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NO ENSINO FUNDAMENTAL
Resumo
Este trabalho apresenta reflexões acerca da educação anti–racista no Ensino
Fundamental. Para tanto, utiliza–se como instrumento pedagógico a Literatura
Infantil que apresenta o tema direta ou indiretamente. O interesse pela temática
originou–se de uma experiência docente com a Literatura Infantil Afro–Brasileira de
professores do Ensino Fundamental, em curso de extensão. Chamou–nos a atenção
o desconhecimento da Literatura Infantil, voltada para o tema, e, ainda, a
dificuldade apresentada, por muitos professores, para elaboração de propostas de
formação leitora com textos literários de modo geral e, mais acentuadamente, para
aqueles que abordam a cultura negra. Este fato pareceu–nos importante,
considerando–se que, de acordo com a Lei 10.369/03 existe a obrigatoriedade do
ensino de História e Cultura Afro–Brasileira e Africana na Educação Básica. Assim,
procuramos conhecer as práticas docentes sobre a Literatura Infantil Afro–
brasileira, na qual se pode promover uma formação leitora crítica dos educandos,
em relação às questões étnico–raciais. Acreditamos que esta literatura, quando se
faz presente no espaço escolar, de forma bem planejada, poderá suplantar pré–
conceitos racistas já na infância, além de possibilitar uma maior identificação das
crianças afro–descendentes por meio dos seus personagens. Neste estudo,
buscamos saber se os professores do Ensino Fundamental utilizavam esta
Literatura Infantil em sala de aula e se as bibliotecas das escolas de Ensino
Fundamental, na cidade de Cascavel,PR, possuíam acervo suficiente para um
trabalho efetivo de leitura sobre este tema. Os resultados mostraram bibliotecas
carentes destas obras e professores que, via de regra, desconhecem esta literatura,
logo não lançam mão deste recurso para uma formação leitora anti–racista e com
isso deixam de contribuir para a construção de uma formação cidadã que prima por
uma sociedade não racista.
Palavras-chave:
Literatura Infantil, Formação de leitores, Dimensão étnico–racial.
INTRODUÇÃO
estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura
negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a
contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à
História do Brasil.
Para um trabalho com leitura da Literatura Infantil que verse sobre a negritude, no
Ensino Fundamental, partimos do pressuposto de que uma formação leitora
proficiente pode ampliar conhecimentos na direção da superação dos preconceitos,
tendo em vista que a escola é a principal responsável por esta formação e, por isso,
não pode estar alheia às questões sociais que envolvem o cotidiano dos alunos,
dentre elas a da discriminação racial.
Por outro lado, é importante ressaltar que algumas produções destinadas ao público
infantil procuram denunciar as injustiças sociais e resgatar os valores humanos, ao
contrário daquelas que, conscientemente ou não, reforçam os preconceitos étnico-
raciais, bem como os estereótipos. Nesse sentido, possibilitar o acesso do alunado
às obras de literatura que possam colaborar para a formação leitora crítica e
antirracista torna-se imprescindível.
Pode-se afirmar que a literatura, pelo seu caráter simbólico, pode contribuir para
reflexões que rompam com uma visão construída sob o fundamento da
desigualdade étnico-racial e que se construa uma visão sob uma base de
valorização da diversidade. A Literatura Infantil atual, diferente da Literatura
Infantil em seu nascedouro, de cunho estritamente pedagógico, consegue despertar
nas crianças os valores estéticos e humanos, a par da recreação, e ainda oferecer
entrosamento entre recreação e aprendizagem.
Embora a Lei nº 10.369/03 seja recente, a luta dos movimentos sociais negros
contra a discriminação racial e pelo reconhecimento da importância dos negros na
História do Brasil já possui pelo menos meio século, conforme pesquisadores (cf.
FERNANDES, 1978).
Nesse sentido, faltam mais cursos de formação continuada que possam capacitar o
professor para o trabalho com o tema, na prática. Uma vez ofertados cursos
voltados para o tema, acredita-se que os professores se sentirão preparados para a
formação de leitores proficientes sobre as questões raciais, isto é, quando
adquirirem conhecimentos amplos sobre a etnia negra, que vem marcada há
décadas pela discriminação explícita ou velada.
Sabe-se que muitos dos preconceitos presentes em nosso contexto social têm suas
raízes no meio familiar e são silenciados pela escola. A questão dos preconceitos
em relação à raça negra no Brasil é uma delas. Cavalleiro (2005) comenta, com
dados de pesquisa, sobre as consequências do racismo na sociedade brasileira e em
ambiente educacional,
A educação, num sentido amplo, caracteriza-se como uma forma de agir dos
homens que pode alterar comportamentos, atitudes, hábitos e, consequentemente,
orientar o homem para um processo de transformação, seja dele próprio ou da
sociedade onde está inserido. É um movimento que inclui, essencialmente, o
abandono de determinadas ações, atividades, posicionamentos, opiniões e práticas.
Como parte desse contexto educacional, privilegia-se a educação escolar e, nela, a
formação em leitura. Entende-se que o processo de ensino-aprendizagem de leitura
(e também de escrita) não pode ser dissociado das questões econômicas, políticas,
sociais e culturais que permeiam o cotidiano das pessoas, como uma forma de cada
indivíduo organizar o seu próprio mundo e, muitas vezes, também o daqueles que o
rodeiam.
Nesse contexto, ser um leitor crítico na sociedade atual é condição indispensável
para que se possa sair de uma situação de passividade e conformidade, para uma
outra de questionamentos e ações que possam transformar a atual conjuntura
sócio-político-cultural, rumo a uma maior conscientização e, consequentemente,
melhor formação. Na formação leitora em torno desses livros, deve-se reconhecer e
apontar abordagens, textos e imagens que possam de algum modo prejudicar a
construção positiva da identidade da população negra e também identificar
materiais e livros adequados, promover boas práticas de leitura, capazes de
questionar e desconstruir mecanismos e práticas racistas e discriminatórias. Trata-
se de criar e promover espaços voltados à equidade social e étnico-racial (SOUZA
et all., 2005, p. 1).
Assim, e de acordo com Silva (1998, p. 26), "pela leitura crítica o sujeito abala o
mundo das certezas (principalmente as da classe dominante), elabora e dinamiza
conflitos, organiza sínteses, enfim combate assiduamente qualquer tipo de
conformismo, qualquer tipo de escravização às ideias referidas pelos textos".
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS