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CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW

JUMPER

MDiv. ESTUDOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS

A VIDA ETERNA COM DEUS:


UMA RECOMPENSA PARA OS JUSTOS EM CRISTO

POR

MARIZA DE NAZARÉ DOS SANTOS TAVARES DE SOUZA

ORIENTADOR: PROF. DR. LEANDRO ANTONIO DE LIMA

SÃO PAULO
2018
MARIZA DE NAZARÉ DOS SANTOS TAVARES DE SOUZA

A VIDA ETERNA COM DEUS:


UMA RECOMPENSA PARA OS JUSTOS EM CRISTO

Monografia apresentada ao Centro Presbiteriano de Pós-


Graduação Andrew Jumper, sob a orientação do Prof. Dr.
Leandro Antonio de Lima, como parte dos requisitos da
disciplina de Metodologia do Trabalho Científico, entregue
como cumprimento parcial para obtenção do título de
mestre em Divindade em Estudos Históricos e Teológicos.

SÃO PAULO
2018
S729v Souza, Mariza de Nazaré dos Santos Tavares de.
A vida eterna com Deus : uma recompensa para os justos em
Cristo / Mariza de Nazaré dos Santos Tavares de Souza.
96 f. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Magister Divinitatis) – Universidade


Presbiteriana Mackenzie / Centro Presbiteriano de Pós-Graduação
Andrew Jumper, São Paulo, 2018.
Orientador: Leandro Antonio de Lima.
Referências bibliográficas: f. 93-96.

1. Teologia da prosperidade. 2. Tele-evangelistas. 3. Vida eterna.


4. Recompensa dos justos. I. Lima, Leandro Antonio de, orientador.
II. Título.

LC BR1644.5.B6

Bibliotecária Responsável: Andrea Alves de Andrade - CRB 8/9204


FOLHA DE APROVAÇÃO

MARIZA DE NAZARÉ DOS SANTOS TAVARES DE SOUZA

A VIDA ETERNA COM DEUS: UMA RECOMPENSA PARA OS JUSTOS


EM CRISTO

Tendo em vista que a Teologia da Prosperidade ou “confissão positiva” alastrou-se


pelo Brasil e, aparentemente, tem influenciado o meio evangélico de forma a deixar
de se preocupar com a necessidade e a importância da vida eterna prometida por
Deus para aqueles que estão em Cristo, apresentamos esse estudo com o objetivo
de demonstrar biblicamente e teologicamente a recompensa que Jesus Cristo oferece:
a vida eterna, que é muito maior e perpétua do que as coisas materiais propostas
pelos apregoadores da prosperidade.

CENTRO PRESBITERIANO DE PÓS-GRADUAÇÃO ANDREW JUMPER

MDiv EM ESTUDOS HISTÓRICOS E TEOLÓGICOS

DATA: ____/___________________/______

APROVAÇÃO: ________________________

____________________________________
Prof. Dr. LEANDRO ANTONIO DE LIMA
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu amado esposo Eloi Tavares de Souza, que
tem compartilhado comigo há 40 anos de todos os momentos de nossa vida. Estando
sempre ao meu lado me apoiando, incentivando, demonstrando compreensão, nas
muitas horas que passei estudando deixando-o sem minha companhia. Louvo ao
nosso bom e misericordioso Deus por sua vida, por ele ser um dedicado servo de
Deus, a quem tenho muito orgulho de ser sua esposa.
AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar ao meu soberano Deus Trino, que me


capacitou para que eu concluísse o MDiv, sem a sua capacitação e a iluminação de
seu Espírito seria totalmente impossível. Soli Deo Gloria!

Agradeço ao meu querido Orientador, Prof. Dr. Leandro Antonio de Lima,


por todo o seu empenho, dedicação, paciência, atenção e cuidado a mim conferidos,
na elaboração desse trabalho, não medindo esforços em sua orientação e avaliação.
Minha eterna gratidão.
RESUMO

O estudo procura mostrar, de uma perspectiva bíblico-teológica, qual é a


verdadeira e graciosa recompensa prometida por Deus ao seu povo, aos que creem
no Senhor Jesus. A recompensa é algo imensurável e perpétuo, não se comparando
em nada ao que é apregoado pelos defensores da teologia da prosperidade ou
confissão positiva das igrejas modernas, que no nosso entendimento não condiz com
os ensinamentos da Bíblia Sagrada. Neste trabalho procuramos confrontar com a
Escritura, os ensinamentos dos proponentes da doutrina da prosperidade, que tem se
alastrado em nosso País, avaliando o material Bíblico usado por eles. A nossa
conclusão é que, em sua maioria, usam os textos fora de seus contextos, com objetivo
de defender suas práticas e atrair pessoas para suas igrejas com ilusórias promessas
de cura e prosperidade financeira instantânea. Apresentamos a verdadeira
necessidade do cristão a qual não se restringe a essa vida material e passageira, mas
em desfrutar de uma vida de comunhão eterna com Deus, a qual já pode ser usufruída
desde agora através da fé. Esperamos com esse estudo, que os cristãos venham
refletir nos ensinamentos da Palavra de Deus, não se deixando levar por “nova”
doutrina, como orienta o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios : “para que não mais
sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo
vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”
(Ef 4.14).
ABSTRACT

The study seeks to show, from a biblical-theological perspective, what is the


true and gracious reward promised by God to his people, to those who believe in the
Lord Jesus. The reward is something immeasurable and perpetual, impossible to
compare to what is proclaimed by proponents of the theology of prosperity or positive
confession in the modern churches, which in our understanding, it does not fit the
teachings of the Holy Bible. In this work we seek to confront with Scripture the
teachings of the proponents of the doctrine of prosperity, which it has been spread in
our country. We evaluate the Biblical material used by them. Our conclusion is that
they mostly use the texts without considering their contexts in order to defend their
practices and attract people to their churches with illusory promises of healing and
instant financial prosperity. We present the true need of the Christian who is not
restricted to this material and fleeting life but to enjoy a life of eternal communion with
God. That life can now be enjoyed through faith. We hope this study may enable
Christians to reflect on the teachings of the Word of God, avoiding being led by "new"
doctrines, as the Apostle Paul says in the Epistle to the Ephesians: “Then we will no
longer be infants, tossed back and forth by the waves, and blown here and there by
every wind of teaching and by the cunning and craftiness of people in their deceitful
scheming." (Eph. 4:14 - NIV).

7
SUMÁRIO

Introdução ................................................................................................................. 09
1 A vida eterna com Deus no tempo presente .......................................................... 20
1.1 A prioridade da Graça ....................................................................................... 20
1.2 A criação do ser humano e o Pacto de Deus com Adão ................................. 21
1.3 O relacionamento entre o Criador e a criatura ................................................ 25
1.4 A Queda do homem e suas consequências .................................................... 26
1.5 O anseio do homem pela eternidade .............................................................. 28
1.6 A salvação pela Graça através de Cristo ........................................................ 31
1.7 Desfrutando a vida eterna no presente ............................................................. 36
2 Análise dos principais ensinamentos dos proponentes da doutrina da prosperidade
................................................................................................................................... 39
2.1 Os ensinamentos .............................................................................................. 41
2.2 Realização de milagres .................................................................................... 47
2.3 A Teologia da Prosperidade à luz da Bíblia ...................................................... 49
3 A vida no porvir dentro da perspectiva teológica .................................................... 68
3.1 A Segunda Vinda de Cristo ............................................................................... 69
3.2 A Ressurreição Final ........................................................................................ 70
3.3 O Juízo Final ..................................................................................................... 73
3.4 Os destinos dos salvos e dos perdidos ............................................................. 75
3.4.1 Destinos dos salvos ................................................................................. 77
3.4.2 Destinos dos pedidos .............................................................................. 78
3.5 Restauração dos Céus e da Terra .................................................................... 80
3.6 A vida eterna no porvir como recompensa dos justos ...................................... 82
4 Aplicações para Igreja ........................................................................................... 85
4.1 O amor aos irmãos .......................................................................................... 85
4.2 Não devemos colocar nossa esperança na instabilidade da riqueza ............. 86
4.3 Devemos priorizar o alimento espiritual .......................................................... 87
4.4 O crente deve obedecer ao mandamento de Deus ........................................ 88
Considerações finais ................................................................................................ 89
Referências bibliográficas ........................................................................................ 93

8
INTRODUÇÃO

Muitas pessoas são atraídas diariamente pelos tele-evangelistas


contemporâneos. Eles as fazem se moverem até uma das igrejas “evangélicas”, as
quais em cada esquina podem ser vistas em nosso País, com promessas de
mudanças de vida e terem seus problemas solucionados através da “fé” em Deus.
Segundo os seus apregoadores, o desejo divino é que as pessoas sejam prósperas
nesse mundo. A vida cristã, segundo essa interpretação, caracteriza-se em vida bem-
sucedida em todas as áreas: profissional, financeira, saúde, espiritual e familiar.
Segundo esses pregadores, o fracasso nessas áreas ou o sofrimento significa falta de
“fé” ou pecado oculto. Daí ser necessário que a pessoa faça uma “corrente de
libertação” ou algum outro ritual indicado pela liderança eclesiástica.
A Teologia da Prosperidade ou “confissão positiva” tem se alastrado pelo
Brasil desde meados do século XX.1 Somente aparentemente, ela faz com que, no
meio evangélico, as pessoas se preocupem com a necessidade e com a importância
da vida eterna prometida por Deus para aqueles que estão em Cristo. É um fato que
na sociedade secular, muitas pessoas só se importam com o tempo presente: poder
resolver seus problemas, usufruir de uma vida próspera financeiramente, ter sucesso
profissional, separar algum tempo para diversão, levar uma vida saudável e não se
preocupar com o porvir – como se a felicidade se resumisse apenas a essa vida.
Porém, é estranho ver isso no ambiente da igreja. Talvez, essas pessoas não estejam
levando suficientemente a sério o alerta de Jesus na Escritura. Ele se expressou na
parábola do homem que acumulou fortuna e acreditou que assim seria feliz. Jesus,
então, formula uma interpelação: “Louco! Esta noite te pedirão a tua alma; e o que
tens preparado, para quem será?” (Lc. 12.20).
John Piper, em sua série de “Doze Apelos aos Pregadores da
Prosperidade”, faz a seguinte recomendação:

Quando recomendamos Cristo como aquele que nos torna ricos, nós

1
A Confissão Positiva, segundo Paulo Romeiro, tem suas origens numa antiga heresia conhecida como
gnosticismo. Conforme declaração de Judith A. Mata, Kenneth Hagin é considerado, por muitos no
movimento, como o pai da Confissão Positiva. Porém, o verdadeiro pai da Confissão Positiva seria
Essek William Kenyon (ROMEIRO, Paulo. Supercrentes. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 21-22).
glorificamos as riquezas, e Cristo se torna um meio para o fim que realmente
queremos – a saber, saúde, riqueza e prosperidade. Mas quando
recomendamos Cristo como aquele que satisfaz nossa alma para sempre –
mesmo quando não há saúde, riqueza e prosperidade – então Cristo é
exaltado como mais precioso que todos aqueles presentes.2

John Piper ainda faz a seguinte exortação aos pregadores da prosperidade:

Eu não quero que os pregadores da prosperidade parem de chamar as


pessoas à alegria máxima. Pelo contrário, eu suplico a eles que parem de
encorajar as pessoas a buscarem sua alegria nas coisas materiais. A alegria
que Cristo oferece é tão grande e tão durável que nos habilita a perder a
prosperidade e ainda assim regozijar. “Vós aceitastes com alegria o espólio
dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio
superior e durável” (Hebreus 10:34). A graça de ser alegre na perda de
prosperidade – este é o milagre que os pregadores da prosperidade deveriam
buscar. Este seria o sal da terra e a luz do mundo. Isto exaltaria a Cristo como
extremamente valioso.3

O propósito desse estudo é apresentar biblicamente a recompensa que


Jesus Cristo nos oferece (a vida eterna). Ela é muito maior e perpétua do que as
coisas materiais e passageiras propostas pelos apregoadores da prosperidade! No
nosso entendimento, as posições doutrinárias que eles apresentam não
correspondem com os ensinamentos das Escrituras Sagradas. Os cristãos precisam
saber que existe uma fonte de autoridade objetiva que eles precisam se submeterem:
a Bíblia. Portanto, o objetivo é produzir uma reflexão, no sentido da necessidade de
meditar na Palavra de Deus, para não sermos levados a todo tipo de “nova” doutrina.
Como orienta Paulo, não devemos sermos “mais como meninos, agitados de um lado
para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens,
pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef. 4.14).
Segundo Paulo Romeiro, o movimento neopentecostal, proclamador da
Teologia da Prosperidade, surgiu nos meados do século XX, nos Estados Unidos,
tendo como seu pioneiro Essek Willian Kenyon. Porém, o seu defensor mais notável
é Kenneth Hagin. Os seus ensinos foram inseridos no Brasil através de diversos
líderes de igrejas, tendo entre os principais: R. R. Soares, líder da Igreja Internacional
da Graça; Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus (dissidentes da
Igreja de Nova Vida); engenheiro Jorge Tadeu, atualmente pastor e líder das igrejas
Maná, em Portugal; Valnice Milhomens, Ministério Palavra da Fé; Miguel Ângelo da

2
PIPER, John. Aos pregadores da prosperidade, p. 29-30. Disponível em:
<https://arautodecristo777.files.wordpress.com/2012/07/john-piper-aos-pregadores-da-
prosperidade.pdf>. Acesso em 05 de dez. 2018.
3
PIPER, Aos pregadores da prosperidade, p. 30-31.
10
Silva Ferreira, pastor da Igreja Evangélica Cristo Vive, no Rio de Janeiro; e Estevam
e Sônia Hernandes, Igreja Apostólica Renascer em Cristo. A Igreja Universal do Reino
de Deus (IURD), fundada em 1977, atualmente, é a maior igreja neopentecostal do
Brasil. Ela transformou-se em um grande império de comunicação quando Edir
Macedo comprou a TV Record em 1989 por 45 milhões de dólares. Em 2000, a IURD
procurou legalizar a posse de suas 21 emissoras de televisão e 80 rádios que estavam
registradas em nome de pastores, bispos e deputados ligados a igreja. Nessas últimas
décadas, ela tem demonstrado grande interesse pela política. Já chegou a eleger
vários vereadores, prefeitos, deputados e até senadores.4
A maioria dos propagadores da Teologia da Prosperidade se propõe a
realizar suas “reuniões” e campanhas de curas milagrosas e prosperidade financeira
focada nas necessidades humanas. O slogan apresentado para chamar a atenção
do povo é: “você nasceu para vencer!” Essa é uma expressão da “confissão positiva”
que, em sentido literal, significa trazer à existência o que declaramos com nossa boca.
Ou seja, pela fé aquilo que determinamos, deve se tornar realidade.
A origem dessa prática, afirma Paulo Romeiro, encontra-se numa antiga
heresia denominada de gnosticismo.5 Ela surgiu por volta do século I e II da era cristã.
Os gnósticos criam que havia verdades especiais elevadas que somente os
“iluminados” poderiam ter acesso. Eles criam no princípio do dualismo, ou seja, que
havia duas entidades separadas: espírito e corpo. Sendo que a matéria era onde o
pecado habitava, logo apenas o espírito era bom. A salvação vinha através do
conhecimento (gnosis). Para alcançá-la, era necessário renegar o corpo através de
práticas ascéticas e místicas de meditação. Assim, o corpo poderia viver na impureza,
mas era mantido o espírito puro. Romeiro reproduz uma declaração de Judith A. Mata
sobre o movimento “Palavra da Fé”, como também é conhecida a Teologia da
Prosperidade ou confissão positiva:

Na virada do século, as seitas gnósticas têm se tornado uma parte da história


religiosa no nosso próprio país. O mormonismo, tornando homens em
deuses, e a Ciência Cristã, com seus métodos de unidade com a Mente
Divina, foram ambos estabelecidos no século passado. A mitologia do
mormonismo e as “leis” da Ciência Cristã são reflexos diretos do pensamento
gnóstico (...). Há seitas gnósticas na nossa sociedade hoje, e o movimento
Palavra da Fé é a mais nova e disfarçada de todas as seitas gnósticas que

4
ROMEIRO, Supercrentes, p. 33; ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a Graça. São Paulo: Mundo
Cristão, 2005, p. 50-55.
5
ROMEIRO, Supercrentes, p. 21-22.
11
apareceram nos últimos dois séculos.6

Alderi Matos afirma que Essek W. Kenyion, o verdadeiro pioneiro do


movimento, estudou no Emerson College: um centro conhecido como movimento
“transcendental ou “metafísico”, que deu origem a várias seitas de orientação
duvidosa. Ele recebeu influência nessa época de Mary Baker Eddy, fundadora da
Ciência Cristã. Alderi Matos, descreve sobre as crenças dos grupos metafísicos,
dizendo:

Eles ensinavam que a verdadeira realidade está além do âmbito físico. A


esfera do espírito não só é superior ao mundo físico, mas controla cada um
dos seus aspectos. Mas ainda, a mente humana pode controlar a esfera
espiritual. Portanto, o ser humano tem a capacidade inata de controlar o
mundo material por meio de sua influência sobre o espiritual, principalmente
no que diz respeito à cura de enfermidades. Kenyon acreditava que essas
ideias não somente eram compatíveis com o cristianismo, mas podiam
aperfeiçoar a espiritualidade cristã tradicional. Mediante o uso correto da
mente, o crente poderia reivindicar os plenos benefícios da salvação.7

O neopentecostalismo, declara Paulo Romeiro, não tem compromisso


algum com as principais doutrinas da Graça. Ele não segue nenhuma linha teológica
fixa. É um movimento fragmentado em que cada grupo define a sua própria linha de
atuação a ser seguida. Os seus líderes normalmente são pessoas que têm o talento
natural de persuasão e de atrair as pessoas para si. São líderes carismáticos e
imponentes! Em suas igrejas, praticamente não há exposição da Palavra de Deus.
Os versículos isolados utilizados são pregados com interpretações duvidosas,
alegóricas e antropocêntricas, pois o ser humano é o foco de tudo. Por este fato, quase
sempre a palavra do líder tem um valor comparativo ao da Palavra de Deus. O que
ele determina passa a ser seguido como regra de fé e prática. Há inversão de valores,
pois Deus passa a ser o servo do ser humano. Desta forma, o ser humano determina
uma exigência a Deus. O desejo humano torna-se uma obrigação a Deus: ele deve
dar tudo aquilo que o ser humano quer para a sua vida. Praticamente não há pregação
sobre arrependimento, confissão dos pecados e nem sobre salvação. A fé é pregada
no sentido de obtenção de bênçãos e vitórias. O foco não parece estar na conversão
das pessoas segundo o padrão bíblico. Ele está na pura e simples adesão de
membros em massa – e muita rotatividade inclusive. Se a pessoa não consegue aquilo

6
Judith A. Mata apud ROMEIRO, Supercrentes, p. 21-22, 25.
7
MATOS, Alderi Souza de. Raízes históricas da teologia da prosperidade. Disponível em:
<https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/313/raizes-historicas-da-teologia-da-prosperidade>.
Acesso em: 05 de dez. 2018.
12
que almeja, vai em busca de outros caminhos ou entra em depressão profunda devida
a frustração de ter feito o seu sacrifício e não o alcançar. Quando essas pessoas,
procuram os falsos pregadores pedindo justificativa, ouvem como resposta que o
motivo de não terem conseguido o seu alvo é porque não fizeram o “perfeito sacrifício”,
ou seja, não agiram com fé, nem deu o “seu tudo”.8
Além desses ensinamentos de “confissão positiva”, visando uma vida de
bênçãos e vitórias, são aplicados a batalha espiritual aos que congregam à igreja –
onde supostamente há confrontação direta, espiritualmente, com os demônios. Os
demônios, para eles, são os causadores de todos os males. É atribuído a Satanás um
poder muito maior do que aquele que a Bíblia parece conceder. Esses ensinamentos
são herdados do sincretismo e misticismo entre as religiões cristãs evangélicas e as
religiões africanas, como o candomblé e a umbanda. Sob essa influência, as pessoas
dizem-se vítimas de maldição hereditária, são possessas por demônios e precisando
fazer a “corrente de libertação”, chamada também por eles de “sessão de descarrego”,
para serem libertos dos demônios. São práticas baseadas em suas experiências
particulares, próprias do misticismo, que normalmente preferem priorizar as suas
experiências pessoais do que a interpretação da própria Bíblia. Fazem uso de objetos
ungidos como forma de proteção ou como um ponto de contato entre Deus e o ser
humano.
Para a maioria dos neopentecostais, a salvação não depende somente da
obra do Espírito Santo, mas também da cooperação humana. De certo modo, Deus
fica na dependência da vontade humana para realizar seus desígnios. Ou seja, se o
ser humano não quiser, Deus não pode fazer nada. Ele só poderá agir na vida do ser
humano com a sua permissão. Edir Macedo, ao declarar sobre a essência da fé, a
qual exige o sacrifício por parte do ser humano, dando como exemplo o próprio Deus
quando ofereceu Seu Filho em sacrifício, é taxativo:

O sacrifício inclui o ato de renunciar voluntariamente a alguma coisa, em troca


de outra muito mais valiosa. É a menor distância entre o querer e o realizar e
inclui troca. Muitos que se dizem cristãos ou religiosos evitam falar desse
assunto, mas a grande verdade é que na relação entre o ser humano e Deus
está sempre presente o dar e o receber. Ele é o cumprimento da palavra
profética de Deus para Adão: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que
tornes à terra” (Gn. 3.19), o que significa dizer que toda e qualquer conquista
tem que ser na base do sacrifício.
Todas as conquistas da vida têm o preço do sacrifício. Tudo tem o seu preço.
Se o objetivo que eu quero alcançar é muito alto, então alto também será o

8
ROMEIRO, Decepcionados com a Graça, p. 71-87.
13
preço do sacrifício que terei que pagar. Quanto maior é a conquista, maior
também será o sacrifício para consegui-la. O preço de uma conquista é
proporcional ao seu tamanho. Por isso grandes vitórias são conquistadas
somente por homens de Deus, corajosos, firmes e determinados. O Espírito
Santo nunca escolhe covardes para realizar coisas grandes para a glória de
seu Filho! Pelo contrário, da mesma forma como escolheu pessoas especiais
no passado, Ele o faz nos dias de hoje. Essas pessoas escolhidas a dedo
são sempre aquelas que estão dispostas a sacrificar tudo pela Sua causa.
“Quem somente observa o vento nunca semeará, e o que olha para as nuvens
nunca segará (Ec. 11.4)”. O preço da nossa salvação foi o sacrifício de nosso
Senhor Jesus. O que temos de pagar para manter a salvação é a nossa
própria renúncia dia após dia.9

Seguindo essa mesma linha de pensamento, R. R. Soares, ao ensinar os


seus adeptos sobre o caminho para se tomar posse da bênção, que é através da fé,
diz:

Primeiro de tudo, é preciso que você tenha uma autovalorização da sua


pessoa. É ensinado em todas as partes que nós não valemos nada para
Deus, que somos seres sem a mínima expressão diante dEle, e que somente
por misericórdia é que Ele nos salva. Veja bem: todos creem que Jesus pagou
um alto preço para nos resgatar, o que é verdade. Mas, se o preço pago foi
alto, é porque nós temos um alto valor para o Senhor Deus. Não se paga
tanto por aquilo que tem pouco valor.

Continuando em seu ensinamento, Soares aponta o texto bíblico usado


para se tomar posse da bênção, “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a
fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo. 14.13), afirmando:

Segundo os entendidos na língua grega, esta palavra pedirdes está mal


traduzida. Teria sido melhor determinardes. Então, aqui está a primeira lição.
Não precisamos pedir a bênção e sim determinar, exigir, mandar, ou seja:
tomar posse daquilo que aprendemos pela Palavra que nos pertence.
A partir de agora, não precisamos mais orar pedindo a cura, a prosperidade
ou a vitória sobre as tentações. Mas determinar ou exigir que o mal saia de
nossa vida. (...). Quantas pessoas passam o tempo todo sofrendo, enquanto
oram pedindo a Deus que as cure, solucione os seus problemas, salve os
pecadores e faça uma porção de coisas? Não sabem que na verdade é o
Senhor que tem estado o tempo todo esperando que elas determinassem
para que Ele pudesse fazer a obra.

Para R. R. Soares, o determinar não é dar ordem a Deus. É dada ordem


ao diabo para que ele tire as suas garras de cima da vida da pessoa, da família, do
dinheiro e desapareça de uma vez por todas.10 Ao comentar sobre a oração, ele diz:
“Usar a frase ‘se for a Tua vontade’ em oração pode parecer espiritual, e demonstrar
atitude piedosa de quem é submisso à vontade do Senhor, mas além de não adiantar

9
MACEDO, Edir. O Perfeito Sacrifício. Rio de Janeiro: Universal, 2004, Cap. 05.
10
SOARES, R. R. Curso Fé. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1997, p. 04-07.
14
nada, destrói a própria oração.”11
A Teologia da Prosperidade valoriza a fé em Deus como meio primordial
de obter a felicidade no campo material. Ser feliz é ter riqueza, saúde física e alcançar
tudo aquilo que deseja. A pobreza e a doença não fazem parte da vida do cristão, pois
caracterizam falta de fé ou a presença do pecado, o que desqualifica o postulante à
salvação. Jesus é apresentado como um rei muito rico e dono do ouro e da prata. Os
cristãos, sendo filhos desse rei, devem reivindicar os seus direitos de filhos do rei. É
usado o versículo bíblico no Evangelho de João (10.10b) que diz: “...eu vim para que
tenham vida e a tenham em abundância.” O significado é que Jesus veio para que nós
tivéssemos uma vida de riqueza e próspera nessa terra, bem como é sustentado que,
ao morrer na cruz, Jesus tomou sobre si todas as nossas enfermidades e as nossas
dores, cumprindo a profecia do profeta Isaías (53.4), citado no Evangelho de Mateus
(8.17) e na primeira carta de Pedro (2.24). O significado é que Jesus veio para que
tivéssemos uma vida de riqueza, saúde e prosperidade na terra. Essa é a opinião de
R. R. Soares ao afirmar que: “O plano de Deus para o homem é fazê-lo feliz,
abençoado, saudável e próspero em tudo.”12
Outro versículo, também, bastante citado na Teologia da Prosperidade
encontra-se no Evangelho de João (14.12): “Em verdade, em verdade vos digo que
aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço, e outras maiores fará,
porque eu vou para junto do Pai”. Com esse texto, os pregadores da prosperidade
anunciam uma grande quantidade de milagres que supostamente realizam em suas
igrejas. Eles prometem curas e milagres em todas as áreas que seus ouvintes
necessitam.
Os milagres operados nas igrejas que professam a Teologia da
Prosperidade, segundo Ricardo Mariano, um dos sociólogos da religião no Brasil, são
propostos como uma barganha do fiel com Deus – na medida que se paga os dízimos
e ofertas em troca de bênçãos. O pagamento do dízimo e o oferecimento de ofertas
são fundamentais para que o fiel receba suas bênçãos. O texto de Malaquias, capítulo
3, é usado continuamente como base à essa alegação.13
Kenneth Hagin, embora não sendo o pioneiro, mas considerado o pai da

11
SOARES, R. R. Como tomar posse da bênção. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1997, p. 45.
12
SOARES, R. R., Como tomar posse das bênçãos, p. 50.
13
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do novo Pentecostalismo no Brasil. São Paulo:
Loyola, 2005, p. 25-28.
15
Teologia da Prosperidade, com um ministério reconhecido como um dos maiores do
mundo, descreve de forma bem objetiva essa relação do fiel com Deus – através do
pagamento do dízimo e das ofertas em troca de bênçãos. Para ele, o pagamento de
dízimos e ofertas é imprescindível para que Deus abra as portas do céu e derrame
bênçãos sobre o fiel.14
Hagin, em suas obras literárias, ensina que a confissão da fé traz a vitória.
Pode-se ter o que se determina, pois Deus não coloca limite na vida da pessoa. Ele
cita Mateus 17.20c: “Nada vos será impossível.” Cita ainda Marcos 11.24b: “Tudo o
que pedirdes, orando, crede que o recebereis e tê-lo-eis.” Afirmando em seguida:

Em outras palavras, Deus declara: você pode ter o que crer que terá, de
acordo com a minha Palavra”. Portanto, isso deixa para trás quaisquer
limitações suas no que diz respeito à distância que percorrer em Deus! Em
Filipenses 4.13, a Escritura afirma: (Eu) posso todas as coisas naquele que
me fortalece. Aquele eu na verdade, significa você, se considerar Deus na
Sua Palavra. Compete a você determinar até que altura voará na vida. Então,
tire as limitações e fixe os olhos nas alturas, em Deus. Aprenda uma lição
com a águia: construa a sua casa espiritual no fundamento certo – na Palavra
– e a construa solidamente, de maneira a resistir às provas.15

Heber Campos define o significado da vida eterna, a saber:

A vida eterna é um dom da graça de Deus pelo qual ele se torna conhecido
de nós de forma que não apenas conhecemos coisas a respeito de Deus,
mas conhecemos o próprio Deus. Não apenas conhecemos o seu poder e
sua própria divindade (que é a revelação da criação), mas o conhecemos
redentoramente através de Jesus Cristo, sendo um conhecimento
experimental e pessoal da divindade. Ele se revela interiormente a nós como
o Deus do pacto que ama e se dá a conhecer aos seus filhos. O conhecimento
do Deus triúno: Esta é a vida eterna!16

É esse conhecimento de Deus, revelado através de Cristo, que nos


concede a graça de podermos tomar posse da vida eterna. Devido ao pecado de
nossos primeiros pais, quando incorreram no pecado da desobediência, perdemos o
direito de possuirmos a vida eterna. Adão, como representante da humanidade,
perdeu a vida natural perfeita que possuía. Contudo, recebemos graciosamente, pelos
méritos de Cristo, que cumpriu integralmente a Lei de Deus ao obedecer a todos os
seus preceitos, a vida eterna. Com a obediência perfeita de Cristo, Deus pode receber
o pagamento das nossas dívidas e nos conceder salvação. É por sua obediência que
Cristo se qualifica para ser o Cordeiro imaculado através de sua completa Justiça.

