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JUMPER
POR
SÃO PAULO
2018
MARIZA DE NAZARÉ DOS SANTOS TAVARES DE SOUZA
SÃO PAULO
2018
S729v Souza, Mariza de Nazaré dos Santos Tavares de.
A vida eterna com Deus : uma recompensa para os justos em
Cristo / Mariza de Nazaré dos Santos Tavares de Souza.
96 f. ; 30 cm
LC BR1644.5.B6
DATA: ____/___________________/______
APROVAÇÃO: ________________________
____________________________________
Prof. Dr. LEANDRO ANTONIO DE LIMA
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu amado esposo Eloi Tavares de Souza, que
tem compartilhado comigo há 40 anos de todos os momentos de nossa vida. Estando
sempre ao meu lado me apoiando, incentivando, demonstrando compreensão, nas
muitas horas que passei estudando deixando-o sem minha companhia. Louvo ao
nosso bom e misericordioso Deus por sua vida, por ele ser um dedicado servo de
Deus, a quem tenho muito orgulho de ser sua esposa.
AGRADECIMENTOS
7
SUMÁRIO
Introdução ................................................................................................................. 09
1 A vida eterna com Deus no tempo presente .......................................................... 20
1.1 A prioridade da Graça ....................................................................................... 20
1.2 A criação do ser humano e o Pacto de Deus com Adão ................................. 21
1.3 O relacionamento entre o Criador e a criatura ................................................ 25
1.4 A Queda do homem e suas consequências .................................................... 26
1.5 O anseio do homem pela eternidade .............................................................. 28
1.6 A salvação pela Graça através de Cristo ........................................................ 31
1.7 Desfrutando a vida eterna no presente ............................................................. 36
2 Análise dos principais ensinamentos dos proponentes da doutrina da prosperidade
................................................................................................................................... 39
2.1 Os ensinamentos .............................................................................................. 41
2.2 Realização de milagres .................................................................................... 47
2.3 A Teologia da Prosperidade à luz da Bíblia ...................................................... 49
3 A vida no porvir dentro da perspectiva teológica .................................................... 68
3.1 A Segunda Vinda de Cristo ............................................................................... 69
3.2 A Ressurreição Final ........................................................................................ 70
3.3 O Juízo Final ..................................................................................................... 73
3.4 Os destinos dos salvos e dos perdidos ............................................................. 75
3.4.1 Destinos dos salvos ................................................................................. 77
3.4.2 Destinos dos pedidos .............................................................................. 78
3.5 Restauração dos Céus e da Terra .................................................................... 80
3.6 A vida eterna no porvir como recompensa dos justos ...................................... 82
4 Aplicações para Igreja ........................................................................................... 85
4.1 O amor aos irmãos .......................................................................................... 85
4.2 Não devemos colocar nossa esperança na instabilidade da riqueza ............. 86
4.3 Devemos priorizar o alimento espiritual .......................................................... 87
4.4 O crente deve obedecer ao mandamento de Deus ........................................ 88
Considerações finais ................................................................................................ 89
Referências bibliográficas ........................................................................................ 93
8
INTRODUÇÃO
Quando recomendamos Cristo como aquele que nos torna ricos, nós
1
A Confissão Positiva, segundo Paulo Romeiro, tem suas origens numa antiga heresia conhecida como
gnosticismo. Conforme declaração de Judith A. Mata, Kenneth Hagin é considerado, por muitos no
movimento, como o pai da Confissão Positiva. Porém, o verdadeiro pai da Confissão Positiva seria
Essek William Kenyon (ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 21-22).
glorificamos as riquezas, e Cristo se torna um meio para o fim que realmente
queremos – a saber, saúde, riqueza e prosperidade. Mas quando
recomendamos Cristo como aquele que satisfaz nossa alma para sempre –
mesmo quando não há saúde, riqueza e prosperidade – então Cristo é
exaltado como mais precioso que todos aqueles presentes.2
2
PIPER, John. Aos pregadores da prosperidade, p. 29-30. Disponível em:
<https://arautodecristo777.files.wordpress.com/2012/07/john-piper-aos-pregadores-da-
prosperidade.pdf>. Acesso em 05 de dez. 2018.
3
PIPER, Aos pregadores da prosperidade, p. 30-31.
10
Silva Ferreira, pastor da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro; e Estevam
e Sônia Hernandes, Igreja Apostólica Renascer em Cristo. A Igreja Universal do Reino
de Deus (IURD), fundada em 1977, atualmente, é a maior igreja neopentecostal do
Brasil. Ela transformou-se em um grande império de comunicação quando Edir
Macedo comprou a TV Record em 1989 por 45 milhões de dólares. Em 2000, a IURD
procurou legalizar a posse de suas 21 emissoras de televisão e 80 rádios que estavam
registradas em nome de pastores, bispos e deputados ligados a igreja. Nessas últimas
décadas, ela tem demonstrado grande interesse pela política. Já chegou a eleger
vários vereadores, prefeitos, deputados e até senadores.4
A maioria dos propagadores da Teologia da Prosperidade se propõe a
realizar suas “reuniões” e campanhas de curas milagrosas e prosperidade financeira
focada nas necessidades humanas. O slogan apresentado para chamar a atenção
do povo é: “você nasceu para vencer!” Essa é uma expressão da “confissão positiva”
que, em sentido literal, significa trazer à existência o que declaramos com nossa boca.
Ou seja, pela fé aquilo que determinamos, deve se tornar realidade.
A origem dessa prática, afirma Paulo Romeiro, encontra-se numa antiga
heresia denominada de gnosticismo.5 Ela surgiu por volta do século I e II da era cristã.
Os gnósticos criam que havia verdades especiais elevadas que somente os
“iluminados” poderiam ter acesso. Eles criam no princípio do dualismo, ou seja, que
havia duas entidades separadas: espírito e corpo. Sendo que a matéria era onde o
pecado habitava, logo apenas o espírito era bom. A salvação vinha através do
conhecimento (gnosis). Para alcançá-la, era necessário renegar o corpo através de
práticas ascéticas e místicas de meditação. Assim, o corpo poderia viver na impureza,
mas era mantido o espírito puro. Romeiro reproduz uma declaração de Judith A. Mata
sobre o movimento “Palavra da Fé”, como também é conhecida a Teologia da
Prosperidade ou confissão positiva:
4
ROMEIRO, Supercrentes, p. 33; ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a Graça. São Paulo: Mundo
Cristão, 2005, p. 50-55.
5
ROMEIRO, Supercrentes, p. 21-22.
11
apareceram nos últimos dois séculos.6
6
Judith A. Mata apud ROMEIRO, Supercrentes, p. 21-22, 25.
7
MATOS, Alderi Souza de. Raízes históricas da teologia da prosperidade. Disponível em:
<https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/313/raizes-historicas-da-teologia-da-prosperidade>.
Acesso em: 05 de dez. 2018.
12
que almeja, vai em busca de outros caminhos ou entra em depressão profunda devida
a frustração de ter feito o seu sacrifício e não o alcançar. Quando essas pessoas,
procuram os falsos pregadores pedindo justificativa, ouvem como resposta que o
motivo de não terem conseguido o seu alvo é porque não fizeram o “perfeito sacrifício”,
ou seja, não agiram com fé, nem deu o “seu tudo”.8
Além desses ensinamentos de “confissão positiva”, visando uma vida de
bênçãos e vitórias, são aplicados a batalha espiritual aos que congregam à igreja –
onde supostamente há confrontação direta, espiritualmente, com os demônios. Os
demônios, para eles, são os causadores de todos os males. É atribuído a Satanás um
poder muito maior do que aquele que a Bíblia parece conceder. Esses ensinamentos
são herdados do sincretismo e misticismo entre as religiões cristãs evangélicas e as
religiões africanas, como o candomblé e a umbanda. Sob essa influência, as pessoas
dizem-se vítimas de maldição hereditária, são possessas por demônios e precisando
fazer a “corrente de libertação”, chamada também por eles de “sessão de descarrego”,
para serem libertos dos demônios. São práticas baseadas em suas experiências
particulares, próprias do misticismo, que normalmente preferem priorizar as suas
experiências pessoais do que a interpretação da própria Bíblia. Fazem uso de objetos
ungidos como forma de proteção ou como um ponto de contato entre Deus e o ser
humano.
Para a maioria dos neopentecostais, a salvação não depende somente da
obra do Espírito Santo, mas também da cooperação humana. De certo modo, Deus
fica na dependência da vontade humana para realizar seus desígnios. Ou seja, se o
ser humano não quiser, Deus não pode fazer nada. Ele só poderá agir na vida do ser
humano com a sua permissão. Edir Macedo, ao declarar sobre a essência da fé, a
qual exige o sacrifício por parte do ser humano, dando como exemplo o próprio Deus
quando ofereceu Seu Filho em sacrifício, é taxativo:
8
ROMEIRO, Decepcionados com a Graça, p. 71-87.
13
preço do sacrifício que terei que pagar. Quanto maior é a conquista, maior
também será o sacrifício para consegui-la. O preço de uma conquista é
proporcional ao seu tamanho. Por isso grandes vitórias são conquistadas
somente por homens de Deus, corajosos, firmes e determinados. O Espírito
Santo nunca escolhe covardes para realizar coisas grandes para a glória de
seu Filho! Pelo contrário, da mesma forma como escolheu pessoas especiais
no passado, Ele o faz nos dias de hoje. Essas pessoas escolhidas a dedo
são sempre aquelas que estão dispostas a sacrificar tudo pela Sua causa.
“Quem somente observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens
nunca segará (Ec. 11.4)”. O preço da nossa salvação foi o sacrifício de nosso
Senhor Jesus. O que temos de pagar para manter a salvação é a nossa
própria renúncia dia após dia.9
9
MACEDO, Edir. O Perfeito Sacrifício. Rio de Janeiro: Universal, 2004, Cap. 05.
10
SOARES, R. R. Curso Fé. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1997, p. 04-07.
14
nada, destrói a própria oração.”11
A Teologia da Prosperidade valoriza a fé em Deus como meio primordial
de obter a felicidade no campo material. Ser feliz é ter riqueza, saúde física e alcançar
tudo aquilo que deseja. A pobreza e a doença não fazem parte da vida do cristão, pois
caracterizam falta de fé ou a presença do pecado, o que desqualifica o postulante à
salvação. Jesus é apresentado como um rei muito rico e dono do ouro e da prata. Os
cristãos, sendo filhos desse rei, devem reivindicar os seus direitos de filhos do rei. É
usado o versículo bíblico no Evangelho de João (10.10b) que diz: “...eu vim para que
tenham vida e a tenham em abundância.” O significado é que Jesus veio para que nós
tivéssemos uma vida de riqueza e próspera nessa terra, bem como é sustentado que,
ao morrer na cruz, Jesus tomou sobre si todas as nossas enfermidades e as nossas
dores, cumprindo a profecia do profeta Isaías (53.4), citado no Evangelho de Mateus
(8.17) e na primeira carta de Pedro (2.24). O significado é que Jesus veio para que
tivéssemos uma vida de riqueza, saúde e prosperidade na terra. Essa é a opinião de
R. R. Soares ao afirmar que: “O plano de Deus para o homem é fazê-lo feliz,
abençoado, saudável e próspero em tudo.”12
Outro versículo, também, bastante citado na Teologia da Prosperidade
encontra-se no Evangelho de João (14.12): “Em verdade, em verdade vos digo que
aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará,
porque eu vou para junto do Pai”. Com esse texto, os pregadores da prosperidade
anunciam uma grande quantidade de milagres que supostamente realizam em suas
igrejas. Eles prometem curas e milagres em todas as áreas que seus ouvintes
necessitam.
Os milagres operados nas igrejas que professam a Teologia da
Prosperidade, segundo Ricardo Mariano, um dos sociólogos da religião no Brasil, são
propostos como uma barganha do fiel com Deus – na medida que se paga os dízimos
e ofertas em troca de bênçãos. O pagamento do dízimo e o oferecimento de ofertas
são fundamentais para que o fiel receba suas bênçãos. O texto de Malaquias, capítulo
3, é usado continuamente como base à essa alegação.13
Kenneth Hagin, embora não sendo o pioneiro, mas considerado o pai da
11
SOARES, R. R. Como tomar posse da bênção. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1997, p. 45.
12
SOARES, R. R., Como tomar posse das bênçãos, p. 50.
13
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do novo Pentecostalismo no Brasil. São Paulo:
Loyola, 2005, p. 25-28.
15
Teologia da Prosperidade, com um ministério reconhecido como um dos maiores do
mundo, descreve de forma bem objetiva essa relação do fiel com Deus – através do
pagamento do dízimo e das ofertas em troca de bênçãos. Para ele, o pagamento de
dízimos e ofertas é imprescindível para que Deus abra as portas do céu e derrame
bênçãos sobre o fiel.14
Hagin, em suas obras literárias, ensina que a confissão da fé traz a vitória.
Pode-se ter o que se determina, pois Deus não coloca limite na vida da pessoa. Ele
cita Mateus 17.20c: “Nada vos será impossível.” Cita ainda Marcos 11.24b: “Tudo o
que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis.” Afirmando em seguida:
Em outras palavras, Deus declara: você pode ter o que crer que terá, de
acordo com a minha Palavra”. Portanto, isso deixa para trás quaisquer
limitações suas no que diz respeito à distância que percorrer em Deus! Em
Filipenses 4.13, a Escritura afirma: (Eu) posso todas as coisas naquele que
me fortalece. Aquele eu na verdade, significa você, se considerar Deus na
Sua Palavra. Compete a você determinar até que altura voará na vida. Então,
tire as limitações e fixe os olhos nas alturas, em Deus. Aprenda uma lição
com a águia: construa a sua casa espiritual no fundamento certo – na Palavra
– e a construa solidamente, de maneira a resistir às provas.15
A vida eterna é um dom da graça de Deus pelo qual ele se torna conhecido
de nós de forma que não apenas conhecemos coisas a respeito de Deus,
mas conhecemos o próprio Deus. Não apenas conhecemos o seu poder e
sua própria divindade (que é a revelação da criação), mas o conhecemos
redentoramente através de Jesus Cristo, sendo um conhecimento
experimental e pessoal da divindade. Ele se revela interiormente a nós como
o Deus do pacto que ama e se dá a conhecer aos seus filhos. O conhecimento
do Deus triúno: Esta é a vida eterna!16
14
HAGIN, Kenneth. Jesus - a porta aberta. São Paulo: Graça editorial, 2000, p.121.
