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Prof Gabriel M. Ribeiro JOHN BOORMAN ‘Nascido rm 1933 om Londres, Ingles "Bw munca haviaentrevstado John Boorman, mas imtimeros atores jo haviam deserco para mim como a cineasta mais fencantador com o gual traballaram, Deft, ele foi espan- osamente corte até que, quetendo cumprimenti-lo pelo filme que acabava de estear (O ginera), expressei-me de smaneira bastante desastrada,airmando que So nao evesse ‘sto set:nome nos crédito, e teria jurado que se tatava de ‘um primeir filme. F ini dizer que a observacio o deisou perplexo, Maso que eu rentava expressarerao quanto ees: fava impressionado pelo Fto de que, depois de todos esses anos e todos esses filmes, el fosse capa de uma dres0 0 ‘srpreendentemente cela de encrglaedefreseoe. E verdade que desl o comego de sua carreira em 1965, John Boorman empretentou— por vezes, preciso dizer, sem sucesso — texplorar todas as formas de cinema, do mais experimental (Agusta roupa) ao mais tradicional (Excalbur). Conversa- ‘os durante uma hors, Boorman estava vsivlmente con- ten em explicar os bastidores de seu trabalho ¢ fot com um inimicivel sorrso futlista que, a conchui 2 entrevista, ele suspiron dizendo “poisbem... Voct acaba de roubar todos os ‘mets pequenos segredos... O moda como aprenci a fazer filmes tem algo de bastante ‘orginico. Camecei trabalhando como critica, desde 0s 18 anos, o que me permit estudar a teoria, em seguida tornei- me assistente de montagem, depois montador, depois comecei afilmardocumentatios para aBBC. Pouco a pouco, fume can- sandodo documentirio. Eu tinha vontade de contar histériase framatizar” meus documentitios, dando-lhes uma estrutura seminarrativa e utlizando atores. A partir disso, me confiaram ficgbes para a tleviso e,finalmente,longas-mecra- gens. Houve, portanto, uma evolugto natural e logic gracas 3 {qsal, quando cheguei a um setde cinema, eudo parecia fa Eu tinha filmado tantos metros de pelicula em documentirio ue oaspecto téenico mio me assustava mais E se no sou umn grande fi das escolas de cinemsa, ¢ porque, para mim, a diresi0 acima de tudo um oficio pratico, no qual a aprendizagem de ‘campo & a melhor formagio possivel A teoria finalmente $6 tem valor se for aplcada a uma experiénciapritica. Enasraras vvezes em que fiz estadantestrabalharem em meus filmes, achei {ue eles tinham muias idéias mas muito pouco senso pritio. Aconteceu-me, no entanto,servir de “curor”adiretoresinician- tes, como, por exemplo, Neil Jordan, cujo primeico filme produ 1i,E aprimeira coisa queaconselho 20 cineasta num caso como 172 Grandesdiretnrende esse é fizer uma estimativa honesta do tempo que seu filme vai durar.Pois todos os diretores, até mesmo os mais experiemtes, ‘comecam geralmenteilmando com um scriptdemasiadamente longo, ese recusam a reconhecé-lo porque nao podem supor- tar aidéia deter que sacrificar coisas. Mas se primeira mont gem de seu filme rende erés horas enquanto se espera que voce tentregue um filme de dass horas, iso significa que voc’ des- perdigou um cergo de seu tempo de flmagem. E como aagonia serd,afinal, a mesma antes ou depois das filmagens, € melhor fazer os cortes no papel. Em seguida, para determinar que ce- nas devem ser suprimidas ou reescritas, hi um método muito simples: para cada cena, conta-se o nimero de planos que ser necessitio,e entio se transforma isco num planejamento con- creto, Esta cena deve ser feita em 14 planos? Muito bem, sso significa rds dias de lmagem, Mas sera que essa cena realmen- temerece que voce passe trés dias nela? Vistas sob esse angulo, as decisoes sdo comadas em geral bastante rapidamente, 0 que faz.com que vocé ganhe muito tempo. Ora, o tempo é 0 ingre- dente mais precioso numa filmager. CADA DIRBTOR ESCREVESEU FILME. (Creio que orrabalho de diresao est intrinsecamentelgado Aeserita, E mesmo que, por raz6es contratais seus nomes nio paresam nos exéditos como autores, todos os diretores sérios participam da escrita de seus filmes. Els no redigem necessa- tlamente coisas no papel, mas modelam o filme de uma maneira {que mo pode ser dissociada da eserita, Um roteiro evolu enot- ‘memente quando passa pelas maos do diretor, por vezes muda ‘completamente, Ecreio queo proprioditetors6 sabe exatamen- ‘edo quevaifalaro filme quando esteestéterminado, Alii, creio {que assim que escolho um filme: se souber logo de cara do que cle fala, & porque meu trabalho vai consistir apenas em expres- John Boorman | 73, sar uma iia que jd éevidente. Se apenas exccugio c logo vou ‘me cansar, entio é melhor nao fazer. Em compensig0, se 240 estou certo de saber do que fala o filme, entao sei que vou poder cexploraro tema enguanto o ago e surpreender-mecom 0 rest ‘ado. F éisso queme motiva, porque éexctantee perigoso, Een geral€ apenas quandoassisto ao filme terminado, junto com um pablico, que sei realmente do que ee fal. Por exemplo, apenas quando vi Esperangae gloria numa tea entendi que minha ob- sesso pela lenda do rei Artur vinha das relagdes extremamente ambiguas queo melhor amigo de meu paitinha com minha mie, Ele era claramente apaixonado por ela, esse trio amoroso im possivel, do qual eu era uma testemuniha inconseiente,reperctt ‘iu para mim na historia de Lancelot, Artur e Guinevere. Mas ea nao rinba absolueamente me dado conta disso enguanto estava ‘dentro do filme. Foi preciso sai dee, tomar-me um espectador ‘objetivo, para descobrir, E ndo creio que sea algo que estivesse perceptivel no roteir, CCLASSICISMO CONTRA BRUTALIDADE Filmo de uma maneita que se poderia caracterizar como. muito “clissica’, no sentido de que, por exemplo, s6 corto de tum plano para outro quando ¢ absoltamente necessitio,eque ‘so movo a cimera se houver uma ravo para movéel, isto 6, se ‘2ago se deslocar efor preciso acompanké-la Isso nao significa _queewesteafechaclo para aexperimentagio, mas, paramim,cla se sta em outro nivel, Por exemplo, filme mais experimen- ‘al que realizei foi certamente O principe sem patio, no qual cexplorei uma idéia pés-modernista que consistia em tomar 0 espectador completamente conscientedo fatode que eleestava vendo um filme, algo de puramente artificial. por isso que, fi tna primeira cena, Marcelo Mastroianni esté num carro & ouve tuma cangto que diz: “Voce parece uma estrela de cinema.” 