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Aprendendo a consumir com

TRÊS ESPIÃS DEMAIS

PATRÍCIA IGNÁCIO
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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL 
PRÓ­REITORIA DE PESQUISA E PÓS­GRADUAÇÃO 

DIRETORIA DE PÓS­GRADUAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS­GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO 

APRENDENDO A CONSUMIR COM 
TRÊS ESPIÃS DEMAIS 

PATRÍCIA IGNÁCIO 

Canoas 
2007
PATRÍCIA IGNÁCIO 

APRENDENDO A CONSUMIR COM 
TRÊS ESPIÃS DEMAIS 

Dissertação  apresentada  ao  Programa  de  Pós­ 


Graduação  em  Educação da  Universidade  Luterana 
do  Brasil  como  requisito  parcial  para  obtenção  do 
título de Mestre em Educação. 

Orientadora: Profª Drª Marisa Vorraber Costa 

Canoas 
2007

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 

I24a      Ignácio, Patrícia. 
Aprendendo  a  consumir  com  Três  Espiãs  Demais  /  Patrícia  Ignácio.  – 
Canoas, 2007. 
203 f. : il. 

Dissertação (mestrado) – Universidade Luterana do Brasil, Programa de 
Pós­Graduação em Educação, 2007. 
Orientação : Profª. Drª. Marisa Vorraber Costa. 

1. Educação. 2. Estudos culturais. 3. Mídia. 4. Consumo.               5. 
Cultura.  6.  Comportamento.  7.  Identidade.  8.  Desenho  animado­  Três 
Espiãs Demais. I. Costa, Marisa Vorraber. II. Título. 

CDU 37.012 

(Bibliotecária responsável: Débora Jardim Jardim – CRB 10/1598)

Os pensamentos, embora possam


parecer grandiosos, jamais serão grandes
o suficiente para abarcar a generosa
prodigalidade da experiência humana,
muito menos para explicá-la.
(Bauman, 2004).

AGRADECIMENTOS

É  hora  de  agradecer.  De  relembrar  aqueles  que  com  distinta  intensidade 
participaram de minha vida, colaborando para que o sonho de ingressar, participar e 
concluir  o  mestrado  fosse  possível.  Agradeço  a  todos,  porém,  cito  somente  alguns 
devido  à  impossibilidade  de  registrar  em  poucas  páginas  a  infinidade  de  pessoas 
que povoam minha memória. 

Dentre todos, quem mais esteve ao meu lado, seja sofrendo a cada tombo ou 
festejando  a  cada  conquista,  foi  minha  querida  mãe.  Obrigada  mãe,  pelas  vezes 
que, com muito esforço, compreendeu que no mestrado o trabalho é muito solitário, 
pelas vezes que me emprestou seu ombro e, por outras, que me fez acreditar que de 
tudo sou capaz quando acredito sê­lo. 

Ao  meu  querido  avô,  que  mesmo  sem  compreender  o  que  ao  certo  fazia 
(todas as quintas e sexta­feira e naqueles solitários finais de semana) sempre esteve 
o meu lado, apoiando­me e ajudando­me. 

À minha querida avó (in memoriam) que, durante sua vida, mostrou­me como 
ser forte e lutar por meus ideais. Espero que estejas vendo o quanto teu exemplo e 
tua ajuda foram fundamentais para o alcance de meus sonhos . 

Agradeço  também  ao  meu  irmão,  pessoa  com  quem  tenho  forte  relação, 
chegando muitas vezes a confundir­me acreditando ser ele, ora, mais novo que eu, 
ora  mais  forte  e  protetor  que  nosso  pai.  Mano,  obrigada  por  teu  apoio  e  amor 
incondicional. 

Ao  colega  de  orientação  Douglas  Flor,  pela  amizade,  pelo  apoio  e  pelo 
companheirismo. 

Aos meus amigos por todas as vezes que passaram a ouvir incansavelmente 
as temáticas relacionadas  à minha pesquisa  e, mesmo  que  pouco compreendendo 
do que se tratava, mostraram­se prestativos e atentos. 

Se  há  alguém  que  realmente  merece  meu  profundo  e  incansável 


agradecimento é aquela que acreditou em meu potencial e buscou ser compreensiva 
em relação a minha vida atribulada, minha querida orientadora Dr. Marisa Vorraber

Costa.  Profe,  obrigada  por  sua  rigorosa  e  afável  orientação.  Plantando  sementes, 
regando idéias e acompanhando o meu crescimento, Marisa tornou possível colher o 
mais belo fruto acadêmico que já produzi em minha vida, a presente dissertação. 

Às  doutoras  da  banca,  professoras  Cristianne  Maria  Famer  Rocha,  Rosa 
Maria Hessel Silveira, Ruth Sabat, por aceitarem o convite de participar da banca de 
qualificação do projeto de pesquisa e da dissertação, promovendo uma leitura sábia 
e  criteriosa  e  apontando  possíveis  caminhos  para  a  presente  dissertação.  Suas 
preciosas  colocações  foram  seriamente  avaliadas  e  na  medida  do  possível 
contempladas neste estudo. 

A  Deus,  agradeço  a  vida,  os  momentos  em  que  recorri  e  que  me  permitiu 
seguir adiante e as preces atendidas. Obrigada por ter me permitido chegar até aqui 
e acreditar que todos os obstáculos podem ser transformados em caminhos a serem 
percorridos. 

Com  profundo  sentimento  de  gratidão,  relembro  as  pessoas  aqui 


mencionadas  e  as  que,  por  descuido,  não  tenham  sido  contempladas.  Com  estes 
agradecimentos,  quero  que  todos  os  que  me  ajudaram  saibam  que  são  muito 
especiais para mim e parte importante de minha vida.

Resumo

Inscrito  em  um  registro  pós­estruturalista  e  com  as  lentes  ajustadas  segundo 
referenciais teóricos dos Estudos Culturais, o estudo volta­se para a análise da série 
de  desenho  animado  Três  Espiãs  Demais .  A  pesquisa  tem  por  objetivo  chamar  a 
atenção  para  a  forma  como  o  desenho  animado  compõe  as  identidades  de  jovens 
meninas  contemporâneas,  expondo­as  como  inteiramente  capturadas  pela  cultura 
do consumo. 
O  estudo  centrou­se  na análise  de dezesseis  episódios  da  série  — transmitida  em 
horário matinal, na TV Aberta, e em horário matinal  e vespertino  na TV a Cabo —, 
com  o  objetivo  de  investigar,  colocar  em  evidência  e  desnaturalizar  características 
identitárias das jovens meninas contemporâneas que, segundo o desenho animado, 
são  expostas  como  naturais  e  desejadas  em  determinados  grupos  e  contextos 
sociais  e  culturais  específicos.  O  estudo  pretendeu  mostrar,  também,  o  desenho 
operando uma pedagogia que ensina às jovens meninas os meandros e estratégias 
do consumo.O suporte teórico foi buscado em autoras e autores que problematizam 
questões referentes à condição pós­moderna, às pedagogias culturais e ao consumo, 
como  Bauman,  Sarlo,  Lipovetsky,  Schor,  Linn,  Garcia­Canclini,  Steinberg  e 
Kincheloe, Giroux, Freire Costa, Fischer e Costa, dentre outros. 
Os  achados  da  pesquisa  mostram  as  narrativas  dos  episódios  construídas  sobre 
uma  representação  de  tempo  e  espaço  pós­modernos,  onde  as  meninas­heroínas 
apresentam­se  excessivamente  preocupadas  com  o  consumo  de  objetos,  de 
aparências  e  de  relacionamentos.  A  obsessão  por  um  corpo  perfeito,  o  desejo  de 
alcançar status social  e a  necessidade  de ter a  seu  lado  um  jovem com aparência 
estonteante,  transformam  o  dia­a­dia  das  personagens  em  um  constante  desejar  e 
descartar  objetos  da  moda,  colocados  em  evidência  na  sociedade  do  espetáculo. 
Exortando e, talvez, caricaturizando a superficialidade e a banalidade, a narrativa do 
desenho  expõe  as  missões  de  caráter  coletivo­mundial,  a  serem  realizadas  pelas 
meninas, niveladas com as de caráter individual­grupal. 
Em  meio  à  ludicidade  e  ao  prazer  do  entretenimento,  as  narrativas  do  desenho 
animado  Três  Espiãs  Demais  estão  a  invadir  a  vida  de  crianças  e  jovens, 
convocando­os a compartilhar significados sobre o mundo do consumo, exposto em 
práticas  que  os  enquadram  nas  lógicas  das  sociedades  orientadas  pelo  e  para  o 
mercado. 

Palavras­chave:  mídia  e  educação,  educação  e  consumo,  consumo  do  corpo, 


consumo  de  relacionamentos,  desenho  animado,  Três  Espiãs  Demais,  identidade 
juvenil, identidade infantil.

Abstract

Inscribed in a register post­structuralist and with the lens adapted according to theory 
reference of culture studies, the application turns to analyze the cartoon series totally 
spies. The research’s goal is to catch attention to the way that the cartoon builds the 
identity of young and contemporaneous girls, showing them as completely caught by 
the consumption culture. 
The study was centered in the analyzes of sixteen episodes of the series – reported 
in mutatinal time, on opened TV, an in mutatinal and vespertine time on cabled TV ­, 
with  the  goal  of  investigate,  put  into  evidence  and  desnaturalize  identitary 
characteristics of the young contemporaneous girls that, according to the cartoon, are 
exposed  as  natural  and  wished  in  specific  groups  and  social  and  cultural  context. 
The  study  intended  to  show  the  cartoon  operating  a  pedagogy  that  teaches  the 
young girls the strategies of consumption. The theory carrier was searched in authors 
that  deal  with  pos­modern,  pedagogy  and  consumption  issues,  as  Bauman,  Sarlo, 
Lipovetsky,  Schor,  Linn,  Garcia­Canclini,  Steinberg  and  Kincheloe,  Giroux,  Freire 
Costa, Fischer and Costa, among other. 
The  founds  of  the  research  show  the  episodes  narration  built  on  a  pos­modern 
representation of  time  and space,  where  the hero­girls  are  overly  worried about  the 
consumption  of  objects,  appearance  and  relationship.  The  obsession  for  a  perfect 
body,  the  wish  to  reach  social  status  and  the  necessity  of  having  a  boy  with 
vertiginous  appearance  beside  them,  turns  the  characters  day  into  a  constant  wish 
and discard of fashion objects, these are put into evidence in the society of spectacle. 
Exhorting  and,  maybe,  caricaturing  superficiality  and  banality,  the  narrative  of  the 
cartoon exposes the missions of collective­worldwide character, to be realized by the 
girls, leveled with the individual­grouped character. 
Between  ludicrousness  and  the  pleasure  of  entertainment,  the  narratives  of  the 
cartoon Totally Spies are to invade the life of children and youngers, convoking them 
to  share  world  consumptions  means,  exposed  in  activities  that  officer  them  in  the 
logic of societies guided by and for market. 

Key­words: media and education,  education and consumption, consumption of body, 
consumption of relationships, cartoon, Totally Spies, young identity, children’s identity.

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de 
aparências........................................................................................................ 90 

QUADRO 2 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de 
objetos.............................................................................................................. 91 

QUADRO 3 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de 
relacionamentos ............................................................................................... 91 

QUADRO 4 — Missões de Caráter coletivo — mundial................................... 95

S UMÁRIO
A PRESENTAÇÃO ................................................................................................. 9 

CAPÍTULO 1 
ESTUDANDO UM DESENHO ANIMADO COM MENINAS INTRÉPIDAS, CONSUMISTAS E 
NAMORADEIRAS .................................................................................................. 12 
O caminho investigativo ............................................................................... 24 

CAPÍTULO 2 
PARA AGUÇAR O OLHAR ...................................................................................... 29 
A centralidade da cultura.............................................................................. 29 
O lugar da mídia na cultura contemporânea ................................................ 31 
As pedagogias culturais ............................................................................... 33 
Representação, produção de significados e constituição de sujeitos .......... 35 
Subjetivação................................................................................................. 38 

CAPÍTULO 3 
DESENHOS ANIMADOS COMO NARRATIVA FÍLMICA ................................................. 41 
O desenho animado através dos tempos..................................................... 42 
Narrativas sobre jovens meninas ................................................................. 51 
As Três Espiãs Demais ................................................................................ 57 

CAPÍTULO 4 
O CONSUMO COMO IDENTIFICADOR CULTURAL DA PÓS­MODERNIDADE .................... 68 
A pós­modernidade...................................................................................... 68 
O consumo como identificador..................................................................... 73 
A cidadania no consumo .............................................................................. 77 
Amor líquido ................................................................................................. 78 
O consumo do corpo.................................................................................... 81 
O Império da Moda ...................................................................................... 84 

CAPÍTULO 5 
ESPREITANDO AS JOVENS MENINAS ESPIÃS DEMAIS.............................................. 87 
Missões ........................................................................................................ 89 
Consumo de Aparências .............................................................................. 97 
Consumo de Objetos ................................................................................... 105 
Consumo de Relacionamentos .................................................................... 115 

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 123 

REFERÊNCIAS  .................................................................................................... 127 

A NEXOS 
Anexo I – Ficha Técnica 
Anexo II – Textos 
Anexo III – Fichamento
10 

APRESENTAÇÃO

Se quisermos um mundo melhor, teremos de


inventá-lo, já sabendo que conforme vamos nos
deslocando para ele, ele vai mudando de lugar. À
medida que nos movemos para o horizonte,
novos horizontes vão surgindo, num processo
infinito. Mas, ao invés de isso nos desanimar, é
justamente isso que tem de nos botar, sem
arrogância e o quanto antes, a caminho.
(VEIGA-NETO, 2005, p.31).

O começo, o princípio, os primeiros passos, de fato, são os mais perpassados 
por sentimentos de insegurança e incerteza. Talvez seja por isso que, ao iniciar um 
projeto,  sintamo­nos  um  pouco  indecisos  em  relação  aos  caminhos  a  seguir. 
Entretanto, lançando mão das lentes teóricas que nos fornecem os autores e autoras 
que estudamos, gradativamente, nossos olhos parecem perceber novas sendas nos 
caminhos a percorrer. Começamos a vislumbrar o que antes sequer existia para nós. 
Os primeiros passos, para mim, tiveram significativa relação com as vivências 
que constantemente me interpelavam e me desafiavam. Dentre os muitos caminhos 
que poderiam ser percorridos, optei por dirigir meu olhar para os meus alunos, para 
a  minha  escola  e  para  a  mídia.  Enquanto  professora,  instigava­me  investigar  a 
produtividade  de  certos  programas  de  entretenimento  dirigidos  às  crianças  e  aos 
jovens, recorrentemente comentados por meus alunos e alunas. 
Tomando  por  base  o  referencial  teórico  oferecido  pelas  análises  do  campo 
dos Estudos Culturais, comecei a perceber não só a influência da mídia no dia­a­dia 
dos  sujeitos,  mas  também  a  dar  atenção  aos  diferentes  ensinamentos  por  ela 
promovidos. 
Dentre os diversos programas assistidos por  meus alunos, aos quais em um 
primeiro  momento  me  propus  a  assistir  também,  não  por  mera  coincidência,  optei 
pela série de desenho animado — Três Espiãs Demais . Sua escolha foi subsidiada 
pelas contribuições  oferecidas  pelos  estudos  de  Hall  (1997),  Bauman  (1999,  2001, 
2004), Garcia­Clanclini (2006), Sarlo (2006), Lipovetsky (2005, 2006), Fischer (1997, 
2001),  Costa  (2002,  2007),  Freire  Costa  (2005),  dentre  outros.  Estudos  que 
acabaram por nortear as análises realizadas para a presente dissertação.
11 

Procurei  refletir,  a  partir  das  narrativas  apresentadas  na  série  de  desenho 
animado  selecionada  para  análise,  quais  representações  de  jovens  meninas  eram 
colocadas  em  destaque.  Instigada  para  identificar  quais  atitudes  eram  narradas 
como  naturais  e  “normais”,  procurei  assistir  a  dezesseis  episódios  da  série  Três 
Espiãs Demais , fichá­los, decupá­los, problematizá­los e discuti­los. 
Minha  análise  teve  como  eixo  o  consumo  −  um  conceito  que  durante  a 
assistência  e  decupagem  dos  episódios começou a  esboçar­se como  chave, como 
central,  para  se  poder  discutir,  problematizar  e  mostrar  a  produtividade  do  artefato 
cultural  examinado no  governo  da conduta  das crianças, especialmente  das  jovens 
meninas que vão à escola hoje. 
Após  entrecruzar  o  referencial  teórico  e  os  registros  da  decupagem,  foi 
possível  perceber  um  outro  jeito  de  narrar  as  jovens  meninas.  Um  jeito  que  se 
distingue, e muito, daqueles dos séculos XIX e XX. Segundo a narrativa da série de 
desenho animado, moda, consumo e namorados voláteis passam a ser temas­chave 
no  dia­a­dia  de  jovens  meninas contemporâneas.  Assim  sendo,  o  desenho  não  só 
fala  sobre,  mas  também  institui  um  novo  jeito  de  ser  e  pensar  este  sujeito  social 
constituído pelas condições culturais da pós­modernidade. 
Optei  por  organizar  meu  estudo  em  cinco  seções,  onde procuro  mostrar  por 
onde  caminhei,  o  que  observei,  aprendi,  consegui  enxergar  melhor,  e  o  que  me 
mobiliza a continuar investigando. 
No  capítulo  um,  Estudando  um  desenho  animado  com  meninas  intrépidas, 
consumistas  e  namoradeiras,  descrevo  alguns  passos  e  pistas  que  encontrei,  no 
meu  caminhar,  e  que  acabaram  por  me  impulsionar  a  pesquisar  um  desenho 
animado  que  fala  de  jovens  meninas.  Abordo  ainda  os  caminhos  investigativos 
escolhidos e trilhados, os objetivos da pesquisa e os focos de análise. 
Em  Para  aguçar  o  olhar,  mostro  alguns  conceitos  que  foram  decisivos  na 
seleção, compreensão e constituição do objeto de estudo. Examino os conceitos de 
pedagogias  culturais,  representação,  produção  de  significados,  constituição  de 
sujeitos e subjetivação. 
Em uma tentativa  de introduzir  o  leitor no  “mundo  das  Três Espiãs Demais”, 
no  capítulo  Desenhos  animados  como  narrativa  fílmica,  componho  um  breve 
histórico  sobre  essa  invenção  tão  fascinante,  que  conquista  crianças,  jovens  e 
adultos − o desenho animado. Descrevo, também, sem muitas pretensões, algumas 
narrativas  produzidas,  ao  longo  dos  tempos,  acerca  de  jovens  meninas.  Por  fim,
12 

apresento  comentários,  reportagens,  entre  outras  informações  sobre  a  série  de 


desenho animado selecionada para o estudo. 
Para compreender como o consumo gradativamente mostrou­se central nesta 
pesquisa,  examino  no  capítulo  O  consumo  como  identificador  cultural  da  pós­ 
modernidade,  alguns  pontos­chave  que  potencializam  a  discussão  acerca  das 
vivências dos sujeitos pós­modernos em relação ao consumo, aos relacionamentos 
e à moda. 
No  capítulo  cinco,  Espreitando  as  jovens  meninas  espiãs  demais,  ofereço  à 
consideração  de  leitores  e  leitoras  aquilo  que  minhas  lentes  permitiram  ver  e 
problematizar.  Nele  realizo  as  análises  do  corpus  da  pesquisa,  operando  com  os 
conceitos  mencionados.  Após  a  assistência  de  vários  episódios  do  desenho  Três 
Espiãs Demais, e do contato com muitos materiais inscritos no registro dos Estudos 
Culturais,  percebi  algumas  regularidades  no  programa  em  questão.  Tais 
regularidades acabaram por se constituir em focos de pesquisa, apresentados nessa 
seção: consumo de aparências, consumo de objetos e consumo de relacionamentos. 
Finalmente, no  capítulo  final, teço  algumas  considerações sobre os  achados 
da pesquisa.
13 

CAPÍTULO 1
ESTUDANDO UM DESENHO ANIMADO COM MENINAS
INTRÉPIDAS, CONSUMISTAS E NAMORADEIRAS

O que acontece quando crianças educadas pela


cultura infantil vêem-se diante do conhecimento
certificado da escola? (STEINBERG e
KINCHELOE, 2004, p.49)

Professoras e professores têm vivenciado, de forma cada vez mais intensa e 
freqüente, a forte presença da mídia na escola, dispositivo que passa a interpelar e a 
contribuir  para  a  subjetivação,  na  contemporaneidade,  dos  sujeitos  escolares.  Tal 
ingerência  pode ser  percebida no cotidiano escolar, na  forma  como  os  alunos  e  as 
alunas se vestem, na forma como se comunicam, no vocabulário utilizado em seus 
diálogos  ou  nos  temas  discutidos  entre  eles  e  elas,  e  que  emergem  de  diferentes 
formas no cotidiano escolar. 

Em  sala  de aula,  muitas são as  ocasiões  em  que  professores  e  professoras 


percebem  a  necessidade  de  rever  seu  planejamento  e  desenvolver  atividades  que 
se  relacionem  com  as  temáticas  colocadas  em  foco  pela  mídia,  para  que  seus 
alunos  possam  discuti­las  e  problematizá­las  na  escola.  A  exceção  apenas  se 
verifica  em  relação  àqueles  professores  que,  numa  atitude  mais  drástica,  porém 
ineficaz,  acabam  por  reforçar  o  “policiamento”,  numa  tentativa  impotente  de  evitar 
tais  focos  ou  discussões  e  de  impedir  a  presença,  no  âmbito  escolar,  de  outros 
assuntos além dos conteúdos mínimos previstos nos planos curriculares. 

Ao  trabalhar  como  professora  da  quarta  série  do  ensino  fundamental,  vi­me 
embrenhada  nesse  contexto  intensamente  entrecruzado  pelos  temas  midiáticos,  e 
senti­me inserida no primeiro grupo, que percebe a escola como mais um espaço de
14 

discussão  das  questões  sociais.  Isso  porque,  freqüentemente,  sou  apresentada 


pelos alunos a novos objetos que ingressam no nosso cotidiano escolar, e passam a 
fazer  parte  do dia­a­dia  dos  estudantes: as  figurinhas  e revistas  dos Rebeldes1 
  ,  os 
estojos  dos  mais  diversos  filmes  e  desenhos,  as  mochilas  dos  personagens  do 
momento,  são  alguns  exemplos 2 .  Nos  recreios,  muitas  vezes,  ouço  e  participo  dos 
comentários sobre desenhos, novelas, programas preferidos, shows. O espaço para 
a  discussão  em  aula  passa  a  existir  a  partir  das  produções  textuais  dos  alunos  e 
alunas, de seus desenhos, dos diálogos com que reproduzem as temáticas da TV ou 
das discussões sobre o que ocorreu no mundo da televisão no período em que não 
estavam na escola. 

O  que  parece  evidente  é  que  jovens  e  crianças  estão  intensamente 


enredados pela mídia, porque ela, de fato, tem recursos fascinantes. Segundo Juliet 
Schor, em seu livro Born to buy  (2004), as crianças e jovens são, hoje, o centro da 
cultura.  Grande  parte  dos  olhares  dos  anunciantes  encontra­se  focado  nesse 
segmento  da  população.  Gostos  e  opiniões  desse  público  promovem  tendências  e 
moldam estratégias de marketing. E a mídia mostra­se cada vez mais perspicaz na 
busca das mais variadas formas de conquistar os jovens. 

Um bom exemplo é a evolução apresentada no formato de jornais, revistas e 
programas de TV. Inicialmente, jornais e revistas eram parcamente ilustrados; suas 
imagens  continham  poucos  atrativos  gráficos.  Com  o  tempo,  seus  layouts  foram 
enriquecidos com recursos gráficos de última geração, brilhos, cores, grande número 
de  imagens,  variação  de  letras.  A  televisão,  em  seus  primórdios,  produzida  com 
imagens em preto e branco — movimentos que seguiam a lógica da reprodução do 
tempo  real  —  foi  substituída  por  grande  número  de  nuances  de  cores,  por 
impressionantes efeitos especiais e por um frenesi de imagens. 

Contudo, é preciso ressaltar que o conceito de imagem não deve ser tomado 
apenas em relação à representação de objetos, pessoas ou espaços. Há, além disso 
—  e  este  conceito  muito  nos  interessa  refletir  —,  a  imagem  construída  acerca  de 
produtos, instituições ou mesmo personagens. 

Rebelde foi uma novela mexicana transmitida no Brasil pelo SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), 
de  15  de  agosto  de  2005  ao  fim  de  2006.  Sua  exibição  ocorria  no  horário  das  19h.  Maiores 
informações  podem  ser  encontradas  no  livro  A  Obra  Oficial,  organizado  por  Paulo  Roberto  Houch 
(2006). 

A  pesquisa  de  Costa  (2004)  —  intitulada  Quando  o  pós­moderno  invade  a  escola  —  tem  se 
dedicado ao estudo desse fenômeno.
15 

Hoje,  os  significados  atribuídos  à  imagem,  e  concentrados  na  marca  do 


produto,  são  considerados  mais  importantes  do  que  os  próprios  objetos.  Estar 
associada a conceitos de beleza, juventude, felicidade, amor, inovação faz da marca 
um objeto de desejo por parte dos consumidores, pois, conforme Sarlo (2006, p.28), 
“[...] os objetos nos significam: eles têm o poder de outorgar­nos alguns sentidos, e 
nós  estamos  dispostos  a  aceitá­los”.  Assim  sendo,  os  sujeitos  buscam  os  objetos, 
mais do que por necessidade, para associarem­se aos significados a eles atribuídos. 

De acordo com Klein (2004, p.28), a marca surgiu em meados da década de 
1980, como  um  processo  de enxugar “o  peso  de  coisas demais”.  Com  a  produção 
em  larga  escala  de  diferentes  artigos  para  o  mercado,  decorrente  do  avanço 
tecnológico e da sofisticação das indústrias, houve a sobrecarga de produtos, o que 
resultou no inchaço de produção e de empregos nas fábricas. A produção em massa 
e  o  anonimato  das  embalagens  mobilizaram  grandes  empresas  para  a  criação  de 
um  algo  mais,  que  fidelizasse  seus  clientes.  Com  esse  objetivo,  fabricantes  como 
Nike  e  Microsoft,  por  exemplo,  optaram  por  preocupar­se  menos  com  a  fabricação 
de seus produtos, e mais com a produção da imagem de suas marcas. Imagem que 
provou sua importância, já que, 

[...]  muitos  dos  mais  conhecidos  fabricantes  de  hoje  não  mais  fazem  os 
produtos e os distribuem, mas em vez disso compram produtos e lhes dão 
sua  marca,  essas  empresas  estão  continuamente  procurando  por  novas 
formas  criativas  de  construir  e  fortalecer  a  imagem  das  marcas.  (KLEIN, 
2004, p.28­29) 

A marca, agora mais importante que o produto, foi a propulsora para a criação 
de  “uma  ilusão  de  estilo  de  vida  ‘marcada’”  (KLEIN,  2004  p.  83).  Partindo  deste 
princípio  e  seguindo  essa  lógica,  com  o  tempo,  também  a  marca  vinculada  a 
personagens da mídia, bem como a seus atributos físicos ou psicológicos, passou a 
fazer parte do conjunto de significados a serem desejados. O que parece é que os 
sujeitos vivem hoje em busca do prazer de possuir a imagem da marca 3 , seja ela de 
produtos, seja  de  personagens,  e  que  as  imagens veiculadas  pela  mídia  passam  a 
ser as mais almejadas. 

Cabelos tingidos ou arrepiados, maquilagem nos olhos, pulseiras, formas com 
que  meus  alunos  e  alunas,  de oito  e  nove  anos,  tentam  transformar  o  uniforme  da 


Os sujeitos compram os significados atribuídos aos produtos. Por exemplo, ao comprar um produto 
das Três Espiãs Demais, adquirem­se os significados que estão associados às personagens (beleza, 
inteligência, atitude fashion, entre outros).
16 

escola num simulacro dos modelos representados pelos personagens da mídia, são 
indícios da produtividade das marcas. 

Inseridos em uma sociedade que, segundo Sarlo (2006), passa a conviver de 
acordo com os clichês da televisão, as alunas e os alunos vivem em um “estado de 
televisão” (p.81), tentando das mais variadas formas ser e viver como se apresentam 
os  protagonistas  associados  a  seus  programas  e  artefatos  preferidos,  e  buscando 
constantemente associar­se aos significados atribuídos à imagem construída para a 
marca que representam e divulgam. 

Vivendo agora sob o fascínio do espetáculo, os sujeitos não apenas querem 
ver o que está em destaque na sociedade, mas também querem se tornar parte do 
show  através  da  imitação  do  estilo  de  vida  dos  personagens  da  moda  (FREIRE 
COSTA, 2005), já que, na sociedade do espetáculo — assunto que será abordado e 
discutido nos Capítulos 4 e 5 —, somente os sujeitos espetaculares podem desfrutar 
da felicidade promovida pela notoriedade. 

Ao refletirmos sobre essa ação da marca sobre os sujeitos, faz­se necessário 
pontuar  que  a  televisão é  o  meio  de comunicação  que  mais  investe  na  divulgação 
das  marcas.  Segundo  pesquisa  realizada  entre  dezembro  de  2004  e  fevereiro  de 
2005, disponível no site Multirio,  ela é o  meio de comunicação que consome  maior 
tempo dos brasileiros por semana. Assim sendo, a  televisão se sobressai a passos 
largos perante os outros meios. Segundo Souza (2004), ela “[...] mantém o atributo 
de babá eletrônica neste país, em que as crianças passam poucas horas na escola. 
Por  isso,  o  gênero infantil  garante para  elas diversão  passiva  desde  o  início  do dia 
até o fim da tarde” (p.114). Nossos jovens telespectadores, conforme reportagem de 
Daniel  Castro  na  Folha  de  São  Paulo 4 ,  são  provavelmente  os  que  mais  vêem 
televisão no mundo. 

Nesse  contexto,  a  televisão,  além  de  promover  o  entretenimento  e,  muitas 


vezes, servir de babá eletrônica, passa a ter um papel de instrutora dos meninos e 
meninas.  Contudo,  seus  ensinamentos  se  processam  de  forma  distinta  aos  que 
ocorrem  na  escola.  Evocando  o  prazer,  o  fascínio  e  a  ludicidade,  a  televisão 
transforma­se  em  um  instrutor  mais  atraente,  competente  e  encantador  que  a 
escola. 


Folha de São Paulo, 17 out. 2004.
17 

As  pesquisas  de  Giroux  (1995),  junto  com  as  de  Steinberg  e  Kincheloe 
(2004),  Kellner  (2001)  e  outros,  procuram  mostrar  a  ampliação  do  espaço  da 
pedagogia,  não  a  restringindo  à  escola.  Isso  nos  possibilita  refletir  acerca  dos 
diferentes  lugares  onde se  ensina  e  se  aprende,  e  nos  estimula  a  investigar  quais 
questões estão sendo colocadas em evidência e quais são omitidas: 

Ao  analisar  toda  a  gama  dos  lugares  diversificados  e  densamente 


estratificados  de  aprendizagem,  tais  como  a  mídia,  a  cultura  popular,  o 
cinema,  a  publicidade,  as  comunicações  de  massa  e  as  organizações 
religiosas, entre outras, os Estudos Culturais ampliam nossa compreensão 
do pedagógico  e de  seu  papel fora da  escola  como  o local tradicional de 
aprendizagem. (GIROUX, 1995, p.90) 

Esses  autores  ressaltam  que  há  uma  pedagogia  poderosa  que  ultrapassa  a 
escola,  que  está  o  tempo  todo  inserida  em  seu  espaço,  mas  sobre  a  qual  ela  não 
tem  controle.  Uma  pedagogia  que  Steinberg  e  Kincheloe  (2004)  denominam  de 
pedagogia  cultural.  Uma  pedagogia  que  educa  fora  do  âmbito  escolar.  Aceitar  a 
mídia  como  um  outro  espaço  pedagógico  contribui  para  que  possamos  apontar  e 
investigar ensinamentos e significados por ela veiculados. 

No entanto, essa aprendizagem não se processa de forma linear; não há uma 
relação de causa e efeito. Não são todos os sujeitos atingidos da mesma forma. Não 
se  pode  dizer  que  aquilo  que  a  TV  ensina  todos  aprenderão  e  assimilarão  igual  e 
totalmente. 

Segundo Fischer (2001): 

Quando  acabamos  por  consumir  um  tal  produto  ou  a  repetir  uma 
informação ou opinião (a partir de uma conversa rotineira, da leitura de um 
livro  ou  de  algo  visto  na  TV),  possivelmente  de  alguma  forma  fomos 
convencidos de algo, porque as imagens ou coisas ditas, naquele lugar e 
através  daqueles  recursos  de  linguagem,  fizeram  sentido  para  nós, 
tocaram­nos  em  nossos  desejos,  sonhos,  convicções  políticas  ou 
religiosas,  faltas  ou  aspirações.  Talvez  simplesmente  porque  ali  nos 
reconhecemos,  nos  sentimos  representados  e  pudemos,  num  dado 
momento,  conscientemente  ou  não,  dizer:  “Sim,  é  isso  aí.  É  bem  isso”. 
(p.28­29) 

Desse modo, a aprendizagem televisiva se estabelece numa relação com as 
outras  vivências  do  telespectador.  O  programa  atinge  aos  sujeitos,  sua 
subjetividade,  a  partir  de  suas  referências,  das  experiências  já  vividas,  sejam  elas 
nas  intervenções  e  aprendizagens  da  escola  e  da  igreja,  sejam  nas  relações  em 
família e nos diversos grupos em que cada um esteja ou já esteve inserido. Apesar 
de  o  processo  de  aprendizagem  depender  de  muitos  fatores,  a  televisão  também
18 

ensina,  e  o  que  pretendo  mostrar  nesta  dissertação  é  que  podemos  perceber  tais 
indícios no cotidiano escolar. 

Diariamente a televisão invade o dia­a­dia de nossos alunos e alunas e passa 
a interpelá­los através de suas narrativas. A linguagem televisiva, como a linguagem 
de  outros  meios  de  comunicação,  é  constitutiva,  ou  seja,  ao  relatar  um  fato, 
descrever objetos e pessoas, expressar posições, ela também os institui e constitui. 
Constitui  mediante  narrativas  que  vão  atribuindo,  produzindo  e  associando 
significados aos personagens e às tramas dos programas de TV. Esses significados 
vão  produzindo  modos  de ser  e  estar no  mundo  tidos como  padrão, como  modelo. 
Esse movimento, ao apontar os sujeitos aceitáveis, ou seja, os que fazem parte do 
que  se  pode  considerar  dentro  da  norma,  demarca  também  os  inaceitáveis,  e 
determina os possíveis lugares que devem ou não ser ocupados pelos sujeitos. 

Os  programas  produzidos  pela  TV  são  textos  culturais  impregnados  por 
discursos que fazem parte de nossas vidas. Nós somos produzidos por esses textos 
que, ao serem apresentados, nos narram, nos conformam e nos constituem; textos 
culturais que falam para nós, sobre nós e, ao mesmo tempo em que nos inventam, 
também  nos  assujeitam  e  governam.  E  isso  podemos  perceber  no  dia­a­dia  de 
nossos  alunos  e  alunas,  pela  capacidade  que  as  imagens,  discursos  e 
representações têm de, nos mais encantadores formatos, interpelá­los e convocá­los 
a se comportarem de tal ou qual forma. 

Ao  ingressar  no curso  de mestrado,  interessava­me  pesquisar  a  relação das 


crianças  com  a  mídia.  Inserida  no  contexto  escolar  e  instigada  pela  curiosidade 
acerca da produtividade de certos programas de entretenimento dirigidos a crianças 
e jovens, aventurei­me a tentar compreender e colocar em destaque a forte relação 
que  se  estabelecia  entre  os  programas  de  televisão  e  certos  comportamentos  e 
atitudes assumidos pelas crianças. 

De  início,  busquei,  através  de  um  questionário,  saber  ao  que  meus  alunos 
estavam assistindo, do que mais gostavam na televisão e quanto tempo de seu dia 
estavam dedicando à programação televisiva. 

As  informações  obtidas  me  ajudaram  a  esboçar  alguns  delineamentos  da 


pesquisa, a partir da percepção da relação que se estabelecia entre os sujeitos e os 
programas preferidos.
19 

Por  meio  dos questionários, percebi  que  meus  alunos  dedicavam  de cinco  a 


dez horas por dia à TV, o que me fez refletir sobre a desproporção entre o tempo de 
exposição das crianças a esse artefato tão fascinante e aquele de sua permanência 
na escola.  Até  então,  lembrando das  práticas  da  minha  infância,  acreditava  que os 
estudantes  tinham  um  significativo  contato  com  a  televisão,  porém,  não  imaginava 
que  quase  todo  o  tempo  em  que  não  estavam  na  escola  era  preenchido  pela 
televisão e sua programação — segundo a pesquisa, em grande parte assistida por 
eles sozinhos. É que eu ainda acreditava que, no período em que estavam fora da 
escola,  as  crianças  permaneciam  em  suas  casas  ou  apartamentos,  nos  pátios  ou 
playgrounds, jogando bola, brincando de casinha, carrinho ou pega­pega. Através do 
questionário,  acabei  por  constatar  que  tais  atividades,  antes  consideradas 
corriqueiras  no  dia­a­dia  das  crianças,  estão  rapidamente  desaparecendo  de  sua 
rotina, o que vem ao encontro das informações coletadas por Daniel Castro (2004), 
na reportagem na qual  afirma  que:  “os  que moram em  grandes cidades  quase não 
brincam”. 

Partindo  da  afirmação  de  que  a  televisão  é  um  artefato  que  ensina  — 
invocando o fascínio, a beleza e, freqüentemente, o prazer — e identificando o longo 
espaço de tempo que as crianças ficam expostas a ela, muitas vezes maior do que o 
tempo  de  permanência  na  escola,  constata­se  que  os  jovens  telespectadores 
aprendem desde muito cedo com sua programação. 

Segundo  o  questionário,  novelas,  desenhos,  telejornais,  shows,  seriados, 


filmes,  programas  de  esporte  eram  alguns  dos  gêneros  preferidos  e  assistidos  por 
meus  alunos  e  alunas.  E,  dentre  a  programação,  o  levantamento  feito  aponta  a 
preferência por séries e desenhos animados. 

Deparei­me, então, com uma imensa lista de programas indicados por eles e 
elas, direcionados às mais diversas faixas­etárias. O que fazer a não ser assisti­los? 
Percebi que seria impossível procurar compreender as escolhas dos alunos sem me 
dedicar  a saber  de  que  tratavam.  Optei,  primeiramente,  pelos  desenhos animados, 
que representavam maioria na preferência. 

A  difícil  tarefa  de  parar  em  frente  à  televisão  para  assistir  a  desenhos 
animados, programação que há muito não fazia parte de minha vida, foi substituída 
pelo sentimento de espanto em relação à forma como esses programas estão agora 
diferentes, distantes daqueles a que eu assistia.
20 

Durante  minha  infância  e  adolescência,  acostumei­me  com  heróis  como  o 


Homem­Aranha,  a  Mulher  Maravilha,  o  Super  Homem,  o  Batman  e  tantos  outros, 
cujas aventuras e poderes me fascinaram. Todos eles personagens adultos, fortes, 
inteligentes e  preocupados com a solução  de problemas  graves,  grandiosos  e com 
repercussões mundiais. Todos eles preocupados com a defesa dos mais fracos e a 
captura e punição dos vilões. Alguns minutos em frente à TV, hoje, nos faz relembrá­ 
los e registrar a ausência de personagens com tais atributos. 

Constatei,  em  seguida, a  presença  de um novo tipo  de heróis  e  heroínas  — 


crianças  e  jovens.  Num  processo  de  garimpagem,  voltei­me  para  a  observação  de 
diversos  desenhos  animados  transmitidos  no  horário  da  manhã,  na  TV  aberta.  Na 
maioria  desses  programas,  encontramos  garotos  e  garotas,  quase  sempre  geniais, 
ágeis  e  poderosos,  em  busca  de  namorados,  circulando  em  shoppings, 
preocupando­se  com  questões  de  moda  e  corpo  e  aventurando­se  por  espaços 
incomuns,  em  deslocamentos  instantâneos  que  faz  o  tempo  e  o  espaço 
desaparecerem. 

Kim Possible, Hi Hi Puffy Ami Yumi, Martin Mistery, Tottaly Spies, entre outros 
desenhos  animados,  fazem  parte  de  produções  que  apontam  para  novos  tempos. 
Desenhos  que  refletem  o  delineamento  de  um novo cotidiano  de jovens  e crianças 
que têm de se dividir entre a rotina escolar, os programas da “vida fashion” e as mais 
variadas  missões  para  salvar  o  mundo  (MAGALHÃES,  2003).  Nesses  programas, 
percebi  também  a  presença  significativa  do  gênero  feminino.  Jovens  e  crianças 
compõem um novo quadro de heróis em que despontam as jovens meninas, muitas 
delas como personagens totalmente capturadas pela cultura da mídia e do consumo. 

Foi observando os desenhos animados e realizando importantes leituras dos 
Estudos Culturais, dos estudos de gênero e dos estudos acerca da cultura da mídia 
e do consumo, que pude ajustar minhas lentes e perceber que a forma como minhas 
alunas  se  conduziam  em  aula  estava  fortemente  relacionada  à  forma  como  a 
televisão  as  representava  em  seus  programas.  Os  novos  heróis  e  heroínas  e  os 
novos  dilemas  dos  desenhos  animados  produzem  de  forma  prazerosa 
“comportamentos  e  sujeitos”  (KINDEL,  2001),  estabelecendo  referenciais  de 
identidade. Esse fato me instigou a investigar mais minuciosamente como as jovens 
meninas são narradas pelos desenhos animados, já que tais narrativas colocam em
21 

destaque alguns dos possíveis conceitos, entre os muitos que circulam na sociedade 
contemporânea, sobre o que vem a ser uma jovem menina de hoje. 

Podemos  constatar  essa construção,  em  nosso  dia­a­dia,  nos  momentos  em 


que  esboçamos  a  representação  do  que  venham  a  ser  os  sujeitos  a  partir  das 
classificações  que  a  sociedade  vai  categorizando  constante,  aleatória  e 
transitoriamente. Por exemplo, quando pensamos em menina, hoje, logo nos vêm à 
mente,  como  referência  central  desse  conceito,  as  inúmeras  meninas­personagem 
dos  programas  de  televisão.  Sem  contar  as  diversas  vezes  que  utilizamos  tais 
personagens como  padrão e os  comparamos com  as  pessoas  que  fazem  parte  de 
nossas vidas. 

Os  desenhos  animados,  enquanto  artefatos  culturais,  são  parcialmente 


responsáveis  por  colocar  em  circulação  discursos  que  formam  e  subjetivam  os 
sujeitos, na medida em que estão eivados de dicas e fórmulas de como ser, não ser, 
pensar, comportar­se, vestir­se, relacionar­se, encontrar a felicidade etc. Eles, assim 
como  outras  programações  da  TV,  balizam,  através  da  ressonância  dos  seus 
discursos  tidos  como  “verdades”,  o  que  é  natural,  normal,  lógico  e  desejável, 
delimitando  e  constituindo  os  conceitos  que  são  adotados  como  padrão  em  nossa 
sociedade. Nesta dissertação, pretendo analisar o desenho animado como um texto 
cultural que opera na produção de significados sobre o que é ser uma jovem menina 
contemporânea. 

Entre  os  desenhos  assistidos,  o  que  mais  me  chamou  a  atenção  pela 
proximidade com o comportamento de minhas alunas, pela reprodução de episódios 
da  história  das  personagens  nas  suas  produções  textuais,  pela  forma  como  é 
produzido  e  pela  forma  como  representa  a  jovem  menina,  foi  a  série  de  desenho 
animado Três Espiãs Demais 5  (Totally Spies). 

A série selecionada para estudo na presente dissertação é uma produção da 
empresa francesa Marathon. Ela é apresentada no programa TV Xuxa, de segunda 
à  sexta­feira,  desde  2005  até  o  presente  ano  de  2007 6 ,  a  partir  das  11h15min  da 
manhã,  de  segunda  à  sexta,  nos  horários  das  10h30min  e  14h30min,  pelo  Canal 


A ficha técnica da série de desenho animado encontra­se no anexo I. 

No período de agosto de 2006 a dezembro de 2006, ocorreu uma  interrupção na exibição da série 
de  desenho  animado  Três  Espiãs  Demais,  no  aguardo  da  nova  temporada.  O  programa  TV  Xuxa 
passou a transmitir o desenho WITCH em seu lugar.
22 

Jetix da  TV  a  Cabo,  e  no  programa  TV  Globinho,  aos  sábados,  desde  2005  até  o 
presente ano de 2007, a partir das 10h. 

A  série  de  desenho animado Três Espiãs Demais ,  com  duração  aproximada 


de  vinte  a  trinta  minutos,  narra  as  aventuras  de  três  jovens  meninas  de  nível 
sócioeconômico  privilegiado  (Clover,  Sam  e  Alex),  estudantes  e  moradoras  de 
Beverly Hills, que realizam  missões em todo o planeta. O desenho é uma narrativa 
no sentido clássico, pois a cada episódio conta com uma situação inicial — na qual 
se articulam no mínimo duas missões a serem resolvidas — e uma situação final — 
na qual  ocorre a resolução das missões. As missões, freqüentemente, entrecruzam 
dois  planos,  os  problemas  referentes  à  identidade  enquanto  jovem  menina  de 
Beverly Hills e os referentes à identidade enquanto espiã mundial. No episódio Dor 
de  dente,  por  exemplo,  existem  quatro  missões  a  serem  resolvidas,  três  delas 
referentes  à  vida  particular  das  meninas  —  acabar  com  a  dor  de  dente  de  Alex, 
conseguir  a  bolsa  da  Mute  e  descobrir  o  motivo  da  pobreza  de  Mandy  —  e  uma 
referente à WOOHP 7  — encontrar pessoas importantes que estão desaparecendo. 

Sam,  Alex  e  Clover  recebem  instruções  e  apoio  de  Jerry,  que  é  chefe  do 
Centro  de  Serviços  Secretos  da  WOOHP.  Em  suas  tarefas  de  agentes  especiais, 
utilizam  vários  recursos  tecnológicos  —  comunicadores,  transportes  alternativos, 
hologramas,  lasers  etc.  Em  suas  tarefas  prosaicas,  são  garotas  consumidoras  e 
adeptas do shopping, vestem­se de acordo com a última moda, preocupam­se muito 
com a beleza e com sua imagem, apresentam o estereótipo atual de corpo perfeito, 
magro  e  alto.  Atendendo  aos  critérios  atuais  “politicamente  corretos”  de  respeito  à 
diversidade, as três personagens são: uma loira, uma morena e outra ruiva. 

As  meninas­heroínas  são  representadas  em  seu  dia­a­dia  como 


excessivamente  dedicadas  aos  cuidados  com  sua  aparência,  comparando­se 
constantemente com as demais garotas que compõem a trama e que fazem parte de 
seu grupo social. No enredo, todas as jovens meninas de seu círculo social sonham 
em ser a mais fashion, a mais rica, a mais bela, fazendo de tudo para vencer essa 
disputa.  Nesse  contexto,  as  três  espiãs  voltam­se  contra  as  suas  rivais  de  escola 
com  a  mesma  veemência  com  que  agem  contra  os  perigosos  contraventores 
mundiais. 


World Organization Of Human Protection (Organização Mundial de Proteção Humana).
23 

O  que  se  pode  perceber  já  em  um  primeiro  contato  com  a  série  é  que  as 
espiãs  refletem  e  narram  situações  que  descrevem  uma  sociedade  capitalista  que 
“[...]  produziu  uma  indiferença  generalizada  em  relação  ao  outro  e  às  tradicionais 
fontes  de  valor,  como  a  família,  a  religião  e  a  política”  (FREIRE  COSTA,  2005, 
p.225), na qual o eu passa a ser o núcleo do universo, o ponto de chegada e o ponto 
de  partida.  Nessa  narrativa,  há  quase  um  nivelamento  de  valores,  sendo  as 
preocupações com o cabelo, com as unhas, com as paqueras ou com as roupas tão 
intensas e merecedoras de empenho e de energia quanto às investidas na solução 
de  missões,  relativas  a  problemas  mundiais  graves.  Dessa  forma,  as  narrativas 
aproximam  e  fazem  equivaler dilemas  pessoais  e  mundiais.  Tão  importante  quanto 
salvar  o  mundo  de  alguma  catástrofe  é  ser  a  primeira  a  comprar  o  produto  a  ser 
lançado, anunciado nas propagandas. O fato de tais discursos invadirem o universo 
infantil e interpelarem crianças e jovens, cristalizando problemáticas representações 
de gênero, foi um importante elemento que me instigou a analisar tal programação. 

Inscritas  em  um  contexto  de  “culto  ao  corpo”  (FREIRA  COSTA,  2005),  as 
jovens  espiãs  acreditam  que  a  felicidade  encontra­se  na  composição  do  corpo  da 
moda.  As  análises  evidenciam  que,  na  maioria  dos  episódios,  a  série  de  desenho 
animado  enaltece  a  beleza,  as  formas  quase  anoréxicas,  as  faces  maquiadas,  a 
obsessão pelo corpo perfeito e a necessidade de buscar um relacionamento afetivo 
com um rapaz de aparência estonteantemente bela e sedutora. 

Os temas tensionados pelo desenho — e reproduzidos por minhas alunas — 
me fizeram recordar o passado e perceber outros motivos que me mobilizaram a ver 
no desenho Três Espiãs Demais questões especialmente relacionadas ao modo de 
ser  jovem  menina.  Tais  temáticas  me  remetem  às  minhas  vivências.  Quando 
menina, e ainda muito jovem, morava na zona rural de uma cidade da grande Porto 
Alegre.  Naquela  época,  as  “coisas  do  gênero  feminino”  —  brincar  de  boneca,  de 
maquilagem,  de  casinha  —  não  me  atraíam  com  tanta  fascinação  quanto  aquelas 
que  faziam  parte  do  dito  “universo  masculino”.  Era  meio  moleque,  adorava  jogar 
futebol, brincar de pegar, subir em árvores, jogar bolinha de gude. Ficar admirando 
as  intocáveis  coleções  de bolas  de  gude  e  de chaveiros  do  meu  irmão  mais  velho 
fazia parte de minhas atividades prediletas. Além disso, vivia brincando de ser padre. 
Dizia que, quando mais velha, um dia celebraria a missa. Minha mãe, durante algum 
tempo, não interveio em  minhas práticas. Sua preocupação mostrou­se significativa
24 

a  partir  da  oitava  série,  momento  em  que  fui  convidada  a  participar  do  time  de 
futebol da escola. A partir de então, as coisas mudaram. Lembro­me de minha mãe, 
por diversas vezes, preocupada com essa postura “desviante”. Recordo as ocasiões 
em que me instruía sobre como ser mais delicada e dócil, vestir­me adequadamente, 
como sentar e falar de acordo com o seu imaginário do que seria uma “verdadeira” 
jovem menina. 

É interessante perceber que a forma como minha mãe tentava me educar, me 
instruir, inscrevia­se num registro de narrativa de jovem menina de um tempo que se 
distancia  do  que  hoje  as  meninas  vêm  aprendendo  na  televisão,  em  especial  no 
desenho animado selecionado para esta pesquisa. 

Instigada  em  saber  como  meus  alunos  e  alunas  percebiam  as  narrativas 
apresentadas  pela  televisão,  certa  ocasião,  em  sala  de  aula,  em  uma  discussão 
procedente de um capítulo do livro de português, questionei­os quanto aos artifícios 
utilizados  pelos  programas  de  televisão  para  a  conquista  de  seu  público  e  às 
informações, os valores e os princípios por eles transmitidos. 

Nessa tarefa, além das atividades de interpretação, cada estudante produziu 
um programa, selecionou o público­alvo, a temática e os atributos necessários para 
a conquista e o correto endereçamento ao público escolhido. Ao justificar o foco do 
programa  que  cada  um  produziria,  invocaram  razões  como:  apresentar  mulheres 
“gostosas”, incluir personagens e bandas famosas, entrevistar jogadores de futebol, 
entre outros. 

Aproveitando  a  temática  dos  programas  de  TV  e  as  informações  por  eles 
transmitidas,  questionei  os  estudantes  em  relação  ao  que  o  desenho  Três  Espiãs 
Demais  lembrava ou ensinava a quem os assistia. Contrariando a metanarrativa de 
que as crianças são ingênuas, não compreendem as coisas da mesma forma que os 
adultos,  ou  mesmo  de  que  não  têm  capacidade  de  perceber  os  saberes  que  os 
desenhos animados ensinam,  as  alunas  e os alunos  trouxeram em  suas  narrativas 
importantes  ilações.  Segundo elas  e  eles: As meninas estão sempre no shopping!, 
Elas adoram comprar, É bom comprar, né, profe?, Elas estão sempre na moda, Elas 
são muito belas! Tais ditos assinalaram que esse desenho era, sim, um importante 
objeto  para  este  estudo  e  percebi  nessas  falas  o  quão  válido  seria  colocar  em 
evidência as narrativas por ele produzidas.
25 

É  preciso  deixar  claro  que,  na  presente  dissertação,  minhas  intenções 


distanciam­se  da  pretensão  de  mostrar  o  que  venha  a  ser  o  certo  ou  errado  em 
relação  à  representação  das  jovens  meninas.  Até  porque,  de  acordo  com  Sarlo 
(2006), “a juventude não é uma idade e sim  uma estética da vida cotidiana” (p.36). 
Dessa forma,  entendo­a  enquanto  uma  construção histórica, cultural e contingente. 
Uma construção que vai se constituindo de acordo com a época, com o local e com 
o grupo social em que está inserida. 

O que pretendo nesta dissertação é colocar em evidência a produtividade das 
narrativas apresentadas por esse desenho animado, que criam e articulam sentidos 
“produzidos no âmbito de uma prática cultural e histórica, já que se trata de materiais 
veiculados por determinados meios de comunicação, numa determinada época, para 
determinados públicos” (FISCHER 2001, p.66). 

O Caminho Investigativo 

Os  caminhos  investigativos  percorridos  na  pesquisa  inspiram­se  na 


abordagem  Pós­Estruturalista,  o  que  possibilitou  o  entrecruzamento  de  distintas 
possibilidades, uma vez que essa abordagem possibilita que nos embrenhemos “em 
tramas  e  teias  de  pensamentos  que,  ao  invés  de  nos  indicarem  rotas  seguras, 
capturam­nos  e  enleiam­nos  em  circuitos  aparentemente  inescapáveis”  (COSTA, 
2005b, p.200). 

Assim  sendo,  abre  mão  de  modelos  engessados  e  possibilita  a  criação  de 
estratégias  específicas  para  cada  investigação.  Em  um  processo  de  fazer  ver,  o 
pesquisador  se  distancia  da  articulação  de  verdades  e  passa  a  buscar  caminhos, 
menos  pretensiosos,  que  coloquem  em  evidência  os  significados  incrustados  na 
cultura.  Tal concepção  parte  do princípio  de que  nossas  escolhas  não são  isentas, 
elas  estão  inscritas  em  uma  linguagem,  em  um  pensamento  e  em  uma  cultura 
contingente  e  histórica.  Dessa  forma,  expressam  um  conjunto  de  signos  que  se 
inscrevem num certo e restrito registro. 

Para nós, pesquisadores, constituídos por discursos modernos, com verdades 
universais, assépticas e inquestionáveis, os primeiros passos do processo fazem­se 
demasiado complexos, na medida em que fazemos parte de um mundo povoado por
26 

instituições que reforçam normas e verdades consideradas absolutas, irrevogáveis e 
indiscutíveis. 

Nessa  perspectiva,  lançar  um  olhar  mais  atento  para  a  escola  e  para  as 
repercussões  da  mídia  na  escola,  com  as  lentes  dos  Estudos  Culturais,  significa 
desvencilhar­se de paradigmas e metanarrativas sufocantes e apontar para novos e 
desafiadores caminhos (COSTA, 2007). Um olhar que, segundo Veiga­Neto (2002), 
não  se  constitui  isentamente,  um  olhar  que,  de  certa  forma,  constitui  e  cria  os 
problemas  do  mundo.  E  é  nesse  registro  que  se  inscreve  a  presente  pesquisa, 
despojando­se das verdades acabadas e costurando caminhos no entrecruzamento 
do objeto de pesquisa e das leituras realizadas no curso de mestrado. 

Pesquisas  como  a  de  Costa  (2004;  2007)  e  de  Momo  (2005)  têm  se 
preocupado em analisar os atravessamentos dos artefatos culturais contemporâneos 
na vida escolar, fator facilmente identificado na forma como meus alunos e alunas se 
comportam em sala de aula. Como já referi anteriormente, neste capítulo, a maneira 
com  que  meus  alunos  e  alunas,  de  oito  e  nove  anos,  tentam  transformar­se  em 
personagens  da  mídia  televisiva,  como  é  o  caso  dos  personagens  da  novela 
Rebelde,  são  indícios  fortes  de  como  a  mídia  está  constantemente  interpelando 
nossos estudantes, e promovendo processos de subjetivação. 

Nesse contexto, a série de desenho animado, selecionada para análise nesta 
pesquisa,  constitui­se  em  um  dos  fascinantes  artefatos  culturais,  que  colocam  em 
circulação discursos que vão enredando, subjetivando e ensinando dicas e fórmulas 
de como ser e como não ser enquanto sujeito social. 

No  trecho  abaixo 8 —  fragmento  da  produção  textual  de  uma  de  minhas 
alunas, realizada em aula — podemos perceber, juntamente com outros dois textos 
incluídos no anexo dois deste trabalho, que a série de desenho animado Três Espiãs 
Demais não só povoa as telinhas como invade o imaginário infantil.

Um belo, dia Clover foi ao shopping com Sam e Alex, suas melhores amigas.
Clover disse:
— Olha que lindo aquele chapéu!
— Sim, Clover! É lindo!


Essa epígrafe é o fragmento de uma produção textual realizada por uma de minhas alunas, de nove 
anos  de  idade,  em  28  de  março  de  2006.  A  proposta  era  a  criação  de  um  texto  de  temática  a  ser 
escolhida  pelo  aluno.  Essa  aluna  optou  por  escrever  sobre  um  dos  episódios  do  desenho  animado 
Três Espiãs Demais.
27

E aí apareceu a Mandy, a pior inimiga que já se viu na vida. Ela diz para a moça da
loja:
— Eu quero esse chapéu! Bota na minha conta. Bye, bye!
Clover ficou um inferno... 9

Além  disso,  esse fragmento  coloca  em  evidência um  tipo  de comportamento 


das  meninas­heroínas  em  relação  ao  consumo,  recorrentemente  evocado  pelo 
desenho animado e que pretendo problematizar no presente estudo. 

No  desenho,  as  jovens  meninas  são  representadas  como  excessivamente 


preocupadas  com  o  consumo  de  objetos,  relacionamentos  e  aparências. 
Comportamento  que,  como  já  mencionei  anteriormente,  se  aproxima  e  muito  da 
conduta de minhas alunas no cotidiano da escola. Segundo Kellner (2001), 

[...]  a  cultura  veiculada  pela  mídia  transformou­se  numa  força  dominante 


de  socialização:  suas  imagens  e  celebridades  substituem  a  família,  a 
escola e a Igreja como árbitros de gosto, valor e pensamento, produzindo 
novos  modelos  de  identificação  e  imagens  vibrantes  de  estilo,  moda  e 
comportamento. (p 27) 

Para  a  sensibilização  de  meu  olhar,  na  definição  dos  focos  e  na  realização 
das  análises,  elegi  algumas  questões  discutidas  por  Fischer  (2001),  no  livro 
Televisão & Educação: fruir e pensar a TV, por outras elaboradas por Duarte (2002), 
no livro Cinema e Educação, e ainda outras evidenciadas por Costa (2002), no artigo 
Ensinando a dividir o mundo; as perversas lições de um programa de televisão. 

Entre  as  questões  pontuadas  por  Fischer  (2001),  selecionei  observar  os 
recursos de linguagem utilizados em cada episódio, os pontos altos do programa em 
termos de dramaticidade  e endereçamento, o vocabulário  utilizado e  a sonorização 
do desenho animado Três Espiãs Demais. 

Do  trabalho  de  Duarte  (2002),  elegi  as  questões  referentes  aos  planos  de 
enquadramento da imagem, ao uso de cores, ao som e à montagem das imagens. 

Das  discussões  apresentadas  por  Costa  (2002),  chamou­me  a  atenção  a 


forma  como  a  autora  mostra  a  linguagem  e  o  discurso  (enquanto)  capazes  de 
constituir  e  disseminar  significados  acerca  dos  sujeitos  sociais,  atribuindo­lhes 
papéis, funções e espaços próprios. 


A partir daqui, todas as citações referentes ao corpus desta pesquisa serão apresentadas em fonte 
diferente daquela do texto.
28 

Tais  questões  serão  colocadas  em  destaque  em  minhas  análises,  pois 
compreendo  que  a  maneira  como  são  engendradas  no  desenho  animado  é  fator 
determinante  na  composição  dos  significados  da  narrativa  que  se  quer  construir. 
Embora  Fischer  (2001),  Duarte  (2002)  e  Costa  (2002)  não  tenham  examinado 
especificamente desenhos animados, elas tratam de TV e cinema, mídias que estão 
sendo  espantosamente  invadidas  pelos  desenhos  animados,  cada  vez  mais 
apresentados indistintamente seja nos telões do cinema, seja nas telinhas da TV. 

O  que  procurei  fazer  durante  meu  trabalho  de  dissertação  foi  olhar  para  os 
episódios  da série Três  Espiãs Demais,  tentando  estranhar  e  desconstruir  o  que  o 
desenho  apresenta  como  natural  e  familiar  no  que  diz  respeito  às  questões  do 
consumo.  Desse  modo,  procurei  colocar  em  evidência  quais  as  narrativas 
produzidas  pelo  desenho  animado  em  questão.  Meu  objetivo  é  apontar  e 
desnaturalizar  características  juvenis  que,  segundo  o  desenho  animado,  são 
expostas como “identidades desejadas” e “naturalmente” femininas. 

