma unidade adicional (i.e., custo
marginal) é de 1 u.m..
Vamos supor que um vendedor oferece um litro adicional de leite a um destes
compradores por 1,5 u.m.. Nessa situação, uma vez que o custo de produzir uma unidade
adicional é de 1 u.m., o vendedor ganharia 0,5 u.m. nessa transação. Dado que o
comprador valoriza o litro adicional de leite a 2,5 u.m., este ganharia 1 u.m.. Então, esta
potencial transação geraria um excedente económico adicional no mercado de 1,5 u.m..
Este argumento pode ser usado sucessivamente para outras unidades adicionais
transacionadas de leite.
26
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

Para quantidades inferiores à quantidade de equilíbrio, o valor atribuído por consumidores


a uma unidade adicional do bem (refletido na curva da procura) é superior ao custo de
produzir essa unidade (refletida na curva da oferta). Nesse caso, aumentando a produção
e consumo no mercado, o excedente económico total aumenta.

Para quantidades inferiores à quantidade de equilíbrio, há transações potenciais a realizar


entre um agente do lado da procura e outro do lado da oferta. Caso esta transação ocorra
a um preço intermédio entre os respetivos preço da reserva e o custo marginal, ambos
realizam um excedente na troca. Daí que têm incentivo em realizar esses ganhos na
troca. É, assim, de esperar que ocorram transações enquanto, no conjunto do mercado,
houver, marginalmente, um agente que valorize essa unidade do bem mais do que o custo
de oferecer essa unidade, para um outro agente.

Alternativamente, para quantidades superiores à quantidade de equilíbrio, o valor atribuído


pelos compradores a uma unidade adicional do bem é inferior ao custo de produzir essa
unidade. Nesta situação, não há ganhos a obter na troca e, portanto, não há incentivos no
mercado a produzir essas quantidades.

A sociedade beneficia das trocas se o benefício de um participante excede o custo para


um outro participante. A eficiência máxima é atingida para a quantidade de transação
correspondente ao ponto de intersecção das curvas da oferta e da procura.

27
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

Ou seja:

Se aplicarmos o princípio do custo-benefício à análise dos ganhos potenciais na troca no


mercado, temos que a produção e consumo de um bem deve aumentar (diminuir) se o
benefício marginal no consumo é superior (inferior) ao custo marginal na produção, no
mercado.

O resultado da aplicação deste princípio ao mercado é que a quantidade transacionada


eficiente num mercado é aquela para a qual o benefício marginal é igual ao custo
marginal.

No ponto de equilíbrio de mercado de concorrência perfeita, o benefício marginal é igual


ao custo marginal, ou seja, o benefício para o(s) consumidor(es) de obter e consumir uma
unidade adicional do bem é igual ao custo para o(s) produtor(es) de produzir e vender
uma unidade adicional do bem.

O excedente económico é máximo quando a quantidade transacionada é a quantidade


correspondente ao cruzamento das curvas da procura e da oferta.

28
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

(ii) Mostrámos no capítulo anterior que, no modelo de concorrência perfeita, as forças da


concorrência tendem a que se encontre um preço de mercado que realiza as
oportunidades de ganho na troca.

Com efeito, num mercado com as seguintes características:


- um bem homogéneo,
- muitos participantes do lado da procura em concorrência entre si,
- muitos participantes do lado da oferta em concorrência entre si,
- informação perfeita sobre o preço das transações no mercado,
há incentivos de todos os intervenientes na troca no sentido de realizarem as suas
transações ao preço de equilíbrio entre as forças da procura e da oferta.

Já vimos também que ao preço de equilíbrio de mercado realizam-se todas as transações


possíveis no mercado e que esse volume de transações gera o excedente máximo
possível para os participantes nesse mercado.

Consequentemente, quando todas as transações de mercado são realizadas a um mesmo


preço, o único preço de mercado ao qual compradores e vendedores não conseguem
encontrar uma transação que gere um excedente económico adicional é o preço de
equilíbrio de concorrência perfeita.