15
HAGIN JR., Kenneth. Voando como as Águias. São Paulo: Graça, 1999, p. 18.
16
CAMPOS, Heber Carlos de. Ensaio - Curso de doutrinas da salvação e vida eterna. Apostila.
16
É importante ressaltar, que o ser humano não foi criado imortal – no sentido
de que teria a imortalidade em si mesmo. A imortalidade faz parte exclusivamente do
atributo de Deus, de sua essência (1Tm. 6.16). Adão foi criado com a possibilidade de
viver eternamente, caso não desobedecesse às ordens de seu Criador. Sua
“imortalidade” seria derivada da de Deus. Se isso acontecesse, seria porque Deus o
preservaria, pelo seu poder, em seu estado de inocência e de imortalidade. Não seria
porque Adão tivesse em sua essência a imortalidade. Como ele desobedeceu, veio a
morrer de imediato espiritualmente. A morte física entrou no mundo como
consequência, juntamente com a morte eterna, que representa a condenação final.
Louis Berkhof, comentando sobre a “imortalidade”, com relação ao primeiro
ser humano criado por Deus antes da Queda, define:
...como cordeiro foi levado ao matadouro... nunca fez injustiça, nem dolo
algum se achou em sua boca (Is. 53.7, 9).
...foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado
(Hb. 4.15).
17
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 621.
17
segui-lo, responde:
Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa,
ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim
e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de
casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo
por vir, a vida eterna (Mc. 10.29-30).
18
“Sabemos, sem nenhuma dúvida, que no espírito humano há, por inclinação natural, certo senso da
Divindade. Para que não nos refugiemos na alegação de ignorância, o Senhor nos dotou de certa
percepção da sua majestade. Assim, tendo todos entendido que há um Deus, que é o seu Criador,
serão condenados por seu próprio testemunho aqueles que não o glorificaram e não dedicarem sua
vida a fazer a sua vontade” (CALVINO, João. As Institutas 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 57).
19
1 A VIDA ETERNA COM DEUS NO TEMPO PRESENTE
21
O homem, pois, foi criado à imagem de Deus de modo que pudesse
representar Deus, como um embaixador de um outro país. Como um
embaixador representa a autoridade de seu país, assim o ser humano (o
homem e a mulher, igualmente) deve representar a autoridade de Deus.
Como um embaixador está preocupado em promover os melhores interesses
do seu país, assim o homem deve procurar promover o plano de Deus para
esse mundo. Como representantes de Deus, deveríamos apoiar e defender
aquilo que Deus apoia e deveríamos promover o que Deus promove. Como
representantes de Deus, não devemos fazer o que queremos, mas o que
Deus deseja. Por nosso intermédio Deus realiza os seus propósitos na terra.
Em nós, as pessoas deveriam poder encontrar Deus, ouvir sua Palavra e
experimentar o seu amor. O homem é representante de Deus.1
1
HOEKEMA, Anthony. Criados à Imagem de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 83.
2
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 568.
3
LIMA, Leandro Antonio de. Razão da Esperança. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.159.
4
A CONFISSÃO de Fé de Westminster. 17. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 65.
22
obter a vida eterna. Segundo seus ensinamentos, Adão poderia viver eternamente
caso não desobedecesse a lei de Deus – talvez, por um certo tempo de obediência
não fixado nas Escrituras. Adão ficaria debaixo de prova. Se passasse no teste, não
morreria.5 Deus deu ao ser humano a graça de comer de todas as árvores. A exceção
de uma árvore foi o teste aplicado. Ela simbolizava a lembrança para Adão que Deus
era o Criador e ele uma criatura.
Alguns teólogos da tradição reformada, como Heber Campos, usam o texto
de Gênesis 2.17, como argumento para afirmarem que Adão não possuía a vida
eterna quando foi criado: “mas, da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás; porque, no dia que dela comeres, certamente morrerás”. Essa interpretação,
inclui uma condição “de não comer da árvore”, sob pena a “morte” e a promessa da
“vida eterna”. Porém, ocorreu a desobediência. Não resta dúvidas, que Adão foi criado
com um fim, e esse fim era a vida eterna. Entretanto, ele estava sob um teste de
obediência, ou seja, estava sujeito à morte. Adão, foi criado pelas mãos santas de
seu Criador, num estado de perfeição, justiça, santidade e sem mancha de pecados.
Deus lhe deu uma lei justa. Ela validaria o direito à vida se ele a tivesse guardado. A
árvore da vida, que se encontrava no Jardim do Éden, seria a sua recompensa por
sua obediência de não comer do fruto da árvore do bem e do mal (Gn. 2.9; 17; Ap.
22.2). Adão vivia num estado de comunhão com Deus. Ele permaneceria eternamente
nesse relacionamento íntimo com seu Criador, caso cumprisse as Suas leis. Como
descumpriu, veio a morrer de imediato espiritualmente e, mais tarde, fisicamente.
Contudo, é importante mencionar que os teólogos de Westminster, ao
interpretar o pacto de obras, parecem-nos que não viam esse pacto como um pacto
de méritos. Essa doutrina não afirma uma salvação por obras. A graça de Deus
sempre esteve presente desde a eternidade, como afirmamos anteriormente. Na
primeira sessão do capítulo VII, antes de apresentar o pacto de obras, a CFW
descreve a própria natureza do pacto a partir de uma concepção graciosa:
5
A Confissão de Fé de Westminster, p. 65 (Capítulo VII, parágrafo II).
6
A Confissão de Fé de Westminster, p. 66.
23
João Calvino não se refere ao pacto de Deus com Adão como pacto de
obras. Ele também não o define como pacto da criação ou pacto da natureza como
outros teólogos se referem. Calvino chegou a fazer um comentário que Deus deu a
árvore da vida por penhor da imortalidade para que confiadamente a propusessem a
si, por quanto tempo comessem de seu fruto (Gn. 2.9; 3.22).7
No que se refere a Adão obter a vida eterna, Calvino sustenta que Adão
poderia ter obtido o céu. Contudo, ele nega qualquer merecimento de Adão para
obtenção de alguma coisa. Para Calvino, o primeiro homem teria passado para uma
vida melhor se permanecesse reto. Com essa afirmação, ele estava se referindo à
“vida eterna” e “vida celestial”, da passagem da morte para a vida.8 Calvino também
faz os seguintes comentários:
Portanto, Adão podia manter-se, se o quisesse, visto que não caiu senão de
sua própria vontade.9
Nessa integridade, o homem usufruía de livre-arbítrio, mercê do qual, caso
quisesse, poderia alcançar a vida eterna.10
Paulo não somente conclui que Deus não nos deve nada, por causa de nossa
natureza corrompida e pecaminosa; mas ele nega que se o homem fosse
perfeito, poderia trazer algo diante de Deus, pelo qual ganharia seu favor;
pois tão longo começa a existir, ele já está tão endividado para com seu
Criador pelo direito de criação, que não possui nada para apresentar.11
7
CALVINO, João. As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, 14-18
8
CALVINO, As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, p. 18-19.
9
CALVINO, João. As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 1, p. 190.
10
CALVINO, As Institutas: edição clássica – v. 1, p. 190.
11
CALVINO, João. Comentário de Romanos. São José dos Campos: Fiel, 2008, p. 21-22.
12
ROBERTSON, Palmer O. O Cristo dos Pactos. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 76.
24
1.3 O RELACIONAMENTO ENTRE O CRIADOR E A CRIATURA.
13
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 199.
26
desobediência, o texto bíblico diz: “abriram, então, os olhos de ambos; e, percebendo
que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si” (Gn. 3.7). Assim,
com a queda de Adão o pecado entrou no mundo e na vida da humanidade. Ao
contrário da falsa promessa, o ser humano perdeu o conhecimento pleno do bem que
já conhecia e passou a conhecer o mal. Nisso estava o engano de Satanás.
Como o casal já não possuía mais a vida natural perfeita e para não serem
tentados em seu interior a comerem da árvore da vida, pois não tinham mais direito
por haverem desobedecido, Deus expulsou o casal para fora do jardim do Éden e
protegeu a árvore colocando querubins ao oriente do jardim. Eles tinham uma espada
guardando o caminho para que ninguém entrasse.
A Escritura relata que havia no jardim do Éden duas árvores com
características simbólica ou sacramental: a Árvore da Vida e a Árvore do
Conhecimento. A primeira, só poderia ser comido do seu fruto, se o ser humano
mantivesse a sua integridade, após o teste que estava sendo submetido. Hodge, com
relação a Árvore da Vida, faz o seguinte comentário:
A árvore da vida não foi dada a Adão para evitar a morte (como se sua vida
dependesse de comer dessa árvore). Foi dada em parte para selar a
imortalidade do homem nesse estado, para ser-lhe um penhor e um
sacramento (tanto para que ele não caísse da felicidade na qual fora criado,
contando que não falhasse no dever e também para que por fim obtivesse a
imortalidade do propósito), e em parte para preservar sua vida sempre em
igual vigor (como os outros alimentos não visavam a servir para a reparação
14
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 577.
27
das faculdades gastas, porém apenas para sua preservação).15
Portanto o pecado que Adão cometeu não ficou restrito somente à sua
pessoa. Ele continuou a operar em e através de toda a raça humana. Nós
não lemos que por um homem entrou o pecado em uma pessoa, mas no
mundo (Rm 5.12), e também a morte sobreveio a todos os homens por causa
do pecado do homem.16
A imagem divina, que o ser humano reflete dentro de si, não foi perdida
com a Queda. Embora, o ser humano tenha morrido espiritualmente e perdido a sua
comunhão com Deus, a imagem divina no ser humano não foi totalmente apagada,
mas apenas distorcida. O ser humano embora manchado pelo pecado e deixado de
ser perfeito, ainda carrega gravada dentro de si as impressões digitais que Deus
colocou em seu coração de Sua existência.
15
TURRETINI, François. Compêndio de teologia apologética. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p.
600.
16
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Deus e a criação. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2,
p. 586.
28
vida em busca ardente de ir para o nosso verdadeiro lar e de nos encontrar com o
nosso Criador. Faz parte de nossa essência (da própria natureza humana) a busca
pelo transcendente. Enquanto não encontramos o nosso Criador, mergulhamos em
um vazio profundo. Nada e ninguém é capaz de o preencher. A Escritura é conclusiva
a esse respeito: “Ele [Deus] fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração
do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender
inteiramente o que Deus fez” (Ec 3.11).
Sobre esse sentimento que perdura dentro de nós, C. S. Lewis escreve:
Se eu não tenho esse anseio, algo está errado comigo, se as coisas desse
mundo me preenchem a ponto de não sobrar nenhum vazio, nenhuma
saudade de Deus, nenhuma vontade de ir para casa, isso significa que algo
está errado comigo. Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma
experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que
eu fui feito para um outro mundo. Se nenhum dos meus prazeres terrenos é
capaz de satisfazê-lo, isso não prova que o universo é uma fraude.
Provavelmente os prazeres terrenos não têm o propósito de satisfazê-lo, mas
somente de despertá-lo, de sugerir a coisa real. Se for assim, tenho de tomar
cuidado para, por um lado, jamais desprezar ou ser ingrato em relação a
essas bênçãos terenas, e, por outro jamais confundi-lo com outra coisa, da
qual elas não passam de um tipo de cópia, ou eco, ou miragem.17
Sabemos sem nenhuma dúvida, que no espírito humano há, por inclinação
natural, certo senso da Divindade. Para que não nos refugiemos na alegação
de ignorância, o Senhor nos dotou de certa percepção da sua majestade.
Assim, tendo todos entendidos que há um Deus, que é seu Criador, serão
condenados por seu próprio testemunho aqueles que não o glorificarem e não
dedicarem sua vida a fazer a sua vontade. Portanto, visto que desde o
princípio do mundo não há região nem cidade nem mesmo casa alguma que
não tenha nada de religião, nesse fato nós temos uma confissão tácita de que
17
LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. 5. ed. São Paulo: ABU, 1997, p. 77.
29
há um senso da Divindade gravado no coração de todos os seres humanos.18
18
CALVINO, João. As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v.1, p. 57-58.
30
os desejos carnais e fazer a vontade do Criador. Porém, muitos permanecem cegos,
com o coração endurecido para entender o propósito de Deus e continuam correndo
atrás do vento no intuito de encontrar o sentido da vida – andando em círculos
viciosos.
Quando observamos a criação de Deus, podemos enxergar essa
majestade e sabedoria em suas leis físicas que governam e sustentam todo o universo
(Sl. 19.1-6). Entretanto, por ser impossível testemunharmos como se deu o início de
tudo e qual o plano de Deus para o fim de todas as coisas, necessitamos de Sua
revelação especial (Sl. 19.7-14). A única forma do ser humano compreender o
propósito divino, naquilo que seja de Sua vontade, é olhando através dos olhos do
Criador. Isso somente é possível através de Sua Palavra.
As Escrituras revelam que tudo que foi criado no universo – coisas
materiais, animais e seres espirituais criados – são inteiramente dependentes de
Deus: “Só tu és SENHOR, tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a
terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a
todos com vida, e o exército dos céus te adora” (Ne. 9.6).
