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ha 137 anos doo Brasil 9 FRANCISCO ALVES do >), °° Ong € ee OF Cie Mavens Ayre Dez ANOS DE LITERATURA FEMINiNa Brasiy IRAs Ha quase cem anos Chekhov escreveu “A Querida” conto no qual a personagem feminina Olenka sé conseguia (189), se vivesse ao lado de alguém: um marido, um filho oO Seretiz Noutro de seus contos, “Trés anos” (1895), Polina Nikole Pai, Rassudina, feminista avant la lettre, viveu sozinha e se sustentn’ por longos anos, até que sucumbiu a um casamento sem ane Podem-se verificar notaveis coincidéncias entre a literatur brasileira € a russa do século XIX, nao apenas pela estrutura ure ria dos dois patses, a época, mas também pelas influéncias irance sas ¢ inglesas que receberam.' Mesmo assim, na obra do maion romancista brasileiro do século XIX, Machado de Assis, impossi- vel encontrar, em toda a sua galeria de sutis personagens femini- nas, uma sO que buscasse se auto-sustentar e defender seus proprios pontos de vista. Todas eram vitivas, solteironas ansiosas por se casarem, ou mulheres casadas que viviam, suposta ou real- mente, uma relacdo triangular. Ironicamente, Machado foi o maior defensor do ponto de vista feminino, quando muito poucas mulhe- res escreviam. Realmente, o que se constata no Brasil, nos anos 1975-85, tanto no plano social quanto no literario, € que as mulheres tém buscado e conseguido se libertar de papéis tradicionais. E plaust- vel também fazer-se a distincdo entre literatura de mulheres, escri- ta por mulheres, e literatura feminina, isto é, com voz feminina-a qual nem sempre ¢ facil de determinar. No entanto, o fundamental nao € precisar o que é essencialmente feminino, como faz em gran de parte a critica francesa, mas sim 0 eleito que esta voz “feminina’ Produz, ou seja, um texto com uma representagdo consciente ¢ ork ginalmente contra-ideol6égica - como veremos adiante. 48 : Como Irma Garcia em seu livro Promenade femmiliére,? parti- rei de citacdes das préprias obras literdrias, em vez de uma est tura tedrica previamente determinada. Segundo Wolfgang iser, citar autores € muito menos reducionista que parafraseé-los." ‘ A partir da producdo feminina brasileira nos Gltimos dez anos, € possivel dividir esses textos em dois grupos principais, com subdivisdes internas: o primeiro compreende aquelas autoras que talvez se destaquem To estilo, mas nao conseguem renovar seus papéis enquanto mulheres na tradicgao literaria; e 0 segundo, aquelas que apresentam uma nova voz no seu discurso. As tendén- Gias do primeiro grupo sao: 1) existencial; 2) experimentacao tex- tual; 3) alegoria politica. No segundo grupo notamos, por outro lado, a énfase no humor e 0 uso da forma de diario, tas, poema s0b 0 angulo do erotismo. oe a No século XIX destacam-se poucas vozes femininas: Nisia Flo- resta, uma feminista, Gila Machado, Francisca Julia, Maria Firmina dos Reis, a primeira romancista a mencionar o tema abolicionista no Brasil, entre outras. No século XX, destaca-se no romance regionalista nordestino Rachel de Queiroz, com O Quinze (1930). Pagu (Patricia Galvao), recentemente descoberta pelos irmaos Campos, foi uma das maiores revelacoes femininas na prosa urba- na do inicio deste século, com 0 romance proletario Parque industri- al (1933), apresentando uma visio psicologica das operarias das {abricas de Sao Paulo. Considerando esta visao condenavel, 0 Par- tido Comunista Brasileiro, a época, obrigou-a a publicar 0 livro sob o pseud6énimo de Mara Lobo.?Na poesia, Cecilia Meireles, partici- pante do grupo modernista da revista Festa (1927), guarda em sua poética tragos arcaizantes e simbolistas. A celebrada Cora Corali-| na e Henriqueta Lisboa nao escapam, por outro lado, das tintas | parnasianas ainda embutidas na sua poesia. ls Na década de 1960, Clarice Lispector, dentro do Modernismo, . sob a influéncia de Heidegger € Sartre e seguindo a técnica do fluxo de consciéncia empregado por Virginia Wool,’ publica, talvez, sua obra-prima: A paixdo segundo G.H. (1964). 7 Apesar da ditadura no periodo 19 11984, com o inicio da | abertura politica em 1979, a participacdo feminina na literatura | brasileira aumentou de forma impressionante no periodo 1975-85. No decénio anterior, estabeleceu-se 0 curioso fendmeno de que as mulheres participaram ativam' politico civil, mas, relativamen| politicos na fic¢ao. ente nas guerrilhas € No movimento | te, pouco escreveram sobre temas 49 19 primeiro grupo aqui estudado, temos autorag al enquanto mulheres e escritoras, mas que nia wet Ai, se libertar de antigos pap ; ler: tae Em suas Obras, reset, fazem que mimetizar sua ex! See ependéncla Patriarcaliy Maly Jano social. Escrevem freqientemente na primeira Dess, Sta ng rador refletindo 0 ponto de vista do autor, em Continua rel > autobiogralica. ‘Suas protagonistas limitam-se a relatar «relly rigncia de vida - geralmente restrita a sentimentos imediage numa ténue copia de Clarice Lispector e Virginia Woolf, Sua ese éum continuo mondlogo a partir de uma imagem vista atraveg um espelho. Para Lacan, s6 se alcanca a identidade a Partir dg de sho da propria imagem num espelho, Mas que passa para mye refletir a imagem de um Outro.’ Aqui, contudo, este Outro ue aparecce como a imagem da Alteridade, mas se instaura comog dominio do Mesmo. ‘Avoz descritiva, lastimosa, monologal dessa prosa femining denotativa nos fala da decadéncia do corpo, da solidao, das Tugage perplexidades diante das quest6es existenciais, sem apresentar alternativas. O enredo centra-se em seu fracasso no amor, no casa. mento, nos relacionamentos e na perda de esperanga no futuro, Quase nunca essas obras se referem a qualquer atividade de traba, Tho, sendo o doméstico e a vida em familia, "assim monologa a protagonista de Rachel Jardim, em Inventg. rio das cinzas: “Para mim, romper 0 casamento significou precipitar-me de cabeca no vazio. . . Procurei emprego. Até entao nunca tinha considerado a possibilida- de de me sustentar. Resolvi emagrecer para fixar minha postura de velha. Quero ser uma velha magra. Estou, agora, com 0 corpo que terei quando velha:cin- giienta quilos, apenas dois mais do que o meu peso na mocidade. Alimento-me com reserva, cultivo o prazer de esbocar agora maga versio ssea da figura que comega a se encaminhar para suas cinzas."* Este romance se divide em trés partes, sendo quea primeirae a terceira narram a vida da protagonista, em primeira pessoa, ¢ a segunda € um diario autobiografico da autora - a propria Rachel Jardim. Contudo, nao h4 qualquer mudanga de tom entre essas partes: todas compartilham o mesmo sentimento de perda, medo, incerteza e angdstia diante da vida. ___ Em Antes que o amor acabe, de Patricia Bins, marido e mulher vivem um casamento sem amor. Mas nao hé qualquer mudanga de 50 perspectiva ou de estilo no tom de frustragao usado na ‘a pessoa quando ele ou e/a narram seus sentimentos?” lel Indmeros contos e romances dessa ‘ 0 poca apresen e tom de Morte e melancolia, como o chama Freud, e fuetocerre quando se ¢ privado de alguém que se ama pela morte ou pe abandono.” p eae O quarto fechado, de Lya Lutt,"' versa sobre a morte em todas as suas aparénclas: destruigao do eu, da arte, doenga, loucura e a morte real de um dos gémeos da protagonista, que se suicida. £ durante o funeral do menino que se passa 0 romance, Sobre o tema da morte, escreve Rachel Jardim em Inventdrio das cinzas: “Ninguém responde por mim. Que estranha sensagao. Ontem, na hora de dormir, tranquel toda a casa e pensel: € como se estivesse trancando meu préprio tamulo. E essa Idéla nao me perturbou. Dentes, Pequenos ttimulos, sepulcros calados por fora, podres por dentro, Opdem pouca resisténcia a velhice. £ neles que se inicia a decomposigio. Nio consigo me imaginar velha num caixio. Gostaria de morrer com meu rosto de agora, acho que ele multo adequado, est4, como se diz de uma calda grossa de agtcar caramelado, no ‘ponto’ para morrer.” ? Para Agda, personagem que dé titulo a um conto de Hilda Hilst, seu corpo idoso, repulsivo se torna uma obsessao tao im- pressionante que ela prefere se afogar num poco lodoso, em tons de Poe: “...0 malor prazer é afogar minha pele velha e amarelada neste lodo e nunca mais deixar ninguém ME TOCAR, NUNCA MAIS, NUNCA MAIS.”!> A fragmentagao é outro aspecto do discurso feminino. Nos poemas e contos de Adélia Prado, a voz do narrador centra-se nos aspectos autobiograficos da propria autora, que vive em Minas Gerais (Divindpolis). Por toda a obra, mas principalmente num tre- cho mais flagrante de Cacos para um vitral, ela confessa sua inca- pacidade de captar a realidade como um todo, escolhendo a fragmentacao como sua técnica narrativa — tipico sentido de infe- rioridade feminina? “No caderno de Gloria: um romance é feito das sobras. A poesia & niicleo. Mas é preciso paciéncia com os retalhos, com os cacos. Pes- soas habeis fazem com eles cestas, vitrais, que por sua vez configu- 51 ram novos nicleos. Sera este pensamento vaidoso? Por certo. Quer ran oveucta extraordinario e desejo poder escrever um teatro mul. to engracado pra todo mundo rir até ficar irmao."* 7 Com base na obra psicanalitica de Melanie Klein, seria possi- vel argumentar que, no discurso feminino, a fragmentagao se da antes mesmo da observacdo externa € objetiva ter lugar, no inte- rior da mente da mulher. Neste caso, isso ainda reforcaria a afirma- co de Walter Benjamin de que a fragmentagao na obra de arte contemporanea é resultado da sociedade capitalista.’* Tal frag- mentacao, caracteristica da visdo feminina do mundo, é homéloga ao papel fragmentado exercido pelas mulheres na sociedade. His- toricamente, ela tem sido um obstaculo para experiéncias vitais mais ricas, como Virginia Woolf demonstrou em seus textos sobre “um quarto proprio”, onde circula o “anjo da casa”."* O fato de as mulheres serem restringidas social e psicologica- mente as torna prisioneiras de seus proprios corpos, casas ou muros de seus jardins. Como afirma Chombart de Lauwe: “A casa corresponde a a certa imagem. da familia e dos parentes distan- tes na si fade.’ ‘0 dade. E: spago expressa nao apenas as estruturas , mas também as tensdes, OS conflitos, a dominagao entre classes, grupos étnicos, etdrios e categorias sexuais.”"” Les coins de la maison, esses recantos intimos dacasa aponta- dos por Gaston Bachelard, servem como local rec6éndito para as mulheres se ocultarem na memoria e no tempo psicolégico. A ie mensao do tempo-na-memoria éanegacdo do mundo exterior." espago interior se relaciona ao Gnico universo que as mulheres conhecem desde a sua infancia: a percep¢ao da familia e sua inevitabilidade.” 