29
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

(iii) Principais conclusões:

No modelo de mercado de concorrência perfeita, prevê-se que:


todas as oportunidades de ganho na troca são realizadas e todas as transações possíveis são
efetivadas, ou seja, a quantidade transacionada é Qe,
todas as transações de mercado ocorrem a um preço de equilíbrio entre as forças da procura e
da oferta, o preço de equilíbrio de mercado, i.e., Pe: Qd(Pe)= Qs(Pe).

Quando as transações ocorrem ao preço de equilíbrio de mercado, a afetação dos recursos


satisfaz as seguintes condições:
a quantidade produzida do bem é afetada aos consumidores que atribuem o maior valor, isto é,
aqueles cujo preço de reserva é superior ao preço de equilíbrio, refletido no segmento AE da
curva da procura (figura 4.10);
a quantidade procurada do bem é produzida pelos produtores que produzem ao menor custo,
isto é, para os quais o custo marginal é inferior ao preço de equilíbrio refletido no segmento OE
da curva da oferta (figura 4.10).

A quantidade transacionada num mercado de concorrência perfeita é eficiente no sentido de


que não é possível aumentar o excedente económico total, alterando a afetação do consumo
entre os consumidores ou da produção entre os produtores no mercado.
Em suma, em equilíbrio de mercado de concorrência perfeita:
o benefício marginal no consumo é igual ao custo marginal na produção,
o excedente económico total é máximo no mercado,
ou seja, a afetação de recursos é eficiente.
30
4.3 Equilíbrio de mercado e eficiência

Preço unitário
A
S

Valor E Custo para


para os os vendedores
compradores
Para Q=QE: Valor de QE para os
compradores (OAEQE) é maior que o
custo variável total para os vendedores
(OBEQE) e Bmg=Cmg

B Valor
Custo para para os D
os vendedores compradores Figura 4.11

QE Quantidade
0

Para Q<QE: Valor para


os compradores é superior Para Q>QE: Valor para os compradores
ao custo para os vendedores, é menor que o custo para os
ou seja, Bmg>Cmg vendedores, ou seja, Bmg<Cmg 31
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

A Figura 4.12 mostra o equilíbrio de mercado inicial ( E0 ), em que o preço de equilíbrio


Pe0 = 3 u.m./kg e a quantidade de equilíbrio Qe0 = 3 milhões de kg/ano. Nesta situação,
o preço pago pelos consumidores e o preço
P recebido pelos produtores são iguais ao preço
de equilíbrio.
6
S’ (Pc)

S (PP)
A
Figura 4.12 Imposto específico
E1
e variação no bem-estar. 3,5
B C
3
F G
2,5 E0
H
1 D

2,5 3 Q
Vamos considerar que o governo fixa um imposto específico de t = 1 u.m./kg . A fixação
de um imposto específico de 1 u.m. por kg equivale a um aumento do custo marginal de
produzir cada kg de batatas no montante de 1 u.m., qualquer que seja a quantidade
produzida. Assim, a curva da oferta de mercado desloca-se verticalmente pelo montante
do imposto. Ou seja, a curva da oferta tem agora a seguinte expressão analítica:
PC = PP +1 = QS +1 ou QS ' = −1+ PC .
Na Figura 4.12, S’(PC) representa a curva da oferta de batatas após a fixação do imposto
específico. 32
4.4 Eficiência de mercado e políticas económicas

4.4 Eficiência de mercado e políticas económicas

Neste ponto, serão analisados os efeitos de algumas políticas económicas sobre o bem-
estar económico:
- imposto específico
- controlo de preços: preço mínimo
- quotas de produção.

4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Caso de um imposto específico de uma 1 u.m.: t = u.m. / unidade do bem.

Exemplo: (Frank & Bernanke, 2003, p. 178)


Considere-se um imposto específico aplicado às transações de batatas, e arrecadado
pelos produtores. Analise, de que modo, esse imposto afeta a eficiência económica, no
mercado?
Suponha que a função procura de mercado de batatas e a função oferta são dadas por
QD = 6 – P e QS = P , em que Q representa milhões de kg/ano e P representa
u.m./kg.

