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1 Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/Centro de Ciências da Natureza, Campus Lagoa do Sino. Laboratório de Estudos Zoológicos do Alto
Paranapanema – LEZPA
*Autor correspondente: vasaopedro@gmail.com
10.37885/210906163
RESUMO
Alterações no uso do solo para benefício humano constituem um dos principais processos
causadores de perda e/ou alterações da biodiversidade. Por sua grande dependência
e exigência quanto ao habitat, anfíbios anuros são um dos grupos mais afetados por
estas alterações. Neste trabalho, tivemos o intuito de explorar a distribuição da abun-
dância e os perfis de diversidade e equitabilidade da anurofauna presente no sudoeste
do estado de São Paulo, e inferir sobre os padrões que determinam esta diversidade.
Foram amostrados sete pontos distribuídos em quatro municípios, sendo utilizado o mé-
todo de busca ativa, no período de Outubro/2018 e Fevereiro/2019 e de Agosto/2019 a
Outubro/2019. As análises de diversidade foram feitas a partir do perfil de Renyi e do perfil
de equitabilidade derivado da diversidade. Os perfis apresentaram uma boa alternativa
para avaliação da diversidade, apresentando resultados mais ordenáveis em comparação
com a utilização de índices separados. As curvas geradas para o perfil de diversidade
mostraram que em todos os locais a abundância teve grande influência no resultado, o
que foi comprovado pelos baixos valores encontrados no perfil de equitabilidade. Também
foi observado que a riqueza aumentou na presença de cobertura florestal, podendo estar
vinculado a heterogeneidade ambiental e ocorrência de distúrbios intermediários, porém
metodologias específicas e estatísticas mais refinadas precisam ser empregadas para
confirmação. A região apresenta uma alta diversidade e ainda há muito a ser descoberto
sobre o comportamento e alterações da biodiversidade e do que é oferecido por ela em
paisagens antropizadas.
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INTRODUÇÃO
Cada vez mais são conhecidos os efeitos e impactos causados pela intensificação e
alterações no uso do solo gerados pelo setor rural de larga escala (ZHANG et al., 2007;
LAURANCE; SAYER; CASSMAN, 2014; CLARK; TILMAN, 2017). Tais efeitos alteram de
diversas formas as características naturais da paisagem e fatores abióticos tendo, como
consequência, a perda ou a alteração da biodiversidade local e dos serviços providos por
ela (HOOPER et al., 2005; LAURANCE; SAYER; CASSMAN, 2014; NEWBOLD et al., 2015;
GASCON et al., 2015).
Dentre os vários grupos que compõem as entidades biológicas destas áreas desta-
cam-se os anfíbios. Por apresentarem características biológicas singulares, como ciclo de
vida bifásico e modos reprodutivos variados (ROSSA-FERES et al. 2018, HADDAD et al.
2013), os anfíbios possuem alta suscetibilidade a alterações do ambiente e constituem bons
modelos em estudos de monitoramento ambiental (MACHADO et al., 1999; MOREIRA et al.,
2012; PRESTES; VINCENCI, 2019).
Por outro lado, este grupo possui uma grande ausência de informações, principalmen-
te taxonômicas, e quanto a sua distribuição geográfica e resposta a distúrbios antrópicos
(STUART et al., 2004; VERDADE et al., 2012; ROSSA-FERES et al., 2017). Essas lacunas
dificultam a elaboração de estratégias para a conservação, causando também a incompreensão
dos processos e funções executadas, alteradas ou perdidas conforme as comunidades são
pressionadas pelas atividades do entorno, assim como quais processos controlam a ocor-
rência e abundância deste grupo e os padrões da dinâmica dessas espécies com o ambiente
(ROSSA-FERES et al., 2011; HOCKING; BABBITT, 2014; ROSSA-FERES et al., 2017).
Os efeitos dessas alterações dentro da diversidade existente podem ser observados
através de medidas de riqueza, abundância e equitabilidade através de índices de diversida-
de. Cada um desses índices descreve de forma diferente o que existe em um determinado
local e os efeitos dos impactos sobre a diversidade da comunidade estudada (MELO, 2008).
Dada a discussão sobre qual índice seria mais indicado, o uso de perfis de diversidade é
abordado na forma de alternativa a essa questão, além de apresentar de forma mais orde-
nável dados de diferentes locais (KINDT et al., 2001; KINDT; VAN DAMME; SIMONS, 2006).
Dessa forma, o uso de perfis podem trazer novas observações quanto à dinâmica das partes
que compõem a diversidade de ambientes modificados pela ação humana.
Esses parâmetros de diversidade podem auxiliar no monitoramento ambiental, assim
como no desenvolvimento de medidas para a conservação de áreas antropizadas. O sudoeste
do estado de São Paulo é um cenário amplo para estudos de conservação, demonstrando
alto potencial para pesquisas de composição e distribuição de espécies, uma vez que tem
passado por um processo de intensificação do uso do solo e é uma das principais lacunas
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de conhecimento sobre os anfíbios do estado (ROSSA-FERES et al., 2011; ARAUJO;
MATSUKUMA; ALMEIDA-SANTOS, 2013). A partir disso este trabalho teve o intuito de
explorar a distribuição da abundância e os perfis de diversidade e equitabilidade da anuro-
fauna presente na região do sudoeste paulista, e inferir sobre os padrões que determinam
esta diversidade.
