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Este € um livro para ser dev rado, comido. Depois de Alquimia dos Nés, onde se assumiu costurei- ra (Penélope), Yéda Schmaltz, em Baco ¢ Anas Brasileiras, se como cozinheira. Ela receitas, expde suas guloseimas e, iacamente, convide-nos @ de- as. ‘Pertenco / a uma raga amea- sada / de mulheres / de outra ge- racdo / e o que nos une / é a fra- ternidade / da desgraca”, di poeta em “Ba(lza)quianas Br leirs poetas / bri sem fama / (até sem cama), / uma tonteira.” Aqui, deparamo-nos com as duas vertentes de uma leitura possivel do livro. De um lado, a poeta mostra-nos seu ser mulher, seu prazer e seu orgulho em ser mulher; do outro lado, ela expe- nos o que é ser mulher-poeta, mulher-criadora, a que se atira 20 mundo através de sua obra. Nos dois lados, a mesma dor, a de ser mulher e a de ser poeta. SO que essa dor é também um jogo, um fin- gimento, uma dissimulacao: “Essas minhas calcinhas / me confrangem: / suas rendas, debruns, 7 transparéncias e linhas / — vaida- des de mulher / para agradar seu fhomem”, diz a mulher. Mas, acres- centa a poeta: “Vou mandar os poemas / pro Concurso / e vou en trar bm. (...) Eles vo ficar pro“ curando / aliteragdes nos poemas, eles vdo ficar procurando / esas toisas superadas, / — cambadas de detetives — / engajacdo / (oh, mento...) / aquela linguagem do nos / da década de sessenta, /esti- fo Pablo Neruda. / (Acuda!)”” Extremamente ldcida ("Eu i, de joelhos / implorando mi- / Mas fiquei de joelhos / foi a inteira! / Por recolher as mi galhas. / As migalhas de po / que | as criangas deixavam, / pra encerar © chéo / e por té-lo ajoelhado /en- tre as coxas”), mas também safada Ey quero agora / uma poesia deliciosa. / Vocés todos me comen- do, / em? Seus sacana! eee Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner (A APARENTE ETERNIDADE SE REVELA por Antonio Hohifeldt* A Alvim Corréa J le Peuple Brésilien et principalement oe oe rm E fe coma mesma mito damente la ferme brésilienne do que o homem,(...) a mulher se conhece ¢ 56 ‘cothe, nao tal is tal qual 0 homem a define.(_ Jo queo ie em mulher amante ou me, ¢ H asce mulher: torna-se mul i : S || See : EN Coe de far ee a a ye ; Fis satin Com ect eth Fl Simone de Beauvoir, "0 Segundo Sexo” wns 0 (00% ; ia maior difieuldade de uma mulher & explicarse, colocer oe ere eee et ty 7 Selos ¢ vagina Pesher poder exiravazar o sau sufoco.(.-] ale pee acao de uma pecepyso sbsiata: et mulres Dery fue tim muito em comm, que 0 “xpecfices” om relagdo 408 Qe eat tom difculdade em nomear 0 que ster.” A Gabriela Andersen-Schiess | Maratona 1984 Meri Quai de ore «are Manes Sims "ie de Eu tinha que chegar e consegui”. Mather’ CITIUS-ALTIUS-FORT! JUS. Digitalizado com CamScanner Hé alguns anos, um filme marcou profundamente minha adolescéncia Chamave-se “Todas as Mulheres do Mundo” tinha as interpretagSes centrais, de Paulo José e Leila Diniz. Assinado por Domingos de Otiveira, sua cena que mais me atingiu foi a figura de Paulo José, abandonado pela namorada, dar-se ‘Conta de que, afinal, como “paquerador” das praias da Zona Sul carioca, nada frais fazia do que procurar e fugit, ao mesmo tempo, de um relacionamento tnais profundo. Ou melhor, de que até entio jamais buscara efetivamente {ima relago mais conseqiente, com medo, quem sabe, da dor que tal ligacdo, uma eventual separacéo, viesse a Ihe provocer. Conclula eu, a ssir do cine ima, entZo, que buscar todas as mulheres do mundo, a cada dia e 2 cada mo ‘mento, nada mais traduzia do que a auséncia — voluntéria ou ndo — do en ‘contro definitive daquela mulher, que seria, entlo, a Gnica. Passados anos, a ingenuidade daquela concluséo, ou a indecisfo quanto ‘a uma compreensSo mais profunda da mulher, permanece. E volta e meit aflora, cada vez que encontro alguma mulher que me marca especialmente ‘por sua personalidade, uma figura que, ao descobrir, encarna, durante algum ‘tempo, aquela mitica face do feminino. Por exemplo, Isadora Duncan. Por exemplo, Jeanne Moureau. Na literatura brasileira mais recente, hd esta mi neira admiravel chamada Adélia Prado. E outra mineira que andei descobrin oo stu ro de contos, Branca Maria de Paula. Als, na mesma époc3 0) gue descobr Bane, enconteltamblm Yéda. da Schmalz de “Miserere”. ide Schmate do “A Alauimia dot Nx", © sobre a qual tie oprazer