Através  do  contato  com  as  lentes  teóricas  dos  Estudos  Culturais  e  da 
observação  de  vários  episódios  da  série  de  desenho  animado  em  estudo,  percebi 
que,  no  contexto  do  desenho,  as  questões  do  consumo  mostram­se  intensamente 
evidentes no cotidiano  das  jovens  espiãs.  Isso  fez  com que inúmeras questões  me 
inquietassem em relação à presença do consumo no dia­a­dia das protagonistas do 
desenho. Questões que serão colocadas em discussão, no capítulo das análises, a 
partir das narrativas apresentadas nos episódios selecionados. São elas: Como são 
representadas  as  jovens  meninas  no  desenho?  O  que  ele  ensina  sobre  os 
significados  do  consumo?  Como  são  as  relações  afetivas  das  jovens  meninas? 
Como  as  jovens  meninas  lidam com  seu  próprio  corpo?  O  que  mobiliza  as  jovens 
meninas a querer, incansavelmente, consumir objetos, imagens e relacionamentos? 
Em que contexto tais ações se justificam? 

Para  a  presente  pesquisa,  com  o  intuito  de  articular  e  organizar  possíveis 


achados acerca  dos questionamentos  acima,  optei por voltar­me  para os seguintes 
focos de análise: o consumo de objetos, o consumo de aparências e o consumo de 
relacionamentos. 

Segundo  dados  do  site  Wikipédia,  o  desenho  animado  Três  Espiãs  Demais 
conta  com  quase  duzentos  episódios  divididos  em  cinco  temporadas,  de  2001  a 
2007.  Entre  eles,  realizei  a  gravação,  aleatoriamente,  de  trinta  e  cinco  episódios
29 

produzidos entre 2001 e 2006 10 , tanto na TV aberta quanto na TV a cabo. Como sua 
exibição acontecia em horários 11  de meio de tarde e meio de manhã — horários em 
que  usualmente  estava  trabalhando  em  minha  escola  —,  tive  acesso  apenas  a 
alguns  episódios,  quando  eventualmente  era  possível  assistir  ao  programa.  Minha 
família responsabilizou­se por gravar muitos episódios para que eu pudesse assisti­ 
los posteriormente. 

Assistindo  aos  programas,  vários  fatos  me  chamaram  a  atenção.  Contudo, 


ficaria  inviável  o  retorno  constante  ao  material,  para  olhar  novamente  toda  a 
programação já gravada. Meu desafio então foi encontrar uma forma de acessar os 
episódios sem ter de assisti­los na íntegra outra vez. O meio mais adequado para tê­ 
los decupados e de fácil acesso foi a elaboração de uma espécie de ficha, inspirada 
no trabalho de Elí Henn Fabris, para catalogar as informações. 

Faz­se  necessário  sublinhar  que  as  fichas,  incluídas  no  anexo  3,  não 
contemplaram  todas  as  informações  contidas  em  cada  episódio,  bem  como  não 
conseguiram reproduzir a riqueza de elementos da linguagem televisiva. No entanto, 
foram  instrumentos  fundamentais  nos  diferentes  momentos  da  pesquisa,  pois 
demarcaram os conteúdos de cada episódio e ajudaram na organização dos dados 
e na aglutinação das regularidades apresentadas no desenho. 

Dentre os trinta e cinco episódios, para esta pesquisa, optei pela seleção de 
dezesseis  que  apresentassem  maior  número  de  cenas,  ações,  reações  e  falas 
marcantes em relação aos focos escolhidos. 

10 
Episódio Dor de dente — gravado em maio de  2006. Episódio Biscoitos da paixão — gravado em 
maio  de  2006.  Episódio  Alienígena  —  gravado  em  junho  de  2006.  Episódio  Encolhe­encolhe  — 
gravado  em  junho  de  2006.  Episódio Encolheu  a  cabeça —  gravado  em  junho  de  2006.  Episódio  A 
promoção  do  mal  (Parte  1)  —  gravado  em  junho  de  2006.  Episódio  A  Ilha  WOOHP  —  gravado  em 
julho  de  2006.  Episódio  As  garotas  dos  games  —  gravado  em  julho  de  2006.  Episódio  Garotas  do 
Vale  do  Silício  —  gravado  em  novembro  de  2006.  Episódio  Lei  da  Gravidade  —  gravado  em 
novembro  de  2006.  Episódio Cidadãs  modelo —  gravado  em  dezembro  de  2006.  Episódio  Natal  do 
mal  — gravado  em  dezembro  de  2006.  Episódio Nasce  uma  espiã  — gravado  em  janeiro  de  2007. 
Episódio  Verdade  no  susto  —  gravado  em  janeiro  de  2007.  Episódio  É  o  jeito  como  se  joga  — 
gravado em fevereiro de 2007. Episódio Mania de Manicure — gravado em abril de 2007. 
11 
Horários em que as crianças que não têm aula naquele turno estão em casa, assistindo à televisão.
30 

CAPÍTULO 2
PARA AGUÇAR O OLHAR

Quanto mais importante – mais “central” – se


torna a cultura, tanto mais significativas são as
forças que a governam, moldam e regulam.
(HALL, 1997a, p.35)

A Centralidade da Cultura 

Com  a  “revolução  cultural”  verificada  no  século  XX,  a  cultura  passou  a 


assumir  uma  função  de  importância  inigualável.  Conforme  Hall  (1997a),  nessa 
“revolução cultural”, a cultura assumiu um papel central, constitutivo e determinante 
nas  sociedades contemporâneas  e,  conseqüentemente,  na compreensão  e  análise 
das instituições e relações sociais. Os Estudos Culturais, linha de pesquisa em que 
se  inscreve  a  presente  dissertação,  chamam  a  atenção  para  a  importância  da 
cultura, preocupando­se com a sua produtividade. 

Faz­se necessário destacar que a cultura é aqui entendida como significados 
que  são  partilhados  por  meio  da linguagem  e da  representação.  Assim sendo,  nós 
compartilhamos  da  mesma  cultura,  pois  partilhamos  linguagem  e  significados 
semelhantes,  constituindo,  desse  modo,  semelhantes  representações.  A  cultura  se 
distingue  da  parte  genética,  biológica  ou  instintiva.  Ela  “[...]  tem  de  ser  vista  como 
algo  fundamental,  constitutivo,  determinando  tanto  a  forma  como  o  caráter  deste 
movimento, bem como a sua vida interior” (HALL, 1997a, p. 23). 

Favorecida  pelas  inovações  tecnológicas  —  que  facilitaram  a  produção, 


circulação e troca de informações — a cultura acaba por impulsionar e sugerir, quem
31 

sabe,  uma homogeneização cultural.  Entretanto,  já é  de conhecimento comum que 


as informações são movidas e administradas de forma desigual e que as recepções 
realizadas pelos sujeitos não são uniformes. Desse modo, a transmissão cultural de 
informações locais e particulares para o mundo existe e, em certos casos, promove 
a hibridação 12  de diferentes peculiaridades culturais e não a assimilação total e igual 
por parte dos receptores. “A cultura global necessita da ‘diferença’ para prosperar – 
mesmo  que  apenas  para  convertê­la  em  outro  produto  cultural  para  o  mercado 
mundial  [...]”  (HALL,  1997a,  p.19).  Um  bom  exemplo  é  a  própria  série  de  desenho 
animado  em  estudo,  que  resulta  da  hibridação  de  características  dos  desenhos 
japoneses,  associada  a  representações  da  cultura  norte­americana,  sendo, 
finalmente, produzida por franceses. 

O  desenho  animado  Três  Espiãs  Demais ,  objeto  de  estudo  da  presente 
pesquisa,  embora  tenha  sido  produzido  na  França  e  com  algumas  peculiaridades 
francesas, remete a um modo de viver quase que mundialmente padronizado e que 
vai  se  infiltrando  na  forma  com  que  jovens  de  outras  sociedades  e  culturas 
processam e administram suas atitudes e na forma como a sociedade age perante a 
juventude feminina. 

A  ampliação  da  compreensão  do  que  constitui  a  cultura,  promovida  pelos 


Estudos  Culturais,  faz  com  que  se  perceba  que  as  práticas  sociais  podem  ser 
analisadas  através  de  um  ponto  de  vista  cultural.  Segundo  Hall  (1997a),  a  “virada 
cultural” é o movimento no qual as questões culturais passam a ocupar uma posição 
central  “ao lado  dos  processos econômicos, das instituições sociais  e da  produção 
de bens, da riqueza e de serviços” (p.27). Uma abordagem “[...] que passou a ver a 
cultura  como  uma  condição  constitutiva  da  vida  social,  ao  invés  de  uma  variável 
dependente [...]” (HALL, 1997a, p.16). 

Através da “virada cultural”, a linguagem é vista como importante ferramenta 
de  atribuição  de  sentidos  e  significados  e  de  constituição  de  fatos,  objetos, 
relacionamentos e sujeitos. Dizendo de outro modo, a linguagem não apenas relata, 
mas  também  constitui  e  tem  posição  privilegiada  na  construção  e  circulação  dos 
significados. 

12 
Emprego  a  palavra  no  sentido  proferido  por  Garcia­Canclini  no  livro  Culturas  híbridas  (2003),  no 
qual  ela  é  compreendida  como “processos  socioculturais  nos  quais  estruturas  ou  práticas discretas, 
que existem de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas” (p.19), 
sendo que nenhuma delas pode ser considerada inicialmente pura.
32 

Nesse contexto, conforme Hall (1997a, p.16): 

A ação social é significativa tanto para aqueles que a praticam quanto para 
os  que  a  observam:  não  em  si  mesma  mas  em  razão  dos  muitos  e 
variados  sistemas  de  significado  que  os  seres  humanos  utilizam  para 
definir o que significam as coisas e para codificar, organizar e regular sua 
conduta  uns  em  relação  aos  outros.  Estes  sistemas  ou  códigos  de 
significado  dão  sentido  às  nossas  ações.  Eles  nos  permitem  interpretar 
significativamente as ações alheias. 

Assim  sendo,  ao  mesmo  tempo  em  que  as  narrativas  do  desenho  animado 
estabelecem  alguns  possíveis  significados  para  as  jovens  meninas,  o  desenho 
compartilha  alguns  códigos  e  contribui  para  a  regulação  da  conduta  da  juventude 
feminina de hoje, reafirmando comportamentos já existentes, bem como introduzindo 
novos  tipos  de  subjetividades  em  conexão  com  outros  programas,  com  grupos 
sociais, entre outros. 

A cultura encontra­se imbricada no dia­a­dia dos sujeitos e constantemente os 
interpela através das narrativas, das imagens, dos sons, entre outros. Ela é central 
na vida dos sujeitos e acaba por determinar, significar e representar formas de ser, 
viver,  conviver  ou  não  na  sociedade.  “A  expressão  ‘centralidade  da  cultura’  indica 
aqui a forma como a cultura penetra em cada recanto da vida social contemporânea, 
fazendo proliferar ambientes secundários, mediando tudo” (HALL, 1997a, p.22). Ou 
seja, há uma imensa proliferação de todo o tipo de textos culturais dirigidos a todo o 
tipo de receptores e consumidos indistintamente. 

O lugar da mídia na cultura contemporânea 

Hábitos como ligar a TV no horário da manhã para saber a previsão do tempo 
ou  o  tráfego  da  cidade,  olhar  revistas  de  moda  para  escolher  o  vestido  que  será 
adequado para uma festa de casamento, ler o jornal para estar por dentro dos fatos 
que serão comentados durante o dia, pesquisar na Internet assuntos que estão  em 
foco ou mesmo ligar a TV nos momentos de lazer são práticas que nos possibilitam 
refletir sobre o importante papel que a mídia assumiu no dia­a­dia das pessoas. Ela 
já  está tão  imbricada em  nossas vidas  que não  nos  imaginamos  sem  a  mídia para 
nos informar, instruir, comunicar, divertir, criar, guiar.
33 

As  transformações  tecnológicas  promoveram  grandes  mutações  em  nossa 


sociedade e redesenharam os cenários mundiais. Elas “influenciam profundamente a 
natureza do saber, nossos modos de vida, e nosso próprio jeito de sermos humanos. 
Uma  certa  forma  de  conceber  o  que  entendemos  por  ‘humanidade’  estaria  sendo 
radicalmente  transformada”  (COSTA,  2006,  p.179).  A  mídia,  com  os  aparatos 
tecnológicos fantásticos de que se utiliza, tem sido a grande propulsora da expansão 
cultural,  um  dos  principais  meios  de  circulação  de  imagens  e  informações  do 
planeta, e estabelece forte regulação e domínio sobre os sujeitos. 

Segundo Hall, a mídia “[...] sustenta os circuitos globais de trocas econômicas 
dos quais depende todo o movimento mundial de informação, conhecimento, capital, 
investimento, produção de bens, comércio de matéria prima e marketing de produtos 
e  idéias”  (1997a,  p.17).  A  ela  cabe  divulgar  e  colocar  em  foco  não  só  fatos  que 
acontecem no âmbito local, mas divulgar também questões mundiais. 

Contudo,  essa  escolha  e  seleção  da  informação  não  se  faz  isenta.  Ela  diz 
mais numa relação com o que a mídia acredita que o receptor espera e quer receber 
e  com  aquilo  que  quer  enfocar como  “verdade”.  Nesse contexto, o vasto  tempo  de 
exposição  à  TV,  ao  rádio,  às  revistas,  aos  jornais,  entre  outros  veículos  de 
informação, vai constituindo uma imensa gama de significados e produzindo formas 
como os sujeitos interagem na sociedade. 

“As narrativas e as imagens veiculadas pela mídia fornecem os símbolos, os 
mitos e os recursos que ajudam a constituir uma cultura comum para a maioria dos 
indivíduos  em  muitas  regiões  do  mundo  de  hoje”  (KELLNER,  2001,  p.9).  Logo,  o 
modo como o desenho Três Espiãs Demais narra as jovens meninas para o mundo, 
coloca em foco um possível jeito de ser e agir, a partir de códigos que passam a ser 
mundialmente  interpretados,  compreendidos  e  compartilhados.  Códigos  que  vão, 
aleatoriamente,  moldando  a  vida  das  pessoas  e  influenciando  o  modo  como 
pensam,  como  se  comportam,  como  vêem  a  si  e  como  vêem  os  outros,  ou  como 
constroem sua própria identidade (KELLNER, 2001). 

Assim,  a  mídia  “não  apenas  veicula  mas  constrói  discursos  e  produz 


significados e sujeitos” (FISCHER, 1997, p.63). Ela coordena nossas vidas, delimita 
possíveis  caminhos  a  serem  percorridos,  possíveis  linguagens  a  serem  utilizadas, 
possíveis  formas  de  estar  no  mundo  e  exclui  de  maneira  feroz  aquilo  que  não  faz 
parte de seu discurso central.
34 

“As  imagens  da  TV  tendem  a  fixar  determinadas  ‘verdades’,  determinados 


conceitos  universais  como,  por  exemplo,  os  de  prostituta,  de  adolescência,  de 
sexualidade jovem, de beleza feminina, de virilidade, de classe trabalhadora e assim 
por  diante”  (FISCHER,  2001,  p.42).  A  forma  como  a  TV  apresenta  as  jovens 
meninas  (consumistas,  num  jogo  de  caça  aos  meninos,  excessivamente 
preocupadas  com  o  corpo),  no  desenho  animado  Três  Espiãs  Demais,  acaba  por 
formular  um  estatuto  de  “verdade”  e  de  prescrever  uma  das  formas  consideradas 
“corretas” de viver enquanto juventude feminina. 

As pedagogias culturais 

Percebendo  a  importante  e  significativa  presença  da  mídia  no  dia­a­dia  das 


crianças,  em  especial  de  meus  alunos  e  alunas,  notei  a  presença  das  pedagogias 
culturais  que  matizam  a  pedagogia  escolar.  Isso  implica  abrir  mão  de  conceitos 
relacionados à educação apenas compreendida como resultado da ação sistemática 
da  escola,  representada  pela  figura  central  do  professor,  e  passar  a  considerá­la 
“como  conjunto  de  processos  pelos  quais  os  indivíduos  são  transformados  ou  se 
transformam  em  sujeitos  de  uma  cultura.  [Trata­se  agora  da  educação  e  da 
pedagogia que acontecem num espaço ampliado] [...] que, hoje, inclui, com especial 
ênfase, os meios de comunicação de massa e a TV ocupa aí, um ligar de destaque” 
(MEYER; SANTOS; OLIVEIRA; WILHELMS, 2004, p.52­53). 

Se, na modernidade, a formação dos sujeitos se restringia a espaços como o 
da  família,  da  igreja  e  da  escola,  hoje  em  dia  ela  ultrapassa  essas  instituições,  se 
expande e fica sujeita a mais uma importante “pedagoga”, a mídia. Estamos vivendo, 
segundo Fischer (1997): 

O  deslocamento  de  algumas  funções  básicas,  como  a  política  e  a 


pedagógica,  que  gradativamente  deixam  seus  lugares  de  origem  —  os 
espaços  institucionais  da  escola,  da  família  e  dos  partidos  políticos  —, 
para  serem  exercidas  por  um  outro  modo,  através  da  ação  permanente 
dos meios de comunicação. (p.61­62) 

Meios  que  dominam  a  cultura  contemporânea  e  através  da  informação  e  do 


entretenimento  constituem  o  que  tem  sido  chamado  de  pedagogia  cultural:  nos 
ensinando  como  nos  comportar,  o  que  pensar  e  sentir,  em  que  acreditar,  o  que 
temer e desejar — e o que não devemos realizar (KELLNER, 2001).
35 

Estudos  como  o  de  Walkerdine  (1999),  de  Steinberg  e  Kincheloe  (2004), 


Giroux (2004) e Kellner (2001) colocam em  evidência, em suas análises, as formas 
como a  mídia ensina os sujeitos a ser e estar no mundo, ressaltando o caráter e o 
estatuto  pedagógico  da  mesma.  Eles  focalizam  a  questão  da  produção  e  do 
consumo  cultural.  Seus  trabalhos  mostram  os  modos  de  subjetivação  e  de 
construção  de  sujeitos  e  de  determinadas  identidades  e  representações  culturais, 
considerando a mídia como importante espaço pedagógico. 

Conforme  Giroux  (2004)  “o  significado  dos  desenhos  animados  opera  em 
vários  registros,  mas  um  dos  mais  persuasivos  é  o  papel  que  eles  desempenham 
como as novas ‘máquinas de ensino’, como produtores de cultura” (p.89). Inspirada 
nessa  percepção  de  que  o  desenho  animado  se  constitui  numa  forma  especial  de 
ensinar,  pretendo  abordar  e  colocar  em  evidência  a  pedagogia  do  desenho  Três 
Espiãs  Demais  como  forma  de  instrução  social,  oferecendo  um  conjunto  de 
problematizações  para  investigar  quais  representações  identitárias  de  jovens 
meninas contemporâneas, baseadas em determinados grupos e contextos sociais e 
culturais específicos, têm sido privilegiadas. Nesse sentido, o desenho animado atua 
como  uma pedagogia cultural,  ou seja, como  uma eficiente,  fascinante e  prazerosa 
forma de ensinar na e pela mídia. 

Nas  lições  ensinadas  pelo  desenho,  assim  como  em  outros  programas, 
segundo Costa, Silveira e Sommer (2003): 

Freqüentemente  se  estabelece  o  normal  e,  concomitantemente,  o 


desviante;  o  “progressista”, sinalizando  o  “antiquado”; o  certo,  sinalizando 
para o errado, em um panorama que, marcado pelas questões culturais, é 
naturalizado  e  mostrado  como  “moderno”,  “atual”,  “biologicamente 
condicionado”, “estando na ordem das coisas”. (p.56) 

E  foram  essas  questões  que  me  inquietaram  a  inquirir  acerca  do  desenho 
animado, pois ele, juntamente com os diversos programas televisivos, está a ensinar 
nossos  alunos  e  alunas  a  como  estabelecer  parâmetros  do  que  deve  ser  aceito, 
correto e desejável ou não em nossa sociedade.
36 

Representação, produção de significados e constituição de sujeitos

Sam: Clover!13
Alex: O que aconteceu com você?
Clover: A Imagem Perfeita14 rouba partes do corpo. Foi assim que criaram a Gasele.
Agora tem alguém aí correndo com as minhas pernas perfeitas15!
(Neste instante, a imagem foca as novas pernas de Clover: coxas, panturrilhas e
tornozelos muito grossos. A reação de pavor de Sam e Alex é instantânea. Olhos
arregalados, boca aberta e grito expressam o susto das jovens).
Sam e Alex: Aaaaaaaaaaahhhhhhhh!!!!!!!
Sam: Sem problemas! Vamos tirar você inteirinha daqui!
(A trilha sonora é como se algo estivesse caído e quebrado. A imagem de Clover é
desproporcional, suas pernas mudam completamente o seu visual).

Dos séculos XVIII a XIX, inúmeros foram os artistas que, como Jean Auguste 
Dominique Ingres 16 , representaram a beleza da mulher através de telas e esculturas 
de  mulheres  com  silhuetas  arredondadas  e  gordas.  Naquela  época,  a  mulher  era 
bela  e  deslumbrante  se  fosse  corpulenta,  bem  dotada  de  “carnes  revestindo  os 
ossos”.  Hoje,  podemos  perceber,  através  do  trecho  acima,  retirado  do  episódio 
Cidadãs Modelo  da série  de desenho animado Três Espiãs Demais,  que  as coisas 
mudaram. Coxas grossas se tornaram sinônimo de espanto e feiúra. A gordura, não 
mais  símbolo  de  beleza  e  saúde,  transformou­se  em  um  castigo  para  milhares  de 
jovens  no mundo inteiro.  Esse  outro significado  de gordura corporal  já  faz  parte  de 
nossas vidas e nos condiciona a preocuparmo­nos constantemente com a balança e 
com o espelho. 

Estudos  como  o  de  Costa  e  Martins  (2006,  p.7),  por  exemplo,  chamam  a 
atenção  para  a  rede  de  inteligibilidade  que  foi  se  constituindo  sobre  o  “ser  gordo”. 
Rede que, na contemporaneidade, opera como um “dispositivo de magreza”, através 
de  discursos  que  abarcam  “um  modo  de  vermos  e  pensarmos  a  ‘alma’  desses 
sujeitos”. 

13 
Episódio Cidadãs Modelo. 
14 
Nome da agência de modelos que estão investigando. 
15 
As  magras  e  bem  delineadas  pernas  de  Clover  haviam  sido  substituídas  por  um  par  de  pernas 
grossas e arredondadas. 
16 
Jean  Auguste  Dominique  Ingres  foi  um  famoso  pintor  francês.  Nasceu  em  1780  em  Montauban, 
Província de Toulouse. Rigoroso em seu trabalho, aos 21 anos  recebeu o Grande Prêmio de Roma, 
reconhecimento máximo da ala conservadora das artes na França. Maiores informações: (GÊNIOS..., 
1995).
37 

Podemos  nos  perguntar,  então:  mas  o  que  mudou?  O  que  mudou  foram  os 
significados  atribuídos  à  constituição  física  das  pessoas  e  a  representação  de 
beleza,  que  passaram,  no interior  da cultura e  através  da  linguagem,  a  interpelar e 
constituir os sujeitos, a partir de outros conceitos e outros valores. 

O  que  quero  mostrar  com  esse  exemplo  é  que  o  significado  não  está  na 
“configuração  do  corpo”  em  si,  “mas  é  produto  da  forma  como  esse  objeto  é 
socialmente  construído  através  da  linguagem  e  da  representação”  (DU  GAY  apud 
HALL, 1997a, p.28). Ele vai depender do contexto em que está inserido. Ou seja, as 
coisas têm, sim, sua existência material, mas nosso acesso a elas se dá através da 
linguagem  e  dos  significados  culturais  que  os  textos  carregam  e  partilham  num 
determinado tempo e espaço. 

A forma como o desenho animado articula o conceito de corpo obeso compõe 
e significa um conjunto de “verdades” acerca dos sujeitos que o possuem. Verdades 
essas  que  surgem  dos  discursos  que,  através  da  linguagem,  não  apenas 
descrevem, mas formam seus objetos discursivos. Segundo Hall (1997a), 

o  significado  surge  não  das  coisas em  si  — a “realidade”  —  mas  a partir 


dos  jogos  da  linguagem  e  dos  sistemas  de  classificação  nos  quais  as 
coisas  são  inseridas.  O  que  consideramos  fatos  naturais  são,  portanto, 
também fenômenos discursivos. (p.29) 

A representação de beleza, dos séculos XVIII a XIX, associada à gordura e a 
formas  arredondadas,  hoje  sofreu  significativas  mutações,  uma  vez  que  “os 
significados — aquilo que se diz que as coisas são — não são fixos, nem naturais, 
nem  normais,  nem  lógicos”  (COSTA, 2000, p.4).  Mulheres  excessivamente magras 
compõem  o  novo  discurso  dominante  de  modelo  estético  feminino 17 .  Talvez,  num 
futuro  próximo,  tais  características  já  estejam  superadas  e  outras  venham  a 
subjetivar homens e mulheres, atribuindo novos significados à representação do que 
é ser bela ou belo, pois, “é através do uso que fazemos das coisas, e o que dizemos, 
pensamos  e  sentimos  acerca  destes  –  como  os  representamos  –  que  lhes  damos 
significado”  (HALL,  1997b,  p.17).  E  isso  vai  ocorrer  de  forma  semelhante  com  os 
conceitos  referentes  aos  relacionamentos  afetivos  e  ao  consumo  dos  objetos, 
significações que serão discutidas no Capítulo 4. 

17 
Entretanto, o dipositivo da magreza, identificado por estudo já mencionado na presente dissertação, 
tem sido atravessado por movimentações com vistas a combater suas conseqüências, como é o caso 
das campanhas midiáticas voltadas à prevenção da anorexia e da bulimia.
38 

Segundo  Santos,  Meyer,  Oliveira  e  Wilhelms  (2004),  a  representação 


“engloba práticas de significação lingüística e cultural e sistemas simbólicos através 
dos  quais  os  significados  (que  permitem  a  mulheres  e  homens  entender  suas 
experiências e delimitar modos de ser e de viver) são construídos” (p.53). 

Dizendo de outro modo, quando representamos a beleza, as relações afetivas 
ou  o  consumo,  por  exemplo,  lançamos  mão  de  um  vasto  sistema  de  códigos 
lingüísticos e culturais que fazem parte de nosso dia­a­dia para conceber tal idéia. O 
tipo  de  linguagem  selecionado  é  que  vai  possibilitar  ou  não  que  pessoas  de 
diferentes localidades compreendam aquilo que está sendo dito. 

Faz­se  importante  ressaltar  que  as  representações  que,  neste  momento  o 


desenho animado pressupõe “verdadeiras” e desejáveis enquanto beleza, consumo 
e  relacionamentos  são  apenas  algumas  das  formas  de  dizer  sobre  a  coisa. 
Representações essas que mudam ao longo dos tempos, de acordo com o espaço 
em que estão inseridas e de acordo com os programas a que se assiste. 

Sendo  assim,  os  significados  partilhados  e  disseminados  pela  série  de 


desenho  animado  Três  Espiãs  Demais  —  que  circula  por  diversos  países  —  está 
representando um jeito, um entendimento em relação à juventude feminina. Repletas 
de  significados,  as  narrativas  do  desenho  animado  constituem  os  objetos  e  os 
sujeitos  que  narram.  Neste  estudo,  interessa­me  mostrar  como  essa  linguagem 
televisiva,  em  especial  o  desenho  animado  em  estudo,  vem  representando  e 
conceituando as jovens meninas de hoje, pois, como afirma Hall (1997a), 

[...]  a  identidade  emerge  não  tanto  de  um  centro  interior,  de  um  “eu 
verdadeiro  e  único”,  mas  do  diálogo  entre  os  conceitos  e  definições  que 
são representados para nós pelos discursos de uma cultura e pelo nosso 
desejo  [...]  de  responder  aos  apelos  feitos  por  estes  significados,  de 
sermos  interpelados  por  eles,  de  assumirmos  as  posições  de  sujeito 
construídas para nós por alguns dos discursos [...]. (p.26) 

Desse  modo,  a  forma  como  o  desenho narra  as  jovens  meninas constitui­se 


num dos modelos possíveis do que é ou deveria ser uma jovem menina de hoje. Ao 
fazer isso, acaba por constituí­las de uma certa forma, enquadrá­las e assujeitá­las. 
Os  significados  construídos  por  ele  regulam  e  organizam  possíveis  condutas  e 
práticas da juventude. 

Nesse sentido, precisamos então admitir que “quem tem o poder de narrar o 
outro,  dizendo como  está constituído, como  funciona,  que  atributos  possui,  é quem
39 

dá  as  cartas  na  representação,  é  quem  diz  o  que  tem  ou  não  tem  estatuto  de 
‘realidade’”  (COSTA,  2001,  p.42).  O  desenho  animado,  junto  a  outras  vivências 
sociais,  cria  representações  identitárias  femininas  para  a  juventude.  A  forma  com 
que o desenho e as demais vivências sociais narram os sujeitos acaba por interpelar 
suas subjetividades e constituí­las a partir dos pressupostos por ele apresentados. 

Subjetivação 

O  eu  contemporâneo,  não  mais  acreditado  como  o  resultado  de  um  centro, 
individual,  privado  e  imparcial,  passa  agora  a  ser  visto  e  pensado  como  produzido 
num  determinado  espaço,  oriundo  de  uma  determinada  tradição,  portanto,  parte 
ativa e também receptiva de um certo registro lingüístico e cultural. Assim sendo, “o 
que é histórica e culturalmente contingente não é apenas nossa concepção do que é 
uma  pessoa  humana,  mas  também,  e  sobretudo,  nosso  modo  de  nos  comportar” 
(LARROSA, 2000, p.41). 

Modos  que  passam  a  ser  alvo  dos  diferentes  estratos  sociais,  que 
continuamente  lançam  mão  de  diferentes  regras  e  normas  com  o  intuito  de 
“aprimorar” o sujeito social, governando e se apoderando da “alma humana” (ROSE, 
1998,  p.30).  Fato  que  nos  faz  inquirir  em  relação  à  forma  com  que  personagens, 
como  as  três  espiãs,  transitam  nas  teias  do consumo e  nos  faz perceber o  quanto 
seus  discursos  estão  inscritos  numa  espécie  de  “cartilha”  de  normas  socialmente 
compostas. 

Rose (1998) enumera três importantes aspectos que, na contemporaneidade, 
promovem  a  administração  do  eu,  eentre  eles,  a  incorporação  de  capacidades 
pessoais  e subjetivas  dos cidadãos pelos  poderes  públicos,  na  tentativa de  regular 
sua  conduta;  a  busca  da  administração  das  subjetividades  por  parte  das 
organizações modernas (escola, empresas, prisões, hospitais); e o aparecimento da 
expertise da subjetividade, que busca o conhecimento da psique. 

O  último  aspecto,  de  grande  valor  para  a  presente  pesquisa,  refere­se  à 


busca  —  por  parte  de  profissionais  de  diversas  áreas  —  de  “[...]  compreender  os 
aspectos psicológicos da pessoa e de agir sobre eles, ou de aconselhar outros sobre 
o  que  fazer”  (ROSE,  1998,  p.32).  Mesmo  porque  todo  o  aparato  conceitual  e
40 

lingüístico, que utilizamos como parâmetro para avaliarmos a nós e aos outros, parte 
de  uma  gama  de  conceitos  oriundos  da cultura.  Assim  sendo,  “a  própria  idéia  que 
temos de nós mesmos tem sido revolucionada” (ROSE, 1998, p. 33). 

Medos,  desejos,  angústias,  esperanças  são  constituídos  e  caracterizados 


socialmente e passam a fazer parte da vida da juventude feminina de todo o mundo. 
Meninas  que,  agora  preocupadas  com  a  “vida  fashion”  e  com  a  sociedade  do 
espetáculo,  procuram  dar  conta  de  padrões  considerados  aceitáveis  através  da 
incansável auto­inspeção e da autoconsciência. 

À medida que as redes se formam, que os mecanismos de transmissão, as 
traduções e as conexões conectam as aspirações políticas com modos de 
ação sobre as pessoas,  estabelecem­se  tecnologias  da  subjetividade que 
permitem que as estratégias do poder se infiltrem nos interstícios da alma 
humana. (ROSE, 1998, p. 40) 

Estimulados  e  persuadidos  por  normas  e  verdades,  e  pela  atração  exercida 


pelas imagens  da vida  e do  eu, vivemos  balizando e regulando  nossas condutas e 
lançando mão  das chamadas  “Técnicas  do eu” (ROSE,  1998, p.43)  para dar conta 
dos objetivos, ambições e atividades valorizadas socialmente. 

Rose (1998) as explica como 

[...] as formas pelas quais nós somos capacitados, através das linguagens, 
dos  critérios  e  técnicas  que  nos  são  oferecidos,  para  agir  sobre  nossos 
corpos, almas, pensamentos e conduta a fim de obter felicidade, sabedoria, 
riqueza e realização. (p.43) 

Os sonhos de nossas jovens espiãs são sonhados pela sociedade e por elas, 
incansavelmente, esquadrinhados. Alcançar, a qualquer custo, os artefatos em voga, 
divulgados e celebrados na cultura da mídia e do consumo, é partir do princípio de 
que os critérios por ela estipulados demarcam não só a posição social dos sujeitos, 
mas os seus significados como seres humanos. 

Enquanto  avaliam  e  agem  sobre  seus  corpos,  padronizam  seus 


relacionamentos  e  adquirem  e  descartam,  incansavelmente,  os  artefatos  da  moda, 
as jovens  espiãs são governadas  pela cultura,  pois  buscam  ser  ou parecer ser um 
certo tipo de pessoa social e culturalmente aceito e valorizado. 

Indo  além,  partindo  do  princípio  de  que  a  experiência  de  si  é  histórica, 
culturalmente  contingente,  e  a  compreendendo  como  algo  que  passa  a  ser 
transmitido  e  aprendido  dentro  de  uma  sociedade  específica,  é  possível  constatar
41 

que os ensinamentos da mídia, bem como dos demais meios de convívio do sujeito, 
constituem  um  repertório  que  estabelece  como  ele  deve  ser,  viver  e  relacionar­se. 
Assim,  a  forma  como  as  três  espiãs  comportam­se  em  relação  ao  consumo  de 
objetos,  relacionamentos  e  aparência  corporal  passa  a  fazer  parte  da  cartilha  de 
referência  e,  juntamente  com  os  diferentes  critérios  que  entrecruzam  as  vivências 
dos sujeitos, compõem um determinado tipo de apresentação acerca do que venha 
a  ser  uma  jovem  menina.  Isso  porque  as  histórias  que  contamos  de  nós  mesmos 
“estão  construídas  em  relação  às  histórias  que  escutamos,  que  lemos  e  que,  de 
alguma  maneira,  nos  dizem  respeito  na  medida  em  que  estamos  compelidos  a 
produzir nossa história em relação a elas” (LARROSA, 2000, p.48). 

A fascinação exercida pelas três espiãs mobiliza as meninas a viverem como 
e a partir de padrões, estilos e princípios que se tornam normais de acordo com sua 
programação preferida. Fatos como a história de Sarah, mencionada na reportagem 
“Descontrole  remoto”  de  Camilo  Vannuchi,  Eliane Lobato  e  Rita  Moraes,  ilustram  a 
subjetivação desencadeada pelo desenho animado e demonstram o quanto ele pode 
ser  produtivo.  Conta  a  reportagem  que  a  jovem  de  catorze  anos  desenha  os 
modelitos  das  personagens  de  Três  Espiãs  Demais,  para  que  sua  mãe  os 
confeccione. A reportagem cita a fala da menina e eu também dela me aproprio para 
destacar  o  poder  de  interpelação  do  desenho,  que  acaba  por  subjetivar  seus 
telespectadores. Segundo a menina Sarah: “Elas são garotas normais, que vão à escola e
adoram ir ao shopping depois de solucionar um caso. Fico com vontade de ser uma delas”.

E  ser  uma  delas  significa  aceitar  e  conviver  com  um  número  restrito  de 
normas  e  passar  a  ver  a  partir  de  lentes  que  trazem  consigo  valores  específicos. 
Sarah  parte  de  uma  imagem  referencial  e  procura  ser,  viver  e  conviver  a  partir 
desses preceitos.
42 

CAPÍTULO 3
DESENHOS ANIMADOS COMO NARRATIVA FÍLMICA

Ao contrário da muitas vezes obstinada e triste


realidade escolar, os filmes para crianças
fornecem um espaço visual high-tech, onde
aventura e prazer se encontram num fantasioso
mundo de possibilidades e numa esfera
comercial de consumismo e comodismo.
(GIROUX, 2004, p 90)

Perceber a cultura enquanto um contínuo processo de re(construção), no qual 
os  conceitos  são  contingentes,  históricos  e  mutantes,  possibilita  acrescer  ao 
desenho animado papel importante na formação dos sujeitos que nela se inserem. 

O desenho animado é visto, nesse contexto, para além de um mero contador 
de histórias, como articulador de múltiplas formas possíveis de ser e estar no mundo 
contemporâneo. Nele, bem como em outros programas midiáticos, narra­se como os 
sujeitos  e  suas  vidas  são  e,  ao  mesmo  tempo,  descreve­se  como  poderiam  ser, 
restringindo  e  delimitando  ou  ainda  criando  outras  opções,  num  diálogo  constante 
com seus telespectadores, através das pesquisas de mercado e audiência, enquetes 
ou cartas de fãs. 

Duarte (2002), ao analisar e discutir o cinema, argumenta que: 

Convenções  cinematográficas  expressam,  de  um  modo  mais  ou  menos 


circular, a influência mútua que cinema e sociedade exercem entre si. Se, 
por  um  lado,  elas  refletem  valores  e  modos  de  ver  e  de  pensar  das 
sociedades  e  culturas  nas  quais  os  filmes  estão  inseridos,  funcionando, 
assim, como instrumento de reflexão, por outro, repetidas insistentemente, 
essas  convenções  constituem  um  padrão  amplamente  aceito  e  dificultam 
ou retardam o surgimento de outras formas de representação, mais plurais 
e democráticas. (p 56)
43 

E  é  esse  processo  de  constituição  de  padrões,  em  especial  os  padrões 
aceitáveis  na  sociedade  do  espetáculo  acerca  do  que  venha  a  ser  uma  jovem 
menina de hoje, que pretendo colocar em evidência em minha pesquisa. Para tanto, 
traço  a  seguir  algumas  considerações  acerca  do  desenho  animado,  suas 
transformações e sua linguagem. Logo em seguida, procuro mapear e expor dados 
relativos  ao  desenho  animado  selecionado  para  o  presente  estudo  —  Três  Espiãs 
Demais. 

O desenho animado através dos tempos 

Por se tratar de uma temática distanciada do meu universo de conhecimentos 
e  por  saber  da  importância  da  familiarização  do  pesquisador  com  as  gramáticas 
próprias  dos  artefatos  culturais  midiáticos,  procurei  apropriar­me  de  algumas 
informações técnicas e dados históricos referentes ao desenho animado. 

Conforme  Barbosa  Júnior  (2002),  o  desenho  animado,  oriundo  da  união  do 
desenho e da pintura com a fotografia e o cinema, faz uso das mais variadas artes 
gráficas,  explorando  as  características  cinematográficas  do  filme.  Sua  linguagem, 
que  se  distinguia  do  cinema  de  animação  ao  vivo,  exigiu  a  formulação  de  regras 
artísticas  próprias,  as quais  vieram  a  se  estabelecer  como  princípios  fundamentais 
da animação. 

A  busca de expressar o  movimento  através do  desenho  e  da pintura  parece 


encantar a humanidade desde os tempos mais remotos; isto porque o movimento é 
considerado  a atração visual mais  intensa.  No  entanto, a expressão do movimento 
através  da  rápida  sucessão  de  imagens  carecia  de  um  desenvolvimento  técnico  e 
científico que só se alcançou no início do século XX. 

Segundo  Barbosa  Júnior  (2002,  p  28),  “A  palavra  ‘animação’,  e  outras  a  ela 
relacionadas,  deriva  do verbo  latino  animare  (‘dar  vida  a’)  e  só  veio  a  ser  utilizada 
para  descrever  imagens  em  movimento  no  século  XX”.  De  acordo  com  Halas  e 
Manvell  (1979),  “na  animação,  cada  desenho  sucessivo  é  parte  de  uma  seqüência 
pictórica, um movimento que tem um começo e um fim e que é elemento essencial 
da sua forma artística” (p.26).
44 

A  lanterna  mágica  inventada  por  Athanasius  Kircher,  por  volta  de  1645, 
possibilitou  talvez  o  que  tenha  sido  a  primeira  projeção  de  slides  pintados  em 
lâminas  de  vidro.  Seu  dispositivo,  apesar  de  causar  espanto,  despertou  grande 
interesse em  cientistas.  Em  1671,  Kircher  explicou  como  utilizar  um  disco  de  vidro 
giratório para a apresentação de uma série de imagens. 

De acordo com as informações de Barbosa Júnior (2002), foi no século XVIII 
que  o  cientista  holandês  Pieter  Van  Musschenbroek  utilizou  um  disco  giratório 
semelhante  ao  de  Kircher,  mas  com  imagens  em  seqüência  para  produzir  a  ilusão 
do  movimento.  Tempos  depois,  Musschenbroek  incrementou  seu  invento,  usando 
múltiplas  lanternas  e  imagens  sincronizadas,  para  fazer  aquela  que  teria  sido  a 
primeira  exibição  animada.  A  lanterna  mágica  logo  se  transformou  num 
entretenimento popular com exibições itinerantes. 

Em  1794,  explorando  todo  o  potencial  de  comunicação  visual  da  lanterna 
mágica, Etienne Gaspard Robert lançou em Paris o espetáculo Fantasmagorie, que 
ficou  em  cartaz  por  dez  anos.  Robert  preparou  uma  sala  escura,  decorada  com 
caveiras,  para  criar  um  ambiente  propício  e  inserir  o  espectador  no  contexto  da 
história. 

Apesar  dessas  técnicas já  estarem  sendo  utilizadas, segundo  os estudos de 


Barbosa  Júnior  (2002),  somente  a  partir  do  século  XIX  surgiriamas  descobertas 
tecnológicas que possibilitaram a animação. Conforme o autor, em 1824, Peter Mark 
Roger,  observando  as  rodas  das  carruagens  (que,  em  movimentos,  certas  vezes 
pareciam  girar  ao  contrário  ou,  ainda,  estarem  paradas),  descobriu  que  “o  olho 
humano  retém  uma  imagem  por  uma  fração  de  segundo  enquanto  outra  imagem 
está  sendo  percebida”  (BARBOSA  JÚNIOR,  2002,  p  34).  Segundo  Roger,  nosso 
olho  combina  imagens  assistidas  em  seqüência,  se  exibidas  rapidamente,  com 
regularidade e adequada iluminação. Já Pereira (1981) afirma que foi o físico belga 
Joseph­Antoine Plateau quem primeiro conseguiu medir o tempo da persistência da 
retina. Segundo suas pesquisas, “qualquer estímulo luminoso, na retina, permanece, 
aproximadamente, por 1/10 de segundo” (p.12). 

A  partir  de  então,  variados  inventos  se  utilizaram  da  animação:  o 


taumatroscópio  (imagem  frente  e  verso  que  gira  rapidamente),  o  fenaquistoscópio 
(um  disco  com  seqüência  de  imagens  pintadas  e  outro  com  fresta  na  mesma 
disposição que, ao entrarem em movimento, viam­se as imagens), criado entre 1828
45 

e 1832 por Joseph Plateau e Simon Von Stampfer, em 1834, o daedalum, também 
chamado  de  zootroscópio  (desenhos  em  tira  de  papel,  dentro  de  um  tambor 
giratório), entre outros. 

Conforme  Barbosa  Júnior  (2002),  o  primeiro  projetor  de  cinema  teria  sido 
criado pelo militar austríaco Franz Von Uchatius que, no começo da década de 1850, 
incrementou a lanterna mágica combinando­a com dois discos giratórios. 

Descendente  do  zootroscópio,  o  praxinoscópio  foi  uma  invenção  do  pintor 


Emile Reynaud, em 1877, aparelho que projetava em uma tela imagens desenhadas 
sobre fitas transparentes.  Assim,  cada  espelho  refletia  uma  das  imagens da  tira  do 
desenho  colocada  na  circunferência.  Aperfeiçoando  o  praxinoscópio,  combinado­o 
com lanternas, Reynaud inventou o teatro praxinoscópio (1882) que, em 1892, vai se 
transformar  no  teatro  óptico  com  filme  por  ele  denominado  de  Pantomimes 
lumineuses ,  com  quinze  minutos  de  duração,  centenas  de  desenhos  coloridos, 
enredo,  trilha  sonora  e  personagens  com  movimentos  adequados  ao  cenário. 
Apesar  do  grande  sucesso,  sua  invenção  foi  superada  pelos  irmãos  Lumière  que, 
em  1895,  inventaram  o  cinematógrafo.  Em  dezembro  do  referido  ano,  os  Lumière 
projetaram o primeiro filme, a primeira exibição de fotografias animadas. 

“Não tardou para se perceber que a arte no cinema estava em ‘trapacear’ com 
a  realidade  (agora  tão  facilmente  captada),  na  qual  a  manipulação  do  tempo 
encerrava seu grande segredo” (BARBOSA JUNIOR, 2002, p 41). A descoberta  do 
chamado lightning sketches (substituição por parada da ação) — atividades em que 
o  desenhista  tinha  sua  performance  filmada  mediante  engenhoso  plano  de 
truncagem —  será  o  primeiro  passo  para  a  constituição  do  que  viria  a se  tornar  a 
técnica  da  animação.  O  trickfilm  (filme  de  efeitos),  originário  da  substituição  por 
parada  da  ação,  produzido  como  um  espetáculo  ilusionista  e  repleto  de  trucagens, 
foi  criado  pelo  cineasta  francês  Georges  Méliès.  Essa  idéia  —  filme  enquanto 
espetáculo de magia — servirá de base para a produção dos desenhos animados. 

James  Stuart  Blackton,  artista  plástico  inglês,  havia  realizado  o  primeiro 


desenho animado  — Humorous Phases of Funny Faces  —  em 1906.  Era  um  filme 
de  curta  duração,  com  animação  frame  a  frame 18  em  seqüências  desenhadas  por 
poucos instantes. 

18 
Animação quadro a quadro.
46 

Como aos poucos o mercado foi sendo saturado de filmes nesse estilo, logo o 
interesse do público desapareceu. A reconquista desse espaço e público só se daria 
mais tarde, a partir do aparecimento de obras que melhor envolvessem as pessoas 
(BARBOSA JÚNIOR, 2002). 

Em  1911,  Winsor  McCay  inaugura  uma  nova  fase  para  a  animação,  ao 
realizar desenhos animados baseados em histórias em quadrinhos, trazendo para a 
tela os personagens de Little Nemo in Sumberland. A ele também coube a inclusão 
de  um  dos  grandes  trunfos  da  animação,  as  características  dos  personagens,  a 
personalidade.  Antes  do  trabalho  de  McCay,  os  personagens  apenas  se  moviam 
num  processo  de  reprodução  de  ações  mecânicas  e  insípidas.  No  filme  How  a 
Mosquito  Operates ,  McCay  enfatiza  a  narrativa  e  atribui  ao  personagem  principal, 
um mosquito, características humanas, levando seus espectadores à reflexão sobre 
a  condição  humana.  A  forma  como  McCay  construiu  seu  personagem  ganhou  a 
simpatia do público que com ele se identificava. 

No  entanto,  teria  sido  em  Gertie  Dinosaur,  considerado  o  primeiro  grande 
marco da história da animação, que McCay se superou. Nele, teriam surgido vários 
princípios  da  animação,  como  o  acréscimo  de  cenário  estático  e  a  contratação  de 
assistentes  para  a  realização  dos  desenhos  repetitivos.  De  acordo  com  Barbosa 
Júnior (2002), Gertie  não só conquistou o público como também encantou dezenas 
de jovens artistas  (Walter  Lantz — Pica­Pau,  Dave  Fleischer — Koko, o palhaço  e 
Dick  Huemer  —  um  dos  mestres  dos  Estúdios Disney),  que  acabaram  por  também 
se dedicar à animação. 

De acordo com os estudos de Barbosa Junior (2002), alguns dos desafios que 
mobilizaram  os  primeiros  profissionais  do ramo  da animação referiam­se:  à criação 
de público, à aquisição de respeito profissional e ao espaço de divulgação. 

Nesse  contexto,  surgem  os  estúdios  de  animação  como  meio  de  produção 
rápida  e  barata,  buscando  inovações  tecnológicas  e  organizacionais.  Foi  nos 
Estados  Unidos  (sem  a  concorrência  européia),  pouco  antes  da  Primeira  Guerra 
Mundial, que a animação deu um salto. 

Impulsionadas  pela  possibilidade  de  produção  em  larga  escala  e  pelas 


inovações  das  técnicas  de  criação,  surgem  as  séries  de  desenhos  animados.  A 
expressão  “desenho  animado”  teria  aparecido  pela  primeira  vez  em  1913,  com  a
47 

primeira  das  séries  de  personagens  —  The  Newlyweds 19  —  produzida  por  Emile 
Cohl. 

As  séries  de  personagens  resultaram  da  necessidade  de  uniformização  da 
animação e da produção de massa. Dessa forma, também facilitou a compreensão 
das histórias pelo público, que passou a identificá­las com maior agilidade. 

A maior contribuição técnica para a animação tradicional foi a descoberta das 
folhas  de  celulóide  transparente  (no  Brasil  o  celulóide  é  denominado  de  acetato). 
“Enquanto  os  fundos  do  filme  permaneciam  como  desenhos  independentes, 
executados  em  papel  branco,  as  fases  sucessivas  da  animação  das  figuras  do 
primeiro  plano  eram  desenhadas  em  folhas  finas  de  celulóide  transparente  e 
superpostas no estágio da fotografia” (HALAS, MANVELL, 1979, p.29). Segundo os 
autores, inovação descoberta pelo cineasta norte­americano Earl Hurd e patenteada 
em junho de 1915. 

Para muitos, o Gato Felix, de Otto Mesmer, foi o mais importante, influente e 
admirado personagem desse período da animação. De acordo com Barbosa Júnior 
(2002),  com  temperamento,  desenvoltura e  sabedoria  semelhante  à  humana,  Felix 
conquistou  o  público  na  década  de  1919.  “Tudo  dentro  de  uma  estrutura  narrativa 
que se  apoiava completamente  na  fantasia” (p  79).  Segundo  o autor,  dentre  outros 
personagens, o próprio Mickey Mouse,  maior  símbolo  do império  Disney,  teria sido 
inspirado no Gato Felix. 

Oskar Fischinger, considerado o mais importante animador independente dos 
anos 1930, expandiu o universo estético da animação abstrata e criou uma série de 
inovações  técnicas.  Dentre  elas,  a  sólida  união  entre  som  e  imagem.  Fischinger 
também  colaborou  com  o  Walt  Disney  na  produção  do  famoso  longa­metragem 
Fantasia, em 1940. 

Nos  anos  de  1930,  surgem  os  primeiros  filmes  coloridos  de  produção 
industrial.  Coube  à  Technicolor  Ltda.  a  produção  de  um  dos  mais  bem  sucedidos 
sistemas de cor da história do cinema. Apesar da inovação aproximar o desenho do 
que se considerava real, sua utilização trouxe novos problemas. Em preto e branco, 
era fácil destacar os personagens, a introdução da cor exigiu atenção em relação à 

19 
The  Newlyweds  tratava­se  de  uma  série  de  desenho  animado,  adaptada  dos  quadrinhos  The 
Newlyweds and Their Baby, produzidos por George McManus.
48 

configuração  espacial,  ao  clima  psicológico,  à  legibilidade  e  à  caracterização  dos 


personagens. 

De  início,  animação  era  sinônimo  de  desenho  em  movimento.  Foi  por  volta 
dos  anos  de  1940,  que  animadores  como  George  Pal  exploraram  o  cinema 
enquanto entretenimento, demonstrando que sem imaginação e talento os filmes se 
tornavam monótonos e desinteressantes. 

Walt Disney, um dos grandes nomes da animação, estudou em escola de arte 
e,  nos  anos  de  1920,  já  se  ambientara  às  técnicas  e  aparatos  da  animação.  Seu 
forte não era o desenho. Logo percebeu que outros artistas faziam­nos melhor que 
ele  e  acabou  se  concentrando  na  direção  de  todo  o  processo  de  produção  dos 
desenhos animados. 

Walt  Disney  possuía  uma  impressionante  capacidade  empresarial  para  a 


criação de produtos que se destinassem ao consumo de massa. Para ele, conforme 
Barbosa  Junior  (2002,  p.98),  “a  animação  tinha  de  ser  entendida  como  a  arte  do 
entretenimento por excelência”. Contrapondo­se aos gags (piadas), ele ambicionava 
a produção de personagens convincentes, inseridos numa trama com continuidade, 
numa narrativa inscrita no espaço­tempo, com história. 

Segundo  Barbosa  Júnior  (2002),  Disney  introduziu  algumas  novidades:  a 


invenção da barra de pinos na base da prancheta de luz que, apesar de dificultar o 
apoio  da  mão  e  do  pulso,  assegurou  ao  animador  uma  checagem  instantânea  da 
ilusão  do  movimento,  a  fotografia,  com  filme  preto  e  branco  e  barato,  após  a 
produção  completa  de  uma  seqüência  com  desenhos  esboçados  (pencil  test  —  o 
que  na  animação  digital  assemelha­se  ao  preview),  possibilitando  a  percepção  de 
erros na projeção da seqüência e a contratação de assistentes (clean­up men), que 
se responsabilizavam pela finalização do desenho, para cada animador. 

Mesmo  não  sendo  o  pioneiro  na  introdução  do  som  no  cinema,  Disney  o 
produziu com tamanha qualidade, que acabou por ser conhecido como o verdadeiro 
precursor  da  técnica.  Para  tanto,  recorreu  à  marcação  do  tempo  para  a  orquestra 
com uma bolinha pulando ao lado de cada frame da película. 

Preocupado  com  a  formação  de  sua  equipe,  instituiu  um  programa  de 
treinamento  com  estudos de  desenho  de  modelo vivo, anatomia,  psicologia  da cor, 
análise de movimento, princípios de representação e observação de espetáculos de
49 

variedades e mímicos. Seu objetivo era o domínio do real, a ação deveria basear­se 
na  realidade,  para  daí  produzir  para  a  caricatura,  o  exagero,  a  encenação.  Disney 
queria atingir o máximo da expressividade plástica e cinética. 

Valiosas  invenções  dos  artistas  de  Disney  surgiram  a  partir  do  filme  Os três 
porquinhos  (1933).  O  layout,  preocupando­se  com  a  concepção  gráfica  dos 
personagens,  o  figurino,  os  cenários,  a  definição  de  cores  e  iluminação  dos 
ambientes. E a storyboard — que consiste numa série de pequenos desenhos com 
legendas  que  mostram  as  ações­chave  do  desenho  —  permitiu  maior  controle  do 
ritmo e do encadeamento visual das cenas. 

Ao  longo  dos tempos,  um  dos  grandes  desafios da  animação foi  a  produção 


de filmes de longa­metragem que mantivessem o interesse das platéias. O primeiro 
longa  dos  estúdios  Walt  Disney  —  Branca  de  Neve  e  os  sete  anões  —  não  foi  a 
primeira  produção,  mas a  mais  marcante  de  todas.  O  filme  tornou­se  uma  legenda 
na  história  da  animação,  e  referência  no  seu  estilo.  Sua  consagração  pode  ser 
percebida  nas  representações  construídas  pelo  público  ao  longo  dos  tempos:  a 
música  dos  sete  anões,  que  ultrapassou  gerações;  a  construção  de  uma  imagem 
popularizada  de  bruxa;  a  inclusão  dos  anões  nos  jardins  e  decorações  de  casas, 
entre outros. As alterações introduzidas por Disney integraram simultaneamente três 
segmentos  básicos:  inovações  técnicas,  conceitos  artísticos  e  estratégia  de 
produção. 

A  partir  daí,  outros  estúdios  passaram  a  contrapor­se  à  tradição  de 


desenvolvimento  técnico  de  Disney.  O  estúdio  dos  irmãos  Fleischer,  por  exemplo, 
com  a  charmosa  e  sensual  Betty  Boop  e  o  extravagante  marinheiro  Popeye, 
ousaram na concepção gráfica, no enredo e na mecânica da animação. Os estúdios 
Warner Brothers e MGM trabalharam com a comédia através de distorção e exagero 
dos  princípios  artísticos  estabelecidos  pelos  estúdios  Disney,  dando  origem  a 
personagens  ágeis,  selvagens,  insanos,  atrevidos,  engraçados  como  Pernalonga, 
Patolino, Papa­Léguas, Coiote, Pepe Legal, Diabo da Tasmânia, Tom e Jerry etc. 

Abordagens  inovadoras  invadiram  as  telonas,  com  mudanças  na  estrutura 


narrativa, no tempo, na encenação e com a inclusão de piadas. 

Na  composição  dos  personagens,  de  acordo  com  Halas  e  Manvel  (1979),  o 
exagero  é  funcional.  “As  partes  do corpo  que  gesticulam —  pernas,  braços,  mãos,
50 

pés  —  exigem  maior  tamanho,  e  mais  ainda  a  cabeça,  que  é  a  característica 


principal  de  qualquer  ser  humano  ou  animal”.  (p.65).  Na  cabeça,  a  boca  recebe 
maior  tamanho  devido  à  fala  e  os  olhos,  destaque,  pois  juntos constituem  o  “meio 
mais importante para a demonstração visual de certos estados de espírito, emoções 
e  personalidade”.  (p.66).  Segundo  os  autores,  os  personagens,  geralmente,  são 
produzidos a partir da distorção da configuração e da forma. A voz também é peça 
importante na composição do personagem. Conforme Halas e Manvell (1979): 

Às  vezes,  a  voz  bem  definida  de  um  personagem  de  desenho  animado 
pode tornar­se mais importante, mais disseminada entre o público, no que 
tange às suas características facilmente reconhecíveis, do que as próprias 
imagens visuais. Logo que  se escuta uma dessas vozes, a  platéia  evoca 
imediatamente os traços essenciais do personagem. (73) 

Referindo­se  aos  desenhos  animados,  Barbosa  Júnior  (2002)  afirma  que, 


“uma das virtudes mais evidentes nesses filmes é o domínio absoluto do tempo. Se 
o  movimento  é  a  essência  da  animação  e  esse  é  um  fenômeno  que  ocorre  no 
tempo, naturalmente a animação é a arte de lidar com o tempo” (p 126). O domínio 
do  tempo,  descoberta  importante  no  desenho  animado,  surge  como  ferramenta  de 
construção  do  enredo  e  organização  espaço­temporal  da  história.  Tal  constatação 
me  remete,  instantaneamente,  ao  desenho  animado  em  estudo  —Três  Espiãs 
Demais  —  no  qual  o  tempo  é  outro,  o  ritmo  é  frenético,  os  acontecimentos  são 
instantâneos,  surpreendentes  e  inconstantes,  com  a  justaposição  de  momentos 
desenfreados  e  outros  de  calma  absoluta.  Tal  composição  do  desenho  toma  por 
base os antigos desenhos, porém, hoje, articula objetivos distintos. 

No caso da TV, segundo Bastos (2004), 

O  surgimento  do  controle  remoto  delegou  ao  telespectador  a  tarefa  de 


seleção e ordenação de fragmentos de programas que  ele próprio optava 
por  ver.  A  montagem  desse  verdadeiro  quebra  cabeça,  para  evitar 
intervalos  comerciais  e  programas  maçantes,  fez  com  que  a  própria 
televisão  passasse  a  oferecer  programas  tão  fragmentados  que 
20 
produzissem eles próprios o efeito de sentido de zapping  . (p.74) 

Assim sendo, hoje, a velocidade e o excesso de imagens é utilizado para que 
o dinamismo da ação “fisgue” a atenção dos espectadores o maior tempo possível. 
O zapping, considerado um grande vilão pelos executivos de emissoras e agências 
de  publicidade,  impulsionou  a  criação  de  programas  que  já  introduzissem  na  sua 

20 
Zapping  é  o  movimento  de  troca  de  canais,  quando  os  telespectadores  buscam  constantemente 
novas imagens sem se deter nas informações.
51 

composição a fragmentação e o efêmero. Segundo Sarlo (2006), a televisão ensinou 
leis aos espectadores: 

Primeira  lei:  produzir  a  maior  acumulação  possível  de  imagens  de  alto 
impacto  por  unidade  de  tempo  e,  paradoxalmente,  baixa  quantidade  de 
informação  por  unidade  de  tempo  ou  alta  quantidade  de  informação 
indiferenciada  (o  que  oferece,  de  todo  modo,  o  “efeito  de  informação”). 
Segunda  lei:  extrair  todas  as  conseqüências do fato  de que  a  retroleitura 
dos discursos visuais ou sonoros, que se sucedem no tempo, é impossível 
(exceto  quando  a  pessoa  grava  um  programa  e  realiza  as  operações 
próprias  dos  especialistas  em  mídia  e  não  dos  telespectadores).  A 
televisão  explora  esse  traço  como  uma  qualidade  que  lhe  permite  uma 
enlouquecida  repetição  de  imagens;  a  velocidade  do  meio  é  superior  à 
nossa  capacidade  de  reter  seus  conteúdos.  O  meio  é  mais  veloz  do  que 
aquilo que transmite. Estes, nessa velocidade, competem até anularem­se 
os  limites  entre  áudio  e  vídeo.  Terceira  lei:  evitar  a  pausa  e  a  retenção 
temporária  do  fluxo  de  imagens,  porque  conspiram  contra  o  tipo  de 
atenção mais adequado à estética dos meios de massa e afetam o que é 
considerado seu maior valor — a variada repetição do mesmo. Quarta lei: 
a montagem ideal, ainda que nem sempre possível, combina planos muito 
breves;  as  câmeras  devem  mover­se  o  tempo  todo,  para  encher  o  vídeo 
com imagens diferentes e assim evitar a mudança de canal. (p.57­58) 

O  que  se  percebe  é  que,  com  a  invenção  da  televisão,  a  animação  sofreu 
profundas transformações e o desenho animado assumiu o papel de entretenimento 
predominantemente voltado ao público infantil. Conforme Barbosa Júnior (2002), em 
1949,  foi  transmitida  a  primeira  série  de  desenho  animado criada  para  a  televisão: 
Crusader Rabbit. Em 1953, a série Winky Dink and You estreou o primeiro programa 
interativo,  no  qual  as  crianças  eram  convidadas  a  desvendar  a  continuidade  da 
história, ligando uma série de pontos na tela. No entanto, na contemporaneidade, há 
um  alargamento  de  fronteiras  e  os  desenhos  animados  passam  para  um 
endereçamento  não  mais  restrito  às  crianças  e,  sim,  abarcam  características  que 
atraem e também atingem jovens e adultos. 