78] Grandes diretores de cinema De qualquer mancira, na maoria dos cass, a gramatica de di- re¢doqueaplico¢a que descobripor meiodo cinema mudo. S30 realmente regrasbsicas, ms a0 mesmo tempo, quando ve~ mas os filmes de Grifith, por exemple observamos o modo Como ele utilizava o close para dustrar os pensamentos dos Dersonagens, perechemos que isso ainda é muito mais sul e ‘muito mais moderno do que o que € feito ma grande maioriado Cinema dito "moderno”. Minhas prioridades na imagem sto a uilizago do expayo eas rages fisica entre os personagens E por isso que adoro flinar em CinemaScope; pois, com esse formato de imager, se os personagens s2o emocionalmente préximos, poss aproximi:-losfisicamente, ee ees so emo ‘onalmente distantes, posso realmente separilos ao mesmno tempo em que os enqvadronuim mesino plano, Kso me ine res muito mats do qu a nogdes de ritmo de montagem ou ddeefets visas Namaoria ds lines aus, uma cena como ado roubo, em O gevera, era montada de manera nervosa, ‘comma scessio rida de panos, Quanto amie, preito 6 mar poucos planos e delxar a ago se desenvolver no quadro. O dinamismo vem da propria imagem, nto do modo como ela ¢ asociads a outras imagens. Quando se vé um filme co- ‘mo Annagedon (Armaggedon), € incrvel observar a que pon- to nenkwuma regra¢aplicada. & um cinema que apelidei“nco- brute’, e que funciona de fato a paride uma espécie de ingenuidade, pos 6 feito por cineastas que, por defiiénca ou por escotha, no quiseram aprender asregrasbiscas da lingua gemcinematogréfca Sua gramética visual ada MTV, na qual fm suma, tudo 6 permitdo se ve puder chegar# um resultado fexctante. Para mim, é muito artificial echegoa achar iso tudo tum pouco triste, Porque tenho wma ida bastante elevada do cinema, Quando vejo um filme feo assim, tenho aimpressio dvr um velhnho tentando se vesti como um adolescente. Jot Boorsna | 75 DE ONDE VEM A VIDA DE UMA CENA? ‘Meu principal objetivo, quando trabalho uma cena, & evi sdentementetentar tornic-la tio viva quanto possivel. Para obter isso, ensaio com os aores antes da flmager. Nao fago isso m0 _pr6ptio cenatio e abstraio tudo o que é deslocamento ou mo- vimento, Tento apenas encontrar 6 tom certo, criar a centelha de vida, Uma técnica que ajuda muito ¢ a de ensaiar improvi- sando sobre 0 que acontece imediatamente antes e imediata> mente depois da cena, Torna a coisa menos rigida e mai Depois,no dia da filmagem,em geral chegoantesao sete decido arespeito do quadro enquanto os atoresainda estao na maquia- gem. Recuperci um velho sdefinder, um quadro de compesiio dds 6poca em que as cdmeras to tinham visor reflew; € um ins- trumento que mantemos diante de nds, mais do que olhamos pata dentro dele, e que permite ver a cena um poueo como se fsse um quaro, Componho, entao, a imagem a partir disso, «depois pono marcas no chao para os atores: Deciir sobre 0 local onde se deve colocar a cimera € algo ao mesmo tempo l- ico (segundo o ponto de vista que se quer expressar na cena) e ‘muito instintivo, No comego do cinema era simples: filmava-se sobre um palco de teatro ecolocava-se a camera onde o piiblico deveria estar. Quando pessoas como Bisenstein ou Grilith co- ‘megaram a deslocar a camera, o cinema tomou ontra dimensio «outro poder, pois ele se dirigia a algo de inconsciente no pi- blico, Lembro-me de ter tentado fazer com que 08 membros de ‘uma tribo amaznica entendessem o que € 0 cinema: expliquel {queele permitia ver as coisas sob vrios angulosa mesmo tem- po, fazer saltos muito ripidos no tempo eno espago. E depois ‘de um tempo o Xama da tibo me disse: “Sei o que é Também Figo isso, Quanto estou em transe, viajo assim.” E crelo que & isto que faz 0 poder do cinema: esta maneira de se com diretamente com o inconsciente e, mais preeisamente, com 0 76] Grandes dretoresdecinema dominio dos sonhos. E quando se escolhe onde colocar a cime- +a, nio se faz nada menos do que materializar algo queem geral _ realzamos em nossos-sonhos, FILMAGEM CONTRA MONTAGEM Frlmo apenas os planos dos quais tenho certera de que ‘vou precisa, eraramente fago mals do que duas ou tésto- ‘madi, Tag isso porque tento reduzie 20 minimo todo tra- bulho supéfluo para poder manter no set uma efiicia¢ uma rmotivagto maximas, Se voce fiz tomadas demas, ou se voc Cobre ums cena com muitos angulos diferentes, core o rtco de cansar os atores ou de dara eles aimpressio de que alguns desses planosndo sto necessrios.E preciso que cada tomada Permaresa magia e que a cada vee que cimera comeceafl- ‘nar, hajaumna verdadeiatensto no st. E mesmo que eu filme diversas tomadas, nto revelareimais do que duas. Senso, oar (os nuies se rorna um calvrio. Voce vé seis tomadas da mesma ena no fina, nem mesmo se lembra de como era a primeira ‘Assim, onto mii rapidamente.Filmo apenas cinco dias por semana — a0 contritio ca maioria dos outros dretores, que fimam ses dias —, o que depois me deixa um dia para fazer tuma primeira montagem das cenas da semana eum dia para preparar os planos da semana seguine. Eno, é caro, quan- {do estou na montagen, na maioria das vozes lamento