Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ao meu Deus e à minha Virgem Maria, nesse período de Mestrado foi o momento
também de fortalecimento da minha fé, sem Deus na minha vida eu não sou nada.
Tudo com Jesus nada sem Maria.
Agradeço à minha primeira professora, minha mãe Iolanda, que permitiu com
todo o esforço do mundo que eu tivesse a melhor educação, não possuía as
melhores roupas, calçados, casa luxuosa, porém os livros nunca faltaram na nossa
humilde casa. E, em meio à vontade de voltar para casa, ela me disse que eu era
forte e não era para desistir, pois nunca imaginei que a vida longe da família fosse
tão ruim. Como uma pessoa cheia de sabedoria, ela sabe que os dias de lutas
existem para podermos chegar aos dias de glória. Foram dias de grandes lutas no
Rio Grande do Sul. Minha mãe, meu PORTO SEGURO.
Eu tive a honra de ter uma segunda mãe, minha vó Cecília, ela cuidou tão
bem de mim, como um vaso frágil, ela não era analfabeta, porém seu maior sonho
era que os filhos dela e os netos estudassem. Mesmo já idosa cuidou de mim e de
minhas três irmãs para que a minha mãe pudesse trabalhar e cursar o ensino
superior. Ela me disse, antes de partir dessa terra, que eu nunca desistisse de lutar
por meus sonhos e que não deixasse que ninguém impedisse isso. A ela minha
eterna gratidão: minha mãezinha, minha guerreira.
Ao meu esposo Caio que, desde 2007, vem sendo meu maior incentivador de
vida, me ensinou a não desistir das lutas diárias, fez-me acreditar em minha
capacidade de ir além (sendo o financiador dessa pesquisa, pois sem ele não teria
sido possível chegar até aqui). Com ele, aprendo todos os dias a ser a minha melhor
versão nesse mundo de pessoas tão cruéis. Ele acreditou em mim quando nem eu
mesma acreditava, quando eu já tinha desacreditado de mim.
À minha tia Lélia que morreu repentinamente em agosto de 2018, quando eu
iniciei o Mestrado, (só eu sei o quanto eu queria desistir de tudo e ficar com minha
família vivendo a dor do luto), também foi exemplo para mim, de luta, e mostrou que
por meio dos estudos um pobre consegue mudar de vida.
À minha professora orientadora doutora Eliane Galvão, que foi meu grande
alicerce até aqui, nela eu vi que é possível sim ser doutor nesse país e ser humano,
sensível, amoroso, paciente, não precisando humilhar ninguém para alimentar seu
EGO. Sendo ela mãe, esposa, pesquisadora, professora e acima de tudo uma
pessoa de fé e, ainda foi minha psicóloga quando eu queria desistir de tudo e voltar
para Santarém, foi paciente comigo até o fim dessa pesquisa. Só quem já passou
por um mestrado sabe a importância de se ter um orientador com todas essas
características, eu não a escolhi, o destino a colocou no meu caminho para me
mostrar que eu fui para outro lado do Brasil para conhecê-la e me inspirar no ser
humano maravilhoso que você é. Ps: O mundo precisa de mais pessoas como você.
Aos meus avós Cecília, Antônio, Eliziário e Tereza que não tiveram a
oportunidade de ter o estudo formal, mas foram pessoas de uma sabedoria imensa
que em escola nenhuma se aprende.
À minha Família Pontes Pimentel Vieira e Rodrigues meus agradecimentos de
forma geral, pois não conseguirei citar um por um. Só para destacar que quando eu
cito minha família não falo apenas de mãe, pai e irmãos, falo de uma árvore
genealógica, desde meus avós até agora, que já sou tia-avó. Nas duas eu aprendi a
importância de se ter uma família. Aprendi que um dia você estende o braço para
ajudar e no outro dia você é quem precisa de ajuda e sabe que tem com quem
contar.
À minha irmã Helaíne por sua dedicação e competência na revisão textual,
ela que foi a minha primeira companheira de estudos, quando éramos crianças ela já
me ajudava nas tarefas escolares, sempre com muita dedicação e inteligência.