O que se pode constatar, nesta breve tentativa de visitar alguns momentos da 
trajetória  do  desenho  animado  na  cultura,  é  que,  com  o  passar  dos  anos,  muitas 
inovações foram constituindo o que hoje denominamos desenho animado. Podemos 
também perceber a mudança de foco da animação, que inicialmente foi voltada para 
a produção do movimento e que, atualmente, encontra­se focada na construção de 
enredos  que  mesclam  ficção  e  realidade,  capazes  de  captar  e  enredar  os 
espectadores.  Contando  histórias,  inserindo  tramas  e  contextos,  acrescendo 
personagens  com  personalidade,  expressividade  e  sentimentos,  os  desenhos
52 

animados  encantam  e  fascinam  seus  espectadores,  ensinado­lhes  uma  gama  de 


significados em suas narrativas. 

Narrativas sobre jovens meninas 

A  idéia  de  que  os  conceitos  são  contingentes,  arbitrários  e  históricos  nos 
possibilita (re)pensar as diferentes e variadas formas com que os sujeitos vêm sendo 
narrados  ao  longo  da  história,  numa  correlação  com  os  contextos  em  que  foram 
constituídos. 
A  representação  das  jovens  meninas,  por  exemplo,  vem  sofrendo,  ao  longo 
dos  anos  e  nos  diferentes  espaços,  distintas  atribuições  de  signos,  símbolos  e 
linguagem. 
Com o intuito de examinar tais narrativas e de poder contrastá­las, procuro, a 
seguir,  estabelecer  um  breve  epítome  com  algumas  das  narrativas  proferidas  no 
meio  acadêmico e  na  animação em  relação às jovens  meninas  durante  os séculos 
XIX, XX e início do XXI. 

Mulher e Família Burguesa, por exemplo, um artigo de Maria Ângela D’Incao 
(2001),  apresenta  uma  breve  caracterização  da  sociedade  brasileira  durante  o 
século  XIX,  dando  ênfase  aos  papéis  e  significados  atribuídos  às  mulheres 
burguesas daquele tempo. Segundo a autora, naquele período, os passos da mulher 
não  só  eram  vigiados  pelo  pai  ou  pelo  marido,  “[...]  sua  conduta  era  também 
submetida aos olhares atentos da sociedade”. (D’INCAO, 2001, p. 228). 

Sob  a  eterna  vigilância  dos  pais  e  sob  sua  autovigilância,  as  mulheres 
daquela  época  primavam  por  sua  virgindade.  Isso  porque,  naquele  contexto,  ela 
servia  como  uma  espécie  de  “[...]  dispositivo  para  manter  o  status  da  noiva  como 
objeto  de  valor  econômico  e  político  [...]”  (D’INCAO,  2001,  p.235).  Era  comum 
também  o  casamento  entre  famílias  ricas  e burguesas  ser  usado como  um  degrau 
de ascensão social ou como manutenção do status . 

Depois  de  casadas,  as  mulheres  deveriam  “[...]  contribuir  para  o  projeto 
familiar de mobilidade social através de sua postura nos salões como anfitriãs e na 
vida cotidiana, em geral, como esposas modelares e boas mães” (D’INCAO, 2001, p. 
229). A idéia que se sobressai é a de que os conceitos que se relacionavam ao ser
53 

mulher estavam intimamente relacionados às vivências enquanto mães dedicadas e 
atenciosas, “[...] um ideal que só pode ser plenamente atingido dentro da esfera da 
família ‘burguesa e higienizada’” (D’INCAO, 2001, p.229). 

Segundo D’Incao (2001): 

Convém não esquecer que a emergência da família burguesa, ao reforçar 
no imaginário a importância do amor familiar e do cuidado com o marido e 
com os filhos, redefine o papel feminino e ao mesmo tempo reserva para a 
mulher  novas  e  absorventes  atividades  no  interior  do  espaço  doméstico. 
Percebe­se  o  endosso  desse  papel  por  parte  dos  meios  médicos, 
educativos  e  da  imprensa  na  formulação  de  uma  série  de  propostas  que 
visam “educar” a mulher para o seu papel de guardiã do lar e da família — 
a  medicina,  por  exemplo,  combatia  severamente o  ócio  e  sugeria  que  as 
mulheres  se  ocupassem  ao  máximo  dos  afazeres  domésticos. 
Considerada base moral da sociedade, a mulher de elite, a esposa e mãe 
da família burguesa deveria adotar regras castas no encontro sexual com o 
marido, vigiar a castidade das filhas, constituir uma descendência saudável 
e cuidar do comportamento da prole. (p. 230) 

O que parece é que, no século XIX, as jovens meninas participavam do dia­a­ 
dia  e  da  rotina  das  mulheres  adultas,  aprendendo  no  contato  e  na  vivência  das 
práticas  da comunidade  em  que  estavam  inseridas,  quais  as  atribuições  e  o  papel 
social  que  deveriam  assumir  para  poder  casar­se  e  compor  uma  família  “ideal” 
burguesa. 

Já  o  estudo  de  Carla  Bassanezi  (2001),  intitulado  Mulheres  dos  anos 
dourados, apresenta e caracteriza o papel da mulher no Brasil nos anos 50, século 
XX.  Nele  a  autora  afirma  que  “a  mulher  ideal  era  definida  a  partir  dos  papéis 
femininos tradicionais — ocupações domésticas e o cuidado dos filhos e do marido 
—  e  das  características  próprias  da  feminilidade,  como  instinto  materno,  pureza, 
resignação e doçura”. (p.608­609). Aquelas que não cumprissem tais determinações 
estariam contrariando a natureza e não poderiam ser felizes ou fazer com que outras 
pessoas fossem felizes. 

Classificadas, por revistas da época, em moças de família ou moças levianas, 
as jovens passavam pelo crivo dos preceitos morais sancionados pela sociedade. As 
moças  de  família  “tinham  gestos  contidos,  respeitavam  os  pais,  preparavam­se 
adequadamente  para  o  casamento,  conservavam  sua  inocência  sexual  e  não  se 
deixavam levar por intimidades físicas com rapazes”. (BASSANEZI, 2001, p.610). Já 
“as  levianas  eram  aquelas  com  quem  os  rapazes  namoram,  mas  não  casam” 
(BASSANEZI, 2001, p.612).
54 

Quanto ao vestuário, para não arruinar sua reputação, as jovens meninas não 
deveriam  usar  roupas  muito  ousadas  ou  sensuais.  Ao  sair  com  rapazes  deveriam 
respeitar algumas regras. Segundo as normas da época, o mais adequado era estar 
em companhia de outras pessoas — amigos, irmãos, parentes —, não encontrá­los 
em locais escuros ou dar abertura a intimidades. 

Quanto  ao  namoro,  “a  iniciativa  da  conquista  e  das  declarações  de  amor, 
conforme o costume, cabia ao homem, pois a mulher deveria ‘a todo momento saber 
conservar o seu lugar’” (BASSANEZI, 2001, p.614). 

Naquela  época,  de  acordo com  o  estudo  de  Bassanezi  (2001),  as  mulheres 
viviam  para  o  amor.  O  romantismo  era  característica  feminina.  Contudo,  um 
romantismo comedido, sem romper com os princípios do código da moralidade. 

Conforme  Bassanezi  (2001),  “isso  não  quer  dizer  que  todas  as  mulheres 
pensavam  e  agiam  de  acordo  com  o  esperado,  e  sim  que  as  expectativas  sociais 
faziam  parte  de  sua  realidade,  influenciando  suas  atitudes  e  pensando  em  suas 
escolhas”  (p.  608).  As  mais  intrépidas  acabavam  por  sofrer  represálias  da 
sociedade, o que impulsionou muitas das jovens a manter as aparências, para não 
sofrer  as  conseqüências  —  serem  “estigmatizadas,  discriminadas  ou  até 
abandonadas” (BASSANEZI, 2001, p.622), já que, toda a transgressão necessitava 
ser escondida. 

Em relação às diferentes personagens femininas apresentadas pelo desenho 
animado, ao longo dos tempos, selecionei duas personagens, dentre muitas outras, 
que ficaram famosas no século XX — Betty Boop e Penélope Charmosa. 

Betty  Boop 21  —  desenho  animado  produzido  pelo  estúdio  dos  irmãos 


Fleischer e sucesso desde a década de 1930  — foi uma personagem polêmica em 
seu tempo. A bela jovem se comportava de forma independente e provocadora. Com 
pernas  de  fora,  cinta­liga  e  decote  provocante,  não  demorou  muito  para  que  o 
Comitê Moralizador cobrasse de seus autores e produtores a modificação estética e 
comportamental  da  personagem.  Após  as  modificações  realizadas,  Betty continuou 
sendo perseguida e acabou por ser tirada do ar em 1939. 

21 
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Betty_Boop>. Acesso em: 29 ago. 2006.
55 

Já  o  desenho  animado  Os  apuros  de  Penélope  Charmosa,  estrelado  pela 
personagem  Penélope  Pitstop 22  ,  —  outra  produção  dos  irmãos  Fleischer  — 
conhecida  no  Brasil  como  Penélope  Charmosa,  conta  a  história  de  uma  jovem, 
herdeira  de uma  vasta  fortuna.  Seu tutor,  maior  interessado  em  sua  fortuna, passa 
boa parte dos episódios tentando se livrar da bela e inteligente Penélope. A jovem, 
esperta  e  audaciosa  em  suas  fugas,  é  auxiliada  pela  Quadrilha  Maravilha  —  sete 
gangsters bonzinhos que possuem inúmeras engenhocas. 

Na contemporaneidade, é possível perceber indícios de que outros discursos 
sobre  a  juventude  feminina,  diferentes  dos  proferidos  anteriormente,  estão  sendo 
postos em circulação. Mídia e instituições públicas e privadas, que trabalham para e 
com  o  público  juvenil,  se  reestruturaram  continuamente  para  conquistar  esses 
“novos” sujeitos constituídos numa interação constante com o contexto em que estão 
inscritos.

O que se entende por juventude é constantemente (re)significado através da 
atribuição  de  novas  características  e  funções  sociais,  destoando,  e  muito,  daquilo 
que antes se considerava “próprio” e “adequado” ao universo juvenil. 

Sarlo  (2006)  cita  um  fato  esclarecedor  em  relação  à  flexibilidade  e 


transitoriedade  do  conceito  de  juventude  ao  longo  dos  anos.  Segundo  a  autora, 
“também se reconheciam como jovens os dirigentes da Revolução Cubana e os que 
marcharam pelas ruas de Paris em maio de 1968. Tendo a mesma idade, os líderes 
da Revolução Russa de 1917 não eram jovens” (p 37). Dizendo de outro modo, os 
limites e demarcações que utilizamos para estipular e classificar a fase denominada 
juventude costuma  mudar  o  tempo todo de acordo com a sociedade  e  a  época  em 
que os sujeitos vivem. 

Minutos em frente à TV são suficientes para que passemos a perceber essas 
modificações na representação da juventude. A linguagem, as imagens, as histórias 
narradas  e  os  personagens  juvenis  que  circulam  nas  tramas  da  telinha  falam  de  e 
para sujeitos  que, cada vez  mais,  se distanciam  daqueles  “construídos”  e  narrados 
nos séculos XIX e XX. 

As  jovens  meninas  certas  vezes  narradas  —  em  livros,  revistas,  filmes, 
desenhos,  novelas,  entre  outros  —  como  puras,  inocentes  e  apreciadoras  de 

22 
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pen%C3%A9lope_Pitstop>. Acesso em: 29 ago. 2006.
56 

trabalhos  manuais,  prendadas,  meigas  e  cuidadosas  com  os  outros,  começam, 


agora, a navegar na fronteira do que venha a ser o puro e o profano, o necessário e 
o  supérfluo,  a  aquisição  e  o  consumo  desenfreado,  o  amor  e  os  relacionamentos. 
Isso não quer dizer que não havia mulheres intrépidas nos séculos XIX e XX, muito 
menos  que  ainda  não  existam  mulheres  recatadas.  Muitos romances  falam  de  tais 
personagens.  Aliás,  elas  se  tornaram  heroínas  porque  queriam  quebrar  os 
paradigmas de seu tempo, expressando uma ruptura com determinados modelos. O 
que ocorria, naquela época, é que as mais ousadas acabavam por sofrer represálias 
ao não se enquadrar nos princípios morais de sua época. 

Como  exemplo  de  transformações  nas  narrativas  em  relação  às  jovens 
meninas,  podemos  destacar  a  nova  versão  de  personagens  que  invadem  a 
programação  televisiva.  Jovens  meninas  geniais,  perspicazes  e  com  significativa 
independência povoam novelas, seriados, desenhos e programas de auditório. Sua 
inteligência,  muitas  vezes  destacada  como  similar  ou  mais  avançada  que  a  do 
adulto,  é  enfatizada  nas  explicações,  justificativas  ou  mesmo  contestações.  Nos 
momentos de conflito com um sujeito adulto, as pequenas personagens demonstram 
seus conhecimentos apropriando­se de noções científicas ou discursando a partir de 
conceitos advindos da psicologia. 

Existe  um  novo  jeito de  narrar o  jovem  apresentado pela  mídia,  em especial 


no  desenho  animado.  E  é  esse  novo  jeito  de  narrar  as  jovens  meninas  e  as 
temáticas  por  ele  discutidas  que  pretendo  problematizar  através  da  análise  dos 
episódios da série de desenho animado Três Espiãs Demais. 

Personagens  como  as  três  espiãs  —  Sam,  Alex  e  Clover  —  passam  a 


configurar, através de suas relações com a cultura, um novo jeito de olhar o mundo 
numa  perspectiva  de  jovem  menina.  Sua  busca  incansável  por  um  namorado,  o 
desânimo  e  a  infelicidade  de  não  consegui­lo,  transforma­nas  em  jovens  meninas 
sedutoras e, ao mesmo tempo ingênuas, em suas reações. Sua procura por objetos 
para  comprar sinalizam  a  importância  da  aquisição  de  produtos  que  passam  a  ser 
necessários e essenciais na composição e significação das identidades no contexto 
de  mundo  fashion  e  de  concorrência  desenfreada  por  aparência  e  elegância.  Ter 
sempre  coisas  novas  extrapola  a  aquisição  de  produtos  necessários  e  coloca  em 
evidência  o  que  Sarlo  (2006,  p.  26)  denominou  de  “colecionadores  às  avessas”, 
assunto que será trabalhado no capítulo quatro.
57 

As  três  espiãs,  em  oposição  a  muitas  das  narrativas dos séculos  XIX  e  XX, 
são  meninas  que  não  se  comportam  como  jovens  recatadas  23  .  Elas  são 
caracterizadas  como  cidadãs  do  mundo,  circulando  livremente  por  diversificados 
territórios.  Não há dúvida de que  elas  representam  um  outro  tipo  de jovem  menina 
que  passa  a  ser  visibilizada  como  um  dos  modelos  de  jovens  meninas 
contemporâneas, que a cultura parece aprovar e reforçar. 

O  que  podemos  perceber,  neste  breve  panorama  construído  em  relação  à 


trajetória  das  narrativas  relacionadas  às  jovens  meninas,  é  que  a  forma  como  a 
cultura tem olhado para as jovens meninas, o que tem sido dito sobre elas e o que a 
sociedade  delas  espera,  têm  variado  através  dos  tempos.  Há  uma  mudança  muito 
grande  entre  o  que  se  pensava,  o  que  se  dizia,  o  que  se  esperava  e  como  se 
narrava  o  mundo  feminino  até  o  século  XIX  e  aquilo  que  começa  a  acontecer  ao 
longo do século XX e início do XXI. 

Faz­se  necessário  destacar  que,  ao  longo  dos  tempos,  as  definições  e 
caracterizações,  articularam  os  pensamentos  sobre  as  jovens  meninas,  forjando 
“verdades” narradas por especialistas e reforçadas pelo capitalismo, que aglutinaram 
as significações nessa área e deram conta de fornecer ao mercado todos os objetos, 
informações e instruções para lidar com as jovens meninas. 

Assim  sendo,  todas  as  ações  perante  a  juventude feminina  passaram  a ser, 


notoriamente,  orientadas  por  estas  mutantes  “normas” que  assumiram  um  estatuto 
de  “verdade”.  Ou  seja,  o  conceito  de  jovem  menina,  aqui  referido,  nada  mais  é  do 
que uma construção discursiva que passa a ser incorporada na medida em que se 
fala,  produz  e  reproduz  sobre  ela.  Ao  mesmo  tempo  em  que  narram,  os  discursos 
constituem e formam os sujeitos. Cabe ressaltar que a construção dos discursos em 
relação à juventude feminina se dá na relação com os discursos sobre a juventude 
masculina. 

O  desenho  animado  selecionado  é  um  extraordinário  artefato  para  análise 


dessa mudança implicada na representação das jovens meninas. Por isso, escolhi­o 
para estudo e utilizo­o para apontar e discutir quais narrativas sobre jovens meninas 
são  privilegiadas  em  seus  episódios. Narrativas  que instituem uma identidade para 

23 
Tomo  o  recato  no  seu  sentido  corrente  disseminado  de  preservação  da  intimidade,  discrição  nos 
comportamento, atitudes e relacionamentos.
58 

jovens  meninas,  ensinam  como  é  uma  jovem  menina  do  século  XXI  e  fornecem 
significados que, enfim, acabam por subjetivar telespectadoras e telespectadores. 

As  Três Espiãs Demais  

Após  selecionar  a  série  de  desenho  animado  Três  Espiãs  Demais ,  um  dos 
primeiros movimentos do estudo foi o mapeamento de informações técnicas relativas 
ao mesmo.  O  processo  envolveu  a busca  por  reportagens,  fãs clubes, blogs24 
  ,  site 
oficial  do  desenho,  comunidades  no  Orkut,  pesquisas  acadêmicas,  entre  outros 
dados  relacionados  às  espiãs,  disponíveis  na  Internet.  Esse  movimento  teve  por 
objetivo  central  tentar  entender  e  colocar  em  evidência  a  repercussão  criada  em 
torno de tal programação no dia­a­dia dos jovens estudantes. 

Nessa  busca  de  elementos  para  a  pesquisa,  mobilizei­me  no  sentido  de 
rastrear aproximações possíveis do desenho com outras produções televisivas cuja 
semelhança de enredo e personagens sugeriam alguma relação. Isso se justifica por 
muitas  vezes  as  pessoas  perguntarem  se  “existe  alguma  aproximação  entre  o 
desenho animado Três Espiãs Demais e o filme As Panteras”. O que parece é que 
há indícios  da  possibilidade  de  a criação do desenho se  dar a  partir  do seriado As 
Panteras,  da década de 1970,  e  do  filme As Panteras,  produzido no  ano  2000.  Há 
também a série As espiãs — exibida de 2003 a 2004 no Canal AXN da televisão a 
cabo, de 2004 a 2005 na televisão aberta pelo SBT e em 2005 na televisão aberta 
pela  Rede  Record 25  —  que  se  assemelha  à  trama  dos  outros  dois.  Apesar  de 
acreditar  nessa  aproximação  e  de  ouvir  de  muitas  pessoas  que  isso  é  “claro”  ou 
“óbvio”,  minhas  pesquisas  não  apresentam  uma  conclusão  segura  a  respeito,  pois 
não  encontrei  declarações  dos  produtores  e  diretores  do  desenho  que  pudessem 
comprovar tal afirmação. 

O  que  pude  constatar  é  que  o  desenho  animado,  as  séries  e  o  filme 


apresentam significativas semelhanças: como personagens centrais das tramas, há 
três  lindíssimas  espiãs  do  sexo  feminino  que  buscam  desvendar  as  mais  variadas 

24 
Um  blog,  weblog  ou  blogue  é  uma  página  da  web  com  registro  cronológico.  Suas  atualizações 
(chamadas posts )  são  organizadas  cronologicamente  de  forma  inversa.  É  uma  espécie  de  diário 
virtual,  no  qual  freqüentemente  descrevem­se  fatos,  inserem­se  imagens,  publicam­se  opiniões  ou 
qualquer outro tipo de conteúdo que os autores queiram disponibilizar na web. 
25 
Disponível em: <http://superserie.vilabol.uol.com.br/aseries/espias.htm>. Acesso em 14 ago. 2007.
59 

missões,  sob  o  comando  de  uma  figura  masculina.  Do  chefe,  elas  recebem 
instruções,  informações  e  demais  acessórios  tecnológicos  necessários  para 
solucionar os grandes problemas, neutralizar perigos e riscos. 

A série As Panteras , sucesso na década de 1970, estreou na TV ABC em 22 
de  setembro  de  1976,  criada  por  Aaron  Spelling  e  Leonard  Goldberg  (os  mesmos 
produtores  de  Starsky  and  Hutch,  Justiça  em  Dobro  e  A  Ilha  da  Fantasia).  O 
programa  era  estrelado  por  três  policiais  graduadas  com  honras  na  academia  de 
polícia. As jovens eram ex­policiais e integrantes da Agência de Detetives Towsend. 
Juntas,  lutavam e  desvendavam  delitos em  lugares  exóticos e  glamourosos. O site 
Central RetroTV — Uol  também  destaca  o visual impecável  das  três  panteras  e a 
influência  da  série,  que  virou  moda  entre  o  público  feminino  da  época,  instituindo 
modelos  de  penteado  e  de  trajes  como  pantalonas,  blusas  de  frente­única  e 
écharpies. As belas espiãs seguiam as coordenadas do misterioso chefe Charlie, da 
agência  Charles  Townsend,  recebidas  através  de  um  “viva­voz”.  Conforme  as 
informações  coletadas,  as  panteras  apenas  viram  Charlie  no  último  episódio  da 
série. 

Segundo  o site Central RetroTV — Uol, o  filme  As Panteras, produzido pela 


Columbia  Pictures  e  estrelado  por  Cameron  Diaz,  Drew  Barrymore  e  Lucy  Liu, 
grande  sucesso  de  bilheteria,  foi  criado  a  partir  da  série  As  Panteras.  De  início,  a 
intenção dos produtores era que as antigas panteras participassem do filme, porém 
apenas a atriz Farrah Fawcett mostrou interesse. 

O filme 26 , co­produzido em 2000 pelos Estados Unidos e Alemanha e dirigido 
por  McG,  narra  a  história  de  três  belas,  inteligentes  e  talentosas  detetives  que 
trabalham para solucionar o seqüestro de um bilionário (Eric Knox). Charlie é o chefe 
da  agência  de  detetives,  que  também  dá  informações  e  ordens,  como  na  série,  e 
evita  sempre  o  confronto  cara­a­cara  com  suas  contratadas.  As  panteras  são 
contrárias  ao  uso  de  armas  comuns.  Elas  lançam  mão  de  equipamentos  de  alta 
tecnologia, de suas habilidades em lutas e de seu charme feminino. 

26 
Panteras (2006a, 2006b, 2006c, 2006d); Charlie’s Angels (2006), cf. ref. biblio.
60 

A série americana As Espiãs 27  — produzida pela MGM Television e pela NBC 
Enterprises — é uma criação de Craig Van Sickle e Steven Long Mitche. As Espiãs é 
uma série de ação sobre um trio de ex­presidiárias — Cassie, Shane e D.D. — que, 
por meio de um programa governamental de agentes federais, foram libertadas para 
trabalharem  em  forças  especiais  da  polícia.  As  belas  jovens  receberam  uma 
tentadora proposta: ou passavam os melhores anos de suas vidas atrás das grades 
ou mudavam para o lado da lei e usavam seus talentos criminosos a favor das forças 
especiais  da  polícia.  A  série  é  estrelada  por  Natasha  Henstridge,  que  interpreta 
Cassie,  uma  agente  elegante,  inteligente,  charmosa  e  feroz.  Antes  de  ser  presa, 
Cassie  ganhava  a  vida  como  falsificadora.  Depois  de  liberta,  ela  lidera  este  trio  de 
ex­condenadas transformadas em agentes do governo. Kristen Miller é a espiã D.D., 
meiga  e  ingênua,  a  bela  é  brilhante  quando  está  sentada  em  frente  ao  seu 
computador.  Natashia Williams  é  Shane,  durona, sexy  e  corajosa, uma  mestra  nas 
artes  marciais.  As  garotas  oficialmente  têm  de  se  reportar  a  Jack  (Carlos  Jacott), 
funcionário  do  governo.  Entretanto,  Jack  tenta,  arduamente,  durante  os  episódios, 
mantê­las nos trilhos. 

As  aproximações  das  quatro  produções  (séries,  filme  e  desenho  animado) 


destoam no que se refere à seleção das espiãs para o serviço secreto. Enquanto na 
série As Panteras a seleção partiu de um treinamento, no filme, na série As Espiãs e 
no  desenho  as  escolhas  das  jovens  obedecem  a  critérios  distintos.  No  desenho 
animado Três Espiãs Demais , conforme  o  episódio A promoção do mal — parte 1, 
as jovens foram escolhidas ainda quando eram crianças pequenas e de acordo com 
suas  aptidões.  Numa  das  cenas,  Sam,  ainda  bebê,  sentada  ao  chão,  consegue 
enlaçar  um  pote  de biscoitos  que  estava em cima da  pia,  fazendo­os cair  em  suas 
mãos. Alex foi selecionada por conseguir disfarçar­se de menino para poder jogar no 
time  de  futebol  da  escola.  Clover,  ainda  muito  pequena,  mostrava  aptidão  para  a 
espionagem, pois na cena que apresenta a sua escolha, aparece em cima de uma 
árvore, com um binóculo, observando um belo menino. 

Outro  aspecto  que  promove  discussões  em  relação  ao  desenho  seria  a 
possível  criação  e  narração  caricaturizada  da  imagem  de  jovens  meninas  norte­ 
americanas.  O  debate  surge  devido  ao  fato  de  que  o  desenho  é  uma  produção 
27 
Outras informações: http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.asp?produto=8954 
http://www.sbt.com.br/serie/espias/;  http://superseries.vilabol.uol.com.br/aseries/espias.htm; 
htt://pt.wikipedia.org/wiki/she_spies. Acesso em 15 ago. 2007
61 

francesa que narra o dia­a­dia de jovens americanas de Beverly Hills. O que ocorre é 
que  os  franceses  são  extremamente  críticos  em  relação  a  algumas  características 
atribuídas  aos  norte­americanos,  que  seriam  fascinados  por  compras  e shoppings. 
Assim  sendo,  seria  possível  pensar  que  o  desenho  exagera  na  imagem  quase 
caricatural  que constrói  acerca  do consumismo  das  heroínas  Sam,  Clover e  Alex  e 
que, talvez, ele vise a fazer uma crítica a essa face da cultura e da sociedade norte­ 
americana.  Entretanto,  também  é  possível  supor  que,  pela  boa  penetração  e 
aceitação da série de desenho animado não só nos Estados Unidos como no Brasil 
e  em  outros  países,  a  identificação  com  a  imagem  e  com  as  características  das 
personagens  é  um  fenômeno  “globalizado”,  fato  que  pode  ser  evidenciado  nas 
produções textuais de minhas alunas. 

Durante o levantamento de informações, apurei, também, a existência de dois 
trabalhos  acadêmicos  que  fazem  referência  ou  tematizam  a  série  de  desenho 
animado  Três  Espiãs  Demais  —  Televisão,  Criança  e  Educação:  as  Estratégias 
Enunciativas de Desenhos Animados 28 , de Maria Nazareth Bis Pirola, e Televisão e 
Infância: Algumas reflexões a partir de produções infantis e seus possíveis reflexos 
na cultura de movimento das crianças 29 , de Mariana Mendonça Lisboa. 

A dissertação de Maria Nazareth Bis Pirola — Televisão, Criança e Educação: 
as  Estratégias  Enunciativas  de  Desenhos  Animados  —  enfoca  a  análise  das 
vinhetas  de  abertura  de  três  desenhos  animados:  Homem­Aranha,  Três  Espiãs 
Demais  e  Shaman  King.  A  autora  parte  do  princípio  de  que,  nas  vinhetas,  o 
enunciador  faz  uma  espécie  de  resumo  dos  desenhos,  apresenta  e  caracteriza 
personagens e expõe principais espaços e lugares. Faz­se necessário destacar que 
o  trabalho  se  aproxima  da  presente  pesquisa  no  que  tange  à  percepção  de  que 
existe  a  forte  presença  do  consumo  de  objetos  no  dia­a­dia  das  jovens  espiãs. 
Entretanto, se distancia do presente trabalho no enfoque dado ao estudo e na linha 
de pesquisa e referencial teórico. 

O  trabalho  de  conclusão  de  disciplina  de  mestrado  —  Televisão  e  Infância: 


Algumas reflexões a partir de produções infantis e seus possíveis reflexos na cultura 
de  movimento  das  crianças  —  de  Mariana  Mendonça  Lisboa  teve  por  objetivo 
analisar o conteúdo de algumas produções televisuais infantis. A autora percebe­os 

28 
Pirola (2006), cf. ref. biblio. 
29 
Lisboa (2007), cf. ref. biblio.
62 

como  parte  do  universo  simbólico  que  a  cultura  oferece  para  a  constituição  dos 
sujeitos.  Segundo  a  pesquisadora,  esses  programas  acabam  se  constituindo  em 
importante  elemento  no  mundo  infantil,  carregados  de  sentidos/significados 
compartilhados que precisam ser estudados/refletidos pela educação que se deseja 
transformadora.  O  trabalho  faz  a  análise  dos  desenhos  animados  Três  Espiãs 
Demais  e  BeyBlade  e  coloca  em  evidência  questões  que  se  aproximam  desta 
pesquisa  —  consumo  de  objetos  e  hiper­valorização  do  corpo  —  porém,  seu 
enfoque esportivo e o curto período de produção diferencia­o do presente trabalho. 

O desenho animado Três Espiãs Demais é produzido pela empresa francesa 
Marathon Production, fundada em 1990 por Olivier Brémond e Pascal Breton e que, 
em 1999, recebeu Vincent Chalvon­Demersay como sócio. A empresa de animação, 
com  estúdios  próprios  em  Paris  e  na  Itália,  segundo  informações  do  site  oficial 30 , 
conquistou  seu  espaço  em  produção  e  distribuição  de  programas  de  TV  e  tem 
relação com mais de cem divulgadores franceses e internacionais. 

De acordo com o site oficial da Marathon, a produtora tornou­se uma empresa 
reconhecida  no  campo  do  drama,  animação  e  documentário.  Com  a  chegada  de 
Vincent  Chalvon­Demersayem,  a  empresa  cresceu  na  animação  infantil,  com  60% 
de suas vendas  destinadas a  esse setor.  A estratégia  da  instituição é concentrar  a 
produção  em  séries  de longa  duração  e  alta  propaganda  em  países  como  Estados 
Unidos, Alemanha, Canadá e Itália. 

O desenho animado Três Espiãs Demais foi criado e é produzido por Chalvon 
Demersay  e  David  Michel  e  dirigido  por  Stéphane  Berry.  Os  quase  duzentos 
episódios das Três Espiãs Demais estão no ar em muitos países do mundo. No site, 
além  da  sinopse  do  desenho,  encontramos  diversas  reportagens  sobre  o  sucesso 
das três espiãs pelo mundo desde 2001. 

Segundo  as  informações  coletadas  no  site  da  Marathon,  além  de  sua 
distribuição no território brasileiro pela Rede Globo de Televisão, o desenho também 
já foi adquirido por redes de outros países 31 . 

30 
Informações coletadas no site oficial da empresa Marathon: <http://www.marathon.fr>. 
31 
Canal Sur (Espanha); BB TV7 (Tailândia); Alter Channel (Grécia); ABS CBN (Filipinas); Abc Family 
(Estados  Unidos),  Broadcasting  (Chipre);  Channel  4  (Reino  Unido);  Channel  1  (Romênia);  CFI 
(Divers) Cartoon Network Japan (Japão); Kanal D (Turquia); Fox Latin America (América Latina); Fox 
Kids  Europe  (Bélgica,  Países  Baixos,  Israel);  Disney  Ásia  (China,  Índia,  Taiwan);  Prava  i  Provodi 
(Bósnia);  PT  Indonésia  (Indonésia,  Sri  Lanka);  Nickelodeon  (Austrália);  MTV  3  (Finlândia);  Koko 
Enterprise  (Coréia  do  Sul);  RTL  TVI  (Luxemburgo);  RTB  (Brunei);  Romanian  TV  (Romênia);  Rete
63 

Reportagens  no site  oficial da Marathon Production  comentam  o  sucesso  da 


série  em  diferentes  localidades.  No  Canadá,  por  exemplo,  a  reportagem  do  dia 
27/04/06  noticia  que  estava  previsto  para  o  último  trimestre  de  2006  o  lançamento 
de caixas com quatro DVDs. 

Conforme informações da Marathon, em reportagem do dia 21/11/05, a série 
de  desenho  animado  já  alcançou  picos  de  62%  de  audiência  em  seu  horário  de 
exibição.  Para  a empresa,  o  grande desafio dos  produtores  é superar  o  espantoso 
sucesso alcançado por Pokémon, que chegou a 70% da audiência em seu horário. 
Orgulho  da  Marathon,  Três  Espiãs  Demais  é  a  única  série  infantil,  mundialmente 
conhecida, escrita, produzida e desenvolvida por uma companhia francesa, algo que 
dificilmente acontece em um mercado dominado por japoneses e americanos. 

De  acordo  com  a  reportagem Totally  Spies:  totally  successful!,  de  09/04/05, 


coletada  no  site  oficial  da  empresa,  entre  as  três  séries  francesas  mais  assistidas 
nos Estados Unidos, Três Espiãs Demais é o primeiro programa francês a alcançar 
sucesso real no mercado americano. A reportagem também noticia o lançamento de 
um jogo de celular e do quarto livro da série e comenta o sucesso do disco com as 
músicas  do  desenho  animado,  que  atingiu  a  marca  de  mais  de  50  mil  discos 
vendidos entre os meses de junho e agosto de 2004. Ainda segundo essa matéria, a 
Marathon lançou na Europa, como brindes na compra do hambúrguer, em sociedade 
com  a  rede  de  fast  food  McDonald’s  (março  a  junho  de  2005),  acessórios 
colecionáveis das Três Espiãs Demais (relógio, pingente, bolsa e xampu). 

A  Rede  Dez  (australiana),  uma  empresa  privada  de  programas  infantis, 


adquiriu,  em  2005,  78  episódios  da  série.  Foi  a  primeira  vez  que  essa  empresa 
comprou  programas  franceses.  Segundo  a  reportagem  Network  Ten  Australia 
acquires  Totally  Spies,  do  dia  11/02/05,  estava  previsto  para  o  ano  de  2005  o 
lançamento de cosméticos da linha Três Espiãs Demais, na Austrália. 

Vincent Chalvon­Demersay, criador e gerente geral da Marathon, afirma que: 

Este  sucesso  é  devido  ao  fato  de  termos  criado  um  programa 
verdadeiramente  original.  Nós  quebramos  todas  as  regras  existentes  e 
nossa  escolha,  apoiada  pelo  TF1,  parece  lógica  agora,  mas  naquele 

Italia  (Itália);  Pro  7  (Alemanha  &  Áustria,  Malásia);  SABC  (África  do  Sul);  RUV  (Islândia);  RTP 
(Portugal);  RTE  (Irlanda);  TV  Catalunya,  TV  Madrid,  TV  Valenciana,  TV  de  Galicia,  TV  Vasca, 
Canarias  TV  (Espanha);  TSR  (Suíça);  Televisa (México);  Teletoon  (Canadá);  TBL  (Hong  Kong);  TV 
Panama  (Panamá);  TV12  (Singapura);  TV3  (Nova  Zelândia);  TV2  Norway  (Noruega);  TV2  Denmark 
(Dinamarca); VT 4 (Bélgica); Venevision (Venezuela); TV Tokyo (Japão).
64 

momento  foi  extremamente  audaciosa:  escolher  meninas  para  serem  os 


personagens principais e heroínas de uma série de animação. (CHALVON­ 
DEMERSAY, 2005) 

Para  David  Michel,  assistente  geral  da  Marathon  e  criador  da  série  de 
desenho animado Três Espiãs Demais: 

Ação,  comédia,  sem  sentimentalismo,  sempre  examinando  o  significado 


por  trás  das  típicas  fixações  das  meninas  adolescentes...  Esses  são  os 
ingredientes secretos do programa. Sua diferente abordagem nos inquieta, 
sendo muito benéfica para nós. (CHALVON­DEMERSAY, 2005) 

Conforme informações do site oficial da empresa produtora do desenho — na 
reportagem Totally Spies: totally successful! de 9 de abril de 2005, após três anos de 
sucesso, a TF1 32  elaborou um evento especial para a série, exibindo cinco episódios 
consecutivos em sua programação, com audiência de 43,6%. 

A  Marathon  —  segundo  a  reportagem  Totally  Spies!  Lands  on  Germany’s 


Super  RTL!,  de  25/03/2006,  encontrada  no  site  da  empresa  —  estava 
desenvolvendo,  no  ano  de  2006,  uma  linha  de  produtos  —  tais  como:  jogos  de 
celular,  livros,  acessórios,  videogames,  mochilas,  software  interativos,  entre  outros 
— com lançamentos previstos para o mesmo ano. 

No  site  Wikipedia,  além  de  dados  técnicos  sobre  o  desenho,  é  possível 
encontrar  informações  sobre  um  projeto  envolvendo  a  produção  de  um  longa 
metragem para Três Espiãs Demais , previsto para o ano de 2007. 

No  Brasil, segundo  a  reportagem  Três  Espiãs Demais  terá  produtos 

no  Brasil 33  ,  encontrada  no  site  da  Associação  Brasileira  de 


Licenciamento,  a  série  de  desenho  animado  Três  Espiãs  Demais, 
juntamente  com  Bob  Esponja,  foi  o  desenho  mais  exibido  pela 
Rede  Globo  de  Televisão  em  2005.  Já  o  site  Mídia  Ativa 34 
apresenta o desenho como sucesso no Brasil nos anos de 2004 e 
2005.  A  afirmação  é  resultante  de  uma  pesquisa  realizada  pela 

32 
TF1 é um canal francês privado e aberto de televisão. 
33 
Dados segundo a Associação Brasileira de Licenciamento (ABRAL, 2006), cf. ref. biblio. 
34 
Flintstones... (2006), cf. ref. biblio.
65 

Eurodata. O  estudo  apresentou o desenho com  audiência de 13% 


em todo o país. 
Navegando no Orkut, encontramos hoje, 20/08/07, cerca de duzentas e nove 
comunidades que fazem referência à série de desenho animado Três Espiãs Demais 
—  aproximadamente  cento  e  cinqüenta  e  quatro  a  mais  do  que  o  número  de 
comunidades  identificadas  no  período  de  elaboração  do  projeto  da  presente 
pesquisa —, algumas com mais de vinte e dois mil participantes. Entre os tópicos de 
discussão,  encontramos  questionamentos  tais  como Qual a espiã que você mais
gosta?, Com qual das espiãs você se parece?, Qual dispositivo das espiãs você
gostaria de possuir?, Qual espiã é a mais bonita?, Qual arma você gostaria de ter?. 
Surpreendentemente,  as  repostas  são  preenchidas  por  pessoas  tanto  do  sexo 
masculino quanto do sexo feminino e das mais variadas idades. Saliento inclusive o 
depoimento de um rapaz de dezenove anos no fórum “Qual espiã você gostaria de 
ser?”. Sem grandes pudores, ele afirma que gostaria de “ser o Clover”, o que seria 
uma  espécie  de versão  masculina  para  a  espiã  Clover.  E,  ainda,  o  depoimento  de 
Zopo — jovem de dezenove anos — que participou da enquete: Quantos anos você
acha que o Jerry tem? 

O  que  parece  é  que  o  endereçamento  do  desenho  acaba  por  abarcar  um 
contingente bastante distinto de fãs que buscam não só discutir como também viver 
um  pouco  desse  mundo  de “espião  demais”.  Um  bom  exemplo são as  dezenas  de 
blogs  dedicados  à  série  de  desenho  animado,  encontrados  na  Internet.  Em  alguns 
blogs que mencionam as espiãs — como é o caso do blog Três Espiãs Demais 35  — 
é  possível  encontrar  a  descrição  e  a  criação de  episódios  por  autores  do blog  e  a 
discussão  e  comentários  de  muitos  internautas.  Na  Internet,  também  é  possível 
encontrar  uma  infinidade  de sites que apresentam  letras  de músicas,  bate­papos  e 
mercadorias  referentes  às  três  espiãs.  Em  vista  do  elevado  número  de  sites, 
comunidades  no  orkut,  blogs  e  reportagens  acerca  da  série  de  desenho  animado 
Três Espiãs Demais, é possível perceber o quão grande é sua produtividade no dia­ 
a­dia dos sujeitos, sejam eles crianças, jovens e adultos. 

35 
Informações  disponíveis  em:  <http://fotolog.terra.com.br/espiasdemais:1>.  Acesso  em:  23  ago. 
2007.
66 

Quanto à produção do desenho, conforme o site Wikipédia 36 , a série é um dos 
exemplos de desenho animado que imitam os animes 37  japoneses. 

Os  estudos  de  Sato  (2005)  mostram  que  o  Japão  —  nação  oriental  que 
permaneceu  por 1500  anos  quase  intocada devido  a sua localização geográfica  — 
começou a  interagir culturalmente com  outras nações somente  a partir  da segunda 
metade  do  século  XIX,  momento  em  que  buscava  desenvolver  sua  economia  e 
industrialização.  Durante  a  Segunda  Guerra  Mundial,  um  novo  bloqueio  se 
estabeleceu, já que o país acabou por se aliar à Itália e à Alemanha. O pós­guerra, 
caracterizado pela busca da paz e da reconstrução do país, despertou a curiosidade 
e  o  fascínio  de outros  povos  em relação a  uma  cultura tão distinta das conhecidas 
culturas ocidentais — “[...] samurais e catanas, quimonos de seda, gueixas, bonsais, 
templos e cerejeiras em flor [...]” (SATO, 2005, p.28). 

A  autora  afirma  que,  “por  volta  de  1910,  as  platéias  japonesas  passaram  a 
conhecer  desenhos  animados,  graças  ao  cinema.  Eram  curtas­metragens  mudos 
produzidos  no que hoje se chama  núcleo  pioneiro  de  animação de  Nova  York [...]” 
(SATO,  2005,  p.29­30).  Esse  processo  acabou  por  motivar  a  produção  nacional, 
mobilizando desenhistas japoneses a produção por iniciativa individual. 

Em relação à origem da palavra anime, Sato (2005) sublinha que: 

Até a ocupação norte­americana, os desenho animados no Japão eram em 
geral  chamados  de  dõga  (‘imagens  em  movimento’).  Essa  expressão 
servia  também  para  definir  ‘filme’.  Não  havia  na  língua  japonesa  uma 
palavra distinta que significasse “animação”. A influência estrangeira trouxe 
ao idioma japonês novas expressões, derivadas do inglês [...].  A partir da 
década  de  1950,  o  termo  anime,  derivado  do  inglês  animation,  passou  a 
ser  usado  como  sinônimo  de  desenhos  animados.  Com  a  difusão  de 
produções de animação japonesa no exterior a partir da década de 1980, a 
palavra  ‘animê’  virou  sinônimo  de  animação  com  a  estética  e  a  técnica 
desenvolvidas  pelos  japoneses,  embora  no  Japão  ela  signifique  todo  e 
qualquer desenho animado, japonês ou não. (p.31­32) 

Conforme  a  autora,  “sem  qualquer  intenção  premeditada,  as  produções  de 


animação  japonesas  foram  exportadas  e  televisionadas  a  vários  países  a  partir  da 
década de 1960, como alternativa de diversão despretensiosa” (SATO, 2005, p.29). 
Olhos grandes, cabelos espetados (embora não haja relação com a realidade física 
oriental),  uniformes  escolares,  entre  outros,  passaram  a  ser  traços  conhecidos  no 

36 
Totally_Spies (12 set. 2006), cf. ref. biblio. 
37 
Palavra  derivada  do  inglês  animation  e  trazida  para  o  Japão  após  a  ocupação  norte­americana, 
passou a ser usada como sinônimo de desenho animado.
67 

mundo todo e caracterizados como pertencentes à estética japonesa. Segundo Sato 
(2005),  o  fenômeno  de  popularização  dos  desenhos  animados  japoneses  no 
ocidente ainda é muito recente, se deu a partir da década de 1980, década em que a 
produção de animação para TV atingiu seu ápice no país — somente em Tóquio, se 
concentravam mais de dez mil profissionais da área de animação. 

Os  animes  japoneses  trazem  consigo  características  que se  distinguem  dos 


demais  desenho  animados.  De  acordo  com  o  site Wikipedia,  freqüentemente,  eles 
apresentam  enquadramentos  ousados,  cenas  muito  movimentadas,  o  uso  de  uma 
direção de arte ágil e a abordagem de temas variados. Geralmente, as situações de 
humor  envolvem  enredos,  enquadrados  em  uma linguagem endereçada ao  público 
adulto. 

Em  relação  às  cores, Luyten  (2000)  afirma  que,  dentro  da  cultura  japonesa, 
elas também fazem parte do enredo e contribuem para a composição do contexto da 
história  apresentada.  Suas  simbologias  ajudariam  na  composição  da  atmosfera 
contextual do desenho. A autora enfatiza que 

Os  japoneses, em  contraste  com os  ocidentais, têm uma visão das  cores 


num plano horizontal intuitivo e dão pouca atenção à influência da luz. As 
cores,  mesmo  se  intensas  ou  suaves,  não  são  muito  identificadas  com 
base  no  reflexo  de  luz  e  sombra  mas  em  termos  do  significado  ou 
sentimento associado a elas. (LUYTEN, 2000, p.45) 

O  estudo  apresentado  por  Luyten,  no  livro  Mangá:  o  poder  dos  quadrinhos 
japoneses  (2000),  expressa  o  significado  de  algumas  cores  para  a  cultura  oriental. 
Para  os  japoneses,  conforme  os  registros  da  autora,  o  vermelho  combinado  com 
branco, por exemplo, faz referência à vitalidade e à pureza. Sua combinação sugere 
aos  japoneses  felicidade  ou  celebração.  Já  o  verde  é  a  cor  da  vida  e  do  espírito 
eterno,  pois  representa  a  forte  integração  do povo  com  a  natureza,  sua  tonalidade 
indica a complexidade da vida e do espírito. O azul, relacionado ao fato de o Japão 
ser  um  arquipélago,  denota  algo  materno  ou  envolvente.  O  mistério  e  a  idéia  de 
desconhecido  são  atribuições  do  preto.  Enquanto  o  amarelo  e  o  dourado 
demonstram a felicidade perto da colheita do arroz (LUYTEN, 2000). 

O  design  dos  personagens  também  se  distingue  dos  demais  programas  do 
gênero.  Olhos  grandes,  muito  bem  definidos,  redondos  ou  rasgados,  cheios  de 
brilhos  e  com  cores  chamativas  compõem  os  personagens  dos  animes.  Segundo 
informações coletadas no site Wikipedia, talvez isso se deva ao fato de que, para a
68 

cultura  japonesa,  “os  olhos  são  a  janela  da  alma”.  Cabelos  de  todas  as  formas, 
cores, tamanhos, volumes e penteados, com laços, fitas e afins; corpos esculturais e 
muito  bem  delineados;  roupas  coloridas  e  cheias  de  estilo;  personagens  de 
expressiva  personalidade  e  vozes  muito  características  —  poderosas,  infantis, 
estridentes, harmoniosas ou cavernosas — dão ao telespectador a oportunidade de 
conhecer e se familiarizar com os personagem que povoam os animes. 

Outra característica  marcante  nos anime  japoneses são os sinais visíveis  de 


sentimentos, utilizados em cenas de comédia. Personagens com dentes e chifres em 
momento  de  raiva,  a  diminuição  súbita  para  representar  vergonha,  a  saliência  de 
nervos  na  testa  para  ilustrar  a  raiva  e  a  reconhecida  gota  d’água  ao  lado  do  rosto 
nas  situações  de  constrangimento  são  alguns  dos  atributos  que  podemos  conferir 
nesse tipo de produção. 

A  breve  caracterização  do  anime,  recém  apresentada,  tem  por  objetivo 


familiarizar o leitor em relação a esse tipo específico de produção. A exposição quer 
oportunizar ao leitor um conhecimento mais apurado em relação à hipótese de que a 
série de desenho animado Três Espiãs Demais seja uma imitação de um anime  — 
embora  consiga  identificar  muitas  de suas  características  na série  — sem  o  intuito 
de assegurar que seja verossímil a afirmação.
69 

CAPÍTULO 4
O CONSUMO COMO IDENTIFICADOR CULTURAL DA
PÓS-MODERNIDADE

Na corrida dos consumidores, a linha de chegada


sempre se move mais veloz
que o mais veloz dos corredores; mas a maioria
dos corredores na pista tem músculos muito
flácidos e pulmões muito pequenos para correr
velozmente. (BAUMAN, 2001, p.86)

A pós­modernidade 

Ao me dedicar minuciosamente ao estudo da série de desenho animado Três 
Espiãs  Demais ,  e  após  assistir  a  dezesseis  episódios,  muitos  questionamentos 
começaram  a  se  constituir  e  a  sugerir  caminhos  e  focos  para  as  análises  desta 
dissertação. 

Algumas indagações começaram a povoar meus pensamentos e a colocar em 
destaque  suspeitas  que  me  intrigavam  em  relação  ao  desenho  e  à 
contemporaneidade.  O  que  mobiliza  os  indivíduos  a  ”querer”,  incansavelmente, 
consumir  objetos,  imagens  e  relacionamentos?  O  que  assegura  e  reafirma  a  ação 
constante  de  descartabilidade  das  coisas  que  adquirimos?  Em  que  contexto  tais 
ações se justificam? 

As  possíveis  pistas  que  gradativamente  encontrei  não  se  constituíram  em 
respostas,  mas,  sim,  em  uma  perspectiva  que,  sob  a  ótica  dos  Estudos  Culturais, 
coloca  em  evidência  as  diferentes  faces  do  consumo  e  acaba  por  inserir  as
70 

protagonistas da série  — Sam, Alex e Clover — em um contexto compatível com a 
condição pós­moderna. 

Penso ser necessário, neste momento, iniciar o presente capítulo destacando 
algumas  características  e  peculiaridades  da  vida  nos  tempos  pós–modernos  para 
demonstrar  a  possível  inserção  do  desenho  animado  no  contexto  do  mundo  pós­ 
moderno. 

A  modernidade, cujos contornos surgem  nos  meados  do século  XVI,  era um 


projeto  para  superar  as  condições  bruta,  pobre  e  solitária  dos  indivíduos.  Inserido 
num  processo  civilizatório,  o  indivíduo  —  caracterizado  como  bárbaro,  primitivo  — 
deveria adquirir um conjunto de habilidades que o tornaria apto à convivialidade. 

Nesse  processo  de  passagem  daquilo  que,  grosso  modo,  poderíamos 


caracterizar como domínio dos irracionalismos e desordem para a racionalidade e a 
organização,  estabeleceu­se um conjunto de saberes e verdades que deveriam ser 
disseminados. Verdades que, segundo Costa (2005b), eram e ainda são: 

[...]  inteiramente  construídas,  engendradas  no  interior  da  cultura  e  não 


decorrem  de uma suposta natureza humana ou de uma suposta natureza 
do  social.  Elas  resultam,  isto  sim,  de  minuciosas  tramas  de  saberes  e 
poderes e são, portanto, contingentes, radicalmente históricas. (p.204) 

A modernidade pretendeu assentar­se sobre verdades absolutas e universais, 
construídas  no  interior da cultura, e  acreditava  em  identidades  que se constituiriam 
centradas  e  estáveis.  Tudo  o  que  se  pensava  ou  fazia  era  previsível,  esperado, 
cartográfico,  delimitado  e  engessado,  já  que,  na  modernidade,  “[...]  grandes 
narrativas fundadoras com seus sistemas totalizantes e explicações generalizáveis e 
definitivas”  (COSTA,  2005b,  p.210)  pretendiam  nortear  a  ação  dos  sujeitos  e  das 
sociedades. 

“As identidades modernas eram territoriais e quase sempre monolingüísticas” 
(GARCIA­CANCLINI,  2006,  p.45).  Os  sujeitos  fixavam­se  a  uma  região 
geograficamente  determinada  e  a  questões  étnica  e  culturalmente  definidas  por 
fazer parte de uma nação. 

No mundo moderno, outras eram as vivências e outros eram os objetivos que 
mobilizavam  mulheres  e  homens  a  seguir  suas  vidas.  Nas  palavras  de  Bauman 
(1999):
71 

Aquela velha sociedade moderna engajava seus membros primordialmente 
como  produtores e  soldados; a  maneira  como  moldava  seus  membros, a 
“norma”  que  colocava  diante  de  seus  olhos  e  os  instava  a  observar,  era 
ditada pelo dever de desempenhar esses dois papéis. A norma que aquela 
sociedade colocava para seus membros era a capacidade e a vontade de 
desempenhá­los. (p.88) 

Assim sendo, as pessoas, desde muito pequenas, projetavam seus caminhos 
— esperavam ansiosos o dia de seus casamentos, o momento em que teriam seus 
filhos,  o  tipo  de  vida  que  as  condições  econômicas  e  o  trabalho  lhes  poderiam 
garantir  —  e  buscavam  segui­los  à  risca.  Caminhos  predeterminados,  etapas 
detalhadas  e  previsíveis,  objetivos  claros  e  fins  absolutos  reduziam  as  opções  e 
delimitavam as oportunidades dos sujeitos modernos. Uma vida nem  muito aquém, 
nem muito além, já que o além era sinônimo de ostentação e luxo, ou seja, pecado. 
Características,  objetivos  e  sonhos  máximos  eram  estipulados  para  desejar  e 
perseguir.  Tudo  o  que se  fazia  passava pelo  crivo  da aprovação social  e, portanto, 
partia, segundo Bauman (2001), de normas reguladas e reguladoras. 

Significativas  mudanças  e  transformações,  nesse  mundo  moderno, 


mobilizaram  autores  como  Bauman  (1999,  2001  e  2004),  Garcia­Canclini  (2006), 
Sarlo  (2006)  e  também  Costa  (2004,  2005a,  2005b  e  2007),  entre  outros,  a  refletir 
sobre  a  vida  dos  sujeitos  na  contemporaneidade,  denominada  e  identificada  por 
muitos  como  pós­modernidade.  Um  novo  mundo  que  é  percebido  como  “[...] 
contingente,  gratuito, disperso,  instável, diverso e  imprevisível”. (COSTA,  2005b,  p. 
210). Marcado, segundo a autora: 

[...]  entre  outras  coisas,  pelo  mundo  disperso  e  efêmero  das  novas 
tecnologias, pelo consumo de toda a sorte de produtos da indústria cultural 
(inclusive  imagens,  identidades  e  modos  de  ser),  por  variadas  e  difusas 
políticas  de  identidade,  por  conformações  de  curto  prazo  e  grande 
flexibilidade no trabalho [...]. (COSTA, 2005b, p.209) 

Assim  sendo,  a  pós­modernidade  abre  mão  dos  sistemas  totalizantes  e  das 


explicações  definitivas  para  assumir  “[...]  uma  condição  de  instabilidade, 
ambigüidade e efemeridade [...]” (COSTA, 2005b, p.210). 

O  que  ocorre  é  que  vivemos  em  um  século  caracterizado  “[...]  pela 
transitoriedade da mercadoria e pela instabilidade dos valores” (SARLO, 2006, p.22), 
aliadas à excessiva oferta de oportunidades extremamente atraentes. No mundo do 
efêmero  e  da  novidade,  muitos  podem  ser  os  caminhos,  diferentes  podem  ser  as 
conquistas, porém não há chegada previsível.
72 

O vasto número de possibilidades consome e agoniza os sujeitos em relação 
à escolha de seus objetivos. 

Conforme Bauman (2001), 

Nesse  mundo,  poucas  coisas  são  predeterminadas,  e  menos  ainda 


irrevogáveis. Poucas derrotas são definitivas, pouquíssimos contratempos, 
irreversíveis;  mas  nenhuma  vitória  é  tampouco  final.  Para  que  as 
possibilidades  continuem  infinitas,  nenhuma  deve  ser capaz  de  petrificar­ 
se em realidade para sempre. (p.74) 

Vivemos  no  mundo  das  oportunidades,  que  extrapolam  a  quantidade 


humanamente possível de ser experimentada e nos inscrevem em uma liberdade de 
ser e estar inacabado e incompleto. O que se percebe é que o sujeito pós­moderno 
é  um  ser  inacabado  que  sobrevive  à  deriva,  navegando  no  mar  das  incertezas  e 
enfrentando as turbulentas ondas de ansiedade na busca dos caminhos a percorrer. 
Agora, não mais territorializado em sua nação, transita nas lógicas das significações 
do mercado mundial. 

Outro importante fator que caracteriza a vida pós­moderna é o deslocamento 
das  autoridades  de  um  patamar  de  exclusividade,  determinação,  prescrição  e 
ordenamento,  para  um  patamar  de  sedução  e  tentação.  Na  modernidade,  líderes 
mobilizavam  multidões  na  busca  de  um  mundo  melhor.  Hoje,  conselheiros 
conduzem  a  vida  pessoal  dos  sujeitos,  para  ajudá­los  com  seus  problemas 
peculiares, porém, interessantemente, comuns problemas pessoais. Livros de auto­ 
ajuda  como  o  de  Melody  Beattie 38  (Codependent  no  More)  afirmam  que  devemos 
cuidar de nossos problemas, pois “há pouco a ganhar fazendo o trabalho dos outros, 
e  isso  desviaria  nossa  atenção  do  trabalho  que  ninguém  pode  fazer  senão  nós 
mesmos”. 

Focados, agora, nos problemas pessoais a serem resolvidos, os conselheiros 
passam  a  colocar  em  evidência  os  exemplos  a  serem  seguidos.  Os  exemplos 
passam a ser a esperança de que existe uma trajetória possível para que possamos 
alcançar a felicidade ou ao menos para que possamos nos desfazer do sentimento 
de infelicidade. “Olhando para a experiência de outras pessoas, tendo uma idéia de 
suas  dificuldades  e  atribuições,  esperamos  descobrir  e  localizar  os  problemas  que 
causaram nossa própria infelicidade, dar­lhes um nome e, portanto, saber para onde 
olhar para encontrar meios de resistir a eles ou resolvê­los” (BAUMAN, 2001, p.78). 
38 
Mencionado por Bauman no livro Modernidade Líquida (2001, p.77).
73 

Assim, gradativamente, os meios de comunicação foram invadidos por casos 
privados,  que  acabaram  por  se  tornar  constituintes  da  vida  pública.  Hoje,  o  que 
podemos  observar é  que  dramas  privados  são  encenados  e  vividos  nos  palcos  da 
esfera pública (BAUMAN, 2001). Dessa forma, as pessoas sob os holofotes da mídia 
têm o “poder” de mostrar o que é importante realizar em nossas vidas. 

Nesse  contexto,  podemos  considerar  que  as  jovens  espiãs  colocam  em 
evidência, descrevem, constituem e representam não só suas aventuras e missões, 
mas  também  sua  vida  privada.  Elas  carregam  consigo  a  importante  tarefa  de 
“mostrar” uma das possibilidades, um dos caminhos possíveis a serem seguidos por 
jovens meninas em suas vidas. 

Seria  então  essa  a  fórmula  secreta  para  o  alcance  da  felicidade:  observar 
erros e acertos já cometidos e seguir caminhos já percorridos? Talvez, para alguns 
poucos desavisados, essa seja uma forma de temporariamente realizar­se. Contudo, 
buscar a felicidade — com a pretensão de que ela seja cultural e socialmente para 
sempre  —  é  a  ilusão  de  muitos  cidadãos  que  ainda  não  perceberam  o  quanto 
estamos  engajados  em  uma  sociedade  marcada  pela  efemeridade  e  rápida 
obsolescência. Na qual a felicidade se consome no instante em que se realiza. Hoje, 
vive­se  uma  felicidade  pela  metade,  que como  um  aperitivo,  desperta  a  fome  sem 
poder  saciá­la  (FREIRE  COSTA,  2005).  O  que  podemos  perceber,  como  muitos 
autores vêm tentando discutir e tematizar, é que, para muitos, a satisfação tem seus 
dias contados, pois cada vez mais o desejo de consumir se esvai no próprio desejo, 
que rapidamente é substituído por outro. Vivemos no mundo das possibilidades. Os 
objetos que nos seduzem se renovam a cada instante. 