14
HAGIN, Kenneth. Jesus - a porta aberta. São Paulo: Graça editorial, 2000, p.121.
15
HAGIN JR., Kenneth. Voando como as Águias. São Paulo: Graça, 1999, p. 18.
16
CAMPOS, Heber Carlos de. Ensaio - Curso de doutrinas da salvação e vida eterna. Apostila.
16
É importante ressaltar, que o ser humano não foi criado imortal – no sentido
de que teria a imortalidade em si mesmo. A imortalidade faz parte exclusivamente do
atributo de Deus, de sua essência (1Tm. 6.16). Adão foi criado com a possibilidade de
viver eternamente, caso não desobedecesse às ordens de seu Criador. Sua
“imortalidade” seria derivada da de Deus. Se isso acontecesse, seria porque Deus o
preservaria, pelo seu poder, em seu estado de inocência e de imortalidade. Não seria
porque Adão tivesse em sua essência a imortalidade. Como ele desobedeceu, veio a
morrer de imediato espiritualmente. A morte física entrou no mundo como
consequência, juntamente com a morte eterna, que representa a condenação final.
Louis Berkhof, comentando sobre a “imortalidade”, com relação ao primeiro
ser humano criado por Deus antes da Queda, define:

O termo “imortalidade” é empregado na linguagem teológica para designar o


estado do homem no qual ele está inteiramente livre das sementes da
decadência e da morte. Neste sentido da palavra, o homem era imortal antes
da Queda. Esse estado evidentemente não excluía a possibilidade de o
homem se tornar sujeito à morte. Embora o homem, no estado de retidão,
não estivesse sujeito à morte, estava propenso a essa sujeição. Era
inteiramente possível que, mediante o pecado, ele se tornasse sujeito à lei da
morte; e o fato é que ele caiu vítima dele.17

Embora o ser humano tenha falhado quando incorreu no pecado da


desobediência, não impossibilitou que a vida eterna do ser humano viesse ser
adquirida graciosamente pela obediência ativa, perfeita e completa de Cristo.

...como cordeiro foi levado ao matadouro... nunca fez injustiça, nem dolo
algum se achou em sua boca (Is. 53.7, 9).
...foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado
(Hb. 4.15).

Com a posse da vida eterna em nós, podemos desfrutar de uma comunhão


constante com Deus desde agora, pois se trata de uma experiência sem fim. Ela se
inicia quando o Espírito Santo implanta a vida de Cristo em nós e nos regenera, e se
completará no porvir com a glorificação. O Apóstolo Paulo, em sua carta à Timóteo,
nos instrui dizendo: “Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para
a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas
testemunhas” (1Tm. 6.12).
O Senhor Jesus, quando Pedro ponderou sobre ter deixado tudo para

17
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 621.
17
segui-lo, responde:

Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa,
ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim
e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de
casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo
por vir, a vida eterna (Mc. 10.29-30).

É importante ressaltar que a Vida Eterna pode ser desfrutada em graus,


conforme a qualidade de vida que se desfruta. Como podemos observar no texto
bíblico a seguir: “O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que
tenham vida e a tenham em abundância” (Jo. 10.10).
O trabalho que iremos apresentar sobre “A vida eterna com Deus – uma
recompensa para os justos em Cristo”, diz respeito à recompensa recebida pelos que
estão unidos com Cristo. Conforme a interpretação reformada, a maior necessidade
do ser humano, uma vez que foi afetado pela Queda e condenado à morte, é receber
a vida verdadeira. Essa vida não é caracterizada fundamentalmente por prosperidade
ou saúde neste mundo, mas pelo desfrute da comunhão com Deus por toda a
eternidade, começando já agora nesta vida. Isso entendemos ser a verdadeira
“prosperidade” do cristão.
Cristo veio ao mundo para devolver ao ser humano a vida eterna perdida
através da transgressão. Ele fez isso por sua obediência integral a todos os preceitos
da Lei de Deus durante toda a sua vida e por ter entregado a sua própria vida na cruz
pelos pecados de seu povo. Obediência perfeita e completa que nos torna justos
diante do Pai, e, portanto, nesse sentido, “dignos” da vida eterna. Usando a
terminologia paulina, torna-nos “idôneos” para receber a parte que nos cabe “da
herança dos santos na luz” (Cl. 1.12).
Esse trabalho procurará analisar biblicamente e, também, teologicamente
o assunto, tendo como método a pesquisa bibliográfica. Além de abordar autores
reformados, procuraremos confrontar os ensinamentos dos proponentes da “doutrina
da prosperidade” através dos textos bíblicos citados por eles em seus respectivos
contextos.
O capítulo primeiro trata da vida eterna com Deus no tempo presente.
Nesse capítulo, daremos um enfoque, antes de chegar ao Mediador, no pacto de Deus
com Adão na pré-queda e no relacionamento entre o Criador e a criatura – a Queda
do casal e suas consequências e o anseio do ser humano pela eternidade após a
Queda, devido ter ficado gravado em seu coração pelo Criador o sensus divinitatis
18
(senso da divindade).18 Também a salvação pela graça através de Cristo, como
recompensa a todos que se encontram unidos a ele, a obra do Espírito Santo no novo
nascimento – o fruto do novo nascimento e a sua natureza –, a comunhão constante
com Deus e o amor aos irmãos, como sendo uma demonstração essencial em que o
cristão possui a vida eterna.
No segundo capítulo, analisaremos os principais ensinamentos dos
proponentes da doutrina da prosperidade. Será avaliado o uso do material bíblico feito
por eles. O objetivo desse capítulo é demonstrar que, na maioria das vezes, eles usam
textos fora de seus contextos, manipulando o material bíblico para defender suas
práticas. Ao mesmo tempo, neste capítulo, tentaremos demonstrar o que realmente a
Escritura diz sobre a verdadeira recompensa dos justos em Cristo.
No terceiro capítulo, descreveremos, a partir da perspectiva teológica,
como poderá ser a vida no porvir, ou seja, na glorificação. Dentro desse capítulo,
exporemos brevemente a doutrina da Segunda Vinda de Cristo, da Ressurreição
Final, do Juízo Final, do Destino Eterno dos Salvos e dos Ímpios, da Restauração dos
Céus e da Terra e da Vida Plena com Deus.
Na Conclusão serão relacionadas algumas aplicações para a igreja e as
considerações finais.

18
“Sabemos, sem nenhuma dúvida, que no espírito humano há, por inclinação natural, certo senso da
Divindade. Para que não nos refugiemos na alegação de ignorância, o Senhor nos dotou de certa
percepção da sua majestade. Assim, tendo todos entendido que há um Deus, que é o seu Criador,
serão condenados por seu próprio testemunho aqueles que não o glorificaram e não dedicarem sua
vida a fazer a sua vontade” (CALVINO, João. As Institutas 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 57).
19
1 A VIDA ETERNA COM DEUS NO TEMPO PRESENTE

Tendo em vista que o objetivo desse trabalho é analisar biblicamente o


assunto da vida eterna como a grande recompensa dos justos, é pertinente, antes de
iniciarmos expondo o tempo presente, fazer uma abordagem da própria criação
humana: o pacto de Deus com Adão na pré-queda, o relacionamento entre o Criador
e a criatura, a queda do casal e suas consequências, o anseio do ser humano pela
eternidade, levando em consideração que ele é a imagem de Deus – muito embora
distorcida, mas presente no ser humano após a Queda – até entrarmos na questão
da salvação pela obra da graça através de Cristo extra nos (fora de nós) e a obra da
graça do Espírito Santo realizada intra nos (dentro de nós).

1.1 A PRIORIDADE DA GRAÇA

É importante ressaltar que desde a eternidade a graça de Deus sempre


esteve presente, como podemos constatar, no decreto da eleição da graça. As
pessoas foram eleitas desde a eternidade como fruto do amor divino, conforme a
Escritura afirma: “...assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para
ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua
vontade” (Ef. 1.4-5). Todavia, apenas a eleição em si mesma, não é suficiente para
salvá-las, pois, mesmo as pessoas sendo eleitas, devido à queda do ser humano,
permanecem “mortas em seus delitos e pecados”. Isso é constatado na declaração
de Paulo a Timóteo: “Por esta razão, tudo suporto por causa dos eleitos, para que
também eles obtenham a salvação que está em Cristo Jesus com eterna glória (2Tm.
2.10).
A graça é eterna. Ela é um atributo exclusivo do ser de Deus. Antes do ser
humano ser criado, Deus já havia idealizado na eternidade a comunicação de sua
graça ao ser humano, a quem iria salvar em Cristo Jesus (2Tm. 1.9). O plano da
salvação estava oculto em Deus por muitos séculos. Ele veio a ser revelado por meio
do evangelho (Ef. 3.9). Antes mesmo que o mundo existisse, Deus já havia planejado
como se daria a nossa salvação (Tt. 1.2). Mesmo que Deus não tivesse se
comunicado com o ser humano, a graça existiria, pois Deus é graça em si mesmo. A
graça não precisa ser comunicada ao ser humano para poder existir. Deus é eterno e
gracioso em sua essência e ação.
A graça é uma riqueza suprema em Cristo. Sem ele é impossível
recebermos a graça de Deus. Não existe graça fora de Cristo, pois fomos
ressuscitados juntamente com ele, para assentarmos em uma posição de glória e para
mostrar ao mundo porvir a suprema riqueza de sua graça (Ef. 2.6-7). A ressurreição
diz respeito à regeneração. A graça é rica porque nos dá vida, uma vez estando
mortos em nossos delitos e pecados (Ef. 2.1, 5). João afirma em seu Evangelho: “E o
verbo se fez carne, e habitou entre vós, e vimos a sua glória, como a glória do
unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo. 1.14). Jesus se encarnou neste
mundo manifestando a plenitude da graça divina e trazendo a salvação a todos que
dela recebem. Nós também recebemos a plenitude de Cristo e graça por graça, como
diz em João em seu Evangelho (1.16).

1.2 A CRIAÇÃO DO SER HUMANO E O PACTO DE DEUS COM ADÃO

A Doutrina da Criação é conhecida apenas a partir da revelação. Somente


com o recebimento do dom da fé podemos entender esta verdade da criação do ser
humano pelas mãos do Criador (Hb. 11.3). Deus criou o ser humano do “pó da terra”
(Gn. 2.7). Podemos observar, que a criação do ser humano é relatada em dois textos
diferenciados pelo autor bíblico no Livro de Gênesis (1.26-27 e 2.7, 21-23). No primeiro
capítulo, é relatada uma história geral da criação, com enfoque na humanidade. Já o
capítulo segundo, diz respeito especificamente da criação humana e da relação dos
seres humanos com as demais criaturas. Não é seguido uma ordem cronológica, mas
tópica. Contudo, não há nenhuma contradição entre as duas narrativas.
O ser humano é o único dentre toda a criação de Deus que foi criado à sua
imagem e semelhança, como disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem,
conforme a nossa semelhança” (Gn. 1.26). O modo como o ser humano foi criado por
Deus o faz diferente das demais criaturas. O ser humano em sua totalidade espelha
a imagem de Deus, pois foi criado à sua imagem e semelhança. O ser humano foi
criado perfeito, santo e sem nenhuma mácula de pecado. Deus o dotou de autoridade
para dominar, sendo seu subgerente de toda a criação terrena. Hoekema assim diz:

21
O homem, pois, foi criado à imagem de Deus de modo que pudesse
representar Deus, como um embaixador de um outro país. Como um
embaixador representa a autoridade de seu país, assim o ser humano (o
homem e a mulher, igualmente) deve representar a autoridade de Deus.
Como um embaixador está preocupado em promover os melhores interesses
do seu país, assim o homem deve procurar promover o plano de Deus para
esse mundo. Como representantes de Deus, deveríamos apoiar e defender
aquilo que Deus apoia e deveríamos promover o que Deus promove. Como
representantes de Deus, não devemos fazer o que queremos, mas o que
Deus deseja. Por nosso intermédio Deus realiza os seus propósitos na terra.
Em nós, as pessoas deveriam poder encontrar Deus, ouvir sua Palavra e
experimentar o seu amor. O homem é representante de Deus.1

Para Herman Bavinck, a imagem de Deus no ser humano abrangia a


pessoa toda: não somente a alma, mas também o corpo humano. Segundo ele:

O corpo do homem também pertence a imagem de Deus... O corpo não é


uma tumba, mas uma maravilhosa obra-prima de Deus, constituindo-se a
essência do homem tão plenamente quanto a alma... pertence tão
essencialmente ao homem que, embora pelo pecado seja violentamente
removida da alma (na morte), é, no entanto, novamente unido à alma na
ressurreição.2

O ser humano possui, segundo Leandro Lima, quatro aspectos da imagem


divina: a) Personalidade (consciência, conhecimento e responsabilidade); b)
Espiritualidade: o ser humano a partir de sua criação traz consigo o “sensus divinitatis”.
Como dizia Calvino, é o que faz ele ter anseio pelo divino. Essa sede de Deus, do seu
Criador, é que o leva a ter uma comunhão (um relacionamento íntimo com seu Deus),
tendo em vista que existe dentro dele um desejo intenso pela eternidade com seu
Criador. Paulo afirma essa dependência do ser humano a Deus, registrado por Lucas
no Livro de Atos (17.28), com as seguintes palavras: “Pois nele vivemos, nos
movemos e existimos”; c) Liberdade: o ser humano como ser pessoal é livre para
amar, conhecer, obedecer e também rejeitar o que não deseja fazer; e d)
Expressividade: assim como Deus tem a liberdade de se expressar por meio das
partes de seu corpo, transmitindo sua personalidade, espiritualidade, virtudes etc.3
A Confissão de Fé de Westminster (CFW) ensina em seu Capítulo VII,
parágrafo II, que o primeiro pacto feito com o ser humano era um pacto de obras.4
Nele foi prometida a vida a Adão e sua posteridade sob a condição de perfeita
obediência. Para a CFW, a obediência à lei de Deus era a condição para o ser humano

1
HOEKEMA, Anthony. Criados à Imagem de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 83.
2
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 568.
3
LIMA, Leandro Antonio de. Razão da Esperança. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.159.
4
A CONFISSÃO de Fé de Westminster. 17. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 65.
22
obter a vida eterna. Segundo seus ensinamentos, Adão poderia viver eternamente
caso não desobedecesse a lei de Deus – talvez, por um certo tempo de obediência
não fixado nas Escrituras. Adão ficaria debaixo de prova. Se passasse no teste, não
morreria.5 Deus deu ao ser humano a graça de comer de todas as árvores. A exceção
de uma árvore foi o teste aplicado. Ela simbolizava a lembrança para Adão que Deus
era o Criador e ele uma criatura.
Alguns teólogos da tradição reformada, como Heber Campos, usam o texto
de Gênesis 2.17, como argumento para afirmarem que Adão não possuía a vida
eterna quando foi criado: “mas, da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás; porque, no dia que dela comeres, certamente morrerás”. Essa interpretação,
inclui uma condição “de não comer da árvore”, sob pena a “morte” e a promessa da
“vida eterna”. Porém, ocorreu a desobediência. Não resta dúvidas, que Adão foi criado
com um fim, e esse fim era a vida eterna. Entretanto, ele estava sob um teste de
obediência, ou seja, estava sujeito à morte. Adão, foi criado pelas mãos santas de
seu Criador, num estado de perfeição, justiça, santidade e sem mancha de pecados.
Deus lhe deu uma lei justa. Ela validaria o direito à vida se ele a tivesse guardado. A
árvore da vida, que se encontrava no Jardim do Éden, seria a sua recompensa por
sua obediência de não comer do fruto da árvore do bem e do mal (Gn. 2.9; 17; Ap.
22.2). Adão vivia num estado de comunhão com Deus. Ele permaneceria eternamente
nesse relacionamento íntimo com seu Criador, caso cumprisse as Suas leis. Como
descumpriu, veio a morrer de imediato espiritualmente e, mais tarde, fisicamente.
Contudo, é importante mencionar que os teólogos de Westminster, ao
interpretar o pacto de obras, parecem-nos que não viam esse pacto como um pacto
de méritos. Essa doutrina não afirma uma salvação por obras. A graça de Deus
sempre esteve presente desde a eternidade, como afirmamos anteriormente. Na
primeira sessão do capítulo VII, antes de apresentar o pacto de obras, a CFW
descreve a própria natureza do pacto a partir de uma concepção graciosa:

Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas


racionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir
nada dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma
voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar
por meio de um pacto.6

5
A Confissão de Fé de Westminster, p. 65 (Capítulo VII, parágrafo II).
6
A Confissão de Fé de Westminster, p. 66.
23
João Calvino não se refere ao pacto de Deus com Adão como pacto de
obras. Ele também não o define como pacto da criação ou pacto da natureza como
outros teólogos se referem. Calvino chegou a fazer um comentário que Deus deu a
árvore da vida por penhor da imortalidade para que confiadamente a propusessem a
si, por quanto tempo comessem de seu fruto (Gn. 2.9; 3.22).7
No que se refere a Adão obter a vida eterna, Calvino sustenta que Adão
poderia ter obtido o céu. Contudo, ele nega qualquer merecimento de Adão para
obtenção de alguma coisa. Para Calvino, o primeiro homem teria passado para uma
vida melhor se permanecesse reto. Com essa afirmação, ele estava se referindo à
“vida eterna” e “vida celestial”, da passagem da morte para a vida.8 Calvino também
faz os seguintes comentários:

Portanto, Adão podia manter-se, se o quisesse, visto que não caiu senão de
sua própria vontade.9
Nessa integridade, o homem usufruía de livre-arbítrio, mercê do qual, caso
quisesse, poderia alcançar a vida eterna.10

Calvino, em seu comentário em Romanos 11.35, faz também a seguinte


afirmação:

Paulo não somente conclui que Deus não nos deve nada, por causa de nossa
natureza corrompida e pecaminosa; mas ele nega que se o homem fosse
perfeito, poderia trazer algo diante de Deus, pelo qual ganharia seu favor;
pois tão longo começa a existir, ele já está tão endividado para com seu
Criador pelo direito de criação, que não possui nada para apresentar.11

No que diz respeito ao teste de obediência a que Adão estava submetido


para permanecer em comunhão eterna com o seu Criador, a qual era simbolizada pela
árvore da vida, O. Palmer Robertson faz o seguinte comentário:

Aparentemente, a árvore da vida simbolizava a possibilidade de ser


sustentado na condição de benção e vida da aliança. Se o homem tivesse
passado no teste de prova, viveria para sempre. Esse sinal de bênção
perpétua reaparece na imagem bíblica da consumação. A árvore da vida
aparece mais uma vez. Dessa feita, aparece uma variedade de doze frutos
diferentes, proporcionando frescor de vida de acordo com cada mês do ano
(Ap. 22.2).12

7
CALVINO, João. As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 4, 14-18
8
CALVINO, As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 2, p. 18-19.
9
CALVINO, João. As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 1, p. 190.
10
CALVINO, As Institutas: edição clássica – v. 1, p. 190.
11
CALVINO, João. Comentário de Romanos. São José dos Campos: Fiel, 2008, p. 21-22.
12
ROBERTSON, Palmer O. O Cristo dos Pactos. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 76.
24
1.3 O RELACIONAMENTO ENTRE O CRIADOR E A CRIATURA.

Desde a criação do ser humano (Gn. 2.7), o relacionamento de Deus com


Adão na criação era um relacionamento de amor e amizade – porém, com um governo
absoluto sobre a sua criatura, bem como sobre tudo o qual Ele havia criado. Deus o
criou à sua imagem e semelhança (Gn. 1.26-28), possuindo todas as habilidades:
intelectual e moral, de comunicação, relacionamento, pensamento, obediência,
discernimento, assim como de fazer opções. O ser humano, desta forma, podia
permanecer na obediência ou não. Deus lhe deu responsabilidades, junto com sua
mulher. Nessa responsabilidade, havia obrigações de cuidar e zelar por tudo que lhe
fora confiado em suas mãos na função de subgerente do jardim do Éden.

Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden


para o cultivar e o guardar... Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da
terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao
homem, para ver como este lhes chamaria, e o nome que o homem desse a
todos os seres viventes, esse seria o nome deles (Gn 2.15, 19).

Deus abençoou o casal, concedendo-lhe, ainda, a responsabilidade de


procriação, multiplicação e domínio sobre todos os animais, ao dizer: “E Deus os
abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a;
dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que
rasteja pela terra” (Gn. 1.28).
Adão vivia em um lugar esplendoroso com sua mulher. Algo prazeroso que
não existia em nenhum lugar na terra, o qual pudesse comparar em beleza e paz. Um
lugar perfeito e sem qualquer maldição. Ele tinha a companhia de seu Criador – que
todos os dias parece que andava no jardim pela viração do dia para os visitar (Gn.
3.8). Adão desfrutava dessa comunhão intima e pessoal com Deus – como bons
amigos em uma comunicação verbal. Esse era o relacionamento de um Deus santo,
com a sua criatura santa, sem mancha alguma de pecado. Adão tinha conhecimento
de Deus e o reverenciava com o seu amor e o reconhecia em Sua soberania absoluta.
Era o ser humano que Deus planejou, projetou e se propôs a fazer. Ele foi criado para
a Sua glória. Adão tinha privilégios, mas como criatura devia obediência ao seu
Criador. Enquanto o casal se manteve fiel, era-lhe mantido esses privilégios. Quando
descumpriu a ordem de Deus, perdeu o relacionamento com seu Criador e os
privilégios que lhe foram concedidos.
Em se tratando da relação pactual, Berkhof faz o seguinte comentário:
25
Desde o início, porém, Deus se revelou, não somente como um Soberano e
legislador absoluto, mas como Pai amoroso, que busca o bem-estar e a
felicidade de sua criatura dependente. Ele condescendeu em baixar o nível
do homem, revelar-se como Amigo e habilitar o homem a melhorar a sua
condição no caminho da obediência. Em acréscimo à relação natural ele,
mediante um decreto positivo e por sua graça, estabeleceu uma relação
pactual. Entrou num acordo legal com o homem, num acordo que inclui todas
as exigências e obrigações implícitas na condição de criatura que caracteriza
o homem, mas ao mesmo tempo, acrescentou alguns elementos novos. (1)
Adão foi constituído chefe representativo da raça humana para poder agir por
todos os seus descendentes. (2) foi temporariamente posto `prova, a fim de
determinar se poderia se sujeitar espontaneamente ou não à vontade de
Deus. (3) Foi-lhe dada a promessa de vida eterna por meio da obediência e
assim, pela misericordiosa disposição de Deus, ele adquiriu certos direitos
condicionais. Esta aliança capacitou Adão a obter vida eterna para si e para
os seus descendentes pela obediência.13

A Bíblia não diz por quanto tempo Adão experimentou desse


relacionamento amoroso com Deus. Só sabemos que Adão viveu nessa terra por 930
anos, porém, de sua criação até a queda, a Bíblia silencia. Mas, supõe-se que viveu
o tempo necessário para zelar pelo Jardim do Éden e ter uma vida de santidade em
comunhão com Deus, desfrutando de sua companhia na viração do dia (Gn. 3.8).
A partir de Adão nenhuma pessoa vem ao mundo com uma vida natural
perfeita. Todos já nascem manchados pelo pecado, ou seja, “mortos em seus delitos
e pecados” (Ef. 2.1). Adão foi criado diretamente pelas mãos santas de Deus. Todavia,
isso não lhe dava a garantia de ter essa vida eternamente. Adão, para ter uma vida
com Deus sem fim, era necessário ser aprovado no teste, de cumprimento às Suas
leis que foram estabelecidas, até que Deus se agradasse de sua obediência,
autorizando-o a comer da árvore da vida, passando a viver “de fato” eternamente.
Adão não precisaria receber uma nova vida, só precisava receber autorização para
manter a mesma.

