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OBRA ANALISADA: Lisbela e o Prisioneiro -- 1963

GÊNERO Teatro
AUTOR Osman Lins
DADOS BIOGRÁFICOS Nome completo: Osman da Costa Lins

BIBLIOGRAFIA
Romance:

O Visitante (1955); O Fiel e a Pedra (1961); Avalovara (1973); A


Rainha dos Cárceres da Grécia (1976).

Novela

Domingo de Páscoa (1978); Casos Especiais de Osman Lins —


novelas adaptadas para televisão e levadas ao ar em 1978, com:

• A Ilha no Espaço

• Quem Era Shirley Temple?

• Marcha Fúnebre

Teatro

Lisbela e o Prisioneiro (1964); Capa-Verde e o Natal (1967); Santa,


Automóvel e o Soldado (1975); Guerra do Cansa-Cavalo (1967).

Ensaios

Um Mundo Estagnado (1966); Guerra sem Testemunhas — o


Escritor, sua Condição e a Realidade Social (1969); Lima Barreto e o
Espaço Romanesco (1976); Do Ideal e da Glória. Problemas
Inculturais Brasileiros — coletânea de artigos e ensaios (1977);
Evangelho na Taba. Problemas inculturais brasileiros II — coletânea
de artigos, ensaios e entrevistas, com apresentação de Julieta de
Godoy Ladeira (1979).

Outros

• Os Gestos — contos (1957).


• Marinheiro de Primeira Viagem (1963).
• Nove, Novena — narrativas (1966).
• La Paz Existe? — literatura de viagem, em parceria com Julieta de
Godoy Ladeira (1977).
• O Diabo na Noite de Natal — literatura infantil (1977).
• Missa do Galo, Variações Sobre o Mesmo Tema, Organização e
Participação (1977) – ensaio.

RESENHA

Lisbela, filha do Tenente Guedes, delegado do município


de Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, se apaixona
por Leléu, um artista de circo, que percorre o interior nordestino
aplicando golpes nos habitantes das cidades, e dormindo com uma
infinidade de mulheres, inclusive casadas. Ele já estava sendo procurado
por Frederico Evandro, um famoso matador da região, que jurou
acabar com aquele que se aproveitou de sua mulher, Inaura.

No decorrer dos acontecimentos, Lisbela vai ajudando Leléu a escapar da


cadeia, induzindo seu pai, o tenente Guedes, a permitir regalias ao preso.

Lisbela é noiva do advogado Noêmio, um sujeito pretensioso, “doutor”,


vegetariano, personagem destoante do meio em que se encontra. O
relacionamento entre Lisbela e Noêmio agradava ao Tenente Guedes, por
representar segurança e estabelecimento para a jovem. Entretanto,
Lisbela se apaixona por Leléu, o artista de circo preso, assumindo riscos e
subvertendo valores vigentes em seu meio. Lisbela foge com Leléu no dia
de seu casamento com Dr. Noêmio.

A peça é dominada pela presença de personagens masculinas. Além das


já referidas, atuam na cadeia de Vitória de Santo Antão, Jaborandi,
soldado e corneteiro; Testa-Seca e Paraíba, outros presos; Juvenal, outro
soldado; Heliodoro, cabo de Destacamento, que forja um casamento com
uma jovem; Tãozinho, vendedor ambulante de pássaros, que rouba a
mulher de Raimundinho; Frederico, assassino profissional, à procura de
Leléu; Lapiau, artista de circo, amigo de Leléu, que participa da farsa de
casamento de Heliodoro com a jovem; Citonho, o velho carcereiro,
esperto e dinâmico, cúmplice, no final, de Lisbela e de Leléu.

Lisbela, a única filha do tenente Guedes, é a única mulher presente em


cena (as demais são apenas referidas). Ela enfrenta a autoridade
patriarcal, representada pelo pai e pelo noivo, ao tomar iniciativa para
colaborar com a fuga de Leléu da prisão, dispondo-se a abandonar o
marido no dia de seu casamento para aventurar-se na vida com o
presidiário. Como se não bastassem esses fatos, é ela quem livra Leléu
da morte, ao atirar, no assassino, quando este lhe apontava a arma,
pouco antes do desfecho da peça. Por suas ações, Lisbela não apenas
renega os mesquinhos valores, mas também expõe as fraturas da
sociedade patriarcal.
ESTILO DE ÉPOCA A partir de 1930, o regionalismo brasileiro resultou em brilhantes obras
literárias. São obras que revelam com muita propriedade o universo de
um Brasil distante, quase desconhecido. São documentos preciosos, que
falam a língua do povo, que falam de suas desventuras. Para os leitores
deste Brasil, eis aí uma forma de encontrar na ficção uma identidade.

A partir desses recortes da vida real, as experiências vividas pelos


personagens ganham uma marca, possuem uma identidade. Dessa
forma, os sentidos presentes na literatura de caráter regional são
amplamente compreendidos. Algumas dessas obras ganharam
maior popularidade a partir de adaptações para o cinema. Como
exemplo, temos: Vidas Secas, em 1963, Menino de Engenho, em 1965,
Tieta do Agreste, em 1966, O Auto da Compadecida, em
2000, e Lisbela e o Prisioneiro, em 2003.

INTERTEXTUALIDADE
Lisbela e o Prisioneiro: filme
Direção: Guel Arraes.
Roteiro: Guel Arraes, Jorge Furtado e Pedro Cardoso.
Com Débora Falabella, Selton Mello, Virgínia Cavendish, Marco Nanini, Bruno
Garcia, André Mattos e Tadeu Mello.
A trilha sonora do filme, composta por João Falcão e pelo músico André Moraes,
traz canções que misturam modernidade e o clássico em sincronia com o tema
abordado, bem como com suas personagens. A trilha sonora do filme “Lisbela e o
Prisioneiro” está disponível em: http://musica.com.br/trilhas-sonoras/lisbela-e-o-
prisioneiro.html (Data do acesso: fev.2013).

VISÃO CRÍTICA As personagens de Osman Lins são exemplo de um registro de literatura


impregnada de problemática de ordem social. “Lisbela e o Prisioneiro” é
uma comédia de caracteres. As ações desenvolvidas na cadeia de Vitória
de Santo Antão desempenhem uma função considerável na estrutura da
peça, com exposição, desenvolvimento, falso clímax, clímax, desfecho de
situações, vivenciadas por personagens nordestinas e muito bem
marcadas.

O gênero comédia, aliado ao perfil anticonvencional da dupla protagonista, foi


muito bem construído por Osman Lins, para por em cena,
no contexto de uma região de valentias, de sentimentos exaltados, de honra e
vinganças, um crime inesperado.

Atitudes que causam surpresa também compõem a personagem Leléu, que nada
tem de prisioneiro em termos dos valores estabelecidos, garantidores de
acomodada segurança. Volúvel nos amores, experimentador de várias profissões,
portador de diferentes identidades, afeiçoado a riscos e deslocamentos, o circense
Leléu, que tanto quer e tanto faz para sair das grades da cadeia de Vitória de
Santo Antão, não hesita a ela retornar, só para ficar próximo de Lisbela, quando
fracassa o plano de fuga dos dois.

O paradoxal retorno à prisão é mais um movimento desta personagem para a


libertação das amarras de valores que lhe são menores do que os impulsos da
vida. Ele vive sempre com fervor seu minuto de aflição ou de alegria, como bem
acentuou o próprio Osman Lins: “Leléu acende, mesmo na cadeia, as apagadas
chamas de Lisbela e desperta em Citonho, o velho carcereiro, o herói escondido”.

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