E por último, porém não menos importante, a todos que me acolheram em
Santa Maria/RS, à turma do mestrado do segundo semestre de 2018, a todos os
professores e à coordenação do mestrado na pessoa da Professora Elsbeth. Fui
muito bem recebida por todos com muito afeto, carinho e respeito. Em meio ao
mundo tão desumano, individualista e cruel, eu encontrei pessoas que me
acolheram como se eu fosse da família. Aos meus amigos gaúchos minha eterna
gratidão, um dia nos encontraremos para comemorarmos essa vitória.
A educação é o grande motor do desenvolvimento
pessoal. É através dela que a filha de um
camponês se torna médica, que o filho de um
mineiro pode chegar a chefe de mina, que um
filho de trabalhadores rurais pode chegar a
presidente de uma grande nação.
(Nelson Mandela, África do sul/Estadista, Nobel
da Paz).
RESUMO
Esse estudo teve por objetivo geral analisar como acontece a formação continuada
dos docentes da Educação Infantil nas escolas do campo, na Região de Várzea da
Amazônia no Estado do Pará, na cidade de Santarém. Como objetivos específicos,
procurou-se identificar o perfil dos professores de Educação Infantil, analisando as
políticas de formação continuada, destinadas aos professores de Educação Infantil
do campo, implementadas no município pesquisado e investigar a repercussão da
formação continuada de professores da Educação Infantil nas suas práticas
docentes. Optou-se pela abordagem qualitativa do tipo estudo de caso, com análise
do conteúdo de Bardin (2007), com o uso do questionário. Os resultados mostram a
necessidade de uma política de formação continuada voltada para a Educação
Infantil do Campo. Nesse sentido, ressente-se de maior valorização desses
profissionais, uma vez que os educadores buscam a formação por meios próprios.
Portanto, ressalta-se assim, a necessidade do empreendimento de políticas de
formação para a Educação Infantil do Campo de modo a potencializar a valorização
dos docentes e o compromisso constante uma educação de qualidade e
transformadora para os povos do campo.
This study aimed to analyze how the continuing education of early childhood
teachers in rural schools, in the lowland region of the Amazon in the state of Pará, in
the city of Santarém, takes place. As specific objectives, we sought to identify the
profile of Early Childhood Education teachers, analyze the continuing education
policies for Early Childhood Education teachers implemented in the researched
municipality and investigate the impact of Continuing Education for Early Childhood
Education Teachers on their teaching practices. We opted for the qualitative
approach of the case study type, with analysis of the content of Bardin (2007), using
the questionnaire. The results show the need for a policy of continuing education
focused on early childhood education in the countryside. In this sense, there is a
greater appreciation of these professionals since educators seek their training
through their own means. Therefore, it is emphasized, therefore, the need to
undertake training policies for early childhood education in the countryside in order to
enhance the valorization of teachers and the constant commitment to quality and
transformative education with the peoples of the countryside.
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................12
1.1. TRAJETÓRIA ACADÊMICA.................................................................................13
1.2. PROBLEMA, JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DA PESQUISA...........................14
1.3. PERCURSO METODOLÓGICO..........................................................................17
1.3.1. Delineamento Da Pesquisa............................................................................17
1.3.2. Participantes da Pesquisa..............................................................................18
1.3.3. Procedimentos da Pesquisa..........................................................................20
1.3.4. Procedimentos para análise dos dados.......................................................21
1.3.5. Procedimentos Éticos.....................................................................................21
2. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................22
2.1. A EDUCAÇÃO INFANTIL NA MODALIDADE DA EDUCAÇÃO DO CAMPO.....22
2.2. A FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DE EDUCAÇÃO
INFANTIL DO CAMPO................................................................................................32
2.3. A NECESSIDADE DE PROFESSORES REFLEXIVOS......................................42
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................47
3.1. ESCOLAS DO CAMPO NA REGIÃO DE VÁRZEA DA AMAZÔNIA PARAENSE
E AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
