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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL JUNTO À AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA
COORDENAÇÃO DE CONSUMIDOR, PROCESSO PUNITIVO E DÍVIDA ATIVA
SGAN, QUADRA 603 / MÓDULOS "I" E "J" CEP 70830-110, BRASÍLIA/DF BRASIL - TELEFONE (61) 2192-8614 FAX: (61) 2192-8149 E-MAIL:

PROCURADORIAFEDERAL@ANEEL.GOV.BR

PARECER n. 00317/2020/PFANEEL/PGF/AGU

NUP: 48500.003584/2020-12
INTERESSADA: Assessoria da Diretoria
ASSUNTOS: Enquadramento de unidade consumidora do Grupo A no Sistema de Compensação – opção de
faturamento no Grupo B. ​

EMENTA: Micro e minigeração distribuída. Sistema de compensação. Resolução Normativa


nº 482/2012. Condições gerais de fornecimento. Resolução Normativa nº 414/2010.
Consumidores do Grupo A e Grupo B. Características e distinções. Tarifas binômia e
monômia. Art. 100, da Resolução Normativa nº 414/2010. Opção de faturamento pelo
Grupo B. Critério da especialidade.

Pelo Memorando nº 268/2020‐ASD/ANEEL, a assessoria do Diretor Sandoval Feitoza solicita


parecer jurídico desta Procuradoria sobre o recurso administrativo interposto por Pedro de Oliveira
Comércio Atacadista contra o Despacho n. 2.254/2020, da lavra do Superintendente de Regulação dos
Serviços de Distribuição - SRD/ANEEL.

I. - RELATÓRIO

1. Pedro de Oliveira Comércio Atacadista é titular de uma unidade consumidora do Grupo A e


proprietário de um sistema de geração fotovoltaica de 80 kW de potência máxima, com transformador
de acoplamento para minigeração de 112,5 kVA. No final de 2019, o consumidor em questão teve a sua
solicitação de acesso de minigeração distribuída negada pela concessionária de distribuição Equatorial
Maranhão por ter solicitado a opção de faturamento da tarifa do Grupo B.

2. Diante da negativa por parte da distribuidora, o consumidor submeteu então a controvérsia


aos cuidados da Superintendência de Regulação dos Serviços de Distribuição - SRD por meio do Ofício
s/nº, de 5 de março de 2020.

3. Em resposta, a SRD, por meio do Ofício nº 0097/2020-SRD/ANEEL, de 16 de março de 2020,


esclareceu que o entendimento da distribuidora estaria correto uma vez que para participar do sistema
de compensação, a unidade consumidora com minigeração distribuída deve ser classificada no Grupo A
e contratar demanda, nos termos do art. 7º, inciso I da Resolução Normativa nº 482/2012, não sendo
aplicável, portanto, a opção de faturamento prevista no art. 100 da Resolução Normativa nº 414/2010.
Além disso, a SRD também esclareceu que para o enquadramento no Sistema de Compensação de
Energia Elétrica, a unidade consumidora precisaria celebrar Contrato de Uso de Sistema de Distribuição
– CUSD, contratando a demanda correspondente à potência disponibilizada.

4. Na sequência, o consumidor em questão, representado pela San Francisco Solar Consultoria


Jurídica em Energia Fotovoltaica, solicitou à SRD a reconsideração das disposições constantes do
referido Ofício nº 0097/2020- SRD/ANEEL.

5. Pela Nota Técnica nº 0035/2020-SRD/ANEEL, a SRD analisou novamente o pleito e entendeu


que não seria possível o enquadramento da unidade consumidora em tela como minigeração distribuída,
a menos que ocorresse a contratação da demanda correspondente à sua potência disponibilizada. Em
apertado resumo, o entendimento da SRD é que haveria uma incompatibilidade do enquadramento no
Sistema de Compensação de unidades consumidoras com minigeração distribuída e o faturamento no
Grupo B. O titular da SRD acatou o entendimento de sua equipe técnica e exarou o Despacho n.
2254/2020 nos seguintes termos:

DESPACHO Nº 2.254 DE 4 DE AGOSTO DE 2020


O SUPERINTENDENTE SUBSTITUTO DE REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS DE DISTRIBUIÇÃO DA
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA - ANEEL, no uso da atribuição que lhe foi
delegada, por meio da Portaria 4.845/2017, e no que consta do processo
48500.003584/2020-12 resolve: (i) conhecer e negar o requerimento administrativo
interposto por Pedro de Oliveira Comércio Atacadista Eirele; e (ii) determinar que para o
enquadramento no Sistema de Compensação, estabelecido na Resolução Normativa nº
482/2012, a unidade consumidora com minigeração distribuída, objeto do Processo, deve
contratar demanda correspondente a sua potência disponibilizada.

6. Irresignado, o consumidor ingressou com o recurso administrativo em pauta pleiteando a


reforma do Despacho nº 2.254, de 4 de agosto de 2020.

7. No recurso apresentado, o consumidor recorrente sustenta que não haveria impedimento


ao exercício da faculdade prevista pelo art. 100, da Resolução Normativa nº 414/100, pelo titular de um
sistema de geração distribuída, uma vez que a finalidade do art. 7º, inciso I, da Resolução Normativa nº
482/2012 seria de apenas explicitar que a parcela fixa da tarifa de energia – o custo de disponibilidade
ou a demanda de potência – não compõe o sistema de compensação. Além disso, segundo o
recorrente, a Resolução Normativa nº 414/100 possui caráter geral e não pode ser sobreposta por uma
norma especial que é a Resolução Normativa nº 482/2012. O recorrente também sustenta que a SRD,
por meio de ofícios em outros casos concretos semelhantes ao seu, externou posicionamento favorável
para participação no sistema de compensação de unidade com minigeração distribuída e optante por
tarifa do Grupo B.

8. Em grau de juízo de reconsideração, a SRD, pela Nota Técnica nº 0040/2020-SRD/ANEEL,


manteve na íntegra o entendimento consubstanciado no Despacho n° 2.254, de 4 de agosto de 2020 e
remeteu os autos para julgamento da Diretoria da ANEEL.

9. Por fim, antes de levar a matéria a julgamento pelo colegiado, a assessoria do Diretor
Relator solicitou a opinião jurídica desta Procuradoria.

10. É o breve relatório. Passo a analisar.

II. - FUNDAMENTAÇÃO

11. A controvérsia em análise reside em saber se é possível que a distribuidora autorize o


enquadramento de um consumidor com minigeração distribuída no Sistema de Compensação criado
pela Resolução Normativa nº 482/2012 caso esse mesmo consumidor faça a opção, prevista no art. 100
da Resolução Normativa nº 414/2010, de ser faturado por uma tarifa diferente do grupo a qual pertence.

12. Com efeito, segundo a Resolução Normativa nº 414/2010, a tensão de fornecimento é


fixada de acordo com a carga instalada na unidade consumidora. Assim, se a carga for igual ou inferior a
75 kW, o fornecimento é em tensão secundária; se superior, é considerada a tensão de atendimento
primária ( art. 12 da Resolução Normativa nº 414/2010).

13. Além disso, de acordo com a Resolução Normativa nº 414/2010, o enquadramento de um


consumidor nos grupos "A" ou "B" é feito conforme o nível de tensão de fornecimento e a tarifa ser
aplicada.

14. Desta forma, o chamado Grupo A é composto por unidades com fornecimento em tensão
primária (igual ou superior a 2,3 kV) e caracterizado pela tarifa binômia, ou seja, constituída por valores
monetários aplicáveis ao consumo de energia elétrica e à demanda faturável.