A  efemeridade  das  coisas  que  possuímos,  e  também  dos  nossos  desejos, 


pode ser observada o tempo todo em narrativas da mídia. Menciono, aqui, a título de 
exemplo,  dois  dos  episódios  analisados  no  desenho  Três  Espiãs  Demais:  Dor  de 
Dente  (Neste  episódio,  a  bolsa  da  marca  Mute  é  o  objeto  de  desejo  de  Clover  no 
início  do  programa  e,  ao  final,  já  desvalorizada,  é  substituída  pela  bolsa  da  marca 
Mússia)  e  Natal  do  Mal  (Neste  episódio,  a  personagem  Clover  almeja, 
desesperadamente, uma bota Yves Mont Blanc. Contudo, ao final do episódio, após 
fazer  de  tudo  para  adquiri­la,  Clover  doa  sua  bota  para  Mandy,  pois  ela  já  estava 
fora de moda. A nova onda do momento era George Vivaldi).
74 

A velocidade com que os produtos do consumo são liquidados nos envolvem 
em uma incansável e inacabada corrida, porém, conforme Bauman (2001): 

Nenhum dos prêmios é suficientemente satisfatório para destituir os outros 
prêmios de seu poder de atração, e há tantos outros prêmios que acenam 
e  fascinam  porque  (por  enquanto,  sempre  por  enquanto, 
desesperadamente por enquanto) ainda não foram tentados. (p.86) 

O consumo como identificador 

Assim  como  a  sociedade  sofreu  transformações,  o  consumo  recebeu,  ao 


longo da  modernidade e, atualmente,  na pós­modernidade,  distintas características 
e  atribuições.  Os  jovens  de  hoje,  melhor  inseridos  e  já  nascidos  em  um  contexto 
pós­moderno,  o  realizam  de  forma  hábil  e  prática.  Fato  que  não  se  repete  se 
colocarmos, hoje, nossos avós a navegar no atribulado mar de oportunidades que o 
mercado oferece. 

Contudo, esse aprendizado realizado pelos jovens não se refere à capacidade 
intelectual  juvenil,  mas  a  uma  aptidão  que  vem  sendo  ensinada  na  pós­ 
modernidade,  já  que  desde  muito  jovens  “os  indivíduos  consomem,  porque 
aprenderam a associar consumo à felicidade” (FREIRE COSTA, 2005, p. 137). 

Na  modernidade, tempo  e  condição sob  a  qual  teriam  vivido  nossos  avós,  o 


ato  de  consumir  um  produto  fazia  parte  das  tarefas  necessárias  para  suprir  o 
essencial  ao  sujeito.  Comprar  um  carro,  roupas,  casa,  entre  outras  coisas,  fazia 
parte  de  objetivos  estabelecidos  previamente.  Assim  que  adquiridos,  os  produtos 
apenas  seriam  substituídos  quando  necessário  —  ou  seja,  quando  estragados, 
quebrados, irreparáveis. O valor de estima também influenciava na hora da decisão 
de  desfazer­se  ou  não  dos  “seus”  objetos.  Os  objetos  carregavam  significados 
duráveis para seus donos. Serviam para lembrar de momentos importantes, pessoas 
inesquecíveis,  fatos  memoráveis.  Sua  relação  com  o  passado,  inclusive,  atribuía­ 
lhes  um  status.  Naquela  época,  a  qualidade  dos  produtos  se  sobrepunha  à  sua 
estética. Ter o melhor correspondia a algo para “durar pra toda a vida”, como diziam 
nossos avós. 

Com  o  tempo,  as  funções  do  consumo  receberam  novas  atribuições.  Novos 
hábitos surgiram no e a partir do consumo. Nesse aspecto, Harvey (1993), Bauman
75 

(2001)  e  tantos  outros  concordam  que  o  consumo  constitui­se  em  um  identificador 
cultural  da  pós­modernidade.  Mas  quais  seriam  os  fatores  que  o  tornam  tão 
importante e o transformam em um marco da sociedade contemporânea? 

Garcia­Canclini  conceitua  o  consumo  como  “o  conjunto  de  processos 


socioculturais  em  que  se  realizam  a  apropriação  e  os  usos  dos  produtos”  (2006, 
p.60). Esse conceito nos dá pistas quanto à importância que o consumo recebia no 
passado e à importância que hoje ele o tem. Sua função não apenas se restringe a 
suprir  as  necessidades  essenciais  do  sujeito,  mas  também  se  transforma  em  peça 
importante na identificação dos sujeitos na sociedade do consumo. Assim sendo, o 
processo  de  adquirir  um  objeto  passa  pelo  crivo  da  importância  e  do  significado 
social  que  aquele  item  tem  para  o  grupo  a  que  pertenço,  pois  o  que  a  sociedade 
produz  tem  significados  diferentes  perante  os  diferentes  grupos  que  dela  fazem 
parte. 

Segundo  Garcia­Canclini  (2006),  “[...]  nas  sociedades  contemporâneas  boa 


parte  da  racionalidade das  relações  sociais  se  constrói,  mais  do  que na  luta  pelos 
meios  de produção,  pela  disputa  em  relação à  apropriação  dos  meios  de distinção 
simbólica” (p.62). Portanto, as formas como certo grupo de pessoas estuda, habita, 
trabalha,  convive,  se  diverte  se  assemelham  e  são  realizadas  de acordo com  uma 
coerência  social,  que  lhes  transfere  uma  sensação de  pertencimento  e,  ao  mesmo 
tempo, de distinção dos demais grupos sociais. 

Dessa  forma,  ao  fabricar  um  produto,  os  grandes  conglomerados  mercantis 
não só se preocupam com a qualidade, a venda, as utilidades, entre outros fatores, 
mas também, e principalmente, em buscar produzir uma justificativa racional para a 
sua aquisição. 

Contudo,  se  estamos  constantemente  buscando  objetos  que  nos  façam 


pertencer a um grupo, por que os descartamos continuamente? 

Provavelmente  porque pertencemos  à  cultura  do  efêmero,  na  qual,  segundo 


afirma  Garcia­Canclini  (2006)  em  sua  obra  Consumidores  e  cidadãos ,  o  consumo 
incessantemente renovado, a surpresa e o divertimento são os valores que, na pós­ 
modernidade, dinamizam o mercado.
76 

A  vida  em  torno  do  consumo  é  constituída  de  comparações  universais  e 


parâmetros  instáveis.  O  que  é  “mega 39 ”  hoje,  não  mais  o  será  em  breve.  Não 
existem  normas  a  seguir  ou  limites  a  alcançar.  Nem  mesmo  o  exagero  é  tomado 
como  ostentação  ou  luxo.  Os  indivíduos,  na  sociedade  do  consumo,  vivem 
orientados pela sedução e por novos e crescentes desejos. 

As  protagonistas,  do  desenho  Três  Espiãs  Demais,  exemplificam,  vivem  e 


expressam  em  seus  episódios,  constantemente,  a  sensação  de  que  há  ainda  algo 
para  ser  comprado,  ou  alguma  sensação  para  ser  sentida,  ou  um rapaz  belo  para 
ser conquistado, ou alguma transformação em seu corpo para ser realizada. 

Segundo  o  professor  Ricardo  Petrella, da  Universidade  Católica  de  Louvain, 


mencionado  por  Bauman  (1999),  “A  globalização  arrasta  as  economias  para  a 
produção do efêmero, do volátil (por meio de uma redução em massa e universal da 
durabilidade dos produtos e serviços) e do precário (empregos temporários, flexíveis, 
de meio expediente)” (p. 86). 

Aprendemos  e  somos  constantemente  produzidos  para  viver  na  cultura  do 


efêmero e das novas sensações. Somos instruídos a não dispensarmos muito tempo 
e atenção aos objetos. Aprendemos que “[...] um bom consumidor é um aventureiro 
e amante da diversão” (BAUMAN, 1999, p.90). Somos produzidos para vivermos na 
busca  de  novas  sensações.  “De  fato,  a  própria  produção  de  consumidores  devora 
uma  fração  intoleravelmente  grande  dos custos  totais  de  produção  —  fração  que  a 
competição tende a ampliar ainda mais” (BAUMAN, 2001, p. 88­89). 

Traçando brevemente um perfil da história do consumo, a partir do estudo das 
obras de Bauman (2001 e 2004), podemos perceber que ele, ao longo dos tempos, 
atingiu  diferentes níveis de  prioridade.  Segundo o  autor (2001),  o  ato  de consumir, 
primeiramente, referia­se à busca dos objetos sólidos, do encontro dos objetos que 
satisfizessem as necessidades dos sujeitos — ou seja, era resultado de uma causa. 
Com  o  tempo,  o  ato  de  consumir  passou  a  mobilizar­se  através  do  desejo,  “[...] 
entidade muito mais volátil e efêmera, evasiva e caprichosa, e essencialmente não­ 
referencial  que  as  ‘necessidades’,  um  motivo  autogerado  e  autopropelido  que  não 
precisa  de  outra  justificação  ou  ‘causa’”  (BAUMAN  2001,  p.88).  Sem  causa  ou 
justificativa,  o  desejo  é  por  si  só  o  objeto  constante  a  ser  desejado,  portanto 

39 
Mega constitui­se em uma gíria atualmente utilizada para caracterizar o que está acima do melhor.
77 

insaciável.  No  entanto,  o  desejo  é  um  processo  que  envolve  tempo  para  “[...] 
germinar,  crescer  e  amadurecer”  (BAUMAN,  2004,  p.26),  e  cultivá­lo  despende 
tempo  demais  na  cultura  do  efêmero.  Nesse  sentido,  o  desejo  —  movimento  que 
introduziu a sociedade no vício do consumo — abriu as portas para o momento em 
que  vivemos,  o  do  “comprar  por  impulso”  (BAUMAN,  2004,  p.  26).  Hoje,  render­se 
aos  impulsos  mantém  a  esperança  de  que  não  haverá  conseqüências  duradouras 
capazes de impedir novos prazeres. 

Bauman  (2004)  fala­nos  que  a  vontade  de comprar  nasce  instantaneamente 


e, da mesma forma, se dissipa. Sua durabilidade reduz­se ao tempo necessário para 
transitarmos da entrada à saída de um shopping center. 

Lembremos,  neste  instante,  das  jovens  espiãs  demais  percorrendo  os 


corredores  do  shopping  center  e  adentrando  em  todas  as  possíveis  lojas.  Juntas, 
vão às compras, mas não sabem ao certo de que. Procuram nas promoções roupas 
ou acessórios de marca — tendo por base as lojas que fazem parte do conjunto de 
instituições  consagradas  pelo  seu  grupo  social.  O  que,  especificamente,  comprar, 
surge no momento, no trajeto, no passeio ou na ditadura da moda. “Render­se aos 
impulsos,  ao  contrário  de  seguir  um  desejo,  é  algo  que  se  sabe  ser  transitório, 
mantendo­se  a  esperança  de  que  não  deixará  conseqüências  duradouras  capazes 
de  impedir  novos  momentos  de  êxtase  prazeroso”  (BAUMAN,  2004,  p.27).  Como 
que  caracterizando  a  sociedade  pós­moderna,  os  sujeitos  do  consumo  vivem  à 
deriva, sem paradeiro certo. 

O  que  podemos  perceber  é  que  o  mercado  invade  meteoricamente  nossos 


sonhos,  e as  instabilidades  do cotidiano  dissolvem  nossas  identidades. “Sonhamos 
com  as  coisas  que  estão  no  mercado”  (SARLO,  2006,  p.26),  e  delas, 
constantemente, nos  apropriamos  e,  rapidamente,  nos  desfazemos. Segundo  Sarlo 
(2006),  o  novo  é  o  “motor  perpétuo”  e  os  que  possuem  condições  de  consumir 
passam a se tornar “colecionadores às avessas”. Contudo, é preciso esclarecer que 
não  se  colecionam  mais  objetos  e,  sim,  “atos  de  aquisição  de  objetos”.  Antigos 
colecionadores costumavam adquirir objetos para agregar ao seu tesouro. Desfazer­ 
se  deles,  jamais.  O  valor  de  seus  objetos  era  inafiançável  e  sua  presença,  na 
coleção, insubstituível. Como afirma Sarlo (2006), hoje tornamo­nos colecionadores 
às  avessas,  pois  os  objetos  que  nos  mobilizam  à  compra,  perdem  seu  valor  no 
mesmo instante em que os adquirimos. Quando possuímos o produto desejado, ele
78 

“perde sua alma”, seu significado se dissipa. Não há um objeto final de desejo que 
assegure  ao  sujeito  a  eterna  felicidade.  Não  há  um  objeto  que  contemple  todo  o 
nosso  desejo,  pois  consecutivamente  existirá  outro  que  nos  arrebatará  e  nos 
motivará  a  ambicioná­lo  e  a  adquiri­lo.  Assim  sendo,  o  consumo  e  a  sua 
descartabilidade volátil caracterizam a cultura do efêmero. 

A Cidadania no Consumo 

Conforme Garcia­Canclini (2006): 

[...] ser cidadão não tem a ver apenas com os direitos reconhecidos pelos 
aparelhos  estatais  para  os  que  nasceram  em  um  território,  mas  também 
com  as  práticas  sociais  e  culturais  que  dão  sentido  de  pertencimento,  e 
fazem  que  se  sintam  diferentes  os  que  possuem  uma  mesma  língua, 
formas  semelhantes  de  organização  e  de  satisfação  de  necessidades. 
(p.35) 

Partindo  do  princípio  de  que,  ao  adquirirmos  e  manipularmos  um  produto  o 
selecionamos  de  acordo  com  as  características  do  grupo  ao  qual  pertencemos,  é 
possível  constatar  que  ser  cidadão  está  diretamente  ligado  ao  ato  de  consumir  e 
assim  estabelecer  uma  identidade  social.  Da  mesma  forma,  porém  inversamente, 
não possuir condições para consumi­lo — sejam elas financeiras, sejam geográficas 
— exclui aqueles que não o possuem. 

Desse modo, critérios sociais de pertencimento mobilizam o ato de comprar, a 
seleção  e  a  apropriação  de  objetos.  Esses  critérios  também  são  usados  para 
identificar  o  que  o  sujeito  considera  valioso  e  como  se  integra  e  se  distingue 
socialmente.  O  que  parece  é  que  as  meninas­heroínas  da  série  de  desenho 
animado Três Espiãs Demais compreendem muito bem essa lógica de cidadania, já 
que,  freqüentemente,  e  em  quase  todos  os  episódios  analisados,  justificam  a 
aquisição  de  seus  produtos  pela  preocupação  do  pertencimento  ou  do  desprezo 
social.  Dizendo  de  outro  modo,  o  sujeito,  ao  consumir  pensa,  escolhe  a  quais 
significados quer ser associado e (re)identifica sua identidade social. 

Na contemporaneidade, o orgulho de possuir um objeto de uma procedência 
nacional específica foi substituído pelo desejo de adquirir um objeto de certa marca, 
que  não  mais  é  fabricada  em  uma  nacionalidade  específica.  Os  bens,  que  antes 
eram exclusivos de uma etnia ou de uma nacionalidade, perderam sua localidade e
79 

durabilidade.  Hoje,  se  transformaram  e  se  adaptaram  em  compactos  produtos 


vendáveis mundialmente, não mais produzidos exclusivamente em um país. 

O desejo de pertencimento e identidade local perdeu terreno para a busca do 
sentimento  de  pertencimento  a  “[...]  comunidades  transnacionais  ou 
desterritorializadas  de  consumidores  [...]”  (GARCIA­CANCLINI,  2006,  p.  40).  Hoje, 
Rebeldes, Rock, MTV, WITCH, entre outros, são todos artefatos globais. Os pontos 
de referência deixaram de ser locais e passaram a ser universais. 

Em relação às regras do consumo e à sua adequada utilização, quanto  mais 
jovens,  mais  aptos  para  essa cidadania  mundial  encontram­se  os sujeitos.  Para  as 
jovens meninas e os jovens meninos as referências mundiais parece que solaparam 
a  importância  das  referências  locais  e  regionais.  Adidas,  Nike,  Puma,  RBD,  por 
exemplo,  têm  maior  significado  —  portanto  maior  envolvimento  sentimental  e 
consumidor — do que coisas próximas, produzidas no interior das culturas locais. 

Nesse contexto, compreender as regras do consumo torna o sujeito “cidadão 
do mundo”.  “Abandonar­se aos  impulsos”  (BAUMAN,  2004,  p.27)  é  uma  linguagem 
mundialmente compreendida e potencialmente aceita. Ela possibilita ao sujeito uma 
certa sensação de pertencimento a um lugar específico e, ao mesmo tempo, a todos 
os  lugares.  O  shopping  center  é  um  exemplo  apropriado  para  justificarmos  tal 
afirmação.  Como  salienta  Sarlo  (2006)  “[...]  qualquer  pessoa  que  tenha  usado  um 
shopping uma vez  pode  usar  qualquer outro,  em  outra  cidade,  mesmo  estrangeira, 
da qual não conheça sequer a língua e os costumes” (p.19). Estejamos no Brasil, no 
Uruguai  ou  nos  Estados  Unidos,  compreendendo  a  lógica  do  consumo,  estaremos 
aptos a exercer nossa cidadania. 

Amor Líquido 

O  título  desta  seção,  propositalmente  escolhido,  faz  referência  ao  livro  de 
Zygmunt  Bauman  (2004),  obra  que  coloca  em  discussão  a  descartabilidade  das 
relações afetivas e faz uma surpreendente comparação entre o consumo dos objetos 
e o “consumo” das parcerias. 

Há algum tempo atrás, o sonho de muitos homens e de muitas mulheres era 
encontrar  a  pessoa  amada  e  lutar  para  ficar  ao  seu  lado  até  o  fim  de  seus  dias.
80 

Clássicos  como  A  Bela  Adormecida,  Cinderela,  Romeu  e  Julieta,  entre  outros, 


refletiam  pensamentos  de  uma  época  que  acreditava  no  amor  como  sentimento 
verdadeiro, eterno, sólido e único. Amava­se apenas uma vez — muitos ainda dizem 
que  amaram  somente  uma  vez  —  e  vivia­se  para  cuidar  do  ser  amado,  para 
preservá­lo e para a ele se doar. O casamento, simbologia máxima do amor eterno, 
pregava  e  ainda  proclama  que  os  casais  permaneçam  juntos  “até  que  a  morte  os 
separe”.  O  amor  era  compreendido  como  a  gênese  e  não  a  aquisição  de  coisas 
prontas  e  substituíveis.  Amar  era  transcender,  “[...]  abrir­se  ao  destino,  a  mais 
sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num 
amálgama irreversível” (BAUMAN, 2004, p.21). 

Contudo,  esse conceito  de amor bucólico, romântico  e infinito vem  sofrendo, 


há  pouco  tempo,  uma  importante  re­significação.  Caracterizo  essa  re­significação 
como jovem, pois também vivi por um bom tempo na busca do “príncipe encantado” 
e do amor para toda a vida. 

Hoje,  os tempos são  outros e  outras,  também,  são as  aplicações  da  palavra 


amor. Vivemos no mundo das oportunidades, da compulsão de experimentar novas 
sensações,  novos  objetos  e,  por  que  não,  novos  relacionamentos.  O  elevado 
número  de  produtos  —  dos  mais  diferentes  formatos  e  com  as  mais  atraentes 
propagandas  —  impulsionam  os  sujeitos  a  não  mais  se  aterem  em  um  produto 
exclusivo,  mas,  sim,  a  viver  na  expectativa  de  encontrar  outros  “melhores”  para 
adquirir.  Assim  como  acontece com  os  objetos,  passamos  a  viver  a compulsão  de 
experimentar  novos  relacionamentos,  novos  afetos.  Hoje,  constroem­se  as 
experiências  amorosas  “[...]  à  semelhança  de  outras  mercadorias,  que  fascinam  e 
seduzem  exibindo  todas  essas  características  e  prometem  desejo  sem  ansiedade, 
esforço sem suor e resultados sem esforço” (BAUMAN, 2004, p.22). 

Os  critérios  que  constituíam  a  definição  da  palavra  amor  foram  borrados  e 
reescritos por relações mais avulsas e de pouca durabilidade. De fato, o que ocorre 
é  que  o  número  de  experiências  que  referíamos  como  amor  vem,  ao  longo  dos 
tempos,  expandindo.  Sente­se  amor  várias  vezes  e  por  muitas  pessoas.  Ama­se 
com  facilidade  e  sem  que  se  perceba  a  quem  exclusivamente.  Muitos  sujeitos 
chegam a denominar amor suas noites avulsas de sexo. 

Inversamente  ao  que  ocorria  há  pouco  tempo,  as  pessoas  buscam, 
constantemente,  apaixonarem­se  para,  logo  em  seguida,  desapaixonarem­se.
81 

Movidos  pelo  desejo,  homens  e  mulheres  buscam  provar,  explorar,  experimentar 


para, depois de satisfeitos, refugar, descartar o já experimentado e trocar por outra 
conquista. O desejo “[...] é contaminado, desde o seu nascimento, pela vontade de 
morrer” (BAUMAN, 2004, p.24). 

O que podemos perceber é que na pós­modernidade nada é fixo ou estável, 
nem  mesmo  os  relacionamentos  afetivos.  Somos  sujeitos  inacabados.  Buscamos 
nossa infinita e mutável completude, no entanto, sem nos atermos a objetivos finitos. 
Segundo  essa  lógica,  sempre  conheceremos  algo  que  nos  surpreenderá  e  terá 
plenas  condições  de  superar  a  conquista  anterior.  Assim  como  ocorre  com  os 
objetos,  sempre  existirão  novos  relacionamentos  ainda  não  experimentados.  E 
devemos ter ciência de que nos aprisionarmos a um deles significa desfazermo­nos 
de  todos  os  outros.  Desse  modo,  passamos  a  acreditar  “[...]  que  o  próximo  amor 
será  uma  experiência  ainda  mais  estimulante  do  que  a  que  estamos  vivendo 
atualmente,  embora  não  tão  emocionante  ou  excitante  quanto  a  que  virá  depois” 
(BAUMAN, 2004, p.19). 

Em conexão com essa nova forma de experimentar relacionamentos afetivos 
e  em  detrimento  à  busca  do  amor  durável,  as  três  jovens  espiãs  vivem,  em  seus 
episódios,  intensos  e  curtos  eventos  amorosos.  Denomino  seus  relacionamentos 
como  intensos,  pois  as  heroínas  fazem  de  tudo  para  alcançar  a  conquista  do  belo 
jovem  em  destaque  no  episódio  —  mesmo  que  isso  represente  disputá­lo 
heroicamente  com  suas  amigas.  No  entanto,  seus  sentimentos  e  relacionamentos 
são  frágeis,  de  curta  duração,  descartáveis,  e  não  sobrevivem  até  o  próximo 
episódio.  “As  habilidades  assim  adquiridas  são  as  de  ‘terminar  rapidamente  e 
começar  do  início’  [...]”  (BAUMAN,  2004,  p.  20).  Em  nenhum  dos  dezesseis 
episódios analisados os parceiros se repetem, nem ao menos são lembrados. 

Nas palavras de Bauman (2004): 

Guiada  pelo  impulso  (“seus  olhos  se  cruzam  na  sala  lotada”),  a  parceria 
segue  o  padrão  do  shopping  e  não  exige  mais  que  as  habilidades  de  um 
consumidor  médio,  moderadamente  experiente.  Tal  como  outros  bens  de 
consumo,  ela  deve  ser  consumida  instantaneamente  (não  requer  maiores 
treinamentos  nem  uma  preparação  prolongada)  e  usada  uma  só  vez,  “sem 
preconceito”. É, antes de mais nada, eminentemente descartável. (p.27)
82 

O Consumo do Corpo 

Serão  somente  os  objetos  e  os  relacionamentos  facilmente  consumidos  e 


descartados? 

Ocorreu­me de súbito. Estava na imensa fila de um supermercado, refletindo 
sobre  as  questões  do  corpo  e  a  forma  como  somos  interpelados  a  cuidá­lo  e 
manipulá­lo, quando, de repente, deparei­me, frente a um estande de revistas, com 
manchetes  de  capa  que  me  desassossegaram  e  me  motivaram  a  falar  sobre  o 
consumo  do  corpo.  Pílula  antibarriga  –—  A  opinião  de  quem  tomou  40 ,  Maracujá 
bloqueia  a  gordura 41 ,  As  escovas  que  garantem  o  liso  perfeito 42 ,  Perdi  14  kg  para 
não perder o namorado 43 , 42 exercícios infalíveis para ter um abdômen malhado 44 , 
As  melhores  plásticas  das  celebridades:  Nariz  de  Claudia  Raia,  Barriga  da  Xuxa, 
Olhos de Scheila Carvalho, Seios de Danielle Winits 45 . 

Após  a  leitura  dessas  manchetes,  iniciei  uma  reflexão  acerca  da 


aplicabilidade de tais  métodos  em  meu próprio corpo. Afinal,  ao que parece,  dizem 
que somos  livres.  Livres  para sermos  do  jeito que pensamos ser  melhor.  Podemos 
melhorar aqui, espichar ali, encolher lá... Será? Será que neste momento de decisão 
e  reflexão  somos  apenas  nós,  sozinhos,  pensando  e  refletindo  sobre  o  que  se 
adapta aos nossos biotipos? Ou será que o que pensamos segue padrões que ditam 
as normas para o corpo e a imagem? 

Ao  que  parece,  a  lógica  da  mudança  corporal  tem  uma  aproximação 
importante com as coisas que nos dizem sobre nosso corpo. Entregues ao escrutínio 
moral  do  outro,  ficamos  melindrados  em  relação  a comentários  referentes  à  nossa 
aparência.  Freire  Costa  (2005)  fala  de  uma  espécie  de  hipersensibilidade  aos 
problemas  da  aparência  corporal,  já  que  os  deformados  —  “[...]  os  que  ficam  para 
trás  na  maratona  fitness :  obesos;  manchados  de  pele;  sedentários;  envelhecidos 
precocemente; tabagistas; não siliconados; não lipoaspirados etc” (FREIRE COSTA, 
2005, p.196) — são vistos como problemáticos, portanto excluídos. 

40 
Revista Boa Forma (jun. 2007). 
41 
Revista Boa Forma (jun. 2007). 
42 
Revista Boa Forma (jun. 2007). 
43 
Revista Sou + eu! (jun. 2007). 
44 
Revista Sport Life (jun. 2007). 
45 
Revista Plástica e Beleza (jun. 2007).
83 

Isso porque, “hoje, somos o que aparentamos ser, pois a identidade pessoal e 
o semblante corporal tendem a ser uma só e mesma coisa” (FREIRE COSTA, 2005, 
p.198).  Nessa  lógica,  nossa  imagem  corporal  diz  respectivamente  quem  nós 
“verdadeiramente” somos. O que se distancia, e muito, dos valores morais prescritos 
durante séculos de história ocidental, pois, antes “nada do que fôssemos, do ponto 
de vista  físico,  intervinha  na definição  do que  deveríamos  ser,  dos  pontos  de  vista 
emocional, intelectual, moral, político, artístico ou espiritual” (FREIRE COSTA, 2005, 
p.165). O que percebemos é que o corpo, antes compreendido como templo para a 
execução  de  tarefas  e  para  o  desenvolvimento  da  alma,  dos  sentimentos  e  dos 
valores, passa a ser entendido como o templo da beleza, da longevidade e da boa 
forma.  Hoje,  o  que  vemos  é  a  aglutinação  da  visibilidade  do  corpo  físico  com  a 
identidade  dos  sujeitos.  E  isso  ocorre  de  tal  forma  que  não  mais  conseguimos 
percebê­las dissociadamente. 

Longe  de  nos  mobilizarmos  na  busca  pela  saúde,  somos  estimulados  a 
praticar,  incansavelmente,  a  aptidão  de  nossos  corpos  à  conquista  de  atributos 
físicos social e culturalmente valorizadas em cada estação. Somos impulsionados a 
buscar a modelagem de partes de nosso corpo. Enquanto a saúde está relacionada 
ao “estado próprio e desejável do corpo e do espírito [...]” (BAUMAN, 2001, p. 91), a 
“aptidão  está  sempre  aberta  do  lado  do  ‘mais’:  não  se  refere  a  qualquer  padrão 
particular de capacidade corporal, mas a seu (preferivelmente ilimitado) potencial de 
expansão”  (BAUMAN,  2001,  p.  92).  Ou  seja,  ser  apto  é  estar  aprimorando  e 
descobrindo novos limites para serem superados. Seguindo o ritmo desenfreado da 
cultura  do efêmero,  nunca  estaremos  completamente  belos,  pois  novas  aptidões  e 
perfeições surgirão instantaneamente. 

Segundo Umberto Eco (2004), em sua obra A História da Beleza, as pessoas 
que  vivem  a  partir  das  diretrizes  dessa  incansável  busca  dos  modelos  distintos  de 
beleza  —  em  nosso  país,  sejam  eles  o  modelo  de  loira  “turbinada”  de  Danielle 
Winits, seja o modelo de morena “sarada” de Claudia Raia — “seguem os ideais de 
beleza  propostos  pelo  consumo  comercial”  (p.  418),  já  que  o  conceito  de  beleza, 
objeto  de  análise  e  de  múltiplas  construções  conceituais,  jamais,  ao  longo  da 
história,  foi  algo  absoluto  e  imutável.  Na  obra,  o  autor  transcreve,  de  forma 
fascinante, as diferentes faces que a definição da beleza assumiu. O texto parte do 
princípio de que o conceito de beleza transitou e transita ao longo dos tempos e se
84 

constitui  a  partir  de  premissas  históricas  e  locais  “e  isso  não  apenas  no  que  diz 
respeito à beleza física (do homem, da mulher, da paisagem), mas também no que 
se refere à Beleza de Deus ou dos santos, ou das idéias [...]” (ECO, 2004, p. 14). Na 
contemporaneidade, em especial, pelas diretrizes dos Meios de comunicação. 

No  entanto,  o  sujeito  belo  em  muitas  épocas  —  inclusive  na  atual  —  não 
existiu  sozinho.  Ele  coabitou  e  coabita  com  aquele  que  hoje  aterroriza  a  todos  os 
sujeitos pós­modernos, o feio. Ser feio é estar à sombra, é ser visto e caracterizado 
como  antítese  do  belo.  O  feio  é  algo  que  está  em  desarmonia,  anômalo,  estranho 
em relação aos parâmetros de seu tempo e de sua cultura. Ao feio falta algo que ele 
deve  buscar  reparar,  consertar.  Portanto,  devemos  fazer  e  investir  o  quanto 
pudermos para adquirir/modelar o corpo perfeito. 

Nesse  contexto,  o  chamado  culto  ao  corpo  ou  à  “cultura  do  corpo”  — 
destacado  por  Freire  Costa  (2005)  como  o  fato  de  o  corpo  “[...]  ter­se  tornado  um 
referente privilegiado para a construção das identidades pessoais” (p.203) — atribui 
ao  físico  “[...]  a  regra  científica  que  aprova  ou  condena  outras  aspirações  à 
felicidade” (FREIRE COSTA, 2005, p.190). 

O que podemos observar nas manchetes que apresento nesta seção é que a 
sociedade  do  espetáculo  dá  visibilidade  a  um  estilo  específico  de  vida.  Segundo 
Sarlo  (2006),  “somos  livremente sonhados pelas capas  de revistas, pelos cartazes, 
pela publicidade, pela moda: cada um de nós encontra um fio que promete conduzir 
a  algo  profundamente  pessoal,  nessa  trama  tecida  com  desejos  absolutamente 
comuns”  (p.25).  Desse  modo,  a  forma  como  os  meios  de  comunicação  passam  a 
descrever  e  nomear  o  corpo  —  gordo,  magro,  baixo,  imperfeito,  inadequado...  — 
passa a balizar os critérios de avaliação de nossos corpos e a impulsionar alterações 
corporais,  para  dar  conta  do  corpo  evidenciado  pela  mídia  e,  conseqüentemente, 
desejado  pelos  sujeitos.  “A  vida  desejada  tende  a  ser  a  vida  ‘vista  na  TV’” 
(BAUMAN, 2001, p. 99) nas revistas e, no caso da menina Sarah — mencionada no 
segundo capítulo — especificamente, nos desenhos animados. 

Assim  sendo,  a  sociedade  do  espetáculo  “[...]  reordena  o  mundo  como  um 
desfile  de  imagens  que  determina  o  que  merece  atenção  ou  admiração”  (FREIRE 
COSTA, 2005, p. 228). Imagens que a massa de sujeitos passa a admirar e a querer 
imitar, uma vez que “possuir um corpo como o dos bem­sucedidos é a maneira que
85 

a maioria encontrou de aceder imaginariamente a uma condição social da qual está 
definitivamente excluída, salvo raríssimas exceções” (FREIRE COSTA, 2005, p.166). 

À  medida  que  compreendemos  que  o  corpo  passa  a  ser  um  referencial  da 
identidade  dos  sujeitos,  passamos  também  a  perceber  a  forte  notoriedade  que  o 
mesmo vem recebendo nos meios de comunicação, ao longo dos anos. Entretanto, 
essa  é  uma  exibição  despreocupada  com  as  particularidades  dos  sujeitos.  Uma 
exibição  que  não  leva  em  consideração  os  diferentes  biótipos  e  que  mobiliza 
milhares  de  pessoas na incansável  luta  pelo  alcance do  “corpo ideal”.  Uma  corrida 
que  não  tem  fim,  que  não  acaba  e  que  faz  parte  de  um  mundo  efêmero,  frívolo, 
obsoleto e consumista. 

Nas palavras de Freire Costa (2005): 

O corpo da publicidade, entretanto, não se dirige diretamente a nenhum de 
nós  ou  considera  as  peculiaridades  de  nossas  histórias  de  vidas,  ao 
provocar o nosso desejo de imitá­lo. A moda, em sua neutralidade moral e 
constante  mudança,  não  nos  acusa,  nem  elogia,  apenas  se  apresenta 
como  um  ideal  que  devemos  perseguir,  sem  consideração  pelas 
conseqüências físico­emocionais que  venhamos a  sofrer.  [...]  Tudo o  que 
resta é correr atrás, sempre em atraso e de forma angustiante, do corpo da 
moda. Até, é claro, chegar a velhice e sermos convencidos a assumir uma 
outra  bioidentidade,  a  da  terceira  idade,  última  tentativa  bioascética  de 
permanecer jovem, vital, por dentro da moda. (p.197) 

O Império da Moda

Clover: O espírito do Natal? Hello! Yves Mont


Blanc tá fora de moda! Olha esse novo George
Vivaldi, saído das passarelas européias!46

Clover — uma das personagens principais da série de desenho animado Três 
Espiãs Demais — nos dá muitas pistas sobre como a  moda vem atuando no dia­a­ 
dia dos jovens meninos e meninas contemporâneos. No episódio Natal do Mal, por 
exemplo, Clover faz, durante todo o episódio, o possível e o impossível para adquirir 
a bota da marca Yves Mont Blanc. Contudo, ao consegui­la, no final do episódio, faz 
a  “caridade”  de  doá­la  a  Mandy,  sua  rival.  Todo  esse  espírito  solidário  é 

46 
Episódio Natal do Mal.
86 

desmascarado quando Clover afirma que a bota — a mesma pela qual fez loucuras 
— já não faz parte do efêmero mundo da última moda. 

Esse  mundo  nos  faz  constantemente  consumir  objetos,  aparências  e 


relacionamentos de forma frívola e instantânea, porque  para parecer espetacular, o 
sujeito  precisa  transitar  nas  regras  da  sociedade  da  mídia,  do  consumo  e  do 
espetáculo. 

Entretanto, a moda, conceito tão comum e corriqueiro nos dias de hoje, nem 
sempre esteve presente em nossa sociedade. Durante dezenas de milênios, homens 
e  mulheres  das  sociedades  primitivas  primavam  pela  manutenção  das  tradições. 
Centrados  na  reprodução  e  no  respeito  ao  passado,  reproduziam  e  mantinham 
antigas  aparências  e  valores.  Viver  e  dar  continuidade  às  coisas  do  passado 
associava  os  sujeitos  a  conceitos  de  qualificação,  atributos  essenciais  em  outros 
tempos. 

Segundo  Lipovetsky  (2006),  “só  a  partir  do  final  da  Idade  Média  é  possível 
reconhecer  a  ordem  própria  da  moda,  a  moda  como  sistema,  com  suas 
metamorfoses incessantes, seus movimentos bruscos, suas extravagâncias”. (p.23) 

É  no  reino  do  efêmero,  do  gosto  pela  novidade,  das  frivolidades  em 
movimento  perpétuo  que  a  moda  se  estabelece  e  cria  raízes  profundas.  O  que 
podemos perceber é que 

[...]  enquanto  nas eras de  costume  reinam  o prestígio  da  antigüidade e  a 


imitação dos ancestrais, nas eras da moda dominam o culto das novidades 
assim  como a imitação dos  modelos  presentes e estrangeiros  — prefere­ 
se  ter  semelhança  com  os  inovadores  contemporâneos  do  que  com  os 
antepassados. (p.33) 

É somente com a instituição do instantâneo, do efêmero e do obsoleto que a 
moda  passa  a  fazer  parte  da  vida  dos  sujeitos  e  a  ditar  algumas  das  regras 
importantes  do  consumo,  já  que,  “durante  a  mais  longa  parte  da  história  da 
humanidade, as sociedades funcionaram sem conhecer os movimentados jogos das 
frivolidades” (LIPOVETSKY, 2006, p.27). 

Baseada na esfera do parecer, a moda ganha forças a partir da atribuição de 
significados  aos  objetos.  Além  dos  fatos  sociais,  são  os  valores,  os  sistemas  de 
significação,  que  vão  dar  à  moda  a  importância  que  hoje  ela  tem  (LIPOVETSKY, 
2006). Desse modo, ter a bota da marca que está, neste momento, imediatamente,
87 

na  moda  dá  a  Clover  uma  gama  de  significados  aos  quais  ela  quer  se  associar  e 
pelos quais faria qualquer coisa para adquirir. 

No  entanto,  faz­se  necessário  evidenciar  que  a  moda  almejada  pela 


personagem  faz  parte  de  uma  moda  que,  como  todas  as  modas,  é  um  fenômeno 
sócio­histórico  e  contingente.  Dizendo  de  outro  modo,  os  significados  por  ela 
incorporados  fazem  parte  de  um  registro  espaço­temporal  que  talvez  não  mais 
permaneçam daqui a instantes. 

A moda, hoje, abre mão da “lógica imutável da tradição” (LIPOVETSKY, 2006, 
p.33)  e  se  baseia  em  duas  lógicas:  “a  do  efêmero  e  a  da  fantasia  estética” 
(LIPOVETSKY, 2006, p.35). Ou seja, é na depreciação do antigo, na dignificação do 
novo  e  na  constituição  de  significados,  que  a  moda,  cada  vez  mais,  interpela  e 
mobiliza  os  sujeitos  a  buscar  e  a  adquirir  sempre  o  que  é  estética  e 
significativamente atual. 
A  moda,  apesar  de  ter  suas  origens  no  vestuário,  hoje  não  mais  a  ele  se 
restringe. Hoje ela é vista como “[...] uma prática dos prazeres, é prazer de agradar, 
de  surpreender,  de  ofuscar.  Prazer  ocasionado  pelo  estímulo  da  mudança,  a 
metamorfose das  formas,  de si  e dos outros”  (LIPOVETSKY, 2006,  p.62).  Vivemos 
no mundo das  oportunidades,  mobilizados  pela  cultura do  efêmero, seduzidos  pela 
sociedade do espetáculo e obcecados pela busca do prazer.
88 

CAPÍTULO 5
ESPREITANDO AS JOVENS MENINAS ESPIÃS DEMAIS

Os significados não correspondem a uma


qualidade essencial do objeto que temos que
desvelar; a essência das coisas nada mais é do que
uma invenção humana, instituída nas trocas e
negociações de sentido que estabelecemos
intersubjetivamente. (BUJES 2005, p. 186)

O  presente  capítulo  segue  na  esteira  da  concepção  de  que  aquilo  que  se 
toma  como  a  essência  das  coisas  nada  mais  é  do  que  um  construto  social.  Uma 
construção  contingente  e  histórica  que  se  propaga  através  da  sociedade  do 
espetáculo compatível com a efemeridade da cultura contemporânea. 

Embasada  nessa  lógica  e  inspiradas  nos  referenciais  teóricos  que 


fundamentam  esta  pesquisa,  apresento  a  seguir  algumas  inferências  das  análises 
realizadas  de  dezesseis  episódios  da  série  de  desenho  animado  Três  Espiãs 
Demais , selecionados para o estudo. Essas análises procuram colocar em evidência 
um  conjunto  de  significados  atribuídos  às  subjetividades  das  jovens  meninas 
contemporâneas no desenho animado. 

Três  garotas  espertas,  corajosas,  belas,  encantadoras,  namoradeiras, 


consumistas... e, ao mesmo tempo, estudantes prosaicas e heroínas espetaculares 
protagonizam  a  série.  É  importante  destacar  que  tais  atributos,  segundo  Ellsworth 
(2001),  servem  como  um  tipo  de  estratégia  dos  modos  de  endereçamento,  que 
buscam aproximar os telespectadores da trama e dos personagens da programação, 
para  que  os  sujeitos  se  sintam  identificados  e  representados  nas  imagens 
oferecidas. E talvez seja esta mistura entre o heroísmo da missão (complementado
89 

por  “apetrechos”  e  “dispositivos”  fascinantes)  e  o  prosaísmo  do  cotidiano  (casa, 


escola,  amizades,  amores...)  um dos  atributos  do enredo  narrativo  que capturam  e 
enredam muitas crianças, jovens e adultos, e que asseguram a grande audiência e o 
sucesso do desenho. 

O que tentarei mostrar é que as narrativas da série de desenho animado Três 
Espiãs Demais elegem significados que são atribuídos à juventude feminina, criando 
sentidos  e  inventando  os  sujeitos  sociais.  No  entanto,  eles  não  são  impositivos  e 
coercitivos.  Sua relação com os  telespectadores  faz­se de  forma  prazerosa.  O que 
vemos,  na  telinha,  são constantes  ensinamentos  sobre  o  mundo,  sobre  formas  de 
nele viver, divertir­se e conduzir­se, de interpretá­lo e compreendê­lo. 

Tendo  como  pressuposto  que  a  linguagem  organiza,  nomeia  e  categoriza 


nossas  vidas  e  que  “o  hábito  de  falar  sobre  alguma  coisa  de  uma  determinada 
maneira  torna­se  imediatamente  o  hábito  de  pensar  sobre  isso  de  determinada 
forma”  (MORAES,  2002  p.  39),  pretendo  colocar  em  evidência  como  as  jovens 
meninas são pensadas e narradas, no desenho animado selecionado para o estudo, 
em relação às questões do consumo. 

Assim  sendo,  o  jeito  de  ser  homem,  mulher,  menino,  menina,  vai  se 
articulando  a  partir  da  forma  como  esses  sujeitos  são  narrados  nas  histórias 
contadas  nos  episódios  do  desenho.  “Cabe”  à  sociedade  atribuir  e  “generificar”  as 
ações  dos  sujeitos  desde  a  sua  tenra  idade  (MORAES,  2002).  Dizendo  de  outro 
modo, desde o início de nossa existência passamos a ser interpelados, entre outras 
coisas, pelas construções sociais acerca dos gêneros feminino e masculino. 

Segundo Louro (1995): 

Uma  compreensão  mais  ampla  de  gênero  exige  que  pensemos  não 
somente  que  os  sujeitos  se  fazem  homem  e  mulher  num  processo 
continuado,  dinâmico  (portanto  não  dado  e  acabado  no  momento  do 
nascimento,  mas  sim  construído  através  de  práticas  sociais 
masculinizantes  e  feminizantes,  em  consonância  com  as  diversas 
concepções  de  cada  sociedade);  como  também  nos  leva  a  pensar  que 
gênero é mais do que uma identidade aprendida, é uma categoria imersa 
nas  instituições  sociais  (o  que  implica  admitir  que  a  justiça,  a  escola,  a 
igreja, etc. são “generificadas”, ou seja, expressam as relações sociais de 
gênero). Em todas essas afirmações está presente, sem dúvida, a idéia de 
formação, socialização ou educação dos sujeitos. (p. 103) 

Ou  seja,  os  significados  de  como  ser  homem  ou  como  ser  mulher  são  o 
resultado  de  diversos  discursos  oriundos  de  diferentes  espaços  sociais.  “São  os
90 

textos circulantes no império cultural que estão nos inventando e fazendo de nós o 
que  somos”  (COSTA,  2005b,  p.211).  Dentre  os  espaços  que  propagam 
ensinamentos, podemos citar a televisão — no caso do presente estudo, o desenho 
animado. Ela se constitui num artefato que, combinando basicamente histórias, sons 
e imagens coloridas, proporciona a rápida aceitação das “verdades” transmitidas, a 
acomodação perante fatos peculiares e a reprodução da “realidade” normalizada. 

Assim sendo, o desenho tem ensinado um jeito de ser menina, um jeito de ser 
mulher em nossa sociedade; lições que muitas de minhas alunas têm compreendido 
com surpreendente facilidade. 

O  que  parece  é  que  os  desenhos  animados,  juntamente  com  outras 


programações e instituições, têm instruído e construído, no contexto social e a partir 
de representações, o que faz parte e o que vem a ser o feminino e o masculino, pois: 

[...] não são propriamente as características sexuais, mas é a forma como 
essas características são representadas ou valorizadas, aquilo que se diz 
ou se pensa sobre elas que vai constituir, efetivamente, o que é feminino 
ou masculino em uma dada sociedade e em um  dado momento histórico. 
Para  que  se  compreenda  o  lugar  e  as  relações  de  homens  e  mulheres 
numa  sociedade  importa  observar  não  exatamente  seus  sexos,  mas  sim 
tudo o que socialmente se construiu sobre os sexos. (LOURO, 1997, p.21) 

Pelas  regularidades  apresentadas  nos  episódios  analisados,  podemos 


perceber,  nas  narrativas  do  desenho animado  Três Espiãs  Demais,  a  presença  de 
uma  juventude  feminina  deslumbrada  e  excessivamente  preocupada  com  o 
consumo  de  objetos,  com  a  aparência  externa  de  seus  corpos  e  com 
relacionamentos com o sexo oposto. 

Missões

O dicionário Borba (2002), define missão como: 

1.  Realização  de  um  compromisso  assumido  perante  outra  pessoa; 


encargo [...] 2. realização de uma obrigação moral; dever a cumprir [...] 3. 
função  especial  que  um  governo  confere  a  uma  pessoa  ou  grupo  de 
pessoas  para  tratar  de  determinado  assunto  [...]  4.  pregação  de 
missionário  [...]  5.  objetivo  [...]  6.  finalidade  [...]  7.  estabelecimento  de 
missionários  para  a  evangelização  [...]  8.  o  conjunto  de  pessoas  que 
recebem determinado encargo, comissão [...]. (p.1046)
91 

A cada episódio, nossas heroínas — Sam, Alex e Clover — recebem de seu 
chefe, Jerry,  missões  a  realizar.  O  acompanhamento  dos episódios  proporcionou a 
percepção de que o desenho Três Espiãs Demais apresenta a seguinte lógica: Jerry 
incumbe as espiãs de missões de caráter coletivo­mundial. Tais missões referem­se 
à  resolução  de  situações  de  emergência  com  repercussão  mundial.  Entretanto,  o 
acompanhamento dos episódios evidenciou um conjunto de missões, entrecruzadas 
com as missões de caráter coletivo­mundial, postas pelas heroínas para si próprias 
e/ou  para  o seu grupo  próximo.  Essas  missões  não são  explicitamente  enunciadas 
no desenho, embora, no decorrer dos episódios perceba­se nitidamente a presença 
de missões de caráter individual­grupal. 

Com o intuito de melhor visualizar e organizar os dados coletados, em relação 
às  missões,  optei  por  apresentá­las  em  tabelas.  Inicio  com  as  missões  de  caráter 
individual­grupal, e depois passo às missões de caráter coletivo­mundial. 

QUADRO 1 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de aparências 

MISSÕES DE CARÁTER INDIVIDUAL­GRUPAL 
CONSUMO DE APARÊNCIAS
Episódios Ações

Alienígenas Alex precisa aprender a dirigir

Dor de dente Acabar com a dor de dente de Alex

A Ilha WOOHP Estarem belas para o piquenique da WOOHP

Vencer o concurso de beleza do salão Mega­Mani Mania


Mania de Manicure
Fazer as unhas no salão Mega­Mani Mania

Cidadãs Modelo Clover precisa vencer um concurso de beleza

Nasce uma espiã Sam precisa conseguir conviver com a fama

Garotas do Vale do
Respeitar as regras de etiqueta
Silício
A promoção do mal
Alex deve fazer a dieta do coelho
(Parte 1)
92 

QUADRO 2 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de objetos 

MISSÕES DE CARÁTER INDIVIDUAL­GRUPAL 
CONSUMO DE OBJETOS
Episódios Ações
Conseguir a bolsa da Mute
Dor de dente
Descobrir o motivo da pobreza de Mandy

Natal do Mal Conseguir a bota da Yves Mont Blanc

Escolher quem fica com o melhor e maior quarto da casa,


Lei da Gravidade
que as espiãs acabaram de ganhar de seus pais

Biscoitos da Paixão Conseguir um chapéu tamanho M para Clover

QUADRO 3 — Missões de Caráter individual­grupal — Consumo de relacionamentos 

MISSÕES DE CARÁTER INDIVIDUAL­GRUPAL 
CONSUMO DE RELACIONAMENTOS
Episódios Ações

Encolhe­encolhe Sair com um gatinho lindo

Encolheu a cabeça Sam precisa conquistar um belo garoto, jovem e intelectual

A promoção do
Salvar o belo espião Jean
mal (Parte 1)
As garotas dos Alex quer conhecer o jovem Troy, apresentador de televisão
Games por quem está apaixonada

Verdade no susto Descobrir quem é a melhor amiga de Alex

É o j eito como se Ser escolhida por David — o “gato” disputado pelas três
j oga espiãs

Estabelecendo  um  cruzamento  entre  os  diferentes  direcionamentos  das 


missões  pessoais  —  emergências  privadas  que  devem  ser  resolvidas  a  qualquer
93 

preço  —  podemos  perceber  que  as  necessidades  das  jovens  meninas, 


freqüentemente,  transitam  entre  os  três  focos  selecionados  para  esta  pesquisa: 
consumo de objetos, consumo de aparências e consumo de relacionamentos. 

Ao apreciarmos os quadros é possível perceber que os critérios de relevância 
das  jovens  meninas  balizam­se  por  uma  busca  incansável  por  fama,  sucesso  e 
reconhecimento  social.  Seus  desafios  individuais  são  supérfluos,  individualistas  e 
têm  por  objetivo  o  alcance  de  banalidades.  Não  se  evidenciam,  nos  episódios 
analisados,  problemas  ou  interesses  que  se  distanciem  da  preocupação  com  a 
aparência  na  sociedade  do  espetáculo,  com  o  status  social  ou  com  os 
relacionamentos afetivos. 

Segundo  Lipovetsky  (2005),  hoje  nós  vivemos  a  era  do  pós­dever.  Uma 
sociedade  que  se  distancia  de  preceitos  superiores  e  volta­se  “à  satisfação  das 
aspirações  imediatas,  à  paixão  pelo  ego,  à  felicidade  intimista  e  materialista”  (p. 
XXIX). De acordo com o autor, “nossas sociedades tornaram inúteis todos os valores 
inerentes  ao  sacrifício,  sejam  eles  relacionados  à  aspiração  da  vida  eterna  ou  a 
finalidades  profanas”  (p.  XXIX).  Com  o  declínio  da  fé  na  Divina  Providência,  a 
descrença no Estado, o indivíduo passa a se tornar o mais importante referencial da 
cultura democrática. Assim sendo, na sociedade pós­moralista os direitos subjetivos 
fazem cair em desuso o sentido crucial do dever. “A fórmula ‘é preciso fazer...’ cedeu 
lugar ao fascínio da felicidade; a obrigação peremptória, à excitação dos sentidos; a 
proibição  irretorquível,  à  liberdade  de  escolha”  (p.25­26).  O  que  parece  é  que  “A 
fruição  do  momento  presente,  o  culto  de  si  próprio,  a  exaltação  do  corpo  e  do 
conforto passaram a ser a nova Jerusalém dos tempos pós­moralistas” (p.29). 

Impregnadas  dessa  lógica  pós­moralistas,  as  jovens  espiãs  buscam  a 


“felicidade  acima  de  tudo!”  (LIPOVETSKY,  2005,  p.31),  suas  atenções  estão 
centradas na realização pessoal. Conforme Lipovetsky (2005) “A época da felicidade 
narcisista  não  se  equipara  à  da  máxima  ‘é  proibido proibir’,  mas  sim  a  uma  ‘moral 
sem obrigações nem sanções’” (p.36). 

Nesse  contexto  social,  as  missões  de  caráter  individual­grupal  —  de  grande 
importância  para  Sam,  Alex  e  Clover  —  muitas vezes são colocadas  num patamar 
equivalente ou superior às missões de caráter coletivo­mundial. Constatação que se 
evidencia,  por  exemplo,  em  episódios  como  Lei  da  Gravidade.  Nele,  Sam,  Alex  e 
Clover  ganham  de  seus  pais  uma  linda,  grande  e  encantadora  casa.  A  casa  é
94 

perfeita,  porém  há  um  “grande”  problema  a  ser  resolvido  —  Quem  ficará  com  o 
quarto  maior?  Em  casa,  as  jovens  disputam  o  cômodo  através  de  sorteio.  Clover 
trapaceia e as amigas descobrem. Na escola, as espiãs conversam sobre a missão 
de caráter coletivo­mundial conferida por Jerry. Entretanto, Clover protesta:

Clover: Como você consegue pensar na missão com uma crise como essa rolando?

A crise a que se refere é a da distribuição dos cômodos da casa. Existe crise 
maior do que disputar o melhor quarto da casa? Enfim, ter o melhor cômodo daria à 
Clover  a  oportunidade  e  o  espaço  adequado  para  guardar  suas  roupas.  À  Sam 
ofereceria  espaço  para  guardar  seus  livros  e  estudar.  E,  para  Alex,  significaria  um 
espaço perfeito para treinar seu taekwondo. 

Durante a conversa na lanchonete da escola, as espiãs são sugadas por Jerry 
para  um avião, com a  finalidade  de receber mais  pistas sobre  a  missão de caráter 
coletivo­mundial. Clover fica furiosa.

Clover: Jerry!
Jerry: Acredito que não estavam no meio de nada urgente.
Clover: Não! Só a decisão mais importante das nossas vidas!

Seguindo  a  lógica  consumista  e  narcisista,  Clover  tem  uma  preocupação 


maior a resolver, seus interesses pessoais. Baseada nas coordenadas da felicidade 
e da auto­realização, do fascínio e do relacional, Clover vive na cultura do self­love 
(LIPOVETSKY, 2005). 

Assim sendo, seus interesses podem se resumir a fazer as unhas no salão de 
beleza  Mega­Mani  Mania.  No  episódio  Mania  de  Manicure,  Clover,  Sam  e  Alex 
precisam fazer as unhas. As garotas escolhem o salão mais badalado do momento 
—  Mega­Mani  Mania.  Isso  porque  se  trata  de  um  centro  estético  altamente 
avançado,  todo  computadorizado;  não  existem  manicures,  somente  máquinas  e 
robôs.  Entretanto,  as  jovens  só  poderão  ser  atendidas  dali  a  seis  meses,  pois  a 
agenda do salão de beleza está lotada. Clover fica inconsolável, e passa boa parte 
do  episódio  procurando  encontrar  uma  forma  de  poder  cuidar  de  suas  unhas 
naquele estabelecimento.

Clover: Ah! Dã! Eu vou dar um jeito de arrumar um horário nesse salão cricri. Nem
que eu morra!
95 

Em seguida, Jerry as incumbe de uma missão de caráter coletivo­mundial. As 
espiãs  devem  descobrir  o  que  está  acontecendo  com  garotas  que  estão 
desaparecendo.  As  pistas  levam  as  jovens  meninas  a  um  salão  de  beleza 
depredado.

Sam: Só tem um jeito de descobrir. Vamos ver o que tem aí por dentro desse salão de
manicure. E eu falei dentro mesmo.
(Alex corta o vidro, com um apetrecho, retira a maçaneta e abre a porta).
Clover: Bom trabalho, Alex! Tá ficando boa nessa coisa de quebra e entra.
Alex: Brigada! Ah! Eu acho.
(As espiãs entram no salão que, por sua configuração antiga, passa a ser por elas
denominado de “museu”. Clover pára ao ver um telefone).
Sam: Você vem?
Clover: Vô. Espera só um pouquinho.
(Clover testa o telefone. Ele tem linha. Em seguida, disca para alguém. A
recepcionista da Mega­Mani Mania atende).
Recepcionista: Mega­Mani Mania, posso ajudar em alguma coisa?
Clover: Ah! Oi! Meu nome é (Clover muda de voz) Duquesa de Likfild do Sul. Eu só
vou ficar na cidade um dia, deveres na embaixada, e eu preciso, urgentemente, fazer
as unhas. Eu não aceito não como resposta.
(Nesse instante, a tela se divide ao meio. Metade da cena mostra Clover ao telefone e
a outra metade mostra uma jovem, morena, fazendo a unha, a recepcionista ao fundo).
Recepcionista: Me desculpe pela confusão duquesa, mas a senhora já não está aqui?
(Os olhos de Clover se transformam em dois octógonos azuis. Sua boca fica aberta, se
assemelhando a de um boneco ventríloquo).
Clover: Ah! É claro! Continuem assim.
(Clover desliga o telefone).
Clover: Droga! Eu tentei enganar ela!
(Sam aparece furiosa).
Sam: Esquece a unha e concentra, Clover!
Clover: Desculpa!

Nesse  episódio  podemos  perceber  uma  dessensibilização  da  jovem  espiã 


perante questões éticas, pois em meio a escombros — durante a resolução de uma 
missão  de caráter coletivo­mundial  —  Clover engana suas  amigas  e  tenta  também 
enganar  a  recepcionista  do  salão,  para  conseguir  fazer  as  unhas.  É  a  beleza  a 
qualquer  custo.  Não  há  escrúpulos  para  se  obter  um  corpo­espetacular,  uma 
aparência irretocável, já que, “de modo geral, ou ‘se é um corpo­espetacular’ ou ‘se 
é um João ou Maria Ninguém’” (FREIRE COSTA, 2005, p.231). 

No  quadro  a  seguir  podemos  observar  as  missões  de  caráter  coletivo­ 
mundial, recebidas pelas três espiãs nos episódios analisados.
96 

QUADRO 4 — Missões de Caráter coletivo —mundial 

MISSÕES DE CARÁTER COLETIVO­MUNDIAL
Episódios Ações

Alienígenas Salvar as pessoas capturadas por alienígenas

Encontrar pessoas importantes desaparecidas (presidente,


Dor de dente
atriz, patinadora famosa)

Encolhe­encolhe Encontrar os marcos históricos que estão sendo roubados

Descobrir quem está transformando pessoas inteligentes em


Encolheu a cabeça
primatas e fazê­las voltar ao “normal”
A promoção do Passar por testes para serem promovidas ao time de elite dos
mal ( Parte 1) agentes

A Ilha WOOHP Salvar a espiã Britney

As garotas dos Descobrir o paradeiro de pessoas famosas que estão


games misteriosamente desaparecendo
Descobrir o que está acontecendo com dispositivos
Garotas do Vale computadorizados que estão atacando e castigando algumas
do Silício pessoas. (professor de ginástica, diretora de uma escola e
atleta)
Descobrir o que está acontecendo com na Organização
Lei da gravidade
Espacial Internacional

Cidadãs modelo Descobrir o que aconteceu com doze modelos seqüestradas

Conter G.L.A.D.I.S. que está ativando mísseis para destruir o

Natal do Mal mundo

Ajudar Jerry com a festa de Natal da WOOHP

Descobrir o paradeiro de astros de Hollywood que foram


Nasce uma espiã
raptados

Verdade no susto Descobrir quem tentou raptar o cantor Jackson John

É o j eito como se Descobrir por que o país Zanzibar está dominando as


j oga Olimpíadas de Inverno
Mania de Descobrir o paradeiro de jovens adolescentes que estão
manicure desaparecendo
97

Biscoitos da Descobrir por que as pessoas estão disputando entre si para


Paixão adquirir os Biscoitos da Paixão

Em suas tarefas de agentes especiais, Sam, Alex e Clover trabalham para o 
Centro  de  Serviços  Secretos  da  Organização  Mundial  de  Proteção  Humana 
(WOOHP). 

Dentre  as  dezesseis  missões  de  caráter  coletivo­mundial  instruídas  pela 


WOOHP,  delegadas  na  pessoa  de  Jerry,  cinco  referem­se  à  salvação  de 
celebridades,  como  cantores,  atores,  políticos  e  modelos.  O  que  parece  é  que  o 
desenho dedica especial atenção àqueles que estão em evidência na sociedade do 
espetáculo  e  faz  referência  direta  a  questões  ligadas  à  fama,  ao  sucesso  e  à 
riqueza.  A  pobreza,  a  injustiça,  o  sofrimento  não  são  focalizados.  Aliás,  nem  ao 
menos  pensados,  nos  episódios  analisados.  Os  bem­sucedidos  ocupam 
permanentemente o centro das missões de salvação. 

Mesmo  tratando­se  de  uma  Organização  Mundial  de  Proteção  Humana,  a 


WOOHP  segue  a  lógica  contextual  das  jovens  espiãs  e  centra  suas  missões 
predominantemente  em  premissas  frívolas,  superficiais,  efêmeras  e,  certas  vezes, 
narcisistas.  É  possível  constatar  que  muitas  das  missões  partem  de  causas 
particulares e de pessoas exclusivas. 

Conforme  Lipovetsky (2005), “os fins  morais superiores foram  equiparados  a 


ideais  supra­individuais”  (p.173).  Hoje  assistimos  à  preponderância  dos  direitos 
individuais sobre as causas coletivas. 

A  era  pós­moralista  identifica­se  com  o  despojamento  das 


responsabilidades  morais  em  face  da  coletividade  e  com  uma 
revalorização  social  da  esfera  estritamente  interindividual  da  via  ética, 
desde que esta venha amputada de sua conotação imperativa. (174) 

Nesse contexto, nenhum dos vilões pretende destruir o planeta ou transformá­ 
lo  em  um habitat  para  outros  seres.  Os  vilões,  como  em  muitas  outras  narrativas, 
são sujeitos que procuram se vingar de algo ou de alguém específico. No entanto, a 
grande  mola  propulsora  para  o  mal,  no  desenho  em  estudo,  é  a  vingança  contra 
pessoas que tolheram a possibilidade do sujeito­vilão de entrar ou de continuar em 
meio à fama e ao sucesso. Um bom exemplo encontra­se no episódio Dor de Dente, 
no qual  o vilão era  dentista  das  estrelas,  mas sua  licença  foi caçada  depois  que  o
98 

presidente  do  país  onde  ele  mora  deixou  o  branqueador,  que  ele  criou,  tempo 
demais  em  sua  boca.  Como  o  presidente  não  seguiu  suas  instruções,  o  produto 
corroeu  seus  dentes.  Para  se  vingar,  o  dentista  queria  destruir  os  dentes  das 
pessoas. Ou seja, não poder fazer parte da sociedade do espetáculo faz com que os 
sujeitos se vinguem dos demais, tentando impedi­los de também o fazer. 