33
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

O novo ponto de equilíbrio é o ponto E1, em que Pe1 = 3,5 u.m./kg e Qe1 = 2,5 milhões
de kg/ano. Note-se que agora o preço pago pelos consumidores é P1C = Pe1 = 3,5 u.m/kg
e o preço recebido pelos produtores (líquido de imposto) é P1P = P1C − t = 2,5 u.m./kg.
Comparando o equilíbrio de mercado antes do imposto e o equilíbrio de mercado após a
introdução do imposto, verifica-se que a quantidade transacionada no mercado diminuiu, o
preço pago pelos consumidores aumentou em 0,5 u.m./kg e o preço recebido pelos
produtores diminuiu em 0,5 u.m./kg . Neste exemplo, a carga do imposto é suportada em
partes iguais pelo conjunto dos consumidores e pelo conjunto dos produtores.

Para analisar o efeito do imposto sobre o bem-estar, deve começar-se por calcular o bem-
estar antes da fixação do imposto. Como a curva da procura D reflete o preço de reserva
dos consumidores, o excedente do consumidor é a área entre a curva da procura e o preço
de equilíbrio inicial, [ A+B+C ] . Uma vez que a curva da oferta S reflete os custos de
produção, o excedente do produtor é a área entre a curva da oferta e o preço de equilíbrio
inicial, [ F+G+H ] .

O excedente total é igual a [ A+B+C+F+G+H ] , que é a área entre a curva da procura e a


curva da oferta até a quantidade de equilíbrio.

34
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Vamos quantificar cada um dos excedentes:


EC0 = A + B + C = 0,5 (3 milhões de kg × 3 u.m./kg) = 4,5 milhões de u.m./ano
EP0 = F + G + H = 0,5 ( 3 milhões de kg × 3 u.m./kg) = 4,5 milhões de u.m./ano
EET0 = A + B + C + F + G + H = 9 milhões de u.m./ano.

Após a introdução do imposto, o excedente do consumidor reduz-se à área A , área


abaixo da curva da procura e acima do preço pago pelos consumidores. O excedente do
produtor reduz-se à área H, que é a área acima da curva da oferta S (curva que
representa a relação entre o preço recebido, líquido de imposto, pelos produtores e a
quantidade oferecida) e abaixo do preço recebido pelos produtores.

Com a introdução do imposto, o governo passa a ser um participante no mercado que tem
a capacidade de extrair uma parte do valor gerado nesse mercado. Deve, assim, incluir-
se a receita fiscal no cálculo do excedente económico total. A receita fiscal (RF) é
equivalente à área [ B + F ] , assinalada na Figura 4.11.

Consequentemente, o excedente económico total é a área [ A + B + F + H ], que é a área


entre a curva da procura e a curva da oferta S até a quantidade transacionada.

35
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Os valores de cada um dos excedentes e da receita fiscal são os seguintes:


• EC1 = A = 0,5 ( 2,5 milhões kg × 2,5 u.m./kg ) = 3,125 milhões de u.m./ano
• EP1 = H = 0,5 ( 2,5 milhões kg × 2,5 u.m./kg ) = 3,125 milhões de u.m./ano
• RF = B + F = 1 u.m./kg × 2,5 milhões kg/ano = 2,5 milhões de u.m./ano
• EET1 = A + B + F + H = 8,75 milhões de u.m./ano.

A Tabela 4.5 apresenta o valor de cada excedente nas situações sem imposto e com
imposto, assim como a variação no bem-estar.

Sem imposto Com imposto Variação


A+B+C A - (B+C)
EC (4,5 milhões u.m.) (3,125 milhões u.m.) (-1,375 milhões u.m.)
F+G+H H - (F+G)
EP (4,5 milhões u.m.) (3,125 milhões u.m.) (-1,375 milhões u.m.)
B+F + (B+F)
RF Zero
(2,5 milhões u.m.) (2,5 milhões u.m.)
Tabela 4.5 Imposto e
variação no bem-estar
A+B+C+F+G+H A+B+F+H - (C+G) económico
EET (9 milhões u.m.) (8,75 milhões u.m.) (-0,25 milhões u.m.) 36
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

O imposto reduz o excedente do consumidor, sendo esta redução equivalente à área [ B +


C ]. O excedente do produtor também diminui no montante igual à área [ F + G ]. Note-se
que parte da redução do excedente do consumidor [ B ] e parte da diminuição do
excedente do produtor [ F ] são ganhos para o governo. O excedente económico total
diminui no montante igual à área [ C + G ].