Depois da queda, o ser humano anseia por voltar ao jardim porque Deus
colocou em seu coração não apenas a noção da eternidade, mas também a
experiência com o eterno ao conviver com ele (Gn. 3.8-9). Somente em Deus
encontraremos a satisfação plena para a vida eterna prometida nas Escrituras. No
interior de cada um de nós, já se pode perceber que existe algo sobrenatural, ilimitado,
que só pode se originar do próprio Deus.
19
Jonathan Edwards apud MACARTNEY, Clarence E. (ed.). Grandes sermões do mundo. Rio de
Janeiro: CPAD, 2003.
20
BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 432.
33
Cristo, seria impossível alguém obter algum conhecimento de Deus. É através de
Jesus Cristo que tomamos consciência de nossos pecados e da misericórdia de Deus,
pois Jesus Cristo é a própria revelação de Deus.
Berkhof expõe com clareza a ordem relativa da vocação e da regeneração
seguindo quatro estágios:
21
BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 434.
34
o efeito do pecado. O crente só vai alcançar a perfeição plena na vida eterna, onde
será livre de todo o domínio do pecado. Porém, após a regeneração, a pessoa já se
torna uma nova criatura (Gl. 6.15). Passando a ter uma mente espiritual, pois se tornou
um filho de Deus ao ter recebido Jesus (Jo. 1.12). O poder regenerador do Espírito
capacita o ser humano a dar ouvidos ao evangelho e a se arrepender de seus pecados
e crer em Jesus Cristo.
A melhor passagem bíblica para ilustrar a necessidade de nascer de novo,
é João 3.1-15. Ela narra a visita de Nicodemos a Jesus. Esse homem, embora sendo
um mestre instruído na lei de Moisés e correto em seu modo de viver, desconhecia
como deveria fazer e viver para ser salvo. Nicodemos foi até Jesus, pois reconhecia
nele um mestre vindo de Deus pelos sinais que ele o via fazer. É possível que
esperasse um elogio ou a aprovação de sua conduta da parte de Jesus de forma a
indicar que estaria no caminho certo para alcançar a salvação. Jesus deixou bem claro
a Nicodemos que quem tentar alcançar a salvação pelo rumo das obras não
alcançará. Isto porque a justiça está fora de nosso alcance. Nenhum ser humano é
capaz de cumprir toda a lei de Deus. Jesus responde a Nicodemos: “Em verdade, em
verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”
(Jo. 3.3). Para Nicodemos essas palavras foram chocantes. Na conversa de Jesus
com o fariseu ficou claro que somente a regeneração nos torna participantes da vida
eterna. Com o novo nascimento, o crente regenerado andará em boas obras.22
O novo nascimento transforma a natureza caída pelo pecado. Ele conduz
a pessoa a ser espiritual e a receber de imediato a vida eterna. É assegurado aos
eleitos o recebimento da salvação por meio da fé. Isso os conduzem a uma vida de
santidade até atingir, na glória, a perfeição plena em Cristo, onde serão totalmente
livres do domínio do pecado. Com a regeneração, a pessoa se reconcilia com Deus.
Sendo Cristo considerado a pessoa mais importante de nossa vida, arrependemo-nos
de nossos pecados e passamos da morte para a vida.23
Hodge faz o seguinte comentário a respeito do significado da regeneração:
22
Ver o comentário sobre o diálogo entre Jesus e Nicodemos: LIMA, Leandro Antonio de. Razão da
esperança. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 364.
23
Ver distinção teológica entre regeneração e conversão: LIMA, Razão da esperança, p. 363-364.
35
aplicações da palavra estão tão estreitamente interligadas que não produzem
confusão.24
O Novo Testamento deixa bastante claro que a vida eterna não se trata de
uma condição que recebemos quando morremos e vamos para o céu. Ao contrário,
trata-se de uma vida que podemos desfrutar no presente. É muito mais do que uma
vida próspera financeiramente, uma profissão bem-sucedida, um casamento feliz ou
uma família unida. É a vida que Cristo apresenta, quando diz: “Nem só de pão viverá
o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt. 4.4). É desfrutar de
uma comunhão constante com Deus e de um relacionamento íntimo e prazeroso.
Nada nesse mundo se iguala ao deleite de compartilhar a vida com Deus!
Com a vida eterna em nós, a única coisa que queremos é viver – no sentido
de aplicarmos em nossa vida os ensinamentos de Cristo que aprendemos do
Evangelho. Devemos espelharmos e testemunharmos Cristo, através de nossas
ações e atitudes, exalando o bom perfume de Cristo por onde passarmos, a fim de
que às pessoas possam ver Cristo em nós e possam se certificarem que somos
pessoas vivificadas e fomos transformadas pelo poder de Deus.
Isso tudo acontece porque quando Deus vivifica e regenera. Ele transmite
a sua própria vida espiritual à pessoa. Essa vida espiritual transmitida faz nascer um
relacionamento pessoal, intimo entre ambos, fazendo com que a pessoa regenerada
deseje ardentemente a cada dia conhecer mais a Deus e a Jesus Cristo (Jo. 17.3).
Ela passa a compartilhar a sua vida com Deus por intermédio de Cristo (1Jo. 1.1-4).
A vida eterna que recebemos é um dom divino e uma propriedade que
tomamos posse perpetuamente. Nada nesse mundo tirará, de nós, essa graça que
nos foi concedida. Jesus afirma: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão e
ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo. 10.28).
A Vida Eterna começa aqui e agora. Já estamos vivendo a vida eterna hoje,
pois o Evangelho afirma que o Reino já chegou. Não devemos ficar de braços
cruzados aguardando a volta de Cristo. Devemos viver o presente intensamente;
trabalhando em prol do Reino de Deus; e desejo ardente em nosso coração pela
Segunda Vinda do nosso Senhor.
24
HODGE, Teologia Sistemática, p. 1030.
36
Muitos ao receberem a nova vida se acomodam. Eles ainda vivem com
medo de perderem a salvação. Vivem em busca de revelação e profecias, ou
buscando rituais de aproximação – em vez de viver a vida em toda a sua plenitude,
que lhe é permitida viver nesse mundo. Precisamos desfrutar da certeza de nossa
salvação, manejando bem a palavra da verdade (2Tm. 2.15-16) e não ficar dando
ouvidos as experiências de fontes duvidosas. Devemos seguir a orientação de Paulo
à Timóteo, quando diz: “Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna,
para a qual foste chamado de que fizeste a boa confissão perante muitas
testemunhas” (1Tm. 6.12).
Em termos subjetivos, o grande testemunho da nossa salvação é o
testemunho interno do Espírito Santo, que assegura em nosso íntimo que somos filhos
de Deus (Rm. 8.15-17). Contudo, a Escritura também nos fala de evidências externas
da nossa filiação. Uma delas é a manifestação do amor sincero dedicado aos irmãos.
O cuidado, o zelo, a generosidade e o carinho que os dispensamos é uma forma de
mostrarmos que cremos realmente em Cristo e que estamos unidos a Ele. Esse
sentimento sublime, é uma prova dessa gloriosa dádiva permanente em nós. A vida
no sentido espiritual substitui a morte do cristão. A vida espiritual de cada pessoa é
medida pelo amor que é demonstrado pelos irmãos. É impossível uma pessoa ser um
cristão e não praticar o amor fraterno. João é bem enfático ao dizer que os “vivos”
amam e os “mortos” odeiam:
37
de Abel. Enquanto estivermos nesse mundo, haverá ódio e desamor dos ímpios pelos
crentes. Isso não deve causar espanto, pois eles estão mortos espiritualmente.
Contudo, essa falta de amor não pode acontecer entre os cristãos, porque já
passamos da morte para a vida e quem que não ama permanece na morte (3.14).
João declara que quem odeia o irmão é assassino, e não tem a vida eterna
permanente em si (3.15).
Barclay, comentando sobre o amor aos irmãos, é conclusivo:
25
BARCLAY, William. 1 João. Disponível em:
<https://files.comunidades.net/pastorpatrick/1Joao_Barclay.pdf>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
38
2 ANÁLISE DOS PRINCIPAIS ENSINAMENTOS DOS PROPONENTES
DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
1
ROMEIRO, Supercrentes. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 23.
2
COPELAND, Kenneth. The force of love. Disponível em:
<http//www.cephasministry.com/kenneth_copeland.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018. As citações
de Copeland podem serem encontradas no referido endereço.
3
HAGIN, Kennedy. Word of Faith, dezembro de 1980, p.14.
39
O objetivo dessa doutrina é ensinar que o crente pode ter o domínio de
todas as coisas: é necessário apenas que ele determine o que deseja para si. Um dos
textos bíblicos mais usados por seus pregadores, é o “tudo posso naquele que me
fortalece” (Fl. 4.13). Para os seus adeptos, não há limite para tomar posse das
bênçãos requeridas: basta determinar, pensar positivo sem dúvida no coração,
participar das correntes e ser fiel no dízimo, ofertas e nas campanhas promovidas na
igreja sob direção de Deus que o milagre acontece. Nesse mesmo sentido é
interpretado o texto do Evangelho de Marcos que diz:
...em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e
lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que
diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração
pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco (Mc. 11.23-24).
4
ROMEIRO, Supercrentes, p. 25-26.
40
2.1 OS ENSINAMENTOS
5
SOARES, R. R. Curso Fé. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1997, p. 04.
41
a terra passem. Veja Mateus 24.25.”6
Nessa mesma interpretação, Soares menciona o texto de Atos 14.8-10,
alegando que Paulo não orou que o coxo fosse curado, mas apenas determinou a sua
cura. Menciona ainda o texto no livro de Josué (10.12), onde Josué ordenou que o sol
e a lua se detivessem, como prova da veracidade de sua interpretação.
Afirma ainda Soares, que um dos pontos mais importantes e polêmicos do
estudo sobre fé é a falsa declaração de que a fé remove montanhas, haja vista que a
fé nunca removeu um só grão de areia. Para que o milagre aconteça, a pessoa deve
se dirigir ao problema e ordenar que ele saia da vida da pessoa e que se lance no mar
e jamais duvidar no coração que o problema sairá de sua vida. Ele diz que a fé é
necessária. Ela é o primeiro passo para a vitória. Mas se não der o segundo passo,
que é falar com o problema para ele sair, nada acontecerá. A fé, diz Soares, é o
combustível, a palavra é o veículo, e nenhum veículo anda sem combustível. Nenhum
combustível remove montanhas. Deus para criar as coisas, precisou usar a palavra.
A nossa posição como filho de Deus é privilegiada. A bênção que precisamos não
depende mais de Deus, mas somente de nós. Basta que conheçamos a verdade: “E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo. 8.32).7
Para Soares, usar a famosa frase “Se for a tua vontade” na oração é
simplesmente demonstrar ignorância sobre o que a Bíblia ensina. O único registro que
a Bíblia tem de uma pessoa que orou demonstrando não saber se era da vontade de
Deus curar ou não foi o pobre leproso (Mt. 8.1-3). A ele Jesus respondeu: “Quero, fica
limpo”. Para Soares, todas as bênçãos que precisamos já nos foram dadas. É
necessário somente determinarmos para tomar posse. Com relação a cura, é usado
o texto do livro de Isaías (53.4-5), que afirma que Jesus tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores e pelas suas pisaduras fomos sarados. Desse modo,
diz ele, precisamos apenas exercer o nosso direito, assumindo o que a Palavra de
Deus diz que Jesus realizou.8
Soares afirma ainda que assim como no campo jurídico é dada a
advertência que a lei não socorre a quem dorme, no campo espiritual acontece a
mesma coisa. Se não conhecemos os nossos direitos em Cristo ou se conhecemos e
não reivindicamos, não seremos socorridos, mesmo que sejamos cristãos
6
SOARES, Curso de Fé, p. 07.
7
SOARES, Curso de Fé, p.13-14.
8
SOARES, Curso de Fé, p.23-25.
42
exemplares. Se as pessoas passam por privações financeiras, doenças e outras
aflições nessa vida, é porque não reivindicam seus direitos. A pessoa precisa saber
exercer os seus direitos, tomando uma atitude e confessando com a boca ao diabo
que ele não tem mais domínio sobre a sua vida. Deve dizer ao diabo que nem vai orar
a Deus pedindo prosperidade e cura, porque ele (diabo) já não tem poder sobre a sua
vida; e que toda a maldição Jesus já levou na cruz. Oração de pedido a Deus é
desnecessária. Devemos apenas agradecer, pois já temos a certeza da vitória. E em
seguida ordenar ao diabo, que ele saia de uma vez por todas de sua vida, conforme
está escrito em Tiago 4.7: “Sujeita-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá
de vós.”9
Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, segue esse
mesmo entendimento de R. R. Soares, ao ensinar como o cristão deve exercer a sua
fé.10 Ele orienta como os cristãos devem agir para não depender da fé alheia e como
devem se preparar para obter as suas vitórias. Macedo usa, inicialmente, o texto
bíblico na carta de Paulo aos efésios (6.11-13) que trata da armadura de Deus. Para
ele, a “palavra” tem uma força ilimitada. Quando plantada no coração essa semente,
ela cresce e frutifica com a natureza. Ele menciona o texto do Evangelho de Marcos
(9.23): “Tudo é possível ao que crê”. Jesus ao proferir essas palavras, afirma Macedo,
estava dizendo que não há limites para a fé. Aquilo que acreditamos nos sobrevirá. É
onde reside o poder sobrenatural da fé, comenta ele. Se a palavra for de morte, virá
algo de ruim para a nossa vida; mas se for de vida, teremos um futuro promissor. Para
justificar a força da “palavra”, cita texto do livro de Gênesis (1.6), em que tudo se
cumpriu por intermédio da “palavra”. O diabo, no seu entendimento, conheceu o poder
da palavra e vendo os resultados deve ter pensado, diz Macedo: “Se eu tivesse esse
poder, usaria a minha palavra para destruir tudo o que Deus construiu e, então, eu
seria realmente igual a Ele”. Como a sua palavra não encontrava eco, porque não
tinha quem obedecesse a sua autoridade, a não ser os demônios, não poderia, assim,
realizar as suas pretensões. Quando Deus criou o ser humano, ele viu uma grande
oportunidade de encontrar, na própria criação de Deus, um “sócio” para destruir tudo
aquilo que Deus construiu. O diabo começou a usar a palavra de dúvida para estimular
a rebelião humana contra Deus. Ele tem se servido da Bíblia como fonte de
9
SOARES, Curso de Fé, p. 34.