MÉTODOS
Área de estudo
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Figura 1. Mapa da área de estudo, sendo destacados em amarelo os municípios que a compõem e seus limites e com
os pontos vermelhos os locais em que foram realizadas as coletas. 1) Angatuba 2) Campina do Monte Alegre 3) Buri 4)
Capão Bonito.
Tabela 1. Locais que foram amostrados durante o estudo, com suas respectivas siglas, localização e breve descrição do
ambiente que foi encontrado em cada um.
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Local Localização Descrição
Composto por um único lago com uma grande área alagável. A margem é
Floresta Nacional de 23°54.949’S composta por vegetações arbustivas e gramíneas enquanto o entorno é
Capão Bonito (FlCb 48°30.224’O formado por formações florestais naturais e talhões de Pinus sp. e Araucária
abandonados.
Coleta de dados
A amostragem dos anuros foi feita através de busca ativa, realizada entre Outubro/2018
e Fevereiro/2019 e de Agosto/2019 a Outubro/2019, com quatro observadores, com duração
de quatro horas, nos períodos diurno e noturno, totalizando 72 horas de esforço amostral por
observador, cada local foi amostrado de duas a quatro vezes. Em conjunto com as buscas
visuais foram gravadas as vocalizações presentes no ponto de coleta, utilizadas para facilitar
o processo de identificação, principalmente quando a captura do espécime não foi possível.
Durante as observações, foram coletados dados de abundância das espécies encontradas
em atividade reprodutiva e durante o percurso (HEYER et al., 1990; SERAFIM et al., 2008;
SÃO-PEDRO; FEIO, 2011).
Os espécimes testemunhos coletados para identificação em laboratório foram foto-
grafados e armazenados em sacos plásticos para serem levados ao laboratório onde foram
eutanasiados com aplicação de pomada anestésica (Lidocaína 50 mg/g). Posteriormente,
foram fixados com solução de formalina 10% e então preservados em álcool 70%. Todos
os animais coletados foram depositados Coleção Herpetológica Lagoa do Sino, do campus
Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos, Buri. As coletas foram feitas sob as
permissões do Comitê de Ética no Uso de Animais da Universidade Federal de São Carlos,
nº 2211040618, e do Sisbio, nº 58132-1.
A identificação das espécies foi feita através dos registros das vocalizações e ca-
racterísticas morfológicas, comparadas aos dados presentes na literatura especializada
(e.g. HADDAD et al. 2013, HEYER et al. 1990, RIBEIRO; EGITO; HADDAD, 2005). A no-
menclatura e classificação das espécies neste trabalho baseia-se na lista apresentada por
Segalla et al. (2019).
RESULTADOS
Riqueza e abundância
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Figura 2. Distribuição da abundância observada dentre as espécies encontradas em todos os locais amostrados.
Dentre todos os ambientes, o que mais se diferenciou com relação a espécie mais
abundante foi a Floresta Nacional de Capão Bonito, onde foi presenciado um estouro repro-
dutivo da espécie B. faber, alcançando um total de 115 indivíduos observados, e a mata do
Guareí Velho, na qual a maior parte dos indivíduos registrados eram da espécie D. nanus,
localizados na borda entre um fragmento e uma pastagem.
Figura 3. Perfil de diversidade de Renyi para os locais amostrados, destaca-se que de todos os perfis apenas dois não
apresentaram intersecções. RaNN: Rancho do Nilson, FaLS2: Fazenda Lagoa do Sino ponto 2, FlCB: Floresta Nacional de
Capão Bonito, FaMi: Fazenda Minerva, FaLS1: Fazenda Lagoa do Sino ponto 1, ClCa: Clube de campo Capuava, MaGV:
Mata do Guareí Velho.
Figura 4. Perfil de equitabilidade derivado da diversidade exibida na Figura 3. RaNN: Rancho do Nilson, FaLS2: Fazenda
Lagoa do Sino ponto 2, FlCB: Floresta Nacional de Capão Bonito, FaMi: Fazenda Minerva, FaLS1: Fazenda Lagoa do Sino
ponto 1, ClCa: Clube de campo Campuva, MaGV: Mata do Guareí Velho.
Quanto ao perfil de equitabilidade, os locais FaMi e FlCb não foram intersectados por
nenhum outro perfil e se encontram como primeiro e segundo locais com menor equitabilda-
de deste estudo. Logo após temos um grupo intermediário, formado pelas intersecções dos
locais FaLS2, RaNN e FaLS1, e o grupo de maior equitabilidade formado pela intersecção
dos locais MaGV e ClCa.
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Tabela 2. Valores dos pontos 0, 1, 2 e ∞, referentes a riqueza e os índices de diversidade de Shannon-Wielner, Simpson
e Berger-Parker do perfil de diversidade.