no tr filmado mais panos, um dilema clssco, para 0 qual, als, ‘Kurosawa havia encontrado uma solugto bastante origina ele davaaum cimeraamissioderoubar imagens em cadacena, de ‘modo discret ecm yeral con una tleobjtiva: cose de alguns atores, detalhes et. Edrante a montagem, quando Kurosawa se va frustrado por nao ter material bastante para uma cena, cle mandava revelar esses planos para ver se pod uilira-los Mas ele se recisiva a saber, durante as flmagens,o que outro fa filmar, porque nao queria que ss oinluencasse. Ele ina Job Boorman razao e,em minha opinio,flmar com duas cameras €um erro, A diregto repousainteiramente no fato de concentrar tudo-em _umainico ponto,queéa cimera, Fa partir domomento em que hi das, somos obrigadosa fazer concessbes. AJUSTAR 0 PAPEL AO ATOR, NAO 0 CONTRARIO Por mais paradoxal que sej,o documentirio me ajudou. no trabalho de diregao de atores, pols me permita esdar 0 comportamento humano através do olho de uma eamera. E ‘re ques ligdes ete’ da me permitiram ajudar os acres a parecerem mas reas, Penso que o aspecto mais importante ‘Com os atores €oferecerthes um quadeo que seja a0 mesmo tempo estrururado e confortivel. Em equilibeo dificil de en- contrat, pois se eles se sentirem oprimids, vo ficar blogues- ds, mas hes dermos ber dade demas eles também correm 0 rsco de iar blogueados. po isso que preparo a cena em fungao da cimera e nao dele, Porque ees preferem trabalhar com parimetrospredeterminados como riseodeter deajust- Ios depois) do que estar entregues a simesmos. Fles precisa saber ue voce controla tudo, eno perdem a confianga.E 86 se tverem confangacorrera isos por voce. portato, im- Portante mostrar que, de umn lado com de outro, voce no vai tralos, Uma maneira de trangaiizé-los, por exemplo, munca fimi-os em close com unna focal mais carta do que a SOmm (cso) Deresto, creo que um erro cometido pela mzoria dos diretoresiniciantes € 0 de cter que devem dizer 208 atores 0 aque fazer. Na verdade, penso que mio mais importante ot: Mie do que falar. Os bons afore sempre trazem suas propriss ‘elas voce so rem que escother aquelas que The agradam. De toda manera se voce fez o seu trabalho corretamente, tuo jt fol dito edecdido antes mesmo de chegar o et. O momento tmais importante da diregao de atores se sua provavelmente tn seleo do elenco, Na maioria dos casos, nunca se encontra 781 Grandes divroresde cinema ‘um ator que corresponds exatamente visio que se tinha do ppersonagem. E ¢ preciso ter bom senso sufiiente para, nesses ‘casos, escolher o ator que se prefere e mandar reescrever 0 pa- ppeh ajustilo & personalidade do ator escolhido, mais do que ‘entar fazer com que esse aor entre 8 forga no personagem tal como foi escrito. QUAN TO MAIS APRENDO, MENOS SET ‘Comparido fica qutnica ou engenhara genetics, oc nema & de ao, uma tenia bastante simples. Ema invencio do século XIX uj teoria se pode aprender em ds Semana. “Mas quando tentamos poo em pit, damo-nos cont de que hi tanta varives para administrar—o tempo, os humores, a sorte, 1 moa que fazer un ime se rorna fran mas omplexo do que pr um foguete em debit. Godard me disse tumdiaqu era preciso serinconsciente par fazer mlvom me, © € vendade. Unn vez que aprendemos 0 quanto € dif fl ‘mar, combsamos ans fsa a tomar precagbes. Mas no € om prudéncia que se faz magi, um cnet cane eli za com freqiénca maravilhs porque se ng sem stern projet impossveleuma ver pego natormenta folobrigado ait of. Quando fr meus primeios mes, nka dor de bareign a note nia. Etava convencdo de que se no desse 100% de ‘mim mesmo darante todo o do fle inezodesabria, Hoje, tvidentement, sou mais confante, Mas nem por so tenho a impressio de ter entenddo tudo, longe dss Lemibrome de terencontrado com Dav Lean algamas seman antes de sa mort le prepara Nosromo (Nosromo) eme disse: "Espero conseguir filmi, porque agra, reo qu finalmenteentend como faer um films” Acho is, como para ele, qualquer que seja0mimero defies guceuvenhaa fazer ocinemapermane= er para min, até fim art bastante miseriosa Joh Boorman | 79 Fumograrta 1965 Catch Us If¥ou Can 1967 A qucima-roupa Point Blank) 1968 laferno no Pacifico (Hellin the Pacific) 197000 principe sem palicio (Leo, The Last) 1973 Amargo pesadelo (Deliverance) 1974 Zardor (Zardo2) 71977 Exorcist l,o herege (Exorcist If The Heretic) 1981 Excalibur (Excalibur) 1985 A floresta esmeralda (The Emerald Forest) 1987 Esperanga e gléria (Hope and Glory) 1990 Onde esta o coracao (Where The Heart Is) 1905 Muito além de Rangoon (Beyond Rangoon) 1995 Lumiere e companhia (Lumiere et Compagnie) 1998 0 general (The General), 2001 O alfsiate do Panamné (The Tailor of Panama) 2004 In My Country WOODY ALLEN "Naseido em 183% na Brookiyn, Betados Unidos [Ninguéin € profeta em seu pais, e Woody Allen é 0 perfe to exemplo disso. Tratado nos Estados Unidos como um cincasta marginal cle teint anos, considerad pelo pi blico francés como um verdadciro semideus. E mesino que se divirea, com sua graca habitual ao expliac esse ferimeno ‘unicamente pela qualidade da legendagem, porcosdiretones podem hoje se vangloriar de uma obra eto prolifiea (37 Sl- ‘mes em 38 anos) eto pessoal. Allen é um verdadeiro artist, ‘equecertamentsexplica por que cle semprese sent solado, oresto do mundo, reeluso nestaithaa meio caminhoentrea Europa ea América que se chama Manhattan, Durante lon- gos anos, obter uma entrevista com ele er io dif quanto “encontrar 0 Yeti Depois, no inal dos anos 1990, sua atieude ‘em relacio 3 promogio de ses filmes muidow eadicalmente, «fiz parte dos primeirosjornalistas em Pars terem a sorte de encontriclo. Woody Allen é wm homem fasinante, tio ‘spirituoso na via quanto em seu filmes, e dem