.....................................................................................................................................47
3.1.1. A educação infantil na região da várzea do estado do pará: o perfil dos
professores e o investimento na formação continuada.......................................53
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................66
REFERÊNCIAS...........................................................................................................69
APÊNDICE A – Modelo de Questionário de Pesquisa...........................................74
ANEXO A – Parecer do comitê de Ética..................................................................76
ANEXO B – Escola da Várzea...................................................................................81
12
1. INTRODUÇÃO
Segmento
Instituições participantes Números de
Número de professores por
da pesquisa gestores por
escola de Educação Infantil
escola
Escola A 2 1
Escola B 1 1
Escola C 0 1
Tempo de
Nomes Faixa
Escolas Formação atuação Atuação
fictícios etária
docente
Iracema 40-50 Magistério 16 anos Professora
Educação
Educação do Infantil e
Maria Flor 40-50 10 anos
A Campo ensino
fundamental
Vitória
50-60 Pedagogia 5anos Gestora
Régia
Para dar início à pesquisa foi realizado o levantamento bibliográfico, sendo que a
pesquisa documental, relativa aos Planos Pedagógicos e Regimentos das escolas
também, não foi possível ser feita, em função da necessidade do distanciamento
social. Como instrumento para coleta de dados foi utilizado o questionário que, para
Richardson (2017), é um instrumento de coleta de dados que inclui diversas
questões escritas apresentadas a entrevistados com o propósito de obter
21
Para a análise dos dados obtidos por meio dos questionários, foi utilizada a análise
de conteúdo, que, segundo Bardin (2015) consiste em um conjunto de técnicas e é
dividida em três etapas básicas: a primeira é a pré-análise, que se caracteriza pela
fase de organização. São os primeiros contatos com os documentos, a fim de
organizar e sistematizar as ideias iniciais, a segunda etapa é a exploração do
material, que se distingue por conduzir de modo ordenado as decisões tomadas na
pré-análise. E a terceira, o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação,
esta fase é destinada ao tratamento dos resultados, momento onde ocorre a
condensação e a distinção das informações para análise, culminando nas
interpretações inferenciais.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
como expressão de um conteúdo social que está à disposição dos sujeitos que é
construído historicamente (dependente de suas determinações)” (FURTADO 2007,
p. 87), precisa ser observada e trabalhada, como, por exemplo, a brincadeira que é
uma forma de manifestação da singularidade, principalmente da criança. É
necessário considerar as pluralidades da infância e deixar que as crianças sejam
protagonistas de suas experiências, em especial a criança do campo que tem
brincadeiras e modos próprios do viver no campo.
A brincadeira sempre fez parte da vida de uma criança, pois é nela, que as
crianças se libertam dos medos e das frustrações, pode-se dizer que faz parte da
cultura infantil e em alguns momentos, ela estabelece uma ação social, quando é
utilizada para ensinar. Por meio do brincar, as crianças tornam-se sujeitos no
mundo, aprendendo a como lidar com algumas situações e principalmente a como
se comunicar e participar dessa realidade, interagindo socialmente e conferindo
significados às ações. Desse modo Rego (1995, p. 60-61).
[...] na realidade, como qualquer cultura, ela não existe pairando acima de
nossas cabeças, mas é produzida pelos indivíduos que dela participam.
Existe na medida em que é ativada por operações concretas que são as
próprias atividades lúdicas. Pode-se dizer que é produzida por um duplo
movimento interno e externo. A criança adquire, constrói sua cultura lúdica
brincando. É o conjunto de sua experiência lúdica acumulada, começando
pelas primeiras brincadeiras de bebê, evocadas anteriormente, que constitui
sua cultura lúdica (BROUGÈRE, 2004, p. 4).
2012, p. 45).
Assim sendo, toda criança tem o direito ao acesso à educação garantindo por
lei, não apenas a criança que mora na cidade, mas também a do campo. O grande
debate agora é “que tipo de Educação Infantil queremos para o campo?”, “quais as
especificidades das crianças do campo?”. Para tanto, é preciso entender o contexto
em que ela está inserida. Para essas crianças, não se pode oferecer uma educação
sem contexto, deve-se ampliar o debate para assim garantirmos a implementação
da Educação Infantil no Campo em todo o País. Toda criança tem o direito garantido
em lei a ter vaga na escola mais próxima à sua casa e isso inclui escola pública,
laica, gratuita e de qualidade.