Esta perda de bem-estar económico designa-se por perda de bem estar ou perda pura
(deadweight loss).

Parte da perda pura [ C ] fazia parte do excedente do consumidor antes do imposto e a


outra parte [ G ] fazia parte do excedente do produtor antes do imposto. Estes benefícios
desapareceram porque o imposto provocou uma diminuição da quantidade transacionada
no mercado (e, portanto, da quantidade consumida e da quantidade produzida) de 3
para 2,5 milhões de kg/mês.

37
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Efeitos da introdução de um imposto específico num mercado de um bem:

(i) Considerando um imposto específico num mercado, as decisões racionais dos agentes
económicos vão resultar num equilíbrio de mercado em que passa a não se observar o
resultado de eficiência económica que propusemos anteriormente: Afetação de recursos
eficiente é uma afetação de recursos em que o excedente económico total no
mercado é máximo.

Mostrámos que a maximização do excedente económico total no mercado requer que o


benefício marginal no consumo seja igual ao custo marginal na produção. Isso não se
verifica no novo equilíbrio de mercado após imposto.

De acordo com o princípio do custo-benefício, a decisão de oferecer uma unidade


adicional do bem no mercado deverá ser tomada se o custo marginal for inferior ao
benefício marginal. Dadas a disposição à procura (curva da procura) e a
disposição à oferta (curva da oferta) no mercado, mostrámos que em equilíbrio de
mercado de concorrência perfeita se verifica a condição de eficiência máxima: o
custo de produzir a unidade marginal é igual ao benefício marginal do bem, no
mercado.

38
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Como vimos, essa condição verifica-se no ponto de equilíbrio inicial, ponto E0; no
entanto, não se verifica no ponto de equilíbrio de mercado E1 (figura 4.12).
Tomando como referência o ponto de equilíbrio de mercado E1, o valor de um kg
adicional de batatas para o consumidor é igual a 3,5 u.m., e o custo de produzir um
kg adicional de batatas é de 2,5 u.m.. Assim, em equilíbrio de mercado o
benefício marginal é superior ao custo marginal (Bmg = 3,5 > Cmg = 2,5 ) .

(ii) A introdução do imposto reduz o excedente económico total. O aumento do preço pago
pelos consumidores reduz o consumo do bem e a diminuição do preço recebido pelos
produtores reduz a quantidade produzida do bem. A perda pura é a parte do excedente
económico total que se perde devido à diminuição da quantidade transacionada no
mercado.
Ou seja, a introdução de um imposto específico provoca uma diminuição no bem-estar
económico no mercado.

Nota:
- Esta conclusão é válida em qualquer mercado, seja concorrencial ou não.
- Esta conclusão é válida para a generalidade dos impostos praticados.

39
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Vamos analisar em que medida varia a perda pura com a elasticidade preço da procura e
com a elasticidade preço da oferta, em resultado da introdução de um imposto específico.
Na Figura 4.13 considera-se uma dada curva da oferta de mercado de um bem, S, e duas
curvas da procura de mercado D e D’. Ambas as curvas da procura intersetam a curva da
oferta S no ponto A, ponto de equilíbrio sem imposto. Da análise feita no capítulo 2, sabe-
se que, no ponto A, a procura representada pela curva D é mais elástica que a procura
representada pela curva D’ .
Preço unitário S’ (PC)
S (PP)
E’

E
A Figura 4.13 Imposto, perda pura
elasticidade preço da procura.

N
D
Imposto unitário
M Quando a procura é relativamente inelástica
a perda pura é relativamente pequena.
D’

Quantidade 40
0
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Admita-se que é introduzido um imposto específico t por unidade de produto.

A introdução do imposto representa-se por uma deslocação da curva da oferta para a


esquerda, sendo S´ a curva da oferta de mercado após a fixação do imposto.

Se a curva da procura de mercado do bem fosse D, o ponto de equilíbrio com


imposto seria o ponto E e a perda pura seria a área do triângulo [ E A M ], assinalada
na Figura 4.13.