7 Para Lya Luft em Reunido de familia, a vida familiar se a uma armadilha em que a mulher encara “ag ruinas e a fragmen 40 do mundo feminino”.» Esta seria talvez a explicagao ent fracasso de Norma Pereira Rego ao tentar descrev' eo vida no Rio nas décadas de 1960 e 70, em Jpanema dom Vitor (sel obsessao da autora-protagonista com a personagem de Vitor ex-marido) se sobrepoe a qualquer descricdo exterior nes' perfodo cultural, antes de se iniciar a ditadura. bandonat Julia Kristeva afirma que as mulheres deveriam Gicativ0: e tudo que na sociedade € acabado, estruturado, $ at air comecé-la de novo Uma tal negagao poderia silencio: “O siléncio é a marca da histeria. AS fa perderam O poder da palavra, elas so afGnicas e por 52 ram mais do que a fala" - escreve Héléne Cixous. “Inversamente, histérica é a mulher que nado pode perguntar ao mestre oO que ele que ela queira: ela nao quer nada, realmente ndo quer nada” Inversamente ao que afirma Héléne Cixous, no entanto, ao menos de acordo com a pesquisa de Maria Inacia d’Avila Neto com mulheres brasileiras no ano de 1976, elas freqiientemente desen- volvem, em suas interagdes psicossociais, uma personalidade au- toritaria e repressiva para serem aceitas pelo grupo masculino dominante.* Isto as torna mais conservadoras que os homens, tal- vez como uma resposta defensiva numa sociedade altamente re- pressiva, como 0 Brasil. . Neste sentido, pouca atengdo se tem dado a certos mitos so- bre a posicao da mulher na sociedade, tais como 0 da “mae-de- santo”, no candomblé da Bahia e na macumba.** As negras, & principalmente as mulatas sdo consideradas mais auténticas na expressdo de seus sentimentos e sua sensualidade. No entanto, 0 terreiro de macumba, normalmente conduzido por mulheres ne- yras, as “maes-de-santo", é talvez o Gnico espago em que essas mulheres ocupam uma posi¢ao hierarquica mais elevada em nossa sociedade. Desse modo, 0 motorista de taxi vé na protagonista de /nven- tdrio das cinzas, de Rachel Jardim, uma “filha de lans&” que nao precisa esconder aidade, por ser a deusa da natureza e da esponta- neidade.* Os dois irmaos de O jogo de Ifd, de S6nia Coutinho, Rena- to e Renata, tém suas vidas intricadas neste jogo de profecia do candomblé baiano.” A protagonista de A Mulher no espelho, de Helena Parente Cunha, se deixa envolver por um negro e se hip- notizar pela cultura mitica da Bahia - mas seu desejo de liberdade Ihe custa o abandono dos filhos, do marido, e termina em morte e punigéo.* A mera pratica da experimentacao na linguagem, enquanto mudanga no tempo, desenvolvimento da imayinagdo e inven! vidade do enredo nao basta para inverter os papéis destinados mulher pela sociedade - se nao houver mudanga de valores estabe- lecidos. A segunda tendéncia da literatura do periodo parte do cha- mado “realismo magico” sul-americano ~ representado, com maior éxito que na literatura feminina do Brasil, por J. J. Veiga, Dalton Trevisan e Vitor Giudice.” Nélida Piton emprega o imayindrio como base do enredo de seus romances e contos: um narrador abstrato e distanciado serve, com freqiiéncia, a uma fungao critica no texto, mas usando uma linguayem extremamente racional, destoante da linguagem literaria. quer Em “Ave do paraiso", por exemplo, ha uma grande dis! pancia entre a voz critica na primeira do singular e a romantica historia da vida da protagonista, afinal moga simples, sem cultura, Também em “I love my husband"," conto com titulo em inglés * mesma contradi¢ao ocorre entre o tom critico, abstrato, distancia do da narragao e as palavras amorosas que a personagem tenta expressar.” Regina Célia Colonia parte da experimentagao com 0 vocabu- lario e os recursos visuais da poesia concreta. Em seu livro de poe- mas Sumaimana utiliza a semantica da lingua quechua dos indios andinos para obter efeitos liricos.** Nos contos de Can¢do para o totem,* as palavras s40 mais permeadas com 0 visual do quecomo sentido dicionarizado. Lygia Fagundes Telles comegoua publicar em 1944, com Praia viva. Suas historias sao psicologicas, freqiientemente baseadas na vida familiar. Emprega 0 suspense e mudangas temporais. A narra- cdo, geralmente em terceira pessoa, mostra uma perspectiva exter- na e critica de suas personagens. Antes do baile verde (1970), contos, recebeu em 1969 o Prémio Internacional de Contos. A par- tir de Verdo no aqudrio (1963) eAs Meninas ela se tornou mais expe- rimental. Seus tltimos livros de contos, Seminario dos ratos (1977) e Mistérios (1981) receberam um tratamento de realismo magico.* Duas importantes personagens femininas estao em “Pomba ena- morada ou uma historia de amor” - personagem simples, proleta- ria, que repete 0 feito de Clarice Lispector em “Uma Rapariga” ena Macabéa de A hora da estrela e em “Apenas um saxofone”.” Uma terceira tendéncia dentro do primeiro grupo pode ser denominada de aleyoria politica. Poderia ser uma categoria muito mais promissora para a exploracao pelas mulheres, uma vez que se baseia no medo, tao presente numa sociedade repressiva como a brasileira da ultima década. Segundo Héléne Cixous, uma atmosle- ra amedrontadora de suspense é peculiar as mulheres, pois ‘anti- gas estorias consistem do reprimido da cultura”. ditadura poderiam ter servido como base para um novo modo de relatar historias, onde as mulheres pudessem projetar seu prop! in temor, provocado pela sociedade ea familia, como um escape Pe sua ansiedade - mas isto nao ocorreu. Para Cixous, “a economia retorno da libido poderia provocar uma verdadeira revolug jo numa lingua selvagem”, ‘s . 