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Universidade do Estado do Pará


Centro de Ciências Sociais e Educação
Departamento de Matemática, Estatística e Informática
Curso de Licenciatura Plena em Matemática

Degram Pereira Lopes


Nelma Gonçalves da Assunção

A Utilização das Razões Seno e Cosseno Como


Ferramentas Essenciais Para a Resolução de
Problemas da Física Básica

Moju – PA
2010
1

Degram Pereira Lopes


Nelma Gonçalves da Assunção

A Utilização das Razões Seno e Cosseno Como


Ferramentas Essenciais Para a Resolução de
Problemas da Física Básica

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para a obtenção do grau de
Licenciatura Plena em Matemática, Universidade do
Estado do Pará.
Orientador: Rafael Silva Patrício.

Moju - PA
2010
2

Dados Internacionais de catalogação-na-publicação (CIP)


Biblioteca da Universidade do Estado do Pará, Moju – PA

Lopes, Degram Pereira


A utilização das razões seno e cosseno como ferramentas essenciais para a resolução de
problemas da física básica / Degram Pereira Lopes, Nelma Gonçalves da Assunção;
Orientador Rafael Silva Patrício. – 2010.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado do Pará, Centro


de Ciências Sociais e Educação, Curso de Licenciatura Plena em Matemática, Moju, 2010.

1. Matemática. 2. Trigonometria. I. Assunção, Nelma Gonçalves. II. Título.

CDD 21.ed. 516.24


3

Degram Pereira Lopes


Nelma Gonçalves da Assunção

A Utilização das Razões Seno e Cosseno Como


Ferramentas Essenciais Para a Resolução de
Problemas da Física Básica

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para a obtenção do grau de
Licenciatura Plena em Matemática, Universidade do
Estado do Pará.
Orientador: Rafael Silva Patrício.

Data da aprovação: 09 / 02 / 2010

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ Orientador

Prof. Rafael Silva Patrício


Universidade do Estado do Pará – UEPA

______________________________________ Membro

Prof. Esp. Everaldo Raiol da Silva


Universidade do Estado do Pará – UEPA

______________________________________ Membro

Prof. Admilson Alcântara


Universidade do Estado do Pará – UEPA
4

Dedico aos meus familiares, a Izanilde


Valente Rodrigues (in memore), ao
Francisco Gomes Rodrigues (in memore), a
Izaura Valente e família; enfim, a todos que
estiveram ao meu lado, compartilhando dos
meus momentos e me ajudando de alguma
forma nesses anos de bastante
aprendizado.

Degram Lopes

À minha família, especialmente a ti, papai,


Benedito (in memore) perpetuo neste
trabalho o meu eterno amor.
Aos meus amigos, com carinho, pelo apoio
e incentivo.

Nelma Assunção
5

AGRADECIMENTOS

Agradeço Deus, por me fortalecer nos momentos difíceis; e a todos que


me ajudaram, especialmente a Silvana Vieira (pela compreensão), Mércia Sampaio
(pelo incentivo), Regina Pereira (por todo auxílio), Norma Adamante (pela ajuda
amiga), Rafael Patrício (por sua dedicação e esforço), Wagner Ormanes (pelo apoio
amigo), Francisco Gomes Rodrigues (In memore), Izanilde Valente Rodrigues (In
memore), Izaura Valente e toda a sua família (pela amizade e por tudo que fizeram
por mim nesses anos).
Degram Lopes

Ao soberano e altíssimo Deus, Jeová, por me proporcionar tantas


bênçãos.
Aos meus pais Benedito Assunção (in memore) e Maria Gonçalves, por
serem meus grandes amigos e estarem sempre ao meu lado.
A minha avó, Luiza Pinheiro, por sempre se importar com o meu bem-
estar.
Aos meus irmãos, Salatiel Assunção e Leonice Assunção, pelo
encorajamento.
Ao meu cunhado, Evaldo Furtado, por ser um grande amigo e ter me
dado apoio quando eu precisei.
A toda turma de matemática 2006 da Universidade do Estado do Pará do
campus de Moju, especialmente Degram Lopes, Cristiane Sousa, Ivanildo Praxedes,
Angenoura Saraiva, Lindalva Castro e Ana Paula, por terem me recebido
maravilhosamente bem em sua turma e, por terem contribuído tanto para a minha
aprendizagem.
A Luciene Costa, por ser uma grande companheira.
A Sra. Nazaré Estumano e Maria Saraiva, pela confiabilidade e
credibilidade
Ao orientador, professor Rafael Patrício, por sua dedicação.
A toda Equipe da Vigilância Sanitária de Moju, especialmente, ao
coordenador da mesma, Antônio de Pádua, pela compreensão.
Nelma Assunção
6

Não há ramo da Matemática,


por mais abstrato que seja,
que não possa um dia vir a
ser aplicado aos fenômenos
do mundo real.

Nicolai Lobachevsky
7

RESUMO

Lopes, Degram Pereira e Assunção, Nelma Gonçalves da. A Utilização das Razões
Seno e Cosseno Como Ferramentas Essenciais Para a Resolução de
Problemas da Física Básica. 2010. 92 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso
de Licenciatura Plena em Matemática) – Universidade do Estado do Pará, Moju-PA
2010.