Consumo de Aparências 

Conforme Alvarenga e Dal’Igna (2004), o corpo é: 

como um lócus de inscrição de identidade e diferença que produz sujeitos 
de  uma  cultura.  Por  isso,  afirmamos  que  o  corpo  é  história.  Nele  se 
inscrevem  muitas  marcas  sexuais,  com  e  através  de  práticas  afetivas, 
políticas,  esportivas,  estéticas,  dentre  outras  [...]  Ele  foi  (e  é)  falado, 
invadido, investigado, ressignificado.  (p. 66) 

É a forma de inscrever e descrever o corpo das jovens meninas, na série de 
desenho animado  Três Espiãs Demais,  que pretendo evidenciar  nesta seção.  Uma 
forma  específica  que,  segundo  análises,  coloca­se  como  imprescindível  para  o 
alcance da felicidade. 

Conforme  venho  discutindo,  jovens  divertidas  e  bem­humoradas,  as  espiãs 


Alex,  Sam  e  Clover,  enfrentam  e  solucionam  muitos  e  variados  problemas,  que 
abrangem desde a seleção de roupas fashion para um encontro (episódio Encolhe­ 
encolhe),  o  cuidado  com  as  unhas  (episódio  Mania  de  Manicure),  a  aquisição  de 
acessórios  da  moda  (episódios  Natal  do  Mal,  Dor  de  dente),  até  a  solução  das 
difíceis missões indicadas por Jerry. 

Conter  mísseis  que  podem  destruir  o  mundo  ou  cuidar  para  não  estragar  a 
“chapinha”  recém  feita  são,  para  nossas  heroínas,  missões  distintas,  porém  de 
equivalente importância. 

Nos episódios analisados, as meninas­heroínas — Sam, Clover e Alex — são 
reincidentemente  representadas  como  jovens  com  excessiva  preocupação  em 
relação à sua aparência, passando por muitos desafios para estarem apresentáveis. 
A  preocupação  permanente  com  a  aparência  se  estende  às  demais  personagens 
coadjuvantes da trama, com quem estabelecem constantes comparações.
99 

Dentre  os  dezesseis  episódios  analisados,  nove  apresentam  questões 


referentes ao que denomino consumo de aparências. Ser a mais popular da escola 
(episódio  Nasce  uma  espiã),  vencer  concursos  de  beleza  (episódios  Mania  de 
manicure  e  Cidadãs  modelo),  obedecer  a  regras  de  etiqueta  (episódio  Garotas  do 
Vale do Silício), aprender a dirigir (episódio Alienígenas), escolher a roupa certa para 
um encontro (episódio Encolhe­encolhe) ou usar produtos para ficar bela (episódio A 
Ilha  WOOHP)  são  alguns  dos  exemplos  de situações  nas  quais  os  problemas  são 
resolvidos  em  função  da  lógica  do  mundo  da  moda  —  obsolescência,  sedução  e 
diversificação (LIPOVETSKY, 2006). 

No  episódio  Encolhe­Encolhe,  por  exemplo,  Clover  precisa  escolher  a  roupa 


que usará no encontro com Jason, um “gatinho” que conheceu na praia.

(Enviadas por Jerry para a Índia, as jovens espiãs têm de descobrir o que está
encolhendo marcos históricos em todo o mundo. Chegando ao Taj Mahal, Sam
exclama:)
Sam: É incrível!
Alex: É melhor do que algumas casas que tem em Beverly Hills.
(Enquanto as jovens conversam, Clover aparece exausta, num segundo plano, sentada
em cima de suas malas).
Sam: Eu não entendo por que você teve de trazer todas as suas roupas?
Clover: Crise de moda. Eu tenho que escolher o que usar no meu encontro. Regra
número um num encontro: sua roupa é tudo. Espera! Essa não é a regra de número
um na vida?
(Na China, as espiãs tentam evitar a captura da Grande Muralha da China. Clover
aparece mexendo em sua mala).
Clover: Ninguém vai me ajudar a arrumar uma roupa pro meu encontro, não é?

Segundo  a  narrativa  do desenho,  a  regra  número  um  de  um  encontro  e  até 
mesmo da vida de uma jovem é: “sua roupa é tudo”. “Como disse Debord, o dilema 
moral da contemporaneidade não é mais o da escolha entre ‘ser’ e ‘ter’, porém o da 
escolha  entre  ‘ser’  e  ‘parecer’“  (FREIRE  COSTA,  2005,  p.231).  Assim,  o  parecer 
passa a atribuir ao sujeito uma gama de significados, na qual as roupas constituem­ 
se  em  signos  decodificados  de  acordo  com  a  cultura.  Nesse  sentido,  o  ato  de 
escolher  a  roupa  faz­se  demasiado  complexo,  e  a  espiã  demais,  Clover, 
compreende  que,  na  sociedade  do  espetáculo,  ela  confere  significados  e  contribui 
para  a  constituição  e  valorização  de  sua  identidade.  A  grande  dúvida  é  a  quais 
significados a personagem quer se associar. “A questão central do comprismo não é 
saber  se  os  objetos  distorcem  ou  não  a  vida  emocional,  mas  como  participam  na
100 

gestação,  manutenção  e  reprodução  de  nossos  ideais  de  eu”  (FREIRE  COSTA, 
2005, p.163). 

Em  outro  episódio  da  série,  Sam,  preocupada  em  impressionar  um  jovem 
menino, afirma para as colegas que a convidam para ir à Feira do Glamour:

Sam: Eu não vou mais aparecer em público até estar apresentável!47

Estar  apresentável,  no contexto do desenho animado em  estudo,  denota  um 


tipo de postura perante o corpo, postura que transcende o ato de vestir­se de acordo 
com a ditadura da moda e preocupar­se com a beleza e a imagem, mantendo­se em 
forma e maquiada. Estar apresentável denota uma nova forma de viver assegurada 
em bases consumistas, efêmeras e frívolas. Estar apresentável significa quase uma 
obsessão por enquadrar­se em padrões repletos de minúcias efêmeras. 

Para  Sarlo  (2006):  “O  desejo,  não  tendo  encontrado  um  só  objeto  que  o 
satisfaça  nem  ao  menos  transitoriamente,  encontrou  na  construção  de  objetos  a 
partir  do  próprio  corpo  o  non  plus  ultra  onde  se  reúnem  dois  mitos:  beleza  e 
juventude” (p. 31). 

É  na  linha  da  representação  de  corpos  belos,  jovens,  saudáveis,  que  se 
inscrevem as narrativas das Três Espiãs Demais , capturadas pela incansável busca 
de  fazer  parte  de  uma  identidade  (re)construída  pelos  “segmentos  econômicos”. 
Conforme Meyer & Soares (2004): 

Nosso  tempo  é,  também,  um  tempo  em  que  importantes  segmentos 
econômicos  se  sustentam  fabricando  e  vendendo  representações  de 
determinados  corpos,  definidos  como  “bonitos  e  saudáveis”:  a  mídia,  a 
indústria  do  vestuário  e  da  moda,  as  indústrias  de  cosméticos, 
farmacológica,  nutricional  e  esportiva,  a  medicina  estética,  para  ficar  nos 
exemplos mais óbvios. (p.8) 

Os  segmentos  econômicos,  juntamente  com  os  meios  de  comunicação, 


narram, (re)criam, inventam, testam e reforçam um tipo “aceitável” de ser. Com uma 
lista  prescritiva  de  afazeres  engendram  sobre  a  subjetividade  dos  sujeitos  um  jeito 
imaginável de viver. “Os indivíduos, além de serem levados a ver o mundo com as 
lentes  do  espetáculo,  são  incentivados  a  se  tornar  um  de  seus  participantes  pela 
imitação  do  estilo  de  vida  dos  personagens  da  moda”  (FREIRE  COSTA,  2005, 
p.230).  As  três  espiãs  fazem  parte  deste  universo  criador  de  identidades,  e  na 

47 
Episódio Encolheu a cabeça.
101 

análise dos episódios podemos perceber as possíveis formas de conviver no mundo 
das jovens meninas. 

No episódio Biscoitos da Paixão, encontramos uma expressiva caracterização 
do que se constitui como beleza e saúde no contexto do desenho, reforçando a idéia 
já  articulada  no  episódio  Cidadãs  Modelo,  como  referi  no  segundo  capítulo.  O 
episódio inicia com Alex, Clover e Sam apreciando lojas no shopping, em busca de 
algo que ainda não haviam comprado. Clover identifica na vitrine um chapéu que viu 
em uma revista e que pretende adquirir. O impasse a seguir surge da dificuldade da 
personagem  em  aceitar  que  para  a  sua  cabeça  o  tamanho  ideal  é  G,  ou  seja, 
grande. A jovem despreza e recusa o tamanho do chapéu, afirmando que nunca em 
sua  vida  usará  alguma  coisa  do  tamanho  grande,  pois  “o  corpo  tem  que  aceitar  a 
fantasia porque esta é mais importante do que ele [...]” (SARLO, 2006, p.34). É claro, 
objetivo e compreensível nos dias atuais o discurso impresso nesse fragmento inicial 
de história: ser do tamanho grande é algo inaceitável, pois alude à obesidade, algo 
insuportável e  inadmissível  para  quem  vive em  sociedades  regidas  pelo dispositivo 
da magreza (MARTINS, 2006). 

Dando  continuidade  ao  episódio,  as  espiãs  são  transferidas  para  a  agência 
WOOHP, onde mais uma missão de caráter coletivo­mundial as espera. Desta vez, o 
grande  caso  a  solucionar  é  o  desejo  incontrolável  de  comer  que  acomete  as 
pessoas  após  engolir  um  biscoito  especial,  cuja  conseqüência  é  engordar 
exageradamente.  As  heroínas  têm,  então,  que  desvendar  quem  está  por  trás  do 
caso e acabar com esta vilã dos últimos tempos — a gordura. Destacando o quanto 
o ato de comer é contrário ao bem­estar, as personagens do mal, contrapondo­se à 
beleza e à imagem delgada das demais, são gordas e fortes e suas armas de fogo 
jogam  biscoitos  que  podem  engordar  até  explodir,  o  que  aponta  para  um  encaixe 
entre a narrativa do desenho e o discurso contemporâneo que vem exacerbando as 
preocupações relativas ao corpo gordo. Tal como alertam Martins e Costa (2006, p. 
7), quando afirmam que “a fronteira entre alguns quilos a mais e obesidade vêm se 
diluindo,  originando  um  controle  normativo,  no  qual  o  corpo  magro  representa  um 
aperfeiçoamento, uma evolução”. 

Durante todo o episódio as espiãs estão empenhadas em eliminar a “maligna 
gordura”.  Percebe­se,  nesses  vinte  minutos  de  trama,  um  discurso  “anorexista” 
representando e descrevendo o gordo como evidência material do que venha a ser o
102 

mal  e  o  “anormal”.  Contudo,  ao  final  do  episódio,  Clover,  contradizendo  as 
“verdades” proferidas, aceita o chapéu de tamanho G e afirma que: “O que vale é ser
feliz. Não importa o tamanho”.  Vemos  aqui  a  pedagogia  da  mídia  fazendo  suas 
prescrições  e  demonstrando  como  ser  gordo faz  mal  aos  sujeitos,  tanto  no  que  se 
refere  à  saúde,  quanto  no  que  diz  respeito  à  beleza  do  corpo  em  evidência.  Indo 
além,  podemos  dizer  que  a  narrativa  do  desenho  pressupõe  que  ser  gordo  não  é 
aceitável, não faz parte da juventude bela que “todas” as jovens meninas almejam, e 
aceitar isso significa resignação, abdicação de certas pretensões e possibilidades. 

O que se percebe na contemporaneidade, e a narrativa do desenho reafirma, 
é  que  “são  centenas  de  milhares  de  indivíduos  correndo  às  tontas  atrás  de  uma 
miragem  corporal  idolatrada  às  expensas  de  tudo  mais,  e,  o  que  é  pior,  fabricada 
para  ser  desmontada  em  pouco  tempo”  (FREIRE  COSTA,  2005,  p.  231). 
Embrenhadas  na  sociedade  pós­moderna  e  seduzidas  pelos  discursos  acerca  do 
corpo  e  da  moda,  as  espiãs  fazem  de  tudo  para  estarem  de  acordo  com  padrões 
estabelecidos  de  beleza  e,  portanto,  serem  aceitáveis  e  perfeitamente  consoantes 
com as exigências de seu grupo social. 

O episódio Verdade no Susto apresenta um  ponto de referência para que as 
garotas e os garotos telespectadores saibam onde encontrar as dicas “certas” para 
ter o corpo perfeito — as revistas.

(Sam e Alex aparecem sentadas, comendo sorvete, na lanchonete da escola. Clover


vem se aproximando, com uma revista em suas mãos).
Clover: Tá aqui meninas! A edição especial da Cochicho48!
(Alex pega a revista das mãos de Clover e abre­a).
Alex: Nossa! Uma entrevista na íntegra com a supermodelo Gisela! Tomara que seja
legal!
(Sam se aproxima de Alex para olhar a revista também).
Sam: Ela diz que o segredo de sua longa silhueta é comer (A imagem foca a revista
com duas fotos de Gisela) somente comidas longas e fininhas, tipo espaguete.
(Alex aparece com uma colher cheia de sorvete).
Alex: Hum! Eu deveria ter pedido um sorvete tipo picolé, ao invés de bola.
Clover: Viu! Informação que a gente vai usar! É o que eu chamo de jornalismo
investigativo.

De acordo com o desenho, as revistas são um ótimo lugar para encontrarmos 
as  dicas  sobre  como  cuidar  do  nosso  corpo.  Segundo  Clover,  “Informação que a 

48 
Alusão a revistas do tipo Capricho, Atrevida etc que circulam  no Brasil para o público adolescente 
feminino.
103

gente vai usar!”. A personagem classifica­as como jornalismo investigativo 49 , pois as 


revistas  apresentam  informações  não  disponíveis  facilmente  para  o  público.  São 
reportagens  que  exigem  maior  precisão na apuração das  informações; não  bastam 
apenas declarações, é preciso confrontar documentos, o  que exige um treinamento 
e  uma  qualificação  diferenciada  do  jornalista.  Assim  sendo,  através  da  afirmação 
que  finaliza  o  excerto,  a  personagem  acaba  por  validar  a  dieta  da  modelo  Gisela, 
apresentando a entrevista como uma reportagem precisa e verossímil. 

A  revista  também  é  apresentada como  manual  de manutenção  do corpo, no 


episódio A promoção do mal (Parte 1), episódio em que Alex passa a seguir à risca a 
dieta do coelho.

Alex: Ninguém entrou aqui. Eu troquei tudo na casa por produtos derivados de
cenoura (Uma gota pinga dos cabelos de Sam e Clover) Eu tô fazendo a dieta do
coelho! (Várias cenouras preenchem o fundo da tela. Alex segura uma revista com a
dieta do coelho).
Sam: Dieta do coelho? Isso significa que você só vai comer cenoura?
(Clover mostra sua escova de dente).
Clover: Correção! Ela vai fazer a gente só comer cenoura!
(Alex folheia a revista com a dieta. O fundo volta a ficar coberto de cenouras).
Alex: É a nova mania de Beverly Hills. Sabia que uma cenoura te dá energia pra andar
uns quatro quilômetros? Pode acreditar! Cenoura é o melhor legume que tem. Quem
é gente, come.
Clover: Pode esquecer! Se não forem feitas de diamante, eu não gosto de cenoura!
Alex: Mas cenouras são ótimas! Elas melhoram sua vista (Alex coloca as mãos nos
olhos, agora, grandes), te dão mais capacidade pra pular (Ao lado de Alex, aparece
uma nuvem com Alex vestida de coelho, pulando) e ainda curam piolho. (Alex
aponta o cabelo com os dois indicadores).

Tais  episódios  me  fizeram  recordar  do  momento,  já  referido  no  capítulo 
quatro,  em  que  encontrei um  estande com  revistas  repletas  de informações  acerca 
de  alterações  necessárias  para  que  os  corpos  fiquem  à  altura  do  que  se  espera 
momentaneamente. O que parece é que as revistas reproduzem as “novas manias”, 
que  freqüentemente  e  repentinamente  surgem,  interpelam  os  sujeitos,  e  acabam, 
juntamente  com  outros  artefatos,  enredando­os  e  engajando­os  em  processos  de 
subjetivação.  Aos  sujeitos,  “tudo  que  resta  é  correr  atrás,  sempre  em  atraso  e  de 
forma angustiante, do corpo da moda” (FREIRE COSTA, 2005 p. 197). 

49 
Pinheiro (2007); Coelho Sobrinho (2007), cf. ref. biblio.
104 

De acordo com a narrativa do desenho, o que aparece nas revistas, o que a 
tevê  mostra,  o  que surge nas passarelas, coloniza  o  desejo  dos sujeitos  e  passa  a 
ser o  objeto  máximo  de ambição  e  de preocupação  das  jovens  garotas  de Beverly 
Hills.  Enfim,  “toda  a  cultura  mass­midiática  tornou­se  uma  formidável  máquina 
comandada  pela  lei  da renovação acelerada,  do  sucesso  do efêmero,  da sedução, 
da diferença marginal” (LIPOVETSKY, 2006, p.205). 

Contudo,  a  beleza  apresentada  pelo  desenho  vai  além  das  questões 


corporais, e coloca  em  foco  ações  que tornam  as  meninas  mais  belas e  atraentes, 
instituindo  não  só  a  forma  de  cuidar  do  corpo,  mas  também  quais  atitudes  tomar 
para  ocupar  um  espaço  notório  na sociedade.  Bom exemplo  é  o  início  do  episódio 
Alienígenas,  no  qual  Alex  aparece  tentando  aprender  a  dirigir.  Após  muitas 
tentativas  e  a  desistência  de seu  instrutor,  a  jovem  se  desespera  e  expõe  um  dos 
grandes motivos que a levou a aprender a dirigir.

Alex: Mas eu tenho que passar! As garotas que dirigem são muito mais atraentes do
que as que não dirigem!

A ação de aprender a dirigir não tem outra função senão a de pertencimento e 
de  sedução.  É  necessário  aderir  à  sua  imagem  essa  competência  repleta  de 
significados social e culturalmente postos como desejáveis. A jovem precisa adquirir 
uma habilidade que, segundo a narrativa do desenho, é imprescindível para que se 
torne  atraente,  encaixando­se  nos  parâmetros  definidos  dentro  de  um  outro 
contexto. 

O  processo  de  se  encaixar  nos  padrões  definidos  pelo  grupo  também  é 
tematizado  e  discutido  no  episódio  Garotas  do  Vale  do  Silício,  no  qual  as  jovens 
espiãs aparecem em um tribunal de julgamento, na escola. Clover é a juíza e deve 
penalizar  Sam  por  ter  infringido a  altura  máxima  do  salto  permitida  pelo  código  do 
vestuário. Clover a absolve, porém Mandy intervém e a professora depõe Clover do 
cargo. Mandy assume o caso e condena:

Mandy: A corte condena vocês três por desrespeito. E a sentença é de três semanas na
coleta de lixo. Próximo caso!
(A cena finaliza com a projeção das três espiãs atrás das grades, com roupas de listras
brancas e pretas, com uma carcereira batendo com um cacetete nas grades).
105 

Assim  como  todos  os  que  não  se  enquadram  nas  regras  do  vestuário,  as 
heroínas  são  condenadas  à  pena  de  exclusão  social,  são  reduzidas  a  meras 
catadoras de lixo, pena insuportavelmente cruel em seu grupo. 

Outro importante ensinamento Clover coloca em evidência no episódio A Ilha 
WOOHP: “Quem pode colocar preço na beleza?” (expressão de Clover). Clover passa a 
ser  uma  esteticista  Esther 50 .  E  como  vendedora  de  porta  em  porta  “de tudo o que
existe de bom no mundo”, apresenta a suas amigas uma maleta repleta de cosméticos 

e  de  maquilagem.  Ao  abrir  a  maleta,  uma  forte  luz  recobre  Clover.  A  imagem  que 
segue  são  de  produtos  brilhando,  aleatoriamente,  dentro  da  maleta.  O  preço  é 
abusivo.  Sam  reclama.  Clover  contesta:  “Quem pode colocar preço na beleza?”.  Vale 
tudo quando se quer estar estonteante. 

Cosméticos  e  hidrantes,  produtos  distantes  da  vida  de  meninas  de  outros 
tempos,  hoje  fazem  parte  de um  conjunto  de  aparatos que  toda  a  garota deve  não 
apenas  conhecer,  como  também  adquirir  para  se  tornar  bela  e  integrada  em  seu 
grupo etário, social, em seu tempo. Sam e Alex não pretendem comprar os produtos 
—  seus  preços  são  elevados  —  porém  Clover  descobre  outra  forma  de convencê­ 
las.

Clover: Vocês não querem estar lindas para os gatinhos no piquenique da WOOHP
esse fim de semana?
(As duas espiãs se olham e um som estridente prenuncia a mudança de idéia).
Alex: Bom, pensando assim, eu vou pegar um hidratante.
Sam: Eu fico com o microesfoliante facial.
(As espiãs compram os produtos e rapidamente já os experimentam).
Sam: Ou! Parece que tem mil dedinhos esfoliando o rosto da gente.
Alex: Olha só! Minhas mãos nunca foram tão macias! Ah!
(As duas personagens aparecem, lado a lado, olhos fechados, sorrisos nos lábios e
expõem as mãos e o rosto, agora “devidamente” cuidados. Repentinamente, saem
feixes de luz das mãos de Alex e do rosto de Sam).

Ficar bela  para  agradar a  um  gatinho  é  algo  de  que, segundo  a narrativa do 


desenho,  toda  a  jovem  menina  deve  se  ocupar.  A  temática  em  relação  aos 
relacionamentos  afetivos  será  discutida,  ainda  neste  capítulo,  na  seção  sobre 
“Consumo de Relacionamentos”. 

50 
Nome da linha de cosméticos que Clover revende.
106 

Percebendo o corpo jovem como um locus histórico e, portanto, construído na 
relação proximal com as “verdades” a ele atribuídas, é possível salientar que a forma 
como ele é narrado, no espaço televisivo da série de desenho animado Três Espiãs 
Demais, prenuncia um tipo de atitude das jovens meninas em relação ao seu corpo, 
enquadrada de acordo com certos clichês sociais. A preocupação das personagens 
com a forma e a aparência física, com a moda e a repetida evidência do corpo, narra 
um modo especial de ser e conviver com o corpo. O que se percebe é que “a medida 
ética  do  interesse  pelo  corpo,  portanto,  não  está  no  montante  de  cuidados  a  ele 
dedicado, mas na significação que os cuidados assumem” (FREIRE COSTA, 2005, 
p.20). 

Como  se  pode  observar  nos  recortes  apontados  na  presente  análise,  o 
consumo de aparências de uma jovem menina está em foco no desenho Três Espiãs 
Demais,  classificando  ações,  comparando  condutas  e  práticas  humanas  e 
estabelecendo uma forma de regulação cultural. (HALL, 1997a). 

Consumo de Objetos 

Dentre  os  dezesseis  episódios  assistidos  para  o  estudo,  sete  fazem  forte 
referência  ao  consumo  de  objetos  em  suas  narrativas.  E  é  possível  identificar, 
muitas  vezes,  nesses  capítulos,  problematizações  que  colocam  o  consumo  de 
objetos no centro de discussões em relação às missões de caráter individual­grupal. 

Freqüentemente,  o  desenho  narra  e  caracteriza  as  jovens  meninas  como 


completamente fascinadas pela sociedade do consumo e incrivelmente adeptas aos 
signos  e  ações  por  ela  transmitidos.  O  que  parece  é  que  as  jovens  da  série  de 
desenho animado Três Espiãs Demais se inscrevem e atuam em uma sociedade na 
qual  “as  coisas  são  ornamentos  simbólicos  das  identidades  e  ferramentas  dos 
esforços  de  identificação [...]” (BAUMAN,  2001, p.100).  São identidades  transitórias 
que vão se significando através da posse momentânea dos objetos (SARLO, 2006). 
O ato de consumir objetos transcende o simples processo de aquisição e passa a se 
caracterizar “como a apropriação coletiva, em relações de solidariedade e distinção 
com  outros,  de  bens  que  proporcionam  satisfações  biológicas  e  simbólicas,  que 
servem para enviar e receber mensagens” (GARCIA­CANCLINI, 2006, p.70).
107 

Botas,  bolsas,  vestidos,  blusas  não  possuem  valor  intrínseco,  seu  valor 
mercantil  “[...]  é  resultante  das  interações  socioculturais  em  que  os  homens  os 
usam” (GARCIA­CANCLINI, 2006, p.70). Seguindo a lógica consumista do desenho, 
“cabe” aos objetos categorizar e classificar os sujeitos, na contemporaneidade. Isso 
quer dizer que o valor não está no objeto em si, mas nos significados que concentra 
e  distribui  a  quem  os  consome.  Mais  do  que  objetos,  são  artefatos  culturais 
carregados de significados. 

Um  bom  exemplo  de  como  o  valor  dos  objetos  se  constitui  na  relação 
proximal  com  o  seu  grupo  e  como  a  eles  é  atribuída  a  identidade  dos  sujeitos  é 
apresentado no episódio Dor de Dente. Nele a personagem Clover se compara com 
a sua rival de colégio  Mandy,  personagem  que já  possui  o objeto do seu  querer,  a 
bolsa da Mute.

(As três espiãs aparecem sentadas no pátio da escola).


Clover: Então, eu ainda tô na lista de espera da bolsa exclusiva pra clientes da Mute,
que a irritante da Mandy trouxe ontem.
Alex: Ai!
Clover: Eu sei! É super injusto!
Sam: O que foi Alex? Você tá com dor?
Alex: Tô sim! Eu tô com um dente aqui doendo muito! A sorte é que só dói quando
eu como, falo ou respiro.
(Clover fica furiosa e reclama:)
Clover: Ah! Dá licença! A gente pode voltar pro problema de verdade! A Mandy só
conseguiu a bolsa porque ela subornou o cara. Eu nunca faria uma coisa dessas!

Clover  é  representada  nessa  cena  —  de  forma  semelhante  a  muitas  outras 


em outros episódios — como uma jovem insatisfeita com a falta de algum produto. A 
tristeza, a culpa, a ansiedade e a frustração de Clover em relação à bolsa desejada 
expressam  o  sofrimento  causado  pela  falta  daquilo  que  é  caracterizado  como  um 
objeto carregado  de  um  conjunto  de significados  que  validam,  credenciam  quem  o 
possui perante seu grupo. 

Segundo Steinberg e Kincheloe (2004): 

Obviamente, poder misturado com desejo produz um coquetel explosivo; a 
colonização do desejo, no entanto, não é o fim da história. O poder envolve 
o  consciente  e  o  subconsciente  de  uma  forma  que  evoca,  sem  dúvida, 
desejo, mas também culpa e ansiedade. (p.21) 

O  querer  adquirir  a  bolsa  é  algo  superior  a  tudo  o  que  está  à  volta  da 
personagem.  Após  a  bolsa  colonizar  os  seus  desejos,  Clover  não  se  libertará  dos
108 

sentimentos  de  culpa  e  ansiedade  até  possuí­la.  Para  a  jovem  espiã,  o  objeto  de 
desejo é mais importante que a dor que sua amiga sente em seu dente  ou mesmo 
que  qualquer  missão coletivo­mundial  que  possa  surgir  naquele  momento,  pois,  “a 
corrida  para  o  consumo,  a  febre  das  novidades  não  encontram  sua  fonte  na 
motivação  do  prazer,  mas  operam­se  sob  o  ímpeto  da  competição  estatutária” 
(LIPOVETSKY, 2005, p. 171). 

Essa  corrida  pela  posse  dos  objetos  do  consumo  aparece  também  no 
episódio Natal do Mal. Nesse episódio, o objeto de desejo de Clover passa a ser a 
bota Yves Mont Blanc. 

Ele inicia com  as  espiãs caminhando  pelo shopping  de Beverly Hills,  repleto 


de decorações natalinas e de uma imensa árvore de Natal. Clover pára em frente a 
uma  vitrine  e  começa  a  tirar  fotos  de  presentes  com  seu  celular.  Sua  intenção  é 
enviá­las por mensagem para seus pais, que estão na Europa, para que possam lhe 
mandar  os  presentes  de  Natal.  Clover  e  suas  amigas  “compreendem”  que,  “essa
época do ano é pra dar, não para receber”  (Sam).  E  seguindo  a  lógica,  afirma  Clover, 
“Mas eu só quero dar, Sami. Quero dar a minha lista de Natal para o meu pai”. Submersa 
em  sentimentos  narcisistas  e  hedonistas,  Clover  não  tem  olhos  solidários  para  os 
demais.  A  ela  só  interessam  seus  próprios  desejos  e  objetivos,  seus  próprios 
“problemas”.  Para  a  personagem,  “o  sentido  da vida  deixou  de  ser  pensado  como 
um  processo  com  finalidades  em  longo  prazo  e  objetivos  extrapessoais”  (FREIRE 
COSTA, 2005, p. 186). 

Dando continuidade ao episódio...

(De repente um som estridente prenuncia a descoberta de algo. Ao fundo, surgem


nuvens com diferentes tons de rosa e lilás acompanhadas de branco. As cores são
destacas por estrelas que brilham aleatoriamente. As bochechas de Clover ficam
avermelhadas de uma ponta de seus olhos a outra. Seus olhos, um pouco diminuídos,
expressam a satisfação em ver algo em sua frente).
Alex: O que é isso? O novo sabor de sorvete sem gordura?
Clover: Não. É Yves Mont Blanc! A marca de sapatos mais fabulosa do planeta!
(Clover tira fotos da bota em diversas posições. Quando se aproxima para pegá­la, é
surpreendida por Mandy, que retira as botas da vitrine. Clover leva um susto).
Mandy: Larga essa botinha, otária! A minha mãe vai comprar pra mim o último par
dessas botas.
(Clover a arranca das mãos de Mandy).
Clover: Só se for por cima das minhas unhas!
Mandy: São minhas!
(Clover puxa pelo cano da bota, enquanto Mandy puxa pelos pés.)
Sam: Ô Clover! Vai arriscar quebrar uma unha por causa de uma bota?
109

(Enquanto puxam e disputam a bota...).


Clover: Eu pago o dobro do preço!
Mandy: Eu pago o quádruplo!
Clover: Eu dobro qualquer oferta dela!
Mandy: “Manheee”! Faça alguma coisa!
(De repente surge a mãe de Mandy ao celular.)
Mãe da Mandy: Eu já fiz, Docinho! Eu acabei de comprar a cadeia de lojas nacional
desta marca. E com todas as botas junto.
Mandy: Comprou?
(Clover fica desiludida).
Clover: Não acredito!

Nesse episódio, Clover e Mandy disputam não apenas um objeto, mas todos 
os significados  que  possam  ser  evocados pelo  produto  na  sociedade  do consumo. 
Entretanto, como afirma Bauman (1999), 

Para aumentar sua capacidade de consumo, os consumidores não devem 
nunca  ter  descanso.  Precisam  ser  mantidos  continuamente  acordados  e 
em alerta sempre, continuamente expostos a novas tentações, num estado 
de excitação incessante — e também, com efeito, em estado de perpétua 
suspeita e pronta insatisfação. (p.91) 

E, de repente, “A marca mais fabulosa do planeta” (expressão de Clover) tem 


seus  dias  contados,  não  só  no  episódio  como  no  dia­a­dia  dos  sujeitos  que 
constituem  a  sociedade  do  consumo.  Clover,  suas  amigas  espiãs  e  a  rival  Mandy 
compreendem  o  valor  simbólico  que  a  bota  possui  e,  após  sua  obsolescência, 
sabem desfazer­se dela, já que, conforme Sarlo (2006), 

O  tempo  foi  abolido  para  os  objetos  comuns  do  mercado.  Não  que  eles 
sejam eternos, e sim por serem inteiramente transitórios. Duram enquanto 
não  se  gastar  de  todo  seu valor  simbólico,  porque, além de mercadorias, 
são objetos hiper­significantes. (p.29) 

A  transitoriedade  dos  objetos  pode  ser  evidenciada  quando,  ao  final  do 
episódio,  Clover  doa  sua  bota  para  Mandy,  que  está  chorando.  Sam  acredita  que 
Clover  compreendeu  o  espírito do  Natal.  Contudo,  a  personagem  dá  a  história  um 
final inusitado, porém muito compreensível para os “consumidores cidadãos”.

Clover: O espírito do Natal? Hello! Yves Mont Blanc tá fora de moda! Olha esse novo
George Vivaldi, saída das passarelas européias!
(Clover tira de uma caixa de presentes uma bota rosa. Muitas estrelas brilham,
aleatoriamente, ao redor do produto. Mandy tira as botas Yves Mont Blanc dos pés e
joga­as no chão).
Mandy: Ah! Sua insuportável, (Mandy faz uma bola com a neve do chão) tentando
me insultar com essas coisas feias!
110 

Na  sociedade  do  efêmero,  do  obsoleto  e  das  novidades,  a  bota  Yves  Mont 
Blanc  teve  seus  dias  contados.  “Não  há  linha  de  chegada  óbvia  para  essa  corrida 
atrás  de  novos  desejos,  muito  menos  de  sua  satisfação”  (BAUMAN,  1999,  p.87). 
Mandy, celebrando a cultura do efêmero e do obsoleto, afirma que Clover a insultou 
“com essas coisas feias”, ou seja, com botas, agora, já fora de moda. Clover a insultou 
mais especificamente em função da posição superior que se encontra em relação à 
posse  dos  objetos  da  moda,  porque,  “os  objetos,  hoje  como  ontem,  servem  para 
ostentar a opulência de seus possuidores” (FREIRE COSTA, 2005, p. 174) e colocar 
as jovens meninas em evidência na sociedade do espetáculo. 

Segundo Lipovetsky (2006): 

Desse  modo,  a  sociedade  de  consumo,  com  sua  obsolescência 


orquestrada, suas marcas mais ou menos cotadas, suas gamas de objetos, 
não  é  senão  um  imenso  processo  de  produção  de  ‘valores  signos’  cuja 
função  é  conotar  posições,  reinscrever  diferenças  sociais  em  uma  era 
igualitária que destruiu as hierarquias de nascimento. (171) 

No desenho, a importância do ter, reforçada constantemente, estabelece uma 
significativa  aproximação,  e  em  certos  casos  relação  de  causa  e  efeito,  entre 
felicidade e consumo e/ou consumo e felicidade. 

Observemos  outro  trecho  decupado  do  episódio  Dor  de  Dente.  Nesse 
episódio, Clover acredita que Mandy subornou alguém para possuir a bolsa da Mute, 
bolsa  que,  para  ser  entregue,  segue  uma  lista  de  espera.  As  espiãs  pensam  que 
isso é um golpe baixo de Mandy. Sam afirma:

Sam: Falando em coisas baixas, eu gostaria de saber por que a Mandy veio de ônibus?
(Mandy fica furiosa. O fundo da imagem é preenchido por tons de vermelho, branco,
preto e raios).
Mandy: Pra sua informação, tô fazendo uma pesquisa pro jornal sobre transporte
público. Ah! Por enquanto dou nota zero!
(De repente surgem pequenos chifres em Clover, sugerindo um caráter diabólico para
sua atitude, e ela rapidamente pergunta:)
Clover: Pro ônibus ou pra pesquisa?
(Mandy, ligeiramente, puxa a sua bolsa da Mute e, com ar de vingança, mostra para
Clover. Ao fundo, as cores se intercalam em vários tons de azul).
Mandy: Tá com inveja, né? Acho que algumas de nós são exclusivas e outras não são.
(Clover expressa seu desagrado com expressão horripilante: olhos esbugalhados, com
rajadas de sangue, testa vermelha e sobrancelhas que ultrapassam os limites do
desenho do cabelo. Um caminhão de lixo desaba sobre Mandy. Na seqüência, as
espiãs aparecem na lanchonete da escola fazendo seu lanche e visualizam Mandy
comendo um sanduíche).
Mandy: O que é que vocês estão olhando? Acontece que eu não agüento mais a
comida desse lugar. É muito nojenta pro meu gosto refinado!
111

Sam: Ah! A comida daqui nojenta? Ela tá comendo sanduíche de mortadela!


(Em seguida, aparece, no laboratório de Química).
Sam: Meninas, isto é muito estranho! Tão vendo a blusa da Mandy? É igualzinha
aquela que eu doei praquele bazar de caridade de roupas de marca. Eu acho que...
Vocês acham que...
Alex: Que em vez de comprar na Rodeo Drive a Mandy tá comprando num bazar de
caridade?
Sam: Só tem um jeito de ter certeza! A minha blusa tem as minhas iniciais atrás.
Clover: Você ainda põe as iniciais nas suas roupas? A gente não tá mais no maternal!
Sam: Acontece que o bordado é muito legal!
(Sam mira a gola da blusa de Mandy com uma lente de aumento e completa:)
Sam: E com certeza é a minha blusa!
Clover: Primeiro ônibus, depois o sanduíche de mortadela, agora isso! Será que a
Mandy tá sem grana?
(Dando continuidade ao episódio, Sam é raptada. Alex e Clover falam com Jerry pelo
comunicador. De repente ouvem:)
Mandy: U$ 12é minha oferta final. É pegar ou largar!
Alex: A Mandy tá fazendo uma “venda de garagem”?
(Aparece a imagem da placa com a escrita em inglês e uma voz realiza sua leitura
traduzida)51.
Clover: Não qualquer “venda de garagem”. Uma “venda de garagem” de Beverly
Hills. Se isso não é sinal de problema financeiro, eu não sei o que é.
(Clover fecha o comunicador com Jerry falando e protestando. Logo em seguida, se
aproxima da venda. Seus olhos brilham ao encontrar a bolsa da Mute e um som
estridente, representando a alegria e a felicidade do momento, celebram a
probabilidade da compra da tão desejada bolsa, desde o início do episódio).
Clover: Aaah! A Mandy tá vendendo a bolsa exclusiva por 20 dólares. Ah! Vamos ver
até que ponto o desespero chega.
(Clover se aproxima de Mandy).
Clover: Oi, Mandy! Eu te dou cinqüenta centavos pela bolsa.
Mandy: Até parece! Você sabe que essa bolsa vale 50 mil vezes isso!
Alex: Você tá passando por algum problema financeiro?
Mandy: Não seja ridícula! Eu só tô me livrando de algumas coisas para dar lugar à
nova coleção de outono que eu encomendei. Você vai querer a bolsa ou não?
(Nesse momento a mãe de Mandy aparece gritando. A potência de seu grito é
representada pelo vôo dos cabelos das personagens e deformação de seus rostos
impulsionados pela força de seu berro).
Mãe da Mandy: Mandy! Você não pode falar com suas amigas! É isso que significa
estar de castigo?
Clover: Castigo?
Mandy: Não, mãe! Elas não são minhas amigas!
Mãe: Nada de desculpas, mocinha! Só vai ter seu cartão e a sua liberdade de volta
quando as notas melhorarem. Já pro seu quarto!
Clover: Isso explica tudinho. Ela não tá sem grana, ela tá sem o cartão de crédito! Eu
não acredito que eu vou dizer isso, mas coitadinha! Esse sim é o pior castigo do
mundo!

51 
A  expressão  “venda  de  garagem”  foi  traduzida  literalmente  do  inglês garage  sail ,  que  se  refere  a 
uma prática comum nos Estados Unidos de vender, em dia marcado, na garagem das casas, objetos 
em desuso.
112 

A  relação  que  se  coloca  entre  não  poder  comprar,  não  poder  desfrutar  de 
coisas  caras  e  “estar  em  baixa”  dá  a  idéia  de  que  “estar  em  alta”  é  reservado  aos 
que  possuem  condições  de  consumir.  Na  fala  que  finaliza  o  excerto  nota­se, 
inclusive,  um  sentimento  de  compaixão  (raro!)  da  espiã  em  relação  à  Mandy,  que 
não pode usar seu cartão de compras. Seu castigo é o pior castigo do mundo: não 
poder  fazer  parte  da  cidadania  do  mercado,  não  poder  pertencer  à  sociedade  do 
consumo,  não  ser  cidadão  consumidor.  As  identidades,  atualmente,  configuram­se 
no consumo, elas dependem daquilo que se possui, ou daquilo que se pode chegar 
a possuir (GARCIA­CANCLINI, 2006). 

Nesse  contexto,  a  cidadania  é  exercida  através  da  possível  circulação  e 


notoriedade  dos  sujeitos  na  sociedade  do  espetáculo.  Dentre  as  personagens, 
Clover  é  narrada  como  impaciente,  impetuosa,  indócil,  características  citadas  por 
Bauman (1999) como próprias dos consumidores. Desse modo, podemos tematizá­ 
la  como  um  bom  exemplo  de  jovem  assujeitada  às  normas  e  regras  do consumo, 
com  a  vida  governada  pela  sociedade  do  consumo.  A  personagem  vive  num 
constante  “shopping  spree”,  definido  por  Sarlo  (2006)  como  “[...]  um  impulso 
teoricamente irrefreável enquanto houver condições econômicas para levá­lo a cabo. 
Trata­se,  ao pé  da  letra,  de  uma  coleção de  atos  de consumo  na  qual  o  objeto  se 
consome antes sequer de ser tocado pelo uso” (p. 28). Clover é caracterizada como 
a  mais  arrebatada  pela  magia  do  consumo,  disputando  infatigavelmente  com  sua 
rival Mandy pela posse antecipada de produtos. Clover aprendeu muito cedo essas 
regras  do  consumo  e  agora  as  está  ensinando,  de  forma  lúdica  e  prazerosa,  às 
milhares de telespectadoras que vibram com suas proezas e modo de ser em todo o 
mundo. 

Observemos outra passagem dos episódios:

Clover: Já vi. Já comprei. Já devolvi.52

Essas são  as  palavras  de Clover ao  examinar a vitrine de  uma  das  lojas  do 


shopping,  no  episódio  Biscoitos  da  Paixão.  As  três  espiãs,  naquele  momento  a 
passeio,  estavam  em  busca  de  algo  para  comprar.  Capturadas  pela  teia  do 
consumo, elas procuravam, tal como explica Bauman (1999), “não tanto a avidez de 

52 
Episódio Biscoitos da Paixão.
113 

adquirir,  de  possuir,  não  o  acúmulo  de  riquezas  no  seu sentido  material,  palpável, 
mas a excitação de uma sensação nova, ainda não experimentada [...]” (p.91). 

A  fala  de  Clover  reproduz  o  ápice  da  busca  pelo  acúmulo  de  sensações 
promovidas  pelo  consumo.  A  expressão,  “Já vi”,  mencionada  pela  personagem,  no 
momento em que estão diante da vitrine de uma loja do shopping, acompanhada de 
gestos  e  rosto  de  insatisfação e  desaprovação,  nos  dá  a sensação  de  movimento, 
de  busca  constante,  de  procura,  pois,  de  acordo  com  Canclini  (2006),  “[...]  o 
problema não é tanto a falta, mas o fato de o que possuem tornar­se a cada instante 
obsoleto ou fugaz” (p.32). Segundo a narrativa do desenho, tudo o que está exposto 
na vitrine já foi visto e revisto pelos incansáveis e sedentos olhos consumidores das 
três  personagens.  “O  desejo  do  novo  é,  por definição,  inextinguível”  (SARLO  2006, 
p. 26). Como afirma Bauman (1999): 

Para os consumidores da sociedade de consumo, estar em movimento — 
procurar,  buscar,  não  encontrar  ou,  mais  precisamente,  não  encontrar 
ainda — não é sinônimo de mal­estar, mas promessa de bem­aventurança, 
talvez a própria bem­aventurança (p. 91) 

A  expressão seguinte, “Já comprei”, reafirma  a  importância de comprar, sem 


critérios, sem seleção. A afirmação, expressa com descaso e ironia, sugere que as 
jovens meninas contemporâneas, enleadas no mundo fashion, compram tudo o que 
está na onda momentânea da moda e apenas não adquirem o que não se encontra 
à venda. 

Por  fim,  a  expressão  “Já devolvi”  acrescenta  a  idéia  da  descartabilidade.  O 


que  está  na  moda  já  foi  olhado,  comprado  e  devolvido  por  não  lhes  saciar  as 
sensações  “prometidas”  ou  ainda  porque  seu  valor  simbólico  esgotou­se 
rapidamente. 

Vejamos  a  música  de  abertura 53  que  acompanha  o  clipe  de  abertura  do 
desenho:

Estamos prontas pra qualquer missão, enfrentar


E vamos encarar
Mas toda vez que entramos no shopping queremos comprar! 54
Elegantes, charmosas, das missões desvendamos a trama
Bem espertas, corajosas 
De três espiãs conquistamos a fama e é pra já, vamos lá, gira em nosso programa! 

53 
Três Espiãs Demais (2007), cf. ref. biblio. 
54 
Grifo meu.
114 

A  cada  episódio,  a  música  enaltece  a  importância  do  shopping  enquanto 


espaço “normalmente” visitado pelas jovens meninas, instituindo essa ação de entrar 
no  shopping  e  comprar  como  prática  habitual  identificadora  da  juventude  feminina. 
Em sua instigante análise sobre o shopping, Sarlo (2006) ressalta que na soma de 
diferentes estilos, o shopping compõe “uma estética adolescente” (p.22). 

A  visita  ao  templo  máximo  do  ter  não  se  faz  descompromissada, pois  como 
diz  a  letra  da  trilha  sonora,  “[...]  toda  vez  que  entramos  no  shopping  queremos 
comprar!”.  O shopping,  no  desenho  animado,  é  o  paraíso  de  toda  a  jovem  menina 
que  se  preze,  é  um  espaço  de  livre  circulação,  no  qual  se  transita  aceitando  com 
deleite  as  armadilhas  do  consumo.  Nele  as  meninas  encontram  tudo  de  que 
necessitam para fazer parte do universo jovem. O sentimento de pertencimento é tão 
expressivo  no  desenho  que  Clover  chega  a  chamar  o  Shopping  Beverly  Hills  de 
“nosso shopping”, no episódio Encolheu a cabeça. 

Sarlo  (2006)  sublinha  que “como  numa  nave  espacial, é  possível  realizar  ali 
todas as atividades reprodutivas da vida: come­se, bebe­se, descansa­se, consome­ 
se  mercadorias  e  símbolos  segundo  regras  não  escritas  porém  absolutamente 
claras” (p. 15). 

Em  episódios  como  As  garotas  dos  games,  por  exemplo,  o  shopping  é 
lembrado  e  referenciado  como  um  lugar  não  só  muito  freqüentado,  mas  também 
muito conhecido pelas jovens meninas. 

Nesse episódio, as protagonistas aparecem, já no início, na escada rolante do 
Shopping  Beverly  Hills.  Comentam  um  assunto  de  grande  relevância  para  elas: 
como se comportar e o que fazer em meio a uma grande liquidação.

Alex: Foi bom a gente ter pego refrigerante antes das compras, né?
Sam: Lembra da última liquidação do ano? A Clover ficou tão empolgada que quase
desmaiou de desidratação dentro do provador.
Clover: O que eu não posso entender é como eles param a gente por uma simples
garrafa de água! É uma coisa tão boba, mas não na maior liquidação do ano.

Nesse  contexto,  pegar  água  antes  das  compras  torna­se  um  tipo  de 
prescrição  para  os  telespectadores  das  jovens  espiãs,  que  devem  evitar  a 
desidratação durante suas compras.  Isso  porque, segundo  a  narrativa  do desenho,
115 

há  tão  grande  número  de  produtos  a  ser  comprado  e  um  tempo  tão  longo  de 
envolvimento no processo de aquisição dos produtos da moda que é fácil esquecer 
de beber água. 

Em meio às compras, as espiãs são sugadas por Jerry para a WOOHP, com 
vistas à resolução de mais uma missão de caráter coletivo­mundial. Clover protesta.

Clover: Eu não acredito que fomos sugadas da maior e melhor liquidação do ano!

Para ela, é inaceitável ser retirada do seu templo de prazeres. Do lugar onde 
estão  expostos,  “todos  os  objetos sonhados”  (SARLO,  2006,  p.  21)  e  que naquele 
momento encontravam­se em liquidação — o shopping. 

Ao  mencionar  “objetos  sonhados”,  acabei  por  relembrar  o  episódio Biscoitos 


da  Paixão,  quando  Clover  não  aceita  comprar  o  chapéu  de  tamanho  G,  que, 
segundo ela, “deveria” ser M. O que parece, segundo a narrativa do desenho, é que 
o próprio ato de consumir ou não um objeto, devido ao seu tamanho, ressalta quais 
valores  constituem  a  identidade  da  personagem.  Valores  que  estão  —  associados 
aos  tantos  outros  ensinados  pelos  diferentes  setores  sociais  —  a  colonizar  os 
pensamentos do público que assiste regularmente ao desenho animado Três Espiãs 
Demais . 

Nesse  aspecto,  quando  meninos  e  meninas  adquirem  revistas,  álbuns, 


brinquedos,  cadernos,  pastas,  estojos,  entre  outros  acessórios,  buscando  se 
associar  aos  significados  apresentados  por  seus  personagens  preferidos,  não  só 
adquirem  utensílio  e  entretenimento  mas  também  acabam  por  procurar  viver  os 
valores por eles ensinados. 

Sabat (2004) afirma que: 

[...]  além  do  consumo  de  produtos  como  cadernos,  lancheiras,  sapatos, 
roupas que trazem personagens dos filmes, torna­se considerável, também, 
o  “consumo”  de  um  conjunto  de  valores  que  estão  sendo  reproduzidos 
através  dessas  personagens  e  que  são  amplamente  “consumidos”  pelas 
crianças.  (p.96) 

Ou  seja,  através  do  consumo  definimos  nossas  escolhas,  delimitamos  quais 
valores e atitudes estão em destaque e são aceitos em nossa sociedade e a quais 
deles  queremos  nos  associar.  Assim  sendo,  “[...]  quando  selecionamos  os  bens  e 
nos  apropriamos  deles,  definimos  o  que  consideramos  publicamente  valioso,  bem
116 

como  os  modos  com  que  nos  integrarmos  e  nos  distinguirmos  na  sociedade,  de 
combinarmos o pragmático e o aprazível” (GARCIA­CANCLINI 2006, p.35). 

O que podemos perceber através das análises realizadas nesta seção é que 
estamos continuamente sendo interpelados pelas pedagogias do consumo. No caso 
do  desenho  animado,  a  questão  se  torna  ainda  mais  insidiosa  e  articulada,  pois  o 
programa parte de um enredo criativo, prazeroso e dinâmico, que vive a povoar as 
telinhas e a conquistar telespectadores de diferentes grupos, culturas e sociedades, 
ensinando um jeito especial de ser “cidadão” consumidor. 

Nas narrativas da série de desenho animado Três Espiãs Demais fica claro o 
estímulo ao consumo desenfreado, que de forma ardilosa, conquista a cultura juvenil 
feminina  e vai  instituindo  como  modelo  um  outro  jeito  de  viver.  Um  viver  arraigado 
nos  princípios  do  ter  e  do  parecer.  O  desenho  dissemina  um  discurso  capaz  de 
produzir, selecionar e categorizar as coisas mais importantes da vida, expressando­ 
as  como  “coisas  compráveis”.  Repetidos  centenas  de  vezes,  os  discursos  do 
consumo  povoam  nossos  desejos,  restringem  e  articulam  nossas  possíveis  ações 
enquanto cidadãos e cidadãs. 

Consumo de Relacionamentos 

No  que  se  refere  à  afetividade,  parece  que  essa  também  se  converteu  na 
busca incansável pelo “consumo” de relacionamentos com jovens belos, intelectuais, 
“sarados” e socialmente em evidência. 

Reincidentemente,  Sam,  Alex  e  Clover  se  mostram  capazes  de  qualquer 


coisa para conseguir alcançar o prazer narcisista da conquista de jovens meninos. A 
vida  atribulada  das  três  jovens  meninas,  em  meio  a  missões,  compras,  casa  e 
escola, é povoada por meninos lindos, musculosos e inteligentes. De acordo com a 
narrativa do desenho, o mundo de uma jovem  menina é vazio se não contar com a 
presença  do  masculino.  Não  um  vazio  preenchível,  mas  de  uma  incompletude 
eterna,  que  se  assegura  na  busca  interminável  por  novos  relacionamentos.  Nas 
narrativas  do  desenho,  buscar  contínuos  e  descartáveis  relacionamentos  é  a 
representação do ideal de felicidade.
117 

De  dezesseis  episódios  analisados,  oito  tematizam  em  suas  tramas  os 
relacionamentos  afetivos  entre  as  jovens  meninas  espiãs  e  jovens  meninos.  Neles 
os relacionamentos são apresentados como produtos a serem consumidos. Isso se 
evidencia  na  medida  em  que  se  pode  perceber:  a  imensa  euforia  estabelecida  em 
função da sedução dos garotos em relação às meninas, a espantosa “batalha” para 
conquistar seus ”objetos” de desejo  e a fácil  descartabilidade  dos relacionamentos, 
que podem ser substituídos por uma “versão” nova e aprimorada a cada episódio. As 
tramas dão ênfase ao prazer da conquista e ao descarte. 

Inteiramente  inscrito  no  discurso  heteronormativo  e  sexista,  o  desenho 


animado Três Espiãs Demais — de forma lúdica, em meio a trilhas sonoras, imagens 
frenéticas  e  cores  alucinantes  —  ensina  como  “qualquer”  jovem  menina  pode 
conseguir sair com o “gatinho” que quiser. 

No  episódio  Encolhe­encolhe,  por  exemplo,  Clover  dá  instruções  não  só  às 
suas  amigas,  mas  a  todos  os  telespectadores  capturados  pela  trama  de  suas 
narrativas.  No  início  do  episódio  as  espiãs  aparecem  patinando  na  praia.  De 
repente, Clover começa a se desequilibrar nos patins.

Sam: O que foi? Por que está patinando tão mal?


(Clover se atira nos braços de Alex. Neste instante, aparece um jovem, com porte
atlético, uma bola de vôlei em punho, para dar o saque. Na imagem, os dentes do
jovem soltam brilhos. Clover diz às amigas:)
Clover: Olha só como se faz!
(Ela patina em direção ao jogador e cai sobre ele).
Clover: Ah! Eu sinto muito! Você está bem?
Rapaz: Ah! Eu estou bem sim! Não se preocupe.
(O clima de romance é apresentado pelo coração lilás que se forma na tela. Coração
que mostra ao centro os olhares apaixonados dos dois jovens. Alex conversa com
Sam:)
Alex: É, ela é boa!
Sam: É mesmo!
(A cena volta a enfocar os dois personagens enamorados).
Clover: Ah! Claro! Sexta, à noite, seria perfeito, Jason.
Jason: Ô, legal! Eu pego você às oito.
(Agora já patinando perfeitamente, Clover vai ao encontro das amigas).
Clover: Vocês viram? Eu vou sair com Jason Robert. A Mandy vai odiar tanto! Ela se
acha dez e quer sempre ter um menino.

A expressão “Olha só como se faz!” prenuncia um momento de demonstração 


e exemplo para os demais. Anuncia que Clover mostrará a todas as jovens meninas 
como  elas  podem  agir  para  marcar  um  encontro  com  um  “gatinho”.  Com  a
118 

encenação,  Clover  também  se  vinga  de  sua  rival  Mandy  que,  como  toda  a  jovem 
menina, “[...] quer sempre ter um menino”.  Um  menino  sem  identidade  fixa  ou 
significado especial. Na narrativa, os namorados são comparados a mercadorias e, 
segundo Bauman (2004), 

Consideradas  defeituosas  ou  não  “plenamente  satisfatórias”,  as 


mercadorias  podem  ser  trocadas  por  outras,  as  quais  se  espera  que 
agradem mais, mesmo que não haja um serviço de atendimento ao cliente 
e que a transação não inclua a garantia de devolução do dinheiro. (p.28) 

O  fascínio  por  garotos  é  muitas  vezes  evidenciado  na  série  de  desenho 
animado  selecionada  para  o  estudo.  O  poder  de  atração  dos  personagens 
masculinos pode ser observado em episódio como Garotas do Vale do Silício. Nessa 
narrativa, as espiãs são enviadas para a Itália com o intuito de proteger um professor 
de  ginástica  que está  sendo  atacado  por  dispositivos  computadorizados.  Enquanto 
as espiãs interrogam o professor, três belos garotos se aproximam e trocam olhares 
com Clover. De repente, um dos rapazes acena para a personagem. Clover levanta 
e vai saltitando em direção aos jovens meninos. Sam faz uma importante descoberta 
em relação à missão de caráter coletivo­mundial.

Sam: É isso! O treinador pegava no pé dos garotos numa escola e o Bret noutra!
(Nesse momento, Sam é focada em primeiro plano, enquanto num segundo plano,
Clover é jogada várias vezes para o alto nos braços dos três belos rapazes; experiência
que a deixa no auge da felicidade).
Sam: Pessoal! Se por acaso forem ambos o mesmo garoto que está agora no Vale do
Silício?!
(Sam percebe o que está acontecendo com Clover e com a mão no queixo faz uma
expressão de desaprovação. Alex levanta e caminha em direção a Clover).
Alex: Hum! Hora de fazer uma visita ao Vale do Silício. No caminho a gente deixa o
treinador na WOOHP.
(Ao perceberem a aproximação de Alex, os garotos colocam Clover novamente no
chão. Alex pega Clover pela mão. Clover fica olhando para trás e abanando para os
garotos. Os jovens demonstram em suas faces expressões de decepção. Um deles com
a mão na cintura e os outros dois com os braços estendidos ao longo do corpo).
Sam: Vem Clover!

Ou  seja,  Clover,  em  meio  às  buscas  de  pistas  sobre  a  missão  de  caráter 
coletivo­mundial,  tem  algo  mais  importante  a  fazer,  conhecer  e  conquistar  belos 
garotos.  Isso  porque,  na  sociedade  do  efêmero,  os  relacionamentos  rapidamente 
ficam obsoletos.
119 

Em  outro  episódio 55 ,  as  jovens  meninas  vão  a  Ilha WOOHP 56 ,  para  salvar  a 
espiã Britney.  Após  encontrar  Britney  e  lutar  contra  alguns criminosos,  as heroínas 
têm  apenas  quatro  minutos  para voltar ao avião  antes da explosão  da  ilha.  Britney 
fez  uma  trilha  a  laser  quando  foi  capturada.  Clover,  Alex  e  Sam  acreditam  que  a 
treinaram muito bem. Alex tem uma idéia.

Alex: A gente devia pedir para o Jerry deixar você na nossa equipe pra sempre!
Britney: Que amor, Alex! Mas, o Jerry já me colocou numa equipe.
(Britney mostra, no seu comunicador, a foto de dois belos jovens. Os olhos de Alex,
Sam e Clover, rapidamente, transformam­se em corações vermelhos e o rosto de
Britney demonstra o quanto está satisfeita e muito bem acompanhada.).
Britney: Meninas, estes são Dimitri e o Xavier.
Clover: Que delícia!
Alex: Não é justo!
Sam, Alex e Clover: Aaaahhhhhh!
Britney: Eles vão estar no piquenique da WOOHP. Eu apresento pra vocês!

Os minutos vão passando. A ilha pode explodir a qualquer momento. Todavia, 
sempre há tempo para conhecer belos e “deliciosos” pretendentes, tal como Clover 
se expressa (Que delícia!) no excerto anterior. Isso porque, na narrativa da série de 
desenho animado, os relacionamentos passam a ser compreendidos como séries de 
eventos amorosos, “como episódios intensos, curtos e impactantes, desencadeados 
pela consciência a priori de sua própria fragilidade e curta duração” (BAUMAN, 2004, 
p.20). 

No  episódio  Encolheu  a  cabeça,  Sam  acredita  ter  encontrado  o  namorado 


perfeito. Contudo, há um problema: sua paquera mostra­se extremamente erudita. O 
“gatinho”  entende  tudo  de  música  clássica,  etiqueta,  literatura,  dança...  Para 
conquistá­lo,  a  personagem  investe em  aulas de etiqueta,  em  curso de  dança para 
aprender tango (dança que, segundo ele, é a única dança de “verdade”) e refaz seu 
guarda­roupa.  Sam  é  capaz  de fazer  qualquer  coisa  para conquistar  seu objeto  de 
desejo.  E  isso  se  torna  evidente  em  uma  conversa  entre  Alex  e  Clover,  enquanto 
observam Sam, na aula de etiqueta.

Alex: Essas maneiras exemplares são muito chatas. Nem parece que é a Sam!
Clover: Eu sei! Ela só tá fazendo isso para conquistar o Rodolf. Ele é que devia
conquistar ela!

55 
Episódio A Ilha WOOHP. 
56 
Ilha onde a organização mantém aprisionados criminosos perigosos.
120 

Segundo a narrativa do desenho, vale tudo no jogo da conquista. Vale mudar 
completamente  o  seu  estilo  e  tornar­se  outra  pessoa.  Vale  até  mesmo  manter 
rivalidade entre espiãs e disputar com suas amigas, disputa que pode ser observada 
no episódio É o jeito como se joga, no qual as três espiãs concorrem pela atenção 
do “gato” David. Vejamos, na transcrição da cena, como as garotas o conheceram.