1.4 A QUEDA DO HOMEM E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Adão e sua mulher, em vez de permanecerem em obediência à ordem de


Deus que havia dito “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn. 2.17), preferiram cair
na promessa falsa de Satanás. Ele disse à mulher que se comessem do fruto proibido,
seriam iguais a Deus, passando a conhecedores do bem e do mal (Gn. 3.5). Com a

13
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 199.
26
desobediência, o texto bíblico diz: “abriram, então, os olhos de ambos; e, percebendo
que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram cintas para si” (Gn. 3.7). Assim,
com a queda de Adão o pecado entrou no mundo e na vida da humanidade. Ao
contrário da falsa promessa, o ser humano perdeu o conhecimento pleno do bem que
já conhecia e passou a conhecer o mal. Nisso estava o engano de Satanás.
Como o casal já não possuía mais a vida natural perfeita e para não serem
tentados em seu interior a comerem da árvore da vida, pois não tinham mais direito
por haverem desobedecido, Deus expulsou o casal para fora do jardim do Éden e
protegeu a árvore colocando querubins ao oriente do jardim. Eles tinham uma espada
guardando o caminho para que ninguém entrasse.
A Escritura relata que havia no jardim do Éden duas árvores com
características simbólica ou sacramental: a Árvore da Vida e a Árvore do
Conhecimento. A primeira, só poderia ser comido do seu fruto, se o ser humano
mantivesse a sua integridade, após o teste que estava sendo submetido. Hodge, com
relação a Árvore da Vida, faz o seguinte comentário:

Não podemos determinar se o fruto daquela árvore possuía a virtude inerente


de comunicar vida, ou seja, de sustentar o corpo do homem em seu vigor e
beleza juvenis, ou refiná-lo gradualmente até que chegasse a ser o que é
agora o corpo glorificado de Cristo, ou se a conexão entre comer seu fruto e
a imortalidade era simplesmente convencional e sacramental. É suficiente
saber que comer daquela árvore assegurava, de alguma forma, o desfrute da
vida eterna. Que este era o caso, fica evidente não só pelo fato de o homem,
após a sua transgressão, ter sido expulso do paraíso, para “que não estenda
a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente”(Gn
3,22), mas também porque Cristo é chamado a Árvore da Vida”. É assim
chamado porque aquela árvore era tipo dele, e a analogia consiste em que,
assim como Ele é a fonte da vida, espiritual e eterna, para seu povo, assim
aquela árvore foi posta ali para ser a fonte da vida para os primeiros pais de
nossa raça e para todos os seus descendentes, se eles não se houvessem
rebelado contra Deus. Nosso Senhor promete (Ap 2.7) dar aos vencedores o
poder de comer da árvore da vida que está no meio do paraíso de Deus.14

François Turretini também tece o seguinte comentário sobre a Árvore da


Vida:

A árvore da vida não foi dada a Adão para evitar a morte (como se sua vida
dependesse de comer dessa árvore). Foi dada em parte para selar a
imortalidade do homem nesse estado, para ser-lhe um penhor e um
sacramento (tanto para que ele não caísse da felicidade na qual fora criado,
contando que não falhasse no dever e também para que por fim obtivesse a
imortalidade do propósito), e em parte para preservar sua vida sempre em
igual vigor (como os outros alimentos não visavam a servir para a reparação

14
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 577.
27
das faculdades gastas, porém apenas para sua preservação).15

Com a queda o ser humano tornou-se incapaz de vida com o primeiro


pacto. Ele tornou-se corrompido e totalmente dependente de um mediador. A queda
trouxe consequências catastróficas à toda humanidade, pois todos os seus membros
estavam representados em Adão (representante federativo). Adão trouxe ao mundo o
primeiro pecado e como consequência veio a morte para todos: “Porque todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm. 3.23).
A morte foi imputada ao ser humano como juízo de Deus. Embora, o casal
não tenha morrido fisicamente no mesmo dia em que pecou, ele morreu
espiritualmente imediatamente. Desta forma, perderam a sua comunhão com Deus e
foram separados de imediato do seu Criador. A morte física era certa, porque esse
era o outro resultado do pecado. Bavinck, com relação as consequências da queda
do ser humano e os efeitos da morte, faz o seguinte comentário:

Portanto o pecado que Adão cometeu não ficou restrito somente à sua
pessoa. Ele continuou a operar em e através de toda a raça humana. Nós
não lemos que por um homem entrou o pecado em uma pessoa, mas no
mundo (Rm 5.12), e também a morte sobreveio a todos os homens por causa
do pecado do homem.16

A imagem divina, que o ser humano reflete dentro de si, não foi perdida
com a Queda. Embora, o ser humano tenha morrido espiritualmente e perdido a sua
comunhão com Deus, a imagem divina no ser humano não foi totalmente apagada,
mas apenas distorcida. O ser humano embora manchado pelo pecado e deixado de
ser perfeito, ainda carrega gravada dentro de si as impressões digitais que Deus
colocou em seu coração de Sua existência.

1.5 O ANSEIO DO HOMEM PELA ETERNIDADE

O ser humano, desde o seu nascimento, já traz dentro de si o anseio pela


vida eterna. É algo que, embora não saibamos explicar, encontra-se no fundo do
nosso coração a noção de que esse mundo não é o nosso verdadeiro lar. Esse
sentimento que trazemos dentro de nós foi colocado pelo próprio Deus. Vivemos nesta

15
TURRETINI, François. Compêndio de teologia apologética. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p.
600.
16
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Deus e a criação. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2,
p. 586.
28
vida em busca ardente de ir para o nosso verdadeiro lar e de nos encontrar com o
nosso Criador. Faz parte de nossa essência (da própria natureza humana) a busca
pelo transcendente. Enquanto não encontramos o nosso Criador, mergulhamos em
um vazio profundo. Nada e ninguém é capaz de o preencher. A Escritura é conclusiva
a esse respeito: “Ele [Deus] fez tudo apropriado a seu tempo. Também pôs no coração
do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender
inteiramente o que Deus fez” (Ec 3.11).
Sobre esse sentimento que perdura dentro de nós, C. S. Lewis escreve:

Se eu não tenho esse anseio, algo está errado comigo, se as coisas desse
mundo me preenchem a ponto de não sobrar nenhum vazio, nenhuma
saudade de Deus, nenhuma vontade de ir para casa, isso significa que algo
está errado comigo. Se eu encontro em mim um desejo que nenhuma
experiência desse mundo possa satisfazer, a explicação mais provável é que
eu fui feito para um outro mundo. Se nenhum dos meus prazeres terrenos é
capaz de satisfazê-lo, isso não prova que o universo é uma fraude.
Provavelmente os prazeres terrenos não têm o propósito de satisfazê-lo, mas
somente de despertá-lo, de sugerir a coisa real. Se for assim, tenho de tomar
cuidado para, por um lado, jamais desprezar ou ser ingrato em relação a
essas bênçãos terenas, e, por outro jamais confundi-lo com outra coisa, da
qual elas não passam de um tipo de cópia, ou eco, ou miragem.17

No interior do primeiro ser humano quando foi criado, Deus transmitiu o


fôlego de vida, que o fez alma vivente (Gn. 2.7). Embora caindo no pecado pela
desobediência, morrendo espiritualmente e se separando de Deus, não foi retirado do
ser humano o anseio intimo natural da existência divina, que faz com que ele ande
“tateando” como cego em busca de Deus. O ser humano continuamente busca por
algo maior para preencher o vazio que existe em seu coração e que nada dessa vida
efêmera pode preencher. Contudo, ao mesmo tempo, que o ser humano busca saciar
o seu desejo por uma vida plena, que somente Deus pode lhe oferecer, ele caminha
em direção contrária. Algumas vezes busca e outras foge de Deus por se achar
indigno por causa de seus pecados. É o que Calvino chamou de “sensus divinitatis”
(senso da Divindade), conforme afirma:

Sabemos sem nenhuma dúvida, que no espírito humano há, por inclinação
natural, certo senso da Divindade. Para que não nos refugiemos na alegação
de ignorância, o Senhor nos dotou de certa percepção da sua majestade.
Assim, tendo todos entendidos que há um Deus, que é seu Criador, serão
condenados por seu próprio testemunho aqueles que não o glorificarem e não
dedicarem sua vida a fazer a sua vontade. Portanto, visto que desde o
princípio do mundo não há região nem cidade nem mesmo casa alguma que
não tenha nada de religião, nesse fato nós temos uma confissão tácita de que

17
LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. 5. ed. São Paulo: ABU, 1997, p. 77.
29
há um senso da Divindade gravado no coração de todos os seres humanos.18

Podemos observar em vários lugares diferentes, pessoas de vários meios


sociais e culturas diferentes em busca de algo que as façam felizes. Muitas
conquistam fama, muito dinheiro, vários casamentos e desfrutam de todos os prazeres
que o mundo oferece, mas, assim mesmo, não se satisfazem com o que têm, pois
ainda lhes faltam algo para que sejam felizes. As pessoas que buscam
contentamento, alegria e felicidade na terra nunca encontrarão satisfação plena, pois
ela somente é encontrada em Cristo. A maioria vai seguindo o caminho totalmente
oposto pela busca da eternidade, pois lhe falta o conhecimento do verdadeiro
caminho. Essas pessoas desconhecem o único caminho que pode levá-las à vida
eterna: “Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho e a verdade e a vida, ninguém vem ao
Pai, senão por mim” (Jo. 14.6).
Outras, em sua busca desenfreada pela eternidade, pelo sentimento
religioso resolvem procurar uma igreja. Ao estarem mais preocupadas em resolver
seus problemas pessoais do que buscar o arrependimento verdadeiro pelo pecado e
confiar a sua vida a Jesus, acabam indo em igrejas não bíblicas. Essas igrejas
funcionam muitas vezes como empresas: de entretenimento vazio e nada oferecendo
de uma verdadeira vida cristã, o que deixa essas pessoas mais frustradas e
desesperadas. Somente o convencimento do Espírito Santo poderá tirar a cegueira
espiritual e direcionar essas pessoas ao caminho certo para alcançarem a vida eterna.
O fato é que todas as pessoas carregam dentro de si esse desejo por algo
maior e que não sabem explicar. O seu interior clama por esse algo maior. O ser
humano foi criado perfeito, pois foi planejado por Deus para a eternidade. Por isso,
nada desse mundo satisfaz o ser humano. Mas, segundo o Eclesiastes, esse anseio
humano resulta do choque entre o ser finito e a consciência da eternidade. O salmista
expressa o sentimento do ser humano quando diz: “A minha alma tem sede de Deus,
do Deus vivo; Quando irei e me verei perante a face de Deus?” (Sl. 42.2). É dessa
maneira que uma pessoa que tem sede de Deus demonstra o seu anseio.
Contudo, o ser humano não consegue compreender completamente o
plano de Deus. O ser humano sempre procura se vangloriar em tudo que faz:
buscando e realizando coisas que satisfaçam a sua vaidade. A vida eterna, anunciada
por Deus, nada tem a ver com a satisfação da vontade humana, mas em abandonar

18
CALVINO, João. As Institutas: edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v.1, p. 57-58.
30
os desejos carnais e fazer a vontade do Criador. Porém, muitos permanecem cegos,
com o coração endurecido para entender o propósito de Deus e continuam correndo
atrás do vento no intuito de encontrar o sentido da vida – andando em círculos
viciosos.
Quando observamos a criação de Deus, podemos enxergar essa
majestade e sabedoria em suas leis físicas que governam e sustentam todo o universo
(Sl. 19.1-6). Entretanto, por ser impossível testemunharmos como se deu o início de
tudo e qual o plano de Deus para o fim de todas as coisas, necessitamos de Sua
revelação especial (Sl. 19.7-14). A única forma do ser humano compreender o
propósito divino, naquilo que seja de Sua vontade, é olhando através dos olhos do
Criador. Isso somente é possível através de Sua Palavra.
As Escrituras revelam que tudo que foi criado no universo – coisas
materiais, animais e seres espirituais criados – são inteiramente dependentes de
Deus: “Só tu és SENHOR, tu fizeste o céu, o céu dos céus, e todo o seu exército, a
terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a
todos com vida, e o exército dos céus te adora” (Ne. 9.6).
Depois da queda, o ser humano anseia por voltar ao jardim porque Deus
colocou em seu coração não apenas a noção da eternidade, mas também a
experiência com o eterno ao conviver com ele (Gn. 3.8-9). Somente em Deus
encontraremos a satisfação plena para a vida eterna prometida nas Escrituras. No
interior de cada um de nós, já se pode perceber que existe algo sobrenatural, ilimitado,
que só pode se originar do próprio Deus.

1.6 A SALVAÇÃO PELA GRAÇA ATRAVÉS DE CRISTO

Com o pecado de Adão e Eva, houve a morte espiritual, ocorrendo a


separação de Deus, como punição por haver transgredido a lei de Deus (Gn. 2.17).
Não só a morte espiritual, mas a morte física e eterna entraram no mundo. Sendo
Adão o representante da raça humana (Rm. 5.12), o pecado foi transmitido a toda
humanidade. Todas as pessoas já nascem mortas espiritualmente e sem qualquer
relacionamento com Deus, conforme a doutrina da universalidade do pecado.
Contudo, Deus anuncia a sua graça redentora como descendente da
mulher (Gn. 3.15). E na plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, como o segundo
Adão, para cumprir o que o primeiro ser humano deixou de cumprir por sua
31
desobediência à Sua lei. Cristo, na união federal com os eleitos que seu Pai escolheu
no Conselho com a Trindade, se encarregou voluntariamente de ser o cabeça de seu
povo destinado a formar a nova humanidade. Ele se colocou como substituto do
pecador ao cumprir a pena pelo seu pecado. Esta imputação colocada em Cristo é a
base da nossa justificação pela fé. Ela nos capacita a receber as bênçãos espirituais
e a graça da vida eterna.
O Espírito Santo implanta graciosamente a Vida Eterna a todos aqueles
que creem, arrependem-se de seus pecados e doam a sua vida a Jesus Cristo,
servindo também como selo e penhor da herança (Ef 1.13-14). Podemos afirmar que
a graça tem a sua origem e planejamento em Deus (Pai), a sua revelação e execução
no Filho (Jesus Cristo) e a sua aplicação e manutenção é obra do Espírito Santo (1Pe.
1.1-2).
Deus prometeu a vida eterna a todo aquele que crê em seu Filho (Jo. 3.16).
Não é uma promessa para toda humanidade indistintamente. Ela é para aqueles que
crerão verdadeiramente em Jesus Cristo e se arrependem de seus pecados. Esses
que crerão não morrerão, mas passarão da morte para a vida. Eles desfrutarão de
uma vida plena e abundante. É uma vida que excede a vida: é vida mais do que vida,
é vida além da vida, ou seja, uma vida plena e abundante oferecida por Cristo a todo
que nele crê (Jo. 10.10). É a vida que somente encontramos em Cristo, porque a vida
eterna está nele (Jo. 1.4).
Para se referir a “eterno”, a Bíblia usa a palavra grega “Ailónios”,
significando uma vida de quantidade perpétua e sem fim. Ela pode significar também
uma vida de qualidade a partir da regeneração, quando Deus implanta a vida no
coração do ser humano. O crente pode começar a desfrutar desde já desta vida
abundante através de um relacionamento íntimo e de uma comunhão imperdível com
seu Deus, que irá se completar na glória (Jo. 3.36; 5.24; 1Jo. 5.20). A graça tem a ver
com a regeneração, com o novo nascimento, porque ela nos ressuscita em Cristo,
“estando nós mortos em nossos delitos e pecados” (Ef. 2.1-5).
A vida eterna é uma recompensa para os justos (Mt. 25.46). Não é um
presente, o qual alguém pode recusar. Ela é um dom gracioso de Deus para aqueles
que foram reconciliados com Ele através da obra redentora de Jesus Cristo. É onde
os crentes se deleitarão de uma fonte inesgotável de beleza e prazer na presença de
Deus. Jonathan Edwards, em seu sermão proferido há mais de 250 anos, pregou em
sua igreja sobre a eternidade enfatizando que:
32
A fonte que supre a alegria e o deleite que a alma sente em ver Deus é infinita.
A compreensão pode se estender tanto quanto desejar; ele o faz, mas isso a
faz pegar voo por uma expansão infinita, e mergulhar em um oceano sem
fundo. Pode descobrir mais e mais da beleza e da graciosidade de Deus, mas
ela nunca esgotará a fonte.19

A vida eterna não é um presente que se ganha de Deus. Ela é um projeto


do Deus Soberano idealizado na eternidade. Nele os escolhidos em Cristo fazem parte
para entrar na hora estabelecida por Ele e viver em função desse projeto. Ninguém
pode garantir a vida eterna. Sua garantia é do próprio Deus através da obra
regeneradora do Espírito Santo em nós.
Recebemos a vida eterna no momento em que o Espírito Santo implanta a
vida de Cristo em nossa vida, isto é, no momento da realização da obra regeneradora
de Deus em nós. A partir de então, passamos a ter um relacionamento pessoal
perpétuo, uma comunhão imperdível com o Deus Trino. Nada é capaz de nos separar
dessa comunhão com Deus (Rm. 8.35-39). Nem mesmo os nossos pecados podem
retirar essa graça divina que nos foi concedida por intermédio de Cristo, que cumpriu
toda a lei em nosso lugar. Berkhof faz o seguinte comentário ao tratar da regeneração:
“Regeneração é o ato de Deus pelo qual o princípio da vida é implantado no homem,
e a disposição dominante da alma se faz santa... e o primeiro exercício santo desta
nova disposição é assegurado.”20
O desfrutar da vida que foi implantada tem a ver com a qualidade com que
a desfrutamos. Ter a vida eterna é ter Jesus Cristo, pois a vida eterna é o próprio Filho
de Deus: “Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo. 5.20d). Jesus Cristo é o
detentor da vida eterna (1Jo. 5.11-12). A partir da implantação da vida, estaremos
intimamente ligados a Cristo para todo o sempre.
Com a nova vida que recebemos de Deus, estamos prontos para receber
e aceitar a pregação do Evangelho, pois o Espírito Santo abre o nosso entendimento
ao conhecimento da Verdade: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti o único
Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo. 17.3).
Embora, esse conhecimento de Deus nunca seja pleno e completo, por
causa de nossas limitações, contudo é um conhecimento necessário e suficiente para
que Deus possa realizar seu plano na vida do ser humano. Sem a revelação de Jesus

19
Jonathan Edwards apud MACARTNEY, Clarence E. (ed.). Grandes sermões do mundo. Rio de
Janeiro: CPAD, 2003.
20
BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 432.
33
Cristo, seria impossível alguém obter algum conhecimento de Deus. É através de
Jesus Cristo que tomamos consciência de nossos pecados e da misericórdia de Deus,
pois Jesus Cristo é a própria revelação de Deus.
Berkhof expõe com clareza a ordem relativa da vocação e da regeneração
seguindo quatro estágios:

(1) Logicamente, a vocação externa, que ocorre na pregação da Palavra


(exceto no caso das crianças), geralmente precede à operação regeneradora
do Espírito Santo, ou coincide com ela, operação pela qual a nova vida é
produzida na alma do homem. (2) Depois, por uma palavra criadora, Deus
gera a nova vida, mudando a disposição interna da alma, iluminando a mente,
incitando os sentimentos e renovando a vontade. Neste ato de Deus são
implantados os ouvidos que capacitam o homem a ouvir o chamamento de
Deus para a salvação das suas almas. Isto é regeneração no sentido mais
restrito da palavra. Nela o homem é inteiramente passivo. (3) Tendo recebido
os ouvidos espirituais, o chamamento de Deus pelo Evangelho é agora
ouvido pelo pecador e é levado efetivamente ao coração, capacitando-o para
compreendê-lo. O desejo de resistir é transformado num desejo de obedecer,
e o pecado se rende à influência persuasiva da Palavra pela operação do
Espírito Santo. Esta é a vocação eficaz, pela instrumentalidade da Palavra da
pregação, efetivamente aplicada pelo Espírito de Deus. (4) Finalmente, esta
vocação eficaz assegura, pela verdade como meio, os primeiros exercícios
santos que nasceu na alma. A nova vida começa a manifestar-se, a vida
implantada resulta no novo nascimento.21

Para se crer em Cristo é imprescindível que a pessoa seja regenerada e


vivencie o novo nascimento. Isso é necessário, pois ela está morta espiritualmente
por causa da queda de Adão, o representante da raça humana, que trouxe a morte a
toda a humanidade. O pecado de Adão foi imputado a todos os seus descendentes.
Eles já nascem com uma natureza corrupta e em inimizade com Deus. Para que a
pessoa possa se reconciliar com Deus, é necessário que seja implantado em seu
interior uma nova vida. Essa nova vida somente Deus pode realizar no interior da
pessoa (Ef. 2.1-5). A pessoa não regenerada é incapaz de escolher a Cristo, pois tem
um coração de pedra, perverso, corrupto e totalmente contaminado pelo pecado. Os
perdidos estão totalmente surdos e cegos ao Evangelho (Jo. 8.43-44, 47).
A regeneração é um ato exclusivo de Deus no coração humano. Uma obra
totalmente monergistica do Espírito Santo em nós e por nós. Entende-se por coração,
na Escritura, tudo que envolve a natureza humana, ou seja, intelecto, vontade e
emoções. Somente Deus pode transformar um coração totalmente depravado.
Contudo, mesmo havendo essa transformação no ser humano, ele ainda continua sob

21
BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 434.
34
o efeito do pecado. O crente só vai alcançar a perfeição plena na vida eterna, onde
será livre de todo o domínio do pecado. Porém, após a regeneração, a pessoa já se
torna uma nova criatura (Gl. 6.15). Passando a ter uma mente espiritual, pois se tornou
um filho de Deus ao ter recebido Jesus (Jo. 1.12). O poder regenerador do Espírito
capacita o ser humano a dar ouvidos ao evangelho e a se arrepender de seus pecados
e crer em Jesus Cristo.
A melhor passagem bíblica para ilustrar a necessidade de nascer de novo,
é João 3.1-15. Ela narra a visita de Nicodemos a Jesus. Esse homem, embora sendo
um mestre instruído na lei de Moisés e correto em seu modo de viver, desconhecia
como deveria fazer e viver para ser salvo. Nicodemos foi até Jesus, pois reconhecia
nele um mestre vindo de Deus pelos sinais que ele o via fazer. É possível que
esperasse um elogio ou a aprovação de sua conduta da parte de Jesus de forma a
indicar que estaria no caminho certo para alcançar a salvação. Jesus deixou bem claro
a Nicodemos que quem tentar alcançar a salvação pelo rumo das obras não
alcançará. Isto porque a justiça está fora de nosso alcance. Nenhum ser humano é
capaz de cumprir toda a lei de Deus. Jesus responde a Nicodemos: “Em verdade, em
verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”
(Jo. 3.3). Para Nicodemos essas palavras foram chocantes. Na conversa de Jesus
com o fariseu ficou claro que somente a regeneração nos torna participantes da vida
eterna. Com o novo nascimento, o crente regenerado andará em boas obras.22
O novo nascimento transforma a natureza caída pelo pecado. Ele conduz
a pessoa a ser espiritual e a receber de imediato a vida eterna. É assegurado aos
eleitos o recebimento da salvação por meio da fé. Isso os conduzem a uma vida de
santidade até atingir, na glória, a perfeição plena em Cristo, onde serão totalmente
livres do domínio do pecado. Com a regeneração, a pessoa se reconcilia com Deus.
Sendo Cristo considerado a pessoa mais importante de nossa vida, arrependemo-nos
de nossos pecados e passamos da morte para a vida.23
Hodge faz o seguinte comentário a respeito do significado da regeneração:

Portanto, regeneração é uma ressurreição espiritual: o começo de uma nova


vida. Às vezes a palavra expressa o ato de Deus. Deus regenera. Às vezes
designa o efeito subjetivo de seu ato. O pecador é regenerado. Ele se torna
uma nova criatura. Renasce. E isso é sua regeneração. Essas duas

22
Ver o comentário sobre o diálogo entre Jesus e Nicodemos: LIMA, Leandro Antonio de. Razão da
esperança. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 364.
23
Ver distinção teológica entre regeneração e conversão: LIMA, Razão da esperança, p. 363-364.
35
aplicações da palavra estão tão estreitamente interligadas que não produzem
confusão.24

1.7 DESFRUTANDO A VIDA ETERNA NO PRESENTE: O AMOR AOS IRMÃOS

O Novo Testamento deixa bastante claro que a vida eterna não se trata de
uma condição que recebemos quando morremos e vamos para o céu. Ao contrário,
trata-se de uma vida que podemos desfrutar no presente. É muito mais do que uma
vida próspera financeiramente, uma profissão bem-sucedida, um casamento feliz ou
uma família unida. É a vida que Cristo apresenta, quando diz: “Nem só de pão viverá
o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt. 4.4). É desfrutar de
uma comunhão constante com Deus e de um relacionamento íntimo e prazeroso.
Nada nesse mundo se iguala ao deleite de compartilhar a vida com Deus!
Com a vida eterna em nós, a única coisa que queremos é viver – no sentido
de aplicarmos em nossa vida os ensinamentos de Cristo que aprendemos do
Evangelho. Devemos espelharmos e testemunharmos Cristo, através de nossas
ações e atitudes, exalando o bom perfume de Cristo por onde passarmos, a fim de
que às pessoas possam ver Cristo em nós e possam se certificarem que somos
pessoas vivificadas e fomos transformadas pelo poder de Deus.
Isso tudo acontece porque quando Deus vivifica e regenera. Ele transmite
a sua própria vida espiritual à pessoa. Essa vida espiritual transmitida faz nascer um
relacionamento pessoal, intimo entre ambos, fazendo com que a pessoa regenerada
deseje ardentemente a cada dia conhecer mais a Deus e a Jesus Cristo (Jo. 17.3).
Ela passa a compartilhar a sua vida com Deus por intermédio de Cristo (1Jo. 1.1-4).
A vida eterna que recebemos é um dom divino e uma propriedade que
tomamos posse perpetuamente. Nada nesse mundo tirará, de nós, essa graça que
nos foi concedida. Jesus afirma: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão e
ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo. 10.28).
A Vida Eterna começa aqui e agora. Já estamos vivendo a vida eterna hoje,
pois o Evangelho afirma que o Reino já chegou. Não devemos ficar de braços
cruzados aguardando a volta de Cristo. Devemos viver o presente intensamente;
trabalhando em prol do Reino de Deus; e desejo ardente em nosso coração pela
Segunda Vinda do nosso Senhor.

24
HODGE, Teologia Sistemática, p. 1030.
36
Muitos ao receberem a nova vida se acomodam. Eles ainda vivem com
medo de perderem a salvação. Vivem em busca de revelação e profecias, ou
buscando rituais de aproximação – em vez de viver a vida em toda a sua plenitude,
que lhe é permitida viver nesse mundo. Precisamos desfrutar da certeza de nossa
salvação, manejando bem a palavra da verdade (2Tm. 2.15-16) e não ficar dando
ouvidos as experiências de fontes duvidosas. Devemos seguir a orientação de Paulo
à Timóteo, quando diz: “Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna,
para a qual foste chamado de que fizeste a boa confissão perante muitas
testemunhas” (1Tm. 6.12).
Em termos subjetivos, o grande testemunho da nossa salvação é o
testemunho interno do Espírito Santo, que assegura em nosso íntimo que somos filhos
de Deus (Rm. 8.15-17). Contudo, a Escritura também nos fala de evidências externas
da nossa filiação. Uma delas é a manifestação do amor sincero dedicado aos irmãos.
O cuidado, o zelo, a generosidade e o carinho que os dispensamos é uma forma de
mostrarmos que cremos realmente em Cristo e que estamos unidos a Ele. Esse
sentimento sublime, é uma prova dessa gloriosa dádiva permanente em nós. A vida
no sentido espiritual substitui a morte do cristão. A vida espiritual de cada pessoa é
medida pelo amor que é demonstrado pelos irmãos. É impossível uma pessoa ser um
cristão e não praticar o amor fraterno. João é bem enfático ao dizer que os “vivos”
amam e os “mortos” odeiam:

Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os


irmãos; aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia a
seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida
eterna permanente em si (1Jo. 3.14-15).

