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PROSA E CONTEMPORÂNEA– aula

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Jadna Holanda
Murilo Rubião
Murilo Eugênio Rubião (Carmo de Minas, 1º de junho de
1916 — Belo Horizonte, 16 de setembro de 1991)
Quando Murilo Rubião estreou com O ex-mágico, um crítico
apontou a semelhança dos contos que compunham o livro e
certas obras de Franz Kafka, especificamente A
metamorfose. Embora o autor mineiro não conhecesse, na
ocasião, o autor tcheco, havia de fato alguns traços comuns
que permitiriam incluí-los numa mesma família estética, a da
literatura fantástica.
Entende-se por literatura fantástica (ou realismo fantástico) aquelas narrativas em que
ocorrem fatos inconcebíveis, inexplicáveis, surreais e que produzem uma grande
sensação de estranhamento nas pessoas. Normalmente, esta atmosfera de irrealidade
tem uma dimensão alegórica, ou seja, por meio do absurdo e do inverossímil, ela alude
à realidade concreta da existência, cabendo ao leitor escolher um sentido realista para
eventos aparentemente sobrenaturais.
Todos os contos de Murilo Rubião trazem esta perspectiva que invalida a lógica e a
racionalidade. Mas o absurdo das situações é apenas um artifício do escritor para
questionar a realidade. Alguns de seus mais conhecidos contos apresentam – sob a
forma de fantasias surrealistas – uma visão desencantada do homem
Todos os contos de Murilo Rubião trazem
esta perspectiva que invalida a lógica e a
 Obras e crítica
racionalidade. Mas o absurdo das
situações é apenas um artifício do escritor
-O ex-mágico (1947) para questionar a realidade. Alguns de
-A estrela vermelha (1953) seus mais conhecidos contos apresentam
– sob a forma de fantasias surrealistas
-Os dragões e outros contos (1965)
-O pirotécnico Zacarias (1974) Romance
-O convidado (1974)
-A casa do girassol vermelho (1978)
-O homem do boné cinzento e outras histórias (1990)
-Contos reunidos (2005)
Lygia Fagundes Telles

Lygia Fagundes Telles, nascida Lygia de Azevedo


Fagundes (São Paulo, 19 de abril de 1923) é uma
escritora brasileira, galardoada com o Prémio Camões
em 2005. É membro da Academia Paulista de Letras
desde 1982, da Academia Brasileira de Letras desde
1985 e da Academia das Ciências de Lisboa desde 1987.
Lygia escreve investigando os recantos da alma humana , em sondagem
psicológica permanente. Seus personagens em particular os femininos , são
misteriosos e complexos, marcados pela reflexão e pela fragilidade, mais
também pela inquietação. Procura apresentar com a palavra escrita a
realidade envolta na sedução do imaginário e da fantasia.
Escritora de linhagem humanista, na infância livre de "pés descalços"
mergulham as raízes do seu fascínio/compaixão pelo lado oculto, submerso,
dramático ou trágico dos seres humanos, matéria-prima da escrita. Lygia
Fagundes Telles usa um estilo coloquial, conciso, luminoso, que se abre,
depois, a uma estrutura narrativa mais dialogante, interrompida por
monólogos interiores.
A ironia, a subtileza, a delicadeza são o nervo vital de uma discursividade
pontuada também pelo gosto da aventura, pelo desconhecido.
Invenção e Memória, 2000 (Prêmio Jabuti)
Livros de Contos Durante aquele estranho chá: perdidos e
achados, 2002
Porão e sobrado, 1938 Biruta, 2004
Praia viva, 1944 Conspiração de nuvens, 2007
O cacto vermelho, 1949 Passaporte para a China, 2011
Histórias do desencontro, 1958 O segredo e outras histórias de descoberta,
Histórias escolhidas, 1964 2012
O Jardim Selvagem, 1965
Antes do Baile Verde, 1970
Seminário dos Ratos, 1977 Romances:
Filhos pródigos, 1978 (reeditado como A
Estrutura da Bolha de Sabão, 1991) Ciranda de Pedra, 1954
A Disciplina do Amor, 1980 Verão no Aquário, 1964
Mistérios, 1981 As Meninas, 1973 (Prêmio Jabuti)
Venha ver o pôr-do-sol e outros contos, As Horas Nuas, 1989
1987
A noite escura e mais eu, 1995
Oito contos de amor, 1996