2 neta __ Memorias do medo, romance de Edla van Steen,” alude re dO. foricamente ao regime militar de 1964, logo no inicio do ja pels quando uma mulher desaparece, possivelmente sequestrada PI forcas da repressio. Contudo, na segunda parte do livro, ao optar pelo realismo magico no rapto de um professor por uma aluna par- ticular desequilibrada, no pordo de sua casa, e seu posterior enter- ro no jardim, a autora marca um descompasso dentro do género literdrio escolhido, pondo em risco o senso de verossimilhanga in- terna da obra. Outro romance escrito como alegoria politica € Sortilegiu, de Myriam Campello.® A herofna rebela-se contra o marido, um rel e contra as convengoes sociais, e participa de um grupo de guerri- Iheiras lésbicas - que no entanto nunca chega a reagir contra o reino do marido dela. A mistura do plano fantastico, onfrico, como politico quebra a unidade do enredo. | em O pardal é um passaro azul e O estandarte da agonia, de Heloneida Studart, que a literatura feminina mais se aproxima do contexto politico, focalizando o amor, a guerrilha e sua repressio, mas em parte abandonando 0 alegérico,” Chegamos assim ao segundo grupo de escritoras, que apre- sentam uma nova voz na literatura feminina contemporanea. Algu- mas empregam o humor para obter a liberagdo da linguagem, enquanto outras usam a forma epistolar ou de diario e o erotismo como meio para exprimir suas experiéncias e revelar a natureza dos sentimentos femininos recalcados. O humor pode ser considerado uma das. técnicas contra-ideo- légicas mais elicazes para reverter valores, desde o Simbolismo, e ainda mais desde o Surrealismo. Originando-se nas camadas mais interiores da mente e portanto mais independentes das forgas ex- ternas, repressivas da sociedade, abala os dados do consciente e as normas do social. Assim como em muitas hist6rias de Kafka, 0 humor introduz uma nova realidade, ao dividir o significado em consciente (permitido, aceito, l6gico, dado) e inconsciente (ines- Perado, surpreendent te, extraodinario, absurdo, analdgico), e des- loca assim o significante (© inconsciente, para a psicanilise) parao significado (sentido social, denotativo).® igs (Atraves de jogos de palavras, em seu livro de poemas Finesse ¢ fissura, a paulista Ledusha inverte as normas socials, a sintaxe ea gramatica, e ridici ulariza os valores que tém sido atribufdos as mu- theres na sociedade urbana moderna: rendas en rétarde em geral vento de Janeiro fico & vontade no éclo penetra o apartamento elo proust agita os discretos véus adoles¢o eternamente que o amor teceu penteio nuvens Icio me amava muito mas $6 agora soube 14 em barcelona démodé ulisses nao se mandou como manda 0 figurino® Assim, para este novo tipo de mulher, ficar em casa ndoéy experiéncia atemorizadora e mortificante de perda da identidade mas sim uma oportunidade para ler e relembrar-se de viagens es amores ambiguos, no verao. Ao descartar as letras maitisculas, a autora desveste a literatura de sua aura - uma camada simbélica das mais apavorantes para a maioria das mulheres, que nao conse. gue ir além do préprio eu para alcangar a cultura como um todo, dama a noiva de prometeu pavor que tenho roubando 0 fogo dos homens € de amor sem susto para dar aos deuses no plural ardo“ O humor realiza a total inversdo dos valores sociais tradicio- nalmente atribuidos as mulheres. Aqui a voz do poeta foge as rela- Ges amorosas tranqiiilas, familiares ou exclusivas; ao brincar com osentido da palavra “fogo”, ela se compara a Prometeu na estrutu- ra circular do poema. deslavada meu querido antonio nao pude ir pneu furou no sei trocar Como em muitos poemas do “Primeiro caderno do aluno de poesia de Oswald de Andrade” (1927), “deslavada” é uma metont mia da expressao completa, “mentira deslavada”, e aqui serve P™@ enfatizar que a fragilidade feminina é uma falsa desculpa- new-malacovski pintam de humor a tragédia prefiro toddy ao tédio. ern a ) Pernilongos insolentes Por tanto tempo esperada 56 Jedusha falsa demente encontra-se apaixonada de leve feminista sibado domingo segunda terga quarta quinta e na sexta Jobiswoman.* Estes poemas de Risco no disco, segunda parte de Finesse € fissura, empregam humor e uma voz externa, ironica - como se vé também, muitas vezes, no estilo em prosa de Marcia Denser. A forma episolar, 0 diario e 0 erotismo tém sido recursos usa- dos para revelar a experiéncia cotidiana da mulher. Ana Cristina Cesar (1952-1983) os empregou em Cenas de abril, Correspondéncia completa, Luvas de pelica, depois reunidos em A teus pés.” Ai se combinam fragmentos em prosa e versos livres. A narragao, na primeira pessoa, extremamente autobiografica, parece descor- tinar um observador escondido em algum canto do quarto. Para Georges Bataille, esta Experiéncia interior,* termo que ele prefere a “misticismo”, significava uma sensacao interior e um conhecimen- to do eu, que o ser humano, e especialmente o artista alcanga, quando supera o sentimento de silencio e solidao. Para Bataille, a consciéncia da solidao e da morte € 0 Ginico caminho para comuni- car a arte; s6 assim a Arte se torna uma vitoria de Eros (Vida, Amor) contra Tanatos (Morte, Repressdo). Nos poemas de A teus pés que se seguem, a intensidade dessa contradicao é vista autobiograficamente, quer a luz do humor, quer a luz da experiéncia feminina cotidiana, nao isentas de toques do tragico. MOCIDADE INDEPENDENTE Pela primeira vez infringi a regra de ouro e voei pra cima sem medir mais as conseqiiéncias. Por que recusamos ser proféticas? E que dialeto é esse para a pequena audiéncia de serdo? Voel pra cima: é agora, corago, no carro em fogo pelos ares, sem uma graca atravessando 0 Estado de Sao Paulo, de madrugada, por vocé, e furiosa: & agora, nesta