A mensagem de João, no texto acima, é sobre o amor ao próximo. Quando


Jesus esteve aqui na terra, ele nos deu um novo mandamento: que deveríamos amar
uns aos outros, assim como ele nos amou (Jo. 13.34). É desse amor que João está
se referindo. João expõe, em sua primeira Carta (3.23), o mandamento de Cristo:
“Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho Jesus Cristo,
e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou.” Esse novo
mandamento equivale as duas partes dos Dez Mandamentos, sendo que a primeira
parte tem prioridade sobre a segunda. João prossegue narrando o ódio em que o
mundo vive após a Queda. Ele menciona o primeiro assassinato ocorrido no mundo,
motivado pelo ódio de Caim contra o seu irmão Abel, afirmando que foi devido à justiça

37
de Abel. Enquanto estivermos nesse mundo, haverá ódio e desamor dos ímpios pelos
crentes. Isso não deve causar espanto, pois eles estão mortos espiritualmente.
Contudo, essa falta de amor não pode acontecer entre os cristãos, porque já
passamos da morte para a vida e quem que não ama permanece na morte (3.14).
João declara que quem odeia o irmão é assassino, e não tem a vida eterna
permanente em si (3.15).
Barclay, comentando sobre o amor aos irmãos, é conclusivo:

O mandamento cristão é que amemos a nossos irmãos, e a prova de que um


homem passou das trevas à luz, é o fato de que ama a seus irmãos. Aborrecer
a um dos irmãos é, em essência, ser homicida, como Caim. Se alguém estiver
em condições de compartilhar de sua abundância para ajudar a um irmão, e
não o faz, é absurdo que diga que o amor de Deus habita nele. A essência
da religião é crer no nome do Senhor Jesus Cristo e amar-nos uns aos outros
(3:11-17, 23). Deus é amor, e, portanto, aquele que ama é amigo de Deus.
Deus nos amou, e esta é a melhor razão para que nos amemos uns aos
outros (4:7-12). Se alguém disser que ama a Deus e ao mesmo tempo
aborrece a seu irmão, é mentiroso. O mandamento é claro: quem ama a Deus
deve amar também a seu irmão (4:20-21). João está convencido de que a
única maneira em que alguém pode provar que ama a Deus é amando a seus
irmãos, não com um vago sentimentalismo, mas com uma dinâmica
disposição para a ajuda prática.25

25
BARCLAY, William. 1 João. Disponível em:
<https://files.comunidades.net/pastorpatrick/1Joao_Barclay.pdf>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
38
2 ANÁLISE DOS PRINCIPAIS ENSINAMENTOS DOS PROPONENTES
DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

A Teologia da Prosperidade é uma doutrina religiosa que prega: que Deus


deseja que todos os seus filhos sejam livres de qualquer problema; e que ele criou o
ser humano para ser feliz, ter uma vida próspera, saudável e regalada em todas as
áreas. Segundo essa teologia, o poder da fé é a principal motivação de seus
seguidores. A fé do cristão é medida pela vida abençoada que ele tem. Quanto maior
for a fé, maiores serão as suas conquistas e vitórias. Se o cristão não está
apresentando uma vida abençoada em qualquer área de sua vida, fica caracterizada
“falta de fé” ou ele está em “pecado oculto”. Para os seus defensores, a pobreza não
vem de Deus, pois ele é o dono do ouro e da prata. Os seus filhos têm o direito de
exigir uma vida de riqueza, pois são filhos do Rei, e não bastardos. O poder da fé gera
milagres no momento em que a pessoa começa a decretar ou determinar o que deseja
para a sua vida. Aquilo que é declarado verbalmente, torna-se realidade, ou seja, a
pessoa passa a tomar posse das bênçãos de Deus.
Paulo Romeiro comenta que os teólogos da prosperidade, interpretando
erroneamente Salmos 82.6, “Eu disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo”,
criaram a doutrina dos “pequenos deuses”. Nesse quesito, o teólogo da prosperidade
Kenneth Copeland, com relação ao presente texto pregado, expõe da seguinte forma:
“Cachorros geram cachorros, gatos geram gatos e Deus gera deuses.”1 Kenneth
Copeland também, em uma fita com o título de “The Force Of Love” (tape 02-0028)
declara: “Você não tem um deus em você, você é um”.2 Hagin, semelhantemente
afirma: “Você é tanto uma encarnação de Deus quanto Jesus Cristo o foi. Cada
homem que nasceu de Deus é uma encarnação e o Cristianismo é um milagre. O
crente é uma encarnação tanto quanto o foi Jesus de Nazaré.”3

1
ROMEIRO, Supercrentes. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 23.
2
COPELAND, Kenneth. The force of love. Disponível em:
<http//www.cephasministry.com/kenneth_copeland.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018. As citações
de Copeland podem serem encontradas no referido endereço.
3
HAGIN, Kennedy. Word of Faith, dezembro de 1980, p.14.
39
O objetivo dessa doutrina é ensinar que o crente pode ter o domínio de
todas as coisas: é necessário apenas que ele determine o que deseja para si. Um dos
textos bíblicos mais usados por seus pregadores, é o “tudo posso naquele que me
fortalece” (Fl. 4.13). Para os seus adeptos, não há limite para tomar posse das
bênçãos requeridas: basta determinar, pensar positivo sem dúvida no coração,
participar das correntes e ser fiel no dízimo, ofertas e nas campanhas promovidas na
igreja sob direção de Deus que o milagre acontece. Nesse mesmo sentido é
interpretado o texto do Evangelho de Marcos que diz:

...em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e
lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que
diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração
pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco (Mc. 11.23-24).

Foi através da revelação do texto acima, segundo Paulo Romeiro, que


Kenneth Hagin sustenta que aconteceu o princípio da fé em sua vida.4 Ele se
encontrava muito doente e sofrendo horrores confinado em uma cama. Tendo sido
levado “ao inferno” por três vezes, chegou a ver e sentir coisas terríveis. Nesse ínterim,
recebeu a revelação desses versículos. Hagin testemunha que creu de todo o seu
coração nessas palavras e declarou com sua boca a sua cura. Após dois meses nessa
determinação, o Espírito Santo lhe falou que, já que ele cria que já estava curado,
deveria se levantar da cama e andar. Foi quando ele exercendo a sua fé, adquiriu
forças, levantou-se e andou. Foi sua primeira experiência com o poder da fé.
Atualmente, o seu ministério é considerado um dos maiores do mundo. Fundou a
Escola Bíblica por Correspondência Rhema e o Centro de Treinamento Bíblico Rhema
em Tulsa. Tendo essa Escola já formado mais de sete mil alunos. Com uma renda
avaliada em mais de 20 milhões de dólares.
No Brasil, R. R. Soares, líder da Igreja Internacional da Graça, é o maior
responsável pela publicação dos livros de Hagin, que escreveu cerca de 126 livros,
com 33 milhões de cópias. Os seus ensinos têm sido bastante divulgados nas igrejas
neopentecostais através de programas de televisão. Soares escreveu um livro,
intitulado “Curso Fé”, em 12 lições, ensinando as pessoas como ser uma “bênção”
para que o Senhor seja glorificado com a vida abundante a ser desfrutada por quem
seguir esses ensinamentos.

4
ROMEIRO, Supercrentes, p. 25-26.
40
2.1 OS ENSINAMENTOS

Soares, inicia o Curso Fé, orientando as pessoas que já tiveram qualquer


ensinamento em outro lugar sobre fé a descarta-lo, pois só atrapalhará no novo
aprendizado.5 Segundo ele, nesse novo ensinamento a pessoa vai aprender o
verdadeiro significado de crer em Deus, de como enfrentar as situações e sair
vencedor e de como ter, usar e desfrutar de tudo que Cristo conquistou para nós. A
primeira lição é sobre a “Determinação”. Este é o caminho para se tomar posse da
bênção. O primeiro passo, prossegue Soares, é a pessoa saber se autovalorizar. Diz
ele que em todo lugar se ensina que não valemos nada para Deus, que somos
pessoas sem a mínima expressão diante dele e que é somente pela sua misericórdia
que ele nos salva. Porém, todos creem que Jesus pagou um alto preço para nos
resgatar, que é verdade, confirma ele. Em seguida, Soares afirma: “Mas, se o preço
pago foi alto, é porque temos um alto valor para Deus, pois não se paga tanto por
aquilo que tem pouco valor.”
Soares, ao ensinar sobre determinação, usa o texto de João 14.13: “E tudo
quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho”.
Para Soares, na língua grega a palavra “pedirdes” está mal traduzida. Não precisamos
pedir a bênção e sim determinar, exigir e mandar. Devemos tomar posse do que se
aprendeu pela Palavra que nos pertence. Não se deve orar pedindo cura,
prosperidade ou a vitória sobre as tentações, mas determinar ou exigir que o mal saia
da nossa vida, pois é o próprio Jesus quem nos garante isso. Muitas pessoas ficam
sofrendo porque não determinam e nem decretam a sua vitória. E Jesus não pode
fazer nada por essas pessoas, sem que elas determinem. Somente com a
determinação é que Jesus pode agir. É necessário ordenar e exigir que o diabo tire as
suas garras e desapareça de uma vez por todas de nossa vida, do nosso dinheiro e
de nossa família. Essa é a maneira que devemos agir para o diabo nos obedecer. O
poder de Deus só pode entrar em ação, quando o cristão determina a sua bênção. Ele
cita Mateus 24.35, “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão”,
e ressalta: “Se você determinar em o Nome de Jesus, você pode estar certo de que a
sua ordem não falhará. As palavras de Jesus não poderão passar, ainda que o céu e

5
SOARES, R. R. Curso Fé. Rio de Janeiro: Graça Editorial, 1997, p. 04.
41
a terra passem. Veja Mateus 24.25.”6
Nessa mesma interpretação, Soares menciona o texto de Atos 14.8-10,
alegando que Paulo não orou que o coxo fosse curado, mas apenas determinou a sua
cura. Menciona ainda o texto no livro de Josué (10.12), onde Josué ordenou que o sol
e a lua se detivessem, como prova da veracidade de sua interpretação.
Afirma ainda Soares, que um dos pontos mais importantes e polêmicos do
estudo sobre fé é a falsa declaração de que a fé remove montanhas, haja vista que a
fé nunca removeu um só grão de areia. Para que o milagre aconteça, a pessoa deve
se dirigir ao problema e ordenar que ele saia da vida da pessoa e que se lance no mar
e jamais duvidar no coração que o problema sairá de sua vida. Ele diz que a fé é
necessária. Ela é o primeiro passo para a vitória. Mas se não der o segundo passo,
que é falar com o problema para ele sair, nada acontecerá. A fé, diz Soares, é o
combustível, a palavra é o veículo, e nenhum veículo anda sem combustível. Nenhum
combustível remove montanhas. Deus para criar as coisas, precisou usar a palavra.
A nossa posição como filho de Deus é privilegiada. A bênção que precisamos não
depende mais de Deus, mas somente de nós. Basta que conheçamos a verdade: “E
conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (Jo. 8.32).7
Para Soares, usar a famosa frase “Se for a tua vontade” na oração é
simplesmente demonstrar ignorância sobre o que a Bíblia ensina. O único registro que
a Bíblia tem de uma pessoa que orou demonstrando não saber se era da vontade de
Deus curar ou não foi o pobre leproso (Mt. 8.1-3). A ele Jesus respondeu: “Quero, fica
limpo”. Para Soares, todas as bênçãos que precisamos já nos foram dadas. É
necessário somente determinarmos para tomar posse. Com relação a cura, é usado
o texto do livro de Isaías (53.4-5), que afirma que Jesus tomou sobre si as nossas
enfermidades e as nossas dores e pelas suas pisaduras fomos sarados. Desse modo,
diz ele, precisamos apenas exercer o nosso direito, assumindo o que a Palavra de
Deus diz que Jesus realizou.8
Soares afirma ainda que assim como no campo jurídico é dada a
advertência que a lei não socorre a quem dorme, no campo espiritual acontece a
mesma coisa. Se não conhecemos os nossos direitos em Cristo ou se conhecemos e
não reivindicamos, não seremos socorridos, mesmo que sejamos cristãos

6
SOARES, Curso de Fé, p. 07.
7
SOARES, Curso de Fé, p.13-14.
8
SOARES, Curso de Fé, p.23-25.
42
exemplares. Se as pessoas passam por privações financeiras, doenças e outras
aflições nessa vida, é porque não reivindicam seus direitos. A pessoa precisa saber
exercer os seus direitos, tomando uma atitude e confessando com a boca ao diabo
que ele não tem mais domínio sobre a sua vida. Deve dizer ao diabo que nem vai orar
a Deus pedindo prosperidade e cura, porque ele (diabo) já não tem poder sobre a sua
vida; e que toda a maldição Jesus já levou na cruz. Oração de pedido a Deus é
desnecessária. Devemos apenas agradecer, pois já temos a certeza da vitória. E em
seguida ordenar ao diabo, que ele saia de uma vez por todas de sua vida, conforme
está escrito em Tiago 4.7: “Sujeita-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá
de vós.”9
Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, segue esse
mesmo entendimento de R. R. Soares, ao ensinar como o cristão deve exercer a sua
fé.10 Ele orienta como os cristãos devem agir para não depender da fé alheia e como
devem se preparar para obter as suas vitórias. Macedo usa, inicialmente, o texto
bíblico na carta de Paulo aos efésios (6.11-13) que trata da armadura de Deus. Para
ele, a “palavra” tem uma força ilimitada. Quando plantada no coração essa semente,
ela cresce e frutifica com a natureza. Ele menciona o texto do Evangelho de Marcos
(9.23): “Tudo é possível ao que crê”. Jesus ao proferir essas palavras, afirma Macedo,
estava dizendo que não há limites para a fé. Aquilo que acreditamos nos sobrevirá. É
onde reside o poder sobrenatural da fé, comenta ele. Se a palavra for de morte, virá
algo de ruim para a nossa vida; mas se for de vida, teremos um futuro promissor. Para
justificar a força da “palavra”, cita texto do livro de Gênesis (1.6), em que tudo se
cumpriu por intermédio da “palavra”. O diabo, no seu entendimento, conheceu o poder
da palavra e vendo os resultados deve ter pensado, diz Macedo: “Se eu tivesse esse
poder, usaria a minha palavra para destruir tudo o que Deus construiu e, então, eu
seria realmente igual a Ele”. Como a sua palavra não encontrava eco, porque não
tinha quem obedecesse a sua autoridade, a não ser os demônios, não poderia, assim,
realizar as suas pretensões. Quando Deus criou o ser humano, ele viu uma grande
oportunidade de encontrar, na própria criação de Deus, um “sócio” para destruir tudo
aquilo que Deus construiu. O diabo começou a usar a palavra de dúvida para estimular
a rebelião humana contra Deus. Ele tem se servido da Bíblia como fonte de

9
SOARES, Curso de Fé, p. 34.
10
MACEDO, Edir. O poder sobrenatural da Fé. Rio de Janeiro: Universal, 2003, p. 12-18.
43
informações para a destruição de bilhões de seres humanos. A única maneira de evitar
é através da Palavra de Deus em nosso coração.
Macedo explica porque as pessoas perdem a cura após serem curadas
numa campanha de fé na igreja. O diabo logo entra em ação, justifica Macedo. O diabo
usa pessoas de confiança do ex-doente para semear dúvida no coração. Ele faz com
que a pessoa perca a fé e a doença volte novamente. Assim acontece com aqueles
que chegam com problemas financeiros e são abençoados financeiramente. Eles
deixam de andar pela fé, começam a dizer que o dízimo e as ofertas não são
obrigatórios para quem tem fé de receber de volta multiplicado e acabam voltando a
ter uma vida amarrada. Porém, é uma obrigação do pastor orientar que só recebem
de Deus aqueles que doam, pois foi o próprio Jesus quem admoestou: “Pedi, e dar-
se-vos-á” (Mt. 7.7). Mas Macedo não culpa somente o diabo em tirar vantagens dos
fracos na fé. Ele culpa também a pessoa que tem o coração vazio de Deus e cheio de
ganância e, por isso, torna-se apta a ouvir a voz inimiga e deixam de ser fiéis. Ele
menciona a parábola do semeador (Mt. 13.3-8). A pessoa diante do bombardeio de
inspiração diabólica acaba desistindo de continuar lutando. Finalmente, vem o
desânimo até dominá-la por completo (Mc. 4.17).
Macedo diz que o cristão não deve temer a nada. Quando vierem
pensamentos contrários a fé, o cristão deve enfrentar de frente o diabo com
resistência, pois o medo promove a dúvida. Segundo Macedo, muitas pessoas
pensam que o conhecimento da Bíblia é o suficiente para obter sucesso. Elas
precisam tomar cuidado, pois esses conhecimentos podem ser um antídoto satânico
para fazê-las mais confusas a respeito do que está escrito. Ele cita o texto do
Evangelho de Mateus (18.9) que fala sobre o pecado com os olhos. Isso acontece
com aqueles que querem ser os “sabidos” da Bíblia. O diabo, diz Macedo, tem usado
muito a Bíblia para confundir aqueles que tem sede de um profundo conhecimento da
Palavra de Deus e tem colocado em suas mentes questões absolutamente
misteriosas que só o Espírito Santo poderia responder. A Bíblia deve ser comparada
ao maná que Deus fez descer sobre o seu povo no deserto. Cada família tinha o direito
de colher apenas o necessário para aquele dia. Se fosse querer guardar para o dia
seguinte, ele apodrecia. A Palavra de Deus é o pão do céu para alimentar todos os
filhos de Deus dia após dia. Não devemos e nem podemos querer reservar para o
futuro o pão nosso de cada dia.
Macedo também fala sobre a vida pela fé. Diz que Deus criou a vida com
44
três grandes propósitos. O primeiro, que ela fosse vivida em abundância: com todos
os seus direitos e privilégios, sem nenhuma forma de aflição, angústia ou preocupação
– “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo. 10.10). O segundo
propósito, que não tivesse nenhum tipo de interrupção provocada por doenças,
enfermidades, dores, sofrimento ou morte (Is. 53.4-5; Rm. 6.23). O terceiro e último
propósito, o qual ele considera o mais importante, é a manifestação da glória de Deus
por toda a eternidade – a começar aqui pela Terra, conforme o Salmo de Davi (96.1-
4). Para Macedo, o cristão somente terá vida abundante, se tiver coragem de assumir
a fé sobrenatural e colocá-la em prática na sua própria vida. Ele cita a passagem do
jovem rico (Mt. 9.16-20). Nela é enfatizado que o jovem não suportou o peso do
sacrifício que Jesus propôs a ele para alcançar a plenitude da vida. Ele não suportou
porque vivia uma fé natural. Somente a fé sobrenatural é capaz de pagar o preço da
vida que Deus tem preparado para aqueles que O amam. Deus não é contra a riqueza,
diz Macedo, porque ele mesmo é rico em glória e majestade. Ele é contra colocar o
coração na riqueza. Como o jovem não tinha a fé sobrenatural, ele se retirou triste e
foi embora. Quando a pessoa vive uma fé sobrenatural, não mede sacrifícios para
colocar sua convicção em prática.
Macedo, em seu livro O Perfeito Sacrifício, fala da importância do dízimo
e das ofertas, que representa o próprio Jesus Cristo.11 Diz Macedo, que toda oferta
que se oferece a Deus revela o que está no coração do ofertante e mostra o seu
relacionamento para com o seu Senhor. É através da oferta que a pessoa transmite
amor, carinho, dedicação e consideração. Quando a pessoa descobre o caminho da
fonte da salvação, ela começa o processo de entrega de si mesma, como oferta em
favor daqueles que se encontram perdidos. Macedo cita uma passagem bíblica sobre
essa entrega:

Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia


em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze
iam com ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de
espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual
saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes,
Suzana e muitas outras, as quais lhe prestava assistência com o seus bens
(Lc. 8.1-3).

Ele acrescenta que aquele que vê as doações das ofertas com maus olhos,
do ponto de vista meramente mercadológico, não compreenderá a razão da vinda do

11
MACEDO, Edir. O perfeito Sacrifício. Rio de Janeiro: Universal, 2004, cap. 05.
45
Filho de Deus ao mundo. Essa pessoa não consegue alcançar o dom do
arrependimento para a conversão, haja vista que a oferta está intimamente
relacionada com a salvação eterna em Cristo. É através da oferta que a pessoa se
aproxima de Deus. A raiz da palavra “oferta” no hebraico, significa “aproximar-se”. Isto
está totalmente de acordo com a Escritura, afirma Macedo, quando diz “Se a sua
oferta for holocausto de gado, trará macho sem defeito; à porta da tenda da
congregação o trará, para que o homem seja aceito perante o Senhor” (Lv. 1.3),
significando, explicitamente, que para entrar na presença do Altíssimo, o homem deve
Lhe apresentar ofertas sem defeitos. A origem da oferta está no Éden, onde o próprio
Deus realizou o sacrifício de animal para vestir Adão e Eva. Este sacrifício
representava Cristo. A oferta de animais perpetuou-se entre os judeus até por volta
dos anos 70 d.C, quando o templo reconstruído por Herodes foi totalmente destruído.
Os judeus ainda esperam que o templo seja novamente erguido em Jerusalém para,
então, darem continuidade às suas ofertas de sacrifícios de animais.
Prossegue ainda Macedo dizendo que a oferta continua sendo o
instrumento pelo qual o ser humano se aproxima de Deus. Essa aproximação é
desejada pelo Pai, que instituiu a oferta de sacrifício, continuando o processo da
redenção da humanidade. O Senhor Jesus é a oferta de Deus-Pai para a salvação da
humanidade, portanto, é a oferta perfeita. Ele é, ao mesmo tempo, a porta de acesso
à Sua santa presença. Se Jesus é a oferta perfeita, todas as ofertas são
representações dele. É, por isso, que a oferta que oferecemos não pode ser
imperfeita, para poder representar seu Filho. Caso contrário, ela não é aceita e não
poderá produzir resultados. Conforme está escrito na carta aos Hebreus, cita Macedo:

Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue
de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu. Isto é,
pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus,
aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o
coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura” (Hb.
10.19-22).

A oferta, diz Macedo, simboliza Jesus Cristo. Entre todos os símbolos, a


oferta é a que melhor representa o Senhor Jesus. A partir do momento em que uma
pessoa é convidada a trazer sua oferta ao altar, o servo de Deus está dando a
oportunidade de se aproximar do Trono da Graça. O homem de Deus, ungido pelo
Espírito Santo, tem autoridade espiritual de receber as ofertas oferecida pelo povo
para divulgação do Reino de Deus nesse mundo. Essas ofertas não só permitem a
46
pregação do Evangelho, mas aproxima o ofertante de Deus. É, por isso, que a oferta
não pode ser defeituosa. Não se dá “qualquer coisa” ou aquilo que está sobrando. Ela
tem que ser santa, pura e sem defeito, pois está sendo trazida para Deus. Quando
isso é observado, a pessoa é abençoada. É impossível não ter retorno. O motivo de
muitas pessoas viverem na pobreza e na miséria, é porque as suas ofertas são
defeituosas, sem amor, ou seja, sem temor e respeito para com Deus.
O sacrifício é diferente da oferta, diz Macedo. Ele é o ato de renunciar algo
em troca de outra coisa muito mais valiosa. Deus está sempre presente no dar e
receber. É o cumprimento da palavra profética de Deus para Adão: “No suor do rosto
comerás o teu pão, até que tornes à terra” (Gn. 3.19). Significando dizer que toda e
qualquer conquista tem que ser na base do sacrifício. Toda e qualquer conquista da
vida tem o preço do sacrifício. Tudo tem o seu preço. Se o que quero conquistar tem
um preço alto, muito mais alto terá que ser o meu sacrifício. Quanto maior a conquista,
maior será o sacrifício para conseguir.

2.1 REALIZAÇÃO DE MILAGRES

Nas igrejas neopentecostais, os milagres são anunciados diariamente


como algo “natural”. É muito comum ligar a televisão e se deparar com os tele-
evangelistas contemporâneos anunciando testemunhos de milagres de cura,
problemas financeiros, problemas na vida sentimental, familiar, vida espiritual e
libertação de vícios. Basta abrir o blog da universal que são apresentados diariamente
testemunhos de pessoas que chegam em uma de suas igrejas com problemas
impossíveis e conseguem o milagre através das correntes de libertação, das
campanhas da “fogueira santa” e das orações de fé realizadas naquele lugar. Para
muitas pessoas, Deus só está presente em uma igreja quando esta anuncia milagres.
Uma frase que se ouve com bastante frequência: “Naquela igreja tem milagres! Deus
está ali!” O fato de uma igreja mostrar ocorrência de frequentes milagres, é que leva
essas pessoas a acreditarem ser uma igreja verdadeira, e os seus líderes serem
homens de Deus.
Kenneth Hagin, justifica esses milagres pela unção recebida de Deus para
operar na vida das pessoas. Ele declara que muitas vezes quando está no púlpito
Deus fala com ele, levando-o o precisar levar papel para anotar, senão acaba
esquecendo. Em uma das vezes, Deus falou para ele estudar mais sobre a “unção”.
47
Ele obedeceu e começou a estudar profundamente o assunto. E sempre tem recebido
novas revelações sobre a unção. Ele cita Lucas 4.18-19: “O Espírito do Senhor está
sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar
libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os
oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.”