Se a curva da procura de mercado fosse D’, o ponto de equilíbrio com imposto seria o
ponto E’ e a perda pura seria a área do triângulo [ E’ N A ].

Verifica-se que a perda pura resultante da introdução de um imposto é maior quando a


procura é mais elástica em relação ao preço, ceteris paribus.

41
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Considere-se a Figura 4.14, em que D é a curva da procura de mercado de um bem e S1 e


S2 são duas curvas de oferta de mercado.
S2 (PP)
S’1 (PC)
S’2 (PC)
Preço

E1 Figura 4.14 Imposto, perda pura e


elasticidade preço da oferta.

E2 S1(PP)
Imposto
unitário Quando a oferta é
A relativamente inelástica,
a perda pura é
relativamente pequena
T

V D

0 Quantidade
Ambas as curvas da oferta intersetam a curva da procura D no ponto A, ponto de
equilíbrio inicial ou ponto de equilíbrio sem imposto. Da análise feita no capítulo 2, sabe-se
que no ponto A a oferta representada pela curva S1 é mais elástica que a oferta
representada pela curva S2. 42
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

A introdução de um imposto específico t , por unidade de produto, representa-se por uma


deslocação da curva da oferta de mercado para a esquerda. No caso da curva S1, a curva
da oferta desloca-se para S1´, no montante do imposto específico; no caso da curva S2, a
curva da oferta desloca-se para a esquerda para S2´ também no mesmo montante.

Se a curva da oferta de mercado do bem fosse S1, o ponto de equilíbrio com imposto
seria o ponto E1 e a perda pura seria a área do triângulo [ E1 A T ].

Se a curva da oferta de mercado fosse S2, o ponto de equilíbrio com imposto seria o
ponto E2 e a perda pura seria a área do triângulo [ E2 A V ].

Verifica-se que a perda pura resultante da introdução de um imposto é maior quando a


oferta é mais elástica em relação, ceteris paribus.

___________

Conclusão geral:
A grandeza da perda pura resultante da fixação de um imposto é tanto maior:
- quanto maior a elasticidade preço da procura, ceteris paribus,
- quanto maior a elasticidade preço da oferta, ceteris paribus.
43
4.4.1 Eficiência de mercado e impostos

Explicação:

De lembrar que a introdução do imposto:


reduz a quantidade transacionada no mercado e
afeta o preço pago pelos consumidores e o preço recebido pelos produtores:
aumenta o preço pago pelos consumidores que, no conjunto, passam a
consumir menos,
reduz o preço recebido pelos produtores que, no conjunto, passam a produzir
menos.

Donde:
a redução na quantidade procurada e consumida resultante do aumento do preço é
tanto maior quanto maior a elasticidade preço da procura;
a redução na quantidade oferecida resultante de uma diminuição do preço é maior
quanto maior a elasticidade preço da oferta.

Quanto maior a elasticidade preço da procura e a elasticidade preço da oferta, menor a


quantidade transacionada num mercado após a fixação de um imposto e, portanto,
maior a perda pura.

44
4.4.2 Eficiência de mercado e controlo de preços

4.4.2 Eficiência de mercado e controlo de preços


Exemplo: (Frank & Bernanke, 2003, pág. 178)
Suponha um mercado de um bem num dado país, conforme está indicado na Figura 4.15.
Considere-se que esse mercado satisfaz os pressupostos da concorrência perfeita.
Admita-se que é estabelecido neste mercado um mecanismo de preço administrado.
Concretamente, o governo estabelece um preço mínimo no mercado do bem, PMin = 40.
(i) Calcule o excedente económico total nesse mercado, e a sua decomposição entre
excedente do consumidor e excedente do produtor, antes e depois da criação do
mecanismo de preço administrado.
(ii) Analise o impacto sobre o bem estar social desta fixação de preço, e quantifique os efeitos
sobre o excedente económico total e sobre os seus componentes.

P
Figura 4.15 Preço mínimo e
60 S
eficiência.
A
40 B M G H
30 L
C
F I D

2 3 4 Q
45
4.4.2 Eficiência de mercado e controlo de preços

(i) Cálculo dos Excedentes


Caso 0 : Sem intervenção do Estado.
Cálculo dos excedentes no Caso 0:

EC0 = A + B + M
EP0 = C + L
EET0 = EC0 + EP0 = A+B+M+C+L

Com intervenção do Estado.


PMin = 40 . A esse preço, há um excesso de oferta de 2 unidades.
Para efeitos de análise de bem estar resultante deste mecanismo de administração de
preço, consideremos duas situações com interesse, apresentadas, em seguida, nos
casos 1 e 2

Caso 1 :
Suponha-se o seguinte procedimento:
intervenção do Estado: PMin = 40 ,
aquisição, pelo Estado, do excesso de oferta (i.e., 2 unidades) a um preço igual ao
custo marginal e doação dessa quantidade a um país estrangeiro.

46
4.4.2 Eficiência de mercado e controlo de preços

Cálculo dos excedentes no Caso 1:


EC1 = A
EP1 = B + C
Despesas do Estado 1 = H+F+I
EET1 = A + B + C – H – F – I

Caso 2 :
Considere-se um outro procedimento:
- intervenção do Estado: PMin = 40 ,
- aquisição, pelo Estado, das 2 unidades de excesso de oferta a um preço de 40 u.m. ,
- distribuição gratuita dessa quantidade do bem aos consumidores que não o consumiam a
esse preço, dando prioridade aos que o valorizam mais, i.e., àqueles que têm preços de
reserva maiores,
(nota: este pressuposto remete para um exercício muito improvável de realizar com êxito
na prática, e que envolve problemas fundamentais no plano teórico; as autoridades não
têm forma de obter informação rigorosa quanto aos preços de reserva: em geral, e na
melhor das hipóteses, poderão usar informação indireta com vista a inferir esses valores,
de modo apenas muito aproximativo; o problema mais sério, contudo, é que os agentes
terão incentivos estratégicos a não revelarem com verdade esses valores),
- os vários elementos deste procedimento são levados a cabo sem qualquer custo, para
além da aquisição do bem no mercado ao preço fixado.
47
4.4.2 Eficiência de mercado e controlo de preços

Cálculo dos excedentes no Caso 2:

EC2 = A + M + L + F + I

EP2 = B + C + M + L + G

Despesa do Estado 2 = M + L + F + G + H + I

EET2 = EC2 + EP2 – Despesa do Estado2 =

= ( A + M + L + F + I ) + ( B + C + M + L + G ) – (M + L + F + G + H + I )

= (A+B+C+M+L) – H
P

S
A

B M G
H
L
C
.
F I D

Q 48
4.4.2 Eficiência de mercado e controlo de preços

(ii) Análise do impacto sobre o bem-estar social


- comparação do resultado obtido no Caso 1 com o do caso inicial, Caso 0

∆ EC1-0 = ( A ) – ( A + B + M ) = – ( B + M )

∆ EP1-0 = ( B + C ) – ( C + L) = + B – L

∆ DE1-0 = H + F + I

∆ EET1-0 = ( A + B + C – H – F - I ) – ( A + B + C + M + L )
= – (H + F + I + M + L ) (perda de bem-estar)

- comparação do resultado obtido no Caso 2 com o do Caso 0 :

∆ EC2-0 = ( A + M + L + F + I ) – ( A + B + M ) = L + F + I - B

∆ EP2-0 = ( B + C + M + L + G ) – ( C + L ) = B + M + G

∆ DE2-0 = ( M + L + F + G + H + I )

∆ EET2-0 = [ ( A + B + C + M + L ) – H ] – ( A + B + C + M + L) = – H

Exercício: Faça a análise de bem estar que acabamos de fazer geometricamente, em termos
49
numéricos.
4.4.3 Eficiência de mercado e quotas de produção

4.4.3 Eficiência de mercado e quotas de produção

Considere a figura seguinte, que contempla a fixação de uma quota de produção no


mercado de um bem agrícola.

Como sabemos, quando é estabelecida pelas autoridades uma quota de produção


máxima, vai haver mecanismos de controle da quantidade trazida ao mercado para
transação legal.
Assim sendo, o mecanismo de ajustamento de preço no mercado leva a que se
estabeleça o preço de equilíbrio no mercado no cruzamento da curva da procura, D, e da
restrição quantitativa de produção.
Considerando uma procura de produtos agrícolas relativamente inelástica, a introdução
desta quota de produção leva a um aumento substancial do preço.