As diretrizes curriculares para Educação Infantil, Resolução CEB/CNE Nº05,
26
educar/cuidar
Um currículo para as crianças pequenas do campo deve estar inserido na
cultura local, das famílias, da comunidade das práticas sociais e culturais que leve
em consideração o meio em que vive o ambiente natural, a ludicidade, a alegria, a
beleza, o raciocínio, o cuidado consigo e com o mundo. Deve-se privilegiar as
brincadeiras próprias das crianças do campo, a escuta sensível com um projeto
pedagógico que contemple essa realidade escolar diferenciada da criança urbana
Conforme citado, Imbernón (2010) afirma que ser docente no contexto atual
não é fácil, e em alguns momentos chega a ser perigoso. Educar é difícil, pois
envolve seres humanos, cada um com sua especificidade e complexidade as quais
devem ser levadas em consideração pelo educador. Por isso, trabalhar a formação
continuada não é simples, pois deve proporcionar subsídios para que o docente
tenha as condições necessárias de enfrentar essas complexidades da vida
profissional.
Na formação continuada diversos fatores têm influência, tais como: a
formação inicial adquirida, a cultura, a gestão escolar, a comunidade escolar e a
35
complexidade das instituições de ensino. O ato de educar sempre foi complexo, por
ser uma ação social que envolve indivíduos com características próprias, pois dentro
de uma sala de aula, faz-se necessária a tomada de atitudes rápidas para responder
às demandas diárias.
Saber reconhecer a complexidade na prática docente significa compreender
que promover uma formação que possibilite reflexões acerca da problemática, pode
fazer com que os docentes melhorem em suas práticas pedagógicas com reflexões
aprofundadas de como melhorar a atuação docente.
As crianças são cidadãs, ou seja, são indivíduos sociais que têm direitos a
que o Estado deve atender, dentre eles o direito à educação, saúde,
seguridade. Esses serviços devem ser de qualidade, se o projeto político é
de fato - democrático. Esse pressuposto afirma, pois, o direito à igualdade e
ao real exercício da cidadania... Só é possível concretizar um trabalho com
a infância, voltado para a construção da cidadania e a emancipação... se os
adultos envolvidos forem dessa forma considerados. Isso implica no
entendimento de que os mecanismos de formação sejam percebidos como
prática social inevitavelmente coerente com a prática que se pretende
implantar na sala de aula e implica em salarias, planos de carreira e
condições de trabalho dignas (SOUZA; KRAMER. 1993, pp. 54-55).
A formação implica em ter como base a formação reflexiva dos sujeitos sobre
sua prática docente, permitindo analisar sobre atitudes, conceitos e funcionamento
de suas práticas, assim se propondo a realizar constante autoavaliação. Nesse viés,
a formação parte do princípio de que o educador é construtor de conhecimento
pedagógico individual e coletivo. Na experiência isolada podem até surgir trabalhos
inovadores, mas não levará uma inovação coletiva da instituição e da prática coletiva
dos profissionais. Segundo Imbernón (2005) “uma formação deve propor um
processo que confira ao docente, conhecimentos, habilidade e atitudes para criar
profissionais reflexivos ou investigadores” (p. 55).
Historicamente, os processos formativos eram realizados para resolver
problemas genéricos, padronizados, fora de contexto, eram oferecidos para
diferentes contextos a mesma solução sem levar em conta a situação geográfica, o
contexto da realidade. A formação não deve ser um treinamento, e diante dessa
realidade Imbernón diz que:
ainda assegura como requisito mínimo de formação para Educação Infantil e Anos
Iniciais do Ensino Fundamental a formação em Ensino Médio na modalidade normal.
A Lei referenda o seguinte: em seu Art. 62 – a formação de docentes para atuar na
educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena,
admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação
Infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível
médio, na modalidade normal.
Para a formação continuada o documento do Plano Nacional de educação
traz o seguinte: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos
professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir
a todos (as) os (as) profissionais da educação básica tenham formação continuada
em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e
contextualizações dos sistemas de ensino. Essa demanda vem afirmando a
necessidade e importância da formação continuada para todos os educadores. O
plano nacional vem tentando valorizar o profissional da educação bem como a
melhoria da Educação de modo geral. Essa tentativa de melhorar a educação por
meio de formação continuada vai depender também da cooperação dos entes
federativos.