Muitas vezes, o Senhor fala comigo enquanto estou sentado no púlpito,


preparando-me para ministrar. Sempre levo alguns papéis dentro da Bíblia,
de modo que eu possa anotar o que Ele me revela (se você não escreve o
que Deus lhe diz, acabará esquecendo). Em uma dessas ocasiões, o Senhor
me disse: “Estude mais sobre a unção”. Obedeci e comecei a estudar a fundo
o assunto. Desde então, tenho ensinado bastante sobre isso e recebido
novas revelações.12

Hagin ensina que a unção pode ser individual ou corporativa. Deus unge
indivíduos para o ministério. Existem várias funções diferentes para as quais Deus
chama cada pessoa: apóstolo, profetas, evangelistas, pastores e professores. Jesus
exerceu todas as funções, pois Ele possuía a unção para exercer cada uma. A unção
de Jesus era “sem medida” (Jo. 3.34). Já os membros do corpo de Cristo possuem a
“unção medida”, ou seja, cada um possui a unção para desempenhar a função para
qual foi chamado. Jesus para operar milagres teve que ser ungido para o ministério.
Mas todos que recebem a unção podem operar milagres. Devemos fazer as mesmas
obras que Jesus e até maiores como está escrito na Escritura: “Na verdade, na
verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as
fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai” (Jo. 14.12). Hagin enfatiza
que se as obras de Jesus estivessem em uma categoria sem igual, então Ele teria
mentido.13
A unção faz toda a diferença, afirma Hagin. Ele dá o exemplo da passagem
da cura de uma mulher enferma (Mc. 5.25-34). Nesse milagre o poder de cura saiu de
Jesus quando a mulher enferma lhe tocou nas roupas. A unção da cura era algo
especial que havia na veste de Jesus. Assim aconteceu com Paulo, que fazia milagres
extraordinários. O poder não estava nas roupas, mas na unção que cada um tinha. A
unção foi transferida pelas roupas. A pessoa só pode ser curada após ouvir a Palavra
de Deus. O ouvir vem antes da cura. Por isso, é importante crer na Palavra. A unção
pode operar em um indivíduo ou em toda uma multidão. A fé de cada um determina o

12
HAGIN, Kenneth E. A unção da cura. Rio de Janeiro: Graça Artes, 2002, p. 03.
13
HAGIN, A unção da cura, p. 04-10.
48
resultado. Hagin conta o testemunho de uma criança que os pais pediram oração, pois
tinha os dois pés atrofiados. No domingo seguinte, o casal foi à igreja mostrando a
criança curada. Bem como a cura de uma mulher cega, de um homem que nunca
havia andado e outros tantos testemunhos em que o milagre aconteceu por seu
intermédio.14

2.3 A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE À LUZ DA BÍBLIA

O Apóstolo Paulo, na época do início da igreja, já enfrentava problemas


com adeptos a esse tipo de ensinamento que usavam a piedade como fonte de lucro.
Eles diziam que quanto mais piedosa a pessoa fosse nessa vida mais lucro alcançaria.
Então, as pessoas para serem ricas precisavam ter um comportamento piedoso. Ou
seja: se as pessoas estavam passando por dificuldade financeira ou por algum
sofrimento era porque não estavam bem espiritualmente. Eles relacionavam o lucro
financeiro com a piedade e com a vida espiritual da pessoa. Dessa mesma forma as
igrejas contemporâneas estão fazendo.
Leandro Lima, em uma de suas aulas ensinando sobre “Mordomia Cristã”,
esclarece, que Paulo, em sua época, refutou com dureza essa ideia, dizendo que
vinha de uma mente pervertida e privada da verdade:

Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de


nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado,
nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que
nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações
sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo
que a piedade é fonte de lucro (1Tm. 6.3-5). 15

Para Paulo, a ideia sobre a piedade é totalmente o oposto. Seria suportar


as privações e se contentar com o que Deus nos tem dado. Essa teologia do
contentamento defendida por Paulo não significa que temos que nos acomodar e
deixar de buscar um resultado melhor para a nossa vida, ou seja, ficar aguardando as
coisas “caírem do céu”. Mas significa que embora façamos o melhor em nosso
trabalho, devemos ser gratos a Deus pelo que Ele nos oferece, pois tudo o que temos,
é graça do Senhor. Devemos ficar satisfeito com o que recebemos de Deus, valorizar

14
HAGIN, A unção da cura, p. 13; 52-53.
15
LIMA, Leandro Antonio de. Aula EBD Santo Amaro. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=H-1LTITU4Gg>. Acesso em: 25 de nov. 2016.
49
e aproveitar aquilo que temos, pois já temos um tesouro garantido que é a nossa
salvação.
Paulo, continua em sua exortação:

De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque


nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele.
Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que
querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências
insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição.
Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça,
se desviaram da fé e a si mesmos, se atormentaram com muitas dores” (1Tm.
6.6-10).

Leandro Lima, ao comentar sobre esses versículos de Paulo no quesito o


amor ao dinheiro, esclarece:

Esses versículos deveriam ser afixados em todos os para-brisas dos carros


dos crentes, pois são uma mensagem extremamente importante para os
nossos dias. Ela nos alerta sobre coisas terríveis da ganância. É muito
importante entender que Paulo, nesse capítulo, está falando de cristãos. Ele
percebe claramente que muitos estão tentando servir a Deus e a Mamon ao
mesmo tempo, mas sabe que, afinal, se continuarem nessa prática, servirão
apenas a Mamon. Ele destaca aqui “os que querem ficar ricos”. Querer ficar
rico implica desejar mais e mais, muito além do que é necessário. Além do
mais, isso pode acarretar o empobrecimento de outros.
Tentação e ciladas sempre estão no caminho de quem tem o desejo de
enriquecer. Especialmente o autoengano se apresenta como uma cilada
difícil de evitar. Quem se torna avarento, dificilmente percebe a sua própria
avareza, pois sempre encontrará álibis para justificá-la.16

Vicent Cheung, a respeito do texto na primeira carta de Paulo a Timóteo


(6.6-10), faz o seguinte comentário:

Uma pessoa que ama o dinheiro é fraca e vulnerável. O mundo tem algo que
ela deseja, e ela é mais susceptível a comprometer a verdade e a consciência
para conseguir isso. Ela é susceptível à tentação, visto que existe algo em
sua alma ao que o diabo pode apelar a fim de manipulá-la. O amor ao dinheiro
pode levar ao total desastre: “Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro,
desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos”. Uma pessoa
que ama o dinheiro é uma tola. Como Jesus disse, “Pois, que adiantará ao
homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mt 16.26). E o que é
mais provável, ele não ganhará o mundo todo, nem mesmo uma pequena
parte dele, e ainda perderá a sua alma. O contentamento concede a uma
pessoa imunidade contra a tentação. Paulo escreve: “Os que querem ficar
ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados
e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição”.
Uma pessoa que está contente, por definição, não pode ser dominada por
“desejos descontrolados e nocivos”. Mas o poder do contentamento é muito
mais amplo, em razão da tentação apelar a alguma necessidade ou desejo,
e dessa forma à insatisfação dentro da pessoa.”17

16
LIMA, Leandro Antonio de. Brilhe a sua luz. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 149.
17
CHEUNG, Vicent. Reflexões sobre 1 Timóteo. Disponível em:
50
Paulo, na Carta aos Filipenses (4.11-13), dá uma demonstração de como
viver uma vida piedosa, dizendo:

Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda
e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado;
de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura
como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele
que me fortalece.

Leandro Lima, com relação a gratidão de Paulo para com os Filipenses,


tece o seguinte comentário:

De fato, o contentamento não é algo natural em nós. É importante observar


que ele não diz que aprendeu a ficar contente, mas a viver contente, ou seja,
o contentamento foi o seu modo de vida. Assim, ele podia ir dos extremos da
escassez `abundância que a sua perspectiva básica em relação `vida não
mudava. Mas isso não tem nada a ver com as práticas meditativas das
religiões orientais que enfatizam um desprendimento da matéria; o que Paulo
quer dizer é que ele aprendeu a colocar a essência da sua alegria em Deus.
Deus sempre estava lá, sorrindo para ele, e Paulo jamais perderia a certeza
da realidade daquele olhar divino sobre si. A certeza da presença de Deus
lhe dava forças para enfrentar o que fosse necessário. Essa era a força que
o fortalecia.18

Para Paulo, o importante é nos concentrarmos no tesouro maior que é a


nossa salvação. Isso não quer dizer que devemos desprezar as coisas terrenas. O
enfoque é que devemos ser bons administradores. Quando Deus criou o ser humano,
ele deu a responsabilidade de administrar tudo que ele fez. Se tivermos o básico para
nos sustentarmos, devemos estar contente com ele. Isso não significa que não
podemos ter mais que o básico. A graça é de Deus. Se ele nos der mais que o básico,
devemos apenas ficar alertas para que isso não venha nos afastar da fé em Cristo.
Paulo alerta os ricos do presente século para não serem orgulhosos, antes, serem
ricos em boas obras, generosos em repartir, não confiar na instabilidade da riqueza,
mas confiar em Deus:

Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem
depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que
tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento; que pratiquem o
bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir; que
acumulem para si mesmos tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim
de se apoderarem da verdadeira vida (1Tm 6.17-19).

<http://www.monergismo.net.br/textos/livros/reflexoes-1timoteo_livro_cheung.pdf>. Acesso em: 30


de dez. 2018.
18
LIMA, Brilhe a sua luz, p. 151.
51
Ser cristão é ter uma nova visão patrimonial, reorientação de valores e aprender
a ser contente com o que possui para não se tornar um perseguidor de riquezas. É
não sacrificar a família, a igreja e o lazer por causa de riqueza. A “teologia do
contentamento” faz contentarmo-nos com aquilo que Deus nos dá. Devemos cuidar e
zelar por aquilo que está em nossa posse, pois, na verdade, não nos pertence, mas a
Deus. Tudo pertence a Ele, como diz Paulo: “Pois quem é que te faz sobressair? E
que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como
se o não tiveras recebido?” (1Co. 4.7).
Deus, na verdade, é quem nos deu tudo que temos. Ele fez isso não porque
merecemos alguma coisa, mas porque ele é bom e misericordioso. Tudo é graça: a
começar pela nossa vida. Somos apenas mordomos dos bens que ele deixou
temporariamente conosco.
Os que pregam a teologia da prosperidade gostam de usar o texto na carta
de Paulo aos Filipenses (4.13): “tudo posso naquele que me fortalece”. Todavia, eles
esquecem de analisar o contexto e o aplicam completamente fora de seu contexto
literário e histórico com objetivo de passar aos seus ouvintes a ideia de “poder”, de
“autovalorização”, de conseguir tudo que se deseja nessa vida, como se fosse uma
palavra mágica. A grande maioria dos teólogos entendem que a Carta aos Filipenses
foi escrita por Paulo na prisão – talvez em Roma ou Éfeso. Ele escreveu palavras de
encorajamento aos seus leitores, pois passavam por grande tribulação. O significado
dessa expressão não está no fato do “poder” em obter conquistas. O objetivo é de
incentivá-los a suportar todas as provações em Cristo. O texto não tem nada a ver
com a teologia triunfalista do evangelho pragmático pregado nas igrejas modernas.
Paulo estava dizendo que ele poderia passar por todo tipo de situação sem que
deixasse de proclamar a glória de Cristo. Ele já havia aprendido a se contentar em
todas as circunstâncias já vividas: tanto de abundância como de escassez. Já havia
passado necessidade e passado fome. O que importava para ele era Deus ser
honrado e realizar os seus propósitos: “Tanto sei estar humilhado como também ser
honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura
como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me
fortalece” (Fp. 4.12-13).
David H. Stern comenta o texto bíblico com a seguinte advertência:

O cristianismo é acusado de estimular tanto o ascetismo quanto a ganância.


O ensino destes versículos, baseados em experiência pessoal (detalhada em
52
2Co 11.21-33), é o de que o Messias oferece poder para se enfrentar tanto a
escassez quanto a fartura, na verdade o poder para todas as coisas.19

Kenneth Hagin declara ter recebido uma revelação divina no texto bíblico
do Evangelho de Marcos (11.23-24) para dar início a sua fé e determinar a sua cura.
Afirmando ter sido curado, iniciou o seu ministério de fé. Contudo, a Bíblia não nos
ensina com esse versículo que alcançaremos tudo o que queremos através da
“determinação” de algo para a nossa vida. Quando o Senhor Jesus responde a Pedro,
lembrando-o que a figueira que ele havia amaldiçoado secou, disse-lhe para ter fé em
Deus. Ele prossegue: “...em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte:
Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que
diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede
que recebestes, e será assim convosco”. Ele estava fazendo uma ligação da vida do
povo de Israel com o templo que ele condenou e a figueira que ele amaldiçoou.
Segundo Vicent Cheung, essa passagem precisa ser interpretada conjuntamente com
os dois episódios: o templo que representa toda a nação de Israel, bem como a
figueira que também representava aquele povo – que aparentemente se mostrava
bela exteriormente e cheia de folhas, mas por dentro estava completamente podre.
Não havia nada saudável e que se pudesse aproveitar.20 O povo só proclamava Deus
com lábios, mas o coração totalmente vazio dele (Mc. 7.6). Na mente dos judeus, o
templo era a casa de oração, onde eles ofereciam sacrifícios por seus pecados. Só
que eles se apegaram ao templo de tal forma que passaram a encontrar segurança
no templo e no seu sistema, e não em Deus. Era uma falsa piedade que eles tinham
quando oravam. Chegavam a pensar que estando no templo nenhum mal os
sobreviriam. A sua confiança era tanta que pensavam que Deus só poderia responder
a sua oração no próprio templo.
No terceiro dia da última semana de Jesus em Jerusalém, ele enfrentou
uma imensa batalha com os líderes religiosos. A figueira seca desde a raiz significa a
rejeição total e completa de Jesus do sistema religioso do templo. Ela representa no
texto como um símbolo para algo mais. Jesus estava mostrando aos discípulos que
não era possível produzir algum fruto naquele lugar. Só resta essa raiz ser cortada e

19
STERN, David H. Comentário judaico do Novo Testamento. São Paulo: Atos, 2008, p. 650.
20
CHEUNG, Vicent. Fé para mover montanhas. Disponível em:
<http://www.monergismo.com/textos/comentarios/fe-montanha_cheung.pdf>. Acesso em: 30 de
dez. 2018.
53
lançada ao fogo, bem como todo o sistema religioso do templo. Essa é a mensagem
proferida para todos aqueles que professam o nome de Cristo, mas não produzem
frutos dignos de arrependimento. Eles proclamam Cristo somente da boca para fora,
mas os seus testemunhos são os piores possíveis. São pessoas hipócritas e que não
vivem a fé que professam. Não é a palavra que o homem profere que tem poder. É a
palavra de Cristo que amaldiçoa quem ele quer, pois o Pai lhe deu autoridade para
julgar. Nunca podemos esquecer que somos criaturas e Deus é o Criador. Ele é
soberano, e nós somos servos. Deus é o oleiro, e nós somos o barro.
Hendriksen, expondo sobre a figueira que Jesus amaldiçoou, escreve: “É
impossível crer que a maldição que o Senhor pronuncia sobre esta árvore fosse um
ato de punição, como se árvore como tal fosse responsável por não produzir fruto, e
como se, por essa razão, Jesus estivesse irado com ela.”21
Jesus disse aos discípulos: “Tenham fé em Deus”. Instrui assim para que
eles tivessem fé no Deus verdadeiro e para que o coração deles não tivessem na
beleza do Templo. Este logo iria ser destruído, assim como aqueles homens que
faziam parte desse sistema religioso já condenado. A fé dos discípulos deveria estar
no Deus Vivo que se revelou na Pessoa de Jesus. Só assim, eles poderiam produzir
bons frutos. A nossa fé precisa estar em Deus somente, e não nas nossas palavras.
A definição de fé encontramos na carta aos Hebreus (11.1): “Ora, a fé é a certeza de
coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem”. É uma fé genuína, e
não algo místico. Devemos ter o conhecimento de Deus e de sua Palavra para
podermos aplicar essa fé em nossa vida. É essa fé que tem poder. Quando Jesus
disse “... se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no
seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele”, entendo ser essa
fé que Cristo está falando. Ela não é para determinar que aconteça curas, milagres,
ou coisas impossíveis que queremos obter em nossa vida, mas ser usada no avanço
do Seu Reino aqui na Terra. Precisamos orar que o Senhor nos ajude em nossa
incredulidade e que nos aumente a fé para realizar seus propósitos e vencer todos e
quaisquer obstáculos que impeçam o desenvolvimento de Sua obra no mundo. Essa
fé, os discípulos adquiriram por ocasião da descida do Espírito Santo. Aqui se inicia o
processo de expansão do Reino no mundo. Ele se estende até os dias de hoje através

21
HENDRIKSEN, Willian. Comentário do Novo Testamento: João. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p.
442.
54
de homens e mulheres de Deus que, imbuídos dessa fé, propagam o verdadeiro
Evangelho.
Os milagres realizados, descritos nas Escrituras, sempre tiveram um
propósito específico: de mostrar a autoridade e o controle e presença de Deus em sua
soberania. Eles jamais ocorreram como evento casual, pois Deus não faz nada sem
propósito. Os milagres sempre estão relacionados a uma determinação de Deus, no
que diz respeito ao cumprimento de seus decretos de maneira visível e racional.
Todos os milagres registrados na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, ocorreram no sentido literal. Os milagres ocorridos no Antigo
Testamento, em sua maioria no período de Moisés, Josué, Elias e Eliseu, tinham o
propósito de transmitir sinais da existência de Deus, do seu poder e de mostrar a sua
vontade ao seu povo. Seguindo este propósito, os milagres autenticavam a Lei de
Deus apresentada por seu mensageiro e chamava a atenção para novas revelações.
No Novo Testamento, no ministério público de Cristo, os milagres
realizados revelam a sua glória. Os milagres operados por Jesus não somente tinham
o caráter de atestar sua divindade, mas, sobretudo, que viéssemos a crer que Jesus
é o Cristo, o Filho de Deus, e, assim crendo, pudéssemos ter vida em seu nome, como
demonstra o propósito do Evangelho de João: “ Estes, porém, foram registrados para
que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em
seu nome” (Jo. 20.31).
No Evangelho de João podemos observar claramente a relação entre a fé
e a vida eterna, quando o evangelista afirma:

Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho
do Homem (que está no céu). E do modo por que Moisés levantou a serpente
no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que
todo o que nele crê tenha a vida eterna” (Jo. 3.13-15).

Nesse mesmo sentido, ao falar da missão do Filho, João diz: “Porque Deus
amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3.16).
Quanto aos milagres operados pelos Apóstolos, por um tempo
relativamente curto, ocorreram também com um propósito específico: o de autenticar
e estabelecer a igreja na Terra. Tendo passado esse período, a Bíblia não relata mais
nenhum milagre operado por esses homens de Deus, como sinal de continuidade.
Caso permanecesse esse propósito de Deus, Paulo teria curado Timóteo que se

55
encontrava com uma enfermidade no estômago. Ele se limitou em sugerir a tomar um
pouco de vinho (1Tm. 5.23), bem como partiu triste deixando o seu companheiro
Epafrodito doente (Fp. 2.26-27).
Leandro Lima, quanto ao propósito dos milagres, faz o seguinte comentário:

Os milagres também são chamados na Bíblia de “sinais”. Um sinal aponta


para alguma coisa, e normalmente não para si mesmo. Um sinal de trânsito,
por exemplo, não pretende chamar atenção para si mesmo, e, sim, apontar
para uma situação importante. Assim, os milagres não são simples
demonstração de poder para impressionar as pessoas, mas eles têm um
propósito. Os sinais de Cristo nunca eram praticados com fins egoístas ou
com o propósito de se mostrar às pessoas. Na realidade, eles tinham sempre
o propósito de glorificar a Deus, relacionar de modo fundamental a base
sobrenatural da revelação e, também, satisfazer e aliviar as necessidades
humanas.22

Os milagres têm sempre o propósito de glorificar a Deus. Pelo que se pode


constatar na Bíblia, tratando-se de curas, são de efeitos imediatos, ocorrendo
instantaneamente, como o caso do paralítico em Betesda (Jo. 5.1-9). A pessoa que
recebia a cura não retornava ao mesmo estado de enfermidade de antes por falta de
fé ou por estar em pecado. As curas eram todas bem-sucedidas, realizadas em locais
públicos e nem sempre eram condicionadas à fé.
Os milagres realizados por Jesus havia um significado. Isso pode ser
observado na maneira como são narrados nos Evangelhos. São sinais que apontam
para a Pessoa de Cristo e sua relação com Deus, como Filho unigênito do Pai. Para
cada milagre havia propósito específico relacionado com as atividades de Cristo. João
deixa claro em seu Evangelho que o seu alvo não diz respeito apenas em relatar os
milagres realizados por Cristo, mas indicar algo muito maior e mais valioso: a Pessoa
de Jesus – “para que creias que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais vida em seu nome” (Jo. 20.31). João atesta a divindade de Jesus, designando-
o como Filho de Deus desde o prólogo do Evangelho. João atesta também a
Messianidade de Jesus quando relata a ressurreição de Lázaro (Jo. 11.11-45).
Segundo Charles Ryrie, a Bíblia registra nos Evangelhos 35 milagres
realizados por Jesus, assim distribuídos: Mateus, 20; Marcos, 18; Lucas, 20; e João,
7.23 Porém, não significa que foram apenas esses milagres que Jesus realizou.
Ocorreram muito mais, conforme João afirma: “Há, porém, ainda muitas outras coisas

22
LIMA, Razão da Esperança, p.187.
23
RYRIE, Charles. Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 2000, p. 1663.
56
que Jesus fez. Se todas elas fossem relatadas uma por uma, creio eu que nem no
mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos” (Jo. 21.25).
O Evangelho de João tem como objetivo, abordar duas questões
fundamentais: a) o relacionamento de filiação entre Deus e o Verbo (Jesus); e b) a
possibilidade de uma proximidade entre Deus e os seres humanos. João mostra no
Prólogo que tanto o Pai como o Filho são Deus. A designação de Jesus como Filho
de Deus expressava a crença da divindade de Jesus: sua origem divina e sua
preexistência. O Verbo (Jesus) é apresentado como o agente da Criação. Deus, como
Criador, usa o Verbo como seu agente exclusivo para criar “todas as coisas”.24
Os sete milagres de Jesus apresentados no Evangelho de João foram com
intuito de manifestar a glória de Deus, conforme descrito em João 20.31. João usa a
expressão sinal, marca e prodígio (semeion) para diferenciar de demonstração de
poder (dunamis), que é usado nos Evangelhos sinóticos. João talvez quisesse
evidenciar propósitos diferentes de atos de “poder”. O foco estaria em apresentar
Jesus como Filho unigênito de Deus e de atestar a sua missão como o Messias
prometido. O fato é que o milagre sempre aponta para a glória de Deus e não para o
milagre em si.
Os milagres apresentados nos Evangelhos Sinóticos, embora com ênfases
parecidas com o do Evangelho de João, tem por foco apresentar um aspecto diferente
de demonstração de poder (dunamis). Entretanto, todos têm o propósito de glorificar
a Deus, como explica Marcelo Berti:

O ato de glorificar a Deus podia ser feito pela multidão que assistia o milagre
ou pelo que recebera o milagre, mas de qualquer forma, era um modo de
reconhecer a origem do ato milagroso que acontecera. Entretanto, outro
elemento decorrente do maravilhamento das multidões, e fundamental para
a compreensão de Cristo nos sinóticos, é o Poder-Autoridade que é
confirmado por meio de atos milagrosos. O termo grego que traduz essa ideia
é exousia. Esse termo pode ser usado para descrever cargos de autoridade,
o poder da pessoa que exerce tal cargo de autoridade decorrida desse poder.
Essa é uma marca muito interessante nos evangelhos sinóticos, pois não é
incomum encontrarmos esse conceito. Quando os evangelistas registram o
apreço das multidões pelo ensino de Cristo esse reconhecimento está
invariavelmente presente (Mt 7.29; Mc 1.22; Lc 4.32). O mesmo
reconhecimento é visto em relação aos atos milagrosos de Cristo.25

24
KOSTENBERGER, Andreas J.; SWAIN, Scott R. Pai, Filho e Espírito: a Trindade e o Evangelho de
João. São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 61 e 63.
25
BERTI, Marcelo. A relevância dos milagres de Cristo para cristologia do Novo Testamento.
Disponível em: <http://www.e-cristianismo.com.br/teologia/cristologia/a-relevancia-dos-milagres-de-
cristo-para-cristologia-do-novo-testamento.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
57
Mateus dá testemunho de Jesus ao dizer que ele curava “toda a sorte de
doenças e enfermidades entre o povo. E a sua fama correu por toda a Síria;
trouxeram-lhe, então, todos os doentes, acometidos de várias enfermidades e
tormentos: endemoninhados, lunáticos e paralíticos. E ele os curou” (Mt. 4.23-24).
Jesus, através dos milagres realizados, mostra o “poder-autoridade” sobre
a saúde física e espiritual do ser humano: doenças orgânicas ou congênitas, como
também o milagre de ressuscitar mortos. Muitas são as causas das enfermidades
apresentadas pelas pessoas que, necessariamente, não decorrem de seus pecados.
Deus, às vezes, usa do sofrimento físico pra disciplinar seu povo. Existem duas razões
que levaram Jesus a realizar curas. A primeira por se sensibilizar com o sofrimento do
povo, e a segunda para atestar que ele era o Messias prometido nas Escrituras
O primeiro milagre de Jesus, segundo o registro de João, foi a
transformação de água em vinho, ocorrido no casamento em que Jesus foi convidado
(Jo. 2.1-11). No decorrer da festa, os criados perceberam que o vinho estava
acabando. Precisava que algo fosse feito com urgência, pois senão a vergonha da
família seria inevitável. O vinho fazia parte da cultura hebraica. Ele era consumido
como entretenimento dos convidados e simbolizava alegria. Jesus transformou a água
em vinho de excelente qualidade. Desta forma, disponibilizou o vinho de melhor
qualidade até o final da festa – diferentemente do costume da época, onde o vinho
servido no final era sempre de qualidade inferior. Houve uma mudança sobrenatural
imediata na natureza daquela substância. Isso redundou em manifestação da glória
de Jesus e na crença de seus discípulos nele.
Kistemaker faz o seguinte comentário com relação ao primeiro milagre de
Jesus:
De acordo com o apóstolo João, transformar água em vinho foi o primeiro
sinal miraculoso que Jesus realizou em Caná da Galileia. Os milagres
revelavam a glória de Jesus, mas também cumpriam o propósito de fazer que
seus discípulos pusessem a fé nele. De modo geral, os milagres ocorriam
para criar fé em Jesus, ou em resposta à fé. Ao transformar água em vinho,
Jesus fez seus discípulos se transformarem em crentes. Eles puderam
verificar a verdade de suas palavras de que veriam o céu aberto e os anjos
de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem.26

A cura do filho de um oficial do rei (Jo. 4.46-54). João relata que o oficial do
rei foi ter com Jesus em Caná. Ele suplicou que o Mestre fosse até sua casa e curasse
o seu filho que estava à morte. Jesus disse para ele ir a sua casa que o seu filho

26
KISTEMAKER, Simon J. Os milagres de Jesus. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 16.
58
estava vivo. O oficial creu na palavra de Jesus e partiu. Quando estava chegando em
sua casa na manhã seguinte, seus servos vieram ao seu encontro anunciando que o
menino vivia. Ao perguntar aos servos o horário exato da recuperação da saúde do
menino, foi informado que teria sido às sete horas da noite. Reconheceu o oficial que
este horário coincidia com o horário que Jesus ordenou-lhe que retornasse, pois o
menino vivia. O pai do menino creu em Jesus e toda a sua casa. Jesus revelou a sua
autoridade divina de curar qualquer tipo de enfermidade, mesmo à distância.
Com relação as curas que Jesus realizava, Leandro Lima e Sergio Lima,
fazem o seguinte comentário:

Ninguém jamais realizou curas como Jesus. Nem poderia, pois, suas curas
foram atestadas de sua messianidade. As principais características delas
foram: curava a todos indistintamente; curava todo o tipo de doença
ilimitadamente; podia curar diretamente, sem uma palavra ou toque, se
oração, e até mesmo sem estar próximo a pessoa curada; Jesus curava
instantaneamente, pois não havia necessidade nenhuma de recuperação e
suas curas eram completas e não parciais; Jesus curava problemas
orgânicos e congênitos; Jesus até mesmo trouxe pessoas da morte para a
vida.”27

O milagre da multiplicação de pães e peixes (Jo. 6.1-15) ocorreu na ocasião


em que Jesus se encontrava ministrando ensinamentos à multidão que foi ao seu
encontro como ovelha sem pastor. Ela levava seus doentes para serem curados por
Jesus. A multidão permaneceu com ele na margem do Lago da Galileia até o final do
dia. Jesus percebendo a necessidade física do povo, mesmo já sabendo o que ia
fazer, mas para testar a fé dos discípulos, perguntou se tinham dinheiro para comprar
pão para dar de comer àquelas pessoas. Os discípulos, ao fazer um cálculo rápido,
reconheceu a impossibilidade de alimentar toda aquela multidão. André avistou um
menino que tinha cinco pães de cevada e apenas dois peixes, que seriam insuficientes
para suprir a necessidade do povo. Foi quando Jesus tomou os pães e os peixes e,
dando graças, distribuiu-os entre eles, de forma que toda a multidão que se fartou.
Tendo ainda Jesus orientado os discípulos a recolherem em doze cestos os pedaços
que sobraram para que nada se perdesse.
No milagre da multiplicação dos pães e peixes, Jesus se revela como o
Messias prometido, o libertador espiritual do seu povo e seu provedor, tanto espiritual
como físico. Ele revela a sua divindade em dar o pão para ensinar que a vida espiritual

