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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Educação e Comunicação

Estudante: Felismina Amade Uaca– 1º Ano, II Semestre

Curso: DC & SS

Docente: Wilson Uaniheque, MA.

Cadeira: Empowerment

Falar sobre a actualidade do empowerment como estratégia para desenvolvimento


comunitário exige, antes de mais, uma reflexão prévia sobre as realidades que se
pretendem relacionar, a intervenção social e o desenvolvimento comunitário.
Reconhece-se que é somente a partir das necessidades identificadas pela população e da
consciência que adquirem de que o desenvolvimento opera transformações profundas
nos indivíduos e colectividades, que o desenvolvimento comunitário assenta a sua
acção, sempre numa lógica de iniciativa, responsabilidade e liberdade de escolha por
parte daqueles que dele irão beneficiar. Por isso que o objectivo do trabalho é analisar
empowerment como uma estratégia de desenvolvimento na comunidade. Por fim,
utilizou-se a pesquisa de natureza qualitativa.

Para Vasconcelos (2004), empowerment significa o aumento do poder e da autonomia


pessoal e colectiva de indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e
institucionais, principalmente daqueles submetidos a relações de opressão,
discriminação e dominação social.

O empowerment enquanto processo dinâmico, intencional e contínuo pressupõe que as


pessoas ganhem controlo sobre as suas vidas, a participação democrática na vida da
comunidade e uma compreensão crítica do seu ambiente (Cavalieri, 2017, p. 12).

Implica, portanto, uma estreita e consciente relação entre os indivíduos e a sua


comunidade, assente em sentimentos de autopercepção, confiança, integração e
compreensão social e política, em que os sujeitos procuram mudanças desejáveis e tal
implica transformar competências em escolhas, implica agir.

Por sua vez, Cavalieri (2017), apresenta um modelo conceptual que defende que o
empowerment compreende três níveis de análise e intervenção:

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Empowerment individual – corresponde ao processo de apropriação do poder por uma
pessoa ou grupo;

Empowerment organizacional - corresponde ao processo de apropriação do poder por


uma organização, dentro da qual uma pessoa, grupo ou outra organização são
empoderadas;

Empowerment comunitário – corresponde à apropriação da comunidade pelo


colectivo.

Face aos níveis de análise de intervenção, é imprescindível para que ocorram


transformações concretas na vida das pessoas. Transformações individuais que
posteriormente são difundidas à comunidade, transformando-a também. A participação
assenta na troca, na partilha, em objectivos comuns, em identificação. O grau de
participação dos intervenientes permite-nos inferir a sua integração social.

Segundo Ander-Egg (1980), uma técnica social de promoção do Homem e de


mobilização de recursos humanos e institucionais mediante a participação activa e
democrática da população, no estudo, planeamento, e execução de programas de
comunidades de base, destinados a melhorar o seu nível de vida .

O Desenvolvimento Comunitário é uma actividade social que tem como objectivo


empoderar indivíduos e grupos pela oferta dos conhecimentos necessários para que
ocorram mudanças em suas próprias comunidades (Caramelo, 2009).

Contudo, não bastam os conhecimentos é necessário o seu empoderamento, através da


participação em todas as actividades inerentes ao seu desenvolvimento e o seu
empoderamento a sua participação em todas as acções é crucial.

É neste sentido que Carmo (2001) define o Desenvolvimento Comunitário como o


esforço colectivo que se faz nas comunidades para melhorar as condições de vida
daqueles que habitam um local (a comunidade e o seu espaço geográfico e cultural)
tomando em linha de conta a especificidade desse local.

Nesta linha ideia, o Desenvolvimento Comunitário é um conjunto dos processos pelos


quais uma população une os seus esforços aos dos poderes públicos com o fim de
melhorar a sua situação económica, cultural e social e bem assim integrar-se na vida da
nação e contribuir para o progresso nacional geral.

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A linguagem de empowerment comunitário nos diz que é fundamental o engajamento
da população na compreensão da problemática que afeita suas condições de vida; desse
modo serão discutidas possíveis soluções, definição de prioridades e estratégias de
acção, desenvolvendo competência para um agir político e para actuar sobre os factores
que incidem na qualidade de sua vida. (Baquero, 2007).

Freire e Shor (2006), afirmam que, o empowerment das comunidades é uma construção
individual quando se refere às variáveis intrafísicas e comportamentais; organizacional
quando se refere à mobilização participativa de recursos e oportunidades em
determinada organização; e comunitário quando a estrutura sociopolítica e das
mudanças sociais estão em pauta.