incrivel dominio no que diz respeito so su trabali, Essa conversa rualizow-se em meia hora eo diet soube ser tio preciso «© contiso em suas respostas que 0 texto que se seg & st wanscriga0exata, amals tive realmente vontade de ensinar cinema e, ais jamais me propuseram. Enfm.. bem, usa ver, Spike Lee {que dium curso em Harvard, me pedi que foss seusalunos. Fu de bos-fé, mas oprablema éque te,eunio conseguia ver exaramente o que les dizer sem cor- rer ovisco de des diego, como a eserta, é um dom. Se voce iio o tive, pode estudar a vida inteira e nem por isso se tormaré melhor cineasta E se vocto tver, aprenders bastante rapidamente a utlzar as poucasferramenta de que precisa. De toda ma- neira, 0 dominio ténico nao 6 o elemento vital para o éxito de um autor. Coisas como o equilirio psicol6gico ou adi ciplina seriam mais fundamentais. Muitos autotes talento sos se deixam destruir por suas neuroses, suas dvidas e seus momentos de depressio, se deixam distraie por todo tipo de prequica. Lai que sesituao-verdadeico siaestudar 1corajilos, pois, de meu ponto de vista, a coisas ou sucumbem perigo, e€0 controle dessese antes de comesara escrever ou a realizar. Mas para voltar a0 curso de Spike Lee, lembro-me de que os eseudantes me fa iam perguntas do estilo “como & que wacé sabia, em Noivo neurdtico, noiva nervosa, que podia se ditigie a0 pablico faan- do para acamera?”. Ora, tudo o que eu podia responder ales mentosque sede 4 | Grands dirtoresdecinema «era que mew instinto assim haviaditado. E-erefo que €isso que ‘constitu a principal ligio de tudo o que aprendi em matéria ddecinema. A ditegio nada tom de misterioso ou de complexo. [Nao devemos nos deixar intimidar por ela ou intelectualizaro processo exageradamente, Basta seguir seu instinto. A partir dda, se Voce tiver talento, sera cil. E se nao tiver, sera sim- plesmente impossive Unt Dm eTor FAZ SEU FILME PARA SI CCreio que, no inicio, ha dois tipos de diretores bem dis- tintos: aqueles que escrevem seu proprio roceiro eaqueles «ue dapcam o roteiro de autra pessoa, A nao ser por raras exce: {ges — tanto que nenhuma me vem & mente —, no se pode pestencer as dias categoriss. Pelo menos, ndo com o mesmo sucesso. De toda maneira, nto queto dizer com isso que uma dessas duas categorias soja melhor, ou que um dos tipos de ci- ‘neastaseja mais admiravel ue o outro. Simplesmente eles si0 diferentes e seus filmes também. Evidentemente, quando um diretor também autor, ele em um estilo mais afirmado, ou 0 ‘menos mais constante, Ble tende a ter “tiques’ de diregao bem pparticalares,a inclinar-se com frequéncia sobre os mesmos te- ‘mas, e, através de seus filmes, o pablico esti em contato direto ‘com sta personalidade, Em compensacao, odiretor que adapta ‘acada vez um autor diferente, talvez. aga filmes mais impres- sionantes do ponto de vista visual (6 geralmente-0 que acon- tece), mas que quase nunca terao essa qualidade “pessoal” que posstiem os filmes de autor — e iso tanto no melhor quanto rnopiior dos casos. Pois por mais pessoais que sejam seus filmes, bi muitos autores que, francamente, ndo tm —e jamais terao — nada de palpitante para conrar sobrea vida. De odo modo, feita essa distinglo, creio que um diretor faz, acima de tudo, Woody Allen seu filme para ie que seu dever&o de assegurat, a espa de toes. obstécls gue posam apres dane, ane om permaneza edo noo fm, Oder dee permanecr,o senor abolto do lie Seelsevoma se to meester. Quando digo que precio fazer fn paras na por despreva ao pbc: Mas creo qu se vot far um me dete agra ee ofa ent le tin agradaréao public, o 90 menos a una pred public Em compensate, tntae avin o que agra a ote parece rial. Nao pena virdmenemposse mae Esso que vet wena realiza eno porque nto deat logos Pilblicovieparaosetfizerofimecmscuigirs QUANDO cIIEGo Ao SET, NKo SEI DE NADA Cada ditetor possui sua propria maneira de trabalhar. Sci que muitos deles chegam de manha ao set sabendo exa famente o que vio filmar. As vezes ji sabem ha semanas. Visualizaram tudo na cabeca, ou fizeram storyboards esabem imediaramente onde vao colocar a cémera, que objetiva vio utilizar € em quantos planos vio filmar a cena, Sow o contri rio disso, Quando chego ao set de manha, nao tenho a menor lea de como vou filmar o que tenho para filmar, ealiés nem fento reletira respeito. Gosto de chegar para a filmagem: {gem de todo preconceito. Aliés, na maioria dos casos, prof ro nao visita, previamente, os cenatios nos quais vou filmar. Logo, quando chego, tudo 6 novo para min, tudo € freseo, E deixo-me guiar pelo que sinta ao cheyar, por minhas in presses imediatas, para tomar minhas decisbes. Admito que ‘io uma maneira muito recomendivel de tabalhar. Fla tem. A vantagem de me proporcionar um certo conforte, inhego poucos produtores que seri n suficienteme {86 Grandes deetores cinema das para acitar isso de um diretor. Tenho, portant, muita Sorte Para voltarao aspecto técnica, nso procedo da mesma tmancira queamaioria dos dretores,Geramente eles razem prmeiro os ators ao se, mandam que ensaem e,em Fangio Eisso, decidem 9 enguadramento. Quanto a mim, primeiro toloco a cimera, devo 0 quadro e, depois, peso aos aores que se dsponham ese movam em Fangio dessequadro. Digo ales “Ponham-se ali quando disserem sso, depois vio para li Poem fcar por am momento, mas em seguida, quando dlserem ta fla quero que estejam aqui uma rego que parece um ponco com ado texto, eoenquadamento que es oli define de certo modo os parimetros da cena Emcompensagio, corto mite poco eamais eubro sco 6. tonto filma cada cena num nimero minimo de planos€ja- nas film o mesmo plano sob dois angus diferentes. Asn disso, quando passo de um plano a outro, comeco 