(Sam aparece em uma aula, no laboratório de química. Em meio a muitos alunos de


jaleco, ela conversa com um jovem belo e intelectual).
David: Então o composto de nitrogênio gera a fricção, provocando a eliminação dos
organismos indesejáveis.
(Estrelas brilham aleatoriamente. Sam aparece com as mãos juntas encostadas no
queixo, as bochechas vermelhas, incluindo o nariz, os olhos de satisfação e a boca
aberta).
Sam: Ai!
(David aparece à frente de um fundo com bolhas e estrelas em nuances de branco e
lilás).
(Na cena seguinte, um apito dá a largada na pista de atletismo da escola. Alex corre
num revezamento e passa o bastão para um belo e musculoso rapaz. Eles vencem a
corrida).
Alex: Isso aí, David!
(O rapaz aparece em meio a bolhas e estrelas em nuances de branco, rosa e amarelo).
David: Passagem excelente, Alex!
(Alex fica com as mãos cruzadas em frente ao peito. O fundo é preenchido por cores
com tons de rosa, amarelo e branco. Duas atletas observam Alex).
Alex: Ah!
(Na próxima cena, Clover aparece num teatro ensaiando a peça de Romeu e Julieta.
David aparece de joelhos, vestido de Romeu).
David: Ó! Fale anjo brilhante. Por que tua corte é tão gloriosa como um mensageiro
alado dos céus?
(Clover surge, na sacada do castelo, com vestido rosa e cabelos longos).
Clover: Ó David! David! Onde estás David?
(David aparece de perfil com os dentes cerrados e com uma gota de constrangimento
caindo de seu cabelo).
Clover: Renegue teu pai, recuse seu nome. Ou, se não quiseres, apenas jure meu amor.
(David se levanta).
David: Estava ótimo, Clover! Tão cheio de emoção! Mas, o nome do personagem é
Romeu, não David.
(Neste momento, o fundo fica repleto de bolhas e estrelas em nuances de rosa,
amarelo e branco).
David: Vamos passar outra vez?
Clover: Ah!

Logo  após,  as  três  jovens  meninas  se  encontram  no  corredor  da  escola. 
Juntas  contam  que  estão  apaixonadas.  Descobrem  que  pelo  mesmo  garoto.  A 
disputa e as provocações iniciam.

Clover: Por que vocês duas estão olhando pro meu verdadeiro amor, hein?
121

Alex: Seu verdadeiro amor? O David é o cara de quem eu tava falando!


(Sam também briga por David).
Sam: Bem, eu o inspirei intelectualmente!
(De repente, o segundo plano fica azul e vários raios, acompanhados de sons,
enriquecem a cena).
Alex: Até parece! A gente quase deu a mão na corrida de revezamento!
(Clover volta à discussão e, muito tranqüila, interfere. O segundo plano retorna a
apresentar o corredor do colégio).
Clover: Alex, Sam, olha só pra vocês, competindo por um cara, quando, obviamente,
ele gosta de mim!
(Clover coloca a mão nos ombros de Alex e Sam. Ambas caem para trás. Apenas
Clover fica de pé).
Sam: Veremos isso!
Alex: É! Vale tudo no amor e na...

Como  diz  o  ditado  popular  não  concluído  por  Alex  “Vale  tudo  no  amor  e  na 
guerra”.  Vale  disputar  cada  minuto,  cada  espaço,  sem  pensar  nas  conseqüências. 
Durante  a  discussão,  as espiãs são sugadas  para  a WOOHP. Jerry  tem  mais  uma 
missão de caráter coletivo­mundial para ser resolvida — descobrir por que um país 
está dominando as Olimpíadas de Inverno.

Clover: Deixa eu entender isso direito. Você nos arrancou do David (As bochechas de
Clover ficam vermelhas e um coração rosa estoura ao seu lado) por causa de uns
joguinhos bobos?

Clover  considera  a  missão  de  caráter  coletivo­mundial  “boba”,  porque  as 


heroínas têm outra coisa importante para resolver: quem ficará com David. Durante 
a missão de caráter coletivo­mundial, diversas vezes as meninas fazem provocações 
em  relação  ao  personagem  David,  chegando  a  se  separarem  em  certo  momento. 
Após  a  solução  do  caso,  as  espiãs  aparecem  novamente  na  escola.  De  repente, 
encontram David e cobram dele uma decisão.

Clover: David! Não pode deixar a gente esperando para sempre! Precisamos saber de
qual você gosta!
David: Ã? Mas como assim? Eu gosto de todas!
Alex: Nã, nã, nã, nã, não! A gente quer saber de qual de nós você gosta! Sabe?
(Alex aparece com um indicador na boca, o outro braço ao lado do corpo. O fundo
fica repleto de bolhas com nuances de lilás e branco.).
David: Ah!
Sam: Queremos que escolha uma de nós!
David: A gente não escolhe uma garota como se fosse um produto em uma prateleira!
Clover: A gente não se importa! Vá em frente! Diga a elas que sou eu!
David: Clover, Sam, Alex, por favor! Vocês são todas ótimas! Eu não tenho como
escolher uma entre vocês. Sinto muito!
122

(David sai caminhando. As jovens meninas o acompanham com os olhos.).

Como  produtos  em  uma  prateleira  as  personagens  exibem­se  para  serem 
escolhidas.  Como  afirma  Clover  “A gente não se importa!”.  O  consumo  de 
relacionamentos já é comum no dia­a­dia das espiãs. O ato de selecionar paqueras 
como  se  estivessem  em  prateleiras,  é  prática  corriqueira  entre  as  jovens  meninas 
contemporâneas. 

Durante  alguns  episódios  percebe­se  também  o  fascínio  pelos  personagens 


masculinos  que  estão  em  evidência  na  sociedade  do  espetáculo:  cantores 57 , 
atores 58 ,  apresentadores 59  e  modelos 60  famosos  são  descritos  como  sujeitos 
perfeitos  e  idolatráveis.  No  episódio  As  garotas  dos  games ,  por  exemplo,  Alex  se 
apaixona pelo apresentador de televisão, Troy. Para ela, “Todo mundo sabe que o Troy
é o cara mais doce e adorável do mundo todo”.  Ele  é  “maravilhoso, bondoso e gentil”. 
Depois de solucionada a missão de caráter coletivo­mundial, Alex e suas amigas vão 
aos  estúdios  do  programa  para  conhecer  o  apresentador.  No  entanto,  há  um 
problema,  Troy  é  gerado  por  computador.  Alex  chora,  não  acredita.  Seu  objeto  de 
desejo era apenas uma montagem computadorizada. Neste instante, um jovem loiro, 
de óculos e com uma pilha de livros e cds, entra no camarim. Alex, sem querer, bate 
nele e tudo cai ao chão.

Alex: Desculpa!
Steve: Ah! Tudo bem! Eu sou Steve. Eu criei o Troy!
(Os olhos de Alex brilham e seus lábios novamente voltam a sorrir).
Alex: É sério? Eu sou a Alex.
(Juntos tentam pegar o mesmo cd e tocam as mãos. As bochechas avermelhadas dos
personagens expressam o constrangimento. Muitos corações cor de rosa cobrem o
fundo da tela de baixo para cima. Perplexas, Sam e Clover conversam enquanto Steve
e Alex saem do camarim de braços dados).
Sam: Ah, Clover! Não é bom programar um final feliz?

O  que  parece  é  que  o  sentimento  profundo  de  Alex  em  relação  a  Troy  se 
dissipou instantaneamente. Surge uma nova e consumível conquista — Steve. Alex 
consegue um final feliz, está novamente ao lado de um jovem menino. 

57 
Episódio Verdade no susto. 
58 
Episódio Nasce uma espiã. 
59 
Episódio As garoas dos games. 
60 
Episódio Dor de dente.
123 

A maioria dos relacionamentos em que as personagens se envolvem parecem 
tão  frágeis,  superficiais  e  efêmeros  quanto  quaisquer  outros  vivenciados  na 
contemporaneidade. Os vínculos afetivos não sobrevivem ao fluxo dos episódios, o 
que  pode  fazer  parte  da  gramática  do  desenho.  O  que  parece  é  que  as  jovens 
protagonistas  do  desenho  vivem  meras  relações  de  bolso  (BAUMAN,  2004)  — 
instantâneas e disponíveis. Relações que, conforme Bauman (2004), não envolvem 
amor e que devem ser mantidas no bolso para que não alterem a rotina dos sujeitos 
envolvidos.  “É  o  tráfego  que  sustenta  todo  o  prazer.  Mantenha  o  bolso  livre  e 
preparado”  (BAUMAN,  2004,  p.37),  para  que  outros  relacionamentos  possam  ser 
captados e guardados no bolso. 

Bauman  (2004),  em  seu  livro  Amor  Líquido,  faz  uma  importante  reflexão 
acerca da representação dos relacionamentos afetivos na telenovela EastEnders 61  e 
sua repercussão no dia­a­dia de seus telespectadores. Neste momento aproprio­me 
de suas palavras por perceber que possa se estabelecer uma relação proximal entre 
a pedagogia da telenovela mencionada por ele e a pedagogia do desenho animado 
em  estudo.  Assim  sendo,  a  série  de  desenho  animado  Três  Espiã  Demais  é  a 
repetição: 

Daquilo que é o nosso conhecimento do dia­a­dia. Reafirmações regulares 
e  confiáveis  para  a  pessoa  insegura:  sim,  esta  é  sua  vida,  e  a  verdade 
sobre a vida de outros como você. Não entre em pânico, vá levando, e não 
se esqueça nem por um momento de que isso vai acontecer — pode estar 
certo. (BAUMAN, 2004, p.42) 

Partindo  da  suposição  de  que  “homens  e  mulheres  internalizam  as 


construções sexistas”  (MORAES,  2002  p.  28)  e  que  ser  jovem  menina  emerge  na 
relação  com  o  que  se  diz  sobre  sê­lo,  é  possível  perceber  que  os  discursos 
apresentados  pelo  desenho  animado  acabam  por  configurar  uma  importante 
pedagogia,  instruindo  milhares  de  telespectadores  quanto  a  um  jeito  socialmente 
aceitável de ser e estar no mundo. 

61 
Segundo informações coletadas no livro Amor Líquido, EastEnders é um “seriado da BBC exibido 
com enorme sucesso desde 1985. Ambientado em Walford, região fictícia do ‘east end’ de Londres, 
aborda  o  cotidiano  de  famílias  operárias,  vizinhas  e  por  vezes  aparentadas,  que  vivem  em  Albert 
Square”. (Bauman, 2004, p.40).
124 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando aprendi todas as respostas


mudaram as perguntas!
(grafitti bogotano)

O  forte  atravessamento  da  mídia  no  currículo  e  na  vida  escolar  (COSTA, 
2006)  tem  mobilizado professores  e  professoras  —  dos  mais diferentes  níveis  —  a 
buscar alternativas para o aproveitamento e aproximação dos temas midiáticos aos 
conteúdos programáticos de suas disciplinas. 

O que parece  é  que  não  existem  muitas  alternativas.  A  mídia  não só  invade 


nossas  vidas  de  pessoas  comuns  como  ultrapassa  os  muros  da  escola,  interpela 
sujeitos das mais distintas idades e condições sociais, fornecendo elementos para a 
constituição  de  suas  subjetividades.  Neste  aspecto,  concordo  com  Costa  (2006)  e 
me  aproprio  de  suas  palavras  para  propor  uma  breve  reflexão  acerca  desta 
presença invasiva e aparentemente incontrolável da mídia na escola, 

Alguns  dirão  que  artefatos  externos  à  vida  da  escola  sempre  adentraram 
seus muros, e eu concordo com isso, pois fui aluna também, e professora 
de  escola  por  algum  tempo.  Mas  o  que  acontece  hoje  parece  ser  bem 
diferente.  Antes  eram  pequenos  detalhes,  fortuitos  incidentes,  quase 
sempre vigiados, reprimidos e eliminados. Hoje não  é assim; hoje eles se 
impõem, abalam a autoridade, subvertem a disciplina e a ordem, desviam 
os  focos  de  atenção,  invadem  a  cena,  porque  já  começam  a  governar  a 
alma das crianças e jovens. (p.192) 

Já  não  cabe  mais  somente  à  escola  o  poder  de  selecionar,  controlar  e 
distribuir os saberes que povoam a vida dos sujeitos. Meninas e meninos, cada vez 
mais  fascinados  por assuntos veiculados  pela  mídia,  mostram­se  prontos  a  fazer  o 
impossível  de  ontem  transformar­se  no  possível  do  amanhã.  Isso  porque  tais 
sujeitos inscrevem­se em  uma  lógica  que  se  assenta  sobre  princípios  narcisistas  e 
hedonistas. Preocupando­se com o prazer individual e com as constantes novidades 
trazidas pela moda e veiculadas pela mídia, jovens e crianças — ensimesmados em 
um  mundo que paradoxalmente  mostra­se  globalizado  e solitário  — vêem  a  escola 
como  mais  um  dos  muitos  palcos  de  exposição  na  sociedade  do  espetáculo.  Em 
constantes  e  infindáveis  movimentos  em  busca  de  visibilidade,  os  novos 
personagens  que  invadem  as  telinhas  —  como  Sam,  Alex  e  Clover  —  fazem  da
125 

escola — em uma relação muito próxima com o que ocorre no cotidiano de crianças 
e  jovens  na  contemporaneidade  —  o  espaço  não só  de exibição de  novas roupas, 
bolsas,  botas,  estilos  de  unha  e  cabelo,  paqueras,  entre  outros,  mas  também  de 
disputa, com os demais colegas, pela tão sonhada popularidade. 

Também  não  cabe  mais  somente  à  escola  —  como  outrora  já  se  chegou  a 
pensar — os processos que promovem a aprendizagem de como ser e conviver em 
sociedade.  Revistas,  programas  de  TV,  cinema,  brinquedos,  jornais,  álbuns,  entre 
outros  incontáveis  artefatos  culturais,  compõem  importantes  lugares  pedagógicos, 
que de forma prazerosa, lúdica e envolvente, especialmente para crianças e jovens, 
mostram, organizam e difundem uma gama importante de significados. 

O  que  parece  é  que  a  mídia,  em  um  emaranhado  de  narrativas  e  imagens 
fascinantes,  nos  dá  lições  de  como  são  ou  deveriam  ser  os  sujeitos 
contemporâneos.  Em  meio  a  histórias  de  variados  formatos,  a  mídia  aponta  uma 
gama de significados que acabam por balizar a vida de muitas pessoas, que buscam 
não só incorporar tais modelos em suas vidas, mas também aderir aos significados 
postos em circulação. 

Partindo  da idéia  de que  as  narrativas  da  mídia  —  além de  muito  presentes 
no  cotidiano  escolar  —  são  capazes  de  nos  ensinar  lições  de  como  ser,  viver  e 
conviver, a partir dos significados por ela apresentados, e tomando por base a idéia 
de que “[...] nossas perguntas, as respostas que encontramos e as ações que elas 
possam  inspirar  serão  sempre  contingentes,  provisórias  e  sujeitas  a  constantes 
revisões”  (COSTA,  2005b,  p.208­209),  procurei  na  presente  dissertação,  mostrar 
alguns  dos  possíveis  significados  articulados  nas  narrativas  da  série  de  desenho 
animado Três Espiãs Demais . 

Escolhendo  estratégias  analíticas  cuidadosas,  rigorosas  e  comprometidas 


com a pesquisa, percebi que uma nova narrativa em relação às jovens meninas vem 
se  esboçando  e  circula  em  todo  o  mundo.  O  que  parece  é  que,  segundo  minhas 
percepções, um novo jeito de ser jovem menina [que eu chamaria de pós­moderno] 
povoa  os  episódios  do  desenho  animado  selecionado  para  a  presente  pesquisa. 
Segundo  suas  narrativas,  objetos,  aparências  e  relacionamentos,  completamente 
imbricados  com  o  consumo,  aparecem  no  desenho  como  temas­chave  em  seu 
cotidiano.
126 

Em meio aos problemas prosaicos e às missões heróicas, as protagonistas — 
Sam, Clover e Alex — mostram­se inteiramente enredadas pelas teias do consumo e 
capturadas  pelas  tramas  da  moda.  Inseridas  na  sociedade  do  consumo  e  do 
espetáculo,  as  espiãs  fazem  de  tudo  para  (man)terem  status,  popularidade  e 
evidência, e isso só é possível aliado ao universo dos objetos, com suas marcas de 
inequívocos significados no império do consumo fashion. Entretanto, a efemeridade 
e obsolescência dos objetos, das aparências e dos relacionamentos, mobilizam­nas 
a  permanecerem  incansavelmente  em  busca  de  novidades.  Isso  porque, 
“abandonados  aos  impulsos”  (BAUMAN,  2004),  não  mais  atemo­nos  a  objetos 
específicos  e  duradouros.  Buscamos,  isto  sim,  novos  momentos  de  êxtase 
promovidos  pelo  movimento  de  conquista  do  que  é  desejado,  e  a  associação 
instantânea  dos  significados  por  ele  atribuídos  as  nossas  identidades  (SARLO, 
2006)  no  momento  da  aquisição.  Entretanto,  tais  significados  se  desintegram 
rapidamente,  em  meio  à  avalanche  de  outros  novos  que  são  provisoriamente 
apontados  com  aceitáveis  pela  sociedade  do  consumo,  veiculados  pela  mídia  e 
qualificados na sociedade do espetáculo. 

Os achados da presente pesquisa, distanciando­se das verdades universais e 
totalizantes que tão bem demarcaram a modernidade, resultam de um outro jeito de 
olhar, e mostram aquilo que meus olhos e minhas lentes teóricas possibilitaram ver. 
Contudo,  outros  olhares  poderiam  produzir  distintos  sentidos  sobre  o  desenho 
animado Três Espiãs Demais.  No  império  da ambivalência, seria  possível  produzir, 
multiplicar e matizar uma gama distinta e infindável de outros significados. 

Seria  possível  pensar  que,  no  momento  de  criação  e  montagem  da série  de 
desenho  animado,  seus  autores  tenham  tentado  direcionar  seu  programa  a  um 
público  específico  —  garotas  estudantes  —  e  que,  em  um  movimento  involuntário, 
tenham acertado em cheio crianças e jovens de variadas idades, condições sociais e 
sexos.  Isso  ocorreria  porque  “o  espectador  e  a  espectadora  nunca  é,  apenas  ou 
totalmente, quem o filme pensa que ele ou ela é” (ELLSWORTH, 2001, p.20) e sua 
captura  poderia ocorrer  por  uma  multiplicidade  de  significados.  Conforme  Ellsworth 
(2001), a captura pelos filmes refere­se diretamente a relações que se estabelecem 
entre o seu texto e as experiências particulares dos espectadores e espectadoras. O 
que parece é que há algo no texto que age de alguma forma sobre quem os assiste. 
Tal suspeita nos leva a refletir acerca da produtividade irrestrita de significados para
127 

e por essa indiscriminada e distinta quantidade de sujeitos, que acabam por produzir 
interpretações muito particulares do desenho animado em estudo. 

Desvencilhados  da  superioridade  das  certezas,  quem  sabe,  seria  possível 


investigar  o  humor,  nisso  que  poderíamos  considerar  uma  caricatura  de  jovens 
meninas apresentada pelo desenho, e extrair desse foco analítico outros significados. 
Poderíamos pensar e problematizar em outras direções, não só naquela que apontei. 
Poderíamos  supor  que  ao  invés  de  estar  produzindo  mais  consumo,  o  desenho 
possa estar desafiando crianças, jovens e adultos, ao se olharem naquelas meninas, 
a repensarem, problematizarem e questionarem suas condutas face ao consumo. 
Será  que  não  estariam  aquelas  imagens, quase  caricaturais,  da  relação  das 
meninas  com  o  consumo,  ensinando  algumas  meninas  a  verem  o  ridículo  e  o 
exagero daquilo e daí conduzirem suas ações em uma outra direção? 

Talvez o desenho possa também mostrar outros significados para as mães e 
pais  telespectadores  que,  ao  acompanharem  as  tramas  em  que  se  envolvem  as 
personagens da série, acabem por refletir sobre as relações entre jovens e consumo 
na contemporaneidade. 

Essas  distintas  interpretações  seriam  possíveis  porque,  segundo  Ellsworth 


(2001): “[...] as relações entre a forma como os textos cinematográficos endereçam 
seu público e a forma como os espectadores reais lêem os filmes não são nítidas ou 
puras — elas tampouco são lineares ou causais” (p.40). 

Percebendo que as perguntas servem para “armar uma perspectiva para ver”, 
articulei  nesta  seção  outras  perguntas,  por  perceber  que  as  minhas,  assim  como 
todas as outras que forem articuladas nos mais diversos trabalhos acadêmicos, são 
“[...] expressão de um tempo de um pensamento, de uma movimentação no interior 
da  cultura”  (COSTA,  2005b,  p.201)  e  portanto,  resultantes  de  um  jeito  específico, 
contingente e histórico de ver.
128 

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REVISTA  Plástica  e  Beleza.  As  melhores  plásticas  das  celebridades :  nariz  de 
Claudia Raia, barriga da Xuxa, olhos de Scheila Carvalho, seios de Danielle Winits. 
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VEIGA­NETO, Alfredo. Foucault e a Educação. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. 

WALKERDINE, Valerie. A cultura popular e a erotização das garotinhas. Educação & 
Realidade. Porto Alegre, v. 24, n. 2, p. 75­88, jul./dez. 1999. 

Episódios do desenho:  TRÊS ESPIÃS DEMAIS 

DOR DE DENTE. TV Xuxa. Rio de Janeiro: Rede Globo, 01 maio. 2006.  Programa 
de TV. 

BISCOITOS  DA  PAIXÃO.  TV  Xuxa.  Rio  de  Janeiro:  Rede  Globo,  08  maio.  2006. 
Programa de TV. 

ENCOLHE­ENCOLHE.  TV  Xuxa.  Rio  de  Janeiro:  Rede  Globo,  01  jun.  2006. 
Programa de TV. 

ENCOLHEU  A  CABEÇA.  TV  Xuxa.  Rio  de  Janeiro:  Rede  Globo,  05  jun.  2006. 
Programa de TV. 

ALIENÍGENAS.  TV  Xuxa.  Rio  de  Janeiro:  Rede  Globo,  12  jun.  2006.  Programa  de 
TV. 

A  PROMOÇÃO  DO  MAL.  TV  Xuxa.  Rio  de  Janeiro:  Rede  Globo,  19  jun.  2006. 
Programa de TV. 

A ILHA WOOHP. TV Xuxa. Rio de Janeiro. Rede Globo: 18 jul. 2006. Programa de 
TV. 

AS  GAROTAS  DOS  GAMES.  TV  Xuxa.  Rio  de  Janeiro:  Rede  Globo,  22  jul.  2006. 
Programa de TV. 

GAROTAS DO VALE DO SILÍCIO. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro, Canal Jetix, 
25 nov. 2006. Programa de TV.
135 

LEI DA GRAVIDADE. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro: Canal Jetix, 28 nov. 2006. 
Programa de TV. 

CIDADÃS MODELO. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro: Canal Jetix, 18 dez. 2006. 
Programa de TV. 

NATAL  DO  MAL.  Três  Espiãs  Demais.  Rio  de  Janeiro:  Canal  Jetix,  23  dez.  2006. 
Programa de TV. 

NASCE UMA ESPIÃ. Três Espiãs Demais. Rio de Janeiro, Canal Jetix, 03 jan. 2007. 
Programa de TV. 

VERDADE  NO  SUSTO.  Três  Espiãs  Demais.  Rio  de  Janeiro:  Canal  Jetix,  05  jan. 
2007. Programa de TV. 

É  O JEITO  COMO  SE  JOGA. Três Espiãs Demais.  Rio  de Janeiro:  Canal Jetix,  23 


fev. 2007. Programa de TV. 

MANIA  DE  MANICURE.  TV  Xuxa.  Rio  de  Janeiro:  Rede  Globo,  04  abr.  2007. 
Programa de TV.
136 

A NEXOS
137 

ANEXO I – FICHA TÉCNICA 62 

Nome do desenho: Três Espiãs Demais (Totally Spies) 
Autores: Vincent Chalvon­Demersay e David Michel 
Direção: Stéphane Berry 
Produção:   Marathon  Production,  TF1,  Fox  Family  Channel,  Fox  Kids  Europe  e 
Corportion Image Entertainment 
Categoria: Programa para Crianças 
Duração: Aproximadamente de 22 a 30 minutos 
Procedência: Francesa 
Gênero: Série de desenho animado 

Elenco Principal: 
Sam  (Samantha): Ela é muito inteligente e ótima aluna na escola. Seu uniforme de 
espiã é verde. 
Alex:  A  espiã  veste­se  de  amarelo.  Ela  é  a  mais  nova  do  trio.  Alex  é  esportista  e 
apaixonada pela cultura oriental. 
Clover: Clover é a mais vaidosa, consumista e namoradeira das espiãs. Sua roupa 
de espiã é vermelha. Sempre dando em cima dos garotos, Clover chega a esquecer­ 
se de seus compromissos em meio às missões. 
Jerry: Ele é o chefe WOOHP, organização para a qual as espiãs trabalham. Diverte­ 
se "sugando" as meninas dos lugares mais inusitados para o seu escritório. 
Mandy: Mandy é a rival da escola. Com ela, as espiãs disputam status e namorados. 

Sinopse:  O  que  acontece  quando  três  típicas  garotas  de  Beverly  Hills  são 
introduzidas no mundo  da espionagem  internacional?  A  série  de  desenho  animado 
Três Espiãs Demais conta a história de três típicas jovens meninas — Sam, Clover e 
Alex  —  que  têm  um  trabalho  nada  comum:  são  agentes  secretas  da  WOOHP 63  — 
Organização Mundial de Proteção Humana. Entretanto, para a maioria das pessoas 
elas continuam sendo jovens meninas prosaicas de Beverly Hills. Assim, as garotas 
têm  que  se  dividir  entre  as  missões  e  o  dia­a­dia  de  toda  a  jovem  de  menina 
contemporânea (provas de escola, garotos, compras e suas rivais de escola). Sob o 
comando  de  Jerry,  que  dá  dicas  e  coordenadas  sobre  as  missões,  as  heroínas 
enfrentam  vilões  perigosos,  usando  uma  tecnologia  super vaidosa  (batons  a  laser, 
secadores  super  potentes  etc),  porque  nunca  se  pode  subestimar  um  bom 
acessório!  Inteligentes  e  valentes,  para  salvar  o  mundo  de  perigosos  vilões,  as 
garotas têm de conciliar as missões que recebem, com suas tarefas escolares ou a 
escolha do vestido perfeito para a festa de sexta! Para elas, lutar contra o crime não 
é desculpa para ter unhas maltratadas! 

62 
Informações  disponíveis  nos  sites:  <http://www.marathon.br>;  <http://www.tvglobinho.zip.net>  e 
<http://www.wikipedia.com.br>. 
63 
World Organization of Human Protection
138 

ANEXO II ­ TEXTOS 

Aluna (9 anos — 4ª série) 
Data: 28/03/2006 

As Três Espiãs Demais 

Um dia três meninas Alex, Sam e Clover estavam caminhando pelo colégio e 
o lixo puxou elas, era a WOOHP (Agência de Espionagem). Jerry falou: 
—  A  missão  de  vocês  é  prender  o  ex­estilista  de  moda,  porque  ele  está 
tentado congelar o mundo, seus apetrechos são o batom laser, as mochilas a jato e 
o mais novo quite de mergulho. Tchau, tchau meninas! 
Quando elas chegaram, Clover falou: 
— Da próxima vez vou pedir para o Jerry para a gente vir de limusine, porque 
isso está me matando! 
Depois  que  elas  resolveram  a  missão,  voltaram  para  o  colégio  e  quando 
Clover  viu  o  garoto  novo  já  se  apaixonou  por  ele  David,  então  foi  correndo  e  se 
apresentou: 
— Oi, eu sou a Clover e você é o David, eu já sei! 
E então apareceu a sua pior inimiga Mandy, e ela falou: 
— Pode ir saindo Clover, porque ele é o meu namorado! He, he, he, he! 
Então ela foi embora com as amigas! 

Aluna (9 anos — 4ª série) 
Data: 28/03/2006 

As Três Espiãs Demais 

Um belo dia, Clover foi ao shopping com Sam e Alex, suas melhores amigas. 
Clover disse: 
— Olha que lindo aquele chapéu! 
— Sim, Clover! É lindo! 
E aí aparece a Mandy, a pior inimiga que já se viu na vida. 
Ela diz para a moça da loja: 
— Eu quero esse chapéu. Bota na minha conta. Bye! Bye! 
Clover ficou um inferno. 
Sam chamou Clover e Alex e disse: 
— Vamos sentar naquele banco.
139 

O Jerry bota o dedo no botão e elas caem gritando. 
— Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh! 
— Olá meninas! Bom, teremos que fazer uma viagem a Nova Iorque. 
— Que legal! — disse Clover. 
— Mas vocês vão ter que se preocupar com a missão. 
Lá  vão  elas  para  conseguir  a  missão.  A  missão  delas  era  férias.  Elas  não 
sabiam. 
Era o aniversário de Sam. 
Assim que elas chegaram na casa nova, ficaram surpreendidas. 
Jerry liga e diz: 
— Feliz Aniversário Sam! 
Ela diz: 
— Obrigada Jerry. 

Aluna (9 anos — 4ª série) 
Data: 24/04/2007 

Calor para sempre 

Era  uma  vez  uma  colegial  espiãs,  que  se  chamava  Sami,  mas  suas  amigas 
chamam­na de Sam. 
As  amigas de  Sami  eram  Clover  e Alex.  Enquanto  Sami  estava  na prova de 
ciências,  um  bandido  estava  a  solta,  roubando  coisas  para  transformá­las  em  uma 
máquina que atingiria o Sol e colocaria na frente da Lua e ficaria verão para sempre. 
E  Madama  Charla,  que  é  conhecida  como  bandida  Charral,  poderia  vender  seus 
bronzeadores  que hipnotizariam  as  pessoas  que serviriam  de  servos  para  Charral. 
Ela governaria o mundo. 
Mas,  Sami  tinha  uma  lente  de  contato  que  localizava  bandidos  perigosos  à 
solta.  Sami  pediu  ao  seu  professor  para  ir  ao  banheiro  e  já  avisou  para  seu 
professor: 
— Vou demorar! Estou com diarréia. 
Sami saiu correndo da escola e foi para seu esconderijo  localizar a bandida, 
pegou seu uniforme de espiã, pegou seu jetisky e saiu pela entrada que dá de sua 
casa para o mar. Foi até o navio que Charral estava. E, quando chegou, lutou contra 
Charral e venceu a luta, ligou para a polícia e fim.
ANEXO III ­ FICHAMENTO 

Fita 1  Temporada 1 – Data: 12/06/2006  Episódio:  Aliens ­ Alienígenas 


Missões 

1.  Alex precisa aprender a dirigir; 
2.  Salvar as pessoas capturadas por alienígenas. 
Cena  Professor da auto­escola: Eu realmente sugiro que consiga os horários de ônibus, mocinha. Porque desse 
Consumo de Aparências 

1 64 —  jeito você dificilmente vai passar no exame de motorista. 
(1) 65  Alex:  Mas eu tenho que passar! (debruçada sobre o capô do carro) As garotas que dirigem são muito mais 
atraentes que as que não dirigem! 

Cena 2  (Encurralada num beco sem saída, Clover tem o fio de cabelo cortado por um dos suspeitos misteriosos. No 
— (5)  mesmo instante, sua boca aumenta de tamanho — só aparecem dentes — suas sobrancelhas ultrapassam o 
desenho  dos  cabelos,  uma  mancha  vermelha  cobre  a  região  dos  olhos  e  nariz  e  seus  olhos  aumentam, 
distribuindo de forma desigual as cores que o compõe. Após jogar o suspeito conta a parede, Clover afirma:) 
Clover: Ninguém mexe no meu cabelo. 

Cena 1  (Chegando na WOOHP – tudo escuro). 
Consumo de 

— (2)  Sam: É aqui que é a WOOHP? Eu não vejo nada. 
Objetos 

Clover: Sabia que eu deveria me preocupar com o esmalte Brilho no Escuro que comprei no shopping. 

Cena 2  (Suspeitas indicam que a próxima abdução 66  será na Arábia e é para lá que as espiãs vão). 

64 
Em todas as fichas de decupagem o número indicativo da cena refere­se à seqüência em que aparecem nos episódios, cenas relativas aos focos 
selecionados para esta pesquisa. 
65 
Os números indicados entre parênteses referem­se à ordem cronológica das cenas.

— (4)  Clover: É o tipo de missão que eu gosto. Disfarçada na cidade das pechinchas. 
Cena 3  (Sam e um ET foram raptados pela GOOPE — Organização Global para Surrupiar Recursos Extraterrestres. 
— (6)  A  intenção  é  criar  medo  nas  pessoas  através  das  abduções  que  só  serão  interrompidas  se  os  governos 
entregarem todas as riquezas). 
Cena 1  (Ao  investigarem  o  1º  lugar  das  abduções  —  um  milharal  —  as  espiãs  encontraram  dois  jovens  e  belos 
cowboys.  Os  olhos  de  Clover  rapidamente  se  transformam  em  dois  grandes  corações.  Ao  fundo,  outros 
Relacionamentos 

— (3) 
Consumo de 

corações, em  rosa pink, fazem  movimentos de  cima  para  baixo, contrastando  com  a  tela  rosa  claro.  Clover 
afirma:) 
Clover: Eles nem parecem desse planeta! 

Fita 1  Temporada 1 — Data: 08/05/2006  Episódio:  Passion Patties – Biscoitos da Paixão 


Missões 

1.  Descobrir por que as pessoas estão disputando entre si para adquirir os Biscoitos da Paixão; 
2.  Conseguir um chapéu tamanho M para Clover. 
Cena 1  (Clover  entra  na  loja  e  solicita  o  chapéu  tamanho  médio.  Ele  não  entra  muito  bem,  fica  desconfortável. 
Consumo de 
Aparências 

— (2)  Motivada por suas amiga, experimenta o tamanho G). 
Clover: Eu nunca irei usar nada do tamanho G! 
Alex: Você está igual à capa da revista Adolescente Sensível . 
(Enquanto Clover experimenta o tamanho grande. Mandy entra na loja e compra o tamanho médio). 
Mandy: Eu quero esse chapéu. Bota na minha conta. Bye! Bye! 
(Clover fica furiosa e opta por esperar a chegada de outro chapéu de tamanho M). 

66 
A  palavra  é  aqui  empregada  no  sentido  apresentado  pelo  Dicionário  de  usos  do  Português  do Brasil (2002),  que  se  fundamenta  em  estatística  de  usos 
contemporâneos  no Brasil (linguagem literária e jornalística). “[Abstrato de ação] ato de arrebatar alguém com violência: A edição de 19 de novembro traz 
artigo de capa sobre o fenômeno da abdução por extraterrestres (FSP)”. Ou seja, as pessoas estavam sendo capturadas por alienígenas.

Cena 2  (De repente, aparecem três vendedoras do biscoito Agridoce. Os biscoitos são carregados em um carrinho de 
— (3)  supermercado. As vendedoras chegam na casa de uma senhora jovem, extremamente magra, cabelos bem 
apanhados, maquiagem e lhe oferecem o produto. Como resposta elas ouvem que ela está de regime. 
Contudo, não a escutam e forçam­lhe a comer um biscoito. A partir deste instante a senhora agarra todos os 
outros biscoitos do carrinho e começa a engordar). 
Cena 3  (Em seguida, as espiãs são capturadas por uma máquina que as envia até a WOOHP. Jerry mostra as jovens 
— (4)  meninas que as pessoas estão disputando entre si para adquirir os Biscoitos da Paixão. Biscoitos que ao 
serem ingeridos, as pessoas não param de comer e em instantes engordam exageradamente). 
Cena 4  (Logo após, as espiãs são enviadas para a fábrica dos Biscoitos Agridoce. Lá são atacadas por personagens 
— (5)  gordas e fortes. Suas armas de fogo jogam biscoitos. Quando as Três Espiãs Demais são capturadas, a dona 
da empresa agridoce, magra e de formas bem delineadas, as ameaça:) 
Dona da Fábrica: Essa máquina forçará vocês a comerem até explodir!...É a morte pelo doce... Quando eu 
trabalhava numa fábrica de biscoitos eu comi ao invés de vender e fui demitida, agora eu tenho a minha 
própria fábrica. 
(Clover foi obrigada a comer biscoitos e começou a exageradamente engordar. As meninas conseguiram 
vencer a vilã, fazendo­a tomar a substância que produzia o desejo de comer e instantaneamente engordar). 
Cena 5  (Após vencer e destruir os Biscoitos Agridoces, as amigas retornaram ao shopping. Lá, Clover, após tomar o 
— (5)  antídoto  e  voltar  ao  seu  número  ideal,  resolveu  comprar  o  chapéu  tamanho  G.  A  espiã  justificou  a  suas 
amigas:) 
Clover: O que vale é ser feliz. Não importa o tamanho. 
Cena 1  (Inicialmente as espiãs aparecem no shopping observando uma vitrine). 
de Objetos 
Consumo 

— (1)  Clover: Já vi. Já comprei. Já devolvi. 
(No mesmo instante, a vendedora expõe na vitrine um chapéu). 
Clover: O chapéu da capa da revista chegou. 
Relacionamentos
Consumo de 

Fita:  Temporada: 3 — Data: 01/05/2006  Episódio:  Dental? More Like Mental  — Dor de dente 



1.  Acabar com a dor de dente da Alex; 
2.  Conseguir a bolsa da Mute; 
Missões 

3.  Descobrir o motivo da pobreza de Mandy; 
4.  Encontrar  pessoas  importantes  desaparecidas  (presidente  de  um  banco  multinacional,  atriz,  patinadora 
famosa) 67 ; 
Cena 1  (O episódio inicia com o presidente de um banco internacional sendo atacado por um robô. O robô joga­lhe um 
— (1)  gás que lhe faz rir de forma assustadora). 
Consumo de 
Aparências 

Cena 2  (Horas mais tarde... O sinalizador, criado por Jerry, leva as duas espiãs ao apartamento, onde Sam está. As 
— (6)  espiãs arrombam o vidro e Clover constata:) 
Clover: O que a gente tá fazendo no apartamento do modelo mundialmente famoso Dastin Cruis? 
Alex:  Tá bom! Fala como é que você sabe disso? 
(Clover pisca um dos olhos). 
Clover:  Bom,  isso  é  completamente  ilegal.  Tem  uma  revista  de  fofocas  que  mostra  os  apartamentos  das 
celebridades, todo o ano. Você deveria dar uma olhada. 
Cena 1  (As três espiãs aparecem sentadas no pátio da escola). 
Consumo de Objetos 

— (2)  Clover: Então, eu ainda tô na lista de espera da bolsa exclusiva pra clientes da Mute, que a irritante da Mandy 
trouxe ontem. 
Alex: Ai! 
Clover: Eu sei! É super injusto! 
Sam: O que foi Alex? Você tá com dor? 
Alex: Tô sim! Eu tô com um dente aqui doendo muito! A sorte é que só dói quando eu como, falo ou respiro. 
(Clover fica furiosa e reclama:) 
Clover: Ah! Dá licença! A gente pode voltar pro problema de verdade! A Mandy só conseguiu a bolsa, porque 
ela subornou o cara. Eu nunca faria uma coisa dessas! 
(Mandy chega de ônibus. As espiãs se assustam). 

67 
O  vilão  é  um  dentista  queria  destruir  os  dentes  das  pessoas,  para  se  vingar.  Ele  era  dentista  das  estrelas,  mas  sua  licença  foi  caçada  depois  que  o 
presidente deixou o branqueador que ele criou tempo demais em sua boca. Como o presidente não seguiu suas instruções, o produto corroeu seus dentes.

Sam: Falando em coisas baixas, eu gostaria de saber por que a Mandy veio de ônibus? 
(Mandy fica furiosa. O fundo da imagem é preenchido por tons de vermelho, branco, preto e raios.). 
Mandy:  Pra sua informação, tô fazendo uma pesquisa pro jornal sobre transporte público. Ah! Por enquanto 
dou nota zero! 
(De  repente  surgem  pequenos  chifres  em  Clover,  sugerindo  um  caráter  diabólico  para  sua  atitude,  e  ela 
rapidamente pergunta:). 
Clover: Pro ônibus ou pra pesquisa? 
(Mandy,  ligeiramente,  puxa  a  sua  bolsa  da  Mute  e,  com  ar  de  vingança,  mostra  para  Clover.  Ao  fundo,  as 
cores se intercalam em vários tons de azul.). 
Mandy: Tá com inveja, né? Acho que algumas de nós são exclusivas e outras não são. 
(Clover  expressa  seu  desagrado  com  expressão  horripilante:  olhos  esbugalhados,  com  rajadas  de  sangue, 
testa  vermelha  e  sobrancelhas  que  ultrapassam  os  limites  do  desenho  do  cabelo.  Um  caminhão  de  lixo 
desaba sobre Mandy). 
Cena 2  (Na  seqüência,  as  espiãs  aparecem  na  lanchonete  da  escola  fazendo  seu  lanche  e  visualizam  Mandy 
– (3)  comendo um sanduíche). 
Mandy: O que é que vocês estão olhando? Acontece que eu não agüento mais a comida desse lugar. É muito 
nojenta pro meu gosto refinado! 
Sam: Ah! A comida daqui nojenta? Ela tá comendo sanduíche de mortadela! 

Cena 3­  (No laboratório de Química). 
(4)  Sam: Meninas, isto é muito estranho! Tão vendo a blusa da Mandy? É igualzinha aquela que eu doei praquele 
bazar de caridade de roupas de marca. Eu acho que... Vocês acham que... 
Alex: Que em vez de comprar na Rodeo Drive a Mandy tá comprando num bazar de caridade? 
Sam: Só tem um jeito de ter certeza! A minha blusa tem as minhas iniciais atrás. 
Clover: Você ainda põe as iniciais nas suas roupas? A gente não tá mais no maternal! 
Sam: Acontece que o bordado é muito legal! 
(Sam mira a gola da blusa de Mandy com uma lente de aumento e completa:) 
Sam: E com certeza é a minha blusa! 
Clover: Primeiro ônibus, depois o sanduíche de mortadela, agora isso! Será que a Mandy tá sem grana?

Cena 4 ­  (Sam é raptada. Alex e Clover falam com Jerry. De repente ouvem:) 
(5)  Mandy: U$ 12 é minha oferta final. É pegar ou largar! 
Alex: A Mandy tá fazendo uma “venda de garagem”? 
(Aparece a imagem da placa com a escrita em inglês e uma voz realiza sua leitura). 
Clover: Não qualquer “venda de garagem”. Uma “venda de garagem” de Beverly Hills. Se isso não é sinal de 
problema financeiro, eu não sei o que é. 
(Clover fecha o comunicador com Jerry falando e protestando. Logo em seguida, se aproxima da venda. Seus 
olhos  brilham  ao encontrar a  bolsa  da  Mute e  um  som estridente,  representando a alegria  e a felicidade do 
momento, celebram a probabilidade da compra da tão desejada bolsa, desde o início do episódio). 
Clover:  Aaah!  A  Mandy  tá  vendendo  a  bolsa  exclusiva  por  20  dólares.  Ah!  Vamos  ver  até  que  ponto  o 
desespero chega. 
(Clover se aproxima de Mandy). 
Clover: Oi, Mandy! Eu te dou cinqüenta centavos pela bolsa. 
Mandy: Até parece! Você sabe que essa bolsa vale 50 mil vezes isso! 
Alex: Você tá passando por algum problema financeiro? 
Mandy:  Não seja ridícula! Eu só tô me livrando de algumas coisas para dar lugar à nova coleção de outono 
que eu encomendei. Você vai querer a bolsa ou não? 
(Nesse  momento  a  mãe  de  Mandy  aparece  gritando.  A  potência  de  seu  grito  é  representada  pelo  vôo  dos 
cabelos das personagens e deformação de seus rostos impulsionados pela força de seu berro). 
Mãe da Mandy: Mandy! Você não pode falar com suas amigas! É isso que significa estar de castigo? 
Clover: Castigo? 
Mandy: Não mãe! Elas não são minhas amigas! 
Mãe:  Nada  de  desculpas  mocinha!  Só  vai  ter  seu  cartão  e  a  sua  liberdade  de  volta  quando  as  notas 
melhorarem. Já pro seu quarto! 
Clover: Isso explica tudinho. Ela não tá sem grana, ela tá sem o cartão de crédito! Eu não acredito que eu vou 
dizer isso, mas coitadinha! Esse sim é o pior castigo do mundo! 
(Neste momento, as jovens são sugadas para a casa de Jerry. Clover reclama:) 
Clover: Obrigada por nada Jerry! Eu tava de olho num “Boá” de pena de pavão que eu podia ter comprado por 
25 centavos e tinha troco. 
Cena 5  (Já na escola, após a resolução do caso do dentista, Clover se exibe com a bolsa da Mute). 
­  Clover:  Com  esta linda bolsa  eu  recupero  o  meu  posto inatingível  de  mais fashion  de  Beverly  Hills. Ah! Se 
(7)  bem que eu me sinto bem mal por ter pago somente 50 centavos. 
Alex: Você pode pagar o valor real pra Mandy! 
Clover:  Helloooo! Não tô me sentindo tão mal assim. 
(Mandy feliz, chega numa belíssima limusine).

Mandy: Eu fechei o ano em química! Seja bem­vindo de volta cartão de crédito! 
(Na  tela  o  cartão  ocupa  metade  do  espaço.  Mandy,  ao  fundo,  o  admira  com  ar  de  vilã.  Para  dar  maior 
destaque ao cartão, as cores de fundo mesclam suas cores — amarelo, laranja e verde). 
Mandy: Ah! E obrigada por ter tirado essa coisa brega de mim. (A personagem aponta para a bolsa de Clover) 
Eu acabei de encomendar a mais nova bolsa da Mússia. Deve chegar a qualquer momento, pelo correio pack 
deck , Correio Aéreo Express. Ah! Já chegou! 
(A bolsa cai de um avião com o auxílio de um pára­quedas. Clover fica furiosa e grita:) 
Clover: Ah! Mas essa bolsa só ia sair na próxima coleção! Ah! Isso é tão injusto! 
Sam: Olha pelo lado bom. Você tem coisas que a Mandy nunca vai poder comprar, amigas de verdade. 
Clover: Fazer o quê? Não, vocês são o máximo. 
Relacionamentos 
Consumo de 

Fita 1  Temporada 1 — Data: 01/06/2006  Episódio:  Shrinking — Encolhe­encolhe 


Missões 

1.  Sair com um “ gatinho”  lindo; 


2.  Encontrar os marcos históricos que estão sendo roubados.

Cena 1 ­  (Enviadas por Jerry para a Índia, as jovens espiãs têm de descobrir o que está encolhendo marcos históricos 
Consumo de aparências 

(2)  em todo o mundo. Chegando ao Taj Mahal Sam exclama:) 
Sam: É incrível! 
Alex: É melhor do que algumas casas que tem em Beverly Hills. 
(Enquanto as jovens conversam, Clover aparece exausta, em um segundo plano, sentada em cima de suas 
malas). 
Sam: Eu não entendo por que você teve de trazer todas as suas roupas? 
Clover: Crise de moda. Eu tenho que escolher o que usar no meu encontro. Regra número um num encontro: 
sua roupa é tudo. Espera! Essa não é a regra de número um na vida? 
(Na China, as espiãs tentam evitar a captura da Grande Muralha da China. Clover aparece mexendo em sua 
mala). 
Clover: Ninguém vai me ajudar a arrumar uma roupa pro meu encontro, não é? 
Consumo 

Objetos 
de 

Cena 1­  (No início do episódio as espiãs aparecem patinando na praia. De repente, Clover começa a se desequilibrar 
(1)  nos patins). 
Alex: O que foi Clover? Ficou com câimbra, pra desequilibrar assim? 
Consumo de Relacionamentos 

Clover: Não! Eu tô bem! 
Sam: O que foi? Por que está patinando tão mal? 
(Clover se atira nos braços de Alex. Neste instante, aparece um jovem com porte atlético, com uma bola de 
vôlei em punho, para dar o saque. Na imagem, os dentes do jovem soltam brilhos. Clover diz às amigas:) 
Clover: Olha só como se faz! 
(Ela patina em direção ao jogador e cai sobre ele). 
Clover: Ah! Eu sinto muito! Você está bem? 
Rapaz: Ah! Eu estou bem sim! Não se preocupe. 
(O clima de romance é apresentado pelo coração lilás que se forma na tela. Coração que mostra ao centro os 
olhares apaixonados dos dois jovens. Alex conversa com Sam:) 
Alex: É, ela é boa! 
Sam: É mesmo! 
(A cena volta a enfocar os dois personagens enamorados). 
Clover: Ah! Claro! Sexta, à noite, seria perfeito, Jason. 
Jason: Ô, legal! Eu pego você às oito.

(Agora já patinando perfeitamente, Clover vai ao encontro das amigas). 
Clover: Vocês viram? Eu vou sair com Jason Robert. A Mandy vai odiar tanto! Ela se acha dez e quer sempre 
ter um menino. 

Cena 2 ­  (Em outra cena, as espiãs encontram os causadores do encolhimento: são três ex­cientistas da WOOHP, que 
(3)  fizeram a experiência e foram encolhidos por sua própria máquina. Clover também acabou por ser reduzida). 
Clover: É o fim! Como é que eu vou experimentar minhas roupas para o encontro? 
(Após as instruções de Jerry, Clover reclama:) 
Clover: Hei! Como é que eu fico? 
Jerry: Ah! Sim! Já estamos trabalhando num antídoto para você, Clover. 
Clover: Legal! Porque vocês sabem: em dois dias eu tenho esse encontro com um cara chamado Jason... 
(Jerry a interrompe). 
Jerry: Eu sei! Eu sei! 
Clover: Mas eu já te contei sobre o que ele tem bem no meio... 
(Jerry, novamente, interrompe) 
Jerry: Desculpe, acho que estamos perdendo contato. Tchauzinho! 
Cena 3 ­  (Após  resolver  a  missão,  as  meninas  aparecem  em  casa.  De  repente  a  campainha  toca.  É  o  carteiro.  Ele 
(4)  entrega as  malas de  Clover e uma  máquina para fazê­la  retornar  ao seu tamanho.  Neste  momento, Sam  e 
Alex passam a disputar a máquina, para acioná­la em  Clover. Sem querer Alex e Sam acabam mirando as 
malas de Clover, as aumentando, exageradamente, de tamanho junto com suas roupas). 
Clover: Ah! Não! Não posso usar isso! Eu não posso usar nada! O Jason não pode me ver assim! O que eu 
vou fazer? Ah! Esqueçam! Vou fazer assim: você atende a porta e cancela o encontro. Diga que eu tô doente, 
gripada. Pra marcar um outro dia. 
Sam: Tem certeza? Isto é, a gente pode te emprestar uma roupa. 
Clover: Nem pensar, meninas! Planejei a roupa perfeita a semana inteira. 
(A  campainha  toca.  Alex  e  Sam  dispensam  o  garoto  que  acaba  por  trombar  com  Mandy.  Mandy  aplica  a 
mesma técnica que Clover usou no início do episódio. Jason convida­a para sair e Clover fica furiosa.).
10 

Fita: 2  Temporada : 3 — Data: 05/06/2006  Episódio:  Head Shrinker much? – Encolheu a cabeça 


Consumo  Missões 

1.  Descobrir quem está transformando pessoas inteligentes em primatas e fazê­las voltar ao “ normal” ; 


2.  Sam precisa conquistar um garoto belo, jovem e intelectual. 
Aparências 
de 

Cena 1  (Sugadas e transportadas para a WOOHP, as jovens espiãs receberam instruções de Jerry). 
Objetos 
Consumo de 

­  Jerry: Na verdade, parece que está acontecendo um incidente no Shopping Beverly Hills. 
(3)  Clover: No nosso shopping? 
(Após receberem os apetrechos). 
Jerry: Muito bem! Podem ir para o shopping. 
(Espiãs parecem felizes, com expressão de quem tem grandes planos para a sua missão). 
Jerry: Mas, lembrem­se vocês estão indo em missão. Então, nada de compras! 
Três Espiãs: Ah! Poxa! 
Cena 1 ­  (O  episódio  inicia  com  Sam  tentando  encantar  um  belo  jovem  intelectual.  Como  não  teve  muito  sucesso, 
(1)  tentou buscar uma solução). 
Sam: Eu não sou tão ignorante! 
Relacionamentos 

Clover:  Não  é  não,  Sam!  Esqueça  esse  programa  de  índio  e  vamos  nos  divertir  na  Feira  do  Glamour  de 
Consumo de 

Beverly Hills. 
Sam:  Feira  do  Glamour!  Para  todo  mundo  rir  de  mim?  Mas,  não  mesmo!  Eu  não  vou  mais  aparecer  em 
público até estar apresentável! Vamos fazer aula de etiqueta! 
Alex e Clover: O quê? 
Cena 2 ­  (Alex e Clover observam Sam na aula de etiqueta). 
(2)  Alex: Essas maneiras exemplares são muito chatas. Nem parece que é a Sam! 
Clover: Eu sei! Ela só tá fazendo isso para conquistar o Rodolf. Ele é que devia conquistar ela!
11 

Fita: 2  Temporada: 3 — Data: 19/06/2006  Episódio:  Evil Promotion much? – A promoção do mal – Parte 1 


Missões 

1.  Passar por testes para serem promovidas ao time de elite dos agentes; 
2.  Alex deve fazer a dieta do coelho; 
3.  Salvar o belo espião Jean. 
Cena 1 ­  (No início do episódio, as espiãs aparecem em sua casa. Sam caminha até a geladeira, pega um suco, bebe­ 
Consumo 
de Aparências 

(1)  o e o cospe no chão). 
Sam: Por que é que o suco tá com gosto de meia velha? 
(Clover  aparece  no banheiro, escovando  os  dentes. Ao  colocar  a  escova  com  a  pasta na  boca,  cospe­a na 
pia). 
Clover: Ai! Que nojo! O que que aconteceu com a pasta? 
(Clover desce as escadas e encontra Sam com a caixa de suco na mão). 
Sam: O que aconteceu com o suco? Eu preciso tomar suco de manhã! 
Clover: Ã! Não olha pra mim! Alguém entrou aqui e trocou a minha pasta de menta por essa gosma laranja. 
(Alex aparece comento cenoura). 
Alex: Ninguém entrou aqui. Eu troquei tudo na casa por produtos derivados de cenoura (Uma gota pinga dos 
cabelos de Alex e Clover) Eu tô fazendo a dieta do coelho! (Várias cenouras preenchem o fundo da tela. Alex 
segura uma revista com a dieta do coelho). 
Sam: Dieta do coelho? Isso significa que você só vai comer cenoura? 
(Clover mostra sua escova de dente). 
Clover: Correção! Ela vai fazer a gente só comer cenoura! 
(Alex folheia a revista com a dieta. O fundo volta a ficar coberto de cenouras). 
Alex:  É  a  nova  mania  de  Beverly  Hills.  Sabia  que  uma  cenoura  te  dá  energia  pra  andar  uns  quatro 
quilômetros? Pode acreditar! Cenoura é o melhor legume que tem. Quem é gente, come. 
Clover: Pode esquecer! Se não forem feitas de diamante, eu não gosto de cenoura! 
Alex: Mas cenouras são ótimas! Elas melhoram sua vista (Alex coloca as mãos nos olhos, agora, grandes) te 
dão mais capacidade pra pular (Ao lado de Alex, aparece uma nuvem com Alex vestida de coelho, pulando) e 
ainda curam piolho. (Alex aponta o cabelo com os dois indicadores). 
Clover: Tá! Deixa eu fala logo. Eka! 
Sam:  Cenouras  são  legais,  mas  um  regime  só  com  cenoura  é  um  pouquinho  demais.  (Clover  confirma 
balançando a cabeça) Você não acha que tá achando demais, amiga?
12 
Consumo 

Objetos 
de 

Cena 1 ­  (As espiãs são avisadas por Jerry que deixarão de ser Espiãs Junior e entrarão no Time de Elite de Gentes 
(2)  Mais da WOOHP. Em seguida, as espiãs foram transportadas para uma bela mansão onde farão testes para 
serem  promovidas.  Na  mansão,  são  recebidas  por  Terence,  irmão  de  Jerry.  Levadas  a  seus  quartos, 
percebem que existem quatro quartos). 
Terence: Escolha uma porta. Qualquer uma vai levá­la até sua suíte particular. 
Sam: Esperai! Tem quatro portas e acontece que nós só somos três. 
(Nesse  momento  um  som  suave  e  tilintante  anuncia  a  presença  de  outra  pessoa  na  sala.  Terence  o 
apresenta). 
Terence: Meninas, gostaria de apresentá­las ao seu colega, o agente Jean. 
Consumo de Relacionamentos 

(A imagem mostra­o de baixo para cima, sobre um fundo azul coberto por rosas cor de rosa. Jean é um belo 
jovem,  cabelos  curtos,  moreno,  porte  médio.  Nesse  instante,  as  espiãs  colocam­se  uma  ao  lado  da  outra, 
boquiabertas,  mãos fechadas  e à frente  do  rosto,  corações no  lugar  dos  olhos,  combinando  com  um  fundo 
rosa claro e muitos corações de diferentes nuances). 
Terence: Ele trabalhará junto com vocês. 
(Clover encostando­se rapidamente no braço de Jean). 
Clover: Ah! Me permite? O meu nome é Clover. Mas você pode me chamar de gatinha! 
(A imagem, agora, foca Alex e Sam expressando desaprovação da iniciativa da colega. Lado a lado, braços 
cruzados, olhares ferozes e bocas em u invertido. Jean vai ao encontro das outras duas espiãs, inclina­se e 
apresenta­se). 
Jean: Senhoritas! 
(Alex coloca as mãos no queixo, sorri e seus olhos novamente se transformam em corações. Já os de Sam 
brilham constantemente). 
Alex: Ah! Esse lugar é bom demais pra ser verdade! 
Sam: Quem diria que nós iríamos misturar trabalho com prazer! 
Cena 2 ­  (Os instrutores apresentam o motivo da escolha dos espiões.). 
(3)  Clover: E o Jean? 
Instrutor: Jean é o mais precoce de todos. Foi escolhido no dia em que nasceu. (A imagem mostra Jan, no 
berçário, olhando golpes de artes marciais na TV e os reproduzindo no berço.) A inteligência de Jean e seu 
talento natural para lutas, eram exemplares. 
(Alex se aproxima de Jean).
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Alex: Gatinho das artes marciais quando bebê! Ah! Tô apaixonada! 
(Enquanto isso corações saem de sua cabeça. Furiosa, Clover a puxa de perto de Jean). 
Clover: Sai daí ô! Eu vi ele primeiro! 
(Sam aponta o dedo indicador para o nariz de Clover e responde:) 
Sam: Viu não! Nós vimos juntas! 
(Um  reflexo  de  luz  vermelho  no  cabelo  de  Clover  expressa  o  quanto  sua  cabeça  está  quente  com  esta 
situação). 
Jean: Meninas! Tem Jean aqui suficiente para todo mundo! 
(De braços abertos, o espião acolhe as três jovens. A cor rosa cobre o fundo da tela, repleto de corações). 
Sam  Sua habilidade com apetrechos e a habilidade para solucionar problemas apareceram desde muito pequena. 
A escolha das 
espiãs 

Alex  Proeza atlética e habilidade para se disfarçar. 

Clover  As habilidades de espionar e observar já eram muito desenvolvidas ainda quando criança. 

Jean  No dia que nasceu, demonstrava inteligência e talento natural para a luta. 