do crest um primero aig, Oreutado det descoberia de cerca dots nos {conv hone pete @ responsable: honroso, porque tenho 2 bom pabite de que ate “Baco e Anes Braseiras” val ser, “stouro” sxritora oiane.Suspeitoxo porque, bom leitor de Simone de Beawoi, sche Bergote, oa im] um bomen exever sobre uma mulher, sobretudo us Tn cn a a een (parecer, outras para shgume “oruiha” aprorcces eenals slgune para simples Pernancl a obec ge igure “oreha apressada ou mesmo reanha de rvs? Puxou-me as rédeas, estacou-me, fez-me ‘wall otter a fembrangas antiga, 2 raflexBes contraditorias, a indogapbes profun- Yes que colocam em xeque inclusive @ mim mesmo. Faz uma semana dee oes ciabm or poomas da Yéda nos olhos, nos ouvides, na cabeca, bussaade arte oaatelas para ler. Ful saber da vida de Coriso, encontrel Dad. Fal Consar'a obra de Goethe. Lé estava a Carlota de Werther. Mas o que 18m de ‘specials estes versos da poeta? ‘-gaco e Anas brasileiras”” propde um duplo desafio: de um lado, 2 pro- posta aberta @ direta de discutir 2 condigio feminina, sem eias nem peias. Be outro, e coerentemente, fazé-lo através de formas literdrias igualmente aortas @. despreconceituosas. A consequéncia é um livro de poemas diné- rico, que literalmente prende o leitor eo fascina, seja pelas brincadeiras Ge aliteragdes, duplos sentidos @ assonancias, soja pelas discussdes que spre senta. Organizado em trés partes, o volume apresenta, na cuidadose organ} zagdo dos poemas, propostas especiicas. Ordenadas, em sucessio conseqiien- isto 6, uma apés 2 outra, uma acontecando porque 2 outra jé estd all, Mum segmento verdadeiramente histrico de causa e efeito), as partes for- nam um extenso e humana depoimento, revelam um caminho trilhado com flegria ¢ dor, mas sobretudo, um amadurecimento cua experiéncia reper tide 4 extremamente enriquecedora para homens e mulheres. "Saber 0 amor" abre-se cabalisticamente, com sete poeras em que verbo ‘“saber’” est tomado no seu sentido biblico de “conhecer”’¢ “expe Nimentar", ou seja, saber de dentro para fora. Esta primeira parte, culos foomas vim apenas numerados, apresentam as varias formas, perspectvas Perealidades amorosas possiveis, Cujo aspecto religioso, ritual(stico ¢ quase de destinagto ndo esté absolutamente afastado, e de que, provavelmente, uma passagem do poema V 6 revelador: “Saber 0 amor fe nfo sabendo a vida inteira ‘0 que fazer com ele. Ferida, fulero, tumor, remédios irremedivei = tranqdilizantes, ‘gotas homeopéticas — ‘cincer inoperdvel.”* Este “saber 0 amor” apresenta-se, assim, como uma espécie de tébua dos sete mandamentos amorosos, capazes de ordenar e caracterizar a dispont- bilidade humana para este sentimento sempre presente em suas miltiplas Digitalizado com CamScanner ‘faces, mas em especial na sua mais dolorida e compensadora face do amor eré: tio. No espirito do titulo geral do livro, que nos remete @ Bach ¢ Villa Lo- bos (isto é, as “Baquianas brasileiras”, mistura do esp{rito religloso e do rigorismo da composicéo de Johann Sebastian Bach com a brejetice a !- berdade inovadora de Villa Lobos) — “Baco @ Anas brasileiras” @ que reap rece exatamente no titulo de um dos poemas da terceira parte, “Ba(lza)quia nas brasileiras” Yéda Schmaltz propde seu “Favo de meu” (que fénicamente aproxima-se de “mel”, hipétese tio mais reforcada quanto lembramos que 8 no primeiro poems da obra, Ifamos “Saber o amor. ‘Saber 0 doce favo ‘em mel se arrebentando.”* Pois 0 “favo de meu” que aqui temos, ¢ cuja epigrafe tirada do Apo- calipse acentua @ ambiglidade doce-amarga da experiéncia, ¢ a parte mais debochada, mais desafiadora de todo 0 livro. Nela Yéda Schmaltz avanca sobre os tabus, estabelecende quebras constantes tanto dos padres morais ‘quanto dos de linguagem com que se expressa, valendo-se, para tanto, da am pla exuberéncia das frutas tropicais encontréveis em Goiés, estabelecendo, mais do que nunca, duplos sentidos, investindo nas escatologias, fomentando ‘as contradigBes, estabelecendo palavraschave como “estrela”, “borboleta”, “anjo", e de que “Flor de manguba” e “Bombons ao licor” s80 os exemplos mais marcantes, num paralelisma continuo entre a alegria da vida e do amor ‘exuberante ¢ de uma poesia intensamente comprometida com esta mesma ‘vida. Leia-s 0 segundo poema citado, que bem define este esp{rito: “Essas minhas calcinhas ‘me