Essa valorização dos profissionais da educação faz-se necessária por parte
dos entes federativos, por entender-se que a formação de professores é o passo
primordial para a elevação e melhoria da qualidade da Educação com um todo.
A BNCC – Base Nacional Comum Curricular – traz novos pontos para
atuação profissional do docente, “O principal objetivo é orientar uma linguagem
comum sobre o que se espera da formação de professores, a fim de revisar as
diretrizes dos cursos de pedagogia e das licenciaturas para que tenham foco na
prática da sala de aula e estejam alinhadas à Base Nacional Curricular Comum”
(BNCC). O texto destaca que formação inicial e continuada deve seguir três
dimensões: conhecimento teórico, prática e engajamento.
A dimensão conhecimento tem relação com domínio dos conteúdos. A
prática tem relação com saber desenvolver ambientes de aprendizagem. A terceira
dimensão, o engajamento, tem relação como o compromisso do professor com a
aprendizagem, com a interação e comunicação com os colegas de trabalhos, a
41
EDUCAÇÃO BÁSICA
Região Professores por Localização
Geográfica
Total Somente Somente Urbana e
Urbana Rural Rural
N % N % N % N %
Brasil 103.341 100% 75.777 73,3% 25.726 24,9% 1.838 1,8%
Norte 12.158 100% 7.417 61,0% 4.441 36,5% 300 2,5%
Nordeste 36.677 100% 21.581 58,8% 14.550 39,7% 546 1,5%
Sudeste 33.706 100% 30.162 89,5% 3.115 9,2% 429 1,3%
Sul 12.561 100% 10.320 82,2% 1.775 14,1% 466 3,7%
Centro-Oeste 8.239 100% 6.297 76,4% 1.845 22,4% 97 1,2%
A formação terá como base uma reflexão dos sujeitos sobre sua prática
docente, de modo a permitir que examinem suas teorias implícitas, seus
esquemas de funcionamento, suas atitudes etc., realizando um processo
constante de autoavaliação que oriente seu trabalho. A orientação para
esse processo de reflexão exige uma proposta crítica da intervenção
educativa, uma análise da prática do ponto de vista dos pressupostos
ideológicos e comportamentais subjacentes. (pp. 48-49).
Assim, o docente como profissional reflexivo que é, não deve atuar como um
mero transmissor de conteúdo, mas, com interação com os alunos, professores, e
toda a comunidade escolar, sendo capaz de pensar sobre sua prática. Dessa forma,
fica evidente a necessidade de adequar as teorias utilizadas em sala de aula à
realidade e à necessidade dos educandos, é preciso que o professor conheça a
realidade e o contexto do seu aluno para assim pensar de forma reflexiva sobre sua
atuação, e não se basear em teorias que nada têm relação com os aprendizes.
Conforme Alarcão (2005), o professor reflexivo é um profissional que
necessita saber quem é, e as razões pelas quais atua, conscientizando-se do lugar
que ocupa na sociedade. A autora acrescenta ainda que “os professores têm de ser
agentes ativos do seu próprio desenvolvimento e do funcionamento das escolas
como organização ao serviço do grande projeto social que é a formação dos
educandos” (ALARCÃO, 2005, p. 177).
A reflexão na ação leva em si um saber que está presente nas ações
profissionais. O que tem relação com as observações e as reflexões do profissional
sobre a forma como ele percorre em sua prática; a descrição consciente dessas
ações pode ocasionar mudanças, buscando caminhos para soluções de problemas
de aprendizagem. O pensamento crítico sobre sua atuação, assim exercitado, pode
levar o profissional a elaborar novas estratégias de atuação, ajustando-se, assim, às
situações novas e complexas que vão surgindo dentro de sua atuação profissional.
44
reflexão que não se torna ação política, transformadora da própria prática, não tem
sentido no horizonte educativo. Portanto, é inegável que o pensamento reflexivo
contribui, decisivamente, para a promoção do progresso da atuação docente.