0 segundo plano praticamente no loca exato onde o outro ferminos. ‘Uma das razdes para isso & que sou preguigoso demais exo demais — para faz-lo,adespito de qualquer orto de“sequranga’-A ours razao ¢ que no gosto de man- dar on tore refaeremn de vezes a mesma cena. Fsse m&odo petmite nio apenas que eles quem mais espontneos, mas também que tentem muita cost, que f@cam a mesma cena ‘pum tom diferente sem ferem gue se preocupar em estar "af nados® comamanera como. flmaram sob onto anguo. (O RISO EXIGE UMA DIREGAO ESPARTANA" ‘A comédia é um género & parce na medida em que dita 0 estilo da diregdo, de maneira bem mais estrta e exigente do que qualquer outro genero. Com efeito, em comédia hi um dado tao incontornavel quanto ineransigente, que €0 tio. Woody Alle [87 nada pode vir como obsticulo para esse dado, Nada deve distrair 0 espectador daquilo que supostamente o fara rir, Se voce move demas a cimera, se voce faz. um plano nuito fechado, voc® corre orisco de passar ao largo do e to, Assim comédia nfo permite execuso de uma ciagio imagindria, ela exige a realidade, Q ideal é um quadro bem amplo eestitico, como os de Chaplin ou Buster Keaton, nos ‘qua se v8 claramente © que 0 ator faz ¢ se coeta minima mente para nao corre 0 #30 de quchraro ritmo, sobre 0 ‘qual tudo repousa. Isso rem algo ce muito “espartano” e,evi- dentomente, é mut frustrante. Em todo caso, ¢ frustrante para mim. F por isso que ds vezes fago filmes mais dramé- tieos, para poder descarregar todas essas vontades de dize- lo que so reprimidas na comédia. E depois, € claro, cada diretor acha sua prdpria maneira de contornar as regres, Dor mais rgidas que sejam. For exemplo, como no gosto de cortar minhas cenas, uso mito 0 zoom. Assim, durante 2 cena, posso fazer um zoom sobre tm tosto para ter close, ‘oltar para trés num plano aberto, avangar em plano medio, ‘etc. Dessa manera, ago minka decupagem na hora, muico imais do que ma montagem. Fm yeu de fazer zooms, posso também escolher avangar ou recuar a cimera, mas nao é exatamente a mesma coisa, Primeico porque, simplesmen: {e, nto hi espago suficente! Depois porque 0 movimento do zoom tem um lado puramente “funcional” 30 passo que, quando voc’ move a propria camera, isso teaz frequent mente ao plano sia espécie de énfase, um valor emoci suplementar, que nem sempre é desejvel. As vezes, voce 6 quer se aproximar de alguma coisa para mostri-la melhor, ‘nto para mostei-la gritando:“Olhe!” ‘Ora, os movimento da cimeratém tendéncia cri ofcito nal {88 Grandes digecoresde cinema [AS REGRAS TAMBEM SAO FBITAS PARA SEREM BURLADAS [Assim como é importante saber até que ponto as regras dacomédia sio rigidas, penso que é preciso, eaté vita, jamais parar ce experimentar, Antes de fazer Zelig, por exemplo, eu nunca teria acredlitado que era possfvel fazer viver um perso- zagem sem munca mostrar dele nada alm de fotos, de breves {magens, tomadas as escondidas, nas quais ele é visto apenas saindo de um carro ou enteando num prédio. Ou ainda fazen- ddo.com que outras pessoas contassem su historia, Em suma, eu jamais teria acreditado que era possivel fazer um filme pessoal utilizando a forma do documentirio. B, no entanto, Funcionou. Nao digo que seja preciso refazer isso sistematica- ‘mente, mas, em todo caso, prova que € possivel Eencorajador. Da mesma maneira, Maridos esposas oi filmado em sentido toralmente inverso de tudo 0 que acabei dedizer sobre estilo visual da comédia. Als, muitas pessoas ‘me eviticaram por ter feito esse filme comacimera no ombro, ddemaneira nervosa, com focagem aleat6ria ecortes abruptos. Disseram que estava excessive. Mas ercio sinceramente que foio filme em que use os movimentos de camera da maneira ‘mais bem-sucedida ou, pelo menos, mais apropriada ?Para muitos ditetores, 0 movimento de cimera é um ins- ‘teumento que usamos para nos dar prazer. Ele é wm pouco ‘como um brinquedo que torna as coisas mais belas, mas que ‘nos obrigamos a usar com contengao, justamente para nao cestrayar o prazer que proporciona. Pessoalmente, levei muito tempo para comegar a mover a cimera, No inicio porque me faltava experiéncia e em seguida porque eu trabalhava com. Gordon Willis, um operador de cimera extraordinitio— ele assinou a fotografia de © poderoso chefto 3 (The Godfather, ‘par I), entre outros —, mas cuj particularidade ¢ huminar Wooly Al as cenas de tal mancira que elas raramente permitem 0 me nor deslocamento €,portano,sobretudo desde que trabalho com Carlo di Palma, que fago movimentos de cimera, Veio 08 poucos para fnalmente ating, em Maridas expos um ponto culminante Eo que me agrada ness filme, o que mais me orglha, € que, pelo menos dessa ve, os momentos de ‘imera nfo sto motivados unicamente pelo prazer visual do Aietor, mas realmente pela hstri, pois ele refletem 0 es tado mental caotco dos personagens,chegam até mesmo favor parte inegrante deste personagens Dimicin BEM UM ATOR £ DRIXA-LO FAZER SPU TRABALHO. Perguncam-me com freqaéncia qual osegredo da dress de atores, €geralmente acham que estou brincando quando digo que basta pegar pessoas talentosase deixa-s fazer seu trabalho. Mas éverdade. Os dretores com freqaéncia tender a dirgirdemais os atores, 8 atores se detxam levar porque, justamento, gostam de ser ditgidos a0 exeesso. Gostam de ter discussbes interminveis sobre seu papel de inclectuali 2a todo 0 processo de eriagio do persomagem ete. E& com frequéncia assim que eles acabam se enrolando, que acabarn no sendo mais naturals o espontincos. Crefo entender por que agem assis da parte deles como da dodiretor,€um pou 9 como se todos se senissem culpads por faze algo 140 fi- cil ese obrigassem a tornaratarefacomplexa, para justiiear © saliro. Mas jamais entro nesse jogo. F claro, se 0s aores ‘em uma ou dias questoes, responderhes o melhor qu pos s0.Se io, contato pessoas doxadas edeixo-asfazerem 0 que sahem fazer. Jamais os forgo a nada, confi inteiramente em seu instinto de atores & raro que me decepcionem, Acho, 90 | Grandes dirtors declines também que to defilinar longascenas com um mien de ones petite que cles realmente atm, a0 pass qi, muit0 frequentemente, no cinema, cls tém és segundos para di- erm pedo de frase on vir cabega,e depois, ém que sper tres horas para terminar fase os acabar de virar a abesa num outro plano, Mal tem tempo de dar pactia ef tem que paar rastrant,¢creio que sso entra em chogue como que faz oprazer do ofco, De toda mancira,acada ez {queum de meus filmes esti, pestoas eam maravihadas Comas atuagbes dos ators. Os proprios stores iam maravi- Thadoscomsua propria anagioettatan-me como ums hei, ‘enquanto, de fato, sto cles que zeram todo o raha! ALGUNS BRROS A SEREM BVITADOS. Ha todo tipo de erros que um diretor deve tentar nio.co- meter. © primeiro que me yem mente é sem duivida o de fazer qualquer coisa que nto corresponda precisamente sua do filme. Acontece freqdentemente, em plena flma- ‘gem, que tenhamos uma idéia engenhosa ou que nos ocorra Algo de audacioso que tenhamos vontade de experimentar. Mas se & coisa em questo nao tiver um lugar no filme, en- to € preciso ter a honestidade on a integridade de privar-se dela, O que nio significa que se deva ser rigido ou limitado. Muito pelo contririo. Um filme & como uma planta: uma vez. que os gros foram semeados, ele comega a brotar, a crescer. Eo diretor deve crescer no mesmo ritmo se quiser ver 0 fi- nal, Ele deve estar pronto para considerar todas as formas de modificagbes ow de mudangas, a todo momento, Ele deve também estar aberto aos pontos de vista externas. Quando ‘eserevemos, estamos s6s num ebmodo com um pedacode pa- pel. Podemos controlar rudo facilmente. Mas uma vex. no st, diferente. Continsamos a dirigir, mas precisamos dos ou- ‘Woody Allen] 91 «tos para faztlo F precio entender, asta eaprecat so. {preciso ster Fazer com 0 que stem, A determinagio eum trunfo, mas a intansigencia, em compensisao, geralmente um defo, Pens também que €uin grande ero langar-se a um lm com um roeieo que € nim on que nao est pronto dlizendo-se:“Nio é grave, esolvere tudo com a defi” A experiéncia me provon que com um bom roteiro ¢ una mi diego, oresuitado pois serum fime digno mas que o con trio jamais se prea. Enfim, o kim erro contra o gual cupreveniia todo futieacineasta Go de seeder um dia que entendeu tudo, Anda hoje fag filmes e sempre ico surpres0 até mesmo estapefaeo pela maneira como o pablico rage. “Acho que as pestoas v0 gosta de tal persomagem e peree- bo que cla so indiferentes a ele ou até mesmo anipaicas, we preferem al petsonagem no qual ew mal havin pensado, Acho que vio ri de al ag ea verdad, iem de una outa «que ea achava media. Agu e um pouco fuscante. Mas por otro lado, também o que fora Ese ofc fo magico, {ho araent e io divetid, Se eu tiveseentendio do, ha orempo teria parado! Fu (OGRAFIA, 1966 What's Up, Tiger Lily? 1969 Um assaltante bem trapallao (Take the Money and Run) 1971 Bananas (Bananas) 1972 Sonhos de um sedutor (Play It Again, Sam) 1072 Tudo o que voce sempre quis saber sobre sexo, mas ti- nnhamedo de perguntar (Everything You Always Wanted, to Know About Sex, But Were Aftaid to Ask) 1973 0 dorminhoce (Sleeper) 1975 A altima noite de Boris Grushenko (Love and Death) 92 Grandes dirtoresde cinema 1076 Testa-de-ferro por acaso (The Front) 1077 Noivo neurético, noiva nervosa (Annie Hall) 1078 Interiores (Inceriors) 1979 Manbatean (Manhattan) 1980 Memorias (Stardust Memories) 1982 Sonos eréticos numa noite de verdo (A Midsummer [Night's Sex Comedy) 1983 Zelig (Zelig) 1984 Broadway Danny Rose (Broadway Danny Rose) 1985 A rosa pirpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo) 1986 Hannah e suas irmas (Hannah and Her Sisters) 1987 Aera do ridio (Radio Days) 1987 Setembro (September) 1988 A outra (Another Woman) 1989 Contos de Nova York (New York Stories) 1989 Grimes e pecados (Crimes and Misdemeanors) 1990 Sinnplesmente Alice (Alice) 1992 Neblina e sombras (Shadows and Fog) 1992 Maridos e esposas (Husbands and Wives) 1993Ummisteriosoassassinatoem Manhattan (Manhattan ‘Murder Mystery) 1994 Tiros na Broadway (Bullets Over Broadway) 1/1995 Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite) 1096 Todos dizem eu te amo (Everyone Says I Love You) 1097 Desconsttuindo Harry (Deconstructing Harry) 1098 Celebridades (Celebrity) 1999 Poueas e boas (Sweet and Lowdown) +2000 Trapaceiros (Small Time Crooks) 2001 O escospie de Jade (The Curse of the Jade Scorpion) 2002 Ditigindo no escuro (Hollywood Ending) 12003 igual a tudo na vida (Anything Else) 12004 Melinda e Melinda (Melinda and Melinda) 2005 Ponto final — Match Poine (Match Point) EMIR KUSTURICA Nas em 1954, em Sarajevo, “ugoslévo,ctual Bésnia Herzegovina eRe Rita tx pare rete oe tiveram das Palmas de Ouro no Festal de Cannes ele €0 ‘iio ater realizado xs fan com apenas si filmes em sesso £ eco mena ir — a ees fusca lncooneairel do gate elas = cud Ales de Kusturica toe pesca cont enim outa cole. Pro fandamente impregnads decals cigana, els se star cat algunligar entre apossia. occa aatsaGo pase emi tie Epodetiamos far entra cer que eiboragao de tim univers to exicodalcanecmpreviel deva mult 4 sorte outa aces, Pore ra Gada so Pols Kus {ures dams perfeltameahoguc Faz Como cts porto Stes ass Were Tes (atau cain de eu apareaear a Sporacm que carcava Gat rea, gato rnc) poe masque Emir Katia sa glade for eos lsetog ctléae ue carat de slau ela, {endo