10
MACEDO, Edir. O poder sobrenatural da Fé. Rio de Janeiro: Universal, 2003, p. 12-18.
43
informações para a destruição de bilhões de seres humanos. A única maneira de evitar
é através da Palavra de Deus em nosso coração.
Macedo explica porque as pessoas perdem a cura após serem curadas
numa campanha de fé na igreja. O diabo logo entra em ação, justifica Macedo. O diabo
usa pessoas de confiança do ex-doente para semear dúvida no coração. Ele faz com
que a pessoa perca a fé e a doença volte novamente. Assim acontece com aqueles
que chegam com problemas financeiros e são abençoados financeiramente. Eles
deixam de andar pela fé, começam a dizer que o dízimo e as ofertas não são
obrigatórios para quem tem fé de receber de volta multiplicado e acabam voltando a
ter uma vida amarrada. Porém, é uma obrigação do pastor orientar que só recebem
de Deus aqueles que doam, pois foi o próprio Jesus quem admoestou: “Pedi, e dar-
se-vos-á” (Mt. 7.7). Mas Macedo não culpa somente o diabo em tirar vantagens dos
fracos na fé. Ele culpa também a pessoa que tem o coração vazio de Deus e cheio de
ganância e, por isso, torna-se apta a ouvir a voz inimiga e deixam de ser fiéis. Ele
menciona a parábola do semeador (Mt. 13.3-8). A pessoa diante do bombardeio de
inspiração diabólica acaba desistindo de continuar lutando. Finalmente, vem o
desânimo até dominá-la por completo (Mc. 4.17).
Macedo diz que o cristão não deve temer a nada. Quando vierem
pensamentos contrários a fé, o cristão deve enfrentar de frente o diabo com
resistência, pois o medo promove a dúvida. Segundo Macedo, muitas pessoas
pensam que o conhecimento da Bíblia é o suficiente para obter sucesso. Elas
precisam tomar cuidado, pois esses conhecimentos podem ser um antídoto satânico
para fazê-las mais confusas a respeito do que está escrito. Ele cita o texto do
Evangelho de Mateus (18.9) que fala sobre o pecado com os olhos. Isso acontece
com aqueles que querem ser os “sabidos” da Bíblia. O diabo, diz Macedo, tem usado
muito a Bíblia para confundir aqueles que tem sede de um profundo conhecimento da
Palavra de Deus e tem colocado em suas mentes questões absolutamente
misteriosas que só o Espírito Santo poderia responder. A Bíblia deve ser comparada
ao maná que Deus fez descer sobre o seu povo no deserto. Cada família tinha o direito
de colher apenas o necessário para aquele dia. Se fosse querer guardar para o dia
seguinte, ele apodrecia. A Palavra de Deus é o pão do céu para alimentar todos os
filhos de Deus dia após dia. Não devemos e nem podemos querer reservar para o
futuro o pão nosso de cada dia.
Macedo também fala sobre a vida pela fé. Diz que Deus criou a vida com
44
três grandes propósitos. O primeiro, que ela fosse vivida em abundância: com todos
os seus direitos e privilégios, sem nenhuma forma de aflição, angústia ou preocupação
– “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo. 10.10). O segundo
propósito, que não tivesse nenhum tipo de interrupção provocada por doenças,
enfermidades, dores, sofrimento ou morte (Is. 53.4-5; Rm. 6.23). O terceiro e último
propósito, o qual ele considera o mais importante, é a manifestação da glória de Deus
por toda a eternidade – a começar aqui pela Terra, conforme o Salmo de Davi (96.1-
4). Para Macedo, o cristão somente terá vida abundante, se tiver coragem de assumir
a fé sobrenatural e colocá-la em prática na sua própria vida. Ele cita a passagem do
jovem rico (Mt. 9.16-20). Nela é enfatizado que o jovem não suportou o peso do
sacrifício que Jesus propôs a ele para alcançar a plenitude da vida. Ele não suportou
porque vivia uma fé natural. Somente a fé sobrenatural é capaz de pagar o preço da
vida que Deus tem preparado para aqueles que O amam. Deus não é contra a riqueza,
diz Macedo, porque ele mesmo é rico em glória e majestade. Ele é contra colocar o
coração na riqueza. Como o jovem não tinha a fé sobrenatural, ele se retirou triste e
foi embora. Quando a pessoa vive uma fé sobrenatural, não mede sacrifícios para
colocar sua convicção em prática.
Macedo, em seu livro O Perfeito Sacrifício, fala da importância do dízimo
e das ofertas, que representa o próprio Jesus Cristo.11 Diz Macedo, que toda oferta
que se oferece a Deus revela o que está no coração do ofertante e mostra o seu
relacionamento para com o seu Senhor. É através da oferta que a pessoa transmite
amor, carinho, dedicação e consideração. Quando a pessoa descobre o caminho da
fonte da salvação, ela começa o processo de entrega de si mesma, como oferta em
favor daqueles que se encontram perdidos. Macedo cita uma passagem bíblica sobre
essa entrega:
Ele acrescenta que aquele que vê as doações das ofertas com maus olhos,
do ponto de vista meramente mercadológico, não compreenderá a razão da vinda do
11
MACEDO, Edir. O perfeito Sacrifício. Rio de Janeiro: Universal, 2004, cap. 05.
45
Filho de Deus ao mundo. Essa pessoa não consegue alcançar o dom do
arrependimento para a conversão, haja vista que a oferta está intimamente
relacionada com a salvação eterna em Cristo. É através da oferta que a pessoa se
aproxima de Deus. A raiz da palavra “oferta” no hebraico, significa “aproximar-se”. Isto
está totalmente de acordo com a Escritura, afirma Macedo, quando diz “Se a sua
oferta for holocausto de gado, trará macho sem defeito; à porta da tenda da
congregação o trará, para que o homem seja aceito perante o Senhor” (Lv. 1.3),
significando, explicitamente, que para entrar na presença do Altíssimo, o homem deve
Lhe apresentar ofertas sem defeitos. A origem da oferta está no Éden, onde o próprio
Deus realizou o sacrifício de animal para vestir Adão e Eva. Este sacrifício
representava Cristo. A oferta de animais perpetuou-se entre os judeus até por volta
dos anos 70 d.C, quando o templo reconstruído por Herodes foi totalmente destruído.
Os judeus ainda esperam que o templo seja novamente erguido em Jerusalém para,
então, darem continuidade às suas ofertas de sacrifícios de animais.
Prossegue ainda Macedo dizendo que a oferta continua sendo o
instrumento pelo qual o ser humano se aproxima de Deus. Essa aproximação é
desejada pelo Pai, que instituiu a oferta de sacrifício, continuando o processo da
redenção da humanidade. O Senhor Jesus é a oferta de Deus-Pai para a salvação da
humanidade, portanto, é a oferta perfeita. Ele é, ao mesmo tempo, a porta de acesso
à Sua santa presença. Se Jesus é a oferta perfeita, todas as ofertas são
representações dele. É, por isso, que a oferta que oferecemos não pode ser
imperfeita, para poder representar seu Filho. Caso contrário, ela não é aceita e não
poderá produzir resultados. Conforme está escrito na carta aos Hebreus, cita Macedo:
Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue
de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu. Isto é,
pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus,
aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o
coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb.
10.19-22).
Hagin ensina que a unção pode ser individual ou corporativa. Deus unge
indivíduos para o ministério. Existem várias funções diferentes para as quais Deus
chama cada pessoa: apóstolo, profetas, evangelistas, pastores e professores. Jesus
exerceu todas as funções, pois Ele possuía a unção para exercer cada uma. A unção
de Jesus era “sem medida” (Jo. 3.34). Já os membros do corpo de Cristo possuem a
“unção medida”, ou seja, cada um possui a unção para desempenhar a função para
qual foi chamado. Jesus para operar milagres teve que ser ungido para o ministério.
Mas todos que recebem a unção podem operar milagres. Devemos fazer as mesmas
obras que Jesus e até maiores como está escrito na Escritura: “Na verdade, na
verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as
fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai” (Jo. 14.12). Hagin enfatiza
que se as obras de Jesus estivessem em uma categoria sem igual, então Ele teria
mentido.13
A unção faz toda a diferença, afirma Hagin. Ele dá o exemplo da passagem
da cura de uma mulher enferma (Mc. 5.25-34). Nesse milagre o poder de cura saiu de
Jesus quando a mulher enferma lhe tocou nas roupas. A unção da cura era algo
especial que havia na veste de Jesus. Assim aconteceu com Paulo, que fazia milagres
extraordinários. O poder não estava nas roupas, mas na unção que cada um tinha. A
unção foi transferida pelas roupas. A pessoa só pode ser curada após ouvir a Palavra
de Deus. O ouvir vem antes da cura. Por isso, é importante crer na Palavra. A unção
pode operar em um indivíduo ou em toda uma multidão. A fé de cada um determina o
12
HAGIN, Kenneth E. A unção da cura. Rio de Janeiro: Graça Artes, 2002, p. 03.
13
HAGIN, A unção da cura, p. 04-10.
48
resultado. Hagin conta o testemunho de uma criança que os pais pediram oração, pois
tinha os dois pés atrofiados. No domingo seguinte, o casal foi à igreja mostrando a
criança curada. Bem como a cura de uma mulher cega, de um homem que nunca
havia andado e outros tantos testemunhos em que o milagre aconteceu por seu
intermédio.14
14
HAGIN, A unção da cura, p. 13; 52-53.
15
LIMA, Leandro Antonio de. Aula EBD Santo Amaro. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=H-1LTITU4Gg>. Acesso em: 25 de nov. 2016.
49
e aproveitar aquilo que temos, pois já temos um tesouro garantido que é a nossa
salvação.
Paulo, continua em sua exortação:
Uma pessoa que ama o dinheiro é fraca e vulnerável. O mundo tem algo que
ela deseja, e ela é mais susceptível a comprometer a verdade e a consciência
para conseguir isso. Ela é susceptível à tentação, visto que existe algo em
sua alma ao que o diabo pode apelar a fim de manipulá-la. O amor ao dinheiro
pode levar ao total desastre: “Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro,
desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos”. Uma pessoa
que ama o dinheiro é uma tola. Como Jesus disse, “Pois, que adiantará ao
homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mt 16.26). E o que é
mais provável, ele não ganhará o mundo todo, nem mesmo uma pequena
parte dele, e ainda perderá a sua alma. O contentamento concede a uma
pessoa imunidade contra a tentação. Paulo escreve: “Os que querem ficar
ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados
e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição”.
Uma pessoa que está contente, por definição, não pode ser dominada por
“desejos descontrolados e nocivos”. Mas o poder do contentamento é muito
mais amplo, em razão da tentação apelar a alguma necessidade ou desejo,
e dessa forma à insatisfação dentro da pessoa.”17
16
LIMA, Leandro Antonio de. Brilhe a sua luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 149.
17
CHEUNG, Vicent. Reflexões sobre 1 Timóteo. Disponível em:
50
Paulo, na Carta aos Filipenses (4.11-13), dá uma demonstração de como
viver uma vida piedosa, dizendo:
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda
e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado;
de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura
como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele
que me fortalece.
Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem
depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que
tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o
bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que
acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim
de se apoderarem da verdadeira vida (1Tm 6.17-19).
Kenneth Hagin declara ter recebido uma revelação divina no texto bíblico
do Evangelho de Marcos (11.23-24) para dar início a sua fé e determinar a sua cura.
Afirmando ter sido curado, iniciou o seu ministério de fé. Contudo, a Bíblia não nos
ensina com esse versículo que alcançaremos tudo o que queremos através da
“determinação” de algo para a nossa vida. Quando o Senhor Jesus responde a Pedro,
lembrando-o que a figueira que ele havia amaldiçoado secou, disse-lhe para ter fé em
Deus. Ele prossegue: “...em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte:
Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que
diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede
que recebestes, e será assim convosco”. Ele estava fazendo uma ligação da vida do
povo de Israel com o templo que ele condenou e a figueira que ele amaldiçoou.
Segundo Vicent Cheung, essa passagem precisa ser interpretada conjuntamente com
os dois episódios: o templo que representa toda a nação de Israel, bem como a
figueira que também representava aquele povo – que aparentemente se mostrava
bela exteriormente e cheia de folhas, mas por dentro estava completamente podre.
Não havia nada saudável e que se pudesse aproveitar.20 O povo só proclamava Deus
com lábios, mas o coração totalmente vazio dele (Mc. 7.6). Na mente dos judeus, o
templo era a casa de oração, onde eles ofereciam sacrifícios por seus pecados. Só
que eles se apegaram ao templo de tal forma que passaram a encontrar segurança
no templo e no seu sistema, e não em Deus. Era uma falsa piedade que eles tinham
quando oravam. Chegavam a pensar que estando no templo nenhum mal os
sobreviriam. A sua confiança era tanta que pensavam que Deus só poderia responder
a sua oração no próprio templo.