DISCUSSÃO
Os perfis são construídos a partir da combinação das características dos diferentes perfis
que a compõem. A abundância, riqueza e raridade dos locais amostrados, principalmente
abundância e raridade como foi visto com FlCb, se mostraram mais efetivos na formação
dos perfis, justificando a ordenação de RaNN e FaLS2 como mais diversos, assim como as
características dos demais perfis.
Scinax fuscomarginatus foi a espécie dominante deste estudo, influenciando a equi-
tabilidade de espécies (Figura 2),. Esta dominância é resultado da vasta disponibilidade de
habitat composto por áreas abertas contendo apenas vegetações arbustivas e rasteiras, tanto
na margem quanto dentro do corpo d’água, condizentes com seu hábitos de vida (TOLEDO;
HADDAD, 2005a, 2005b). A perda de habitat nativo, em conjunto com outras intervenções
antrópicas, são as maiores causas de perda de riqueza de anfíbios anuros (SILVANO;
SEGALLA, 2005; ROSSA-FERES et al., 2011, 2017) e que locais com uma disponibilidade
de habitats mais simplificados possuem menor capacidade de suporte, mantendo grandes
abundâncias de poucas espécies geralmente generalistas (CARDOSO; ANDRADE, 1989;
VASCONCELOS; ROSSA-FERES, 2005; CUNHA et al., 2010). Em nossa área de estudo,
essas alterações levam a uma explosão de S. fuscomarginatus influenciando os perfis de
diversidade e equitabilidade.
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Collins e Fahrig (2017) mostram que, em paisagens agrícolas, tanto a riqueza quanto a
abundância de anuros aumentam quando existe cobertura florestal, sendo que as florestas
em si são fortes preditores da diversidade de anuros. Florestas também apresentam o maior
número de espécies exclusivas (CUNHA et al., 2010; FIORILLO et al., 2018; FIGUEIREDO
et al., 2019) e Becker et al. (2007) mostra que a presença de fragmentos florestais também
é importante para espécies de áreas abertas, pois dentro destes fragmentos podem encon-
trar ambientes para refúgio, forrageio, hibernação e dispersão. Isso explica a ocorrência
de mais espécies nos pontos FlCb e RaNN e possivelmente o alto nível de equitabilidade
dos locais MaGV e ClCa, assim como a composição de espécies destes locais. Já o ponto
FaLS2, apresenta uma riqueza característica de ambiente abertos, porém pode se encaixar
também neste caso devido a presença de pequenos fragmentos que podem ser usados
como refúgios descritos acima.
Apesar disso, os pontos FaLS2 e RaNN, sendo os dois pontos inseridos em áreas an-
tropizadas, tiveram a maior riqueza e os dois perfis mais diversos deste estudo, enquanto
o ponto FlCb, composto por matriz florestal, não pode ter seu perfil ordenado e o segundo
menor perfil de equitabilidade. Dessa forma, tem-se que o conjunto de características locais
são os principais responsáveis pela diversidade de espécies.
Dos locais amostrados, estes foram os que mostraram maior heterogeneidade, apre-
sentando diferentes sítios reprodutivos, usos do solo, variedade e quantidade de vegetação
em sua margem. São Pedro e Feio (2011) discutem duas possíveis explicações para a
maior riqueza encontrada em um ambiente com características intermediárias de vege-
tação florestal e uso humano, sendo elas a heterogeneidade ambiental e a hipótese do
Distúrbio Intermediário. Sabe-se que a composição de espécies de anuros é positivamente
correlacionada a heterogeneidades ambiental e suas variáveis, disponibilizando uma maior
variedade de habitats dando suporte para uma maior diversidade de espécies (CONTE;
ROSSA-FERES, 2007; VASCONCELOS et al., 2009; SILVA; MARTINS; ROSSA-FERES,
2011; SOUZA; MARTINS; RAIZER, 2014; FIGUEIREDO et al., 2019), assim como a hipó-
tese do Distúrbio Intermediário, na qual uma perturbação moderada resultaria em espécies
com diferentes exigências e características compartilhando o mesmo local, aumentando a
diversidade geral de espécies (CONNELL, 1978; CONTE; ROSSA-FERES, 2006; SOUZA;
SOUZA; MORATO, 2008)
Para os pontos FaLS2 e RaNN é proposto que, assim como apresentado por São
Pedro e Feio (2011), a hipótese do Distúrbio Intermediário explique uma parte do padrão
observado, devido a constante atividade humana no entorno. Contudo a outra parte da di-
versidade encontrada pode ser considerada resultado da heterogeneidade ambiental, uma
vez que a criação de novos ambientes aumentam a oferta de habitats, suportando assim
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uma maior riqueza de espécies de ambos os ambientes. Dessa forma a ação conjunta das
duas hipóteses se torna a explicação que mais encaixa nos resultados observados. Porém
uma metodologia específica e estatísticas mais refinadas devem ser empregadas para testar
o real efeito destas variáveis sobre a comunidade.
CONCLUSÃO
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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