Fita: 2  Temporada: 3 — Data: 18/07/2006  Episódio:  Scape from WOOHP Island —  A Ilha WOOHP 


Missões 

1.  Salvar a espiã Britney; 
2.  Estarem belas para o piquenique da WOOHP. 
Cena 1  (As meninas aparecem em casa. Alex de quimono treina taekwondo no meio da sala. Enquanto isso, Sam lê 
– (1)  um livro. De repente, a campainha toca. Alex vai até a porta e quando abre...). 
Consumo de 
Aparências 

Clover: Surpresa! 
(A  imagem  a  seguir  é  de  Clover  com  roupa  e  malas  cor  de  rosa.  Ao  fundo,  uma  luz  a  contorna  com  outra 
tonalidade de rosa. Clover entra e deposita sua maleta sobre a mesa, onde Sam apoiava seu livro). 
Alex: Você perdeu sua chave? 
Sam: E a sua noção de moda? 
Clover: Não! E não! Eu sou uma esteticista Esther. E isso não é o máximo? 
Alex: (Expressão de interrogação) Estétister o quê?
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Clover: Uma vendedora de porta em porta de tudo que existe de bom no mundo. 
(Em seguida, Clover abre sua maleta. Uma forte luz dela emana. Luz tão forte que a imagem da personagem 
aparece  recoberta  por  uma  mancha  clara.  A  imagem  que  segue  são  de  produtos,  dentro  da  maleta,  que 
aleatoriamente brilham). 
Alex: Ah! 
Sam: Uau! 
Alex: Hum! Nunca vi uma reportagem no noticiário sobre esses produtos? 
Clover: Nada foi comprovado! 
Sam: O preço abusivo fala por si mesmo! 
Clover: Quem pode colocar um preço na beleza! 
(Clover olha o rosto de Sam). 
Clover: Sam, tá nascendo uma espinha aí? 
(A  expressão  de  Sam  muda  completamente.  Uma gota de  suor  escorre por  sua  testa. Os olhos pequenos e 
retos,  a  testa  cheia  de  riscos  e  os  lábios  de  decepção,  em  forma  de  u  invertido,  expressam  seu 
constrangimento. Sam olha para Alex). 
Sam: Você disse que não dava para ver! 
(Alex faz um sorriso sem graça. Clover aproveita para pegar as mãos de Alex). 
Clover: Alex, você andou limpando a privada de novo? 
(Alex puxa suas mãos que estavam sendo analisadas por Clover). 
Alex: A privada não se limpa sozinha, sabia? 
(Sam coloca suas mãos tapando a boca, mostrando o pavor da situação). 
Clover: Ah! Gente!Só experimenta algum! Por mim! Sua melhor amiga! 
(Percebendo o desprezo de suas amigas em relação aos produtos, Clover tenta outra forma de convencê­las.). 
Clover: Vocês não querem estar lindas para os gatinhos no piquenique da WOOHP, esse fim de semana? 
(As duas espiãs se olham e um som estridente prenuncia a mudança de idéia.). 
Alex: Bom, pensando assim, eu vou pegar um hidratante. 
Sam: Eu fico com o microesfoliante facial. 
(As espiãs compraram os produtos e, rapidamente, já os experimentam.). 
Sam: Ou! Parece que tem mil dedinhos esfoliando o rosto da gente. 
Alex: Olha só! Minhas mãos nunca foram tão macias! Ah! 
(As duas personagens aparecem, lado a lado, olhos fechados, sorrisos nos lábios, expondo as mãos e o rosto, 
agora “devidamente” cuidados. Repentinamente, saem feixes de luz das mãos de Alex e do rosto de Sam). 
Clover: Fica sessenta e nove e cinqüenta. 
Sam e Alex: Ã? 
(As  espiãs  caem  para  trás  quando  ouvem  o  preço  dos  produtos.  Alex  sentada  ao  chão,  olhos  para  cima,
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direcionados para Clover que só aparece dos ombros para baixo). 
Alex: Cara, pra quem não põe preço na beleza, você não economiza, hein?! 
(Quando Alex e Sam aparecem pagando Clover o chão abre e as espiãs são transportadas para a WOOHP, 
onde irão receber mais uma missão para solucionar). 
Cena 2  (As espiãs aparecem na WOOHP. A imagem mostra Clover contando o dinheiro). 
– (2)  Jerry: Temos um problema, meninas! 
Clover:  O único problema que eu vejo é sua pele branquela, Jerry. Mas, eu tenho o autobronzeador que  eu 
terei o maior prazer em te vender. 
Jerry: O avião de Britney caiu. 
Sam, Alex e Clover (Assustadas): Ã? Britney? (Britney é outra espiã da WOOHP). 
Cena 3  (As três espiãs sobrevoam a Ilha da WOOHP, com motos voadoras, à procura do avião de Britney, que caiu). 
–  Clover: É ali! Agora vamos cumprir logo essa missão de salvar a Britney antes que estrague o meu cabelo, 
(3)  que está lindo hoje! 
(Chegando  na  ilha,  as  espiãs  são  atacadas  pelo  criminoso  Gargântula.  As  amigas  tentam  fugir  com  suas 
mochilas a jato. Gargântula captura Alex). 
Sam e Clover: Alex! 
Alex: Alguém sabe se as mochilas têm airbeg? 
Sam: Agüenta aí, Alex! Eu te salvo! 
(Sam tira o capacete e começa a coçar seu rosto incansavelmente. A velocidade do ato de coçar é expressa 
pelo desaparecimento das mãos. Percebe­se o sofrimento de Sam, pela exposição dos dentes, e a irritação da 
pele, através de manchas claras no rosto). 
Clover:  Hellooo! A gente tá no meio da batalha. Não é hora de desconcentrar. 
Sam: Não sou eu! É esse seu creme brotoegeador! Tá atacando a minha cara! 
Clover:  É só uma alergiazinha. Minha linha de produtos tem uma pomada pra isso. Mas, agora a gente tem 
que dar um curto­circuito na placa mãe do Gargântula. 
Cena 4  (Após vencer o criminoso, Gargântula, Alex é jogada para o alto e Sam consegue pegá­la). 
– (4)  Alex: Ei! Boas mãos, Sam! 
Sam: Ah! Queria dizer o mesmo de você! 
(A imagem mostra as mãos de Alex cobertas de pêlos). 
Alex: Ah!!!! Quanto pêlo! Culpa daquele hidratante fajuto!!! 
Clover:  Ah!  Não  encana! Eu posso  te vender um  creme depilatório que  é o  máximo. Agora, chega  de papo 
furado. Nós temos duas horas para salvar a Britney e sair dessa bomba relógio. 
Sam: Vamos!
16 

de Objetos 
Consumo 

Cena 1  (Após encontrar Britney, faltam apenas quatro minutos para a explosão da ilha). 
Consumo de Relacionamentos 

– (5)  Clover: Você tem um mapa para voltar para o avião, Britney? 
Britney: Tenho coisa melhor, uma trilha a laser. Eu fiz quando fui capturada. 
Clover: Uau! Nós te treinamos muito bem mesmo. 
Britney: Super bem! 
Alex: A gente devia pedir para o Jerry deixar você na nossa equipe pra sempre! 
Britney: Que amor, Alex! Mas, o Jerry já me colocou numa equipe. 
(Britney  mostra,  no  seu  comunicador,  a  foto  de  dois  belos  jovens.  Os  olhos  de  Alex,  Sam  e  Clover, 
rapidamente, transformam­se em corações vermelhos e o rosto de Britney demonstra o quanto está satisfeita e 
muito bem acompanhada). 
Britney: Meninas, estes são Dimitri e o Xavier. 
Sam, Alex e Clover: Aaaahhhhhh! 
Clover: Que delícia! 
Alex: Não é justo! 
Britney: Eles vão estar no piquenique da WOOHP. Eu apresento pra vocês! 

Fita: 2  Temporada: 1 — Data: 22/07/2006  Episódio:  Games Girl’s — As Garotas dos Games 


Missões 

1.  Alex quer conhecer o jovem Troy, apresentador de televisão por quem está apaixonada; 
2.  Descobrir o paradeiro de pessoas famosas que estão misteriosamente desaparecendo. 
Consumo 

Aparência
de 
17 

Cena 1  (As espiãs iniciam o episódio na escada rolante do shopping Beverly Hills). 
Consumo de Objetos 

– (1)  Alex: Foi bom a gente ter pego refrigerante antes das compras, né? 
Sam:  Lembra  da  última  liquidação  do  ano?  A  Clover  ficou  tão  empolgada  que  quase  desmaiou  de 
desidratação dentre do provador. 
Clover:  O que eu não posso entender é como eles param a gente por uma simples garrafa de água! É uma 
coisa tão boba, mas não na maior liquidação do ano. 
Cena 2  (As espiãs são sugadas do shopping para WOOHP). 
– (4)  Clover: Eu não acredito que fomos sugadas da maior e melhor liquidação do ano! 
Jerry: Bom dia garotas! Parece que vocês tiraram o dia para fazer compras. 
Clover: Eu devo lhe dizer que é melhor não nos tratar como sua roupa suja Jerry! 

Cena 1  (Sam,  Clover e  Alex  circulam  no  shopping  e passam  em frente a  uma loja  de  televisores.  De  repente,  uma 
– (2)  música toca e a imagem de um personagem atrai a atenção de Alex. Alex parece hipnotizada pela imagem do 
jovem que aparece na televisão. Sem querer, ela derruba água na blusa de Clover). 
Alex: Desculpa Clover! Mas, é que o Troy é uma coisinha tão fofa, que eu não consigo tirar os olhos dele. 
(Enquanto Alex fala, corações saem de seus olhos e, ao fundo, corações maiores cobrem a tela de baixo para 
cima. As cores rosa e lilás predominam na tela. Na imagem que finaliza a cena, Alex aparece com uma baba 
Consumo de Relacionamentos 

ao lado da boca e olhos caídos). 
Cena 2  (As jovens meninas aparecem dentro de uma lojas escolhendo roupas). 
– (3)  Clover: Alex, todo o ano você fica gamada em algum ator que você pensa que é o maior cara do mundo. 
(Sam entra no provador. Alex responde com expressão de raiva). 
Alex: E daí?! O que é que tem? 
Sam: Acorda! Ele só está representando! 
Alex: Ah! Vai! Todo mundo sabe que o Troy é o cara mais doce e adorável do mundo todo. 
Sam: Está bem! Mas, quem disse que não tem mulheres no pedaço? 
(Sam sai do provador, usando um vestido longo, cor rosa­choque). 
Alex: Eu sei que vocês só estão querendo o meu bem, mas se vocês pudessem conhecer o Troy, pra ver o 
quanto ele é maravilhoso, bondoso e gentil! 
(Sam admira sua imagem no espelho, passa as mãos no cabelo e gira. Sua expressão é de felicidade). 
Cena 3  (Após  solucionar  a  missão,  as  espiãs  vão  aos  estúdios  de  Hollywood  disfarçadas  de  três  homens,  para 
– (5)  conhecer o Troy). 
Sam:  Foi  muito legal  o  Jerry  nos  emprestar o  Tim  (carro que  muda  de aparência  a  partir  das ordens), para 
podermos vir ao estúdio sem sermos incomodadas. 
Clover: É, foi ótimo conseguir energia para poder usar o cinto de realidade virtual. 
(As jovens voltam a aparência de espiãs, em frente ao camarim de Troy).
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Alex.: Eu não acredito que eu vou conhecer mesmo o Troy! 
(Alex  arruma  o  cabelo  e  a blusa  e  abre  a  porta  do  camarim  com  expressão  de  ansiedade  e  felicidade.  De 
repente, a voz de Troy repete continuamente a mesma frase). 
Troy: Oi! Eu sou o Troy! 
(Ao entrar na sala, Alex vê a imagem do personagem numa tela de computador). 
Alex: Claro que o Troy é tão perfeito! Ele é gerado por computador! (Dois rios de lágrimas se formam em seu 
rosto) Sabia que era bom demais pra ser real. 
Sam: Ah! Sinto muito Alex! Mas eu sei onde você pode visitar o Troy se você realmente quiser. 
Alex: Tudo bem! Eu cansei do virtual! 
(Neste  instante  um  jovem  loiro,  de  óculos  e  com  uma  pilha  de  livros  e  cds  entra  no  camarim  e  Alex, 
caminhando, choca­se com ele, deixando tudo cair ao chão). 
Alex: Desculpa! 
Steve: Ah! Tudo bem! Eu sou Steve. Eu criei o Troy! 
(Os olhos de Alex brilham e seus lábios novamente voltam a sorrir). 
Alex: É sério? Eu sou a Alex. 
(Juntos  tentam  pegar  o  mesmo  cd  e  tocam  as  mãos.  As  bochechas  avermelhadas  dos  personagens 
expressam  o  constrangimento.  Muitos  corações  cor  de  rosa  cobrem  o  fundo  da  tela  de  baixo  para  cima. 
Perplexas, Sam e Clover conversam enquanto Steve e Alex saem do camarim de braços dados). 
Sam: Ah, Clover! Não é bom programar um final feliz? 
Clover:  Ah! Esperai, Sam! Eu não quero pensar em computador por um bom tempo! (Fala produzida a partir 
dos grandes desafios que encontraram para sair do mundo virtual). 

Fita: 2  Temporada: 1 — Data: 25/11/2006  Episódio: Silicon Valley Girl’s — Garotas do Vale do Silício 


1.  Descobrir o que está acontecendo com dispositivos computadorizados que estão atacando e castigando 
Missões 

algumas pessoas. (professor de ginástica, diretora de uma escola e atleta); 
2.  Respeitar as regras de etiqueta. 
Cena 1 ­  (O episódio inicia com as jovens espiãs num tribunal de julgamento, na escola. Clover é a juíza). 
Consumo de 
Aparências 

(1)  Clover: Sam! Alex! A corte não teve escolha senão declará­las culpadas por violar o código do vestuário. 
Sam: Mas Clover! Sua excelência! O salto só tinha um centímetro e pouco a mais do que o código permite! 
Alex: Não pode perdoar essa? 
(Clover  levanta  a  perna  e  analisa  a  altura  do  salto  de  sua  bota  rosa  de  cano  longo.  Sua  expressão  é  de 
constrangimento em relação à punição das amigas). 
Clover: Bom! Considerando as circunstâncias, sairão dessa com uma condenação com a pena suspensa.
19 

Mandy: Objeção sua excelência! Isso é total favoritismo! 
Professora:  Concordo! Você está  sendo  muito  complacente para  ser  uma juíza da corte  da escola,  Clover! 
Vou substituí­la pela Mandy. 
(Clover fica furiosa e arranca sua peruca de juíza da cabeça). 
Mandy: Obrigada, senhora Bronks! Eu prometo restaurar a dignidade dessa corte. 
(Clover arremessa a peruca de juíza na cabeça de Mandy). 
Mandy: A sua integridade, também! 
(Clover caminha em direção às rés e Mandy assume a posição de juíza). 
Mandy:  A  corte  condena  vocês  três  por  desrespeito.  E  a  sentença  é  de  três  semanas  na  coleta  de  lixo. 
Próximo caso! 
(A cena finaliza com a projeção das três espiãs atrás das grades, com roupas de listras brancas e pretas com 
uma carcereira batendo com um cacetete nas grades). 
Cena 2  (Após solucionar a missão, às jovens espiãs retornam ao colégio para enfrentar a juíza Mandy. Mandy ponta 
– (3)  para a blusa desabotoada de Clover e diz:) 
Mandy: Ora, ora! Isso é um desrespeito com o tribunal! 
Professora: Mandy! Agora já chega! 
Mandy: Vejamos... Eu as condeno a seiscentas horas pegando o lixo. 
Professora: Não! Nada disso! Você desobedeceu o código de vestuário. Está fora do tribunal dos estudantes. 
Mandy: Ah! Mesmo? Ah! Bom, se não sou mais juíza, exijo outro trabalho. 
Cena 3  (Na seqüência final, as três espiãs aparecem bebendo suco numa mesa com guarda­sol, no pátio do colégio, 
– (4)  e observando Mandy catando lixo). 
Alex: Ah! Mandy! Faltou a embalagem do leite! 
(Mandy aparece furiosa, recolhendo lixo do chão. Quando Mandy pega a embalagem de leite uma fina fumaça 
cinza sai da caixa). 
Sam: Leite azedo! Corram! 
(As três espiãs saem correndo). 
Consumo 
de Objetos
20 

Cena 1  (As  espiãs  vão  para  a  Itália  para  tentar  proteger  o  professor  de  ginástica  que  está  sendo  atacado  por 
– (2)  dispositivos  computadorizados.  Na  tentativa  de levá­lo para a WOOHP  –  único lugar  seguro –  pegaram um 
trem. De repente, uma voz sai de dentro do comando do trem e avisa que o treinador será castigado. O trem, 
desgovernado,  aumenta  a  velocidade  e  corre  em  direção  a  rochas.  As  espiãs  saltam  com  o  professor  e 
aterrissam numa praia onde três belos e musculosos garotos jogam vôlei). 
Alex: Talvez seja uma pergunta boba a se fazer a um professor de ginástica. Mas, você tem algum inimigo? 
Professor de Ginástica: Não, apenas todos os meus alunos. 
Sam: Tinha algum craque em computadores? 
(Os jovens garotos se aproximam e trocam olhares com Clover). 
Consumo de Relacionamentos 

Professor  de  Ginástica:  Eu  tinha  um  geninho, que  pulou etapas todo  o ano  passado.  Eu esqueci o  nome 
dele. 
(Um dos rapazes acena para Clover, outro rapaz encosta­se ao ombro do anterior e juntos distribuem olhares 
convidativos). 
Professor de Ginástica: Foi transferido para o Vale do Silício. 
(Clover retribui o aceno e os olhares e dá uma piscada de olho). 
Clover: O Colégio Vale do Silício? Não foi lá que a vítima número três foi a professora? 
(Clover levanta e vai saltitando em direção aos meninos). 
Sam: É isso! O treinador pegava no pé dos garotos numa escola e o Bret noutra! 
(Nesse momento, Sam é focada em primeiro plano, enquanto em um segundo plano, Clover é jogada várias 
vezes para o alto nos braços dos três belos rapazes; experiência que a deixa no auge da felicidade). 
Sam: Pessoal! Se por acaso forem ambos o mesmo garoto que está agora no Vale do Silício?! 
(Sam  percebe  o  que  está  acontecendo  com  Clover  e  com  a  mão  no  queixo  faz  uma  expressão  de 
desaprovação. Alex levanta e caminha em direção à Clover). 
Alex: Hum! Hora de fazer uma visita ao Vale do Silício. No caminho a gente deixa o treinador na WOOHP. 
(Ao  perceberem  a  aproximação  de  Alex,  os  garotos  colocam  Clover  novamente  no  chão.  Alex  pega  Clover 
pela  mão.  Clover  fica  olhando  para  trás,  abanando  para  os  garotos.  Os jovens  demonstram  em  suas  faces 
expressões de decepção; um deles com a mão na cintura e os outros dois com os braços estendidos ao longo 
do corpo). 
Sam: Vem Clover!
21 

Fita: 3  Temporada: 3 — Data: 28/11/2006  Episódio:  Physics 101 much? — Lei da Gravidade 


1.  Escolher quem fica com o melhor e maior quarto da casa que as espiãs acabaram de ganhar de seus pais; 
Missões 

2.  Descobrir o que está acontecendo com na Organização Espacial Internacional. 
Consumo de 
Aparências 

Cena 1  (As  espiãs  chegam  de  táxi  em  frente  a  uma  casa  e  se  posicionam  de  costas  para ela.  Juntas  e  abraçadas 
– (1)  fazem a contagem para se virarem). 
Três Espiãs: Um, dois, três! 
(Quando  viram,  sua  expressão  é  de  alegria,  espanto,  felicidade,  euforia.  A  imagem  que  aparece  é  de  uma 
linda  e  enorme  casa.  Realçando  o  valor  da  casa,  brilhos  cintilam,  alternadamente,  de  suas  janelas.  As  três 
gritam de alegria). 
Três Espiãs: Aaaaaaaahh! 
Consumo de Objetos 

(E, rapidamente, entram na mansão). 
Clover: Mas isso é tão legal! 
(As  primeiras  imagens  percorrem  a  peça  da  casa  acompanhando  o  olhar  das  jovens  meninas.  É  possível 
observar a presença de portas de vidro, de um extenso aquário e de uma mesa com cadeiras de vidro). 
Sam: Eu nem acredito que é toda nossa! 
Alex: Não é muito legal nossos pais terem deixado a gente morar juntas, enquanto eles estão na Europa? 
(Ao mesmo tempo em  que  Alex fala, o foco de imagem percorre o trajeto do quintal para o interior da casa. 
Dois  andares,  terraço,  paredes  e  portas de  vidro,  piscina,  são  algumas  das  atribuições  da  casa  das  jovens 
meninas). 
Sam: É muito legal! Por falar nisso, a vizinhança é bacana! 
(Enquanto admira o enorme aquário que serve de divisória entre três ambientes, Sam afirma:). 
Alex: É! Aposto que a gente mora perto de algum cantor. 
(O foco da imagem alterna entre as espiãs, que se encontram em três ambientes diferentes enquanto falam). 
Sam: Ou ator de cinema! 
Clover: Ou, o que é melhor ainda, estilistas! 
Sam: A gente vai se divertir muito, muito!
22 

(Alex e Clover abraçam Sam enquanto ela fala e, juntas, completam:) 
Três Espiãs: Amigas para sempre! 
(Clover corre para o enorme banheiro, com  três pias, armário com  roupões, dois espelhos de corpo inteiro e 
uma banheira de hidromassagem). 
Clover: Ah! Uou! Vocês têm que ver o salão de beleza que é o banheiro! 
(A imagem muda. No segundo piso da casa, Alex aparece admirando o quintal). 
Alex: Vocês têm que ver a piscina e a hidro! 
(Em seguida, Sam em uma janela, admirando a vista). 
Sam: Vocês têm que ver essa vista! É maravilhosa! 
(A imagem foca a vista para o mar. Todos os lugares cintilam, expressando o valor que representam para as 
meninas. Juntas chegam a um dos quartos). 
Três Espiãs: Gente! 
(A emoção, a alegria e o espanto das jovens são valorizados por raios brancos que delas emanam em direção 
ao quarto). 
Alex: Ah! 
Clover: Que lindo! 
Sam: Eu vi primeiro! 
(Sam e Alex fazem menção de que vão caminhar em direção ao quarto. Clover as segura pelo ombro e diz:). 
Clover:  Desiste gente! Esse quarto é tudo o que eu preciso para guardar minha coleção de roupas de grife! 
Esse quarto praticamente grita por mim! 
(Uma  vara  de  roupas aparece,  ao fundo,  com  cabides repletos  de diferentes  modelos  de  roupas. A face  de 
Sam aparece no canto da tela). 
Sam: Desculpa, Clover. Suas roupas não vão caber quando trouxer a minha mesa e os meus livros. 
(Alex posiciona­se na frente de Clover e diz:) 
Alex: Gente! Mas eu super preciso do espaço para treinar meu taekwondo! 
(Alex inicia uma seqüência de golpes para demonstrar o quanto precisa do quarto. Clover a empurra, tirando­a 
de cena. Alex reproduz sons do taekwondo). 
Alex: Iá! Hô! Iá! 
Clover: Iá nada! As minhas roupas precisam de um lar e vai ser aqui. 
(O  rosto  de  Clover  passa  a  ocupar  meia  tela  da  imagem  e  em  um  segundo  plano  Sam  aparece  sentada, 
usando o computador. A imagem vai se deslocando e revela Sam). 
Sam: Mas sou eu quem passa maior parte do tempo estudando. 
(Clover coloca uma das mãos na cintura e com a outra esfrega o queixo. Sam, ao lado, expressão de braveza. 
De repente, uma luz brilha do lado da face feliz de Clover, ela estala os dedos). 
Clover: Ah!
23 

(Clover  anota  algo  em  um  bloco,  enquanto  as  amigas  a  observam.  Após  concluir  suas  anotações,  a 
personagem divide uma folha de papel em vários pedaços. Clover fica de costas para Sam e Alex). 
Clover:  Tá bom! Já chega! (Clover vira­se com um  chapéu na mão) Vamos resolver como gente civilizada e 
fazer um pequeno sorteio. Alex, você tira. 
(Alex aparece com expressão de ansiedade. Sam, de preocupação. Alex olha o papel feliz. Num instante sua 
expressão  muda  completamente.  Suas  bochechas  ficam  vermelhas  e  também  o  nariz,  seus  olhos 
arredondados são preenchidos por vários círculos. Em seguida, ela lê lentamente, catatônica). 
Alex: Clo­ver! 
(Clover vira de costa para as amigas). 
Clover:  Yes! 
(Enquanto Alex está paralisada, Sam passa a vascular o chapéu. De repente, dois rios de lágrimas escorrem 
pelo rosto de Alex. Clover aparece feliz e com  as mãos para o alto, festejando o sorteio. Raios claros saem 
dela). 
Clover: Vocês podem vir me visitar a hora que quiserem. 
(Balões e serpentinas completam o fundo). 
Sam: Bom, eu acho que é justo. 
(Sam está com o chapéu nas mãos e a imagem foca dentro do chapéu vários papéis com o nome de Clover. 
Sam vê e sua face expressa fúria). 
Sam: Ei! Peraí! Gente civilizada, né? Tá escrito Clover em todos os papéis! 
(De repente, os balões, as serpentinas e o arco­íris — ao fundo de Clover — são substituídos pela imagem de 
Sam  e  Alex  desfiguradas,  como  monstros.  Seus  dentes  cerrados  ocupam  metade  da  face  e  seus  olhos 
aparecem brancos. O arco­íris é substituído por uma espécie de labareda de fogo. Neste momento, o chão se 
abre  e  as  meninas  são  sugadas  e  levadas  para  a  WOOHP,  onde  Jerry  as  espera.  Porém,  a  discussão 
continua. Sam fala para Clover:) 
Sam: Você não é a única que tem roupas! 
(Alex para Sam:) 
Alex: É Clover! E não é só você que faz lição! Eu tenho roupa e lição e taekwondo. 
Sam: Ai! Tá! 
(Alex aplica um golpe em Sam. Jerry se aproxima e quase é atingido pela perna de Alex). 
Jerry: Eu não entendo a importância deste debate de nível intelectual (Jerry arruma a gravata) tão alto, mas 
atividades estranhas na Organização Espacial Internacional têm acontecido. 
Cena 2  (Na escola, as espiãs aparecem na lanchonete). 
–  Clover: Pedra, papel e tesoura. 
(2)  Alex: É! Você vai roubar de novo! 
Clover: E como é que se rouba nesse jogo?
24 

(Sam, mão direita fechada sobre a mesa, responde furiosa:) 
Sam: Você acha um jeito! 
Clover: Há! Então o que você sugere? 
Alex: Eu sugiro nos concentrarmos na missão. 
Clover: Como você consegue pensar na missão com uma crise como essa rolando? 
(Mandy se aproxima da mesa das espiãs e fala para Clover). 
Mandy: (risos) Não precisa de licença para usa uma roupa tão feia assim? Ah! Não fala nada não. Olha quem 
vem ali?! 
(Clover se enfurece ao ouvir a voz de Mandy. Neste momento, aparece a imagem de um belo jovem. A pupila 
dos  olhos  de  Mandy  se  transforma  em  uma  estrela.  De  boca  aberta,  uma  gota  de  saliva  parece  prestes  a 
pingar de sua boca. As espiãs são sugadas por Jerry). 
Cena 3  (As espiãs foram sugadas por Jerry em um avião. Clover fala furiosa:) 
– (3)  Clover: Jerry! 
Jerry: Acredito que não estavam no meio de nada urgente. 
Clover: Não! Só a decisão mais importante das nossas vidas! 
Jerry: Ótimo! Então pode esperar. 
Clover: Ah! 
(O  rosto  de  Clover  se  transfigura:  seus  olhos  aumentam,  significativamente,  de  tamanho,  a  boca  aberta  em 
formato de u invertido e os ombros caídos para frente). 
Jerry: A amostra que mandaram é de uma fórmula antigravitacional que a Organização Espacial Internacional 
estava pesquisando nos anos 80. 
(Clover fica sentada, de braços cruzados). 
Clover: Você chamou a gente para isso? Comunicador Jerry! Era só apertar um botão. 
Sam:  (mão  no  queixo)  Espere  um  pouco.  Eu  li  sobre  isso.  A  pesquisa  acabou  quando  o  astronauta 
responsável nunca mais voltou de uma missão. 
Jerry: Exatamente! E ninguém mais conseguiu decifrar sua fórmula exata. 
(Clover aparece de perfil, sem olhar para Jerry. Está muito furiosa). 
Clover: Há! O comunicador ainda era opção! 
(Sam se aproxima de Jerry, que pilota o avião). 
Sam: Posso ver a fórmula? Queria trabalhar nisso. 
(Jerry entrega uma espécie de mini­disco nas mãos de Sam, que o insere em seu comunicador. O computador 
de Jerry avisa:) 
G.L.A.D.I.S.: Alerta vermelho no setor quatro, Jerry! 
Jerry: Há outro roubo acontecendo em um laboratório, que faz sistemas de guia. 
Alex: Mas olha, esses códigos são pontos de laser. O ladrão nem enganou o sensor de alarme pra entrar lá.
25 

Sam: Como isso é possível? 
Jerry: Me avisem quando descobrirem! 
(Clover continua furiosa e de braços cruzados). 
Clover: Espera! A gente tem que saber quem vai ficar com o quarto grande! 
Jerry: Ah! Isso é simples. 
(Jerry ejeta as três jovens meninas). 
Cena 4  (As espiãs voltam para casa. As imagens mostram, novamente, todas as parte da casa, em uma tentativa de 
– (4)  expressar como ela é bela. As espiãs aparecem no quarto maior). 
Clover: Sério mesmo? 
Sam: Você merece! (Alex faz uma sorriso “falso”) Depois de salvar o mundo e as nossas vidas é o mínimo que 
podemos te dar. 
(Sam e Alex se abraçam, dando gargalhadas). 
Três Espiãs: Amigas para sempre! 
(Clover empurra Sam e Alex para fora do quarto e fecha a porta). 
Clover: Eu vou arrumar coisas! 
(Do lado de fora, Sam e Alex se olham). 
Clover:  Maravilha!  O  melhor  quarto  de  Beverly  Hills  (Clover  caminha  pelo  quarto  em  direção  à  cama)  e 
ninguém merece mais do que eu. (caminha em direção à janela) Tomara que a vista também seja boa! 
(Clover abre a persiana e dá de cara com Mandy na janela da casa em frente). 
Clover e Mandy (gritam): Ah! 
Clover: Mandy! 
Mandy: Clover! 
(Clover fecha a persiana, rapidamente). 
Clover: Meninas! Meninas! Não é justo eu ficar com o quarto. É sério! Quem quer trocar? Meninas! Meninas! 
Relacionamentos
Consumo de 
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Fita: 3  Temporada: 1 — Data: 18/12/2006  Episódio:  Model Cityzens — Cidadãs Modelo 


1.  Clover precisa vencer um concurso de beleza. 
Missões 

2.  Descobrir o que aconteceu com doze modelos seqüestradas. 

Cena 1  (O  episódio  inicia,  na  Grécia,  com  três  belas  modelos  —  morena,  ruiva  e  negra  —  tirando  fotos  em  um 
– (1)  monumento. De repente, surge um helicóptero que joga uma rede sobre as modelos e as captura). 
Cena 2  (As jovens meninas aparecem no shopping, subindo uma escada rolante. Clover conduz Alex e Sam, de olhos 
– (2)  vendados, até a entrada de uma loja). 
Alex: Clover, pra onde você tá levando a gente? 
Sam: Você lembra a última vez que ela fez isso? A gente acabou na Choupana Bat e Gut do Bote Piercing. 
(Juntas,  caminham  em  direção  a  uma  loja.  Clover  segura­as  e  param  em  frente  a  loja  —  Hollywood  Milke 
Shake Palace.). 
Alex:  Foi  mesmo.  E  ainda  demorou  quatro  horas  pra  convencer  ela  que  um  anel  no  lábio  não  iria  realçar 
nossa beleza natural. 
Consumo de Aparências 

Clover:  Relaxem garotas! Essa surpresa está completamente livre de piercing. Agora podem tirar as vendas. 
“Tadam”! 
(Clover aponta em direção ao interior da loja. Sam e Alex fazem expressão de decepção). 
Sam e Alex: Ah! 
Sam: A Cabana Super Legal ? 
Alex: Eu não entendi, Clover. Que que é? Você quer beber alguma coisa? 
Clover: Não. Eu tô aqui pra me inscrever pro concurso Miss Super Legal. (Clover abraça as amigas e aponta 
para um baner.) Vocês vieram aqui pra me dar um apoio. 
Sam: Um concurso de beleza fast food. Tá brincando, né? Você sabe que a beleza só é ilusão. 
Clover: É claro!... que não to brincando... e olhando as concorrentes. Eu que estou a um passo da vitória. 
(De  repente,  um  carrinho  de  transporte  aparece  e  dentro  dele  Mandy.  O  carrinho  também  traz  vários 
fotógrafos. Mandy vê Clover e afirma:) 
Mandy: Só um instantinho Clover. (Mandy desce do carrinho  e vários flashes representam sua popularidade 
para  o concurso)  Esse é  o  meu  concurso e  só meu!  Nada  ou  ninguém vai  me  impedir  de  ser  a Miss Super 
Legal e deslanchar (Mandy faz poses para vários fotógrafos) minha carreira de modelo. 
Clover: Ah! É mesmo, é? 
Mandy:  É  isso  mesmo.  Porque  todas  que  venceram  esse  concurso  acabaram  fazendo  muito  sucesso  e  eu 
desejo (Clover aparece furiosa) para elas muito obrigada. Por que você e seus sapatos baratos não dão o fora 
daqui, ã? 
(Na imagem a seguir, Clover aparece com  expressão de decepção. Logo após, transforma­se em pedra e a
27 

pedra  se  esfarela  em  vários  pedaços.  Rapidamente,  se  recompõem  e  furiosa,  apontando  o  indicador  para 
Mandy, responde:) 
Clover:  A única coisa barata por aqui é essa sua tentativa idiota de tentar me derrubar. Agora, saia do meu 
caminho! 
(Clover passa por Mandy, a empurra com a mão, se inscreve no banner com os nomes das candidatas, joga a 
canetinha para o alto, dá a volta e passa, novamente por Mandy. Mandy fica furiosa.). 
Clover: Vamos nessa garotas! Vamos planejar minha festa da vitória. 
(Alex e Sam seguem Clover). 
Cena 3  (As espiãs, disfarçadas, vão à Semana da Moda em Nova Iorque, a procura de pistas sobre o seqüestro de 
– (4)  doze modelos.) 
Alex: Cara! Isso sim é que é “muvuca”! 
(De repente, uma modelo que houve a conversa, interfere). 
Modelo desconhecida: Todo mundo aqui para ver o novo fenômeno, Gasele. 
Clover: Gasele? 
Modelo desconhecida: Ela apareceu em cena, linda, do nada. E a bruxa já está pegando todos os trabalhos 
de nós. Isso é, eu e o restante das supermodelos vamos ficar todas a ver navios. 
(As espiãs sobem no teto, com o auxílio de um de seus apetrechos. Gasele entra em cena. Muitos flashes são 
representados pelos clarões. Gasele aparece usando vestido rosa e luvas longas. Linda, com seios salientes, 
cintura fina, alta, Gasele é um ícone de beleza). 
Três espiãs: Ah! 
Clover: Nunca vi ninguém tão, tão perfeita! É inacreditável! 
Sam: Fica de olho nela Alex! 
Alex: Tá bom! 
(Alex  coloca  lentes  que  a  possibilitam  ver  através  de  metais.  Ao  acompanhar  as  ações  da  modelo,  Alex 
percebe algo estranho). 
Clover: O que ela está fazendo, Alex? 
Alex: Tirando as luvas. 
(Exatamente do ponto que tira suas luvas até o punho, a pele da modelo parece estranha). 
Alex: Ai! Coisa estranha! 
Clover: O quê? 
Alex: A pele dos braços e das mãos dela, têm cores diferentes! 
(A imagem em close, mostra a mão da modelo como que com remendos entre os dedos, o punho, a mão e 
metade do braço). 
Clover: Cores diferentes, como um bronzeamento artificial? 
Alex: Cores diferentes, como na noiva de Frankstein! Talvez ela não seja tão perfeita assim, hein!
28 

Sam: Vamos para os bastidores para dar uma olhada melhor. 

Cena 4  (Espiãs chegam ao camarim de Gasele.). 
– (5)  Sam: Lembrem­se, somos jornalistas. Portanto, ajam profissionalmente. 
(Nesse  instante,  a  modelo  sai  do  camarim.  Clover  vê  os  braços  dela,  assusta­se,  põem  as  mãos  nas 
bochechas e diz:) 
Clover: Ai! Credo! 
Sam: Esse não é o tipo de comportamento profissional que eu tinha em mente, Clover. 
(Sam aproxima­se da modelo). 
Sam: Oi, Gasele! Eu sou Sam, da Revista Tendências do Momento. Queria lhe dizer o quanto gostei do seu 
show. 
Gasele:  (sotaque francês)  Obrigada!  Mas,  a verdade é que  devo tudo  a  minha agência.  Realmente,  eu não 
existiria sem eles. 
(Um rapaz aparece e coloca um casaco nos ombros de Gasele). 
Relmet:  É isso. E nós  não existiríamos  sem ela.  Sou  Relmet.  Eu  represento a  Gasele. Ela sozinha  colocou 
nossa agência no mundo. 
(Clover se aproxima de Relmet). 
Clover: Você é agente de modelos? 
Relmet: Então me diz se eu tenho o que é preciso pra ser modelo? 
(Alex aparece com um braço cruzado e uma mão no rosto). 
Alex: Ai! 
(Sam surge furiosa, dentes cerrados, olhos grandes, estrela de raiva na cabeça e braços retos, ao longo do 
corpo). 
Relmet: Minha filosofia é que todos têm algo ao seu respeito que é perfeito. Em seu caso são as pernas. 
(A imagem foca Clover feliz, fundo amarelo com manchas rosa e raios brancos saindo do pé que está ao chão, 
já que sua outra perna aparece levantada para trás, na altura da cintura). 
Clover: Você está dizendo que eu tenho potencial pra modelo? 
(Relmet aparece com expressão de discordância). 
Relmet: Sinto. Não exatamente. 
(A luz apaga. Clover com  as pernas unidas até o joelho, pés um  para cada lado, braços ao longo do corpo, 
olhos pequenos e boca ao canto do rosto, demonstra a sua decepção. Relmet leva Gasele). 
Relmet: Vamos Gasele! (Gasele cai de joelhos) Você precisa de seu sono de beleza.
29 

(Alex encontra algo no chão. É a orelha de Gasele. Alex desmaia). 

Cena 5  (Espiãs aparecem descansando, em um apartamento). 
– (6)  Sam: Eu mandei a orelha dela para a WOOHP, para análise. O próximo passo é investigar a Imagem Perfeita. 
Clover:  Imagem  Perfeita?  Pára  com  isso!  Olha  só,  que  tipo  de  agência  maluca  é  essa,  afinal?  (mãos  na 
cintura) Veja esse tal de Relmet, por exemplo, ele se diz um agente; não reconheceria uma modelo nem que 
ela requebrasse na frente dele. 
Alex: Como é que é? 
Clover: Não importa o que o Relmet disse. Sei que tenho potencial pra modelo! 
(Um empregado do hotel bate a porta). 
Três espiãs: Ã? 
Empregado: Entrega especial! 
(Clover abre a porta. O empregado segura um copo com um canudo e um buquê de flores). 
Empregado: Veio da Cabana Super Legal! 
(Clover abre o bilhete que está entre as rosas.). 
Clover:  Aqui diz que eu sou finalista do concurso de beleza  Miss Super Legal! Aqui tá a prova! Sou modelo 
em potencial! 
(Sam e Alex aparecem sentadas no sofá com olhos e bocas pequenos, demonstrando não terem gostado da 
notícia. Clover fecha a porta, vira­se e arranha uma das pernas com o buquê de rosas). 
Clover: Ai! 
Alex: Você tá legal! 
Clover: Ah! Eu tô bem! Foi só um arranhão. 
Sam: Ótimo! A gente não ia querer que algo acontecesse com a nossa rainha da beleza em potencial. 
(De repente, surge um helicóptero à frente da janela. Um gancho quebra o vidro e captura Clover, que perde o 
copo e o buquê). 
Clover: Ah! 
(Sam e Alex pulam e agarram­se nas pernas de Clover). 
Clover: Tão puxando as minhas pernas perfeitas! 
(O helicóptero balança). 
Alex: Tá tentando derrubar a gente. 
(Devido ao balanço do cabo, Sam e Alex caem).
30 

Cena 6  (Alex  e  Sam  vão  à  Agência  Imagem  Perfeita,  localizada  na  Austrália,  a  procura  de  pistas  sobre  o 
– (7)  desaparecimento de Clover e das outras modelos). 
Sam:  Somos  jornalistas  do  Tendências  do  Momento,  viemos  ver  Tuesday  Tate  (ex­modelo  e  diretora  da 
agência). 
(A recepcionista consulta a agenda da dona da agência). 
Recepcionista: Vocês não estão na agenda da senhorita Tate (Alex olha a perna da recepcionista e apavora­ 
se ao perceber que tinha o mesmo arranhão da perna de Clover) Mas eu acho que vão ter que ir embora. 
(A recepcionista faz sinal para duas seguranças, que jogam as espiãs para fora da agência). 
Cena 7  (Alex  e  Sam  entram  na  agência  perfurando  o  solo.  Novamente  dentro  da  agência,  observam  a  grande 
– (8)  quantidade de aparelhos eletrônicos). 
Alex: Parece mais uma clínica high tech do que uma agência de modelos. 
(Juntas, entram em uma sala de vidro). 
Sam: O que será que tem aí? 
(Havia no escritório, atrás da mesa de Tuesday, fotos de duas mulheres semelhantes, porém uma linda e feliz 
e a outra feia e triste). 
Alex: Uuuu! Olha só isso! As duas são a Gasele? Cara, isso que é dupla personalidade. 
(Enquanto Alex fala, Sam acessa o computador de Tuesday. Uma seqüência de fotos de modelos aparecem 
na tela). 
Sam: Bingo! Doadoras Gasele: Steice, Eine, Eny, Kely, Gretchen. 
(O comunicador de Sam toca. Ela o abre. É Jerry). 
Sam: Aqui é Sam! 
Jerry: Olá meninas! Achei que gostariam de saber. A orelha que me mandaram pertence a uma modelo que 
foi raptada semana passada. O nome dela é Gretchen. 
Alex: Ah! Sam, esse, esse... é um dos nomes da lista de doadoras! 
Jerry: Como é? 
Sam: Eu sei o que parece Alex. Mas, como é possível? 
Tuesday: Posso ajudá­las, senhoras? 
Sam: Sim, sim, pode. Somos jornalistas do Tendências do Momento. E... 
Alex: E viemos entrevistar você. 
Tuesday: Muito bem, mas sejam rápidas. Tenho que sair para uma entrevista de modelos na Nova Zelândia. 
Cena 8  (Após  a  entrevista,  Sam  e  Alex  conseguem  fugir  de  Tuesday  e  seus  capangas  e  passam  a  transitar  pela 
– (9)  tubulação de ar). 
Sam: Temos que chegar naquela área proibida que chegamos antes. 
Alex: Deve ser por aqui, em algum lugar. 
(Juntas escorregam e caem em uma sala com várias gavetas, semelhantes as de um necrotério, porém, com
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portinhas transparentes. Logo encontram  Clover. Sam aperta um botão que faz com que a gaveta de Clover 
saia). 
Sam: Clover! 
Alex: O que aconteceu com você? 
Clover: A Imagem Perfeita rouba partes do corpo! Foi assim que criaram a Gasele. Agora tem alguém por aí 
correndo com as minhas pernas perfeitas. 
(Neste instante, a imagem foca as novas pernas de Clover: coxas, panturrilhas e tornozelos muito grossos. A 
reação de pavor de Sam e Alex é instantânea. Olhos arregalados, boca aberta e grito expressam o susto das 
jovens.). 
Alex e Sam: Ah! 
(A trilha sonora é como se algo tivesse caído e quebrado. A imagem de Clover é desproporcional, suas pernas 
mudam completamente o seu visual). 
Sam: Sem problemas! Vamos tirar você inteirinha daqui! 
Tuesday: Eu não teria tanta certeza disto! Não podemos deixá­las ir e correr o risco de contarem ao mundo 
nosso pequeno segredo. 
(Seguranças da agência capturam as três espiãs). 
Sam: Por que está fazendo isso? Me larga! 
Tuesday:  É  muito  simples.  Eu  quero  criar  um  exército  de  modelos  perfeitas,  para  dominar  a  indústria  que 
destruiu minha carreira. 
(Tuesday teve uma perna amputada, ao ser mordida por um leão, durante uma sessão de fotos). 
Alex: Você não podia roubar só uma par de pernas novos pra você? Porque aí ia dar muito menos trabalho. 
Tuesday: Alex, você tem razão. Mas, de uma certa forma meu maligno plano de vingança parece muito mais 
divertido. 
Sam: Não vai funcionar! 
Tuesday: Talvez pensem um pouco mais depois de minha demonstração, querida. 
(Tuesday estala os dedos. De repente, aparece a recepcionista com as pernas de Clover. A imagem foca as 
“novas” pernas da recepcionista). 
Clover: Ei! Aquelas são as minhas pernas! 
Relmet:  Correção,  elas  eram  suas  pernas.  Agora  pertencem  à  Imagem  Perfeita.  Assim  como  as  partes do 
corpo de suas amigas. 
(Tuesday pega as bochechas de Sam). 
Tuesday: Preparem­se para serem modelizadas. 
(Clover é colocada de volta na gaveta, aos gritos. Sam e Alex são forçadas a entrar em uma máquina, junto 
com a recepcionista. Uma fumaça sinaliza que algo está por acontecer. Em seguida, a recepcionista aparece 
com  as  pernas  de  Clover,  o  cabelo  de  Alex  e  os  dentes  e  as  bochechas  de  Sam.  Uma  música  de  terror
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expressa o pavor da situação. Sam e Alex se olham e se apavoram ao perceber que estão com partes feias do 
corpo da recepcionista.). 
Clover: Eu achando que eu é que tava na pior. 
Tuesday:  Agora,  como vou  ter  muitos doadores  de todo  o  mundo no  Centro de  Convenções  de  Okland, eu 
estou pronta para dispensar vocês. 
Alex: Dispensar a gente? 
Relmet: Sim! Vamos mergulhar vocês no oceano, onde se juntarão ao lado de tubarões furiosos que comem 
gente para almoço. 
Cena 9  (Após  solucionada  a  missão,  Sam,  Alex  e  Clover  aparecem  novamente  no  shopping  em  frente  a  Cabana 
–(10)  Super Legal. 
Alex: Clover, tem certeza? Vai desistir mesmo? 
Clover: Completamente. Eu pensei muito e decidi que já tive o suficiente dessa história de modelo e concurso 
de beleza. O próprio ambiente é tenebroso. Além do mais, desde que eu tive as minhas pernas de volta, eu 
me lembro de quão bela eu sou realmente e não preciso de ninguém pra confirmar isso. 
Sam: Eu sempre soube que você era bonita e esperta. 
Coordenador  do  concurso:  Pois  é  uma  pena!  Você  teria  vencido.  Mas,  como  você  desistiu,  eu  estou 
premiando  a  que  ganhou  o  segundo  lugar  com  os  seus  25  mil  dólares  em  dinheiro  e  o  seu  carro  esporte 
conversível novinho em folha. Parabéns Mandy! 
(Mandy aparece, fazendo poses, em cima do carro. Muitos flashes e fotógrafos expressam sua fama). 
Mandy: Obrigada! Obrigada a todos e a cada um! (risos) 
(Clover se agarra nos pés do coordenador do concurso. Ele caminha a arrastando). 
Clover: 25 mil? Espera, eu só estava brincando. Eu quero se Miss Super Legal! 
Cena 1  (As espiãs conversam, em frente ao elevador do shopping). 
de objetos 
Consumo 

– (3)  Clover: Acreditam na pretensão daquela garota? 
Alex: Ai, nem me fala! Como é que ela ousa dizer que você usa sapatos de liquidação? 
Sam: Eu acho melhor ver vitrines, ir na manicure e esquecer a mala da velha Mandy. 
(Juntas Alex e Clover apontam o indicador para Sam e falam:) 
Alex e Clover: Combinado! 
Relacioname 
Consumo de 

ntos
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Fita 4  Temporada 3 — Data: 23/12/2006  Episódio:  Evil G.L.A.D.I.S. much? — Natal do Mal 


1.  Conter G.L.A.D.I.S., que está ativando mísseis para destruir o mundo; 
Missões 

2.  Ajudar Jerry com a festa de Natal da WOOHP; 
3.  Conseguir a bota da Yves Mont Blanc. 
Aparências 
Consumo 
de 

Cena 1 ­  (O  episódio inicia  com  a fuga de  um  criminoso da prisão da WOOHP.  Enquanto  isso,  as espiãs  caminham, 
(1)  pelo shopping de Beverly Hills repleto de decorações natalinas e de uma imensa árvore de Natal. Clover dá 
um grito.). 
Clover:  Ai! Eu  adoro o  Natal em Los  Angeles! Todos esses  ramos  de azevinho, a neve falsa, os  presentes 
absurdamente caros! 
Sam: Ei! (Sam coloca uma moeda em um pote ao lado de um Papai Noel) Essa época do ano é pra dar, não 
para receber, Clover! 
Consumo de Objetos 

Clover: Mas eu só quero dar Sami. Quero dar a minha lista de Natal para o meu pai. 
(Clover, em frente a uma vitrine, tira fotos de presentes em seu celular — blusa, chapéu, bolsa. O som que 
acompanha a cena reproduz o clique de uma máquina fotográfica.) 
Clover: Ah! Ó! 
(De  repente  surge  um  som  estridente.  Ao  fundo,  aparecem  nuvens  com  diferentes  nuances  de  rosa  e  lilás, 
acompanhadas do branco. As cores são destacas por estrelas que brilham, aleatoriamente. As bochechas de 
Clover  ficam  avermelhadas  de  uma  ponta  de  seus  olhos  a  outra.  Seus  olhos,  um  pouco  diminuídos, 
expressam a satisfação em ver algo em sua frente). 
Alex: O que é isso? O novo sabor de sorvete sem gordura? 
Clover: Não. É Yves Mont Blanc! A marca de sapatos mais fabulosa do planeta! 
(Clover  tira  fotos  da  bota,  em  diversas  posições.  Quando  se  aproxima  para  pegá­la,  a  personagem  é 
surpreendida por Mandy, que retira as botas da vitrine. Clover leva um susto). 
Mandy: Larga essa botinha, otária! A minha mãe vai comprar pra mim o último par dessas botas. 
(Clover a arranca das mãos de Mandy). 
Clover: Só se for por cima das minhas unhas!
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Mandy: São minhas! 
(Clover puxa pelo cano da bota, enquanto Mandy puxa pelos pés). 
Sam: Ô Clover! Vai arriscar quebrar uma unha por causa de uma bota? 
(Enquanto puxam e disputam a bota...). 
Clover: Eu pago o dobro do preço! 
Mandy: Eu pago o quádruplo! 
Clover: Eu dobro qualquer oferta dela! 
Mandy: “Manheee”! Faça alguma coisa! 
(De repente surge a mãe de Mandy ao celular). 
Mãe  da  Mandy:  Eu já fiz,  Docinho!  Eu  acabei  de  comprar  a  cadeia de lojas  nacional  desta  marca.  E  com 
todas as botas junto. 
Mandy: Comprou? 
(Clover fica desiludida). 
Clover: Não acredito! 
Mãe da Mandy: Comprei! Acredite. 
(Mandy corre e abraça a sua mãe). 
Mandy: Oh! Você vai superganhar o meu voto pra mãe do ano, Fibis! 
(Mandy e sua mãe falam juntas, ao sair da loja:) 
Mandy e sua mãe: Feliz Natal! 
Alex: Que pena que não deu certo, Clover. 
(Clover, com duas sacolas de compras em cada braço, fecha as mãos e diz furiosa:) 
Clover:  Ah!  Mas  eu vou ter essas botas! Nem  que  eu tenha que  obrigar o  próprio  Yves  Mont Blanc a fazer 
uma pra mim no dia de Natal. 
Sam: Isso que é espírito de Natal. 
(De repente, o comunicador de Alex toca e as espiãs escondem­se dentro da loja, para atendê­lo). 
Jerry: Por falar em Natal, estão cordialmente convidadas para virem a festa da WOOHP, hoje. 
Alex: Obrigada! Mas, não vai dar Jerry. A gente ainda tem que fazer umas compras de última hora. 
Jerry:  Desculpem meninas,  mas o  convite  é  uma intimação.  Na verdade, preciso  de você aqui, agora,  para 
uma missãozinha pré­festa. 
Sam: Na noite de Natal? 
Alex: Mas, Jerry! 
Clover: Mas eu nem tô com roupa de festa!
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Cena 2  (Espiãs na WOOHP). 
– (2)  Sam: Jerry! Que missão pode ser mais importante do que fazer compras em cima da hora? 
Jerry: Arrumar o meu escritório, para a festa de hoje à noite. 
(Clover fica furiosa). 
Clover: Ah! É isso! Eu vou devolver o seu presente, assim que eu tiver comprado! 
Jerry: Eu não me importo. Afinal, essa época do ano tem a ver com dar e não com receber. Por falar em dar. 
G.L.A.D.I.S. dê o material para as meninas. 
G.L.A.D.I.S.: Balde, esfregão, aspirados, vassoura cândida. 
Clover: Jerry, eu não tenho tempo pra isso! Eu tenho botas extremamente caras pra encontrar. 
Jerry: Não seja tola, Clover! Você vai estragar suas botas com toda a limpeza que vai fazer. 
Cena 3 ­  (As três espiãs aparecem vestidas de ajudantes do Papai Noel — gorro, casaco, mini saia e bota preta — na 
(3)  festa da WOOHP). 
Sam: Que horror! Eu não sei o que é pior, esta festa ou essa roupa ridícula! 
Clover: Nem me fale! Tipo, ninguém falou pro Jerry que fux é o vermelho desse ano? 
Alex: E, hello! Será que ninguém falou pra ele que festa é pra se divertir? 
(Enquanto isso, Jerry conversa em outro espaço da sala, com três espiões). 
Jerry: E então, Crawfort, um agente padrão da WOOHP, virou duende do mal, contratou uma rena truqueira 
(risos) e foi pelo menos o que ele pensou. 
(A imagem volta a focar as três espiãs). 
Clover:  Ah!  Isso  é  um  pesadelo!  Eu  vou  ficar  presa  nesta  festa  pro  resto  da  minha  vida  e  eu  nunca  vou 
conseguir achar aquelas botas! 
(Clover atira­se sobre o teclado de G.L.A.D.I.S.). 
G.L.A.D.I.S. Posso fazer alguma coisa pra te ajudar, Clover? 
Clover: Pode encontrar uma bota Yves Mont Blanc pra mim? 
G.L.A.D.I.S. Afirmativo. 
Clover: (sorri) Ah! 
G.L.A.D.I.S. Yves Mont Blanc disponível em... 
(Alex derruba sua bebida sobre G.L.A.D.I.S. e seu sistema pára de operar). 
Alex: Opa! 
(Jerry vem correndo na direção de G.L.A.D.I.S.). 
Jerry: Ah! Meu Deus! Isso não é nada bom! 
Clover: Ah! Foi a mancada do ano! Ela tava prestes a revelar só a informação mais importante do mundo! 
Cena 4  (Após a  bebida  cair  sobre  G.L.A.D.I.S., o  computador  começa a  atacar todos  os  espiões  que  participam  da 
– (4)  festa. Sam, Alex, Clover e Jerry escondem­se de G.L.A.D.I.S., num quarto de segurança). 
Jerry: Esta sala está revestida com titânio. Deve diminuir a habilidade dela de nos encontrar.
36 

Clover: Tá, aí você derrubou a bebida na G.L.A.D.I.S. Por que, do nada, ela ficou tão má? Eu não fiquei tão 
louca quando você derrubou geléia na minha blusa. 
Alex: Ela deve de ter cansado de ficar só na sombra do Jerry, sabe? Não ter nunca a atenção pra ela. 
Sam: Gente, ela é um computador! Ela não liga pra essas coisas. 
Jerry: Eu temo que  seja minha culpa G.L.A.D.I.S. estar lá. Eu fiz o dowloawd do cérebro dela de o Cérebro 
(simultaneamente,  aparece  a imagem  do  fugitivo  da  prisão  apresentado  no  início  do  episódio)  o  vilão  mais 
ardiloso do mundo. 
Alex: Ah! 
Clover: Ela tem cérebro de vilão? 
Jerry:  É  um  vilão  que  planejou  destruir  o  mundo,  fazendo  com  que  os  países  atirassem  mísseis  uns  nos 
outros. Eu pensei ter apagado todas as ligações do mal! 
Sam: Bom, ele deve ter uma fraqueza. Todo mundo tem! 
(Clover, com voz suave, olhos e rosto de satisfação, comenta:) 
Clover: Ah! Shopping! 
Cena 5  (Após  desativar  dois  mísseis  —  disparados  por  G.L.A.D.I.S.  —  Clover  e  Sam  aparecem  em  um  jato, 
– (5)  retornando  para  a  WOOHP.  De  repente,  Clover,  sobrevoando  a  cidade,  vê  algo  lá  em  baixo.  A  imagem  é 
enriquecida pelo som de uma buzina de carro antigo). 
Clover: Ah! Há! Sam, olhe! 
Sam: O que foi? É o Papai Noel? Toma cuidado! Não acerta ele! 
(A  imagem  mostra  prédios  altos  e  o  tráfego  de  carros.  Gradativamente,  a  imagem  vai  focando  uma  jovem 
menina e conclui o foco no par de botas da personagem). 
Clover: É melhor que Papai Noel! É a bota da Yves Mont Blanc! 
Sam: Não brinca! E é outra pessoa que está usando! 
(O jato aterrissa ao lado da jovem. Clover desce do jato e fala com a dona da bota, enquanto Sam a observa 
da porta do avião). 
Clover: Segurança Nacional, senhorita! Tenho que confiscar suas botas por motivos oficiais. 
(Clover, na porta do jato...). 
Clover: O país te agradece. 
(A imagem, a seguir, é da jovem menina assustada, com pés descalços. Na seqüência, Clover aparece feliz 
com o rosto no meio do par de botas). 
Cena 6  (Após a missão solucionada, de volta a festa de Natal da WOOHP. Alex olha a bota que Clover “confiscou” e 
– (6)  diz:). 
Alex: Olha! “Ce” ganhou o presente de Natal que queria! 
Clover: Ganhei! 
(Clover, feliz, abraça as duas amigas).
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Clover: Feliz Natal, meninas! 
Cena 7  (À noite as jovens espiãs chegam em casa e encontram a árvore de Natal repleta de presentes). 
– (7)  Clover: Uau! Ah! São do meu pai, lá da Europa! Sabia que ele não ia me decepcionar! 
(Clover se aproxima dos presentes. Sam, Alex e Clover ouvem um choro vindo da rua). 
Sam: O que é isso? 
Alex: Uma das renas deve estar com hérnia de carregar todos os presentes da Clover. 
(Na  imagem  a  seguir,  Mandy  aparece  sentada  na  rua,  em  frente  a  um  iglu,  do  lado  de  fora  de  sua  casa, 
chorando muito). 
Clover: Mandy? 
Mandy: Minha mãe vendeu pra uma celebridade o último par de botas Yves Mont Blanc que eu queria. Mas, 
vou mostrar pra ela! Vou ficar aqui fora e congelar até morrer! 
Sam: Tá uns vinte graus aqui fora! 
(Após  a  colocação  de  Sam,  Mandy  chora  e  grita  com  maior  força  e  intensidade.  Suas  lágrimas  aumentam, 
significativamente, em termos de quantidade. Tanto que parecem duas fontes jorrando água para cima. Neste 
momento, Clover tira as botas Yves Mont Blanc, que havia confiscado da jovem, e dá para Mandy) 
Clover: Toma. Feliz Natal! 
(Mandy pára imediatamente de chorar). 
Mandy: Pra mim? Sério? Você é a pessoa mais legal que já odiei! 
Alex: Nossa Clover! Que boa ação! Não é a sua cara! 
Sam: Eu tô orgulhosa de você! Finalmente eu vi o espírito do Natal. 
Clover:  O espírito do Natal? Hello! Yves Mont Blanc tá fora de moda! Olha esse novo George Vivaldi, saído 
das passarelas européias! 
(Clover  tira de  uma  caixa de presentes  uma bota  rosa.  Muitas  estrelas  cintilam,  aleatoriamente, ao  redor  do 
produto. Mandy tira as botas Yves Mont Blanc dos pés e joga­as no chão). 
Mandy:  Ah!  Sua  insuportável  (Mandy  faz  uma  bola  com  a  neve  do  chão),  tentando  me  insultar  com  essas 
coisas feias! 
(Mandy joga a bola de neve no rosto de Clover, que fica furiosa. Clover faz uma bola muito maior. Mandy tenta 
se  esconder  dentro  do iglu, porém  ele  não  consegue  sustentar o  peso  da bola  de neve  e  cai  sobre  Mandy. 
Mandy fica gritando). 
Clover: Agora sim, esse foi o melhor presente de Natal!
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Relacionamentos 
Consumo de 

Fita 4  Temporada 1 — Data: 03/01/2007  Episódio:  A Spy is Born  — Nasce uma espiã 


Missões 

1.  Sam precisa conseguir conviver com a fama; 
2.  Descobrir o paradeiro de astros de Hollywood que foram raptados. 
Cena 1­  (O episódio inicia com o rapto de uma atriz famosa de Hollywood). 
(1) 
Cena 2  (Na  escola,  as  espiãs  sobem  as  escadas  e  entram  no  saguão  da  escola.  Muitas  pessoas  aparecem 
– (2)  conversando). 
Consumo de Aparências 

Sam: O que será essa agitação toda? 
Alex: Sei lá! 
Mandy: Oi! Bando de insignificantes, vocês viram o que saiu hoje? 
(Mandy mostra, em suas mãos, um livro azul de título Berveley Hills School — Year Book. Clover fica feliz e 
caminha para pegar um dos livros). 
Clover: Ai que bom! 
(Mandy interrompe o trajeto de Clover). 
Mandy: Não! Vamos ver... Tem uma página aqui que  mostra que essa que vos fala é a única, definitiva e a 
mais popular do Colégio Berveley Hills! 
(Clover  aparece  ao  lado  de  Mandy,  mãos  na  cintura  e  expressão  de  indignação.  Mandy  fica  com  uma  das 
mãos segurando o livro aberto e com  a outra mão no queixo. Seu rosto expressa felicidade, até o momento 
em que olha para o livro e se espanta). 
Mandy: Ah! Ou não! Isso é terrível! 
Alex: O que que foi Mandy?
39 