15. O Grupo B, por sua vez, diz respeito a unidades atendidas com tensão secundária (inferior a
2,3 kV) e é caracterizado pela tarifa monômia, que possui unicamente a parcela do consumo de energia
elétrica. Esta tarifa monômia, porém, é composta pela conjunção da componente de consumo de
energia elétrica e de demanda de potência que compõem a tarifa binômia. Nesse sentido, confira-se os
seguintes dispositivos da Resolução Normativa nº414/2010:

Art. 2o Para os fins e efeitos desta Resolução, são adotadas as seguintes definições:

XXXVII – grupo A: grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em


tensão igual ou superior a 2,3 kV, ou atendidas a partir de sistema subterrâneo de
distribuição em tensão secundária, caracterizado pela tarifa binômia e subdividido nos
seguintes subgrupos:

XXXVIII – grupo B: grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em


tensão inferior a 2,3 kV, caracterizado pela tarifa monômia e subdividido nos seguintes
subgrupos:

LXXV-A - tarifa binômia de fornecimento: aquela que é constituída por valores monetários
aplicáveis ao consumo de energia elétrica ativa e à demanda faturável;

LXXV-B - tarifa monômia de fornecimento: aquela que é constituída por valor monetário
aplicável unicamente ao consumo de energia elétrica ativa, obtida pela conjunção da
componente de demanda de potência e de consumo de energia elétrica que compõem a
tarifa binômia

16. A despeito desta classificação, verifica-se que o art. 100, da Resolução Normativa nº
414/2010, trouxe a possibilidade de um consumidor ligado em tensão primária (isto é, pertencente ao
Grupo A) optar pelo faturamento com aplicação da tarifa monômia do Grupo B, desde que atendidos
determinados critérios. Confira:

Art. 100. Em unidade consumidora ligada em tensão primária, o consumidor pode


optar por faturamento com aplicação da tarifa do grupo B, correspondente à
respectiva classe, se atendido pelo menos um dos seguintes critérios:

I – a soma das potências nominais dos transformadores for igual ou inferior a


112,5 kVA;
II – a soma das potências nominais dos transformadores for igual ou inferior a 1.125 kVA, se
classificada na subclasse cooperativa de eletrificação rural; (Redação dada pela REN ANEEL
768, de 23.05.2017)

III – a unidade consumidora se localizar em área de veraneio ou turismo cuja atividade seja
a exploração de serviços de hotelaria ou pousada, independentemente da potência nominal
total dos transformadores; ou

IV – quando, em instalações permanentes para a prática de atividades esportivas ou


parques de exposições agropecuárias, a carga instalada dos refletores utilizados na
iluminação dos locais for igual ou superior a 2/3 (dois terços) da carga instalada total.

§ 1º Considera-se área de veraneio ou turismo aquela oficialmente reconhecida como


estância balneária, hidromineral, climática ou turística. (Redação dada pela REN ANEEL
479, de 03.04.2012)

§ 2º A aplicação da tarifa do grupo B ou o retorno ao faturamento com aplicação de tarifa


do grupo A devem ser realizados até o segundo ciclo de faturamento subsequente à
formalização da opção de faturamento. (Incluído pela REN ANEEL 479, de 03.04.2012)

17. De acordo com a SRD, o objetivo pretendido pela regra transcrita acima é permitir que
unidades consumidoras que estejam perto do limiar da carga instalada de 75 kW sejam desobrigadas de
contratar demanda.

18. No caso dos autos, trata-se de uma unidade consumidora do Grupo A que poderia, em
princípio, optar pelo faturamento com aplicação da tarifa monômia do Grupo B uma vez que a potência
nominal do transformador é inferior a 112,5 kVA (critério previsto no art. 100, inciso I, da Resolução
Normativa nº 414/2010, destacado acima). Ocorre, porém, que a unidade consumidora questão
pretende aderir ao sistema de compensação de energia elétrica criado por meio da Resolução
Normativa nº 482, de 17 de abril de 2012, cujo mecanismo ( n e t metering) permite que a energia
excedente gerada por pela micro ou minigeração seja injetada na rede da distribuidora e posteriormente
utilizada para abater o seu consumo.

19. Nos termos da Resolução Normativa nº 482/2012 , centrais geradoras que obedeçam a um
limite de potência instalada (menor ou igual a 75 kW, no caso da microgeração distribuída e superior a
75 kW e menor ou igual a 5 MW, no caso da minigeração distribuída) e que utilizem fontes com base em
energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada, poderão conectar-se na rede de
distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras, injetando na rede o excedente de
energia não consumida, por meio de empréstimo gratuito. Ainda nos termos da norma, a energia cedida
à distribuidora será posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica ativa da mesma
unidade consumidora ou de outra unidade de mesma titularidade daquela onde os créditos foram
gerados.