deea deposi tdo igor es pessio que Eze, deate sempre a qualade dos ceasas de Huropa do Lene A tte ens stetncomo fazer um filme é 20 mes- mo tempo muito ambiciosa e muiro excitante, mas, em ‘mins opinigo, nfo nada realista, Ensine cinema durante dois anosna Universidade de Columbia, em Nova York, fiqueicom sentimento de que €impossivel oferever a quem quer que seja tum percurso eerteiro sobre © modo de realizar um filme. Ema compensagio, creio que é possvelprojetar alguns filmes ana lisi-losa fim de mostrar, a partir de exemplos precios de cenas tude planos, como cada autor utiliza seu proprio talento para fabricar um filme. Para mim,a primeira ea mais importante das ligdes, para quem quer se tornar cineasta,€ aprender aestabe- Jecer-se como autor, aprender a impor sua propria visto sobre ‘filme. Poiso cinema é uma arte de colaboragio, na qual deve ‘mos incessantemente enfrentar as cividas dos outros e suas i ‘ergéncias de opinito, Osjovens cineastas feeqiememente témn Iitasidéiase pouca experiéncia, esuasidéas rapidamente redluzidas.a pé quando confroncadas is exigéncias da reaidade, Para evtar iso, ¢ preciso compreender quem se é, de onde se ‘vem e como toda essa experiéncia pode ser traduzida em una linguagem cinematogritica. Por exemplo, se vo obseevar 0s filmes de Visconti logo verda que ponto sua direyofoiinfluen ciada pelo faco de que cle vinha da épera. Com Fellini, € mes- '96| Grandes diretoresdeclnema sma coisa: sente-e 0 desenhista por tris do diretor. Béclaro que ‘a maneira como cresci nas ruas de Sarajevo, em contato per- ‘manent com as pessoas ¢ com urna energia € una curiosidade ‘ransbordances para satisfaze, influenciou minha propria ma neira de lar, Ao estudarmos a producio de cada autor, mes mo nos cinco primeiros minutos, vemos que cada um deles ex ‘uma maneira de construir seus filmes. Se voc® depois aprende a distingui ea compaar todas essas abordagens docinema, 10 fim das contas vocé deve poder conseguir determinare fabricar aquela que sera a sua como cineasta. MEU PROGRAMA, Cada periodo da histria do cinema raz uma ligto dif rente para aqucle que estuda, Por exemplo, sempre comecti ‘mostrando a meus estulantes O atlante(L'Atlet), de Jean ¥Yigo, po simbolizar, para mim, o melhor equilibrio possivel, centre osom ea imagem um filme feito nos anos 1930, numa fépoca em que tudo era ainda rebivamente novo, e em que a imagem e som eram uilizados com enorme precang30 © 50- briedade, ao passo ue hoje, quando vejo os filmes contempo- raneos, fico impressionado com a utlizagao abusiva tanco da imagem quanto do som. Hi uma sobrecargasistematica que sinceramente acho nociva. Depois de O atalane, eu gralmen- te passava A regna do jogo (La Repl du er), que pessoalmente ‘considero com a matorobra-prima do cinema em termos de direc, Para mim, esse ime € 0 supra-sumo da elegineia na narragdo, com enguadramentosfeitos em Stcas nem longas demas nem curtas demas, sempre adaptada visto humana, com uma grande iquera visual euma grande profundidade de campo. lis, Renoir —e talvea também seu pa, o pintor quem infenciow minha mancira de compor quaros sem- pre muito profundose mult rcos. Mesmo quando flmo um [Emir Kusturica] 97 primeiro plano, sempre acontece alguma coisa aris, o rosto & ‘sempre posto em relacao com o mundo que o cetca, Para vol tar a mew programa, havia depois © cinema melodramitico hhollywoodiano dos anos 1930, eas incrivesligses que se pode ‘rar em termos de estrutura, de simplicidade e de eicicia nar- xativa, Hava tambem o cinema russo ¢ seu sentido quase ma- temiitco de diregto, depois o cinema italiano do pos-guetra, ‘com Fellini eeste modo de alia uma estéica perfeita com uma espécie de espirito mediterrineo, que roma o filme tia vivo € {0 atraente quanto pode ser um espeticulo de creo. Enfim, thio cinema americano dos anos 1960 ¢ 1970, vanguardista « decididamente moderno, que gente como Spielberg ¢ Lucas {ranspuseram para outro nivel nos anos 1980. FAZER ENTRAR A VIDA NA IMAGEM Os pros flies gu como estan eram muito Besse Tibor gene gor Go poo devin arttn, nyasndo cram excites dever E coio que ua ds rnp gb qu sprendl no decoer de mows extulas de Gem ha Beteconovain Co gumtoo cnr se cesuc de our tesporseuapecto clara Naofo apenas da egupe que fAbcaofime nasprinpalnente do quse enone cated carers do que cons na daca atoms vv Descbe Econo ern tine kms epost ode um gaa dk cents que pods ei como ann epi de mosaic ate ques comela se rhs a cena vende Ise corpo. lg de uo muta nbn como se are Aesons mo dfrener ns ds otros ences cia tin Consent do expecta sna senso malodosa mais do qe nasi un menage acon & por so qe pss um sep enorme prepara cad plo (equ sano an eh Inks mages), org tet armniar varios elements (98 | Grandes ditetores decinema diferentes om viios nets diferentes, até que a emogto busca ‘lapse fnamente ser passaca através da imagem. Etambem por isso que hi tanto movimento em seus es, Deesto a {aia de adios sentiments do personagem por meio do Ailogo.Acho queaexpressio das emogbes ara das palavras ‘mais do que da asx ma acdc que cinema seautorza ada ver mas E.comouma docnga Teno, portant, f7er com. {que mens ators flem 0 menos pose, ano tém que Tbr arranjorme para queclesextejamen movimento ou esis a camera que se mov Hama cena em Gat ret, gata braco Gque me deixon mnt content, € cena em eos ois atores esto agarao uma bine confessun que ext apaconados tm pelo outro imei ena fazendo com que a boa girassee companhando esse movimento cam .cimera, para i fi ose movimento circular —sendoocitulo forma poometrca tmaisperfeita do mundo — que touxe a0 plano si mags en0 fs palavras das pelos doispersonagens. ASUBJETIVIDADE Como PRINCIPIO, (0 pior erro que um cineasta iniciante pode comerer 0 de rer qucocinema éumaarteobjetva. A tinica maneira verdadel- rade ser um autor én somente ter um ponto de vist pessoal ‘como mpd lono filme,em todos osniveis. Voo®fazseu flee faz para simesmo, esperando sempre, éclaro, que oque nele Ihe agrada agrade também aos outros Se vocétenta fazer um filme para.o piblco, no pode surpreendé-fo, Ese nfo o surpreende, rio pode fazé-o refletir evolu. O filme é, portanto,acima de tudo, o seu filme, Set preciso que vooe mesmo escrevaoroteiro paraser realmente seu autor? Nao acho, Ao contrrio,crio que vvocé tem uma maior iberdade de movimento se voc sli a flmar, Geralmente adapro o roteiro de outra pessoa, mas, no «st acrescento tanto de mim mesmo que no fina das contas mo- Enis Kuni] 99 nopolizo sistematicamenteo filme, O rote éapenas una bas uma espécie de fundagao sobre a qual me apoio para edifcar arquitetura do filme. Jamais me deiso aprisionae pelo que esti «escrito, sou completamente aberto pata as idéias travis pelos atores ou pelascircunstincias das filmagens , principalmente sempre dou um jeito de incuir no filme varios elementos mui to pessoas. E por isso que hi frequentemente neles enforcados, casamentos,fanfarras etc, Sdo as minhas obsessdes, que sempre setornam, um pouco como as piscinas nos quadros de Hockney. ‘Sto sempre 0s mesmos elementos, mas que disponko a cada vyer de modo diferente, a fim de concar uma outta hist, Na ‘técnica também, mink diresao ¢ completamente subjeiva. Hi ‘obrigatoriamente um dilema que se produ. para cada diretor ‘no momento de colocara cimera, Hi ummadecisto artiticaa ser tomada que repousa ou numa explicagtologica, eu dieia até mes: :mo moral, ou no instinto puro. Deixo-me sempre guiar por meu instinto, Mas campreendo que outros considerem a logica mais trangtilizadora. Em todo caso, ndo existe realmente uma grains ticacinematografica. Ou melhor, existem centenas, uma vez que ‘ada direrorinventa uma para simesmo, ACAMPRA DEVE DECIDIR A RESPEITO DETUDO Quando preparo uma cena, comego sempre colocando 8 ‘clmera, pois para mim o cinema é haseado na “mise-en-sine 1no sentido mais direto da palavraisto €, no conteole do esp edo que se deseja ver nesse espago. Ora, esse controle do ago deve ser efetuad a partic da cimera, Os atores devem se limitar ao enquadramento que foi determinado, endo. cont rio. Primeiramente por razOes pragmaticas: é mais fil pele .umator para se adapear a restrigdes visas do que lata técnica is idéias de atuagao de um ator. Depois poryue a ci ‘mera ajuda o diretor a diigir seus atores, no sentido de que se 100 Grandesdretores desineaa cle souber impo-la como 0 olho da cena, dard aos atores um pponto de referéncia a partir do qual tudo se tormar finalmente simples e claro. A cimera 1 aliada do diretor pois ea 6a fonte deseu poder, ela 66 argumento no qual ele pode apoiae todas assuas docisdes, por maisaritedria que sejam. Em minba opi nlf, o erro cometido pela maioria dos diretores iniciantes 60 {de abordar o cinema como uma forma de teatro mado. Eles so tao respeitosos em relag20 a0 trabalho dos ates que dio ‘cles a prioridade e nao conseguem impor seu préprio ponto de vista visual. F isso geralmente se volka contra eles, pois 0s atores precisam ser ditigidos, precisa que os enguadremos, «que fixemos pardmetros para eles. Um diretor que os dea fa zer tudo logo Ihes parece fraco ou indeciso, isso faz-com que entrem em piinico. Ao mesmo tempo, nso Se deve ser obtuse. se € muito importante ter um ponto de vista concreto sobre amaneira de filmara cena, éigualmente importante saber estat ahorto paras surpresase para asieias externas. Sesempresei como que se parece a cena que quero filmar,raramente adv ho como que ea realmente se parccera no final ABORDAR CADA FILME COMO SE FOSSE © PRIMEIRO O diretor 56 tem realmente um objetivo estético quando ‘mergulha num filme: ser estimulado pelo que esta flmando, ‘Sei que uma cena ¢ boa quando sinto meu coracio bater mais "pido, e mea motivo para fazer filmes 6 justamente sentir esse tipo de sensacio. Preciso sentir-me arrebatado por colocar 0 filme no mmdo. E quando consigo, cxeio que esse sentimento atravessa a tela e que 0 espectador, por sua vez, o sence, Mas para chegar a isso, creio que ¢ preciso mergullae em cada Sl me como se fosse primeira, nao ceder a roti e jamais para de explorar e de evoluir. Com a experiéncia, coma-se fil de- Drugar-se sobre velhos esquensas e contentarse em mudar de Emir Kusturica | 101 cobjetiva para rar uma nova dinamica, Mas ¢ absoluramente ‘impetnso impedirse defaer iso, Por exermplo, sempre me recusoa me cob Decdo-me por uma nica naneira de mara cena atenho-mea ela, mesmo corend ris de que tear a eabegs mm montage um lance de péquer perptin, mas me obriga a realmente refletr sobre as decisoes que romn0 no set. Eno sito em leva cad iin a se termo, Hi veres fm que eu poderia me contentar coma tereia tomada de um plano, mas obrigo-me a buscar mais, entrar no ceme da pro- Prin substincia da cena. E assim que chego a fazer quinze ou ‘inte omadas por plano. mio, eu se. enorme B até mes- ‘mo assustador pars. prodtor. Maxsando soube que Stanley Kubrick fia quarenta em seu dime fe, quel rangi. FrLMoGRarta 1981 Vocé se lembra de Dolly Bell? (Sjeccas Li Se, Dolly Bell) 1985 Quando papsi saiu em viagem de negécios (tae na shuzbenom Pata) 1989 Vida cigana (Dom Za Vesanje) 1993 Arizona Dream — Um sonho americano (Arizona, Dream) 1995 Underground —Mentiras de guerra (Underground) 1998 Gata preta, gato branco (Cana Macka, Beli Macor) 2001 Memorias em Super 8 (Super 8 Stories) 2004 A vida é um milagre (Zivote eudo)

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