Mandy: Ela é a tragédia que já aconteceu no Colégio Berveley. 
(Mandy aponta o livro para Sam e Clover o pega de sua mão). 
Clover: É que a Sam foi votada a mais popular! 
Sam e Alex: Ã? 
(A imagem foca o livro aberto. Em uma das páginas aparece uma foto de Sam, ocupando toda a páginas). 
Voz de Tradução: Aluno mais popular do ano. 
(Mandy fica furiosa e arranca o livro das mãos de Clover. Enquanto isso, as espiãs se divertem com sua fúria). 
Mandy: É claro que deve ter havido algum engano. Todo mundo sabe, que eu sou a aluna mais popular da 
escola. 
Sam: Por que será que todos votaram em mim? 
Alex: Ah! Porque você é inteligente, engraçada e super legal! 
(Duas jovens belas e populares interromperam a conversa). 
Jovem: É por isso que queremos estar com você neste fim de semana. 
Mandy e Sam: (assustada) Querem? 
Jovem: É claro! Adoramos nos cercar de muita popularidade. Tchauzinho! 
(Sam, Alex, Clover e Mandy aparecem assustadas). 
Mandy: Ah! É isso! Vou pôr um fim a essa loucura de votos, imediatamente! Eu exijo uma recontagem! 
Sam: Tudo bem! Isso é oficialmente estranho. 
(Sam olha para o lado). 
Arnold: Eu trouxe isso para você! 
(Arnold — um rapaz de óculos, com traços que o caracterizam  como CDF  — entrega um buquê de flores à 
Sam) 
Sam: Ah! Obrigada Arnold! Não precisava! 
Arnold: Mas, você merece Miss Popular! 
(De repente, belos rapazes do time do colégio se aproximam de Sam, com seus livros abertos). 
Jogador 1: Ei! Sam! Poderia assinar nossos livros? 
Jogador 2: Assina o meu! 
Jogador 3: E o meu também! 
(Sam se assusta com o grande número de pessoas que se aproximam). 
Várias vozes: É! 
Voz 1: E o meu! 
Voz 2: Assina o meu livro! 
(Sam fica rodeada de pessoas. Clover aparece assustada). 
Sam: Ah! Talvez mais tarde pessoal. Neste momento, eu preciso fazer uma coisa muito, muito importante. 
(Sam, Alex e Clover correm pelo corredor do colégio, para fugir dos fãs de Sam. Logo encontram uma porta
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aberta e se escondem). 
Clover: Aqui é o depósito do faxineiro! 
Alex: É! Que coisa tão importante você ia querer fazer aqui, hein? 
Sam: Me esconder! 
Clover: Sam, você não tá acostumada a ser uma celebridade, pode ficar uma pouco assustada, mas acredite 
em  mim, você não  deve fugir  da fama! Você  deve abraçá­la! Vamos lá! Vamos voltar e  encontrar  com  seus 
fãs! 
Jerry: Não tão depressa! 
(O chão se abre e as espiãs são transportadas para a WOOHP. Sam grita:) 
Sam: Dessa vez, eu estou contente em te ver Jerry! 
Cena 3  (Na sala com Jerry...). 
– (3)  Jerry: Meninas, receio ter péssimas notícias. Julian Reinstis e Dak Janson, os dois astros de cinema de maior 
bilheteria, foram, misteriosamente, raptados. 
Três Espiãs: Ã?! 
Sam: Tudo bem, eu retiro o que eu disse. 
Alex: E como é que isso aconteceu? 
Jerry: Em plena luz do dia. O que deixa o caso mais estranho. 
Clover: Estranho mesmo! Esses astros só se bronzeiam com luz solar artificial. 
Sam: Temos algum suspeito, Jerry? 
(Aparece no telão a imagem de um astro de cinema). 
Jerry:  Nenhum.  É  por isso  que  nós queremos  que vocês,  meninas, fiquem disfarçadas  e  de olho  em  Brock 
William. Como ele é astro de terceira melhor bilheteria, temos receio de que ele será a próxima vítima. 
(Imediatamente, as meninas ficam muito felizes). 
Clover: Ah! Que doideira! O Brock é o maior gato que existe! 
Jerry:  Er!  Eu  estou  contente  por  estarem  entusiasmadas.  Mas,  lembrem­se  que  ele  é  uma  pessoa  em 
evidência e discrição é fundamental. Não queremos que a mídia descubra nada. 
Clover: Ah! Sossega Jerry! Nós somos profissionais! 
Cena 4  (As meninas não conseguem evitar o rapto de Brock). 
– (5)  Alex: Ainda bem que ficamos com isso! 
Clover: E o que é isso? 
Alex: Ah! Eu não sei! Eu vi o seqüestrador deixar cair no túnel. 
Sam: É melhor mandarmos pra WOOHP! 
(Sam abre o comunicador). 
Jerry: Esta é uma ótima idéia! Quais são as últimas notícias? 
Sam: Infelizmente nós acabamos de perder o Brock, Jerry!
41 

(Jerry coloca a mão direita na cabeça). 
Jerry: Ã? Puxa! Então, é melhor eu mandar ajuda. Um helicóptero está indo buscá­las. 
(Clover coloca os dois braços para atrás da cabeça.). 
Clover: Tô precisando mesmo de um descanso! 
Jerry: Na verdade, eu tenho outra missão para vocês. 
(No  comunicador,  aparece  a  imagem  de  uma  jovem  loira  —  cabelos  longos,  casaco  e  blusa  rosas  — 
acenando). 
Jerry:  Every  Ston,  uma  estrela  de  grande  bilheteria,  vai  a  uma  premier  em  Hollywood  esta  noite.  Uma  de 
vocês terá de se disfarçar de Ember e servir de isca, para descobrir esse bandido, enquanto as outras duas 
tentam impedi­lo. 
Clover: Bom, obviamente, eu vou fazer o papel de Ember, sou a mais qualificada do grupo. 
Jerry: Eu sinto muito. Você é alta demais. Ah! Bom, nós escolhemos a Alex, para ser a celebridade isca. 
(Clover e Alex de assustam). 
Clover: Alex? 
Alex: Eu? 
Jerry: Mandamos preparar uma máscara plástica de Ember, enquanto conversamos. Agora nós temos mais 
notícias sobre celebridades (Jerry começa a tirar papeizinhos de uma caixa rosa). Parece  que Sam, em  sua 
ausência, recebeu uma infinidade de cartas e foi a sensação da noite. 
(Sam responde decepcionada). 
Sam: Muito legal. 
Cena 5  (Alex é raptada e, juntamente com os outros atores, é levada para a ilha de Lumière — nome do seqüestrador. 
– (6)  Sam e Clover os encontram em meio a simulacros de pedaços de monumentos históricos de todo o mundo). 
Lumière: Vocês devem estar curiosos pra saber porque foram reunidos aqui. 
Brock: Nem tanto, parceiro. O que a gente quer mesmo é dar logo o fora daqui. Meu agente deve tá doente 
de preocupação por minha causa. 
Lumière:  É uma  pena, mas eu vou falar assim mesmo. No passado, Hollywood não deu  nem um pouco de 
atenção ao meu trabalho. Agora eu vou fazer um filme que eles não vão ter condições de ignorar. Um filme 
estrelado por todos vocês! 
Julian  Reinstis:  Não  estrelaria  a  porcaria  do  seu  filme,  nem  que  me  desse  metade  da  bilheteria  e  todo 
dinheiro do mundo. 
Lumière: Há, há, há! Confiem em mim. Essa é uma oferta que vocês não vão poder recusar. 
Alex: (Ainda disfarçada de Ember) E se nós recusarmos? 
Lumière:  Vocês  não  têm  escolha!  Esta  ilha  é  um  gigantesco  set  de  filmagens,  cheio  de  armadilhas  e 
explosivos e, é claro, câmeras que vão captar toda a matança. 
(Lumière aperta o botão de um controle remoto, que está em suas mãos, e há uma grande explosão atrás dos
42 

atores). 
Lumière: Mas quem sabe, se algum de vocês conseguir sobreviver a esse maravilhoso estouro de obra prima, 
a gente pode até pensar numa seqüência. 
(Clover e Alex aparecem em um esconderijo, de onde observam tudo o que está acontecendo. Clover aparece 
furiosa). 
Clover: Primeiro a Alex ficou com o papel que, obviamente, era pra mim e, agora, vai fazer um filme! Quando 
eu vou ter a minha grande chance? 
(Sam bate duas vezes com a mão na cabeça de Clover). 
Sam: Acorda Clover! A Alex foi seqüestrada e está sendo forçada a fazer um filme! 
Clover: E daí? 
Cena 6  (Após a missão resolvida, Sam e Clover aparecem, novamente, subindo as escadas da escola). 
– (7)  Sam: Eu não sei sobre vocês, mas eu estou tão contente de finalmente estar em casa. 
Clover: Eu também já estava farta de celebridades. 
(Ao entrar no saguão da escola, muitos alunos olham para Sam). 
Várias vozes: Olha lá a Sam! É ela! Sam!... 
Clover: Tem tempo suficiente de chegar ao depósito do faxineiro! Você sabe, se corre. 
(O  rosto  de  Mandy  surge  na  tela  —  de  perfil,  apenas  da  bochecha  ao  pescoço—  segurando  um  megafone 
próximo a boca). 
Mandy: Atenção todos! Eu tenho  um comunicado muito importante a fazer (Mandy aparece em cima de um 
armário). Depois de uma recontagem oficial dos votos, constatou­se que houve um erro na anotação. Como 
eu suspeitava, eu sou a garota mais popular da escola. 
(Todos, com seu livro do ano, correm em direção à Mandy) 
Várias vozes: Então assina pra mim! Assina aqui Mandy! Ah! 
Mandy: Espera um pouco! Ah! Eu vou cair! Ah! 
(Mandy cai de cima do armário). 
Consumo de 
Objetos
43 

Cena 1­  (Na  residência  de  Brock  William,  as  espiãs  aparecem  disfarçadas  atrás  de  folhagens  —  Sam  de  jardineira, 
Consumo de Relacionamentos 

(4)  Alex de cozinheira e Clover de arrumadeira). 
Sam: Certo! Por que eu estou de jardineira outra vez? 
Clover: Por que a arrumadeira ficou com os seus sapatos e você cozinha mal. 
Sam: Ah! Obrigada! 
Clover: As ordens! Agora vamos fazer o que o Jerry mandou e ficar de olho no Brock. 
Sam e Alex: Certo! 
(As três espiãs escalam a sacada da casa e entram no quarto de Brock) 
Alex: Ai gente! Esse quarto é tão lindo! 
(A imagem, gradativamente, revela o grande e sofisticado quarto). 
Clover: Isso porque é o quarto do Brock William! E, olhe! Ele tem uma cama d’água! 
(Clover corre e se atira na cama de Brock. A imagem foca o rosto de Clover feliz, balançando sobre a cama). 
Sam:  Clover!  Acorda!  A  gente  deveria  estar  investigando,  lembra?  Você  sabe?  Procurando  coisas  fora  do 
comum! 
(Clover ainda deitada sobre a cama encontra uma cueca do astro). 
Clover: Isso aqui serve? 
(Sam fica ainda mais furiosa. Ela aparece com olhos grandes, um rosado de bochecha a bochecha, incluindo 
o nariz). 
Sam: Ei! Ponha isso no lugar! 
(Alex, que estava observando Brock na piscina pela porta de vidro, vê algo estranho.) 
Alex: Gente, vem dá uma olhada nisso aqui! 
(A imagem mostra a piscina de Brock. Primeiramente, aparecem as pernas de Brock, metade submersas, e, 
em seguida, o corpo inteiro do ator, descansando sobre uma grande bóia). 
Clover: Olá bonitão! 
(Estrelas brilham ao redor do rosto de Clover). 
Alex: Ã? Na verdade, eu tava falando dele. 
(Havia  um  fotógrafo  tentando  subir  em  uma  árvore,  ao  lado  da  casa  de  Brock.  Vestido  de  calças  e  botas 
verdes,  camisa amarelo­queimado e chapéu  camuflado  com folhas verdes, o fotógrafo tentava tirar fotos de 
Brock) 
Sam: Aquele deve ser o raptor! Vamos espiãs! Precisamos detê­lo. 
(Enquanto Sam e Alex correm em direção as escadas, Clover tem uma idéia. Ela abre a porta de vidro e liga 
seus sapatos a jato). 
Clover: Sem tempo a perder! 
(Clover voa em direção ao fotógrafo, faz uma pirueta em um galho da árvore e se atira sobre o fotógrafo). 
Clover: Vamos acabar logo com isso, seu seqüestrador de celebridades barato!
44 

(Nesse momento, o galho da árvore onde estavam começa a rachar, e, juntos, caem na piscina, derrubando o 
ator). 
Brock: Mas, o que é isso? 
(Clover aparece submergindo e levantando o fotógrafo). 
Clover: Não se preocupe Brock, os dias de crime deste panaca terminaram! 
(Brock  fica  furioso  —  sobrancelhas  arqueadas  e  boca  com  dentes  cerrados  —  e  aponta  o  indicador  para 
Clover). 
Clover:  É  senhor  William  pra  você!  E  saiba  que  este  que  está  chamando  de  panaca  é  um  fotógrafo  muito 
respeitado. Eu não gosto que meus empregados domésticos fiquem atacando a mídia! 
(Clover fica furiosa). 
Clover:  Eu não  sou uma simples empregada! Eu sou uma engenheira doméstica. Além do mais, eu só tava 
tentando protegê­lo. 
Brock: Rã! Proteger do quê? De acabar na capa de alguma fabulosa revista super importante? 
Fotógrafo:  (Saindo  da  piscina)  Não  quero  saber  disso!  Minha  câmera  está  completamente  perdida!  Terá 
notícias do meu advogado! 
(Clover, ainda dentro da piscina, parece assustada e constrangida com a situação). 
Clover: Ouça, eu sinto muito mesmo! 
Brock: Tá! Ta bom! Agora voltem ao trabalho! 
Sam: Você está bem Clover? 
Clover: Ótima! Acho que eu fui longe demais! 
Alex: Ah! Eu não te culpo. O Brock é um gatão maravilhoso! 

Fita 4  Temporada 3 —  Data: 05/01/2007  Episódio:  Truth or Scare — Verdade no Susto 


Missões 

1.  Descobrir quem tentou raptar o cantor Jackson John; 
2.  Descobrir quem é a melhor amiga de Alex. 
Cena 1­  (O episódio inicia à noite, em frente a um clube de Beverly Hills. No clube, muitos fãs e seguranças aguardam 
aparências 
Consumo 

(1)  a passagem de uma bela e escultural modelo). 
Gisela: Eu também amo vocês queridos. Cada um de vocês. 
de 

(A  modelo  manda  beijos  para os fãs,  faz  pose  para foto  e  caminha  até  sua  limusine.  A  limusine  começa  a 
andar  e  seus  braços,  de  repente,  são  presos  ao  banco  por  algemas  de  aço.  Instantaneamente,  o  cinto  de 
segurança a aprisiona na poltrona do carro).
45 

Gisela: Ah! Motorista, tem alguma coisa errada com o carro. Socorro! 
Motorista (Cirilo): Ah! Eu vou te ajudar Gisela. 
(O motorista fecha o vidro que separa os bancos da frente dos bancos de trás. De repente, um grosso gancho 
de ferro pára em frente ao rosto de Gisela e joga­lhe um gás. Ela tosse). 
Motorista (Cirilo): Mas só depois de você me responder algumas perguntinhas. 
(As pupilas dos olhos de Gisela, instantaneamente, diminuem). 
Cena 2  (Sam  e  Alex  aparecem  sentadas,  comendo  sorvete,  na  lanchonete  da escola.  Clover  vem  se  aproximando, 
– (2)  com uma revista em suas mãos). 
Clover: Tá aqui meninas! A edição especial da Cochicho! 
(Alex pega a revista das mãos de Clover e abre­a). 
Alex: Nossa! Uma entrevista na íntegra com a supermodelo Gisela! Tomara que seja legal! 
(Sam se aproxima de Alex para olhar a revista também). 
Sam:  Ela  diz  que  o  segredo  de  sua  longa  silhueta  é  comer  (A  imagem  foca  a  revista  com  duas  fotos  de 
Gisela.) somente comidas longas e fininhas, tipo espaguete. 
(Alex aparece com uma colher cheia de sorvete). 
Alex: Hum! Eu deveria ter pedido um sorvete tipo picolé, ao invés de bola. 
Clover: Viu! Informação que a gente vai usar! É o que eu chamo de jornalismo investigativo. 
(Mandy se aproxima da mesa onde as jovens espiãs conversam.). 
Mandy:  Não  tá na  hora de você  trocar essa fofoquinha  por fofoca de verdade? Hello!  Realite ou risco?  Um 
jogo novo em que você deve revelar um segredo cabeludo ou enfrentar um desafio. 
Sam: Ã? Realidade ou risco? Desculpa acabar com a sua ilusão, Mandy. Mas, verdade ou desafio é do “arco 
da velha”! 
Mandy: Desculpa, (começa a gritar) não tava ouvindo? 
(A cabeça de Mandy se aproxima do foco da imagem e aumenta, significativamente, de tamanho). 
Mandy: Não é verdade ou desafio! Vem da França e tem uma mala bem bonitinha. E aí? Quem começa? 
Alex: Esquece, Mandy! A gente não tá interessada no seu joguinho ridículo. 
(Mandy tira da mala uma seta giratória e começa a girá­la). 
Mandy: Mas é claro que estão! 
(A imagem foca Mandy com uma carta na mão). 
Mandy: Realidade ou risco? 
Sam: Realidade. 
Mandy: Ou! Qual é o nome do primeiro cara que você beijou na vida? 
Sam: (risos) Lorde Bladerei, na sexta série, nossos aparelhos engancharam. 
Mandy: Gracinha. Tá bom, mais giro. Alex, realite ou risco? 
Alex: Realidade!
46 

Mandy: Uuuu! Aaah! (risos) Qual é o nome da sua melhor amiga? 
Alex: Clover e Sam! Dã! 
(Mandy  bate  na  mesa  e  reproduz,  com  a  boca  um  som  que  representa  o  erro.  Instantaneamente,  Alex  e 
Mandy aparecem num quiz Mandy com uma prancheta nas mãos e Alex atrás de um balcão com o seu nome 
na frente). 
Mandy: Tem que escolher só uma! 
(Ambas retornam a cena da lanchonete). 
Alex: Tenho nada! Eu gosto delas igual! 
Mandy: Se você se recusa a responder a realidade, tem que correr o risco. 
Alex: Tá! Eu vou correr o risco. 
Mandy: Ótimo! Então corra o risco de perder uma amiga, dizendo o nome da que se gosta mais! 
(Alex levanta da mesa, furiosa). 
Alex: Esquece! Eu não vou escolher entre a Clover e a Sam, por causa do seu jogo idiota! 
(Sam caminha se distanciando da mesa). 
Mandy: Nossa! Ela ficou braba! Tá escondendo alguma coisa! 
Sam: Alex espera! 
Clover: Alex, calma! A gente nunca vai deixar a Mandy separar a gente. 
Sam: É Alex! Você sabe que a gente sempre vai ficar juntas, não importa... 
(A lixeira se abre e as meninas são sugadas para a WOOHP). 

Cena 3  (Na WOOHP...). 
– (3)  Jerry:  Desculpem  a  intromissão,  meninas.  No  entanto,  sabendo  que  vocês  tendem  a  revelar  idolatria  por 
celebridades. Acho que não vão se importar. 
(No telão aparece a imagem de um jato amarelo ouro). 
Alex: Ei! É o avião particular de vidro, do Jackson John! 
Sam: Jackson John? Aquele cantor pop brega, totalmente recluso? 
Alex: Ele não é brega! Ele é o máximo! A música dele me toca a alma. 
Clover: A sua e a de um monte de velhinhos, porque “Hello!” só velho gosta dele. 
Jerry: Meninas, por favor, os méritos artísticos do senhor Jackson, não são interesse da WOOHP. Mas, o seu 
desaparecimento abrupto é. 
(A  imagem  que aparece  é  de  Jackson,  em  seu  jatinho,  sendo  atacado  pelo  mesmo  gancho  e  recebendo  o 
mesmo gás da modelo Gisela). 
Jerry: Parece que o senhor Jackson foi atacado por um homem que persuadiu o piloto. Por sorte, ele achou 
uma brecha e conseguiu escapar. 
Clover: Quem iria tentar um seqüestro tão estranho?
47 

Jerry: Eu não sei, e nem o prórpio Jackson John. Foi por isso que ele contratou vocês para descobrir. 
Alex: Quer dizer que a gente vai para o Rancho JJ? 
Jerry: É, vão! 
Três Espiãs: Demais! 
Sam: (para Clover) Você não disse que era coisa de velhinho? 
Clover: (para Sam) Você não disse que ele era brega? 

Cena 4  (As  espiãs  dão  um  comunicador  para  JJ,  se  disfarçam  de  JJ  —  para  atrair  o  vilão  —  e  se  separam  pelo 
– (5)  rancho.  Alex  entra  no  trem  da  propriedade  e  é  aprisionada.  O  mesmo  gancho  de  ferro,  que  jogou  gás  em 
Gisela e Jackson, ataca a Alex). 
Voz  misteriosa  (Cirilo):  Boa  tarde,  senhor  Jackson!  Vamos tentar  de  novo,  tudo  bem!  (o  gás atinge  Alex) 
Quantas plásticas o senhor fez? 
Alex: Nenhuma! Eu gosto de mim como eu sô. 
Voz misteriosa (Cirilo): Estranho! E quanto gastou com roupas na semana passada? 
Alex:  Deixa  eu  ver...  Eu  comprei  uma  saia  muito  fofa  e  um  par  de  tênis.  (Alex  balança  a  cabeça)  Oitenta 
dólares! 
Voz misteriosa (Cirilo): Hum! Você não é Jackson John! 
Alex: Não, eu sou a Alex, agente da WOOHP e tem mais duas vindo pra pegar você. 
Cena 5  (Apesar de Sam e Clover tentarem salvar Alex, o vilão a captura, porém deixa cair uma pista — um boné). 
– (6)  Sam: Ei! Olha isso! YW! Os uniformes daqui não deveriam ter JJ como logo? 
Clover: Sam! Esse é o logotipo da Revista Cochicho! Vamos ver o que a WOOHP sabe sobre isso! 
(Clover abre o seu comunicador). 
Jerry: Olá meninas! Como vai a missão? O senhor Jackson está a salvo? 
Clover: Ele tá bem Jerry, mas a Alex foi seqüestrada. Nós achamos que o bandido está conectado a Revista 
Cochicho. 
Jerry: Hum! Cochicho? Vamos ver. Ah! Sim! Achei! Aqui! Cirilo Orelhinha, o ex­guarda­costa de celebridades, 
usou seus contatos para abrir a sua própria revista, com escritórios em Beverly Hills! 
Sam: Então sabemos para onde temos que ir. 
Jerry: Vou mandar o avião da WOOHP.
48 

Cena 6  (Clover e Sam conseguem entrar na sede da Revista Cochicho). 
– (7)  Sam: Nossa! Parece que alguém parou a impressão! 
(Clover  levanta  um  lençol  e  encontra  muitos  frascos  com  substâncias  coloridas.  Para  destacar  sua 
importância, uma luz branca recobre e reflete sobre os produtos). 
Clover: Ei! Que coisa estranha! Não parece equipamento de impressão, parece mais coisa de química! 
(Enquanto  Clover  balança  um  Copo  de  Becker,  Sam  aparece,  em  segundo  plano,  mexendo  em  um 
computador.). 
Sam: Achei a fórmula do que está naqueles Beckers, Clover. 
(Clover se aproxima e, juntas, observam, na tela do computador, uma espécie de cadeia de DNA). 
Sam: É um tipo de extrato de DNA! 
Clover: Ei! Então é assim que a revista tem conseguido os podres dos artistas. O Cirilo seqüestra eles e usa 
esse extrato pra eles falarem as baixarias. 
Cena 7  (De repente, Clover encontra um botão e aperta­o. O botão faz com uma jaula, com Alex dentro, apareça). 
– (8)  Sam e Clover: Alex! 
Sam: Você está bem? 
Alex: Eu tô perfeitamente bem. Só que o Cirilo me deu o extrato da verdade e então eu só falo a verdade. 
Clover: Ah é é? Então você poderia dizer o nome da sua mais velha e querida amiga? 
Alex: Claro! É a Oly! 
Clover e Alex: Ã? 
Sam: Oly? 
Clover: Oly? 
(Cirilo aparece descendo as escadas da revista). 
Cirilo: Outra verdade descoberta pela Revista Cochicho. 
Clover: Cirilo Orelhinha! 
Cirilo: Em carne e osso. 
Sam: Seus dias de promotor de fofocas acabaram, cara! Nunca mais vai usar extrato da verdade em ninguém! 
Clover: É! A partir de agora as fofocas dos artistas vão ser boatos e rumores, como devem ser! 
Cirilo: E como é que as três mocinhas vão me impedir? 
Alex:  Bom, elas devem te pegar com um  rímel que atira rede. Depois, me  tirar daqui com as botas de salto 
perfurador e, aí, ligar para a WOOHP pelos comunicadores. 
(Clover e Sam se assustam e ficam furiosas com Alex). 
Clover e Sam: Alex! 
Alex: He, he! Foi mal gente. 
Cirilo:  Agora eu vou  contar pra vocês uma coisa  sobre  os  negócios  de  revistas.  Sabe, tudo  começa  com  o 
papel.
49 

(Cirilo atira um enorme rolo de papel contra Sam e Clover. Elas saem correndo). 
Sam e Alex: Ah! 
Cirilo: Depois se adiciona tinta. 
(Em  seguida,  Cirilo joga  tinta nas  duas espiãs,  com  o auxílio de uma  mangueira.  As  meninas  caem  emuma 
prensa e são enroladas com papel, por Cirilo). 
Cirilo: E, finalmente, a prensa. 
(Cirilo aperta o botão que liga a prensa). 
Cena 8  (Cirilo leva Alex para entrar na WOOHP  e acabar com os outros tablóides. Apesar de lutar, Jerry também é 
– (9)  capturado e atingido pelo extrato da verdade). 
Cirilo: Agora, Jerry, não é? Talvez você queira me contar sobre o mais novo armamento da WOOHP? 
Jerry: Certamente. Pressione o botão azul, na mesa. 
Cirilo: Hum? (risos) 
Jerry: Apresento­lhe o paparazo. (Um mini­tanque, surge na mesa de Jerry) Aperte o botão verde do lado, por 
favor! 
Cirilo: Hum! Parece que está carregando! 
Jerry:  E  está!  Pressionando,  novamente,  aciona  o  flash  de  luz,  que  irá  deixar  qualquer  oponente  sem 
sentidos. 
Cirilo:Você espera que eu elimine a concorrência com este brinquedinho? 
Jerry: É claro que não! Essa é a versão de mesa. Pressione o botão vermelho, por favor! 
(No telão, aparece um tanque em tamanho real.). 
Jerry:  Esta  é  a  versão  tamanho  integral  do  paparazo,  com  flash  de  transistor  ajustável  de  cinqüenta  mega 
watts. Com força total, pode cegar permanentemente qualquer um num rio de cinco quadras. 
Cirilo: É isso! É perfeito! Meus rivais não podem imprimir nada sem enxergar! 
Jerry: É só digitar as coordenadas do alvo e apertar enter. Uma contagem regressiva vai dizer quando a carga 
estiver pronta. 
Consumo 

Objetos
de 
50 

Cena 1­  (As  espiãs aterrissam  no  rancho  JJ. Enquanto descem, pensam que alguns fogos de  artifício  são  armas  de 
(4)  fogo utilizadas para atingi­las). 
Sam: Ei! Não são explosões, são fogos de artifício! 
Relacionamentos 
Consumo de 

Jackson:  (sotaque  caipira)  É  um  evento  que  acontece  toda  terça  feira,  né.  “Cês”  devem  “se”  as  agente  da 
WOOHP. Eu sou Jackson John. 
(Alex fica frente a frente com Jackson. As mãos da personagem se juntam na altura do queixo, seus olhos se 
transformam  em  dois  corações  vermelhos.  Ao  fundo,  muitos  corações,  de  diferentes  tonalidades  de  rosa, 
cobrem a tela branca. Corações pequenos saem dos olhos de Alex). 
Alex: Senhor Jackson! Eu não acredito que eu tô conhecendo você! 
Jackson: Me chame J.J. 
(Alex desmaia nos braços de Sam e Alex). 
Sam: Como se a gente não soubesse. Pensei que só os bandidos que usassem roupas estranhas! 

Fita 5  Temporada 2 — Data: 23/02/2007  Episódio:  It’s How You Play The Game — É o jeito como se joga 


Missões 

1.  Descobrir por que o país Zanzibar está dominando as Olimpíadas de Inverno; 
2.  Ser escolhida por David — o “ gato”  disputado pelas três espiãs. 
Cena 1­  (O  episódio  inicia  às  duas  horas  da  madrugada,  na  Suíça.  Um  senhor  colocar  um  inseto  eletrônico  no 
aparências 
Consumo 

(1)  travesseiro de uma jovem menina. Enquanto ela dorme, o inseto entra em seu ouvido). 
de 
Consumo 
de Objetos
51 

Cena 1­  (Sam aparece em uma aula, no laboratório de química. Em meio a muitos alunos de jaleco, ela conversa com 
(2)  um jovem belo e intelectual). 
David: Então o composto de nitrogênio gera a fricção, provocando a eliminação dos organismos indesejáveis. 
(Estrelas  brilham  aleatoriamente.  Sam  aparece  com  as  mãos  juntas  encostadas  no  queixo,  as  bochechas 
vermelhas, incluindo o nariz, os olhos de satisfação e a boca aberta). 
Sam: Ai! 
(David aparece à frente de um fundo com bolhas e estrelas em nuances de branco e lilás). 
Cena 2  (Na  cena  seguinte,  um  apito  dá  a  largada  na  pista  de  atletismo  da  escola.  Alex  corre  num  revezamento  e 
– (3)  passa o bastão para um belo e musculoso rapaz. Eles vencem a corrida). 
Alex: Isso aí, David! 
(O rapaz aparece em meio a bolhas e estrelas em nuances de branco, rosa e amarelo). 
Consumo de Relacionamentos 

David: Passagem excelente, Alex! 
(Alex  fica  com  as  mãos  cruzadas  em  frente  ao  peito.  O  fundo  é  preenchido  por  cores  com  tons  de  rosa, 
amarelo e branco. Duas atletas observam Alex). 
Alex: Ah! 
Cena 3  (Clover aparece em um teatro, ensaiando  a  peça de  Romeu e  Julieta.  David  aparece  de joelhos, vestido  de 
– (4)  Romeu.). 
David: Ó! Fale anjo brilhante. Por que tua corte é tão gloriosa como um mensageiro alado dos céus? 
(Clover surge, na sacada do castelo, com vestido rosa e cabelos longos). 
Clover: Ó David! David! Onde estás David? 
(A cena mostra David de perfil, com os dentes cerrados e com uma gota de constrangimento caindo  de seu 
cabelo). 
Clover: Renegue teu pai, recuse seu nome. Ou, se não quiseres, apenas jure meu amor. 
(David se levanta). 
David: Estava ótimo Clover! Tão cheio de emoção! Mas, o nome do personagem é Romeu, não David. 
(Neste momento, o fundo fica repleto de bolhas e estrelas em nuances de rosa, amarelo e branco). 
David: Vamos passar outra vez? 
Clover: Ah! 
Cena 4  (No corredor do colégio, ao lado dos armários, Sam, Alex e Clover se encontram). 
– (5)  Três Espiãs: Adivinhem? Eu estou apaixonada! 
(As três meninas param de falar, ficam congeladas. Olhos grandes com pupilas muito pequenas. Juntas, ficam 
com uma mão com o indicador levantado e dizem:) 
Três Espiãs: Ele é novo! 
(As três meninas ficam estáticas, novamente — olhos grandes e pupilas pequenas). 
Clover: (emocionada) Ele é lindo!
52 

Sam: Ele é um gênio! 
Alex: Ele é um atleta incrível! 
(As três meninas congelam e se olham, novamente. De repente começam a rir). 
Sam: Por um instante eu achei que estivéssemos falando do mesmo cara! 
David: Oi, Alex! Clover! Sam! 
(David aparece envolto em uma grande bolha branca. Tons de rosa, branco, amarelo e lilás recobrem o fundo 
da imagem. Um som estridente e estrelas mostram o encantamento do momento. As três surgem lado a lado, 
olhos fechados, lábios sorridentes, uma mão para trás e a outra para frente, acenando para David). 
Três Espiãs: Oi David! 
(David vai embora e o “encantamento” se desfaz. As amigas percebem que estão apaixonadas pelo mesmo 
rapaz. Clover protesta, furiosa). 
Clover: Por que vocês duas estão olhando pro meu verdadeiro amor, hein? 
Alex: Seu verdadeiro amor? O David é o cara de quem eu tava falando! 
(Sam também briga por David). 
Sam: Bem, eu o inspirei intelectualmente! 
(De repente, o segundo plano fica azul e vários raios, acompanhados de sons, enriquecem a cena). 
Alex: Até parece! A gente quase deu a mão na corrida de revezamento! 
(Clover  volta  à  discussão  e,  muito  tranqüila,  interfere.  O  segundo  plano  retorna  a  apresentar  o  corredor  do 
colégio). 
Clover: Alex, Sam, olha só pra vocês, competindo por um cara, quando, obviamente, ele gosta de mim! 
(Clover coloca a mão nos ombros de Alex e Sam. Ambas caem para trás. Apenas Clover fica de pé). 
Sam: Veremos isso! 
Alex: É! Vale tudo no amor e na... 
(As espiãs são sugadas para a WOOHP). 
Cena 5  (Na WOOHP). 
— (6)  Jerry:  Garotas,  temos  em  nossas  mãos  uma  situação  muito  peculiar.  Um  único  país  está  dominando  as 
olimpíadas de inverno. 
Clover: Deixa eu entender isso direito. Você nos arrancou do David (As bochechas de Clover ficam vermelhas 
e um coração rosa estoura ao seu lado) por causa de uns joguinhos bobos? 
Jerry: As Olimpíadas não são apenas jogos, Clover, e não são bobas. 
Alex: É isso aí! É um evento maravilhoso, que celebra o espírito de competição. Uma coisa que eu e o David 
sabemos apreciar! 
Clover: Alex, queridinha, quando você percebeu isso, hein? 
(Alex rosna). 
Jerry:  Garotas!  Concentrem­se!  (Aparece  no  telão  a  imagem  de  uma  seleção)  Essa  é  a  equipe  que  está
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dominando a corrida de skate, de hóquei no gelo e, novamente, no biatlo. E, na verdade, eles estão arrasando 
em todos os eventos, até agora. 
Sam: E a parte estranha é? 
Jerry: As chances de uma única seleção ganhar todas as medalhas, são ínfimas. (Os atletas aparecem, na 
praia,  com  roupas  de  banho)  Sem  mencionar  o  fato  de  que  a  equipe  que  está  brilhando  nos  esporte  de 
inverno é de Zanzibar. 
Alex: Então alguém tá fazendo alguma coisa! A gente não sabe nem quem, nem o quê. 
Jerry: Exatamente! Agora fiquem a vontade com seu cartão de crédito decodificador digital, acrescido de uma 
lâmina afiadíssima, braceletes algemas, termo­sensor seis mil infravermelho, com óculos de sol e detector de 
movimentos e luvas de aderir o suficiente. Ah! Sem esquecer a bota ultraleve felpuda, para qualquer tempo. 
(Clover pega a bota das mãos de Jerry e alcança para Sam). 
Clover: Ah! Completamente medonha! Exatamente o seu estilo, Sam. Espero que o David goste. 
(A imagem a seguir foca o rosto de Alex. Seus olhos e boca agigantados expressam sua felicidade. Ao fundo, 
gira um arco­íris saindo da personagem). 
Alex: Essa missão é muito perfeita! Eu vou disfarçada de uma das atletas! 
(Sam interfere, com expressão de desprezo). 
Sam: Para que possa dizer ao David que esteve nas olimpíadas! Vai esquecendo! 
Clover: É! Esquece! Além do mais, eu sou a única que posso usar um uniforme colante de microfibras. 
(Clover se balança, exibindo o seu corpo). 
Jerry: Alex! 
Alex: Obrigada Jerry! Sabia que você ia concordar comigo! 
Jerry: Você vai disfarçada  de repórter. (Alex se decepciona) Sam, você vai disfarçada  de treinador e Clover 
vai correr no Trenó Box Leder. 
(Clover se apavora. Suas mãos vão ao rosto e seus olhos aumentam de tamanho. O fundo fica azul e branco 
e anda velozmente de cima para baixo). 
Clover: Ah! Mas esse é esporte pra gente troncuda! Eu sou delicadinha! 
Alex: Não seja tão modesta, Clover! (Alex aponta para as coxas de Clover) As suas coxas são mais fortes do 
que se pode imaginar. 
Jerry: Boa viagem garotas! 
Cena 6  (Na Suíça, as espiãs observam, do alto de um prédio, a equipe de Zanzibar). 
— (7)  Alex: Pra mim, eles parecem atletas comuns! 
Sam: Ótimo! Então, caso encerrado! Contamos para o Jerry e voltamos pra casa. 
Clover: Insultos não vão resolver este caso. E, quanto antes o resolver mais cedo poderei voltar para a minha 
grande paixão! 
Alex: As compras.
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(Clover  fica  furiosa.  O  fundo  é  preenchido  por  muito  fogo.  As  três  jovens  descem  do  terraço.  Clover  é  a 
primeira a sair do prédio. As espiãs, uma a uma, aparecem com os cotovelos na altura dos ombros e feições 
de indignação). 
Clover: É isso! Eu tô precisando, urgentemente, de algum tempo sozinha! 
(Sam é próxima a passar pela porta). 
Sam: Pra mim, ótimo! 
(Em seguida, Alex sai). 
Alex: Eu assino embaixo! 
Cena 7  (Novamente, no colégio, após solucionar a missão, as espiãs aparecem caminhando no corredor). 
— (8)  Clover: Foi tão legal a Miriam e o Barcero terem ganhado o ouro de forma limpa! 
Sam: E nada de truques. Da maneira como deve ser. 
Alex: Esportes do melhor! 
(David aparece). 
David: Oi, Clover! Sam! Alex! 
(As  jovens  aparecem  lado  a  lado,  olhos  arredondados,  mãos  juntas,  próximas  ao  queixo,  e  rostos 
apaixonados. Tons de branco, lilás e estrelas cobrem o fundo da imagem). 
Três Espiãs: Oi, David! 
Clover: David! Não pode deixar a gente esperando para sempre! Precisamos saber de qual você gosta! 
David: Ã? Mas como assim? Eu gosto de todas! 
Alex: Nã, nã, nã, nã, não! A gente quer saber de qual de nós você gosta! Sabe? 
(Alex aparece com um indicador na boca, o outro braço ao lado do corpo. O fundo fica repleto de bolhas com 
nuances lilás e branco). 
David: Ah! 
Sam: Queremos que escolha uma de nós! 
David: A gente não escolhe uma garota como se fosse um produto em uma prateleira! 
Clover: A gente não se importa! Vá em frente! Diga a elas que sou eu! 
David: Clover, Sam, Alex, por favor! Vocês são todas ótimas! Eu não tenho como escolher uma entre vocês. 
Sinto muito! 
(David sai caminhando. As jovens meninas o acompanham com os olhos). 
Três Espiãs: Vocês viram aquilo? 
(Juntas param e se olham). 
Três Espiãs: Ele estava olhando pra mim! 
Sam: Muito bem! Isso é loucura! Dissemos que não faríamos isso. 
Alex: É! 
Clover: É! E que seríamos boas esportistas!
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Alex: Há! E, além disso, ele tava olhando nos meus olhos! 
(Clover e Sam se enfurecem e rosnam). 
Clover: Sei! E ele ficou me dando uma secada, tá! 
Sam: Vocês duas estão delirando! É a mim que ele quer! 
(As três espiãs riem). 

Fita 6  Temporada 4 — Data: 04/04/2007  Episódio:  Mani­Maniac Much?  — Mania de Manicure 


Missões 

1.  Fazer as unhas no salão  Mega­Mani Mania; 


2.  Vencer o concurso de beleza do salão  Mega­Mani Mania; 
3.  Descobrir o paradeiro de jovens adolescentes que estão desaparecendo. 
Cena  (O episódio inicia com duas belas jovens saindo de um salão de beleza e admirando suas mãos). 
1— (1)  Jovem ruiva: Eu adorei como ficou minha unha! 
Jovem loira: Eu também. E a melhor parte é que não tivemos que ficar de papo furado com a manicure. 
(As jovens entram em um beco escuro. São seguidas por uma sombra. Unhas longas e pontiagudas raspam 
uma parede. O barulho estridente é acompanhado por faíscas). 
Jovens: Ã? 
Consumo de Aparências 

Jovem loira: O que é isso? 
(O homem das sombras pára de raspar suas unhas e começa a rir). 
Jovem ruiva: Eu não sei, mas não vou ficar aqui pra descobrir! 
(A  sombra,  monstruosa, ergue  seus  braços,  cruza  suas  mãos acima  da  cabeça  e atira  pontas de  unha  nas 
jovens. As unhas prendem as garotas na parede e elas são capturadas). 
Cena 2  (As espiãs aparecem caminhando pela rua.). 
— (2)  Alex:  Mega­Mani Mania, aí vamos nós! Ê! 
Clover: Ah! As minhas unhas tão quase pulando de animação! 
(De  repente,  uma  sombra  começa  a  aparecer  em  frente  às  meninas  e  sombreia­as  até  o  pescoço.  Juntas 
erguem seus rostos e ficam espantadas com o que vêem). 
Três Espiãs: Ã! Demais! 
(A imagem foca um prédio de cima a baixo. O prédio é muito sofisticado, com duas letras “m” grandes e rosa 
pink.  Um  som  estridente  representa o  surgimento  de algo  importante.  Em  seguida,  as  espiãs aparecem em 
frente à vitrine do salão). 
Clover: Lixa de unhas laser, preenchimento de cor eletrônico, uma escovadinha power pra polir. Parece que
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os meus sonhos se tornaram realidade! 
Alex: Eu não acredito! Como tudo isso é futurista! 
(Sam se espanta, olhando a vitrine). 
Sam: Ã? O preço também é bem futurista! 
(Clover defende:) 
Clover: Ah! Fazer parte do mundo das mais altas tecnologias de tratamento de unha, não é barato Sami! 
(Para enfatizar a importância de fazer as unhas, Clover aparece montada em um cavalo, vestida de  cowboi, 
laçando grandes e lindas unhas decoradas). 
Clover: Agora vamos lá! (Clover aponta para a porta) Nosso destino tecnológico nos espera! 
(Clover  corre  para  entrar  e  sua  imagem  se  transforma  apenas  em  feixes  de  luz.  Um  clarão  representa  a 
passagem da rua para dentro do salão. No salão, apenas máquinas e robôs preparam as unhas das clientes. 
De repente, uma jovem aparece pintando suas unhas. A máquina, com cinco pincéis, instantaneamente, faz o 
trabalho. Os olhos das três espiãs, agora, aparecem redondos. As meninas surgem lado a lado, com as mãos 
juntas,  próximas  ao  queixo,  e  bocas  fechadas.  Muitas  estrelas  saem  de  seus  corpos,  sinalizando  o 
encantamento da cena). 
Clover: Acho que eu vou de francesinha na mão (A imagem foca a mão) e vermelho russo no pé (A imagem 
mostra os pés de Clover, mexendo os dedões). 
Alex: Unhas internacionais, adorei! 
(A recepcionista se aproxima). 
Recepcionista: Com licença! Vocês tem hora marcada? 
Alex e Sam: Ah! Hum! 
Recepcionista: Por favor! Digitem seus nomes. 
(De repente, a barriga da recepcionista se abre e surge um teclado e uma tela em holograma). 
Três Espiãs: Ã? (Faíscas brancas aparecem ao redor de suas cabeças) 
Alex: Nossa! Esse lugar é muito automatizado! Até a recepcionista é automática! 
(Clover se aproxima do teclado). 
Clover: Permitam­me! 
(Clover digita o seu nome). 
Recepcionista: Seu horário está marcado para dia trinta de maio. 
Clover: É só daqui seis meses! Não dá pra esperar tudo isso pra tirar a cutícula! 
Recepcionista: Desculpe, mas a Mega­Mani Mania (O teclado é recolhido) está lotado até lá. 
(A recepcionista se retira). 
Sam: (Braços cruzados) Esperai! Esse lugar não inaugurou ontem? 
(Mandy aparece com um bilhete na mão). 
Mandy: Somente para convidados!
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(Sam, Alex e Clover ficam furiosas. Ao lado de Mandy surgem duas garotas populares da escola). 
Mandy: Parece que o trio de lerdas (Mandy e suas amigas fazem a letra L com o indicados e o polegar) não 
estava na lista. De novo! 
(Mandy admira suas unhas da mão esquerda). 
Mandy: Mas, olha só! Ficou impressionante o que eles fizeram: lincent (Uma nuvem surge sobre as espiãs e 
três raios atingem suas cabeças.) e o preenchimento de cores personalizadas combinadas. Não acham? 
(Mandy mostra suas unhas rosa pink, com corações rosa claro e contorno brancos). 
Três Espiãs: Ã! 
(Mandy  e  suas  amigas  riem  das  três  espiãs.  Clover  aparece furiosa.  Tiras  de fumaça saem  de  sua  cabeça. 
Riscos pretos preenchem sua testa e o espaço abaixo de seus olhos. Sua boca, disforme, é preenchida por 
dentes  cerrados.  Clover  rosna,  dá um grito e  se transforma  numa labareda.  Sam aparece  com um  balde de 
água e  joga­o água sobre a amiga. Em seguida, a abraça e leva­a em direção a porta). 
Sam: Quer saber, Mandy? Beverly Hills tá cheio de manicures. Não precisamos desse salão metido! 
Mandy: Sem a unha feita na Mega­Mani Mania, você não pode participar do concurso de modelos da Mega­ 
Mani Mania. Quem ganhar vai ser a supermodelo oficial da Mega­Mani Mania! 
(Clover e Sam aparecem na porta. Uma buzina toca. Ao ouvir Mandy, Clover volta correndo). 
Clover: Você disse, modelo oficial? 
Mandy: (Com mão na cintura) Arã! 
(A  imagem  mostra  Clover  com um  buquê de flores  e um longo vestido lilás,  posando  para fotos em  meio a 
repórteres, câmeras e fotógrafos). 
Mandy:  Mesmo  que  conseguisse  fazer  a  unha,  você  nunca  iria  ganhar  se  eu  tivesse  concorrendo.  (risos) 
Agora, se me dão licença, o polimento com a escova dia power me espera. 
(Mandy e suas amigas riem. Clover fica furiosa). 
Clover:  Já  chega!  Eu  tenho  que  entrar  nesse  concurso  de  modelos  Mega­Mani  Mania,  fazendo  a  mão  na 
Mega­mani Mania ou não! 
Alex: Nossa! Fala sério! Que frase mais cheia de Mega­Mani Mania. 
Sam: Ô Clover! Não acha que ficou obcecada com esse concurso por causa da Mandy? 
Clover: Ah! Dã! Eu vou dar um jeito de arrumar um horário nesse salão cricri. Nem que eu morra! 
(Jerry surge em um helicóptero e suga as espiãs de dentro do salão). 
Cena 3  (No helicóptero da WOOHP). 
— (3)  Jerry: Bom dia, super espiãs! 
(Clover fica furiosa e aponta o indicador no rosto de Jerry). 
Clover: Só se for pra você, né! Acontece que eu estou no meio de uma emergência de unha! 
Jerry: Temo que isso vai ter que esperar, Clover. Temos outra emergência em nossas mãos. 
Alex: Então isso explica o jeito que a gente veio parar aqui.
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Jerry: Nos últimos dois dias Beverly Hills sofreu várias abduções (A imagem de jovens vai aparecendo na tela 
do computador) Esta é Clara Hilks, Jéssica Wolker e outras três adolescentes não identificadas. 
Sam: E elas se conhecem? 
Jerry: Pelo que nós sabemos, não. 
Sam: O que será que todas elas têm em comum? 
Jerry: É por isso que vocês, super espiãs, foram chamadas. 
(G.L.A.D.I.S., o computador de Jerry, interfere). 
G.L.A.D.I.S.: Ataque em execução. 
(O rosto de uma bela jovem aparece na tela do computador). 
G.L.A.D.I.S.: A polícia recebeu outro chamado de um adolescente de Beverly Hills. 
Jerry: Hora de entrar em ação meninas. 
Cena 4  (As espiãs chegam ao lugar, onde a adolescente havia solicitado ajuda). 
— (4)  Alex: Tem certeza que é esse o lugar? É tão tranqüilo. Me dá a impressão de que eu tinha que meditar agora. 
(Espiãs ouvem um grito). 
Clover: Isso não parece um mantra calminho, pra mim. 
Sam: Vamos meninas! Está vindo lá de trás. 
(Com  suas  mochilas  a  jato,  as  espiãs  vão  para  os  fundo  da  casa.  Lá  encontram  a  adolescente  sendo 
carregada por outras duas jovens, vestidas de saia e blusa iguais). 
Adolescente: Tira as mãos de mim! Socorro! 
(Clover e Alex derrubam as duas vilãs). 
Alex: Ã! Olha! Não são a Clara e a Jéssica? As meninas desaparecidas? 
Clover: Vamos olhar mais de perto. 
(Clover joga uma rede sobre as garotas. Instantaneamente, as unhas das vilãs aumentam  de tamanho, elas 
espedaçam a rede e escapam). 
Alex: Vamos atrás delas! 
Sam: Regra número um das piscinas: nunca corra na borda da piscina! 
(Sam arremessa um baguete nas vilãs e uma delas cai na piscina). 
Alex: E agora outra! 
(Alex desce pelo escorregador, liga sua mochila e tenta atacar a vilã. Entretanto, ela movimenta, rapidamente, 
suas longas unhas e arranha Alex e suas roupas. Alex cai sobre uma cerca). 
Alex: Ai! Agora eu sei como se sentem aquelas cercas vivas. 
(As vilãs conseguem capturar a adolescente. Contudo, na luta, deixam para trás uma pista). 
Sam: Mas e ai? O que deu naquelas meninas? 
Alex: Sei lá! Mas minha roupa de espiã nunca mais vai ser igual. 
(Alex abre o seu comunicador. Uma claridade, gradativamente, se espalha por seu uniforme e os arranhões,
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como que num passe de mágicas desaparecem). 
Clover: Nossa! Que aberração! Parece que elas tinham superpoderes na unha ou sei lá! 
(A imagem foca um pedaço de unha brilhando na piscina. Sam pega­o.). 
Sam: E por falas em unhas... Dá uma olha nisso! 
(Alex usa um apetrecho para ampliar a imagem da unha. As jovens ficam espantadas. A unha rosa, apresenta 
no centro o perfeito desenho de uma abelha. Os olhos das espiãs aumentaram de tamanho). 
Alex: Essa é a unha postiça mais bonita que eu já vi na vida! 
Clover: Ah! Eu pensei que conhecesse todos os salões da cidade, mas nunca vi coisa como essa antes! 
Sam: Quem fez isso é bom. Quase bom demais. Vamos pra WOOHP analisar o desenho. 
(As espiãs saem correndo. Clover tropeça, cai e chora. Em seguida, tira uma de suas luvas). 
Clover: Ai! Ótimo! Eu quebrei a unha! 
(Sam  e  Alex,  que  haviam  corrido  para  socorrê­la,  desprezam  o  fato.  A  imagem  foca  a  unha  quebrada  de 
Clover). 
Clover: Agora eu preciso ir no Mega­Mani Mania mais do que nunca! 
Sam: Ã! A gente tá numa supercrise de seqüestros. Não acha que a gente tem que ver as prioridades? 
Clover: Ah! Ficar bonita é uma prioridade! Você sabe! Sempre trabalho melhor com a unha grande. 

Cena 5  (Na WOOHP. Enquanto Sam e Alex pesquisam informações sobre a unha, Clover conversa com G.L.A.D.I.S.). 
— (5)  Clover:  Mas  G.L.A.D.I.S.,  eu preciso de  um  horário!  (Seu  dedo  está  enfaixado)  Como você pode  perceber, 
claramente, minhas lindas unhas de jasmim não estão mais tão lindas! 
G.L.A.D.I.S.:  Pela  última  vez  Clover!  Eu  sou  um  sistema  de  distribuição  de  itens.  Entrar  em  computadores 
para marcar horário na manicure, não é função minha. 
Clover: O que eu posso fazer? Não posso ficar andando com a ponta da unha quebrada! 
(O computador lhe alcança uma lixa). 
Clover: Ah! Eu fazer minha unha? Até parece! 
(Jerry aparece na sala). 
Jerry: Conseguiu alguma coisa? 
(Clover corre para o lado das amigas). 
Sam:  A  unha  que  encontramos  (Na  tela  do  computador  aparece  a  imagem  de  um  manicure  e,  ao  lado, 
informações sobre ele) é um trabalho do dono de um salão de beleza local. Menin Wong. 
Clover: Acho que eu já ouvi falar dele. Ele não ganhou um monte de prêmios de manicure? 
Sam: Três vezes o Prêmio Internacional de Manicure de Hon Kong, a medalha de ouro da UNUIS Pela Paz 
(No computador, a barra de rolagem mostra uma infinidade de premiações) e o glamouroso Unha Dourada por 
Excelência em Design de Unhas. 
Alex: Nossa! Ele é praticamente um embaixador internacional da unha!
60 

Jerry: Eu não fazia nenhuma idéia de que isso existia! 
(Sam coloca a unha numa espécie de scaner, que reproduz o desenho na tela do computador. De repente, o 
computador sinaliza, através de um som constante e de um ponto de exclamação, que há algo de estranho. A 
imagem foca o olho da abelha). 

Cena 6  Sam: Uau! Olha só! A pedra do olho da abelha é um tipo de receptor. 
— (6)  Jerry: Hum. 
Sam: Por que um estilista de unha colocaria um receptor ai? 
Alex: Talvez ele queira saber por onde anda o trabalho dele. 
(Enquanto  Alex fala,  Clover  anda  catatônica,  com  mãos fechadas e  próximas  ao queixo, bochechas  e nariz 
vermelhos, olhos arredondados e pupilas grandes. Clover caminha até a unha e pega­a em suas mãos). 
Clover: Senhor Wong! Se tiver me ouvindo, seu trabalho é o máximo! Você é o mago do esmalte! 
(Jerry tosse, forçadamente). 
Jerry: Por que vocês três não vão pro salão do Menin e vêem o que podem descobrir? 
Sam: Pode deixar Jerry. Museu de Arte em Manicure, aí vamos nós! 
Cena 7  (No salão de manicure). 
— (7)  Alex: Parece que o Menin fechou o negócio, gente! 
Clover:  (Espiando  pela  porta  de  vidro)  Por  que  um  artista,  com  o  talento  dele,  fecharia?  (A  imagem  foca  o 
interior do  prédio:  vasos quebrados,  papéis  jogados,  coisas  atiradas,  cadeiras  quebradas  sofás  estragados) 
Com certeza, tem mercado pro trabalho único que ele faz! 
Sam: Só tem um jeito de descobrir. Vamos ver o que tem aí por dentro desse salão de manicure. E eu falei 
dentro mesmo. 
(Alex corta o vidro, com um apetrecho, retira a maçaneta e abre a porta). 
Clover: Bom trabalho, Alex! Tá ficando boa nessa coisa de quebra e entra. 
Alex: Brigada! Ah! Eu acho. 
(As espiãs entram no salão que, por sua configuração antiga, passa a ser por elas denominado de “museu”. 
Clover pára ao ver um telefone). 
Sam: Você vem? 
Clover: Vô. Espera só um pouquinho. 
(Clover testa o telefone. Ele tem linha. Em seguida, disca para alguém. A recepcionista da Mega­Mani Mania 
atende.). 
Recepcionista:  Mega­Mani Mania, posso ajudar em alguma coisa? 
Clover:  Ah! Oi! Meu nome é (Clover muda de voz) Duquesa de Likfild do Sul. Eu só vou ficar na cidade um 
dia, deveres na embaixada, e eu preciso, urgentemente, fazer a unha. Eu não aceito não como resposta. 
(Nesse instante, a tela se divide ao meio. Metade da cena mostra Clover ao telefone e a outra metade mostra
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uma jovem, morena, fazendo a unha, com a recepcionista ao fundo). 
Recepcionista: Me desculpe pela confusão duquesa, mas a senhora já não está aqui? 
(Os olhos de Clover se transformam em dois octógonos azuis. Sua boca fica aperta, se assemelhando a de 
um boneco ventríloquo). 
Clover: Ah! É claro! Continuem assim. 
(Clover desliga o telefone.). 
Clover: Droga! Eu tentei enganar ela! 
(Sam aparece furiosa). 
Sam: Esquece a unha e concentra, Clover! 
Clover: Desculpa! 
Cena 8  (As espiãs encontram o transmissor que  controla as mentes das jovens, a partir das unhas. De repente, ele 
— (8)  liga e surgem adolescentes. As espiãs se escondem atrás do transmissor. As unhas das meninas piscam). 
Alex: É impressão ou a Dona tá diferente? 
Clover: Ah! Dá um novo significado a ser escrava das unhas. 
Menin:  (Fala  às  adolescentes).  Meninas!  É  tão  bom  vê­las  de  novo!  Imagino que  estejam  pensando  o  que 
estão fazendo aqui. 
Jovens: Aaaah! 
Menin: Para punir as minhas ex­clientes, que trocaram o meu trabalho genial e único, por aquela porcaria pré­ 
fabricada da trama computadorizada da Mega­Mani Mania, vocês vão acabar com a Mega­Mani Mania, unha 
por unha, uma de cada vez. 
(Menin  aperta num  botão  do  transmissor  e  ri.  As  unhas  das  jovens  brilham.  Todas  recebem  informações  e 
instruções pelos receptores, em suas unhas). 
Jovens: Aaaah! 
Clover: Isso é muito injusto! (Clover sai do esconderijo e se aproxima das jovens) Quer dizer que todos vocês 
são clientes da Mega­Mani Mania? 
(Alex e Sam correm para junto de Clover. Alex vai empurrando Clover). 
Alex: Ah! Oi! Tudo bem? 
Sam: Não liga não. A gente já estava de saída. 
(Menin fica furioso). 
Menin: (Rosna) Peguem as intrusas! 
(As  unhas  das  jovens  brilham  e  crescem,  significativamente,  de  tamanho.  Mesmo  lutando,  as  espiãs  são 
capturadas. Alex e Sam conseguem escapar. Clover, porém, tem suas unhas feitas e vira uma das seguidoras 
de Menin).
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Cena 9  (Sam e Alex chegam ao Mega­Mani Mania, para avisar do ataque de Menin e suas seguidoras). 
— (9)  Recepcionista: Com licença! Vocês têm hora marcada? 
Sam: Não viemos fazer a unha! Viemos dar um aviso! 
Alex: Um bando de mulheres, de unha muito comprida, tá vindo acabar com esse lugar, unha por unha! 
Recepcionista: Ai! Ai! Ai! Parece bem ruim. 
(De repente, a imagem foca Mandy, fazendo as unhas). 
Mandy: “Qualé”! Esquece elas! Só tão tentando arranjar uma desculpa furada, porque não conseguem marcar 
horário e querem se vingar de todo mundo, para sua auto­lerdade. 
Recepcionista: Isso é sério? Bom, eu só tenho uma coisa a dizer sobre isso. 
(Alex e Sam são expulsas do salão). 
Cena  (Alex e Sam, na tentativa de retirar as pessoas do salão, resolvem invadi­lo pelo teto). 
10 —  Sam: Todo mundo escuta! Vocês têm que sai da Mega­Mani Mania agora! Senão saírem, vão pagar mais caro 
(10)  do que os preços absurdos! 
(As clientes do salão não dão ouvidos à Sam). 
Alex: Coloca a sandalhinha, anda! Vai gente! Anda! 
(As clientes começam a correr). 
Sam: Por favor! Saiam! 
(Menin e suas seguidoras vêm correndo em direção ao Mega­Mani Mania). 
Menin: Vamos acabar com aquele lugar, meninas! 
(Todos ouvem o grito. Sam tem a idéia de esconder as clientes no armário. Mandy segura a porta, enquanto 
Sam e Alex a empurram). 
Sam: Não se preocupe! Estarão seguras! 
Alex: E não saiam até a gente mandar! 
Mandy: Até parece que vou obedecer essas duas ridículas! 
Sam: Eu sei que a gente já teve problemas com você Mandy, mas, por favor, obedeça só desta vez! 
(Clover, Menin e as outras jovens quebram a vitrine do salão e invadem o Mega­Mani Mania). 
Clover: Ah! Deixa a Mandy ficar! 
Menin: Aqui é mais sem graça do que eu tinha imaginado. 
Clover: Eu quero testar minhas unhas novas! 
Recepcionista: Com licença! Vocês têm hora...(Com suas unhas longas, Clover parte a recepcionista em três 
pedaços) Digite o seu... 
(A recepcionista se despedaça). 
Mandy: Você ficou louca mesmo, Clover! Dessa vez, a sua inveja de mim passou dos limites! 
(Alex e Sam conseguem fechar o armário). 
Menin: Façam as cutículas, meninas!
63 

(As adolescentes correm e começam a destruir as máquinas do salão). 
Alex: Pára! Essas máquinas trazem alegria pra muitas adolescentes como você! 
Cena  (Com a ajuda de Jerry, Alex e Sam conseguem destruir o transmissor). 
11 —  Alex: Olha, depois de tudo isso, eu nunca mais vou menosprezar as manicures! 
(11)  Sam: Parece que o Jerry conseguiu destruir o transmissor. 
(Aos poucos, Clover e as adolescentes vilãs acordam do transe e voltam ao normal). 
Mandy:  Nossa!  O  que  aconteceu?  O  que  que  eu  tô  fazendo  com  vocês  (Mandy  aponta  para  Sam  e  Alex) 
ridículas? Eu não quero saber de ganhar um prêmio toda semana por fazer a unha aqui. (Começa a gritar). Eu 
nunca mais ponho os meus pés nesse salão de quinta categoria! 
(Um  fotógrafo  passa  por  Mandy  e  caminha  em  direção  à  Clover.  Sam e  Alex  estão  ao  lado  de  Clover,  que 
começa a recuperar os sentidos). 
Clover: Ah! Onde eu tô? Ah! Que bom! Na Mega­Mani Mania! 
(Clover olha para suas longas e lindas unhas). 
Clover:  Voalá!  Unhas perfeitas! 
(O fotógrafo tira fotos das mãos de Clover). 
Fotógrafo: Ah! Não precisamos mais procurar! Encontramos a modelo oficial da Mega­Mani Mania. 
(Mandy corre furiosa para o lado de Clover). 
Mandy: O quê? 
Clover: Ah! Sim! Eu ganhei! Eu ganhei! 
(Clover  aparece  saltando  em  meio  a  revistas,  onde  ela  aparece  nas  capas  com  roupas  e  poses  distintas. 
Imediatamente, pega um gloss e um espelho.). 
Clover: Espera! O meu gloss tá brilhando bastante? 
(Clover passa o gloss e pisca várias vezes). 
Fotógrafo: Ã! Eu só vou fotografar da cintura para baixo. 
Mandy e Três Espiãs: Ã? 
Fotógrafo: A modelo oficial da Mega­Mani Mania é um modelo de mão, querida. 
(O fotógrafo tira mais fotos das mãos de Clover e vai embora). 
Mandy: Parabéns por ser a modelo oficial da  Mega­Mani Mania, otária! Pena (risos) que ninguém vai saber 
que é você! 
(Clover  fica  uma  fera.  Suas  mãos  aumentam  de  tamanho  e  se  transformam  em  luvas  de boxe,  que  tentam 
acertar Mandy). 
Sam: A gente já foi atacada por muita unha hoje! 
Alex: Ah! Pode crer, Sami. 
Clover: Ah! Deixa eu pega ela! Deixa eu pega ela! 
(Clover corre para pegar Mandy).
64 

Mandy: Ah! Sai de perto de mim! Você é louca! Você quer ser igual a mim! Esse é o seu problema! Ah! Me 
deixa em paz! Me deixa em paz! 
(O episódio termina com Clover, no meio da rua, correndo atrás de Mandy). 
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