contramio. EXTERIOR. DIA. Trocando minha pura Indiscrigao pela tua historia bem datada. Meus arroubos pela tua conjuntura. MAR, AZUL, CAVERNAS, CAMPOS e TROVOES. Me 57 reta do bondinho e choro. encosto contre atravessa varlos taneis da Pego um tint aii otorista. Driblo a minha f. Os Se ao ‘convocam para a guerra. Tor¢a, Jornals ea, mesmo longe, na distancia de quem filho, torga. "eum traidor. Tome bitter no velho ama Gs esquina, mas pensando em mim entre um Put da gatro de felicidade. Te amo estranha, wastiva, com outras cenas mixadas ao sabor do teu amor.” is de abril € um livro em prosa e versos livres que empre. gao ees me Qornal intimo, p. 80-1), € as cartas Para expri. mir lembrangas e referéncias de viagens. O gosto pela viagem ¢ uma evasao para o medo da mulher de perder sua identidade, Por viver trancafiada.” O diario e a carta sao a forma mais Perfeita Para escapar a esta realidade feminina, pois nao tem fronteiras, limita- goes ou sentido de espago. Como escreveu Anais Nin: “A tristeza me levoua construir uma caverna para me proteger: meu didrio"! Aprincipal caracteristica desta escrita é que “se pode interromper uma carta ou diario em qualquer ponto, com qualquer extensio, O Diario acompanha o ritmo da vida".* Virginia Woolf mostrou como, no passado, muitas escritoras escolheram essa forma por precisarem interromper seu trabalho seguidamente, devido a suas famflias.8 RECUPERACAO DA ADOLESCENCIA sempre mais dificil ancorar um navio no espago™ CARTILHA DA CURA As mulheres e as criangas sio as primeiras que desistem de afundar navios.® Nas duas Passagens anteriores a estas 0 script cinematograli- CO € 0 uso dramatico do género feminino como forma apelativa; aqui a ruptura dos famosos versos dos poetas simbolistas france- Ses sobre morte e navegacao constituem modos de autoquestiona- Scritnpe due abrem um espaco entre escritor e leitor, a base 3 sa moderna para a hermenéutica de Paul Ricoeur. Este espace uma ata Ser inserido no texto quer pelo humor, quer por orice rian © questionadora por parte do narrador/autor. Em te ‘4s do medo, Edla van Steen representa suas dividas enquam! al : " autora €xpressando ao final de alguns dos capitulos sua indecisé° como continuar o enredo, 58 Osaspectos aelma apontados nos fazem discernir as frontek existentes entre Un modo. mi ulino, seguro de conduzir anar- ragio eo Intuillvo ¢ feminino, Claro que o Ideal, conforme Virginia Wool! aflrmou com freqi encla, seria o modo andr6gino na literatu- ra, Mas, segundo Viviane Forrestier, “...pode haver uma escrita fe- nina produzida por mulheres, mas nem o masculino nem o conter esta diferenciagao em si mesmo." Em “Is There a Woman in This Text?", Mary Jacobus tam- pemconelul que o feminino ¢ o masculino nao se relacionam neces- sariamente ao yénero feminino, ¢ que o fundamental € 0 efeito do texto sobre o social. Basta realmente citar o exemplo de Proust como representante de uma escrita feminina, como é compreendi- da culturalmente (J iva, delicada etc) e o de Marguerite Your- cenar como de escrita masculina, semelhante a Flaubert, cuja escrita 6 por sua vez, um caso aberto ao questionamento. Quanto maior for o autoquestionamento da mulher, melhor seré paraa lite- ratura feminina, pois ela inauguraré uma nova sintaxe, gramética, ideologia e normas sociais. No dizer de Luce Irigaray, em Speculum de Vautre femme, a escrita feminina nao é fechada nem aberta, mas ainda por definida.* A escrita erdtica € um dos fildes mais promissores. Pode-se considerar que se iniciou na década de 70, sob 0 impacto de con- cursos de literatura erética promovidos pela revista Status e sob a influéncia do estilo de Rubem Fonseca. Parcos séo os exemplos de literatura feminina erdtica em lingua portuguesa: as cartas de S6- ror Mariana Alcoforado para seu amado francés, escritas no con- vento e publicadas no século XVII - que depois se provou serem inauténticas, escritas por um homem; as Novas cartas portuguesas, de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Cos- ta; e o duvidoso estilo de Cassandra Rios. Olga Savary é uma das poetas mais maduras e reconhecidas a produzirem poesias erdticas. Freqiientemente utiliza a imagem de aoe selvagens ou rurais para representar os sentimentos femi- hinos,” Em sua impregnagdo lirica, a poesia consegue transmitir me- ‘hor os significados do erotismo, através da metdfora, que a prosa. Esta tem de vencer oobsticulo da maior incidencia do vocabulario Dagontmico ~ se ainda aceitarmos a terminologia de eae lustre oelas organizadas por Marcia Denser See entra, Na primeira, Muito prazer,* a necessidad aes poeerte Sia ‘© por melo de termos denotativos © meton! micos, faainao Dlicitos, para realizar um enredo, levou muitas autoras a [ug ml feminino existem. O texto deve F apenas as fontes de repressao = come Judith Grossmann, em anica” ¢ Cecilia Prada em "A Choe esnadura’, A maior parte das historias poderia figurar nurs a bre outro tema, Ficamos sabendo mais sobre comoas me pee eee sentem reprimidas por suas familias, seus marides 2, sociedade do que propriamente sobre o amor. sea Asegunda antologia, O prazer é todo meu, é melhor sucedig, em seu objetivo. Autoras como Sonia Nolasco Ferreira ¢ Myris 7 Campello conseguem combinar 0 erético com uma técnica narralh va refinada.