27
LIMA, Leandro; LIMA, Sergio. A Vida de Jesus. São Paulo: Agathos, 2014, p. 112.
59
está nele. Jesus é o Pão da Vida! Ele ensina que a Palavra e a Verdade são
verdadeiros alimentos. As bênçãos recebidas são provenientes da graça divina.
Porém, o povo não havia entendido que a missão de Jesus era espiritual, pois estavam
aguardando um libertador político que viesse libertá-lo dos tiranos romanos. Quando
o povo viu o sinal que Jesus fez, queria ungi-lo como rei, pois achava que Jesus seria
o seu libertador político. Jesus, então, se retira, pois o seu reino não é desse mundo.
Somente no dia seguinte Jesus explica à multidão o significado do sinal: “...vós me
procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes.
Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a
qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo”.
Jesus prossegue dizendo: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome;
e o que crê em mim jamais terá sede”.28
Os sinais sempre apontam para alguma coisa e nunca para si mesmo. Isso
é o contrário dos pregadores da prosperidade, que só visam o milagre em si. Ficam
anunciando milagres com o intuito de atrair as pessoas para suas igrejas. Usam de
falsas promessas que só beneficia o seu próprio ego e satisfaz apenas os seus
próprios interesses.
Jesus também curou um cego de nascença (Jo. 9.1-34). Ele e seus
discípulos, ao passarem próximo ao templo, viram o cego de nascença pedindo
esmolas. Os discípulos perguntaram a Jesus se a cegueira do pedinte seria
consequência do seu pecado ou de seus pais. Ele respondeu que a causa não era o
pecado de nenhum deles, mas para que se manifestasse nele as obras de Deus. A
obra de Deus que Jesus estava se referindo seria a cura do cego – não só fisicamente
como também espiritualmente. Jesus, então, para mostrar que tinha autoridade para
realizar as obras do Pai que lhe enviou, cuspiu na terra e, após feito lodo com a saliva,
aplicou-lhe aos olhos do cego. Então, manda-o se lavar no tanque de Siloé e volta
enxergando. Jesus revela-se como a luz do mundo ao afirmar que, enquanto estiver
no mundo, é a luz. Nesse episódio, também ficou evidenciada a incredulidade dos
judeus. Quando as pessoas que conheciam o cego maravilharam ao vê-lo curado, o
levaram às autoridades religiosas para saberem sua opinião a respeito da cura. Os
religiosos reagido com ira por ter ocorrido em dia de sábado. Eles levaram dúvidas

28
LOPES, Augustus Nicodemus. Pão da Vida. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=V_My-cEfqnQ>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
60
sobre a autoridade de Jesus ter vindo de Deus pelo fato de ter curado em dia de
sábado. Os fariseus resolveram investigar a vida do rapaz e convocaram seus pais
para testemunharem sobre sua cegueira. Os pais confirmaram que era seu filho e
havia nascido cego. Porém, não quiseram se comprometer quando lhes fora
perguntado quem recuperou a sua visão, preferindo dizer que perguntasse
diretamente ao filho. O rapaz, ao ser interrogado, confessou publicamente a Jesus,
dizendo: “Se este homem não fosse de Deus, nada poderia ser feito”. Com essa
resposta foi o cego expulso do templo.
Jesus, ao saber que o cego que havia curado foi expulso, ao encontrá-lo
perguntou-lhe se cria no Filho do Homem. Tendo perguntado quem seria para que
nele cresse, Jesus disse que era quem estava falando com ele. Respondendo em
seguida o rapaz e admitindo a sua fé, disse que sim e o adorou. Prossegue Jesus
dizendo: “Eu vim a este mundo para juízo; a fim de que os que não veem vejam, e os
que veem se tornem cegos”. Ocorreu o milagre da conversão.
João explica a incredulidade dos judeus com o cumprimento da profecia de
Isaías quando diz: “Quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço
do Senhor?” e “Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam
com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim
curados” (Jo. 12.37-40).
A ressurreição de Lázaro (Jo. 11.1-46). Jesus recebeu o comunicado, por
um mensageiro, das irmãs Maria e Marta da doença de Lázaro. Ele, porém, resolveu
permanecer mais dois dias onde estava para atender ao chamado de ajuda. Jesus
informou aos seus discípulos que a situação de Lázaro era para demonstrar a glória
de Deus, para que o Filho fosse glorificado por intermédio dele. O Mestre era amigo
íntimo dos irmãos e os amava, mas, mesmo assim, aguarda dois dias do chamado
para seguir viagem à casa da família. Jesus sabia que Lázaro havia morrido. Ele disse
aos seus discípulos que ele dormia e que iria à Betânia para despertá-lo, mas depois
anuncia claramente que ele havia morrido. Quando Jesus chegou à casa das irmãs,
encontrou Lázaro sepultado há quatro dias. Marta foi ao seu encontro demonstrando
muita tristeza pelo acontecimento. Ela disse a Jesus: “Senhor, se estiveras aqui, não
teria morrido meu irmão”. Em seguida, ela mostra a sua fé em Jesus ao dizer: “Mas
também sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá”.
Jesus confirmando a sua fé lhe respondeu: “Teu irmão há de ressurgir”. Entretanto,
Marta entendeu que Jesus se referia a ressurreição dos mortos. Marta chamou Maria
61
avisando que Jesus havia chegado e foram até o túmulo. Jesus, ao se aproximar,
sentiu grande comoção chegando a se angustiar. “Jesus chorou”. Depois ordenou que
retirassem a pedra. Marta reagiu dizendo que ele já estava morto há quatro dias e
cheirava mal. Jesus repreendendo-a fazendo-a lembrar que se cresse veria a glória
de Deus. Jesus faz uma oração de agradecimento ao Pai relatando seu consentimento
no atendimento ao pedido para que Lázaro voltasse à vida. Isso ele fez para que tudo
fosse compreendido como em conformidade com a vontade de seu Pai. Ele clamou
em alta voz: “Lázaro, vem para fora!” Imediatamente, ele saiu com as mãos e pés
amarrados e coberto com um lençol.
Kistemaker, ao comentar sobre a ressurreição de Lázaro, diz:

A essa altura do ministério de Jesus, a ressurreição de Lázaro foi realmente


o maior milagre que ele havia executado. Ele fez isso para que os que
estavam presentes junto ao túmulo pudessem testemunhar e confessar que
Deus o Pai havia enviado Jesus. Quando com fé eles aceitassem essa
verdade, saberiam que ele era o seu Messias, o Filho de Deus.
Muitos dos judeus que haviam ido para consolar Maria, puseram a sua fé em
Jesus ao testemunharem o milagre de ressuscitar Lázaro dos mortos. Foram
estes que foram aos fariseus com a notícia do milagre que Jesus havia feito.29

Jesus com esse sinal revelou a sua messianidade e ser ele a ressurreição
e a vida. Quem deposita a sua fé nele, mesmo que morra viverá. Ao falar com o seu
Pai, a sua intenção era para que as pessoas cressem que o Pai o enviou. Muitos
judeus ali presentes, ao testemunharem o milagre, creram em Jesus Cristo.
Quanto a cura de um paralítico em Cafarnaum (Mt 9.2-8), Jesus, ao ver a
fé dos quatro homens que desceu o paralítico deitado no leito em sua frente, disse:
“Tem bom ânimo, filho; estão perdoados os teus pecados”. Ele, com essas palavras,
queria dizer ao paralítico que ele cuidaria tanto da alma como de seu corpo. Os
fariseus não aceitaram essas palavras de Jesus. Ele, conhecendo seus pensamentos,
disse-lhes: “Por que cogitas o mal em vosso coração? Pois qual é mais fácil? Dizer:
Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?”
Para os fariseus, só Deus tinha esse poder de perdoar os pecados. Eles
não criam em Jesus como Deus. Jesus, para mostrar seu poder-autoridade como Filho
do Homem, disse-lhes: “Ora, para que saibas que o Filho do Homem tem sobre a terra
autoridade para perdoar pecados – disse, então, ao paralítico: Levanta-te, toma o teu
leito e vai para tua casa”. O homem levantou-se, enrolou o seu leito e saiu – não

29
KISTEMAKER, Os milagres de Jesus, p. 45.
62
esquecendo de agradecer e de glorificar a Deus. A multidão, possuída de temor,
glorificou a Deus. Jesus mostrou para todos os presentes seu poder-autoridade tanto
de perdoar pecados quanto de curar os enfermos.
Muitos outros milagres Jesus realizou para a glória de Deus. O que se
percebe, entretanto, é que a grande maioria dos milagres era muito mais do que
simplesmente a concessão de algum benefício particular a uma pessoa ou algum
grupo. Os milagres de Cristo apontavam para sua missão como Salvador. Cada
milagre pode ser relacionado com algum aspecto de sua obra salvífica. Por esse
motivo, os milagres são chamados de “sinais”. Eles apontam para a maior e mais
miraculosa obra que Jesus realiza: a salvação dos pecadores.
É importante deixar claro que Deus continua trabalhando no mundo
sobrenaturalmente. Ele continua curando às pessoas em respostas à oração da igreja
(crentes em geral) e não de indivíduos dotados de dons sobrenaturais, como
acontecia na época dos apóstolos, que eram capacitados por Deus para isso. Esse
tipo de cura anunciada pelos curandeiros da fé é de caráter totalmente duvidoso. É
realizada em meio às multidões sem possibilidade de comprovação, quanto a
existência da doença da pessoa e nem da própria cura. Essas curas apresentadas,
nada se assemelham com as curas registradas na Bíblia Sagrada, que eram
enfermidades de conhecimento de todos no local, havendo comprovação de imediato
do milagre.
O versículo usado pelos teólogos da prosperidade, justificando que o
cristão não deve ficar doente e nem se conformar com a doença, pois Cristo tomou
sobre si as nossas enfermidades (Is. 53.4), devendo repreender e não aceitar nenhum
tipo de enfermidade, é passível de devida compreensão de seu verdadeiro significado
como profecia messiânica. Os versículos 4 a 6 do capítulo 53 do Livro de Isaías
explicam a natureza e o propósito do sofrimento do Servo. Quando o profeta faz
menção que o Servo tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores,
devemos entender que ele está falando de nossas “transgressões” e “iniquidades”.
Foi exatamente o que Pedro entendeu quando disse “carregando ele mesmo em seu
corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados,
vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1Pe. 2.24). Jesus carregou
sobre seus ombros todo o pecado da humanidade fazendo com que a ira de Deus
fosse derramada sobre Ele. O Servo foi traspassado pelas nossas transgressões e
moído pelas nossas iniquidades. Ele (Jesus) assumiu toda a nossa culpa, tornando-
63
nos justos diante do Pai.
Em nenhum momento, esse versículo fala que o cristão não deve aceitar a
doença, não deve ficar doente ou mesmo que deve repreender a doença. Ele não
deixa margem para acusação de não houve cura é devido à falta de fé ou por haver
pecado envolvido, como fazem os líderes da confissão positiva como os líderes da
confissão positiva. A Bíblia registra que muitos homens de Deus sofriam de
enfermidades. O Apóstolo Paulo é um exemplo. Ele sofria de um espinho na carne.
Mesmo com orações e súplicas, não foi curado (2Co. 12.7-9).
Hoekema faz o seguinte esclarecimento com relação aos sofrimentos que
ainda acontecem na vida de cristãos:

O sofrimento ainda acontece na vida de cristãos porque ainda não foram


eliminados todos os resultados do pecado. O Novo Testamento ensina que
através de muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus “(At
14.22). Paulo conecta nosso sofrimento presente com nossa glória futura (Rm
8.17,18). E Pedro aconselha seus leitores a não se surpreender com o “fogo
ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma
coisa extraordinária vos estivesse acontecendo”, mas antes “alegrai-vos na
medita em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo” (1Pe 4.12-
13).30

Augustus Nicodemus também tece comentário no que diz respeito ao


crente em Jesus vir adquirir alguma doença:

O meu ponto aqui é que cristãos verdadeiros, pessoas de fé, eventualmente


adoeceram e morreram de enfermidades, conforme a Bíblia e a História
claramente demonstram. O significado disso é múltiplo, desde o conceito de
que as doenças nem sempre representam falta de fé até o fato de que Deus
se reserva o direito soberano de curar quem ele quiser.31

Os proponentes da prosperidade usam também muito o texto do Evangelho


de João (10.10) para motivar os seus seguidores a buscarem uma vida de riqueza e
bens materiais. Eles alegam que Jesus veio a esse mundo para que tivéssemos vida,
e uma vida com abundância, conforme a sua interpretação bíblica: “O ladrão vem
somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em
abundância” (Jo. 10.10).
A palavra “abundante”, descrita no texto, foi traduzida do grego “perisson”.
Ela significa “muito, muito bem, além da medida, mais, supérfluo, uma quantidade tão

30
HOEKEMA, Anthony. A Bíblia e o Futuro. São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 88.
31
LOPES, Augustus Nicodemus. Crente fica doente? Disponível em: <http://tempora-
mores.blogspot.com/2008/11/crente-fica-doente.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
64
abundante que chega a ser mais do que era de se esperar ou antecipar”.
Considerando o significado, Jesus nos promete uma vida muito além daquilo que
poderíamos idealizar.
Ao contrário daqueles que tomam o bem alheio de forma indevida
(mercenários), Jesus promete a vida abundante para aqueles que nele creem. Esta
vida não consiste em algo físico, material, riquezas de bens, status econômicos e
prosperidade financeira. Ela consiste no bem muito maior. É algo sublime e glorioso:
que é a Vida Eterna – uma vida de conhecimento e comunhão sem fim com Deus.
Tomamos posse dessa vida no momento que é implantada uma nova vida em nós,
como já foi explicado no capítulo anterior, quando recebemos o Senhor Jesus, como
nosso Salvador. A partir desse momento, já podemos desfrutar da Vida Eterna. Não
em sua plenitude, pois a vida plena somente é possível quando estivermos na glória
com Deus, com nossos corpos transformados, no estado eterno. Entretanto, já
podemos usufruir da alegria da salvação através do conhecimento do nosso Deus,
que se revela a nós, através de seu Filho, Jesus Cristo: “E a vida eterna é esta: que
te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro; e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo.
17.3).
O prazer de adorar é um dos efeitos da vida em abundância. John Piper
comenta sobre a marca de adoração da vida em abundância:

O combustível da adoração é uma visão correta da grandeza de Deus; o fogo


que faz o combustível queimar com calor extremo é o avivamento do Espírito
Santo; a fornalha acesa e aquecida pela chama da verdade é nosso espírito
renovado, e o consequente calor da nossa afeição é a adoração poderosa
que abre caminho por meio de confusões, anseios, exclamações, lágrimas,
cânticos, exclamações, cabeças curvadas, mãos erguidas e vida
obedientes.32

Ao tomarmos posse da vida abundante, passamos a ser novas criaturas


em Cristo Jesus, crescendo a cada dia em amor e graça e amando uns aos outros,
conforme a Escritura nos orienta: “Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos, aquele que não ama permanece na morte” (1Jo.
3.14).
Com relação a declaração de Jesus no Evangelho de João (14.12), “Em
verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que
eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai”, ele não estava se

32
PIPER, John. Teologia da alegria. São Paulo: Shedd, 2001, p. 67-68.
65
referindo aos milagres físicos que havia feito em seu ministério terreno, como os
proponentes da prosperidade sugerem. A referência é sobre toda a sua obra terrena
de salvação de pecadores através da pregação do Evangelho. Os discípulos,
certamente, suplantaram. Eles expandiram o Reino de Deus pela pregação do
Evangelho, por meio do Espírito Santo, em várias regiões do mundo, conforme
apresenta o livro de Atos. Isso podemos perceber ser verdade, pois a história da igreja
não registra ninguém após o período dos apóstolos que teve ou tenha dom miraculoso
de operação de milagres. Não significando com isso, que não exista mais milagres
nos dias atuais. Deus continua operando milagres de forma sobrenatural por meio da
oração da igreja, conforme a Sua soberana vontade.
Augustus Nicodemus, com relação a esse texto bíblico, refutando a opinião
popular mais aceita pela maioria dos evangélicos, diz o seguinte:

...apesar dos milagres que realizaram, nem os apóstolos, que foram os


cristãos mais próximos desta promessa, parecem ter suplantado àqueles de
Jesus, em número e em natureza. Jesus andou sobre as águas, transformou
água em vinho”, acalmou tempestades e suas curas, segundo os Evangelhos,
atingiram multidões. Não nos parece que os apóstolos, conforme temos no
livro de Atos, suplantaram o Mestre neste ponto.33

Prosseguindo em seu comentário Nicodemus afirma:

O dito de Jesus, portanto, não está prometendo que qualquer crente que
tenha fé suficiente será capaz de realizar os mesmos milagres que Jesus
realizou e ainda maiores – A Escritura, a História e a realidade cotidiana estão
aí para contestar esta interpretação – e sim que a igreja seria capaz de
avançar o Reino de Deus de uma forma que em muito suplantaria o que Jesus
fez em seu ministério terreno. Os milagres certamente estariam e estão
presentes, não como algo que sempre deve acontecer, dependendo da fé de
alguns, e não por mãos de pretensos apóstolos e obreiros superpoderosos,
mas como resposta do Cristo exaltado e glorificado às orações do seu povo.34

No que diz respeito ao Salmo 82.6, “Eu disse: sois deuses, sois todos filhos
do Altíssimo”, diz respeito às autoridades e aos juízes desse mundo que devem ser
imparciais e justos na hora de exercerem as suas atividades, pois um dia irão prestar
contas ao Deus supremo. Deus escolhe pessoas para assumirem posição de
autoridade. Elas pessoas devem agir como seus representantes aqui na terra sendo
imparciais e justos, porque também, como mortais, vão ser julgados um dia pelo Juiz

33
LOPES, Augustus Nicodemus. Se eu tiver fé, poderei fazer mais milagres do que Jesus? Ditos
difíceis de de Jesus – IV. Disponível: <http://tempora-mores.blogspot.com/2012/08/se-eu-tiver-fe-
poderei-fazer-mais.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
34
Ibidem.
66
Maior. Jesus também cita esse Salmo em João 10.34, quando os judeus o acusaram
de blasfêmia por ele se intitular Filho de Deus. Ele faz lembrar aos judeus ímpios que
a Lei se refere a homens comuns quando diz “sois deuses”. Embora nomeados para
exercerem autoridades aqui na terra, quanto mais a Ele que foi escolhido e enviado
pelo Pai que o santificou para realizar tais obras.
João Calvino, ao tratar sobre o assunto, diz: “Deus investiu os juízes com
um caráter e título sacros... mas, ao mesmo tempo, ele mostra que tal coisa não
proporcionará nenhum apoio e proteção aos juízes ímpios.”35 Para Hendriksen, seria
como Jesus dissesse:

Vocês nunca protestaram quanto ao uso desse termo. Vocês nunca disseram
que Deus (ou asafe) cometeram um erro ao chamar os juízes deuses. (...)
Então muito mais ainda (...) vocês deveriam se abster de protestar quando
me denomino Filho de Deus.36

Como podemos perceber, a teologia da prosperidade é totalmente nociva


à vida cristã. Com sua interpretação triunfalista dos textos bíblicos isolados e fora do
contexto, não se preocupa com a glória de Deus. Chega até a blasfemarem contra
Deus no intuito, apenas, de viverem uma vida para este mundo exaltando o seu ego
e satisfazendo as necessidades humanas. Fomos criados para Deus e para servi-lo
de todo o nosso ser. Ele é o alvo de nossa vida. Nascemos para a Sua glória. Seja
em quaisquer circunstâncias que estivermos, temos que dar bom testemunho. Deus
sempre deve ser a prioridade em nossa vida. Infelizmente, a teologia da prosperidade
tem se alastrado em nosso País, prestando um grande desserviço ao Evangelho de
Cristo.

35
CALVINO, João. O livro dos Salmos: salmos 69-106. São Paulo: Edições Parakletos, 2002, p. 300.
36
HENDRILSEN, Comentário do Novo Testamento: João, p.484.
67
3 A VIDA NO PORVIR DENTRO DA PERSPECTIVA TEOLÓGICA

Nesse capítulo, vamos dissertar sobre o “estado eterno”. A Bíblia, podemos


afirmar, é o único testemunho seguro e confiável para se obter informação sobre o
assunto. O Livro Sagrado usa a palavra grega aionos para designar a palavra “eterna”.
O significado, no que se refere ao tempo, é algo que não tem começo e nem fim, bem
como pode ter um começo, mas não tem fim, dependendo do contexto. Contudo,
algumas vezes, quando é relacionada a “vida” (zoe no grego), passa a significar não
apenas uma vida sem fim, mas uma qualidade de vida, diferentemente da vida
biológica.
Esse estado de vida eterna tem a ver com a glorificação, pois é nela que
todos os crentes em Cristo terão seus corpos transformados: “Porque é necessário
que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se
revista da imortalidade” (1Co. 15.53). Assim, recebe-se, então, um corpo ressurreto
adequado para poder habitar com o Senhor, no estado eterno.
A vida que iremos ter no estado eterno será completamente diferente da
vida que temos atualmente aqui na terra. No porvir não haverá nenhuma possibilidade
de queda no pecado. É uma vida que durará para sempre – sem interrupção pela
morte, pois Cristo cumpriu o que Adão não conseguiu cumprir. Ele nos concedeu uma
condição de perfeição superior a que Adão tinha, como representante da nova criação,
sendo o perfeito Adão (1Co. 15.22-28 e 45-49; Ap. 21.27). A morte não existirá mais.
Jamais haverá separação de Deus, pois morte eterna nada mais é do que “eterna
separação de Deus”. A morte física e eterna hoje existem devido ao pecado que entrou
no mundo em decorrência da queda de Adão. Deus enviou seu Filho para nos libertar
de toda a maldição causada pelo pecado, como o Apóstolo Paulo afirmou: “Porque o
salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo
Jesus, nosso Senhor” (Rm. 6.23).
Antes de entrar propriamente na vida do porvir, faremos uma breve
exposição da Segunda vinda de Cristo, da Ressurreição final, do Juízo final, do
Destino eterno dos salvos e dos ímpios e da Restauração dos Céus e da Terra até
chegar na Vida plena com Deus.

3.1 A SEGUNDA VINDA DE CRISTO

A Palavra de Deus deixa claro que a segunda Vinda de Cristo será física,
visível e gloriosa: “Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como
o vistes (At. 1.11). Jesus retornará visivelmente nas nuvens com todo poder e glória,
em um único evento, completando o último evento redentivo (Ap. 1.7). Nessa Segunda
vinda de Jesus, ele virá para resgatar o seu povo. Ele trará consigo os seus eleitos,
que já se encontram com ele no céu, para que possa unir ao seu corpo para ser
ressuscitado no momento do arrebatamento (1Ts. 3.13; 4.14). Os que Jesus vem
trazendo com ele, ressuscitarão primeiro (1Ts. 4.13-17).
Embora a Bíblia informe que a vinda de Cristo será precedida por vários
sinais, ela também ensina que sua vinda será repentina e inconfundível. Os sinais
mostram que o tempo está próximo, mas o dia exato não podemos precisar. Contudo,
os cristãos verdadeiros aguardam com muito expectativa e alegria no coração por
esse grande dia: o Dia da volta do Senhor! Ele é a nossa esperança do cumprimento
de todas as suas promessas. Jesus virá para libertar o seu povo de toda opressão,
angústia, jugo, perseguição e injustiça sofrida na grande tribulação.
A grande tribulação acontecerá antes da vinda de Jesus e o cristão estará
presente enfrentando esses dias tão difíceis e de grande violência que antecede a sua
vinda. Dias esses, que jamais o mundo experimentou algo semelhante desde o
princípio, conforme a Escritura menciona: “Porque nesse tempo haverá grande
tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá
jamais. Não tivesse aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo, mas, por
causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados” (Mt. 24.21-22).
Os dias foram abreviados pela misericórdia de Deus para com seu povo
devido a grande pressão do inimigo para ludibriar os seus eleitos. É, quando,
repentinamente o céu se abre e aparece um cavaleiro num cavalo branco, cujo nome
é Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça (Ap. 19.11-16). É o Senhor Jesus com
todo os seus exércitos que saem com todo o poder e glória para pelejar contra o seu
inimigo. Essa batalha espiritual já foi vencida em sua primeira vinda na Terra, porém
falta ser consumada nessa Segunda vinda. Jesus além de vir pronto para guerrear na
batalha final, vem também como Juiz para julgar com justiça e destruir todos os seus
69
inimigos, conforme comenta Kistemaker:

Cristo também aparece como Juiz, pois “ele julga com justiça e faz guerra”.
No início desse conflito, ele é identificado como o Juiz. Ao travar guerra contra
o seu inimigo, ele administra a justiça que resulta em total destruição dos seus
inimigos. Deus ordenou que o julgamento divino anteceda a vitória, com a
certeza de que a justiça inevitavelmente triunfará.1

Assim, o Senhor Jesus derrota o seu inimigo (Ap. 19.17-18). Ele chega ao seu
ponto culminante com a derrota da besta e do falso profeta e seus seguidores (Ap.
19.19-21). Cumprindo como Fiel e Verdadeiro, a promessa de punir os ímpios e
vindicar o seu nome aos seus seguidores. Com relação a essa vindicação, Beale tese
o seguinte comentário:

A concentração no nome de Deus nos ajuda a lembrar que a preocupação


primária de Deus não é o nosso nome ou os nossos interesses, mas sim a
vindicação do seu nome e a revelação ao universo de que só ele é justo.
Todos os que o seguem serão igualmente vindicados apenas em razão da
sua identificação com o seu nome. Às vezes, temos de deixar a defesa do
nosso nome ou reputação nas mãos de Deus, seguros no conhecimento de
que o que o mundo pensa de nós agora não tem importância, mas que, à luz
da eternidade, o que Deus pensa de nós é da maior importância e que a
nossa fiel identificação com ele é que é crucial.2

Após Cristo derrotar a besta, o falso profeta e seus seguidores, a besta e o


falso profeta são presos e em seguida são lançados vivos no lago de fogo que arde
com enxofre (Ap. 19.20). Não para serem aniquilados, mas para ficarem naquela
punição eterna conscientes. Os seus seguidores são executados com espada (Ap.
19.21). Serão lançados, então, no lago de fogo, local onde Cristo já havia declarado:
“Apartai-vos de mim malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos” (Mt. 25.41).

3.2 A RESSURREIÇÃO FINAL

A morte vem para os cristãos não como meio de punição pelos nossos
pecados, pois Cristo já pagou por eles, como está escrito em Romanos: “agora, já não
há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8.1). Ela vem pelo fato de
vivermos em um mundo decaído, onde não foram removidos os efeitos do pecado.