No terceiro dia da última semana de Jesus em Jerusalém, ele enfrentou
uma imensa batalha com os líderes religiosos. A figueira seca desde a raiz significa a
rejeição total e completa de Jesus do sistema religioso do templo. Ela representa no
texto como um símbolo para algo mais. Jesus estava mostrando aos discípulos que
não era possível produzir algum fruto naquele lugar. Só resta essa raiz ser cortada e
19
STERN, David H. Comentário judaico do Novo Testamento. São Paulo: Atos, 2008, p. 650.
20
CHEUNG, Vicent. Fé para mover montanhas. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/comentarios/fe-montanha_cheung.pdf>. Acesso em: 30 de
dez. 2018.
53
lançada ao fogo, bem como todo o sistema religioso do templo. Essa é a mensagem
proferida para todos aqueles que professam o nome de Cristo, mas não produzem
frutos dignos de arrependimento. Eles proclamam Cristo somente da boca para fora,
mas os seus testemunhos são os piores possíveis. São pessoas hipócritas e que não
vivem a fé que professam. Não é a palavra que o homem profere que tem poder. É a
palavra de Cristo que amaldiçoa quem ele quer, pois o Pai lhe deu autoridade para
julgar. Nunca podemos esquecer que somos criaturas e Deus é o Criador. Ele é
soberano, e nós somos servos. Deus é o oleiro, e nós somos o barro.
Hendriksen, expondo sobre a figueira que Jesus amaldiçoou, escreve: “É
impossível crer que a maldição que o Senhor pronuncia sobre esta árvore fosse um
ato de punição, como se árvore como tal fosse responsável por não produzir fruto, e
como se, por essa razão, Jesus estivesse irado com ela.”21
Jesus disse aos discípulos: “Tenham fé em Deus”. Instrui assim para que
eles tivessem fé no Deus verdadeiro e para que o coração deles não tivessem na
beleza do Templo. Este logo iria ser destruído, assim como aqueles homens que
faziam parte desse sistema religioso já condenado. A fé dos discípulos deveria estar
no Deus Vivo que se revelou na Pessoa de Jesus. Só assim, eles poderiam produzir
bons frutos. A nossa fé precisa estar em Deus somente, e não nas nossas palavras.
A definição de fé encontramos na carta aos Hebreus (11.1): “Ora, a fé é a certeza de
coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem”. É uma fé genuína, e
não algo místico. Devemos ter o conhecimento de Deus e de sua Palavra para
podermos aplicar essa fé em nossa vida. É essa fé que tem poder. Quando Jesus
disse “... se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no
seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele”, entendo ser essa
fé que Cristo está falando. Ela não é para determinar que aconteça curas, milagres,
ou coisas impossíveis que queremos obter em nossa vida, mas ser usada no avanço
do Seu Reino aqui na Terra. Precisamos orar que o Senhor nos ajude em nossa
incredulidade e que nos aumente a fé para realizar seus propósitos e vencer todos e
quaisquer obstáculos que impeçam o desenvolvimento de Sua obra no mundo. Essa
fé, os discípulos adquiriram por ocasião da descida do Espírito Santo. Aqui se inicia o
processo de expansão do Reino no mundo. Ele se estende até os dias de hoje através
21
HENDRIKSEN, Willian. Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.
442.
54
de homens e mulheres de Deus que, imbuídos dessa fé, propagam o verdadeiro
Evangelho.
Os milagres realizados, descritos nas Escrituras, sempre tiveram um
propósito específico: de mostrar a autoridade e o controle e presença de Deus em sua
soberania. Eles jamais ocorreram como evento casual, pois Deus não faz nada sem
propósito. Os milagres sempre estão relacionados a uma determinação de Deus, no
que diz respeito ao cumprimento de seus decretos de maneira visível e racional.
Todos os milagres registrados na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, ocorreram no sentido literal. Os milagres ocorridos no Antigo
Testamento, em sua maioria no período de Moisés, Josué, Elias e Eliseu, tinham o
propósito de transmitir sinais da existência de Deus, do seu poder e de mostrar a sua
vontade ao seu povo. Seguindo este propósito, os milagres autenticavam a Lei de
Deus apresentada por seu mensageiro e chamava a atenção para novas revelações.
No Novo Testamento, no ministério público de Cristo, os milagres
realizados revelam a sua glória. Os milagres operados por Jesus não somente tinham
o caráter de atestar sua divindade, mas, sobretudo, que viéssemos a crer que Jesus
é o Cristo, o Filho de Deus, e, assim crendo, pudéssemos ter vida em seu nome, como
demonstra o propósito do Evangelho de João: “ Estes, porém, foram registrados para
que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em
seu nome” (Jo. 20.31).
No Evangelho de João podemos observar claramente a relação entre a fé
e a vida eterna, quando o evangelista afirma:
Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho
do Homem (que está no céu). E do modo por que Moisés levantou a serpente
no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que
todo o que nele crê tenha a vida eterna” (Jo. 3.13-15).
Nesse mesmo sentido, ao falar da missão do Filho, João diz: “Porque Deus
amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3.16).
Quanto aos milagres operados pelos Apóstolos, por um tempo
relativamente curto, ocorreram também com um propósito específico: o de autenticar
e estabelecer a igreja na Terra. Tendo passado esse período, a Bíblia não relata mais
nenhum milagre operado por esses homens de Deus, como sinal de continuidade.
Caso permanecesse esse propósito de Deus, Paulo teria curado Timóteo que se
55
encontrava com uma enfermidade no estômago. Ele se limitou em sugerir a tomar um
pouco de vinho (1Tm. 5.23), bem como partiu triste deixando o seu companheiro
Epafrodito doente (Fp. 2.26-27).
Leandro Lima, quanto ao propósito dos milagres, faz o seguinte comentário:
22
LIMA, Razão da Esperança, p.187.
23
RYRIE, Charles. Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 2000, p. 1663.
56
que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no
mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos” (Jo. 21.25).
O Evangelho de João tem como objetivo, abordar duas questões
fundamentais: a) o relacionamento de filiação entre Deus e o Verbo (Jesus); e b) a
possibilidade de uma proximidade entre Deus e os seres humanos. João mostra no
Prólogo que tanto o Pai como o Filho são Deus. A designação de Jesus como Filho
de Deus expressava a crença da divindade de Jesus: sua origem divina e sua
preexistência. O Verbo (Jesus) é apresentado como o agente da Criação. Deus, como
Criador, usa o Verbo como seu agente exclusivo para criar “todas as coisas”.24
Os sete milagres de Jesus apresentados no Evangelho de João foram com
intuito de manifestar a glória de Deus, conforme descrito em João 20.31. João usa a
expressão sinal, marca e prodígio (semeion) para diferenciar de demonstração de
poder (dunamis), que é usado nos Evangelhos sinóticos. João talvez quisesse
evidenciar propósitos diferentes de atos de “poder”. O foco estaria em apresentar
Jesus como Filho unigênito de Deus e de atestar a sua missão como o Messias
prometido. O fato é que o milagre sempre aponta para a glória de Deus e não para o
milagre em si.
Os milagres apresentados nos Evangelhos Sinóticos, embora com ênfases
parecidas com o do Evangelho de João, tem por foco apresentar um aspecto diferente
de demonstração de poder (dunamis). Entretanto, todos têm o propósito de glorificar
a Deus, como explica Marcelo Berti:
O ato de glorificar a Deus podia ser feito pela multidão que assistia o milagre
ou pelo que recebera o milagre, mas de qualquer forma, era um modo de
reconhecer a origem do ato milagroso que acontecera. Entretanto, outro
elemento decorrente do maravilhamento das multidões, e fundamental para
a compreensão de Cristo nos sinóticos, é o Poder-Autoridade que é
confirmado por meio de atos milagrosos. O termo grego que traduz essa ideia
é exousia. Esse termo pode ser usado para descrever cargos de autoridade,
o poder da pessoa que exerce tal cargo de autoridade decorrida desse poder.
Essa é uma marca muito interessante nos evangelhos sinóticos, pois não é
incomum encontrarmos esse conceito. Quando os evangelistas registram o
apreço das multidões pelo ensino de Cristo esse reconhecimento está
invariavelmente presente (Mt 7.29; Mc 1.22; Lc 4.32). O mesmo
reconhecimento é visto em relação aos atos milagrosos de Cristo.25
24
KOSTENBERGER, Andreas J.; SWAIN, Scott R. Pai, Filho e Espírito: a Trindade e o Evangelho de
João. São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 61 e 63.
25
BERTI, Marcelo. A relevância dos milagres de Cristo para cristologia do Novo Testamento.
Disponível em: <http://www.e-cristianismo.com.br/teologia/cristologia/a-relevancia-dos-milagres-de-
cristo-para-cristologia-do-novo-testamento.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
57
Mateus dá testemunho de Jesus ao dizer que ele curava “toda a sorte de
doenças e enfermidades entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria;
trouxeram-lhe, então, todos os doentes, acometidos de várias enfermidades e
tormentos: endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curou” (Mt. 4.23-24).
Jesus, através dos milagres realizados, mostra o “poder-autoridade” sobre
a saúde física e espiritual do ser humano: doenças orgânicas ou congênitas, como
também o milagre de ressuscitar mortos. Muitas são as causas das enfermidades
apresentadas pelas pessoas que, necessariamente, não decorrem de seus pecados.
Deus, às vezes, usa do sofrimento físico pra disciplinar seu povo. Existem duas razões
que levaram Jesus a realizar curas. A primeira por se sensibilizar com o sofrimento do
povo, e a segunda para atestar que ele era o Messias prometido nas Escrituras
O primeiro milagre de Jesus, segundo o registro de João, foi a
transformação de água em vinho, ocorrido no casamento em que Jesus foi convidado
(Jo. 2.1-11). No decorrer da festa, os criados perceberam que o vinho estava
acabando. Precisava que algo fosse feito com urgência, pois senão a vergonha da
família seria inevitável. O vinho fazia parte da cultura hebraica. Ele era consumido
como entretenimento dos convidados e simbolizava alegria. Jesus transformou a água
em vinho de excelente qualidade. Desta forma, disponibilizou o vinho de melhor
qualidade até o final da festa – diferentemente do costume da época, onde o vinho
servido no final era sempre de qualidade inferior. Houve uma mudança sobrenatural
imediata na natureza daquela substância. Isso redundou em manifestação da glória
de Jesus e na crença de seus discípulos nele.
Kistemaker faz o seguinte comentário com relação ao primeiro milagre de
Jesus:
De acordo com o apóstolo João, transformar água em vinho foi o primeiro
sinal miraculoso que Jesus realizou em Caná da Galileia. Os milagres
revelavam a glória de Jesus, mas também cumpriam o propósito de fazer que
seus discípulos pusessem a fé nele. De modo geral, os milagres ocorriam
para criar fé em Jesus, ou em resposta à fé. Ao transformar água em vinho,
Jesus fez seus discípulos se transformarem em crentes. Eles puderam
verificar a verdade de suas palavras de que veriam o céu aberto e os anjos
de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.26
A cura do filho de um oficial do rei (Jo. 4.46-54). João relata que o oficial do
rei foi ter com Jesus em Caná. Ele suplicou que o Mestre fosse até sua casa e curasse
o seu filho que estava à morte. Jesus disse para ele ir a sua casa que o seu filho
26
KISTEMAKER, Simon J. Os milagres de Jesus. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 16.
58
estava vivo. O oficial creu na palavra de Jesus e partiu. Quando estava chegando em
sua casa na manhã seguinte, seus servos vieram ao seu encontro anunciando que o
menino vivia. Ao perguntar aos servos o horário exato da recuperação da saúde do
menino, foi informado que teria sido às sete horas da noite. Reconheceu o oficial que
este horário coincidia com o horário que Jesus ordenou-lhe que retornasse, pois o
menino vivia. O pai do menino creu em Jesus e toda a sua casa. Jesus revelou a sua
autoridade divina de curar qualquer tipo de enfermidade, mesmo à distância.
Com relação as curas que Jesus realizava, Leandro Lima e Sergio Lima,
fazem o seguinte comentário:
Ninguém jamais realizou curas como Jesus. Nem poderia, pois, suas curas
foram atestadas de sua messianidade. As principais características delas
foram: curava a todos indistintamente; curava todo o tipo de doença
ilimitadamente; podia curar diretamente, sem uma palavra ou toque, se
oração, e até mesmo sem estar próximo a pessoa curada; Jesus curava
instantaneamente, pois não havia necessidade nenhuma de recuperação e
suas curas eram completas e não parciais; Jesus curava problemas
orgânicos e congênitos; Jesus até mesmo trouxe pessoas da morte para a
vida.”27
27
LIMA, Leandro; LIMA, Sergio. A Vida de Jesus. São Paulo: Agathos, 2014, p. 112.
59
está nele. Jesus é o Pão da Vida! Ele ensina que a Palavra e a Verdade são
verdadeiros alimentos. As bênçãos recebidas são provenientes da graça divina.
Porém, o povo não havia entendido que a missão de Jesus era espiritual, pois estavam
aguardando um libertador político que viesse libertá-lo dos tiranos romanos. Quando
o povo viu o sinal que Jesus fez, queria ungi-lo como rei, pois achava que Jesus seria
o seu libertador político. Jesus, então, se retira, pois o seu reino não é desse mundo.
Somente no dia seguinte Jesus explica à multidão o significado do sinal: “...vós me
procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes.
Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a
qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo”.
Jesus prossegue dizendo: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome;
e o que crê em mim jamais terá sede”.28
Os sinais sempre apontam para alguma coisa e nunca para si mesmo. Isso
é o contrário dos pregadores da prosperidade, que só visam o milagre em si. Ficam
anunciando milagres com o intuito de atrair as pessoas para suas igrejas. Usam de
falsas promessas que só beneficia o seu próprio ego e satisfaz apenas os seus
próprios interesses.