confrangem; suas rendas, debruns, ‘transparénciase linhas = vaidades de mulher ra agradar seu homer, mss saudéves Ae poesia relamando © amade que partis ~ bons goes de corel literariedade ‘Abandonei da vingana, um exerc(cio cdo qual jé me canst Prefiro o outro vicio nna bandeja (vicios?) a poosia do melodrama. ‘O que me comove mesmo so minhas calcinhas bonitas demais, ‘meus travesseiros, ‘minha cama, bombons ao licor ce corejas.”” Lembro-mme de um belo poema de Safo, que diz algo bastante seme- hante: “Como a doce mac que rubra, muito rubra, 16em cima, no alto do mais alto ramo ‘oscolhedores esqueceram;nfo indo esqueceram, no puderam atingir”. Este auto-olhar complacente e orgulhoso & também, sem divida, um ‘olhar de detesa, de afirmacgo, de reivindicagdo altamente saudével, que tem Caracterizedo algumas destas mulheres contemporneas, como aliés ocorre 20 fongo dos séculos com todas aquelas que sabem reconhecer e construt ‘seu lugar, caracteriza esplendidamente este novo livro de poemas de Yéda Schmaltz "A terceira ¢ ltima parte — a principal — da obra, divide-se por seu lado em dois espacos diferentes, paradigmitticos ¢ criticos, desde a pardfrase jocosa de suas denominagdes, “Secas ¢ Molhadas” (aluso a expresso “'secos @ mo- thedos”, isto &, local onde se vende tudo misturado, onde em algum canto sempre se encontra algo esquecido até ser necessério, em pequenas ou grandes ‘quantidades, & disposigo do fregués) e “Doces e Salgadas” {alusio 8 expres- fo "doces ¢ salgados" tipicamente aliada a ura das obrigagdes, dos que-faze- tes femininos, a cozinha e sua ocupago de preparar a comida da casa e seus ‘ocupantes). Na verdade, esta divisSo caracteriza duas séries paralelas @ comple Imentares de poemas: a primeira, a partir das diaiéticas epigrafes dos Leviticos Digitalizado com CamScanner de John Donne, reafirma o amor @ 0 prazer corporal reivindicado pela mu Ther, enquanto fémea. Daf a invocacko inicial, “Evoé, Ménades, vinde, vinde @ cantai todas vbs honras & Dioniso” que é uma outra manoira de dizer “Alo, furiosas muses erdtices, entoai das a0 Deus da fertilidade”. Nesta série de oemas, existe 2 afirmaglo plena da mulher, uma espécie de processo de Fransformagio, a larva virada borboleta bela, 0 pequeno patinho feio e sub. tmisso transformado no altaneiro cisne branco. Neste sentido, 0 conjunto de poemas é uma espécie de “histbria particular” colativizada, de uma mulher, Gesde sua adolescincia ("Fruta madura”) até a idade plena, capaz de ser re- conhecida no apenas pelas demais mulheres de sua época, como por todos os, seres humanos capazes de almejar, por sua prépria condie8o, 0 ultrapassa- mento. E dificil, nesta coletinea, destacar um ou outro poema, mas agrada- ime especialmente, pelas imagens e pela abrangéncia, “‘Mandalas”, que sint tiza, de maneira extremamente simples e objetiva, toda 2 multifacetada reali dade feminina: “Morangos eran {eus sentimentos. \Vermethos ‘como o amor feito ‘ diante dos espelhos. Mas éridos, amargos. ‘Sou mais 0 cio dda melancia 208 teus morangos feios. oreade de marcia semelnnta Ou 6 nenive xii a, spread, erage nfo eta ainda sessvel todos charade un “ura ce ote, histrcos, economia, soit, pH ogI98, a dear eran Mast hora Co ultapesbls. € 6 esta propor Lot coe esa Schmalt,expletade or exempt, no gi tron onotgion“Bacanal” “Cheiro verde: salsa e cebolinha refogadas na manteiga ce acatrio. Bem temperado, tum espetinho ‘no coragéo. 0 fogo aceso, (Debussy com creme chantilly de sobrermesa) ele vai com 100 gr. de fermento flash man pra crescer.”” 0 volume se encerra com uma assumi¢So radical da condicdo feminina. Encontramos af, simultaneamente, a mulher e a poeta maduras. Uma, pronta para construir plenamente seu destino, A outra, para expressar esta conquista sumamente poética. ‘Yéda Schmaltz expressa-se de maneira plena na consciéncia de sua for- 2, sintetizando os contrérios. © tema do amor como dor e sofrimento re- torma, mas agora jé sob inteiro dominio da personagem, possibilitando-nos, assim, poemas antolégicos como “Os Quintos dos Infernos”, frase cantiga infantil “Teresinha de Jesus”. Nele, ao mesmo tempo em que se nega, abre- s# também ao amor a figura feminina, sabendo-o esta contradigfo insolivel: “Entio, fechei os olhos @ comecei a chorar devagarinho (amor, amor, triste vocSbulo) Digitalizado com CamScanner ‘e comecei a chorar devagarinho, Jmaginando a dor da quinta vez referencial 6 “Anima” ~ constituindo confissdo intima, outremoemitabiogstica ou do — da violéncia masculina derramads ni importer, eval no esapa o aspecto da estutura hierarquzad da 12s ade queso manifesta sob méltiplos elementos, dentre os quais este “Bois os amei, 08 homens aque me sujaram fe me aborreceram ‘com suas gravatas ce suas bravatas. Igual a meu pai, que me batia ‘com o cinturSo de soldado, ce me fez civil para sempre”. E ainda “Posigées”, ou, numa espécie de identificagso coletiva, o ji citado "‘Ballza}quianas brasileiras”, em que se Ié: *Pertengo ‘2 uma raga ameacada de mulheres de outra geragdo ‘eo que nos une 6. fraternidade da desgraca”. © menor momenta conti, porque nel isreve com exer dade a denincia que, no fundo, ¢ o mével principal deste livro de Yéds Schima, voto encontrar em "Sto eserta" em Que a posta, ma ¥! worn toga sans renee oe ake! indo a longo da vida) 92 do pra. o Tuto do preset rl ut? a ar capa de rei ov borboletas, como conclui © poema) como, simultaneamente, invoca-se a im? 92m do “seio" e da “sereia”, i om opesede eer alto €,0 gue scalanta e nina, alimanta e conch? “TTalver thes fale da larva, a pupa ea borboleta ‘ou [hes diga da alma; ‘que se emendam em grandeza ‘0 s{mbolo da pomba e da pureza, {0 signo do corpo e do orgasmo. Talvez ndo diga nada. ‘So mulheres: serdo apaixonadas. Mas o que é que eu vou as minhas filhas?” © critica — mas sobretudo poeta — Affonso Romano de Sant’Anna, ‘em livro recente, “O Canibalismo amoroso" (Brasiliense) explicita ter preten dido estudar 0 “Poeta-Edipo diante da Mulher-Esfinge”. Pois no casual nem ‘concomitantemente, Yéda Schmaltz escreveu este “Baco e Anas brasileiras”. Ela 6 a Poeta-Esfinge, que melhor do que ninguém, na condi¢éo de Electra ‘@ Mulher, pode desvendar a si prépria, desvendando, a0 mesmo tempo, @ ribs, homens. Daf que “Baco ¢ Anas brasileiras” é um livro diante do qual 0 leitor, obrigatoriamente estacaré, como estaquei eu. Néo se trata apenas de lum eonvite da Poeta, mas muito mais, uma convicgdo: “devora-me ou te esfingirei", diz ela, ou seja, a0 leitor cabe, literalmente, devorar a Poesia e Mulher nela contida, sob pena de tornar-se ele proprio Esfinge incompreens!- vel a sie a sua coletividade, a seu tempo e seu espaco. Porto Alegre, julho de 1984 * Professor universitdrio, erttico lterdrio, ‘autor de fiepdo pare crangas. Digitalizado com CamScanner “HG uma crise nos Lae Pe Masha OL | a poesia cegou Me | a ee | Dae Le TRL Eada Lae Ce Dee adn ; | if Re ds metaforics poet bivaegd (...) hé tanto tem lefunts que jé nem fedem mais.” O Apolineo e 0 Dionisiaco adore coisas. Esse sobre 0 sofriment. slorificacdo da transporta-o sobr to sentido, ilk Na arte dionisi natureza nos fala, verdadeira. dade da. aparéncia, mali Friedrich Nictzsche, A Origem da Trag per igem da Tragédia, Digitalizado com CamScanner Saber o amor Saber 0 amor. Saber o doce favo em mel se arrebentando. Saber o travo eocravoe o fel se acumulando, Saber o amor sabendo a graca, calor e frio; 0 tempo, a tra¢a e a desgraca. Saber o amor — eu gosto! — sabendo 0 gosto da maresia dos olhos escorrendo até a boca. 21 Digitalizado com CamScanner Amor, uma aurora, um desgosto, um sol posto. Amor: amora negra e doce que esmigalha e escorre e evapora. Saber o amor na boca — sabor sabendo a sal somente: Ifquidos-amor. (Célice inafastavel, corpo e alma esvatdos, vinho e sangue, héstia em ofertério: pao-meu-corpo. — Inscreve meu nome no Teu livro e meu espfritol) cea Saber o amor: tocé-lo, pesé-lo como se fosse palpavel a forma que me cabe informe. Sabé-lo incabjvel, imposs{vel. Saber o amor enorme. Saber o amor no tempo e contd-lo em meses, anos, vida e morte. Saber do amor a Historia. Saber o amor sozinho e neurdtico. Digitalizado com CamScanner Vv Saber o amor 6 se tornar pequeno ese doar sem troca — saber o amor 6 oferecer. Mas ndo se trata de oferecer a boca por saber sabor de amor enem a castanha entre as coxas saberé do nés. Saber o amor 6 aquela ungo muito maior: de nds, os fios envolvidos, ligados aos planetas; estrelas em nés e luz @ 86is $@ acumulando, Saber 0 amor: © Cosmas, 24 Saber o amor endo tomar seu santo nome em vao: tratéelo em poesia. Esquecer-se de si, saber 0 amor ao proximo @ a0 longinquo. Té-lo onipresente e onipotente