20. A classificação dos consumidores submetidos à Resolução Normativa nº 482/2012 também


se dá de acordo com a potência da geração instalada: (i) microgeradores são do Grupo B e (ii)
minigeradores do Grupo A.

21. O deslinde da controvérsia em julgamento reside em saber se é possível aplicar a opção


estabelecida pelo art. 100, da Resolução Normativa nº 414/2010 ao consumidor detentor de um
sistema de minigeração distribuída que pretender acessar a sua distribuidora e aderir ao sistema de
compensação, nos termos da Resolução Normativa nº 482/2012.

22. A rigor, a premissa que deve conduzir a presente análise é que os consumidores que optam
pelo sistema de compensação de energia elétrica estão submetidos a um conjunto de regras próprias e
específicas constantes da Resolução Normativa nº 482/2012. Ao instalar, manter e operar o seu ativo,
utilizando a energia por ele gerada, o consumidor atua como um gerador, não um gerador detentor de
concessão, permissão ou mesmo autorização, mas um gerador singular, com características delineadas
pela Resolução nº 482/2012. Na realidade, trata-se de um híbrido de consumidor e gerador, um híbrido
que se tem convencionado denominar de “prossumidor”. Não é por outro motivo que o art. 13-B, da
Resolução Normativa nº 482/2012 prevê que que as disposições da Resolução Normativa nº 414/2010
aplicam-se em caráter complementar, in verbis:

Art. 13-B Aplicam-se às unidades consumidoras participantes do sistema de compensação


de energia, de forma complementar, as disposições da Resolução Normativa nº 414, de
2010. (Incluído pela REN ANEEL 687, de 24.11.2015.)

23. Como se vê, as disposições da Resolução Normativa nº 414/2010 aos consumidores


participantes do sistema compensação não deve se dar de forma indiscriminada e, por certo, não possui
o condão de substituir o regramento consolidado da Resolução Normativa nº 482/2012. A aplicação da
Resolução Normativa nº 414/2010 deve se dar em caráter apenas supletivo, isto é, apenas quando
a Resolução Normativa nº 482/2012 não for completa o suficiente para resolver uma determinada
situação. Um dispositivo que ilustra bem o caráter complementar da Resolução Normativa nº 414/2010
sobre os consumidores integrantes do sistema de compensação é o inciso XIV, do art. 7º, da Resolução
Normativa nº 482/2012, cujo texto detalha quais as informações adicionais devem estar contidas nas
faturas desses consumidores, in verbis:

XIV – adicionalmente às informações definidas na Resolução Normativa nº 414, de 2010, a


fatura dos consumidores que possuem microgeração ou minigeração distribuída deve
conter, a cada ciclo de faturamento:

a) informação da participação da unidade consumidora no sistema de compensação de


energia elétrica; (Incluído pela REN ANEEL 687, de 24.11.2015.)
b) o saldo anterior de créditos em kWh; (Incluído pela REN ANEEL 687, de 24.11.2015.)
c) a energia elétrica ativa consumida, por posto tarifário; (Incluído pela REN ANEEL 687, de
24.11.2015.)
d) a energia elétrica ativa injetada, por posto tarifário; (Incluído pela REN ANEEL 687, de
24.11.2015.)
e) histórico da energia elétrica ativa consumida e da injetada nos últimos 12 ciclos de
faturamento; (Incluído pela REN ANEEL 687, de 24.11.2015.)
f) o total de créditos utilizados no ciclo de faturamento, discriminados por unidade
consumidora; (Incluído pela REN ANEEL 687, de 24.11.2015.)
g) o total de créditos expirados no ciclo de faturamento; (Incluído pela REN ANEEL 687, de
24.11.2015.)
h) o saldo atualizado de créditos; (Incluído pela REN ANEEL 687, de 24.11.2015.)
i) a próxima parcela do saldo atualizado de créditos a expirar e o ciclo de faturamento em
que ocorrerá; (Incluído pela REN ANEEL 687, de 24.11.2015.)