Jesus também curou um cego de nascença (Jo. 9.1-34). Ele e seus
discípulos, ao passarem próximo ao templo, viram o cego de nascença pedindo
esmolas. Os discípulos perguntaram a Jesus se a cegueira do pedinte seria
consequência do seu pecado ou de seus pais. Ele respondeu que a causa não era o
pecado de nenhum deles, mas para que se manifestasse nele as obras de Deus. A
obra de Deus que Jesus estava se referindo seria a cura do cego – não só fisicamente
como também espiritualmente. Jesus, então, para mostrar que tinha autoridade para
realizar as obras do Pai que lhe enviou, cuspiu na terra e, após feito lodo com a saliva,
aplicou-lhe aos olhos do cego. Então, manda-o se lavar no tanque de Siloé e volta
enxergando. Jesus revela-se como a luz do mundo ao afirmar que, enquanto estiver
no mundo, é a luz. Nesse episódio, também ficou evidenciada a incredulidade dos
judeus. Quando as pessoas que conheciam o cego maravilharam ao vê-lo curado, o
levaram às autoridades religiosas para saberem sua opinião a respeito da cura. Os
religiosos reagido com ira por ter ocorrido em dia de sábado. Eles levaram dúvidas
28
LOPES, Augustus Nicodemus. Pão da Vida. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=V_My-cEfqnQ>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
60
sobre a autoridade de Jesus ter vindo de Deus pelo fato de ter curado em dia de
sábado. Os fariseus resolveram investigar a vida do rapaz e convocaram seus pais
para testemunharem sobre sua cegueira. Os pais confirmaram que era seu filho e
havia nascido cego. Porém, não quiseram se comprometer quando lhes fora
perguntado quem recuperou a sua visão, preferindo dizer que perguntasse
diretamente ao filho. O rapaz, ao ser interrogado, confessou publicamente a Jesus,
dizendo: “Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ser feito”. Com essa
resposta foi o cego expulso do templo.
Jesus, ao saber que o cego que havia curado foi expulso, ao encontrá-lo
perguntou-lhe se cria no Filho do Homem. Tendo perguntado quem seria para que
nele cresse, Jesus disse que era quem estava falando com ele. Respondendo em
seguida o rapaz e admitindo a sua fé, disse que sim e o adorou. Prossegue Jesus
dizendo: “Eu vim a este mundo para juízo; a fim de que os que não veem vejam, e os
que veem se tornem cegos”. Ocorreu o milagre da conversão.
João explica a incredulidade dos judeus com o cumprimento da profecia de
Isaías quando diz: “Quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço
do Senhor?” e “Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam
com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim
curados” (Jo. 12.37-40).
A ressurreição de Lázaro (Jo. 11.1-46). Jesus recebeu o comunicado, por
um mensageiro, das irmãs Maria e Marta da doença de Lázaro. Ele, porém, resolveu
permanecer mais dois dias onde estava para atender ao chamado de ajuda. Jesus
informou aos seus discípulos que a situação de Lázaro era para demonstrar a glória
de Deus, para que o Filho fosse glorificado por intermédio dele. O Mestre era amigo
íntimo dos irmãos e os amava, mas, mesmo assim, aguarda dois dias do chamado
para seguir viagem à casa da família. Jesus sabia que Lázaro havia morrido. Ele disse
aos seus discípulos que ele dormia e que iria à Betânia para despertá-lo, mas depois
anuncia claramente que ele havia morrido. Quando Jesus chegou à casa das irmãs,
encontrou Lázaro sepultado há quatro dias. Marta foi ao seu encontro demonstrando
muita tristeza pelo acontecimento. Ela disse a Jesus: “Senhor, se estiveras aqui, não
teria morrido meu irmão”. Em seguida, ela mostra a sua fé em Jesus ao dizer: “Mas
também sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá”.
Jesus confirmando a sua fé lhe respondeu: “Teu irmão há de ressurgir”. Entretanto,
Marta entendeu que Jesus se referia a ressurreição dos mortos. Marta chamou Maria
61
avisando que Jesus havia chegado e foram até o túmulo. Jesus, ao se aproximar,
sentiu grande comoção chegando a se angustiar. “Jesus chorou”. Depois ordenou que
retirassem a pedra. Marta reagiu dizendo que ele já estava morto há quatro dias e
cheirava mal. Jesus repreendendo-a fazendo-a lembrar que se cresse veria a glória
de Deus. Jesus faz uma oração de agradecimento ao Pai relatando seu consentimento
no atendimento ao pedido para que Lázaro voltasse à vida. Isso ele fez para que tudo
fosse compreendido como em conformidade com a vontade de seu Pai. Ele clamou
em alta voz: “Lázaro, vem para fora!” Imediatamente, ele saiu com as mãos e pés
amarrados e coberto com um lençol.
Kistemaker, ao comentar sobre a ressurreição de Lázaro, diz:
Jesus com esse sinal revelou a sua messianidade e ser ele a ressurreição
e a vida. Quem deposita a sua fé nele, mesmo que morra viverá. Ao falar com o seu
Pai, a sua intenção era para que as pessoas cressem que o Pai o enviou. Muitos
judeus ali presentes, ao testemunharem o milagre, creram em Jesus Cristo.
Quanto a cura de um paralítico em Cafarnaum (Mt 9.2-8), Jesus, ao ver a
fé dos quatro homens que desceu o paralítico deitado no leito em sua frente, disse:
“Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados”. Ele, com essas palavras,
queria dizer ao paralítico que ele cuidaria tanto da alma como de seu corpo. Os
fariseus não aceitaram essas palavras de Jesus. Ele, conhecendo seus pensamentos,
disse-lhes: “Por que cogitas o mal em vosso coração? Pois qual é mais fácil? Dizer:
Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?”
Para os fariseus, só Deus tinha esse poder de perdoar os pecados. Eles
não criam em Jesus como Deus. Jesus, para mostrar seu poder-autoridade como Filho
do Homem, disse-lhes: “Ora, para que saibas que o Filho do Homem tem sobre a terra
autoridade para perdoar pecados – disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o teu
leito e vai para tua casa”. O homem levantou-se, enrolou o seu leito e saiu – não
29
KISTEMAKER, Os milagres de Jesus, p. 45.
62
esquecendo de agradecer e de glorificar a Deus. A multidão, possuída de temor,
glorificou a Deus. Jesus mostrou para todos os presentes seu poder-autoridade tanto
de perdoar pecados quanto de curar os enfermos.
Muitos outros milagres Jesus realizou para a glória de Deus. O que se
percebe, entretanto, é que a grande maioria dos milagres era muito mais do que
simplesmente a concessão de algum benefício particular a uma pessoa ou algum
grupo. Os milagres de Cristo apontavam para sua missão como Salvador. Cada
milagre pode ser relacionado com algum aspecto de sua obra salvífica. Por esse
motivo, os milagres são chamados de “sinais”. Eles apontam para a maior e mais
miraculosa obra que Jesus realiza: a salvação dos pecadores.
É importante deixar claro que Deus continua trabalhando no mundo
sobrenaturalmente. Ele continua curando às pessoas em respostas à oração da igreja
(crentes em geral) e não de indivíduos dotados de dons sobrenaturais, como
acontecia na época dos apóstolos, que eram capacitados por Deus para isso. Esse
tipo de cura anunciada pelos curandeiros da fé é de caráter totalmente duvidoso. É
realizada em meio às multidões sem possibilidade de comprovação, quanto a
existência da doença da pessoa e nem da própria cura. Essas curas apresentadas,
nada se assemelham com as curas registradas na Bíblia Sagrada, que eram
enfermidades de conhecimento de todos no local, havendo comprovação de imediato
do milagre.
O versículo usado pelos teólogos da prosperidade, justificando que o
cristão não deve ficar doente e nem se conformar com a doença, pois Cristo tomou
sobre si as nossas enfermidades (Is. 53.4), devendo repreender e não aceitar nenhum
tipo de enfermidade, é passível de devida compreensão de seu verdadeiro significado
como profecia messiânica. Os versículos 4 a 6 do capítulo 53 do Livro de Isaías
explicam a natureza e o propósito do sofrimento do Servo. Quando o profeta faz
menção que o Servo tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores,
devemos entender que ele está falando de nossas “transgressões” e “iniquidades”.
Foi exatamente o que Pedro entendeu quando disse “carregando ele mesmo em seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados,
vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1Pe. 2.24). Jesus carregou
sobre seus ombros todo o pecado da humanidade fazendo com que a ira de Deus
fosse derramada sobre Ele. O Servo foi traspassado pelas nossas transgressões e
moído pelas nossas iniquidades. Ele (Jesus) assumiu toda a nossa culpa, tornando-
63
nos justos diante do Pai.
Em nenhum momento, esse versículo fala que o cristão não deve aceitar a
doença, não deve ficar doente ou mesmo que deve repreender a doença. Ele não
deixa margem para acusação de não houve cura é devido à falta de fé ou por haver
pecado envolvido, como fazem os líderes da confissão positiva como os líderes da
confissão positiva. A Bíblia registra que muitos homens de Deus sofriam de
enfermidades. O Apóstolo Paulo é um exemplo. Ele sofria de um espinho na carne.
Mesmo com orações e súplicas, não foi curado (2Co. 12.7-9).
Hoekema faz o seguinte esclarecimento com relação aos sofrimentos que
ainda acontecem na vida de cristãos:
30
HOEKEMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 88.
31
LOPES, Augustus Nicodemus. Crente fica doente? Disponível em: <http://tempora-
mores.blogspot.com/2008/11/crente-fica-doente.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
64
abundante que chega a ser mais do que era de se esperar ou antecipar”.
Considerando o significado, Jesus nos promete uma vida muito além daquilo que
poderíamos idealizar.
Ao contrário daqueles que tomam o bem alheio de forma indevida
(mercenários), Jesus promete a vida abundante para aqueles que nele creem. Esta
vida não consiste em algo físico, material, riquezas de bens, status econômicos e
prosperidade financeira. Ela consiste no bem muito maior. É algo sublime e glorioso:
que é a Vida Eterna – uma vida de conhecimento e comunhão sem fim com Deus.
Tomamos posse dessa vida no momento que é implantada uma nova vida em nós,
como já foi explicado no capítulo anterior, quando recebemos o Senhor Jesus, como
nosso Salvador. A partir desse momento, já podemos desfrutar da Vida Eterna. Não
em sua plenitude, pois a vida plena somente é possível quando estivermos na glória
com Deus, com nossos corpos transformados, no estado eterno. Entretanto, já
podemos usufruir da alegria da salvação através do conhecimento do nosso Deus,
que se revela a nós, através de seu Filho, Jesus Cristo: “E a vida eterna é esta: que
te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro; e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo.
17.3).
O prazer de adorar é um dos efeitos da vida em abundância. John Piper
comenta sobre a marca de adoração da vida em abundância:
32
PIPER, John. Teologia da alegria. São Paulo: Shedd, 2001, p. 67-68.
65
referindo aos milagres físicos que havia feito em seu ministério terreno, como os
proponentes da prosperidade sugerem. A referência é sobre toda a sua obra terrena
de salvação de pecadores através da pregação do Evangelho. Os discípulos,
certamente, suplantaram. Eles expandiram o Reino de Deus pela pregação do
Evangelho, por meio do Espírito Santo, em várias regiões do mundo, conforme
apresenta o livro de Atos. Isso podemos perceber ser verdade, pois a história da igreja
não registra ninguém após o período dos apóstolos que teve ou tenha dom miraculoso
de operação de milagres. Não significando com isso, que não exista mais milagres
nos dias atuais. Deus continua operando milagres de forma sobrenatural por meio da
oração da igreja, conforme a Sua soberana vontade.
Augustus Nicodemus, com relação a esse texto bíblico, refutando a opinião
popular mais aceita pela maioria dos evangélicos, diz o seguinte:
O dito de Jesus, portanto, não está prometendo que qualquer crente que
tenha fé suficiente será capaz de realizar os mesmos milagres que Jesus
realizou e ainda maiores – A Escritura, a História e a realidade cotidiana estão
aí para contestar esta interpretação – e sim que a igreja seria capaz de
avançar o Reino de Deus de uma forma que em muito suplantaria o que Jesus
fez em seu ministério terreno. Os milagres certamente estariam e estão
presentes, não como algo que sempre deve acontecer, dependendo da fé de
alguns, e não por mãos de pretensos apóstolos e obreiros superpoderosos,
mas como resposta do Cristo exaltado e glorificado às orações do seu povo.34
No que diz respeito ao Salmo 82.6, “Eu disse: sois deuses, sois todos filhos
do Altíssimo”, diz respeito às autoridades e aos juízes desse mundo que devem ser
imparciais e justos na hora de exercerem as suas atividades, pois um dia irão prestar
contas ao Deus supremo. Deus escolhe pessoas para assumirem posição de
autoridade. Elas pessoas devem agir como seus representantes aqui na terra sendo
imparciais e justos, porque também, como mortais, vão ser julgados um dia pelo Juiz
33
LOPES, Augustus Nicodemus. Se eu tiver fé, poderei fazer mais milagres do que Jesus? Ditos
difíceis de de Jesus – IV. Disponível: <http://tempora-mores.blogspot.com/2012/08/se-eu-tiver-fe-
poderei-fazer-mais.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
34
Ibidem.
66
Maior. Jesus também cita esse Salmo em João 10.34, quando os judeus o acusaram
de blasfêmia por ele se intitular Filho de Deus. Ele faz lembrar aos judeus ímpios que
a Lei se refere a homens comuns quando diz “sois deuses”. Embora nomeados para
exercerem autoridades aqui na terra, quanto mais a Ele que foi escolhido e enviado
pelo Pai que o santificou para realizar tais obras.
João Calvino, ao tratar sobre o assunto, diz: “Deus investiu os juízes com
um caráter e título sacros... mas, ao mesmo tempo, ele mostra que tal coisa não
proporcionará nenhum apoio e proteção aos juízes ímpios.”35 Para Hendriksen, seria
como Jesus dissesse:
Vocês nunca protestaram quanto ao uso desse termo. Vocês nunca disseram
que Deus (ou asafe) cometeram um erro ao chamar os juízes deuses. (...)
Então muito mais ainda (...) vocês deveriam se abster de protestar quando
me denomino Filho de Deus.36
35
CALVINO, João. O livro dos Salmos: salmos 69-106. São Paulo: Edições Parakletos, 2002, p. 300.
36
HENDRILSEN, Comentário do Novo Testamento: João, p.484.
67
3 A VIDA NO PORVIR DENTRO DA PERSPECTIVA TEOLÓGICA
A Palavra de Deus deixa claro que a segunda Vinda de Cristo será física,
visível e gloriosa: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como
o vistes (At. 1.11). Jesus retornará visivelmente nas nuvens com todo poder e glória,
em um único evento, completando o último evento redentivo (Ap. 1.7). Nessa Segunda
vinda de Jesus, ele virá para resgatar o seu povo. Ele trará consigo os seus eleitos,
que já se encontram com ele no céu, para que possa unir ao seu corpo para ser
ressuscitado no momento do arrebatamento (1Ts. 3.13; 4.14). Os que Jesus vem
trazendo com ele, ressuscitarão primeiro (1Ts. 4.13-17).
Embora a Bíblia informe que a vinda de Cristo será precedida por vários
sinais, ela também ensina que sua vinda será repentina e inconfundível. Os sinais
mostram que o tempo está próximo, mas o dia exato não podemos precisar. Contudo,
os cristãos verdadeiros aguardam com muito expectativa e alegria no coração por
esse grande dia: o Dia da volta do Senhor! Ele é a nossa esperança do cumprimento
de todas as suas promessas. Jesus virá para libertar o seu povo de toda opressão,
angústia, jugo, perseguição e injustiça sofrida na grande tribulação.
A grande tribulação acontecerá antes da vinda de Jesus e o cristão estará
presente enfrentando esses dias tão difíceis e de grande violência que antecede a sua
vinda. Dias esses, que jamais o mundo experimentou algo semelhante desde o
princípio, conforme a Escritura menciona: “Porque nesse tempo haverá grande
tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá
jamais. Não tivesse aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo, mas, por
causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados” (Mt. 24.21-22).
Os dias foram abreviados pela misericórdia de Deus para com seu povo
devido a grande pressão do inimigo para ludibriar os seus eleitos. É, quando,
repentinamente o céu se abre e aparece um cavaleiro num cavalo branco, cujo nome
é Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça (Ap. 19.11-16). É o Senhor Jesus com
todo os seus exércitos que saem com todo o poder e glória para pelejar contra o seu
inimigo. Essa batalha espiritual já foi vencida em sua primeira vinda na Terra, porém
falta ser consumada nessa Segunda vinda. Jesus além de vir pronto para guerrear na
batalha final, vem também como Juiz para julgar com justiça e destruir todos os seus
69
inimigos, conforme comenta Kistemaker:
Cristo também aparece como Juiz, pois “ele julga com justiça e faz guerra”.
No início desse conflito, ele é identificado como o Juiz. Ao travar guerra contra
o seu inimigo, ele administra a justiça que resulta em total destruição dos seus
inimigos. Deus ordenou que o julgamento divino anteceda a vitória, com a
certeza de que a justiça inevitavelmente triunfará.1
Assim, o Senhor Jesus derrota o seu inimigo (Ap. 19.17-18). Ele chega ao seu
ponto culminante com a derrota da besta e do falso profeta e seus seguidores (Ap.
19.19-21). Cumprindo como Fiel e Verdadeiro, a promessa de punir os ímpios e
vindicar o seu nome aos seus seguidores. Com relação a essa vindicação, Beale tese
o seguinte comentário:
A morte vem para os cristãos não como meio de punição pelos nossos
pecados, pois Cristo já pagou por eles, como está escrito em Romanos: “agora, já não
há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8.1). Ela vem pelo fato de
vivermos em um mundo decaído, onde não foram removidos os efeitos do pecado.
1
KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2014,
p. 675-677.
2
BEALE, G. K. Brado de vitória. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 390.
70
Sendo assim, por vivermos em um mundo resultante da queda, somos submetidos às
doenças, ao envelhecimento, aos desastres naturais, bem como as tragédias desse
mundo. Aguardamos a volta de Cristo para que o último inimigo seja destruído e
podermos, assim, tomarmos posse de todos os benefícios da salvação que o nosso
Senhor Jesus conquistou para nós. O desejo de Deus, ao permitir a morte em nossa
vida, é que possamos nos tornar mais parecidos com Cristo. Contudo, é importante
que saibamos que a morte não é algo natural. Ela não faz parte do mundo bom criado
por Deus, por isso será destruída por Cristo (1Co. 15.26).
É na Segunda Vinda de Cristo que acontecerá a destruição do último
inimigo, que é a morte (1Co. 15.20). Cristo ressuscitará o nosso corpo dentre os
mortos e ele ficará igual ao seu corpo ressurreto (1Co. 15.23; 49; Fp. 3.21). É o Pai
que realizará essa obra por meio do Filho, a quem ele concedeu “ter vida em si
mesmo” (Jo. 5.26). A ressurreição se dará a todos os seres humanos: crentes e
descrentes. Embora a Escritura atribua essa ressurreição também à Cristo, quase não
é relatada na Bíblia, porque a ressurreição de Cristo não está relacionada diretamente
com a ressurreição dos crentes. Ela é completamente diferente.
Bavinck comenta sobre a necessidade da ressurreição dos mortos da
seguinte forma:
3
BAVINCK, Herman. Dogmática reformada - Espírito Santo, Igreja e nova criação. São Paulo: 2012, v.
4, p. 701.
71
Paulo faz uma explanação minuciosa e gloriosa sobre como se dará a
nossa ressurreição. Cristo nos dará novos corpos para que fiquemos parecidos com
ele. Com o corpo igual ao dele, incorruptível, passaremos a vê-lo como ele é – sem
os olhos sob o efeito do pecado que temos hoje por vivermos num mundo decaído,
afetado pela Queda. O novo corpo será adequado para vivermos ao seu lado e em
plena comunhão com Deus na cidade santa que ele está preparando para nós.
Wayne Grudem faz o seguinte comentário sobre a Glorificação:
Deus não deixará nosso corpo morto na sepultura para sempre. Quando
Cristo nos redimiu, ele não redimiu apenas nosso espírito (ou alma) – ele nos
redimiu como pessoas completas, e isso inclui a redenção de nosso corpo.
Portanto, a aplicação da obra redentora de Cristo a nós não será completa
até que nosso corpo seja inteiramente liberto dos efeitos da queda e trazido
ao estado de perfeição para o qual Deus o criou. De fato, a presente, Paulo
diz que esperamos pela “redenção do nosso corpo” e então acrescenta: “Pois
nessa esperança fomos salvos” (Rm 8.23,24). O estágio da aplicação da
redenção em que receberemos por fim o corpo ressuscitado é chamado de
glorificação. Referindo-se àquele dia futuro, Paulo diz que participaremos da
glória de Cristo (cf. Rm 8.17). Além disso, quando Paulo traça os passos na
aplicação da redenção, o último que menciona é a glorificação: “E aos que
predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que
justificou, também glorificou (Rm 8.30).4
4
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 450.
72
serão arrebatados para o encontro com Senhor nos ares.
Berkhof, a respeito da ressurreição geral, faz o seguinte comentário:
5
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 1636-1637.
73
pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o
Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados segundo as suas obras, conforme
o que se achava escrito nos livros” (Ap. 20.12). Ali será feita a separação das ovelhas
e dos cabritos. Conforme o Evangelho de Mateus, as ovelhas ficarão à direita e os
cabritos à esquerda: “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os
anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória: e todas as nações serão
reunidas em sua presença, e ele separará um dos outros, como o pastor separa dos
cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda” (Mt.
25.31-33).
O propósito do Juízo final se dará pelo fato da Queda de nossos primeiros
pais, tendo Deus decretado a sua sentença de morte, embora não tenham sido mortos
fisicamente de imediato, mas morreram espiritualmente instantaneamente. E, anos
depois, a morte física entrou no mundo também.
A Bíblia diz que Cristo será auxiliado pelos anjos e pelos eleitos glorificados
em sua atividade julgadora. Todavia, não sabemos qual será a nossa participação
nesse juízo de julgar todas as pessoas e anjos rebeldes (1Co. 6.2-3; Ap. 20.4).
Entretanto, o seu Juízo será justo e nada ficará oculto diante de suas vistas: “Nada há
oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido que não venha a ser conhecido
e revelado” (Lc. 8.17). Cada um ouvirá do supremo Juiz todos os seus feitos – bons e
ruins durante a sua vida na terra sem ter necessidade de defesa ou acusação, pois
todos os seus atos estarão inscritos nos livros que serão abertos no Dia do
Julgamento. No final da leitura, o Juiz dará a sentença a todos que estarão a sua
frente em pé diante do trono.
Contudo, não entrarão como base desse julgamento as obras de cada um
aqui na terra, pois estas farão parte das recompensas aos salvos que mais se
dedicaram em fazer a vontade de Deus aqui na terra (Mt. 5.12; 6.1). O que será levado
em consideração é o “Livro da Vida” – se o nome consta ou não incluído no livro: “E,
se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do
lago de fogo” (Ap. 20.15). Nesse julgamento, será considerada além da eleição a obra
redentora de Cristo, onde ele cumpre a sua promessa de redimir todo aquele que nele
crê, como explica Leandro Lima:
74
condenado por ele. Assim, as pessoas que creem são as que têm o nome
escrito no livro da vida. No dia do Juízo Final, o livro da vida é aberto e quem
tem o nome inscrito nele vai habitar os novos céus e a nova terra. Quem não
tem o nome inscrito, será lançado no lago de fogo, que é o inferno definitivo.
No Juízo Final, todos já chegam com o destino eterno determinado, pois já
houve um pré-julgamento em vida, quando aceitaram ou recusaram a
salvação em Jesus Cristo. A Bíblia deixa isso bem claro: “Quem nele crê não
é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do
unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). Isso quer dizer que o julgamento final é
mais uma questão de pôr as coisas em pratos limpos do que, propriamente
dito, decidir sobre a salvação das pessoas. O Juízo Final é absolutamente
necessário por uma questão de justiça. É o momento sublime, quando a
ordem do universo for restaurada, e todo mal for punido de modo público e
definitivo.” 6
Os crentes que têm os seus nomes no Livro da Vida, Cristo perdoou seus
pecados, mesmo cada um sendo responsável por suas ações pecaminosas. Enquanto
os que rejeitaram Cristo, terão que responder pelos seus pecados sem a presença do
único que poderia redimi-los, que é o próprio Senhor Jesus. Em Apocalipse, João
afirma que “adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não
foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo
(Ap. 13.8).
Kistemaker, sobre o Livro da Vida, faz o seguinte comentário:
Esse livro pertence ao Cordeiro, o qual morreu por todos que tiveram seus
nomes registrados nele. Essas pessoas pertencem a ele desde o momento
da criação. Portanto, ele as protege e livra do maligno. Ele já deu a certeza
solene de que nunca apagará seus nomes desse livro (3.5). João usa o
substantivo nome e o verbo escrito no singular para indicar que ele não está
se referindo ao grupo como um todo, mas ao crente individual que recebe a
certeza de que é um filho de Deus. Os incrédulos, aqueles que rejeitam a
Palavra de Deus e o testemunho de Jesus, nunca tiveram seus nomes
registrados no livro da vida. São os seguidores da besta e o adoram, em vez
de adorarem o Senhor dos senhores e Rei dos reis. Assim, são os seguidores
do diabo, de cujo destino final compartilham (20.10,15). Os nomes dos
crentes, entretanto, já estão registrados no livro da vida do Cordeiro desde a
eternidade”.7
Muitos nesse mundo vivem iludidos com a ideia que Deus, no final, salvará
a todos. Usam como argumento que Deus é essencialmente “amor”. Como o amor
sempre prevalece, Deus irá salvar todas as pessoas da condenação de seus pecados,
pensam seus defensores. Essas pessoas que defendem tal doutrina, são chamadas
6
LIMA, Leandro Antonio de. Razão da Esperança. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 628.
7
KISTEMAKER, Comentário do Novo Testamento: Apocalipse, p. 498.
75
de “universalistas”. Essa doutrina é considerada anticristã, pois não encontra base nas
Escrituras Sagradas. A doutrina universalista não foi criada recentemente. Ela foi
introduzida pelos gnósticos no primeiro século da era cristã, tendo influenciado alguns
dos pais da igreja primitiva. Sua influência foi tão marcante a ponto de ameaçar o
cristianismo naquela época.
Segundo o editor da Revista Ultimato, Éber Lens César, Orígenes, um dos
pais da igreja, defendia o universalismo, chegando até a declarar que o diabo, no final,
seria perdoado e salvo:
8
CÉSAR, Éber Lens. Não ao universalismo. Disponível em:
<https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/287/nao-ao-universalismo>. Acesso em 30 de dez.
2018.
9
LOPES, Augustus Nicodemus. Todos serão salvos no final? Disponível em:
<https://bereianos.blogspot.com/2013/11/todos-serao-salvos-no-final.html>. Acesso em: 30 de dez.
76
3.4.1 Destinos dos Salvos
2018.
77
Esse lugar glorioso foi visualizado na visão de João: “Vi novo céu e nova terra, pois o
primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap. 21.1).