noite e dia. Saber o amor e no sabendo a vida inteira que fazer com ele. Ferida, fulcro, tumor, remédios irremediaveis — tranqililizantes, gotas homeopaticas — céncer inopervel. Digitalizado com CamScanner vi O frégil ser se dobra: junco ao vento, joelhos em chagas — cinco, mais a espada no peito ea ferida no sexo, Saber o amor sem nexo, um vinco — ligagdo e marca — estar a mercé da tesoura da Parca. Saber o amor. Ah, n&o soubera. Ah, no cantasse nunca a primavera. E nao tivesse o amor nas v(sceras untado, ungido e ofertado — rastejante verme vermelho, verve da transparéncia, ver-me: infinita estrela. Digitalizado com CamScanner vil Saber, sim, dele somente a proposta sempre enganosa. Sabé-lo casca apenas, fragil, futil, solto e sempre, sempre além do muro. Saber o amor: um sol escuro. Saber o amor assim, somente na Escritura — a Sagrada ea que 6 0 pao de cada dia que se sagra muito mais em poesia. Saber o amor assim, quem sabe ador? Escrito depois da leitura do poema Saber a dor de Manoel Bueno de Brito. 27 Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Fui pois, ao anjo, dizendo-the que me desse o livri- nho. Ele entto me fala: Toma, e devora-o; certamente ele serd amargo ao teu est6mago, mas na tua boca, doce co- mo o mel, Tomei o livrinho da mao do anjo e o devorei, e na minha boca era doce como o mel; quando, porém, 0 co- mi, o meu est6mago ficou amargo. (Apocalipse 10:9, 10 (i rt Digitalizado com CamScanner Asas Meu compromisso de esteta dilui-se em me ser poeta desobedecendo a medida. (Meu compromisso de vida quer a fruta proibida.) Meu compromisso de estrela: dd-me as asas borboleta, assim, eu serei mais bela. (Pérolas falsas esbanjo, vidrilhos, guas marinhas de vidro: meu compromisso de estrela.) Dé-me as asas borboleta pois recuso-me a ser anjo. 33 Digitalizado com CamScanner Concep¢do e metamorfose Porque o meu corpo aberto vira estrela e as carambolas cortadas também viram (Viram a estrela do flambuaia?) e as borboletas copulando viram flor, 0 importante é conceber. Ovos e leite, nozes, castanhas, coisa e tal, perus de natal, nascer: passas de figo. O importante (e mais gostoso) éa vida. Digitalizado com CamScanner Flor de monguba Agora eu quero uma poesia saborosa. Vocés todos se lambuzando no suco, Uma poesia | {quida escorrendo descobertas. A beleza triunfante da flor de monguba — um buqué de pistilos noivos. As dez mil orqufdeas brancas da mao-de-vaca. Eu quero agora uma poesia deliciosa. (Vocés todos me comendo, hein? Seus sacanas.) Boizinhos de manga verde, limas transparentes, tarumas, mangabas e laranjas. 35 Digitalizado com CamScanner Desejo Desejo agora 0 meu poema sem nenhuma profundidade. Nada de flor, amor, com-puta-dor e outras milongas. Desejo 0 gosto de mim nos meus poemas. Gosto. Nada dos restos artesanais mak camuflados. Desejo os desejos bons nos meus poemas. Este meu banho quente, gostoso! E este tapete feito de retalhos. Digitalizado com CamScanner Trivial Estou aprendendo o dessofrimento. Perdi, na minha boca, 0 gosto de serragem e 0 gosto de cabo de guarda-chuva. Antes a jaboticaba a poesia (ou a uva). A poesia (a minha), antes 0 arroz, 0 feijao ea farinha. 37 Digitalizado com CamScanner Bombons ao licor Essas minhas calcinhas me confrangem: suas rendas, debruns, transparéncias e linhas — vaidades de mulher para agradar seu homem. Mais saudaveis que poesia reclamando 0 amado que partiu — bons goles de cerveja. Abandonei a literariedade da vinganga, um exercfcio do qual j4 me cansei. Prefiro 0 outro vicio na bandeja (vicios?) poesia do melodrama. O que me comove mesmo s&o minhas calcinhas bonitas demais, meus travesseiros, minha cama, bombons ao licor e cerejas. Digitalizado com CamScanner Bacante a oeste A manhé mastiga 0 canto do melro: pao de trigo e mel. Nossa vida é de sal e de vinagre, apesar do passarinho 0 sal da terra. Meu canto a Dion(sio é benfazejo e 0 que desejo, é amenizar os caminhos do homem com cristais de docuras de mulher. sii ca 39 Digitalizado com CamScanner E a poesia é doidivanas, louca e séria e vai arando nossos caminhos de sede e de torturas, nossos caminhos de fome e de miséria. De noite os pirilampos vagam seus vagos lumes pelos campos de buritis e guarirobas. — Cocos iluminados de lantejoulas. sali iis. lh Digitalizado com CamScanner Tributo Corto o pao em fatias bem