24. Portanto, a ANEEL deve atuar com a devida parcimônia em caso de aparente conflito entre
os dispositivos constantes das duas normas regulatórias.

25. Nesse sentido, é importante ressaltar que quando tratamos de conflitos entre normas
existem basicamente três critérios para solução de conflitos. São eles: os critérios de hierarquia (a
norma superior revoga a norma inferior), cronológico (a norma posterior revoga a norma anterior) e de
especialidade (a norma especial revoga a norma geral). A respeito destes critérios ensina Maria Helena
Diniz:

Critério Hierárquico
O critério hierárquico (lex superior derogat legi inferiori) é baseado na superioridade de
uma fonte de produção jurídica sobre a outra. O princípio lex superior quer dizer que num
conflito entre normas de diferentes níveis, a de nível mais alto, qualquer que seja a ordem
cronológica, terá preferência em relação à de nível mais baixo. Assim, p. ex., a Constituição
prevalece sobre uma lei.

Critério Cronológico
Na lição de Hans Kelsen, se se tratar de normas gerais estabelecidas pelo mesmo órgão em
diferentes ocasiões, a validade da norma editada em último lugar sobreleva á da norma
fixada em primeiro lugar e que a contradiz. (...) O critério lex posterior derogat legi priori
significa que, de duas normas do mesmo nível ou escalão, a última prevalece sobre a
anterior.

Critério da Especialidade
O critério da especialidade (lex specialis derogat legi generali) visa a consideração da
matéria normada, com o recurso aos meios interpretativos. (...) Uma norma é especial se
possuir em sua definição legal todos os elementos típicos da norma geral e mais alguns de
natureza objetiva ou subjetiva, denominados especializantes. A norma especial acresce um
elemento próprio à descrição legal do tipo previsto na norma geral, tendo prevalência sobre
esta, afastando-se assim o bis in idem , pois o comportamento só se enquadrará na norma
especial, embora também esteja previsto na geral ( RJTJSP, 29:303).

26. Na situação em exame, o que se nota é o que art. 7º, inciso I, da Resolução Normativa nº
482/2012, trata especialmente sobre como deve se dar o faturamento da unidade consumidora
integrante do sistema de compensação de energia elétrica. Nessa linha, de acordo com o art. 7º, inciso
I, da Resolução Normativa nº 482/2012, "no faturamento de unidade consumidora integrante do sistema
de compensação de energia elétrica deve ser cobrado, no mínimo, o valor referente ao custo de
disponibilidade para o consumidor do grupo B, ou da demanda contratada para o consumidor do grupo
A, conforme o caso." (grifos meus)

27. Dessa forma, para participar do sistema de compensação, a unidade consumidora com
minigeração distribuída, tal como é o caso em julgamento. deve ser classificada no Grupo A e contratar
a demanda, nos termos do art. 7º, inciso I, da Resolução Normativa nº 482/2012.

28. No caso em julgamento, o que se observa é que o recorrente, apesar de ser um


minigerador, deseja solicitar faturamento no grupo B para usufruir de um benefício atribuído
exclusivamente aos microgeradores que é o de não pagar os custos de fio.

29. Por força do critério da especialidade, a norma especial deve prevalecer sobre a norma
geral em determinado caso concreto, razão pela qual esta Procuradoria entende que o art. 7º, inciso I,
da da Resolução Normativa nº 482/2012 deve prevalecer sobre a regra geral do art. 100, da Resolução
Normativa nº 414/2010.

30. A lógica que permeia o art. 7º, inciso I, da Resolução Normativa nº 482/2012 é evitar o uso
da rede sem o pagamento apropriado. Como minigeradores exigem um porte maior de rede do que os
microgeradores, nada mais justo que os critérios de faturamento para esses dois grupos de
consumidores sejam distintos. Os microgeradores estão conectados em baixa tensão, sujeitos à
tarifação monômia e, ao contrário dos minigeradores, não precisam contratar demanda e têm regras
simplificadas de conexão. Sobre este aspecto, vale a pena transcrever o seguinte trecho da em sua Nota
Técnica nº 0035/2020-SRD/ANEEL:

"busca-se garantir que o pagamento mínimo efetuado pelo consumidor esteja compatível
com o porte da rede necessário a atendê-lo, que é diretamente relacionado com a energia
transacionada (injetada ou consumida da rede). Caso isso não venha a ocorrer, estar-
se-ia criando um subsídio cruzado em prol do minigerador, que, mesmo exigindo
um porte de rede maior, pagaria o mínimo faturável do Grupo B, deixando custos
a serem cobertos pelos demais usuários."