® O conto de Marcia Denser, ‘Tigresa”, j4 aparecera tin nimal dos motéis. Nesta “Novela em epis6dios” assim como nas ‘Duas novelas”, de Exercicios para o pecado, Marcia pratica o estilo violento e agressivo da yeragao beat. Um excessivo simulacro com a posicao masculina, que lembra o Raduan Nassar de Um copo de célera, impede entretanto a criaga de uma voz feminina propria.” O erotismo é uma das armas que permitem atuar 0 “lado his- térico das mulheres” - diz Héléne Cixous. Se Lacan tinha razao ao afirmar que as mulheres estado fora da ordem do simbélico, entio, conclui, elas devem falar, falar e falar.“ Edla van Steen constréi uma intensa atmosfera entre um casal que luta para nao se ver mais, em “Carol cabega lina coragao”.” Mas é no seu Gltimo livro de contos, Antes do amanhecer,” que melhor combina uma atmosfera de suspense com erotismo, em enredos altamente imaginativos, como “O sr. € a sra. Martins”, “Aluga-se apartamento” e “Intimidade”. ‘A autora que melhor desenvolve uma nova voz feminina é sem diivida Sonia Coutinho. Em Os ventenos de Lucrécia,” mostra os problemas complexos de uma mulher que vive sozinha num gran- de centro urbano como 0 Rio. A partir dos didlogos contidos ¢ tom erético reprimido, pode-se tragar um paralelo: sua prosa seria a versdo feminina da de Rubem Fonseca. Em O jogo de Ifd,* irmao e irma, Renato € Renata, busca @ propria identidade retornando para a familia, na Bahia, enredados ha estrutura de Amarelinha, de Cortazar, ou na natureza androgina do ser, entre as referencias a Orlando, de Virginia Wool. 0 joe de If4, que tem no candomblé fungao divinatoria, é uma busca € win retorno, por parte de Renato, as camadas mais profundas do ser Para Lukacs, em Historia e consciéncia de classe. hd sempre uma relacao entre classe e ideoloyia — ¢ isto torna dificil para essas autoras superarem sua posicio de classe média. Contudo, pare uma visdo contra-ideolégica da sociedade, 0 humor € exousine parecem ser a melhor resposta a literatura tradicional, A" tema e reve! lizerayy logia so 60 rem uma nova voz feminina, essas autoras realizam o que sy considera 0 verdadeiro fim do objeto estético: a re- encontr Wollyany | presentagio. para Iser, 0 “horizonte” (ou campo, na teoria da Gestalt), € continua interacao de perspectivas que langa um novo foco em to- das as posigoes lingiiisticamente manifestas no texto, cada posicao érecolocada num contexto novo, resultando dai que a atengao do leitor é atraida para aspectos até entao nao percebidos”.”* Dentro da perspectiva de um novo eu feminino, estudou-se 0 problema da representagado dos aspectos sociolégicos ou psicos- sociais no texto, € vit-se a projegdo do eu num outro eu, ou alteridade, que é, segundo Lacan e Luce Irigaray, condigao da bus- ca da identidade (feminina), As autoras do primeiro grupo aqui selecionado permanecem prisioneiras do que Iser chama de “tema” (ou figura, na teoria da Gestalt), isto é, dos elementos literdrios do texto. Para obter maior eleito, elas deveriam “transcender todos os elementos determina- dos”, numa constante interagao com um contexto mais amplo, a fim de obterem o objetivo da representagao. $6 entao o “tema interagiria com o contexto maior”, ou “horizonte”, € o texto ating’ ria resultados mais elevados. O texto deve interagir com os dois sistemas que existem fora dele: o sistema da situagao hist6rica e das normas sociais eo sistema das literaturas e das normas litera- rias que o antecederam.” O estado de extrema dependéncia da mulher na sociedade brasileira - que se reveste de aspectos ambiguos no mito da mulata como elemento inter-racial, por exemplo - mostra a importancia do humor na literatura e na sociedade como valvula de escape e elemento perturbador das estruturas. As mulheres deveriam comegar a rir de si mesmas - afirma Héléne Cixous em La” - em vez de continuarem se lastimando por toda a eternidade. As mulheres deveriam todas tornar-se Ma- cunafmas da sociedade brasileira: devem se esquecer de suas consciéncias na ilha de Marapata e rir um bocado, E nao ser puni- das por seu prazer, como Ci, mae do Céu, que pagou por ele com a morte, Previamente a discussdo sobre uma voz feminina, masculi- na ou mesmo andrégina, seria fundamental a discussdo sobre as reyras gramaticais, a sintaxe € as normas sociais que restringem a mulher na sua escrita. E sobre a superagado de suas limitagoes de classe com o exercicio de um papel realmente contra-ideolégico no que fazem e escrevem.* Nova lorque, 1985 - Rio, 1986. 61 fe Hoje, Porto Alegre, PUC/ Rlo Grande do Sul, n, 6, Letras de ingles Women writers in Brazil today, em World Liesre ahora 5 eet versity of Oklahoma, v.61, 1, winter 1987, , yey ye Finlay, Oklahoma, The Mr exto como A nova vor da mulher na Ieratura brasigg, Mihodas / Crossroads, Symposium on Portuguesa ¢' cv airica, Asia), Los Angeles, University of California iyjy v3. p. 12731 Em 1985, durante pO: University, esta palestra Writers in Brazil Today”, m 0) Columbia, Texas, Carolina do S NOTAS 1. Tracel um paralelo entre Dostoievski e Machado de Assis em “As metéforas do i ature d’America, Rivista trimestrale, | humor em Machado de Assis”, in Lette ae Bulzoni, Anno 4,n. 18, Estate 1983. p. 65-81. 2 Este ¢ 0 enredo dos contos € romances mais famosos de Machado: “Trio em |g “A Cartomante”; Quincas Borba, Bris Cubas, Esate Jacée “Missa do galo” € hotene, do Ban estudado por Helen Caldwell em The Brazilian Othello of ‘Machado de Assis. 3. GARCIA, Irma. Proménade femmiliére, Recherches sur lécriture féminine, Pats, dahtens des Femmes, 1981, 2 v. As citagdes se referem ao v. 1. A autora propie Tiple excolha no estudo literério: escolha de autores, e entao escolha de cltagées, ‘SER, Wollgang. “Narrative strategies as a means of communication”, In inter. pretation of narrative, ‘ed. Mario J. Valdes e Owen J. Miller, Toronto, University of Toronto Press, 1981. p. 101. 