fininhas: multiplico o meu pao. Paguei o dfzimo da orteld, do endro e do cominho —adfvida que eu tinha. Fiz a oferta dos manjares: azeite, incenso e flor de farinha. Agora a minha I {ngua mana leite. Mel, 60 fruto dela e acuicar a se fartar: o necessdrio de dogura feminina pra se amar. 41 Digitalizado com CamScanner 42 A linguagem narcisa Vou mandar os poemas pro Concurso e vou entrar bm. Eles vao ficar procurando © poema acabado, Fi o meu cotidiano e sem metéforas! Q diré cotidiano d mulher... Qm tm medo do meu eu escarrado? Eles vao ficar procurando aliteragao nos poemas, eles vio ficar procurando essas coisas superadas, —cambadas d detetivs — engajacdo (oh, la-mento. . .), aquela linguagem do nés da década d sessenta, estilo Pablo Neruda. (Acuda!) Digitalizado com CamScanner “Procuremos © poeta sério q ironia, fi dé nunca em boa poesia.” Eles vao ficar procurando em paralelismos d eles ficarem procurando, essas coisas, d duas, uma: ou se engaja, ou se fica fazndo malabarismos formais. Ais! Nunca a linguagm narcisa e gostosa, uma flor precisa, umas uvas, vinho, sang pingado na blusa, li - cor - d - rosa. 43 Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Se uma muther conceber e tiver um menino, serd imunda sete dias; como nos dias da sua menstruagao serd imunda. Depois ficard ela trinta e trés dias a purificar-se do seu sangue; nenhuma cousa santa tocard, nem entrard no santudrio até que se cumpram os dias da sua purificagao, ‘Mas, se tiver uma menina, serd imunda duas semanas, co- mo na sua menstruagdo; depois ficard sessenta e seis dias a purificar-se do seu sangue. Levitico 12:24 5 Digitalizado com CamScanner “Nudez total!. Todo o prazer provém De um corpo (como a alma sem corpo) sem Vestes. As joias que a mulher ostenta ‘Sao como as bolas de ouro de Atalanta: O olho do tolo que uma gema inflama Mlude-se com ela e perde a dama. Como encardenagao vistosa, feita Para iletrados, a mulher se enfeita; Mas ela é um livro mistico e somente A alguns (a que tal graca se consente) E dado lé-la, Eu sou um que sabe; Como se diante da parteira, abre- Te: atira, sim, o linho branco fora, Nem peniténcia nem decencia agora. Para ensinar-te eu me desnudo antes: A coberta de um homem te é bastante.” John Donne Trad. de Augusto de Campos Digitalizado com CamScanner ““Evoé, Ménades, vinde, vinde e cantai todas vés hon- ras a Dioniso! Cantai ao som dos timbalos, dos timbalos de voz profunda, Louvai com alegria aquele que traz a ale- gria\” a Digitalizado com CamScanner Fruta madura E saf da adolescéncia (quando eu era transparente), para amar a transparéncia. Meu cora¢do tinha um pdssaro mitdo de vo curto e vao. Agora tem uma borboleta de coracao oferecido. (meu coragao colorido.) Uma adolescéncia com muitos vestidos rodados e tristes: flores, florzinhas. Nenhuma saudade. E a maturidade, um sutianzinho rendado e negro: laranjas e péssegos. Digitalizado com CamScanner Ovulos Tudo sobre que ela se deitar, durante a menstruacat > ao, serd freee e tudo sobre que se assentar, seré irundor| Levitico Sanguel E preciso pér a menstruacdo na linguagem. Estas coisas minhas: Célicas, enxaquecas nas luas cheias. Uma pele de onca pintada e uma rosa cheia, mas muito cheia de espinhos. Estas coisas minhas na linguagem, a minha vaidade de estar menstruada — filhos, brilhos vermelhos na face afogueada. 55 Digitalizado com CamScanner _ Sempre-livre, limpeza de pele, um chuveiro, que a vida € uma bobagem: modas, modess. Este gosto de cheirar o cheiro bom do meu sangue gostoso, antes de jogar a bandagem na cesta do banheiro. Digitalizado com CamScanner Mandalas Morangos eram teus sentimentos. Vermelhos como 0 amor feito diante dos espelhos. Mas dridos, amargos. Sou mais 0 cio da melancia aos teus morangos feios. Sou mais as doces peras mudas | dos meus selos. 