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09/03/2023, 10:46 Drive My Car é simples na forma e profundo na palavra - Jornal Plural

CINE GARIMPO

24 mar 2022 - 8h30

Drive My Car é simples na forma e profundo na


palavra
Indicado a quatro categorias no Oscar, filme de Ryûsuke Hamaguchi acompanha diversos arcos
narrativos, tudo imbuído e contaminado pelo clássico Tio Vânia, de Tchekhov

Por Aristeu Araújo

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Drive My Car é um filme muito


SAIBA MAIS simples e parte de sua beleza está
Confira os filmes justamente na clareza com que se
indicados ao Oscar 2022
apresenta, mas de modo algum isso

Indicados ao Oscar de deve soar como simplório. Adaptado


Melhor Canção de um conto de Haruki Murakami,
seus personagens são carregados de
“Drive My Car”, a surpresa
do Oscar 2022, estreia nos tridimensionalidade e, com três horas
cinemas e no streaming de duração, o diretor Ryûsuke
Hamaguchi forja com precisão os
vários arcos narrativos que se abrem e
fecham sem pontas soltas. Porque é na total inteligibilidade

que o roteiro se apoia. Por isso a escolha pelo simples. E,


também por isso, extremamente potente.

Essas características, aliás, podem ser apontadas também para


a obra de Murakami, escritor de renome, autor de vasta obra,

com romances como 1Q84 e Minha Querida Sputnik.


Murakami é preciso na sua escrita, mas é também surreal,
muitas vezes gostando de evocar imagens perturbadoras que
deslocam o leitor do lugar comum. Em Drive My Car,

Hamaguchi prefere deixar o perturbador para o campo


imaginário. No enredo, Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima)
é um diretor de teatro casado com uma roteirista. É ela que
muitas vezes evoca as imagens mais intensas e
desconfortáveis da narrativa, muito embora elas sejam apenas

faladas. É que o labor dela é justamente com a palavra e


Hamaguchi tem uma boa compreensão do que deve mostrar
e o que deve omitir.

Como diretor teatral, Yûsuke tem a função de dar imagem e


som às palavras que estão no papel. Como espectadores,
acompanhamos várias camadas do processo de montagem da
peça Tio Vânia, clássico escrito por Anton Tchekhov em 1897,
e somos jogados a perceber os paralelos que existem entre o
texto russo e a vida desses personagens japoneses. O que de
fato Hamaguchi nos diz é que Tchekhov é universal, que
aquelas dores encenadas no final do século XIX ainda são as

mesmas que carregamos hoje.

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Todos os vários arcos que atravessam o filme têm como base


a palavra. Se não no papel, falada como invenção (a mulher
roteirista que declama suas ficções após o sexo), gesticulada (a
atriz muda), confessada (o amante que narra o encontro),
traduzida (o elenco da peça é de diferentes países). Há ainda o
principal, a palavra a ser decorada. Yûsuke tem por hábito
ouvir gravações em fitas cassete das peças em que trabalha.
Sua própria esposa as grava para que, assim, ele possa estudar

as cenas. O diretor ouve essas fitas enquanto dirige, mas ao


viajar para um festival em Hiroshima, ele é tomado pela
notícia de que não poderá conduzir seu próprio veículo,
exigências da produção. Daí vem o título (“dirija o meu carro”,
em tradução livre), quando surge Misaki Watari (Tôko Miura),
a motorista contratada pelo festival. Ela irá levar o diretor
para o hotel, o trabalho e suas reuniões. Ela ouvirá
repetidamente as fitas com as falas de Tio Vânia. Até que, por
fim, ela o conduz em suas próprias dores e redenções.

De tanto ouvi-lo, Misaki e Yûsuke são afetados pelo texto de


Tchekhov, que acabam por viver suas transformações a partir
das descobertas que o próprio teatro proporciona. Em outras
palavras, a ficção se embrenha em suas próprias falas e atos,
ajudando-os a, se não vencer suas culpas e tragédias, olhar
para o futuro e ter alguma esperança, nem que seja no após
morte. E é assim, também, que se encerra Tio Vânia, quando a
personagem Sônia vaticina: “Viveremos uma série longa,
longa de dias, de longas noites; havemos de suportar

pacientemente as provações que o destino nos mande;


havemos de trabalhar para os outros agora e na velhice, sem
conhecer descanso. E quando chegar a nossa hora morremos
docilmente e na sepultura diremos que sofremos, que
choramos, que passamos amarguras, e Deus terá  piedade de
nós, e eu e tu, tio, meu querido tio, veremos uma vida
luminosa”.

Disponível nos cinemas e a partir do dia 1.º de abril no MUBI.

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Drive My Car – 2021, FIC, 179min.

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Drive My Car | Trailer Legendado

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete


necessariamente a opinião do Plural.


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Aristeu Araújo – Cineasta e crítico de cinema. Dirigiu oito curtas-


metragens e há vinte anos escreve sobre filmes.

Anton Tchekhov Cinema Drive My Car Haruki Murakami


Assuntos:
Ryûsuke Hamaguchi Tio Vânia

2 comentários sobre “Drive My Car é simples na


forma e profundo na palavra”

AUGUSTO PRATTES disse:

15 de junho de 2022 às 20:09

EXCELENTE ESCRITOR: HARUKI MURAKAMI!

Responder

AUGUSTO PRATTES disse:

15 de junho de 2022 às 20:11


É UM DOS MELHORES ESCRITORES DA SUA GERAÇÃO:
HARUKI MURAKAMI!

Responder

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