1
KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2014,
p. 675-677.
2
BEALE, G. K. Brado de vitória. São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 390.
70
Sendo assim, por vivermos em um mundo resultante da queda, somos submetidos às
doenças, ao envelhecimento, aos desastres naturais, bem como as tragédias desse
mundo. Aguardamos a volta de Cristo para que o último inimigo seja destruído e
podermos, assim, tomarmos posse de todos os benefícios da salvação que o nosso
Senhor Jesus conquistou para nós. O desejo de Deus, ao permitir a morte em nossa
vida, é que possamos nos tornar mais parecidos com Cristo. Contudo, é importante
que saibamos que a morte não é algo natural. Ela não faz parte do mundo bom criado
por Deus, por isso será destruída por Cristo (1Co. 15.26).
É na Segunda Vinda de Cristo que acontecerá a destruição do último
inimigo, que é a morte (1Co. 15.20). Cristo ressuscitará o nosso corpo dentre os
mortos e ele ficará igual ao seu corpo ressurreto (1Co. 15.23; 49; Fp. 3.21). É o Pai
que realizará essa obra por meio do Filho, a quem ele concedeu “ter vida em si
mesmo” (Jo. 5.26). A ressurreição se dará a todos os seres humanos: crentes e
descrentes. Embora a Escritura atribua essa ressurreição também à Cristo, quase não
é relatada na Bíblia, porque a ressurreição de Cristo não está relacionada diretamente
com a ressurreição dos crentes. Ela é completamente diferente.
Bavinck comenta sobre a necessidade da ressurreição dos mortos da
seguinte forma:

A ressurreição dos mortos, em geral, é apenas indiretamente um fruto da obra


de Cristo. Ela se tornou uma necessidade somente porque uma morte
temporal ocorreu e essa morte temporal é separada da morte eterna pela
graciosa intervenção de Deus. Originalmente, a punição do pecado em seu
pleno alcance e severidade. Mas como, por causa da queda da humanidade,
Deus escolheu para si uma comunidade para a vida eterna, ele
imediatamente retardou a morte temporal já no caso de Adão e Eva, permitiu
que o seu humano se reproduzisse de geração em geração e somente no fim
dos tempos destina aqueles que desobedeceram a sua lei e seu evangelho à
perdição eterna. A ressurreição geral, portanto, serve apenas para restaurar,
em todos os seres humanos, a ruptura que ocorreu somente no que diz
respeito à graça em Cristo – para colocar todos eles diante do tribunal de
Deus como seres humanos, corpo e alma, e deixa-los ouvir a sentença de
sua boca. O Pai também efetua essa ressurreição geral por meio de Cristo,
porque ele deu ao Filho não apenas a vida, mas também a autoridade para
julgar e esse julgamento deve envolver toda a pessoa, corpo e alma (Jo 5.27-
29). A ressurreição dos mortos, portanto, em geral é primariamente um ato
judicial de Deus. No entanto, para os crentes, esse ato é cheio de abundante
consolação. Na Escritura, a ressurreição da comunidade crente está sempre
em primeiro plano, tanto que, às vezes, a ressurreição de todos os seres
humanos é deixada fora de consideração ou completamente omitida.3

3
BAVINCK, Herman. Dogmática reformada - Espírito Santo, Igreja e nova criação. São Paulo: 2012, v.
4, p. 701.
71
Paulo faz uma explanação minuciosa e gloriosa sobre como se dará a
nossa ressurreição. Cristo nos dará novos corpos para que fiquemos parecidos com
ele. Com o corpo igual ao dele, incorruptível, passaremos a vê-lo como ele é – sem
os olhos sob o efeito do pecado que temos hoje por vivermos num mundo decaído,
afetado pela Queda. O novo corpo será adequado para vivermos ao seu lado e em
plena comunhão com Deus na cidade santa que ele está preparando para nós.
Wayne Grudem faz o seguinte comentário sobre a Glorificação:

Deus não deixará nosso corpo morto na sepultura para sempre. Quando
Cristo nos redimiu, ele não redimiu apenas nosso espírito (ou alma) – ele nos
redimiu como pessoas completas, e isso inclui a redenção de nosso corpo.
Portanto, a aplicação da obra redentora de Cristo a nós não será completa
até que nosso corpo seja inteiramente liberto dos efeitos da queda e trazido
ao estado de perfeição para o qual Deus o criou. De fato, a presente, Paulo
diz que esperamos pela “redenção do nosso corpo” e então acrescenta: “Pois
nessa esperança fomos salvos” (Rm 8.23,24). O estágio da aplicação da
redenção em que receberemos por fim o corpo ressuscitado é chamado de
glorificação. Referindo-se àquele dia futuro, Paulo diz que participaremos da
glória de Cristo (cf. Rm 8.17). Além disso, quando Paulo traça os passos na
aplicação da redenção, o último que menciona é a glorificação: “E aos que
predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou; aos que
justificou, também glorificou (Rm 8.30).4

Hoje, temos um corpo fraco fisicamente, perecível, sujeito às doenças, às


enfermidades e ao envelhecimento, pois tudo isso faz parte do mundo amaldiçoado
que vivemos. Segundo Paulo afirma na Escritura, o nosso corpo será ressuscitado
“em poder”. Será um poder humano que nos dará saúde, força e condições de uma
vida saudável, sem nenhum desgaste físico, de forma plena: “Semeia-se em fraqueza,
ressuscita em poder” (1Co. 15.43). Nosso corpo, diz a Palavra de Deus, que será
ressuscitado “em glória”, não será um corpo para ser desonrado pela atração por
desejos pecaminosos. Ele será um corpo santo e sem mácula do pecado: “Então, os
justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos (para ouvir),
ouça” (Mt. 13.43).
A Escritura ensina que todos os mortos serão ressuscitados, tantos os
justos quanto os injustos. A ressurreição geral se dará no último dia ou na segunda
vinda de Jesus, ou seja, será uma única ressurreição. Os mortos ressurgirão uns para
a vida eterna e outros para a vergonha e horror eterno, que será a condenação eterna
(Dn. 12.2-3). Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Aqueles que ainda estão
vivos, quando Jesus voltar serão transformados num abrir e fechar de olhos. Juntos

4
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 450.
72
serão arrebatados para o encontro com Senhor nos ares.
Berkhof, a respeito da ressurreição geral, faz o seguinte comentário:

A representação uniforme das Escrituras sobre esse tema é que essa


ressurreição geral deverá ocorrer “no último dia”, ou na segunda vinda de
Cristo. A mesma forma de expressão e usada para designar o tempo em que
o povo de Cristo há de ressurgir, e o tempo em que ocorrerá a ressurreição
geral. A Bíblia, excetuando-se a duvidosa passagem de Apocalipse 20.406,
nunca fala de nenhuma outra, senão de uma só ressurreição. Os mortos,
segundo as Escrituras ressuscitarão concomitantemente, alguns para a vida
eterna, e outros para a vergonha e o horror eterno. Quando Cristo vier, todos
os que estiverem nos túmulos sairão, alguns para a ressurreição da vida,
outros para a ressureição da condenação. Quando 1Tessalonicenses 4.16
afirma “Os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro”, isso não significa que
haverá duas ressurreições, uma daqueles que estão em Cristo, e a outra
daqueles que não estão nele. O Apóstolo está falando de um tema distinto.
Ele conforta os tessalonicenses com a certeza de que seus amigos que
dormem em Jesus não perderão a parte nas glórias da segunda vinda. Os
que, então, estiverem vivos não estorvarão, ou seja, não precederão os que
dormem, mas, os mortos em Cristo ressuscitarão antes que aqueles que
estiverem vivos sejam transformados; e então ambos os grupos serão
arrebatados para o encontro do Senhor nos ares. A passagem paralela é
1Coríntios 15.51,52: “Eis que vos digo um mistério; nem todos dormiremos,
mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de
olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos
ressuscitarão incorruptíveis e nos seremos transformados”. 5

3.3 O JUÍZO FINAL

A salvação é obra exclusiva de Deus e a recebemos por sua graça e não


por méritos. Cabe exclusivamente a Deus salvar os perdidos e lançar seus nomes no
livro da vida, como é afirmado nas Escrituras: “Que diremos, pois? Há injustiça da
parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem
me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter
compaixão” (Rm. 9.14-15).
Como já vimos anteriormente, Jesus em sua Segunda Vinda virá
juntamente com seus exércitos trazendo os seus eleitos, que morreram anteriormente,
e os ressuscitarão: primeiro os que vieram com ele e, depois, os vivos que ficaram na
Grande Tribulação (1Ts. 4.16-17).
Acontecerá nessa Segunda Vinda também, o Dia do Juízo Final, onde Deus
se assentará no seu Trono para julgar a todos. Tanto os justos quanto os ímpios
comparecerão diante do Tribunal de Cristo: “Vi também os mortos, os grandes e os

5
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p. 1636-1637.
73
pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o
Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados segundo as suas obras, conforme
o que se achava escrito nos livros” (Ap. 20.12). Ali será feita a separação das ovelhas
e dos cabritos. Conforme o Evangelho de Mateus, as ovelhas ficarão à direita e os
cabritos à esquerda: “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os
anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória: e todas as nações serão
reunidas em sua presença, e ele separará um dos outros, como o pastor separa dos
cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda” (Mt.
25.31-33).
O propósito do Juízo final se dará pelo fato da Queda de nossos primeiros
pais, tendo Deus decretado a sua sentença de morte, embora não tenham sido mortos
fisicamente de imediato, mas morreram espiritualmente instantaneamente. E, anos
depois, a morte física entrou no mundo também.
A Bíblia diz que Cristo será auxiliado pelos anjos e pelos eleitos glorificados
em sua atividade julgadora. Todavia, não sabemos qual será a nossa participação
nesse juízo de julgar todas as pessoas e anjos rebeldes (1Co. 6.2-3; Ap. 20.4).
Entretanto, o seu Juízo será justo e nada ficará oculto diante de suas vistas: “Nada há
oculto, que não haja de manifestar-se, nem escondido que não venha a ser conhecido
e revelado” (Lc. 8.17). Cada um ouvirá do supremo Juiz todos os seus feitos – bons e
ruins durante a sua vida na terra sem ter necessidade de defesa ou acusação, pois
todos os seus atos estarão inscritos nos livros que serão abertos no Dia do
Julgamento. No final da leitura, o Juiz dará a sentença a todos que estarão a sua
frente em pé diante do trono.
Contudo, não entrarão como base desse julgamento as obras de cada um
aqui na terra, pois estas farão parte das recompensas aos salvos que mais se
dedicaram em fazer a vontade de Deus aqui na terra (Mt. 5.12; 6.1). O que será levado
em consideração é o “Livro da Vida” – se o nome consta ou não incluído no livro: “E,
se alguém não foi achado inscrito no livro da vida, esse foi lançado para dentro do
lago de fogo” (Ap. 20.15). Nesse julgamento, será considerada além da eleição a obra
redentora de Cristo, onde ele cumpre a sua promessa de redimir todo aquele que nele
crê, como explica Leandro Lima:

Todos os seres humanos são pecadores e estão automaticamente


condenados, mas o Senhor providenciou uma salvação para todo aquele que
crê, na pessoa de Jesus Cristo, que assumiu o pecado do ser humano e foi

74
condenado por ele. Assim, as pessoas que creem são as que têm o nome
escrito no livro da vida. No dia do Juízo Final, o livro da vida é aberto e quem
tem o nome inscrito nele vai habitar os novos céus e a nova terra. Quem não
tem o nome inscrito, será lançado no lago de fogo, que é o inferno definitivo.
No Juízo Final, todos já chegam com o destino eterno determinado, pois já
houve um pré-julgamento em vida, quando aceitaram ou recusaram a
salvação em Jesus Cristo. A Bíblia deixa isso bem claro: “Quem nele crê não
é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do
unigênito Filho de Deus” (Jo 3.18). Isso quer dizer que o julgamento final é
mais uma questão de pôr as coisas em pratos limpos do que, propriamente
dito, decidir sobre a salvação das pessoas. O Juízo Final é absolutamente
necessário por uma questão de justiça. É o momento sublime, quando a
ordem do universo for restaurada, e todo mal for punido de modo público e
definitivo.” 6

Os crentes que têm os seus nomes no Livro da Vida, Cristo perdoou seus
pecados, mesmo cada um sendo responsável por suas ações pecaminosas. Enquanto
os que rejeitaram Cristo, terão que responder pelos seus pecados sem a presença do
único que poderia redimi-los, que é o próprio Senhor Jesus. Em Apocalipse, João
afirma que “adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não
foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo
(Ap. 13.8).
Kistemaker, sobre o Livro da Vida, faz o seguinte comentário:

Esse livro pertence ao Cordeiro, o qual morreu por todos que tiveram seus
nomes registrados nele. Essas pessoas pertencem a ele desde o momento
da criação. Portanto, ele as protege e livra do maligno. Ele já deu a certeza
solene de que nunca apagará seus nomes desse livro (3.5). João usa o
substantivo nome e o verbo escrito no singular para indicar que ele não está
se referindo ao grupo como um todo, mas ao crente individual que recebe a
certeza de que é um filho de Deus. Os incrédulos, aqueles que rejeitam a
Palavra de Deus e o testemunho de Jesus, nunca tiveram seus nomes
registrados no livro da vida. São os seguidores da besta e o adoram, em vez
de adorarem o Senhor dos senhores e Rei dos reis. Assim, são os seguidores
do diabo, de cujo destino final compartilham (20.10,15). Os nomes dos
crentes, entretanto, já estão registrados no livro da vida do Cordeiro desde a
eternidade”.7

3.4 OS DESTINOS DOS SALVOS E DOS PERDIDOS

Muitos nesse mundo vivem iludidos com a ideia que Deus, no final, salvará
a todos. Usam como argumento que Deus é essencialmente “amor”. Como o amor
sempre prevalece, Deus irá salvar todas as pessoas da condenação de seus pecados,
pensam seus defensores. Essas pessoas que defendem tal doutrina, são chamadas

6
LIMA, Leandro Antonio de. Razão da Esperança. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 628.
7
KISTEMAKER, Comentário do Novo Testamento: Apocalipse, p. 498.
75
de “universalistas”. Essa doutrina é considerada anticristã, pois não encontra base nas
Escrituras Sagradas. A doutrina universalista não foi criada recentemente. Ela foi
introduzida pelos gnósticos no primeiro século da era cristã, tendo influenciado alguns
dos pais da igreja primitiva. Sua influência foi tão marcante a ponto de ameaçar o
cristianismo naquela época.
Segundo o editor da Revista Ultimato, Éber Lens César, Orígenes, um dos
pais da igreja, defendia o universalismo, chegando até a declarar que o diabo, no final,
seria perdoado e salvo:

O universalismo é a crença de que na plenitude do tempo todas as almas


serão livres e restauradas por Deus. Afirma uma doutrina que a Bíblia nega
— a salvação universal. E nega uma doutrina que a Bíblia afirma — a punição
eterna. O universalismo é tão antigo quanto o próprio cristianismo. Já no
terceiro século da história da igreja, o mais eminente membro da famosa
escola catequética de Alexandria dizia que todas as almas, inclusive o diabo
e os demônios, conseguirão unir-se a Deus, mediante um sofrimento
purificador. Orígenes nasceu em 186 e morreu 68 anos depois (254).8

Os reformadores, no século XVI, condenaram veemente essa ideia de


salvação universal. Essa postura resulta do fato de que a Bíblia não diz apenas que
Deus é amor, mas que é também: a) espírito (Jo. 4.24); b) luz (1Jo. 1.5); c) amor (1Jo.
4.8,16) e d) fogo consumidor (Hb. 12.29).
Augustus Nicodemus faz o seguinte comentário com relação a esses
aspectos de Deus:

É preciso manter em harmonia esses aspectos do ser de Deus, pois só assim


é possível compreendê-lo como um Senhor que é amor e castiga os ímpios
com ira eterna. “Fogo” e “luz” são metáforas, é verdade; porém, metáforas
apontam para realidades. No caso, elas querem simplesmente dizer: “Deus é
santo e verdadeiro; ele se ira contra o pecado e não vai tolerar a mentira. E
punirá os pecadores impenitentes.
O maior problema, que os universalistas enfrentam é lidar com as passagens
da Bíblia onde, claramente, se estabelece uma divisão na humanidade entre
salvos e perdidos e aquelas outras onde, abertamente, se anuncia o inferno
como o destino final dos pecadores arrependidos. A divisão da humanidade
em salvos e perdidos é central nas Escrituras do Antigo Testamento
(Deuteronômio 30.15-20); Jeremias 21.8; Salmos 1; Daniel 12.2 e muitas
outras). Foi o próprio Jesus quem anunciou esta divisão de maneira clara no
seu sermão escatológico, ao profetizar o juízo final onde a humanidade será
repartida entre ovelhas e cabritos – sendo os segundos destinados ao fogo
eterno, preparado para o diabo e seus anjos, ao contrário daqueles
destinados à felicidade eterna (Mt 25.31-46).9

8
CÉSAR, Éber Lens. Não ao universalismo. Disponível em:
<https://www.ultimato.com.br/revista/artigos/287/nao-ao-universalismo>. Acesso em 30 de dez.
2018.
9
LOPES, Augustus Nicodemus. Todos serão salvos no final? Disponível em:
<https://bereianos.blogspot.com/2013/11/todos-serao-salvos-no-final.html>. Acesso em: 30 de dez.
76
3.4.1 Destinos dos Salvos

A vida eterna é a recompensa para os salvos em Cristo. Ela não termina


com a morte física. Existe uma vida após essa morte que o Senhor prometeu a todos
aqueles que creem em seu Nome. Os salvos desfrutarão eternamente da presença
de Deus, após a ressurreição, com seus corpos transformados nos novos céus e nova
terra. Esse é o lugar que está sendo preparado por Cristo, onde habitarão em glória
eternamente, conforme afirma a Escritura: “Nós, porém, segundo a sua promessa,
esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2Pe. 3.13).
Apenas habitarão com Deus, aqueles que “lavam as suas vestiduras” (Ap.
22.14). Eles são aqueles que creram em Jesus e se arrependeram de seus pecados,
lavando a sua alma no sangue do cordeiro. Ninguém pode entrar na presença de Deus
com roupas sujas. É necessário haver uma reconciliação por meio de Cristo para ter
o direito de comer da “árvore da vida”. Os nossos pecados é que nos separa de Deus
e nos torna sujos. Não temos condição alguma de nos aproximar de Deus devido o
nosso aspecto insuportável de imundícia que se encontra em nós. Somente o sangue
de Cristo, pode nos purificar e perdoar de nossos pecados. Os que não são purificados
pelo sangue do Cordeiro, ficarão de fora. As Escrituras propõem uma lista dos que
ficarão excluídos: os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e
todo aquele que ama a prática da mentira (Ap. 22.15).
Quando a Escritura usa a expressão “Bem-aventurados aqueles que lavam
as suas vestiduras no sangue do Cordeiro” (Ap. 22.14), é para representar a
justificação. Significa que alguém perfeito, santo e sem manchas deu a sua vida em
nosso favor. Ele levou a nossa culpa e pagou o preço da nossa salvação. Não estamos
mais condenados à morte eterna, mas fazemos parte da família de Deus. Podemos
usufruir da árvore da vida e entraremos na cidade pelas portas. Esta é a verdadeira
bem-aventurança: encontrar plena satisfação eterna em Deus.
A vida eterna é para os santos. O propósito do Criador é operar em cada
escolhido seu e, à semelhança em Cristo, nos adequar à vida eterna. Somente as
pessoas com o gosto santo e com o caráter santo desejarão viver eternamente no
lugar escolhido por Deus. Os crentes em Cristo aguardam ansiosamente e com
grande alegria pelo dia em que poderão habitar em Deus nos novos céus e nova terra.

2018.
77
Esse lugar glorioso foi visualizado na visão de João: “Vi novo céu e nova terra, pois o
primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” (Ap. 21.1).

3.4.2 Destinos dos Perdidos

O lago de fogo é o lugar definitivo para onde vão os perdidos após a


ressurreição e o Juízo Final, como diz a Palavra de Deus: “E, se alguém não foi achado
inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo” (Ap. 20.15). A
necessidade da ressurreição do corpo é devido ao fato do sofrimento do inferno
envolver tanto o corpo como a alma: “Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e
lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus membros, e não seja todo o
teu corpo lançado no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, corta-a e lança-a
de ti; pois convém que se perca um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para
o inferno” (Mt. 5.29-30).
Embora algumas religiões tentem enfraquecer a perpetuação da punição
da pena – com o purgatório, aniquilamento ou universalismo –, a Bíblia é enfática em
evidenciar a eternidade da punição da pena. Por três vezes, Jesus adverte aos
discípulos relatando algo sobre o inferno, como é no caso do Evangelho de Marcos,
que o fogo do inferno é chamado de inextinguível: “E, se tua mão te faz tropeçar, corta-
a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o
inferno, para o fogo inextinguível” (Mc. 9. 43, 45). Também no Evangelho de Mateus,
ele afirma a duração da referida punição dos ímpios, juntamente com o estado de
glória para os salvos, quando diz: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos
para a vida eterna” (Mt. 25.46). E muitos outros textos na Escritura que evidenciam a
existência da punição eterna.
Com relação ao castigo futuro, Hodge comenta o seguinte:

Não parece haver mais razões para presumir-se que o fogo de que se fala
nas Escrituras será um fogo literal, como o verme que nunca morrer deve ser
um verme literal. O diabo e seus anjos, que devem sofrer a vingança do fogo
eterno, e de cuja condenação os finalmente impenitentes participarão, não
têm corpos materiais que possam receber a ação do fogo elementar. Da
mesma forma que haverá graus de glória e bem-aventurança no céu, como
ensina nosso Senhor na parábola dos dez talentos, também haverá
diferenças de grau nos sofrimentos dos perdidos: alguns serão açoitados com
poucos açoites, outros, com muitos. 10

10
HODGE, Charles. Teologia Sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001, p. 1657.
78
O ensino bíblico sobre o inferno nos mostra que ele é um lugar real, pois é
o lugar onde Jesus afirma que algumas pessoas “vão para lá” (os perdidos). O Novo
Testamento usa a palavra grega “Hades” para designar o inferno. Geena era uma
referência de um lugar chamado “Vale de Hinon”. Era localizado na parte sul de
Jerusalém, onde os judeus apóstatas sacrificavam seus filhos ao deus pagão
Moloque. Assim, veio a ser denominado como o lugar do juízo de Deus – lugar
destinados aos ímpios que vão para o Lago de Fogo. Era o pior lugar que poderia se
imaginar de alguém ir. Um lugar de grande e permanente tormento, onde a ira de Deus
estaria eternamente naquele local: “Estes sofrerão penalidade de eterna destruição,
banidos da face do Senhor e da glória do seu poder” (2Ts. 1.9).11
O Lago de Fogo é o lugar para todos aqueles que não estão ligados em
Cristo. É onde a pessoa ficará eternamente atormentada pelo fogo inextinguível e
consciente, sob a ira de Deus. As pessoas que ali estarão não terão jamais a
misericórdia e o amor de Deus. Elas apenas terão a sua ira do fogo consumidor. Isso
porque se recusaram a receber Cristo como seu Salvador e preferiram amar o mundo
e viver no pecado. O próprio Jesus reconheceu que o Lago de Fogo foi preparado
para o “Diabo e seus anjos” (Mt. 25.41). Pela responsabilidade das pessoas em
permanecer sem aquele que poderia redimi-los, que é o Senhor Jesus, elas foram
incluídas junto com os outros no Lago de Fogo: “Também esse beberá do vinho da
cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com
fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu
tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não tem descanso algum, nem de dia nem
de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca
do seu nome” (Ap. 14.10-11).
Atualmente, encontram-se no inferno, no lugar temporário, todos aqueles
que morreram sem Cristo, com exceção de Satanás e seus demônios que se
encontram na terra. Estes vão direto para o lugar definitivo. Os que morreram sem
Cristo, que estão no estado intermediário (inferno), estão aguardando a sentença do
Juízo Final para serem lançados, já com seu corpo ressuscitado, no lugar definitivo,
que é o lago de fogo, juntamente com o diabo e seus anjos, a besta e o falso profeta.
Serão lançados vivos no lago de fogo para sofrerem o tormento da ira de Deus.

11
SMITH, William. Hinnom. Disponível em: <https://www.biblestudytools.com/dictionaries/smiths-
bible-dictionary/hinnom.html>. Acesso em: 30 de dez. 2018.
79
Kistemaker, a respeito desse fato, comenta:

Agora, a besta e o falso profeta são capturados. Embora João não forneça
detalhes da prisão, o verbo capturar pode ser interpretado como alguém
lançado mão deles à força. Eles são presos por causa das astúcias que
usaram para enganar as multidões na face da terra. O falso profeta exibiu
milagres para aqueles homens, mulheres e crianças adorarem o Anticristo e,
como seus fiéis servos, prestaram reverência a ele. A besta que saiu do mar
tem poder político sobre a massa da humanidade; e a besta que saiu da terra
detém o poder filosófico sobre a mente humana.12

3.5 RESTAURAÇÃO DOS CÉUS E DA TERRA

Toda a criação aguarda ansiosamente pela renovação de todas as coisas,


conforme declara Pedro: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos
céus e nova terra, nos quais habita justiça” (2Pe. 3.13). O advento do pecado que
maculou o mundo trouxe uma sentença de maldição do Juízo de Deus à Terra (Gn.
3.17). Provavelmente, causou também algum efeito no Céu, pois ele também precisa
passar por esse processo de restauração. Paulo, na Carta aos Romanos, escreve
sobre:

A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus.


Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa
daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida
do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.
Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme, e suporta
angústias até agora. E não somente ela, mas também nós que temos as
primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a
adoção de filhos, a redenção do nosso corpo (Rm. 8.19-23).