57 Digitalizado com CamScanner Glandulas |! Nao quero um homem pra dormir, isto 6 facil. Um homem pra ficar acordado. Mas nada de gra¢a, mas um homem bem custoso e complicado. E enquanto espero a graca, coleciono rostos e vou me esvaindo em quimica. Eu colecionava selos e discos do Cat Stevens, Agora coleciono borboletas vivas. Um homem na minha frente: salivas. Digitalizado com CamScanner Glandulas 11 Polvilho e queijo ralado, meu dedo ralado: paes-de-queijo quentinhos. Bolachas Aymoré, ay moré que se fué por el aire! Merenda: bolacha seca sobre a toalha de renda. E essa cesta colorida com bananas indecentes bem alt na minha frente. Manteiga derretida. Digitalizado com CamScanner Glandulas II Esta vontade de morder 0 mundo eo mar de mim que me afoga. As mulheres estao continuando no sofrimento de amor, que droga! Mulher no presta pra nada anao ser para chorar. Esta boca fechada e reprimida, ai! vida. Da-me a beleza das cebolas jd que me deste a lagrima por principio e graca. Ao menos a beleza da cebola e sua casca. Esta boca jd torta em busca da suposta chave da escandida porta. Antes que eu morra afogada, venha como o sol e a semente 0 fio dessa tesoura que corte o fio desta corrente de nada. Digitalizado com CamScanner Glandulas IV Agora, eu me amo muito. Este 6 um canto de amor por mim que me mereco e me floresco por mim em beg6nias, antdrios indecent(ssimos, clftoris e amarflis. Que Narciso sou eu e 6 feminino. Um canto de amor por mim e horror a bilis, azedo azeite que elimino. Mée: aproxima de mim esta xfcara de leite. 63 a Digitalizado com CamScanner Telegrama Eqto v. fi tenta bebo canecas de chuva e@ como um pouco de vida, Fatias de frutas eqto v. fi pinta lambisco doces melados e petiscos pimentados. Meu ©) se arrebenta e canta, eu fruta espero, eu péra eqto v. fi sinta pelas frutas tropicais tesdo, Olha as frutas da estacdo, tira-gosto das sy ww: Digitalizado com CamScanner A poetisa Canto © prazer e a esperanca, a loucura e a liberdade. Cabelos soltos véus didfanos minha flauta e minha jarra de vinho. Que Deus inventou a uva e Baco inventou o vinho com seus efeitos. (Cabelos punk eus de afanos minha falta e minha farra.) Ao coragdo humano medroso, dou alegria e coragem. Cabelos soltos véus didfanos minha flauta e minha garra. Digitalizado com CamScanner Passegos eM cal, | Vesti meu bog ci azul (Olhano dicionérig que 'vale a Pena, @ pena s6-boé,) Me lembrei daquele filé a California que compramos No Zé-Latinhas, Ah, noites de carne ‘com péssegos em calda. Vocé vestiu minha camisola e'se riu de gosto na minha boca adocicada. Preparei 0 café da manha (ainda se usava Roberto Carlos) @ agente come¢ou tudo de noivo. Digitalizado com CamScanner Péssegos em calda II Depois, vocé casou e comecou a bater na mulher, “Amanha de manhé.. .” Eu ja sabia disto quando bebia acalda do seu péssego maduro e ouvia o Roberto de madrugada escuro. O homem doce com suas sementes no meio das pernas e balangandas de manha, amanha: foi-ce. 67 Digitalizado com CamScanner Complementos As sapatithas de renda, minha face de coral, minha blusa transparente. Remédio pra minha insdnia, melhoral, Nnovalgina, dor de dente. Remédio pra minha insénia na vagina. Essa coldnia Cecita me excita e eu sonho. Comprei uma calcinha com plumas e outra com um coracdo aberto nas ndédegas. Ndo me acho sem-vergonha de jeito nenhum! Voeé acha? 4 Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner Mousse Ai, que eu no agiiento esse cheiro de atum na minha cama, creme de leite, agucar cristal, macarréo, o cristal dos teus dculos. Eu quero quebrar tudo! Que bom ter vocé pra pensar em vocé no enquanto coloco as azeitonas na salmoura e separo os queijos musselinas, mussarelas e pratas. 71 Digitalizado com CamScanner Manjar dos deuses Tabletes de chocolate no cinema e uns toques de fubd mimoso. A gente voltava e eu ia comendo © seu olho de améndoa, Depois, car(cias de polvilho doce, meu vinho Moscatel se derramando. Esséncia de baunilha e@ um pauzinho de canela. Esta pronta a receita da Ambrosia. (E nunca requentar em banho-maria & nem utilizar calor de vela,) Digitalizado com CamScanner Posse Uma fatia do mel da fruta cor da alegria mordo na parte mais polpuda com meus labios picados de abelhas. Tomo pra mim a escolha, a oferta, a seducdo. E minha a fruta proibida e 0 gogé de Adéo. Devoro esta porcdo de meu com a forga do meu sexo e do coragao. 