31. Outro ponto que deve ser enfatizado é que a situação de minigeradores (faturados,
portanto, no Grupo A) é distinta dos consumidores do Grupo A que não aderiram ao sistema de
compensação da Resolução Normativa nº 482/2012. Isto porque com os minigeradores não há
consumo, e, portanto, não há de se falar em similaridade de perfil de uso da rede com um consumidor
do Grupo B. Além disso, para o minigerador que apenas injeta energia, a fatura equivale apenas ao
custo de disponibilidade (valor monetário equivalente a 100 kWh), enquanto que os consumidores
comuns que fazem a opção prevista no art. 100 da Resolução Normativa nº 414/2010 têm um alto nível
de consumo, e, portanto, dificilmente sujeitam-se ao faturamento pelo custo de disponibilidade.

32. Ou seja, a possibilidade de opção pelo faturamento em Grupo B, prevista no art. 100, da
Resolução Normativa nº 414/2010, foi aventada considerando a realidade de um consumidor comum de
energia, que efetivamente usa a rede para consumir e ter um valor de fatura compatível com o seu
porte. Por outro lado, a realidade do minigerador é diferente já que não utiliza a rede para consumir
energia e apenas para injetar.

33. Desta forma, acatar a adesão de consumidores faturados pelo Grupo B ao sistema de
compensação seria admitir que minigeradores de grande porte se esquivassem do pagamento do uso do
fio. Foi justamente para evitar este cenário que o art. 7º, da Resolução Normativa nº 482/2012
estabeleceu a necessidade de o minigerador pagar a demanda contratada. Este ponto ficou bem claro
nos seguintes trechos da Nota Técnica n° 0035/2020- SRD/ANEEL:

23. Dessa forma, caso se aceite a adesão ao Sistema de Compensação dos consumidores
abrangidos pelo art. 100 da REN 414/2020, com base no inciso III, grandes hotéis poderiam
optar pelo faturamento em Grupo B e aproveitar-se do Sistema de Compensação para
pagar apenas o equivalente 100 kWh6 por mês de fatura, esquivando-se do devido
pagamento pelo uso do fio. Como consequência, ocorre a alocação dos custos e encargos
que ele provoca na rede para os demais consumidores.

24. Ou seja, os consumidores que não instalaram o Sistema de Compensação seriam


obrigados a pagar quase a totalidade dos custos e encargos que deveriam ser arcados pelo
hotel, por força de uma distorção de instrumentos normativos instituídos em momentos
distintos e com propósitos diferentes. E foi para evitar esse efeito perverso que as regras
(art. 7º da REN 482/2012) estabelecem a necessidade de o minigerador pagar demanda
contratada, evitando que grandes unidades consumidoras dotadas de minigeração
pudessem isentar-se do pagamento pelo uso do fio através da compensação integral de sua
energia em um sistema de faturamento monômio, deixando, custos para os demais
pagarem.

34. Por fim, o recorrente argumenta que a SRD expediu vários ofícios no final de 2019 dirigidos
a diferentes agentes setoriais externando seu posicionamento favorável quanto à possibilidade da
distribuidora acatar o pedido do minigerador de aderir ao sistema de compensação mesmo tendo
optado pelo faturamento do Grupo B com base no art. 100, da Resolução Normativa nº 414/2010.

35. Inicialmente, esta Procuradoria adverte que a finalidade do ofício deve se simplesmente
informar sobre algo relevante, encaminhar documentos importantes, solicitar providências, etc. As
decisões em processo administrativo devem ser tomadas mediantes despachos ou deliberações pela
Diretoria, nos termos do Regimento Interno da ANEEL. Todas as decisões devem constar nos autos de
um processo administrativo para que depois possam ser publicadas nos órgãos oficiais. Tudo em
obediência ao princípio da publicidade e da motivação dos atos administrativos decisórios.

