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NÉLSON FALCÃO RODRIGUES (Nelson Rodrigues)

 Nasceu em 23 de agosto de 1912, em Recife;


 Morreu em 21 de dezembro de 1980, no Rio de Janeiro;
 Foi um importante jornalista, teatrólogo e dramaturgo brasileiro.

BOCA DE OURO

 Peça em 3 atos e 15 quadros.

 PERSONAGENS → Boca de Ouro (banqueiro do jogo de bicho), Dentista (atende


o bicheiro) , Secretário (trabalha no jornal “O Sol”), Repórter (acompanha
Caveirinha), Caveirinha (faz as perguntas a dona Guigui) , Fotógrafo (tira fotos de
diona Guigui), Dona Guigui (ex-amante de Boca), Agenor (marido de dona Guigui),
Leleco (marido de Celeste), Celeste (outra amante de Boca), Preto (escapa da
morte), Primeira grã-fina (chega para pedir dinheiro), segunda grã-fina (chega para
pedir dinheiro), terceira grã-fina (chega para pedir dinheiro), Maria Luísa, Locutor
(dá a notícia da morte de Boca de Ouro) e Morador.

O COMEÇO

Nelson Rodrigues tomava o ônibus da linha 115 (atual 184), trajeto Laranjeiras –
Estrada de Ferro. Um dos choferes, um pernambucano chamado Rubem Francisco da Silva,
gostava de exibir-se: tinha 27 dentes na boca, mas eram todos de ouro. Abria a boca no
ponto final da rua General Glicério e dizia: “Olha só! Pode contar, um por um. E não é
coroa, é maciço! Ouro 24!”. Aqueles dentes dourados misturaram-se no imaginário de
Nelson com outro personagem real do submundo carioca, o bicheiro Arlindo Pimenta, e
pronto! Surgia o personagem Boca de Ouro, protagonista da peça homônima.
  Boca de Ouro é bicheiro do subúrbio, típico malandro carioca, e tem esse nome
porque, ao subir na vida, trocou os dentes perfeitos por uma dentadura de ouro. Quando
Boca é assassinado, o repórter de um jornal sensacionalista, incumbido de investigar o seu

Prof.: Rômulo Felipe


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passado, tem uma idéia brilhante – entrevistar Dona Guigui, a volúvel e passional ex-
amante do contraventor, uma mulher que, dependendo de seus humores, conta a cada vez
uma nova versão para as mesmas histórias.

Boca de Ouro é uma peça teatral, escrita em 1959. Como todas as demais, teve
problema com a censura. Foi levada para estrear em São Paulo e foi um grande fracasso.
Talvez pelo fato do diretor Ziembinski (apresentava um forte sotaque polonês) ter insistido
em viver o papel principal e não ter dado certo. Já em 1961, com Milton Morais no papel de
“Boca de Ouro”, estréia no Rio de Janeiro com grande sucesso.

ENREDO

Por causa da mágoa de ter sido abandonada, dona Guigui constrói, de início, um
Boca de Ouro Fascínora. Capaz de matar só porque lhe lembraram sua origem, numa pia de
gafieira. Assim que fica sabendo da morte dele, pelos próprios repórteres que foram
entrevistá-la, a paixão de dona Guigui explode novamente e ela chega a omitir que Boca de
Ouro assassinou Leleco, na segunda versão. Seu atual marido, porém, fica chocado com a
coragem da mulher em declarar segredos do homem mais poderoso da região e ameaça ir
embora de casa se ela continuar falando. Para preservar o casamento, dona Guigui dita ao
repórter a última versão sobre o bicheiro, agora retratado como um “assassino de mulheres”
que sacrificou Celeste. A narrativa de dona Guigui se interrompe quando Maria Luísa e
Boca de Ouro vão para o quarto, e se passou bastante tempo, no qual aconteceu o
assassinato do bicheiro, até a hora em que a grã-fina relatou a história para os jornalistas.
Se no 1º ato Boca de Ouro mata Leleco ao ouvir o insulto contra a mãe e no 2º é
Celeste quem assassina o marido, no 3º o crime volta a ser praticado pelo bicheiro, com a
cumplicidade da amante, que usa um punhal. A dúvida fica com a platéia no final da peça.
Dona Guigui mentiu sempre, nunca, por causa das circunstâncias? Qual a verdadeira
versão? Pelas questões sem resposta que suscita nos espectadores, Boca de Ouro pode ser
caracterizada como uma obra aberta.
Acabou mal esse Boca de Ouro, esse belo sinistro, terrível e ingênuo herói, tão
grande e tão miserável na sua revolta contra a condição humana. É mais um personagem rei

Prof.: Rômulo Felipe


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“destronado”, devolvido à sua solidão, fraco e pobre como o mais fraco e mais pobre dos
seres.

“O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para
todos, melhor ainda.” (Nelson Rodrigues)

Prof.: Rômulo Felipe

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