3 Digitalizado com CamScanner 74 , Pdes-de-mey Paes de mel | sonhando | a beijos idem. Vocé chegou Pertinho me estremecey todos, todos os cabelinhos, Parecia que 0 vio entre nés se tocava, (ah, sonho vao) mas nao, haviao espaco, que delicia isto, uma tonteira obscura, Tudo se Prepara Para a cena Obs. Digitalizado com CamScanner Mesa posta (Vitva alegre) Os pratos vazios e as nuvens cheias; pode chover na rua ou na mesa: beberemos chuva ‘cou beberemos vinho, chuparemos uva. Quero fazer esta rima. Em 82 fiquei duplamente vidva. Nao, triplamente. — é uma pena agente ndo usar mais aquelas roupas amplas com babados, la¢os, chapéus e luvas, aquelas roupas de antigamente. Vem que estou nua, tenho fome & chove- Vem que sou tua. Digitalizado com CamScanner Bacanal Cheiro verde: salsa e cebolinha refogadas na manteiga e acafrao. Bem temperado, um espetinho no cora¢ao. O fogo aceso, (Debussy com creme chantilly de sobremesa) ele vai comer: 100 gr de fermento flesh- man Pra crescer. Digitalizado com CamScanner wai a Digitalizado com CamScanner Re-ceita Amor é igual pavé: misturam-se as caldas das ameixas pretas e dos péssegos com biscoitos champanhe ou palito francés. Mas amor 6 igual a algodao doce: ndo dura trés meses de Romeu e Julieta. Que amor tem farinha e Ifquidos sangu({neos. E certo igual a torta: tudo dissolvido em meia x(cara de groselha. Por cima, fatias de abacaxi. Amor: retire do fogo e deixe esfriar, passando depois pra compoteira. Digitalizado com CamScanner ia das frutas Meméria ome dos avés) Eram um pé de amora milenar ea menina ld em cima a saborear as amoras num sabor de beijo de interior. Era um fazer gindstica na jaboticabeira: horas de cabeca Para baixo, Preparando o universo da Poesia. Eram, ld nas grimpas, os gostosos jambos de sementes lisas e geométricas chocalhando dentro, Um 6co estranho, 0 Jambo, com sua carne amarela, gostosura tropical-ariana. Era um plantar © milho sé pra ver crescer © aS canas de doguras inimaginaveis ~ era um mundo maduro e colorido. Eram a menina & Os cavalos ruminando as canas, Um cheiro de estrume, livros velhos @ gesso. Era um ci garrinho de talo de chuchu fumado e: Scondido, Digitalizado com CamScanner Cantares Outros poemas jovens s#o inevitdveis: escorrem dos teus cabelos com cheiro de maresia. E me parece velha toda a poesia que escrevi nos outros tempos grdvidos. As estagdes do tempo so incontrolaveis a poesia é fruto natural: ‘tem asa e voa e cabeceia, mas tem no fundo sumo e gosto e cheiro e carne de animal. Ah, me parece gasta aquela poesia, poemas que vivi: todos impublicdveis, Digitalizado com CamScanner E sempre a mesma, a repetida estéria: quando se abrem os olhos dos velhos poemas transmudados em livro, j4 se perderam todos na minha memoria. Sentimentos antigos e impalpdveis que eu olharei sem crer: sdo inacreditaveis. Com cheiro de maresia, escorre dos teus cabelos @ Nova poesia. Navegam no mesmo mar desconhecidas naves, Chegou o tempo de Cantarem as aves, Digitalizado com CamScanner Embriaguég. Um aborto das flores da videira, cachos de uva estragados — um desavinho era. Tudo o que tinha era justamente por no ter nada —cedo virei enteada. O meu sucesso era cantar meus insucessos. Agora, fiquei enjoada disso. Prefiro umas empadinhas recheadas, croquetes de galinha. Hora, bebo enquanto tiro as meias de seda (licor de cacau, vinho d e leite condensado). Oral jo Porto Digitalizado com CamScanner = O dildvio Eu vejo o teu amor se derramando; pinga dos teus olhos @ escorre nos meus bragos, O teu amor vai me minando os selos, o teu amor vai me molhando, me partindo pelos meios, me afogando, que 6 muito amor que eu vejo assim, © teu, se derramando pelas minhas pernas, me diluindo em nuvens. Eu vejo o teu amor se derramando, me diluviando: teia molhada Na qual fiquei presa, vendo teu amor se derramando 80 ovo, — Dentro, uma vela acesa. Digitalizado com CamScanner P&o e vinho Teu braco, amigo, tem 0 sabor das frutas da estac4o degustadas nas festas populares; dos doces e compotas e alfenins; teu braco abrigo 6 vinho e pao e comunhéo, é uvae trigo. 85 Digitalizado com CamScanner Glosa e mote “0 sonho tinha de ser tomado em soley curtoy, entre hostilidades”” Guimardes Row Mas 0 fizemos longo e lambemos, degustamos, bebemos sem pressa a felicidade, Tomamos 0 sonho como quem morde um pomo ou lambe um favo de mel delicioso, (Entre hostilidades, 9 sonho de amor é mais gostoso.) 1 Digitalizado com CamScanner Evoé, Ménades! Evoé, Baco! Eva é! Os sucos dos antropofagismos matutos e goianos querendo comer os dedos macunafmicos dos bandeirantes paulistas. Evoé, bucho! Os antropofagismos dos vinhos raspando com os dents a polpa rasa dos pquis e seus espinhos. Evoé, baixol 87 Digitalizado com CamScanner

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