De acordo com Freire (1996), a reflexão é o movimento realizado entre o
fazer e o pensar, entre o pensar e o fazer, ou seja, no “pensar para o fazer” e no
“pensar sobre o fazer”. Diante disso, a reflexão provém da curiosidade sobre a
prática docente, que, transformada em exercício constante, transforma-se em crítica.
Contudo, essa reflexão crítica permanente deve constituir-se como orientação
própria para a formação continuada dos professores que buscam a transformação
por meio de sua prática educativa.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Estado do Pará está localizado na região Norte do Brasil e tem como capital
Belém. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018)
possui uma população estimada de 1.485.732 habitantes é o 12º município mais
populoso do Brasil, seu território conta com uma área 1.247.954,320 km², sendo que
possui uma média 6,07 km² por habitante. Atualmente, o estado possui 144
municípios. Apresenta o segundo maior território do país sendo menor apenas que o
Amazonas.
Segundo dados da Fundação Nacional dos Índios (FUNAI) o território do Pará
possui 31 etnias indígenas espalhadas por 298 povoações, totalizando mais 27 mil
índios. Possui comunidades negras remanescentes de antigos quilombos. A
população Paraense é miscigenada, formada por indígenas, negros, europeus,
ribeirinhos e asiáticos.
A economia paraense tem como sua principal atividade econômica o
extrativismo mineral (ferro, bauxita, manganês, calcário, ouro e estanho). O alumínio
e o minério de ferro são os principais produtos de exportação. Outras atividades são
48
2
Sairé: regionalismo Santarém-PA. Festa popular que ocorre anualmente no município santareno na
vila de Alter-do-Chão, salientada por dança herdada dos tapuias, impregnada de sincretismo religioso
em que se destaca espécie de andor composto por três semicírculos de madeira coroados por uma
cruz e carregado por mulheres do local, ao som de música, hoje uma das principais tradições
folclóricas do Pará.
3
Bajará: pequena embarcação que possui um motor tipo rabeta.
50
Sabe-se que boa parte das escolas situadas na cidade, são construídas de
forma que os alunos tenham um acesso mais rápido, a infraestrutura delas é bem
mais confortável e que os recursos tecnológicos estão mais presentes em grande
parte destas escolas. A pesquisa indicou que as escolas do campo, em particular,
Santarém, o acesso é difícil, escolas são muito longe da cidade, são carentes em
recursos para se utilizar nas aulas, sem contar que a maioria das escolas não tem
infraestrutura adequada para a demanda de alunos. Essa realidade a pesquisadora
pode presenciar em visita em lócus.
Muitos alunos até deixam de frequentar a escola por falta de transporte
escolar, já que em muitos locais há apenas uma escola para várias comunidades.
Além de tudo isso, a prática pedagógica também deve ser analisada, para que haja
mudanças no que tange o ensino para que as pessoas que moram e estudam no
campo tenham acesso a uma educação de qualidade. Estas dificuldades são
encontradas nas escolas da Várzea, ponto-chave desta pesquisa.
Várzea é a região que fica à margem de rio, a área corresponde a terras
inundáveis pelas águas do rio Amazonas, porém, por um longo período do ano é
alagada e as casas ficam submersas, com isso é diferenciado o calendário escolar
letivo dessa região conforme o período da cheia e da seca como é conhecida. Esse
fenômeno natural da subida das águas começa em média no período de janeiro e
vai até julho.
Geralmente as casas são construídas em palafitas (sistemas construtivos
usados em edificações localizadas em regiões alagadiças cuja função é evitar que
as casas sejam arrastadas pela correnteza dos rios), como mostra a Figura 2. Para
esses moradores os únicos meios de locomoção são, geralmente, as canoas ou
pequenos barcos. Sua principal atividade econômica é a pesca e, no período da
seca, também vivem do plantio, criação de pequenos animais (porcos, galinhas,
patos) sendo que algumas famílias também criam gado. O trabalho envolve todos os
membros da família desde muito cedo, o que significa dizer que as crianças também
fazem parte do processo produtivo.