https://youtu.be/igISfKYbVHE
https://youtu.be/kcK7_PM1VWw
Fernando Sabino
Fernando Tavares Sabino (Belo Horizonte, 12 de outubro de
1923 — Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2004) foi um escritor
e jornalista brasileiro.
O encontro marcado, ROMANCE uma de suas obras mais
conhecidas, foi lançada em 1956, ganhando edições até no
exterior, além de ser adaptada para o teatro. Sabino decidiu, então
(1957), viver exclusivamente como escritor e jornalista. Iniciou uma
produção diária de crônicas para o Jornal do Brasil, escrevendo
mensalmente também para a revista Senhor.

Sabino manteve uma linguagem simples, direta e enxuta. O escritor mostrou-se capaz
de escrever com um repertório curto de palavras e em frases rápidas, sem construções
complexas. O jornalismo adaptou de certa forma a linguagem dele, ou seja,
comunicação coloquial, rápida e de imediato entendimento do leitor. Neste quesito
Sabino conseguiu uma linguagem depuradíssima, de fácil comunicação e um
engendramento dos episódios de forma sensacional.
Apesar de simples, o que se esconde por trás desse estilo é uma elaboração complexa
de ideias para fazer um texto fácil.
Fernando Sabino - A última crônica

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na
realidade estou adiando o momento de escrever.
A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta
busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida
diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser
vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante
de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples
espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo
meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último
poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde
vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de
mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e
palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na
cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar
as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que
compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém,
que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso,
aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob
a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a
aprovação do garçom(...)
Dalton Trevisan
Dalton Jérson Trevisan (Curitiba, 14 de junho de 1925) é um
escritor brasileiro, famoso por seus livros de contos,
especialmente O Vampiro de Curitiba (1965), e por sua natureza
reservada.
Trabalhador incansável, fidelíssimo ao conto, elabora até a
exaustão e a economia mais absoluta, formiguinha, chuvinha
renitente e criadeira, a ponto de chegar ao tamanho do haicai

Inspirado nos habitantes da cidade, criou personagens e situações de significado


universal, em que as tramas psicológicas e os costumes são recriados por meio de
uma linguagem concisa e popular, que valoriza os incidentes do cotidiano sofrido e
angustiante.
Obras publicadas entre contos e romances
Novelas nada Exemplares (1959) O Rei da Terra (1972)
Cemitério de Elefantes (1964) O Pássaro de Cinco Asas (1974)
Morte na Praça (1964) A Faca No Coração (1975)
O Vampiro de Curitiba (1965) Abismo de Rosas (1976)
Desastres do Amor (1968) A Trombeta do Anjo Vingador (1977)
Mistérios de Curitiba (1968) Crimes de Paixão (1978)
A Guerra Conjugal (1969) Primeiro Livro de Contos (1979)
Vinte Contos Menores (1979
Virgem Louca, Loucos Beijos (1979) 111 Ais (2000)
Lincha Tarado (1980) Pico na veia (2002)
Chorinho Brejeiro (1981) 99 Corruíras Nanicas (2002)
Essas Malditas Mulheres (1982) O Grande Deflorador (2002)
Meu Querido Assassino (1983) Capitu Sou Eu (2003)
Contos Eróticos (livro) (1984) Arara Bêbada (2004)
A Polaquinha (1985) Gente Em Conflito (com Antônio de Alcântara
Noites de Amor em Granada Machado) (2004)
Pão e Sangue (1988) Macho não ganha flor (2006)
Em Busca de Curitiba Perdida (1992) O Maníaco do Olho Verde (2008)
Dinorá - Novos Mistérios (1994) Uma Vela Para Dario (talvez 2008)
Ah, É? (1994) Violetas e Pavões (2009)
234 (1997) Desgracida (2010)
Vozes do Retrato - Quinze Histórias de Mentiras O Anão e a Ninfeta (2011)
e Verdades (1998) O beijo na nuca (2014)
Quem tem medo de vampiro? (1998)
Ariano Suassuna