5. Apés quase cinco anos na cadeia, de 1935 a 1940, Pagu viveu como escritor Geral do Ferraz, com quem escreveu A famosa revista, um livro, em 1945. Patricia Galvio fol ornalista,e alnda Jovem viveu com Oswald de Andrade. Para Kenneth David Jackson, a Gnica personagem masculina bem desenvolvida de Parque industrial, ‘Alfredo Rocha, se baseava em Oswald de Andrade. Ver Realismo social brasileiro nos anos 30, in Jornal do Brasil, 22 margo 1978, reimp. in CAMPOS, Augusto, Pagu (Patricia Galudo), Vida-obra. S40 Paulo, Brasiliense, 1982. p. 282-90. 6. Fiz um paralelo entre a técnica narrativa das duas autoras em “Clarice Lispector ¢ Virginia Woolf: uma comparagao", in V Congreso Nacional de Lingua e Literatur. Anais, Rio de Janeiro, SUAM/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educagio, 1980. p. 39.52. 7. LACAN, Jacques. *Le stade du miroir”, in Ecrits, Paris, Galllmard, 1966. Ver tam bém IRIGARAY, Luce, Speculum de l'autre femme, Paris, Minult, 1974. Ver ‘também Feminine sexuality, Jacques Lacan and the école freudienne, Ed. Juliet Mitchell € A Rose, New York, Norton, 1982. (1. ed., 1968). # JARDIM, Rachel. Inventdrio das cinzas, Ro de Janetro, Salamandra, 1864 P 57,58, . Ver também A crstaleira invisivel, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1982 9. BINS, Patricta. Antes 6 Se eerie telra, 1984 © ponto de vista do marido, paternal Rio de Janeiro, Nova Frontel . “Deull et mélancolie”, in Métapsychologie, Parls, Gallimard. s doutoramento em Literatura Comparada na New ¥, fol proferida, numa verso resumida, sob 0 titulo “Wa ork ito universidades norte-americanas: Yale, Princetyn, ul, Novo México, Arizona e Massachusetts, Para 11. Lor, *Lya. 0 quarto fechado, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1984. 62 1 ‘achel, Inventirio das cinzas, Ob, elt,, p. 120, 12, 109, AS. HILST, Hilda, “Ada”, In O pape! do amor, org. Edla van Steen, Sao Paulo, Indas tla de Papel Simao, 1978/79. p. 155-63, p. 163. Ver também GROSSMANN, Judith, "A. camino da eternidade”, p. 47.54. " 14, PRADO, Adélla, Cacos part um vitul, Rio de Janelro, Nova Frontelra, 1980. p. 79. Desenvolvi esta Idéta em resenha para a Revista do Brasil, Rlo de Janeiro, Secretaria de Clanela e Cultura, Ano 2,n. 4, 1985, p. 124-25, 15, BENJAMIN, Walter, “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”, in Teoria da cultura de massa, org, Lutz Costa Lima, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978. p. 2040. 16. Ver WOOLF, Virginta. “A room of one’s own”, “Theart of fiction”, “Dr. Arnold and Mrs. Brown", “Jacob's room” e Orando. Virginia Woolf utiliza Ironicamente a ex- pressio “o anjo da casa” em seu Didrio, a partir do poema homélogo de Coventry Patmore (1823-96), poeta prérafaelita que tencionava, com ele, fazer a apologia do casamento. 17, LAUWE, Chombart de. *Ethnologle de espace humain”, In De espace &colagique d Uespace corpor, Paris, PUF, 1975, elt., In d’Avila Neto, Marla Inécla, O autoritarismo e a mulher; 0 jogo de dominagio macho e fémea no Brasil. Rio de Janel- ro, Achiamsé, 1978. p. 238, 240, IS. GARCIA, Irma. Ob, clt,, p. 296, Sobre o tempo, p. 216 ss., 336, 298, Luce Irigaray afirma, a respelto: “Hors scene, hors représentation, hors Jeu, hors je”, ob. cit., p. 21. 19. GARCIA, Irma. Ob. clt., p. 307. “H4 uma longa estérla de amor entre uma mulher e seus objetos”, ver Altemnativas, n. 1, “Facefemmes”, p. 94, cit. in Garcia, p. 3678. 20. SCHULER, Donaldo, resenha em ColéquioLetas, Lisboa, n. 72, margo 1983, p. 104- 5, p. 105, 21. REGO, Norma Pereira. Ipanema dom divino, Rio de Janeiro, Nova Frontelra, 1984, 22. KRISTEVA, Julia. “Lutte des Femmes”, In Te! Quel, n® 58, p. 100. 23. CIXOUS, Héléne, “Castration or Decapitation?”, trad, Annette Kuhn, in Signs, ou- tono 1981, v. 7, n. 1, Special Issue on French Feminine Theory, p. 41-55. p. 49. 24, D'Avila Neto, ob. clt., p. 17, 77, 100-1. Ver também Kristeva, Julla, La révolution du langage potique, Parls. Seull, 1974, p. 613-4. Com relagio a castragio, ela diferencia a mulher simbolicamente pelo fator anatdmico - um argumento contestavel. p.45-6. 25. Ver d’Avila Neto, ob. elt., p. 50, 26. Ver Jardim, ob. elt, p. 130. 27, COUTINHO, Sdnla. O jogo de Ifé, Sao Paulo, Atica, 1980. 28, CUNHA, Helena Parente. A mulher no espelho, Florian6polis, Fundagio do Estado de Santa Catarina, 1984, 29, Esses escritores brasilelros podem ser considerados dentro do “realismo magh- co” no Brasil, movimento latino-americano representado por Gabriel Garcla Marquez, com Cem anos de soliddo (1967), Cortézar, Borges, Vargas Llosa, Juan Rulfo, Emesto Sabato, Miguel Angel Astirlas, Lesama Lima e outros. 30. PINON, Nélida. “Ave do parafso”, In Sala de armas, Rio de Janetro, José Olymplo, 1973. p. 7-13, relmp. Mulheres & mulheres, Antologla de contos, Rio de Janeiro, Nova Frontetra, 1980. p. 122-8, 31. PIRON, Nélida. “I love my husband”, In O calor das coisas, Rio de Janelro, Nova Fronteira, 1980. p. 57-67, relmp. Mulheres & mulheres, ob. clt., p. 3-21. 