Embora não saibamos como isso será realizado, pois não temos
capacidade de avaliar como será um corpo na ressurreição ou como se dará esse
processo de restauração no universo, cremos que Deus tem um propósito para nossa
vida. E não somente para a nossa alma, mas também para o nosso corpo, pois somos
um ser integral. Deus sempre se preocupou com a sua Criação. A sua promessa será
cumprida nos mínimos detalhes. Ele retirará todos os efeitos do pecado e toda ação
maligna do diabo e seus anjos. Toda a Terra será transformada (2Pe. 3.7). Tudo será
transformado num lugar de glória e perfeição, porque todo mal terá sido destruído. Os
redimidos não terão outro desejo senão fazer a vontade de Deus.
Enfim, estaremos em nosso verdadeiro lar, pois aqui não passamos de

12
KISTOMALER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Apocalipse, p. 686.
80
peregrinos e estrangeiros (Hb. 11.8-10; 13.16). Quão grandioso será o dia que
chegarmos na cidade santa e nos encontrarmos com o nosso Deus e com toda a
família de fé! Deus cumprirá sua promessa de restaurar a Terra que ele criou para que
Cristo seja glorificado. A terra será elevada em uma glória ainda mais alta. Tudo será
feito para Ele e para aqueles que estão em Cristo.
Bavinck, com relação a transformação da Terra, faz o seguinte comentário:

A honra de Deus consiste precisamente no fato de que ele redime e renova


a mesma humanidade, o mesmo mundo, o mesmo céu e a mesma terra que
foram corrompidos e contaminados pelo pecado. Assim como quem está em
Cristo é uma nova criatura, em quem as coisas velhas já passaram e tudo se
fez novo (2Co 5.17), assim também este mundo passa em sua presente
forma, para, de seu ventre, segundo a poderosa palavra de Deus, de origem
e existência a um novo mundo. Assim como acontece no caso de um
indivíduo, assim também, no fim dos tempos, um novo nascimento do mundo
também acontecerá (Mt 19.28). Isso constitui uma renovação espiritual, não
uma criação física.13

O Céu, assim como a Terra, será renovado em Cristo, como diz Paulo na
Carta aos Colossenses: “Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre
a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados,
quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl. 1.16). Com a rebelião
no Céu, houve a queda de Satanás e seus anjos. Com a queda do ser humano, a
Terra também foi afetada. Quando o Tabernáculo de Deus descer do Céu para habitar
na Terra (Ap. 21.1-2), a Terra deverá estar limpa e renovada para que a justiça de
Deus possa habitar nela. Todo o efeito do pecado será destruído.
Leandro Lima faz o seguinte comentário com relação a renovação do Céu:

Mas certamente, a principal razão para a renovação do próprio céu tem a ver
com a disposição de Deus de estar perto do ser humano. Quando João viu
os novos céus e a nova terra, viu descendo do céu a cidade santa, a nova
Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva
adornada para o seu esposo (Ap 21.2). Seja qual for o significado dessa cena,
ela fala-nos do relacionamento pessoal que Deus deseja manter com o seu
povo, pois uma voz vinda do trono exclamou: “Eis o tabernáculo de Deus com
os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus
mesmo estará com eles” (Ap 21.3). Nos novos céus e nova terra, não haverá
separação entre o céu, a habitação de Deus (1Rs 8.30, Is 66.1), e a terra, a
habitação dos seres humanos. Na nova Terra, não haverá a necessidade de
santuários, conforme João diz: “Nela, não vi santuário, porque o seu santuário
é o Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. A cidade não precisa nem
de sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou,
e o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.22,23). A presença plena de Deus na
terra mostra que os céus têm vindo à terra. Terra e céus passaram a estar

13
BAVINCK, Herman. Dogmática reformada - Espírito Santo, Igreja e nova criação. São Paulo: Cultura
Cristã, 2012, v. 4, p. 726.
81
interligados.14

3.6 A VIDA ETERNA NO POR VIR COMO RECOMPENSA DOS JUSTOS

Os novos Céus e nova Terra é o último dom gracioso de Deus. É para lá


que os justos em Cristo serão levados para viverem eternamente com o Senhor. A
Bíblia retrata em sentido figurado a felicidade dos redimidos naquele lugar santo. A
felicidade dos crentes pode ser vista em duas etapas: a primeira, depois da morte e
antes da ressurreição, e a segunda, depois da ressurreição e do Juízo, em felicidade
plena. Assim que o crente morre fisicamente, a sua alma, já aperfeiçoada por Deus,
entra imediatamente na glória. Ele fica aguardando, no Estado Intermediário, a
ressurreição do corpo para ir desfrutar da vida eterna no lugar definitivo que o Senhor
está preparando. Para o crente, a morte é o portal de glória, como afirma Paulo, em
sua Carta aos Coríntios: “Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar
o corpo e habitar com o Senhor” (2Co. 5.8).
Os teólogos reformados defendem a posição que a Terra que hoje
habitamos será completamente restaurada. Eles consideram que não haverá
aniquilamento, como algumas religiões supõe, e nem será uma criação totalmente
nova, como os luteranos creem. O tabernáculo de Deus será montado entre as
pessoas, quando a nova Jerusalém descer dos céus da parte de Deus e os justos
adentrarão no gozo eterno (Ap. 21.1). Isso significa dizer que os justos receberão
como recompensa uma vida eterna em toda a sua plenitude, sem nenhuma
imperfeição e sem nenhum caos da presente vida. Os justos irão desfrutar a Vida
Eterna em sua plenitude em comunhão com Deus. Eles O contemplarão em Jesus
Cristo face a face (Ap. 22.4) e se regozijarão e se deleitarão nele plenamente. A nova
Jerusalém será a imagem da perfeição em termos de beleza e glória. Haverá um rio
da vida fluindo do trono de Deus e do Cordeiro, tendo árvores frutíferas nos dois lados
dos rios. Os redimidos servirão a Deus e ao Cordeiro. Deus voltará a habitar com o
seu povo, em seu tabernáculo, numa comunhão íntima, como acontecia antes da
Queda de Adão e que Deus dava-o instrução (Gn. 2.15-25).
Berkhof esclarece sobre a Natureza da Recompensa dos justos da seguinte
forma:

14
LIMA, Razão da Esperança, p. 639-640.
82
A recompensa dos justos é descrita como vida eterna, isto é, não apenas uma
vida sem fim, mas a vida em toda a sua plenitude, sem nenhuma das
imperfeições e dos distúrbios da presente vida, Mt 25.46; Rm 2.7. A plenitude
dessa vida é desfrutada na comunhão com Deus, o que é realmente a
essência da vida eterna (Ap 21.3). Eles verão a Deus em Jesus Cristo face a
face, encontrarão plena satisfação nele, alegrar-se-ão nele e O glorificarão.
Contudo, não devemos pensar que as alegrias do céu são exclusivamente
espirituais. Haverá alguma coisa correspondente ao corpo. Haverá
reconhecimento e relações sociais num plano elevado. Também, é evidente
na Escritura que haverá graus na bem-aventurança do céu, Dn 12.3; 2Co 9.6.
Nossas boas obras serão a medida da recompensa que receberemos pela
graça, embora elas não a mereçam. Apesar disso, porém, a alegria de cada
indivíduo será perfeita e completa.15

Kistemaker comenta sobre o relacionamento de Deus com seu povo


enfatizando que:

Deus tem um relacionamento com o seu povo que é o mesmo de antes da


queda no Paraíso quando ele andava e conversava com Adão e Eva no
frescor do dia. Todos aqueles que têm o nome do Cordeiro e do Pai escritos
na testa (14.1), o verão. O Cordeiro redimiu o seu povo e os levou à presença
do Pai. É por meio de Cristo que os santos têm o privilégio de ver a Deus na
eternidade. A marca do nome divino na testa dos santos significa que os
residentes da nova Jerusalém pertencem a Deus, portam a sua imagem e
semelhança, e são cidadãos do seu reino. 16

Os crentes na vida vindoura terão uma visão aumentada da obra de


redenção de Cristo, pois já não estarão sob o efeito do pecado que os impedem de
verem a glória em toda a sua plenitude. Eles poderão contemplar todas as maravilhas
da graça de Deus plenamente com grande júbilo, muito além do que Paulo,
enternecido com a sua compreensão terrena dos desígnios de Deus, exclamou: “Ó
profundidade da riqueza, tanto de sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão
insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos” (Rm. 11.33).
No Paraíso restaurado, não existirá nenhuma espécie de maldição, pois todo o efeito
do pecado será removido. Não existirá sofrimento, nem dor e nem lágrimas de
tristezas, como diz João: “E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não
existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas
passaram” (Ap. 21.4).
Com relação a justiça divina a respeito ao Juízo sobre os ímpios, não
causará nenhum sofrimento aos redimidos, pois eles passarão a ver todas as coisas
com a mesma visão da vontade de Deus. Os crentes em Cristo na ressurreição serão
publicamente absorvidos por Cristo, pois a justiça divina os guarda devido o sangue

15
BERKHOF, Teologia Sistemática, p. 679.
16
KISTEMAKER, Comentário do Novo Testamento: Apocalipse, p. 757.
83
de Cristo que foi derramado, expiando todo o pecado dos eleitos de Deus. Ninguém
poderá condená-los. Com os corpos ressuscitados incorruptíveis, os crentes podem
contemplar todo o esplendor da glória na face de Deus, pois passam a ter corpos
espirituais iguais ao corpo de Cristo na ressurreição. É a vida perpétua de prazer em
comunhão e intimidade com o Deus trino, como Leandro Lima expõe:

No futuro, quando adentrarmos a nova terra e o novo céu, desfrutaremos de


todas as bênçãos de Deus em sua plenitude. Não haverá qualquer separação
entre a terra e o céu, e consequentemente, nenhuma separação entre o
homem e Deus. Todos os crentes ressuscitados ou transformados adentrarão
as portas da eternidade e viverão sempre a glorificar a Deus e ao Cordeiro.
Essa é a nossa grande e bendita esperança. Quando estivermos lá,
poderemos louvar a Deus infinitamente pela Revelação, pela Criação, pela
Redenção, e até pela Queda, que nos fez conhecer mais de sua Graça”.
Porém, ao mesmo tempo em que olhamos para o futuro e nos enchemos de
esperança, precisamos viver plenamente o presente. Para dar a razão da
esperança não basta apenas ter conhecimento intelectual das coisas que
aqui foram estudadas, é preciso praticar, pois toda a nossa vida precisa ser
transformada pela esperança. Como disse Calvino: “A esperança não é mais
do que o alimento e a força da fé.17

17
LIMA, Razão da Esperança, p. 641.
84
4 APLICAÇÃO PARA A IGREJA

4.1 O AMOR AOS IRMÃOS

Diante do estudo sobre a vida eterna, entende-se ser de grande


importância aplicar alguns ensinamentos dessa dissertação à Igreja de Cristo, com o
objetivo de que os crentes possam usufruir no presente desse dom glorioso recebido
por meio de Cristo e se prepararem para a glorificação, onde irão desfrutar, em toda
a sua plenitude com Deus, do estado eterno.
O texto da Primeira Carta de João (3.14) já dá prova de quem possui a vida
eterna: “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os
irmãos, aquele que não ama permanece na morte”. Ele nos mostra o modo como
sabermos se possuímos a vida eterna ao explicar sobre a mensagem que nos foi dita
desde o princípio: que amemos uns aos outros. Talvez João deveria estar se referindo
ao início do ministério terreno de Cristo. Não segundo Caim, diz João, que, devido as
suas obras serem más, assassinou o seu irmão. Devemos amar os irmãos, pois
aquele que não ama seu irmão permanece na morte. João ainda vai mais além. Ele
chama de assassino aos que não amam os irmãos. Cristo é o exemplo. Ele deu a sua
vida por nós. Da mesma forma, somos instruídos a dar a nossa vida pelos irmãos (1Jo
3.11-16).
Como devemos amar a nossos irmãos? Muitas pessoas confundem “amor”
com “intimidade”. Elas pensam que para amar uma pessoa é preciso levar a pessoa
para casa, ser amigo íntimo, ser confidente, levar para passear etc. Não é nada disso
que a Palavra de Deus nos ensina. Amar o irmão é ser generoso, prestar
solidariedade, na hora da necessidade ter uma palavra de consolo e de conforto,
prestar auxílio no que estiver precisando ou assisti-lo em sua dor. É orar com o irmão
e por ele, preocupando-se com seus problemas. É estender a mão quando estiver
precisando de alguma coisa, compartilhar com o seu sofrimento e também se alegrar
com suas conquistas e vitórias. Hoje, temos um coração puro e regenerado por Deus.
Não há razão para animosidade, pois as discórdias, brigas e incompatibilidades,
pertencem aqueles que ainda estão na morte.
O amor verdadeiro aos irmãos é uma prova que o crente já passou da morte
para a vida, como diz a Palavra de Deus. Se o crente ainda continua com atitudes de
animosidade contra seu irmão, é sinal que não compreendeu ou está rejeitando o
Evangelho de Cristo. O amor não deve ser de palavras apenas, mas de prática,
conforme o exemplo que Jesus deu ao entregar a sua vida por nós. Assim devemos
dar a nossa vida pelo nosso irmão, se preciso for. Saber repartir o pão de cada dia e
as nossas vestes é o modo de dar a nossa vida pelo irmão.
Nada é mais importante nesse mundo do que está em Cristo. Estar nele
não é somente quando estamos na igreja, mas principalmente quando estamos em
nossas atividades seculares ou em nosso lazer com nossa família. “Vida” significa
estar ligado a Cristo. Seja em qual lugar estivermos, precisamos testemunhar Cristo
com nossas atitudes e palavras.

4.2 NÃO DEVEMOS DEPOSITAR A NOSSA ESPERANÇA NA INSTABILIDADE DA RIQUEZA

Na Primeira Epístola de Paulo a Timóteo, ele o orienta a exortar os crentes


ricos a não confiarem em sua riqueza do presente século, mas em Deus, que é o
doador de todos os bens. Tudo que recebemos vem do Senhor, e tudo é graça de
Deus. Não devemos ser egoístas e acumular riquezas nessa vida, mas devemos ter
o coração aberto para repartir com aqueles que precisam. O nosso tesouro está nas
coisas do alto, nas coisas duradouras, e, assim, nos apoderamos da vida eterna.

Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem
depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que
em tudo nos proporciona, que pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras,
generosos em dar e prontos a repartir, que acumulem para si mesmo
tesouros, sólido fundamento para o futuro, a fim de se apoderarem da
verdadeira vida (1Tm 6.17-19).

Paulo estava preocupado com essa autoconfiança excessiva dos crentes


em sua riqueza. Essa é a sua motivação na orientação para que Timóteo os
exortassem. As riquezas terrenas são coisas passageiras. Elas são instáveis e devem
ser usadas em aquisição de bens maiores duradouro: fazer o bem e repartir posses
com os necessitados. A confiança dos crentes tem que estar em Deus, pois é dele
que vem tudo que recebemos. É em Deus que devemos descansar a nossa confiança
e, assim, nos apoderamos da vida eterna.
86
4.3 DEVEMOS PRIORIZAR O ALIMENTO ESPIRITUAL.

No Evangelho de João, Jesus ensina que devemos trabalhar não pelo


alimento que comemos. Ele após ser ingerido não tem mais utilidade e perece. Temos
que trabalhar pelo alimento que ele mesmo nos dará, pois o mesmo será conservado
para a vida eterna: “Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste
para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará, porque Deus, o Pai, o confirmou
com o seu selo” (Jo. 6.7).
Jesus orienta aos seus ouvintes a priorizar o alimento espiritual, pois esse
é o mais importante por permanecer para a vida eterna. Embora o ser humano
necessite trabalhar para o seu sustento e de sua família, não deve ficar preocupado
com apenas satisfazer a sua carne.
Jesus Cristo recebeu autoridade de seu Pai, para prover esse alimento a
ser dado àqueles que foram confirmados com o seu selo. Esse é o verdadeiro
alimento: o que será dado pelo próprio Cristo, o qual durará para todo o sempre. Por
isso, ele orienta os seus ouvintes a priorizar o alimento espiritual. Os judeus estavam
preocupados em apenas trabalhar pelo pão de cada dia. Eles não se preocupavam
em conhecer o único que poderia lhes dar a vida eterna. O conselho do Senhor aos
seus ouvintes objetivava reorientá-los nesse quesito.
Mais adiante, Jesus anuncia aos seus discípulos que estava chegando a
hora de sua morte. Ele afirmou que havia necessidade de morrer para que muitos
viessem ser salvos. Assim, precisava que os que criam nele renunciassem o seu “eu”,
a sua própria vontade e odiasse a sua vida nesse mundo ao fazer a vontade de Deus,
a fim de preservar a vida eterna: “Quem ama a sua vida perde-a, mas aquele que
odeia a sua vida neste mundo preservá-la-á para a vida eterna” (Jo. 12.25).
Jesus estava mostrando aos seus discípulos o que era a vida de um
verdadeiro cristão. O crente precisa ter uma vida de comunhão com Deus ao renunciar
satisfação da vontade de sua carne. Não basta a pessoa ser membro de uma
denominação religiosa, mas é necessário se sacrifique a si mesma ao levar uma vida
de santidade. Não tem como a pessoa ter comunhão com Deus desobedecendo a sua
Palavra e não querendo renunciar a sua vontade.
O Senhor Jesus ensina nesse versículo como preservar a vida eterna
negando a si mesmo, odiando as coisas desse mundo, negando a sua própria
sabedoria e rejeitando confiar em suas próprias obras no intuito de alcançar algum
87
benefício divino. A nossa confiança precisa está somente no Senhor: em fazer a sua
vontade, levar uma vida de obediência a Sua Palavra e manter uma comunhão
constante com Deus.

4.4 O CRENTE DEVE OBEDECER AO MANDAMENTO DE DEUS.

No Evangelho de João, Jesus continua falando sobre os seus


ensinamentos. Ele diz aos seus discípulos que tudo que ele tem ensinado vem do Pai.
A sua missão na terra é fazer a vontade do Pai. Deus ensinou tudo que ele deveria
dizer. Rejeitar os seus ensinamentos é rejeitar o ensinamento do próprio Pai, pois ele
não fala por si mesmo, mas por ordem do Pai que o enviou. A vida eterna que Jesus
nos agraciou é o mandamento de Deus. Tudo que Ele tem ensinado durante o seu
ministério terreno é o que vem do Pai, conforme consta a seguir na Escritura: “E sei
que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai me
tem dito, assim falo” (Jo. 12.50).
Jesus quando fala no “mandamento”, como sendo a vida eterna, não está
se referindo na obediência do mandamento da Lei de Moisés, pois ninguém é salvo
ou recebe a vida eterna por cumprir esse mandamento da lei – porque não
conseguimos obedecer totalmente, e somos salvos e nem recebemos a vida eterna
por obras. Ele está falando em crê em Sua Palavra e em Seus ensinamentos, pois é
a doutrina de Deus – que ele veio como homem comissionado pelo seu Pai para
pregar o Evangelho.
É através desse Evangelho pregado que o conhecimento é trazido aos
eleitos de Cristo como meio de alcançar a vida eterna e ressuscitar os pecadores
mortos para uma vida espiritual. Assim como Cristo foi fiel a seu Pai, os ministros do
Evangelho devem imitá-lo ao levar a Sua Palavra para que a obra de Deus seja
realizada na vida de cada eleito.

88
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A vida eterna, como expomos aqui nessa monografia, embora somente


desfrutaremos em sua plenitude com Deus no estado eterno, devemos desde já, no
presente, vivê-la na condição que Deus nos concede ao experimentar do seu
conhecimento, de uma comunhão constante com o Altíssimo e ao aplicarmos os
ensinamentos de Cristo que nos conduz a deleitarmos da alegria da salvação.
Entretanto, o que temos visto no presente é uma preocupação exagerada
pelas coisas dessa vida e pelas condições daquilo que o mundo apresenta de melhor
aqui e agora. Isso faz com que as pessoas não se preocupem com a segunda vinda
de Jesus e com a vida no por vir. Essas pessoas preferem gozar dos bens materiais,
de uma vida próspera, de riquezas e de bem-estar, conforme as promessas que os
líderes das igrejas contemporâneas oferecem ao usarem um evangelho totalmente
distorcido. São muitas as pessoas que usam o nome de Deus, sem que andem com
Ele. Não querem ter o trabalho de lerem a Bíblia e serem mais prudentes e criteriosas
com aquilo que lhes é pregado, a fim de confrontar se realmente é a vontade de Deus
e se faz parte de seus ensinamentos.
Sabemos que toda pregação deve ser confrontada com a Palavra de Deus,
pois a fé verdadeira deve está fundamentada na Escritura. Caso contrário, as igrejas
são consideradas “impuras” e prestando um grande desserviço ao Evangelho de
Cristo. A Bíblia nos instrui a ter esse procedimento, quando menciona no Livro de Atos
dos Apóstolos, que os crentes de Bereia eram mais criteriosos do que os crentes de
Tessalônica. Eles receberam a Palavra de Deus com todo ardor e a examinava se o
que estava sendo pregado condizia com a Escritura: “Ora, estes de Bereia eram mais
nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda avidez,
examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato assim”
(At. 17.11).
Não podemos viver nesse mundo como se a nossa esperança se
resumisse apenas a essa vida ao deixar as coisas espirituais, que são prioritárias, de
lado. Nessa condição, seremos os mais miseráveis, como declara Paulo: “Se a nossa
esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos
os homens” (1Co. 15.19). O distanciamento de Deus tem sido grande, nos dias de
hoje, entre os crentes inclusive. Não existe prática em sua profissão de fé, não há
comunhão com Deus e falta amor entre os irmãos. Existe uma imensa individualidade.
Os crentes ouvem as pregações, mas não as colocam em prática. As pessoas a cada
dia ficam insensíveis ao Evangelho. Parece que tudo é normal na vida dos irmãos:
sair para dançar, deixar de ir ao Culto no domingo para ir ao clube ou uma praia...
Tudo é motivo para não ir ao Culto aos domingos ou quando vão é para cumprir uma
tradição de estar em uma igreja. Estão de corpo presente, mas o pensamento está
muito longe de Deus. Participam do Culto sem nenhuma reverência e lhes faltam
espiritualidade. Jesus falou a esse respeito no Evangelho de Mateus: “Hipócritas! Bem
profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas
o seu coração está longe de mim” (Mt. 15.7-8).
J. C. Ryle, com relação ao cristianismo moderno, faz o seguinte comentário:

Há uma reclamação constante de que nesses últimos anos existe uma


necessidade de poder no cristianismo moderno, e que a verdadeira igreja de
Cristo, o corpo do qual Cristo é o Cabeça, não tem abalado o mundo neste
século como costumava fazer outrora. Querem que eu diga claramente qual
a razão disso? É o estilo de vida vulgar que prevalece entre os crentes.
Precisamos de mais homens e mulheres que andem com Deus e diante dEle,
assim como Enoque e Abraão. Apesar do número de evangélicos ser bem
maior hoje do que nos dias de nossos antepassados, creio que estamos muito
aquém deles no que diz respeito ao nosso padrão de cristianismo prático.
Onde estão a abnegação, a diligência no uso do tempo, o desapego ao luxo
e ao comodismo, a evidente separação das coisas mundanas, a atitude
declarada de estar sempre cuidando das coisas do Mestre, a sinceridade no
olhar, a simplicidade na vida familiar, o nível elevado nas conversas entre as
pessoas, a paciência, a humildade, a cortesia em todos os lugares, que
marcaram muitos de nossos precursores setenta ou oitenta anos atrás? Sim,
onde estão? Herdamos os seus princípios e usamos a armadura deles, mas
temo que não tenhamos herdado suas práticas. O Espírito Santo vê essas
coisas e se entristece; o mundo vê essas coisas e nos despreza. O mundo
vê essas coisas e pouco se interessa pelo nosso testemunho. A vida – uma
vida santa, consagrada, semelhante a Cristo – é que influencia o mundo.
Estejamos decididos, com a bênção de Deus, a nos livrar do opróbrio.
Despertemos e tenhamos uma visão clara do que a nossa época requer de
nós nessa questão. Que o nosso alvo seja um padrão muito mais elevado de
fé prática. Que os anos passados já tenham sido suficientes para nos
contentarmos com essa mescla de santidade. Que os esforcemos por andar
com Deus nos dias futuros; para sermos “íntegros” e inconfundíveis em nossa
vida”. 1

Jesus nos deixou um grande exemplo de não viver despreocupadamente,


como exposto na “A parábola das dez virgens”. Nessa parábola, dez virgens, tomando

1
RYLE, J. C. Santidade. São José dos Campos: Fiel, 2016, p. 376.
90
as suas lâmpadas, saíram para se encontrar com noivo. Sendo que cinco eram
prudentes, levaram azeite; mas as outras cinco eram néscias, não levaram o azeite.
Tendo o noivo demorado, acabaram adormecendo. Quando o Senhor retornou, as
prudentes estavam com seus azeites preparados e com suas lâmpadas acesas,
enquanto as néscias foram comprar o azeite para acender as suas lâmpadas para
irem ter com seu noivo. As néscias, ao voltarem, encontraram a porta fechada e
ficaram de fora. Não adiantou bater e gritar: Senhor, Senhor, abre-nos! Pois a porta
não se abre. Uma voz diz: “Em verdade vos digo que não vos conheço” (Mt. 25.1-13).
Essa parábola nos ensina que precisamos nos manter vigilantes com a nossa vida
espiritual, pois não sabemos nem o dia e nem a hora que Jesus virá. Mas Ele virá!
Jesus nos alerta sobre a sua vinda quando diz: “Pois assim como foi nos dias de Noé,
também será a vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores,
ao dilúvio, comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que
Noé entrou na arca, e não o perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a
todos, assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mt. 24.37-39).
Para os crentes que se mantém com a chama acesa, aguardando a volta
do seu Senhor, estes serão recompensados com a vida eterna. Certamente, para
estes, será uma grande festa, pois todo o sofrimento, dor, angústia, tristeza, opressão,
injustiça, maldição e efeitos do pecado acabam nessa hora. A parábola das dez
virgens aponta para a união de Jesus com a humanidade na prática da justiça.
Enquanto uns se mantém pacientes vigilantes, outros vivem despreocupados ou
acomodados esquecendo o azeite, ou seja, omissos na prática da justiça. Essa
parábola das dez virgens é parte integrante do discurso escatológico de Jesus,
juntamente com a parábola da figueira (Mt. 24.32-44), do bom servo e do mau (Mt.
24.45-51) e a parábola dos talentos (Mt. 25.14-30). Todas essas parábolas se referem
a um alerta à vigilância e apontam para a esperança da volta de Jesus, como Pedro
diz: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos
quais habita justiça” (2Pe. 3.13).
Para quem vive a fé em Cristo não há demora ou atraso na volta de Jesus.
Assim como o evangelista Mateus não fazia especulação sobre o dia e hora da volta
de Jesus, também não devemos querer saber o dia exato de sua segunda vinda. A
nossa expectativa é de vivermos em santidade, em sincero arrependimento pelos
nossos pecados, buscando a cada dia o conhecimento de Sua Palavra e uma
comunhão constante com Deus e aplicando os ensinamentos de Cristo. Agindo assim,
91
viveremos vigilantes para a volta de Cristo. Este é o azeite/óleo que Jesus estava se
referindo na parábola das dez virgens. As pessoas que vivem preocupadas somente
em desfrutar da vida de prazer que o mundo oferece não terão o azeite necessário
para ir ao encontro de Cristo e entrar no gozo do seu Senhor no estado eterno. Elas
não terão a oportunidade de conhecer as insondáveis riquezas de Cristo que
incomparavelmente é mais prazerosa do que as riquezas terrenas que o mundo
apresenta. As riquezas de Cristo nenhuma mente é capaz de conceber e ninguém é
capaz de expressar com sua boca. Mas são riquezas que nos completam em todos
os sentidos de nossa vida, suprindo todas as nossas necessidades, pois Cristo é
suficiente em tudo. É dessa riqueza que Paulo se referiu, quando disse: “A mim, o
menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho
das insondáveis riquezas de Cristo (Ef. 3.8).
Concluo esse estudo apresentando um pequeno comentário de J. C. Ryle,
onde ele declara que “Cristo é tudo em nós” (Cl. 3.11) e, também, “Cristo será tudo no
Céu”:

O serviço prestado ao Senhor Jesus será a eterna ocupação de todos os


residentes do céu. Haveremos de servi-Lo “de dia e de noite no seu santuário”
(Ap 7.15). Bendito é esse pensamento de que haveremos, finalmente, de
servi-Lo sem a mínima distração, que haveremos trabalhar para Ele sem o
mínimo cansaço.
A presença de Cristo em pessoa será o aprazimento eterno de todos quantos
estiverem habitando os céus. Contemplaremos “a sua face” e ouviremos a
sua voz, e falaremos com Ele, como um amigo fala com seu amigo (Ap 22.4).
Doce é o pensamento que mostra que, sem importar quem esteja ausente
por ocasião das bodas, o próprio Senhor Jesus estará presente. A sua
presença satisfará todas as nossas necessidades (Sl 17.15).
Quão doce e glorioso lar será o céu para aqueles que tiverem amado ao
Senhor Jesus Cristo com toda a sinceridade! Aqui neste mundo, vivemos pela
fé nEle, e encontramos a paz, embora não O vejamos. Ali O veremos face a
face, e descobriremos que Ele é totalmente amável. “Melhor”, no entanto,
será “a vista dos olhos do que o andar ocioso” do desejo de ver a Cristo (Ec
6.9).2

2
RYLE, Santidade, p. 396-397.
92
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