Ariano Vilar Suassuna (João Pessoa, 16 de junho de 1927


— Recife, 23 de julho de 2014) foi um dramaturgo,
romancista, ensaísta e poeta brasileiro. É defensor da
cultura do Nordeste e autor do Auto da Compadecida e A
Pedra do Reino.
Como os românticos, Ariano pratica uma literatura de alma nacionalista, com
ênfase nos mitos, na tradição local e no legado espiritual. Ela se alinha, ainda,
ao regionalismo dos anos 30, e a figuras emblemáticas como José Lins do Rego
e Graciliano Ramos. Mas, ao optar por uma estética popular, Ariano relega a
segundo plano a tradição literária e dá primazia aos folhetos de cordel, aos
cantadores e aos ritos religiosos.

Ariano foi o idealizador do Movimento Armorial, que tem como objetivo criar
uma arte erudita a partir de elementos da cultura popular do Nordeste
Brasileiro. Tal movimento procura orientar para esse fim todas as formas de
expressões artísticas: música, dança, literatura, artes plásticas, teatro,
cinema, arquitetura, entre outras expressões.
Romance
Obras selecionadas
A História de amor de Fernando e Isaura,
Uma mulher vestida de Sol, (1947); (1956);
Cantam as harpas de Sião ou O desertor O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncip
de Princesa, (1948); e do Sangue do Vai-e-Volta
Os homens de barro, (1949); , (1971);
Auto de João da Cruz, (1950); História d'O Rei Degolado nas caatingas do
Torturas de um coração, (1951); sertão /Ao sol da Onça Caetana, (1976)
O arco desolado, (1952);
O castigo da soberba, (1953); Poesia
O Rico Avarento, (1954); O pasto incendiado, (1945-1970);
Auto da Compadecida, (1955); Ode, (1955);
O casamento suspeitoso, (1957); Sonetos com mote alheio, (1980);
O santo e a porca, (1957); Sonetos de Albano Cervonegro, (1985);
O homem da vaca e o poder da fortuna, Poemas (antologia), (1999).
(1958);
A pena e a lei, (1959);
Farsa da boa preguiça, (1960);
A Caseira e a Catarina, (1962);
As conchambranças de Quaderna, (1987);
Fernando e Isaura, (1956)"inédito até
1994".
Caio Fernando Abreu
Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago, 12 de
setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de
1996) foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.

Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu,
escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e,
principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo
moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".

OBRAS

Semana de Artes Modernas Os Dragões não conhecem o Paraíso, contos;


Inventário do Irremediável, contos; A Maldição do Vale Negro, peça teatral;
Limite Branco, romance; Onde Andará Dulce Veiga?, romance;
O Ovo Apunhalado, contos;
Pedras de Calcutá, contos;
Morangos Mofados, contos;
Triângulo das Águas, novelas;
As Frangas, novela infanto-juvenil;
Na minha frente, ficamos nos olhando. Eu também dançava agora,
acompanhando o movimento dele. Assim:
quadris, coxas, pés, onda que desce olhar para baixo, voltando pela cintura até os
ombros, onda que sobe, então sacudir os cabelos molhados, levantar a cabeça e
encarar sorrindo. Ele encostou o peito suado no meu. Tínhamos pelos, os dois. Os
pelos molhados se misturavam. Ele estendeu a mão aberta, passou no meu rosto,
falou qualquer coisa. O que, perguntei. Você é gostoso, ele disse. E não parecia
bicha nem nada: apenas um corpo que por acaso era de homem gostando de
outro corpo, o meu, que por acaso era de homem também. Eu estendi a mão
aberta, passei no rosto dele, falei qualquer coisa. O que, perguntou. Você
é gostoso, eu disse. Eu era apenas um corpo que por acaso era de homem
gostando de outro corpo, o dele, que por acaso era de homem também.

(Adaptado de: ABREU, C. F. Terça-feira gorda. In: . Morangos mofados. São


Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 51.)

A arte permite a reflexão a respeito das contradições dos valores sociais e das
transformações de padrões morais.
Artifícios narrativos modernos, tais como a desindividuação nominal e diálogos
dinâmicos

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