63 32, Em “A sombra da caga", a distancla entre o disc : sada para descrevéla quebra a Mtmoetors dee sealer ae acineuagem crit O calor das coisas, ob. cit., p. 105-7, relmp, In O papel do emtico construfda, In mesmo problema ocorre em “O revélver da paixao”, In 0 calor das cole p pie 33, COLONIA, Regina Célla. Sumaimana, 2. ed., Rio de J mon Ila Memdrla/INL, 1984. (I.ed., 1974). fe Janeiro, Francisco Alves, 34. COLONIA, Regina Célia. Cangdo para o totem, Rio de Janeiro, C! ra/Calxa Econdmica de Golds, 1975. le Janeiro, Civillzagéo Bras 35. TELLES, Lygia Fagundes. Mistérios, Rio de Janelro, Nova Frontera, 1981, e Semi nario dos ratos, Rio de Janeiro, José Olymplo, 1977. “seem 36. TELLES, Lygia Fagundes. “Pomba enamorada ou uma hist6rla de amor’ nO papel do anor, ob. clt.,e “Apenas um saxofone", in Mulheres & mulheres, ob c..p, 47/87, relmp. In O prazer é todo meu (ver nota 64). 37, CIXOUS, Hélene. “Castration or decapitation?”, ob. ct. P. 52. 38, Idem, p. 49. 39. STEEN, Edla van, Memérias do medo, Sao Paulo, Melhoramentos, 1974, 40, CAMPELLO, Myriam, Sortilegia, Ro de Janeiro, Civlizago Brasltira/MECIN. i981. cul, 2. ed., Ro de Janelro, Civili 41, STUDART, Helonelda. O pardal é um passaro a: f ao Brasileira. (1. ed., 1975). O estandarte da agonia, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981. 42, Em meu artigo “Humor da palavra e sentido do lugar em Guimarées Rosa”, publ ee aRevista Brasileira de Lingua e Literatura, Rio de Janel, Sociedade Brasileira de Lingua e Literatura, Ano 4, n. 10, 2, 3°, 4° trimestret 1982, p. 10:16, apliaue > Logique du sens, de Gilles Deleuze, e O chiste © ses relagdes com 0 inconsciente, 0° Coe en Tutanéia, de Joao Guimaraes Rosa. Ver também A interpretagao dos > hos ¢ Psicopatologia da vida cotidiana, de Freud. 7B. Ledusha, Finesse e fissura, Sio Paulo, Brasiliense, 1984 nocaute. p. 70-105, risco no disco.) 44. Idem, p. 26, 27. 45. Idem, p. 45. 46. Idem, p. 72, 88, 87. 47. CESAR, Ana Cristina. A feus 48, BATAILLE, Georges. L'Expérience intérlew Gallimard, 1973. 6 v. v. 5 49. CESAR, Ana Cristina, A feus pés, ob. elt p- 15,16. sas mode! © humor de sua poesia lembra o de Lewis Carroll, of dos poetas meen righ Oswald de Andrade, Marlo de Andrade e Manuel Bandelra, Pore Ana Cl co. O dltimo é cltado em “Casablanca” (Pp. 60),eP. 61 de Cenas ¢ ida, Riod® Cesar fez parte da antologia 26 poetas hoje, ore Helofsa Buaray 7 ae ee eanye 1976, reunindo a chamada “geragao de my rar yas anos heranga dos grandes modernistas. A respelto da "impr Hlense, 1980, ¢ mes™ ditadura, ver CPC, Vanguarda ¢ desbunde, Sao Paulo, Brasillense, autora, 50. GARCIA, Irma, ob. elt, p. 329. 51. NIN, Anais, Journal, v. 1, p. 319, €lt., 52, GARCIA, Irma, ob. elt., p. 164. p. 18, 21, 63. (p- H4 2) pés, Sao Paulo, Brasillense, 1983. (1. ed» ee an re, In Oeuvres comple! Garela, p. 310 64 su, WOOLE, Vinglnla, A mom of one's own, New York, Harcourt, Hace SLCESAR, Ana Cristina, Conus de abril, ab, elt p 66, CESAR, Ana Cristina, A feus pés, ob, elt, p. 7, 5h FORI i Hn plurtel”, tn Tet Quel, Paris, n® 14, p. 12. JACONUS, Mary. “ls there a woman tn this text?" hi ny, Lantono 1982, p. LZ, S88. IRIGARAY, Lite, ob, elt, 9. Ver LOMBARDI, Bruna, O perigo do dro, 60, SAVARY, Oly & World, 1929, Lane, "Fe In New Literary History, Virginia, I, Rlo de Janetro, Record, 1984, Magna, Sdo Paulo, Masso Ohno/Roswitha Kemplt (1982). p. 28, 29. Ver OLIVEIRA, Marly de, A forya da paixdo & A incerteza das colsas Thesaurus, 1984, onde a abordlagem é floséttea, Emm 196 Marly de Olive milo de poesta da Academia Hrasil 61, Lacan considera Impossivel se processos complementares do ine 62, Muito praz Record, 198 &. Ver, por exemplo COLASANTL, Marina, “Menina de vermelho, a caminho para a Lana", p.d9S8 Brasflla, a ree ade Letras com A suave pantera, Alora da metonimla, pols sho dols te, Ver Eerits, Paris, Seull, 1966, nlnihos, selegio Mércla Denser, Rio de Janetro, Contos erditleas f 64. O prazer & todo meu, Contos erdticos fer Janelro, Record, 1984. 65, Myriam Campello obtém « 1p. 705, Em “As mil e uma noites' hagem Impledosamente, Indle n mintnos, selegao Mércla Denser, Rio de ah spel feito erdtico em 33, Sona Ne do que o casament » se envolveram sexualmente antes dele, Renata nas de sexo explicito”, ‘co Ferrelra punea sua perso- élelto para as mulheres que ‘allotin,em “A mulher sensual”, P. 100-15, parte da frustragdo psicoldica da personagem, mals em tom grotesco Que erdtico, © conclul com o casamento, Regina Célla Coldnla em “0 planeta Gauguin’ + P. 90499, pratica mals a experimentagio da IInguagem que o erdtleo. DENSER, Marcla, Animal dos motéis, Novela em eplsédios, Rlo de Janelro, Civille zacdo Brasilelra/Massao Ohno, 1981. 67. DENSER, Mércla. Exercicios para 0 pecado, Duas novela Vhilobiblion, 1984. Ver Raduan Nassar, Um copo de célera, Brasiliense, 1984, &8. CIXOUS, Hélene. Signs, Londres, n, 7. p.47,Sua argumentagéo, baseada na anato- nla do corpo feminino, acabarla por limItar as mulheres de forma determintstica. 69. Ver O papel do amor, ob. elt, p. 1713. 70. STEEN, Edla van. Antes do amanhecer, Sio Paulo, Moderna, 1977. 71. COUTINHO, Sénta, Os venenas de Luerécia, $40 Paulo, Atlea, 1978 COUTINHO, Sonta, Paulo, Atiea, 1980 ae LUKACS, Georg. Histoire et conscience de classe, Parls, Minult, 1960. 'SER, Wolfgang. “The Interplay Between Creatlon and Interpretation”, In New 4. ISER, Wor play Between Cre biterary History, Virgtnta, v.15, h. 2, Inverno 1984, p. 38795, p. 387. A SER, Wolfgang. "Narrative Strategies as a Means of Communication”, ob. clt., » Rio de Janeiro, ed., Sio Paulo, 76. R, Wolfgang. idem, p. 100, Med TXOUS, Hélane. 4a, Parts, Gallimard, 1976, Ver também *The laugh ol the Med Signs, trad, Kelth Cohen e Paula Cohen, Londres, n. 1, verdo 1976. p. 887. 65

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