Não parece haver mais razões para presumir-se que o fogo de que se fala
nas Escrituras será um fogo literal, como o verme que nunca morrer deve ser
um verme literal. O diabo e seus anjos, que devem sofrer a vingança do fogo
eterno, e de cuja condenação os finalmente impenitentes participarão, não
têm corpos materiais que possam receber a ação do fogo elementar. Da
mesma forma que haverá graus de glória e bem-aventurança no céu, como
ensina nosso Senhor na parábola dos dez talentos, também haverá
diferenças de grau nos sofrimentos dos perdidos: alguns serão açoitados com
poucos açoites, outros, com muitos. 10
10
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 1657.
78
O ensino bíblico sobre o inferno nos mostra que ele é um lugar real, pois é
o lugar onde Jesus afirma que algumas pessoas “vão para lá” (os perdidos). O Novo
Testamento usa a palavra grega “Hades” para designar o inferno. Geena era uma
referência de um lugar chamado “Vale de Hinon”. Era localizado na parte sul de
Jerusalém, onde os judeus apóstatas sacrificavam seus filhos ao deus pagão
Moloque. Assim, veio a ser denominado como o lugar do juízo de Deus – lugar
destinados aos ímpios que vão para o Lago de Fogo. Era o pior lugar que poderia se
imaginar de alguém ir. Um lugar de grande e permanente tormento, onde a ira de Deus
estaria eternamente naquele local: “Estes sofrerão penalidade de eterna destruição,
banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2Ts. 1.9).11
O Lago de Fogo é o lugar para todos aqueles que não estão ligados em
Cristo. É onde a pessoa ficará eternamente atormentada pelo fogo inextinguível e
consciente, sob a ira de Deus. As pessoas que ali estarão não terão jamais a
misericórdia e o amor de Deus. Elas apenas terão a sua ira do fogo consumidor. Isso
porque se recusaram a receber Cristo como seu Salvador e preferiram amar o mundo
e viver no pecado. O próprio Jesus reconheceu que o Lago de Fogo foi preparado
para o “Diabo e seus anjos” (Mt. 25.41). Pela responsabilidade das pessoas em
permanecer sem aquele que poderia redimi-los, que é o Senhor Jesus, elas foram
incluídas junto com os outros no Lago de Fogo: “Também esse beberá do vinho da
cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com
fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu
tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não tem descanso algum, nem de dia nem
de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca
do seu nome” (Ap. 14.10-11).
Atualmente, encontram-se no inferno, no lugar temporário, todos aqueles
que morreram sem Cristo, com exceção de Satanás e seus demônios que se
encontram na terra. Estes vão direto para o lugar definitivo. Os que morreram sem
Cristo, que estão no estado intermediário (inferno), estão aguardando a sentença do
Juízo Final para serem lançados, já com seu corpo ressuscitado, no lugar definitivo,
que é o lago de fogo, juntamente com o diabo e seus anjos, a besta e o falso profeta.
Serão lançados vivos no lago de fogo para sofrerem o tormento da ira de Deus.
11
SMITH, William. Hinnom. Disponível em: <https://www.biblestudytools.com/dictionaries/smiths-
bible-dictionary/hinnom.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
79
Kistemaker, a respeito desse fato, comenta:
Agora, a besta e o falso profeta são capturados. Embora João não forneça
detalhes da prisão, o verbo capturar pode ser interpretado como alguém
lançado mão deles à força. Eles são presos por causa das astúcias que
usaram para enganar as multidões na face da terra. O falso profeta exibiu
milagres para aqueles homens, mulheres e crianças adorarem o Anticristo e,
como seus fiéis servos, prestaram reverência a ele. A besta que saiu do mar
tem poder político sobre a massa da humanidade; e a besta que saiu da terra
detém o poder filosófico sobre a mente humana.12
Embora não saibamos como isso será realizado, pois não temos
capacidade de avaliar como será um corpo na ressurreição ou como se dará esse
processo de restauração no universo, cremos que Deus tem um propósito para nossa
vida. E não somente para a nossa alma, mas também para o nosso corpo, pois somos
um ser integral. Deus sempre se preocupou com a sua Criação. A sua promessa será
cumprida nos mínimos detalhes. Ele retirará todos os efeitos do pecado e toda ação
maligna do diabo e seus anjos. Toda a Terra será transformada (2Pe. 3.7). Tudo será
transformado num lugar de glória e perfeição, porque todo mal terá sido destruído. Os
redimidos não terão outro desejo senão fazer a vontade de Deus.
Enfim, estaremos em nosso verdadeiro lar, pois aqui não passamos de
12
KISTOMALER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse, p. 686.
80
peregrinos e estrangeiros (Hb. 11.8-10; 13.16). Quão grandioso será o dia que
chegarmos na cidade santa e nos encontrarmos com o nosso Deus e com toda a
família de fé! Deus cumprirá sua promessa de restaurar a Terra que ele criou para que
Cristo seja glorificado. A terra será elevada em uma glória ainda mais alta. Tudo será
feito para Ele e para aqueles que estão em Cristo.
Bavinck, com relação a transformação da Terra, faz o seguinte comentário:
O Céu, assim como a Terra, será renovado em Cristo, como diz Paulo na
Carta aos Colossenses: “Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre
a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados,
quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl. 1.16). Com a rebelião
no Céu, houve a queda de Satanás e seus anjos. Com a queda do ser humano, a
Terra também foi afetada. Quando o Tabernáculo de Deus descer do Céu para habitar
na Terra (Ap. 21.1-2), a Terra deverá estar limpa e renovada para que a justiça de
Deus possa habitar nela. Todo o efeito do pecado será destruído.
Leandro Lima faz o seguinte comentário com relação a renovação do Céu:
Mas certamente, a principal razão para a renovação do próprio céu tem a ver
com a disposição de Deus de estar perto do ser humano. Quando João viu
os novos céus e a nova terra, viu descendo do céu a cidade santa, a nova
Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva
adornada para o seu esposo (Ap 21.2). Seja qual for o significado dessa cena,
ela fala-nos do relacionamento pessoal que Deus deseja manter com o seu
povo, pois uma voz vinda do trono exclamou: “Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus
mesmo estará com eles” (Ap 21.3). Nos novos céus e nova terra, não haverá
separação entre o céu, a habitação de Deus (1Rs 8.30, Is 66.1), e a terra, a
habitação dos seres humanos. Na nova Terra, não haverá a necessidade de
santuários, conforme João diz: “Nela, não vi santuário, porque o seu santuário
é o Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. A cidade não precisa nem
de sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou,
e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.22,23). A presença plena de Deus na
terra mostra que os céus têm vindo à terra. Terra e céus passaram a estar
13
BAVINCK, Herman. Dogmática reformada - Espírito Santo, Igreja e nova criação. São Paulo: Cultura
Cristã, 2012, v. 4, p. 726.
81
interligados.14
14
LIMA, Razão da Esperança, p. 639-640.
82
A recompensa dos justos é descrita como vida eterna, isto é, não apenas uma
vida sem fim, mas a vida em toda a sua plenitude, sem nenhuma das
imperfeições e dos distúrbios da presente vida, Mt 25.46; Rm 2.7. A plenitude
dessa vida é desfrutada na comunhão com Deus, o que é realmente a
essência da vida eterna (Ap 21.3). Eles verão a Deus em Jesus Cristo face a
face, encontrarão plena satisfação nele, alegrar-se-ão nele e O glorificarão.
Contudo, não devemos pensar que as alegrias do céu são exclusivamente
espirituais. Haverá alguma coisa correspondente ao corpo. Haverá
reconhecimento e relações sociais num plano elevado. Também, é evidente
na Escritura que haverá graus na bem-aventurança do céu, Dn 12.3; 2Co 9.6.
Nossas boas obras serão a medida da recompensa que receberemos pela
graça, embora elas não a mereçam. Apesar disso, porém, a alegria de cada
indivíduo será perfeita e completa.15
15
BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 679.
16
KISTEMAKER, Comentário do Novo Testamento: Apocalipse, p. 757.
83
de Cristo que foi derramado, expiando todo o pecado dos eleitos de Deus. Ninguém
poderá condená-los. Com os corpos ressuscitados incorruptíveis, os crentes podem
contemplar todo o esplendor da glória na face de Deus, pois passam a ter corpos
espirituais iguais ao corpo de Cristo na ressurreição. É a vida perpétua de prazer em
comunhão e intimidade com o Deus trino, como Leandro Lima expõe:
17
LIMA, Razão da Esperança, p. 641.
84
4 APLICAÇÃO PARA A IGREJA
Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem
depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que
em tudo nos proporciona, que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras,
generosos em dar e prontos a repartir, que acumulem para si mesmo
tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da
verdadeira vida (1Tm 6.17-19).
88
CONSIDERAÇÕES FINAIS
1
RYLE, J. C. Santidade. São José dos Campos: Fiel, 2016, p. 376.
90
as suas lâmpadas, saíram para se encontrar com noivo. Sendo que cinco eram
prudentes, levaram azeite; mas as outras cinco eram néscias, não levaram o azeite.
Tendo o noivo demorado, acabaram adormecendo. Quando o Senhor retornou, as
prudentes estavam com seus azeites preparados e com suas lâmpadas acesas,
enquanto as néscias foram comprar o azeite para acender as suas lâmpadas para
irem ter com seu noivo. As néscias, ao voltarem, encontraram a porta fechada e
ficaram de fora. Não adiantou bater e gritar: Senhor, Senhor, abre-nos! Pois a porta
não se abre. Uma voz diz: “Em verdade vos digo que não vos conheço” (Mt. 25.1-13).
Essa parábola nos ensina que precisamos nos manter vigilantes com a nossa vida
espiritual, pois não sabemos nem o dia e nem a hora que Jesus virá. Mas Ele virá!
Jesus nos alerta sobre a sua vinda quando diz: “Pois assim como foi nos dias de Noé,
também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores,
ao dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que
Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a
todos, assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mt. 24.37-39).
Para os crentes que se mantém com a chama acesa, aguardando a volta
do seu Senhor, estes serão recompensados com a vida eterna. Certamente, para
estes, será uma grande festa, pois todo o sofrimento, dor, angústia, tristeza, opressão,
injustiça, maldição e efeitos do pecado acabam nessa hora. A parábola das dez
virgens aponta para a união de Jesus com a humanidade na prática da justiça.
Enquanto uns se mantém pacientes vigilantes, outros vivem despreocupados ou
acomodados esquecendo o azeite, ou seja, omissos na prática da justiça. Essa
parábola das dez virgens é parte integrante do discurso escatológico de Jesus,
juntamente com a parábola da figueira (Mt. 24.32-44), do bom servo e do mau (Mt.
24.45-51) e a parábola dos talentos (Mt. 25.14-30). Todas essas parábolas se referem
a um alerta à vigilância e apontam para a esperança da volta de Jesus, como Pedro
diz: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos
quais habita justiça” (2Pe. 3.13).
Para quem vive a fé em Cristo não há demora ou atraso na volta de Jesus.
Assim como o evangelista Mateus não fazia especulação sobre o dia e hora da volta
de Jesus, também não devemos querer saber o dia exato de sua segunda vinda. A
nossa expectativa é de vivermos em santidade, em sincero arrependimento pelos
nossos pecados, buscando a cada dia o conhecimento de Sua Palavra e uma
comunhão constante com Deus e aplicando os ensinamentos de Cristo. Agindo assim,
91
viveremos vigilantes para a volta de Cristo. Este é o azeite/óleo que Jesus estava se
referindo na parábola das dez virgens. As pessoas que vivem preocupadas somente
em desfrutar da vida de prazer que o mundo oferece não terão o azeite necessário
para ir ao encontro de Cristo e entrar no gozo do seu Senhor no estado eterno. Elas
não terão a oportunidade de conhecer as insondáveis riquezas de Cristo que
incomparavelmente é mais prazerosa do que as riquezas terrenas que o mundo
apresenta. As riquezas de Cristo nenhuma mente é capaz de conceber e ninguém é
capaz de expressar com sua boca. Mas são riquezas que nos completam em todos
os sentidos de nossa vida, suprindo todas as nossas necessidades, pois Cristo é
suficiente em tudo. É dessa riqueza que Paulo se referiu, quando disse: “A mim, o
menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho
das insondáveis riquezas de Cristo (Ef. 3.8).
Concluo esse estudo apresentando um pequeno comentário de J. C. Ryle,
onde ele declara que “Cristo é tudo em nós” (Cl. 3.11) e, também, “Cristo será tudo no
Céu”:
2
RYLE, Santidade, p. 396-397.
92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_____. Dogmática reformada - Espírito Santo, Igreja e nova criação. São Paulo: 2012.
V. 4.
BEEKE, Joel R. Vivendo para a glória de Deus. São José dos Campos: Fiel, 2010.
CALVINO, João. O livro dos Salmos: salmos 69-106. São Paulo: Edições Parakletos,
2002.
CAMPOS, Heber Carlos de. O ser de Deus e os seus atributos. São Paulo: Cultura
Cristã, 2012.
CAMPOS, Heber Carlos de. Ensaio das doutrinas da salvação e vida eterna, 2017.
HAGIN, Kenneth E. Jesus - a porta aberta. São Paulo: Graça editorial, 2000.
HAGIN JR., Kenneth. Voando como as Águias. São Paulo: Graça, 1999.
HOEKEMA, Anthony. Criados à imagem de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
_____. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2014.
LIMA, Leandro Antonio de. Aula EBD Santo Amaro. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=H-1LTITU4Gg>. Acesso em: 25 de nov. 2016.
_____. Leandro Antonio de. Razão da esperança. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
LIMA, Leandro; LIMA, Sérgio. A vida de Jesus. São Paulo: Agathos, 2014.
LOPES, Augustus Nicodemus. O que estão fazendo com a Igreja. São Paulo: Mundo
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