A mandioca é o produto básico das comunidades da várzea, utilizada em
forma de farinha a cada refeição. E nenhuma refeição está completa sem ela, assim
que as roças ficam expostas, o plantio pode começar utilizando-se os pedaços
52
O poder público pouco faz investimento nas escolas do campo e isto pode ser
comprovado pela precariedade de muitas escolas, falta de estrutura, salas apertadas
ou com séries mescladas, falta de materiais para o trabalho escolar, falta de
transporte adequado e outras. Esta falta de recursos faz com que o ensino não seja
de qualidade.
58
Não é realizado concurso público para educação desde 2008, então muitos
professores são contratados, o que eu vejo como um negativo, além da falta
de valorização profissional (Jurema).
60
Assim, o que ficou evidenciado são que as políticas de formação são ações
estanques, que não se configuram em disposições, resoluções resultantes da
participação dos sujeitos que estão imersos na realidade da Educação Infantil do
campo. Nesse sentido, a professora Jurema assim referenda: já teve governo que
tiveram muitas formações agora isso é bem difícil acontecer.
Vale ressaltar que a maioria dos professores do campo precisam se mudar
para a comunidade devido a longa distância de suas residências para a escola.
Segundo documentos, não existe uma formação específica voltada para Educação
do Campo e nem da região de Várzea. E as formações são para gestores e
pedagogos que são os responsáveis por levar a formação para a escola. A
61
A tecnologia não pode se tornar uma dificuldade na vida das pessoas, mas
integrar o dia a dia da comunidade, e as barreiras que impedem o
conhecimento precisam ser vencidas, possibilitando a inclusão, o ensino
aprendizado tecnológico para os alunos do campo, fortalecendo a
autoestima e identidade, como sujeitos atuantes na sociedade. (LUZ, 2009).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
educacional local. O que ficou evidenciado por meio da pesquisa é que, exige-se
que o professor faça sua parte sem o auxílio e amparo necessários, impossibilitando
condições para que a escola como um todo se torne um ambiente com as condições
necessárias de estrutura física e com profissionais reflexivos e que analisem
criticamente a prática pedagógica, sinalizando para uma mudança efetiva da
realidade como um todo.
Há necessidade de políticas de formação sintonizadas com as vivências e
experiências da criança que está no contexto do campo. Acredita-se que dessa
maneira, o desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes se dará na direção de
construção de uma cultura de valorização do local para assim formar pessoas
voltadas para ajudar a resolver os problemas sociais do campo, entendendo também
os problemas globais e não apenas do lugar em que vive, desenvolvendo assim
responsabilidade social e respeito ao próximo.
Diante do exposto, acena-se que é imprescindível um projeto de formação
que contemple as reais necessidades dos alunos do campo, em especial na
Educação Infantil, frente à educação para a democracia e cidadania. Entende-se a
formação continuada como um processo complexo que não se restringe ao nível de
graduação, mas perdura durante toda a vida profissional.
Portanto, a partir da pesquisa, destaca-se que a fragilidade no investimento
em boas condições de trabalho para o professor e na formação continuada
repercute na educação de qualidade, pois de acordo com os questionários, são os
professores que buscam sua própria formação. Porém, isso é muito difícil, devido
aos baixos salários, pois eles não conseguem custear os gastos de sair do seu local
de trabalho até mesmo pagar as mensalidades dos cursos, comprar livros, materiais
pedagógicos, principalmente porque não têm uma estabilidade financeira, já que no
final do ano letivo todos são demitidos em função de que são professores
contratados.
Esperamos que este estudo instigue novas pesquisas relacionadas à
temática, pois existe uma fragilidade em investimento por parte dos gestores
públicos, e de acordo com a pesquisa, não existe formação específica para o Campo
no município de Santarém, vale ressaltar que existe um número muito expressivo de
escolas no campo o que corrobora o descaso do poder público com esses povos.
68
REFERÊNCIAS
<http://portal.mec.gov.br/programa-curriculo-em-movimento-sp-1312968422/
legislacao>. Acesso em 01 de jul de 2019.
FLICK, U. 2009. Introdução à pesquisa qualitativa. Trad. Joice Elias Costa. 3. ed.,
Porto Alegre: Artmed.
GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.