Vamos agora realizar uma análise das consequências desta medida sobre o bem estar,
neste mercado. Esta análise consiste no seguinte:
- Cálculo dos excedentes do consumidor e do produtor nos pontos de equilíbrio de
mercado inicial e final e a variação em cada um desses excedentes.
- Avaliação da perda de bem-estar social em resultado da medida.

50
4.4.3 Eficiência de mercado e quotas de produção

P
Quota S

A
PQMax
B
C Figura 4.16 Quota de produção e
Pe F eficiência de mercado.
G

D
QMax Qe Q

EC0 = ( A + B + C) EC1 = ( A) ∆EC = −( B + C)


EP0 = (G + F ) EP1 = ( B + G) ∆EP = (B − F )

Então, ∆EET = −(C + F ) , resultando numa perda de bem-estar ou perda pura. Esta
perda resulta da diminuição da quantidade transacionada no mercado, imposta pela quota
de produção.

51
4.5 Aplicações

Aplicação 1: (Pindyck & Rubinfeld, 6ª edição, pág. 304)

Considere o mercado gás natural, cujas curvas da oferta e da procura têm a seguinte
expressão analítica.
a) Determine o equilíbrio de mercado de concorrência perfeita.
Qs = 16 + 2P
Qd = – 5P + 30

b) Imagine que é definido, neste mercado, um preço máximo de 1 u.m.. Represente


graficamente as variações ocorridas em termos de bem estar e proceda à respetiva
quantificação.

Resolução:

a) Determine o equilíbrio de mercado de concorrência perfeita.

Qs = Qd ⇔ 30 – 5P = 16 + 2P

Donde: Pe = 2
Qe = 20
52
4.5 Aplicações

b) Imagine que é definido, neste mercado, um preço máximo de 1 u.m.. Represente graficamente as
variações ocorridas em termos de bem estar e proceda à respetiva quantificação.

A: 1 × 18 = 18 u.m.
B: 0,4 (2) / 2 = 0,4 u.m.
C: 1 (2) / 2 = 1 u.m.

∆EC = A – B = 18 – 0,4 = 17,6 u.m.


∆EP = – A – C = – 18 – 1 = – 19 u.m.
∆EET = – B – C = – 1,4 u.m.
P
S

2,4
B
2
C
A
.
1
D

16 18 20 25 30 Q 53
4.5 Aplicações

Aplicação 2: (Pindyck & Rubinfeld, 6ª edição., pág. 307)

Admita-se que há disposições à procura e à oferta para transação de rins com vista ao
transplante para doentes que deles necessitam. Admita-se que essas disposições são
representadas do seguinte modo:

Qs = 8 000 + 0,2 P
Qd = 16 000 – 0,2 P

a) Qual o equilíbrio de mercado?

b) Admita que a venda de rins é proibida. Nesse caso, a oferta fica limitada às doações.
Explique quais as consequências desta proibição legal sobre este mercado para efeito de
transplantes de rins.

c) Analise os excedentes que são gerados nesta situação. Compare os excedentes nesta
situação com aqueles que obteve no caso inicial do mercado sem proibição de venda
legal.

54
4.5 Aplicações

Resolução:

a) Qual o equilíbrio de mercado?

Qe = 12 000
Pe = 20 000

b) Admita que a venda de rins é proibida. Nesse caso, a oferta fica limitada às doações.
Explique quais as consequências desta proibição legal sobre este mercado para efeito de
transplantes de rins.

Dada a proibição, passamos a analisar o funcionamento do mercado com a oferta de rins


humanos limitada e igual a 8 000.

Na nova situação, há diferenças quanto às grandezas de excedente económico obtido


pelos participantes neste mercado.

55
4.5 Aplicações

P
S’
S
80 000

B
20 000
C
A

8 000 12 000 16 000 Q

Conclusões: ∆EC = A – B = +120 milhões u.m.


∆EP = – A – C = – 200 milhões u.m.
∆BE social = A – B – A – C = – B – C = – 80 milhões u.m.

56

Você também pode gostar