A noção de “empowerment”, baseada no referencial de Freire, inspira-se numa


perspectiva libertadora, procurando romper com modelos tradicionais centrados no
exercício do poder, presente na integração entre sujeitos e colectivos, ou seja, “o poder
com”. O empowerment nesta perspectiva tem como objectivo contribuir para a
emancipação humana, o desenvolvimento crítico, a superação das estruturas
institucionais ideológicas de opressão. (Freire & Shor, 2006).

Diante do exposto, os sujeitos são seres em situação à medida que interagem com o
meio e podem participar do empoderamento de suas vidas, actuando no cenário do seu
quotidiano.

A partir do local onde as pessoas vivem, na linha do que chamou de “participatory


governance”, Friedmann (1996), afirma que ‫׃‬

O objectivo do processo é reequilibrar a estrutura de poder na sociedade, tornando a


acção do Estado mais sujeita à prestação de contas, aumentando os poderes da
sociedade civil na gestão dos seus próprios assuntos e tornando o negócio empresarial
socialmente mais responsável. Um desenvolvimento alternativo consiste na primazia da
política para proteger os interesses do povo, especialmente dos sectores disempowered
(sic), das mulheres e das gerações futuras, assentes no espaço da vida da localidade,
região e nação (p. 33).

Logo, os fenómenos do empowerment são definidos, essencialmente, por aqueles que o


experienciam num dado momento” identificando, ainda, na sequência da ideia, quatro
fundamentos a ter em conta nesta categoria de empowerment.

A problemática da autonomia dos actores sociais nas tomadas de decisões é um dos


aspectos fundamentais do empowerment. Tal como refere Friedmann (1996), o

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empowerment comunitário é todo o acréscimo de poder que, induzido ou conquistado,
permite com que os indivíduos ou unidades familiares aumentem o seu exercício de
cidadania. O poder social diz respeito ao acesso a certas bases de produção doméstica,
tais como a informação, o conhecimento e técnicas, a participação em organizações
sociais e os recursos financeiros (p. 34).

Na mesma linha de ideias, Oakley & Clayton (2003), consideram que o elemento básico
do empowerment é o poder (“power”), argumentando ainda que o poder é inevitável e
omnipresente em todas as sociedades, muitas vezes manifestado entre aqueles que
detêm o poder de controlo dos recursos económicos e demais meios de produção e
aqueles que não têm (p. 7).

Por conseguinte, falar de empowerment comunitário, é falar sobre daqueles que “têm
poder” ou “não têm poder” para decidir e fazer escolhas sobre as suas vidas;

Com base nas ideias de vários autores apresentadas no corpo do trabalho, concluímos
que, dotar uma comunidade de empowerment significa sobretudo consciencializar a
comunidade de que é possível sair do ciclo vicioso de pobreza, a partir da economia
doméstica para domínios da prática social progressivamente maiores (incluindo a
economia dominada pelo poder empresarial, aos níveis macro e meso) antes de
regressar à microeconomia das comunidades locais onde as unidades domésticas e as
respectivas participações se tornam de novo visíveis.

Por fim, o empowerment comunitário é determinante para as instituições e/ou políticos


que têm poder de decisão e como a delegação de poderes conferidas às pessoas da
comunidade, criam a necessidade de estratégias e de parcerias por parte de quem detém
o poder, com os diversos actores da comunidade.

Referências Bibliográficas

Ander-Egg, E. (1980). Metodologia y pratica del desarollo de la comunidade. (10ª Ed).

Tarragona, UNIEUROP.

Baquero, M; & Baquero, R. (2007). Trazendo o cidadão para a arena pública: Capital

Social e empoderamento na produção de uma democracia social na América


Latina. Santa Cruz do Sul‫ ׃‬REDES.

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Caramelo, J. C. P. (2009). Educação e desenvolvimento comunitário num processo de

transição autogestionário. Porto: Universidade do porto.

Carmo, H. (2001). A actualidade do desenvolvimento comunitário como estratégia de

intervenção social. São Paulo‫ ׃‬Universidade Aberta.

Cavalieri, I, C. (2017). Processos De Empowerment No Contexto Da Intervenção

Social: Um Estudo Comparativo. Coimbra‫ ׃‬Universidade de Coimbra.

Freire, P; & Shor, I. (2006). Medo e Ousadia. O Quotidiano do Professor. (11ª. Ed). Rio

de Janeiro: Paz e Terra.

Friedmann, J. (1996). Empowerment uma política de desenvolvimento alternativo.

Oeiras: Celta.

Oakley, P., Clayton, A. (2003). Monitoramento e Avaliação do Empoderamento. São

Paulo: Instituto Pólis, INTRAC.

Vasconcelos, E. (2004). Educação Popular: de uma Prática Alternativa a uma

Estratégia de Gestão Participativa das Políticas de Saúde. Rio de Janeiro‫ ׃‬RSC.

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