36. Desta forma, justamente por não conterem conteúdo decisório, esta Procuradoria entende
que os ofícios que foram suscitados pelo recorrente trataram de situações concretas e específicas de
outros agentes. Logo, a orientação constante dos referidos ofícios não deve servir como referência ou
orientação de caráter geral sobre o tema que está em julgamento.

37. De todo modo, ao que parece, a própria SRD reconhece que evoluiu o seu entendimento
sobre assunto em pauta, o que é perfeitamente legítimo e até esperado de um regulador.

38. É importante ter em vista que, ainda que a ANEEL tenha adotado no passado outro
entendimento a respeito do tema, isso não significa que esse entendimento não possa ser reformulado,
com vistas a dar um enquadramento que melhor tutele o interesse protegido pela norma.

39. No caso em tela, a incompatibilidade da opção prevista no art. 100, da Resolução Normativa
nº 414/2010, com o comando do art. 7º, da Resolução Normativa nº 482/2012, encontra fundamentos
técnicos e jurídicos também. Portanto, tal fato deve ser entendido como uma evolução da regulação
produzida por esta Agência mediante uma mudança de interpretação que é perfeitamente aplicável ao
caso concreto, uma vez que quando do pedido de conexão, o ora recorrente já sabia que estaria
impedido de ser enquadrado no Sistema de Compensação por força da regulamentação vigente
porque foi corretamente orientado pela distribuidora Equatorial Maranhão e pela SRD nas oportunidades
de análise do caso concreto. Logo, não se trata de aplicar nova interpretação retroativamente, pois a
nova interpretação vai se materializar no caso concreto.

III. - CONCLUSÃO

40. Pelo exposto, esta Procuradoria, em linha com o entendimento manifestado pela
SRD/ANEEL, opina pelo conhecimento e não provimento do recurso administrativo interposto contra o
Despacho n. 2.254/2020. Esta Procuradoria comunga da mesma tese da área técnica no sentido de que
há, de fato, uma incompatibilidade do enquadramento no Sistema de Compensação de unidades
consumidoras com minigeração distribuída e optante pelo faturamento no Grupo B.

41. É o parecer.

À consideração superior.

Brasília, 20 de outubro de 2020.

João Alfredo S. Baetas Gonçalves


Procurador Federal

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mediante o fornecimento do Número Único de Protocolo (NUP) 48500003584202012 e da chave de
acesso c7879468

Documento assinado eletronicamente por JOAO ALFREDO SERRA BAETAS GONCALVES, de acordo com
os normativos legais aplicáveis. A conferência da autenticidade do documento está disponível com o
código 515113058 no endereço eletrônico http://sapiens.agu.gov.br. Informações adicionais: Signatário
(a): JOAO ALFREDO SERRA BAETAS GONCALVES. Data e Hora: 20-10-2020 11:40. Número de Série:
22569892518974645410219482692. Emissor: Autoridade Certificadora do SERPRO Final v5.
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL JUNTO À AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA
GABINETE DO PROCURADOR-GERAL
SGAN, QUADRA 603 / MÓDULOS "I" E "J" CEP 70830-110, BRASÍLIA/DF BRASIL - TELEFONE (61) 2192-8614 FAX: (61) 2192-8149 E-MAIL:

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DESPACHO n. 00669/2020/PFANEEL/PGF/AGU

NUP: 48500.003584/2020-12
INTERESSADOS: SUPERINTENDÊNCIA DE REGULAÇÃO DOS SERVIÇOS DE DISTRIBUIÇÃO - SRD
ASSUNTOS: GERAÇÃO

1. Aprovo a conclusão do PARECER n. 00317/2020/PFANEEL/PGF/AGU.

2. Encaminhe-se à Diretoria.

Brasília, 04 de novembro de 2020.

LUIZ EDUARDO DINIZ ARAUJO


PROCURADOR FEDERAL
PROCURADOR-CHEFE

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