O presente trabalho tem como principal objetivo destacar a importância da Utilização


das Razões Seno e Cosseno Como Ferramentas Essenciais Para a Resolução de
Problemas da Física Básica a nível médio. Inicialmente, apresenta um breve
histórico - de maneira geral - da trigonometria, evidenciando que, desde o seu
surgimento, é uma ferramenta importante capaz de facilitar a resolução de
problemas; e contribui, assim, para o desenvolvimento de outras ciências. Na
sequência, apresenta-se parte essencial da Trigonometria Moderna, com suas
razões e fórmulas; e, nas duas partes finais do trabalho, têm-se as aplicações de
seno e cosseno na resolução de problemas da Física, mostrando o valor dessas
razões para o desenvolvimento dessa ciência tão valorosa no Mundo Moderno. Para
a realização desse trabalho, foi utilizada a metodologia de pesquisa bibliográfica,
que nos desse embasamento suficiente para a sua elaboração. Ademais, esta
pesquisa mostrou que, sendo importantes para a resolução de problemas da Física
Básica, tanto o seno como cosseno, tem parcela de contribuição nos avanços
tecnológicos.

Palavras – chave: Seno. Cosseno. Utilização na Física Básica.


8

ABSTRACT

Lopes, Degram Pereira e Assunção, Nelma Gonçalves da. A Utilização das Razões
Seno e Cosseno Como Ferramentas Essenciais Para a Resolução de
Problemas da Física Básica. 2010. 92 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Curso
de Licenciatura Plena em Matemática) – Universidade do Estado do Pará, Moju-PA
2010.

This work has as main objective to highlight the importance of the Use of Reasons
Sine and Cosine as essential tools for the Settlement of Problems of Basic Physics at
school. Beginning with a brief history - in general - of trigonometry, showing that,
since its inception, is an important tool capable of facilitating the resolution of
problems, and thus contributes to the development of other sciences. As a result,
has become an essential part of modern trigonometry, with their reasons and
formulas, and within two final pieces of work have been the applications of sine and
cosine to solve problems in physics, showing the value of these reasons for the
development of this science so valuable in the Modern World. To carry out this work,
we used the methodology of literature review, give us sufficient foundation for its
preparation. Furthermore, this research showed that are important for solving
problems of Basic Physics, both the sine and cosine, contributes significantly to the
technological advances.

Key-works: Sine. Cosine. Use in Basic Physics.


9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Relógio de sol e cotangente ..................................................................... 16

Figura 2 – Relógio de sol e tangente......................................................................... 17

Figura 3 – Corda de um arco ..................................................................................... 21

Figura 4 – Quadrilátero inscrito ................................................................................. 23

Figura 5 – Percurso do coelho na escada ................................................................. 27

Figura 6 – Seno e cosseno no triângulo retângulo .................................................... 28

Figura 7 – Cálculo de seno e cosseno no triângulo equilátero .................................. 29

Figura 8 – Cálculo de seno e cosseno em um quadrado .......................................... 30

Figura 9 - Representação do ciclo trigonométrico ..................................................... 32

Figura 10 – Cálculo de seno e cosseno no ciclo trigonométrico ................................ 32

Figura 11 – Triângulo retângulo e relação fundamental ............................................ 33

Figura 12 – Seno e cosseno de ângulos complementares no triângulo retângulo .... 33

Figura 13 – Seno e cosseno de arcos suplementares .............................................. 34

Figura 14 – Demonstração da lei dos senos num triângulo escaleno ....................... 35

Figura 15 – Demonstração da lei dos cossenos num triângulo escaleno .................. 36

Figura 16 – Representação de uma grandeza vetorial .............................................. 40

Figura 17 – Adição de vetores................................................................................... 40

Figura 18 – Soma de vetores .................................................................................... 41

Figura 19 – Movimentos contrários ........................................................................... 43

Figura 20 – Representação da travessia de um rio ................................................... 43

Figura 21 – Representação da margem e dos vetores envolvidos no movimento .... 44

Figura 22 – Travessia de um rio, margem e vetores ................................................. 45

Figura 23 – Representação do movimento oblíquo ................................................... 46

Figura 24 – Representação da decomposição de forças .......................................... 50

Figura 25 – Movimento de um bloco num plano inclinado......................................... 51


10

Figura 26 – Movimento de um corpo ......................................................................... 53

Figura 27 - Decomposição da força .......................................................................... 53

Figura 28 – Representação da refração .................................................................... 55

Figura 29 – Incidência normal ................................................................................... 56

Figura 30 - Demonstração da lei de Snell - Descartes .............................................. 56

Figura 31 – Diferença entre os ângulos..................................................................... 59

Figura 32 – O ângulo limite ....................................................................................... 60

Figura 33 – Reflexão total ......................................................................................... 61

Figura 34 – Onda transportando energia................................................................... 62

Figura 35 – Onda periódica ....................................................................................... 62

Figura 36 – Representação do comprimento de uma onda em diferentes meios ..... 63

Figura 37 – Representação de um campo elétrico resultante ................................... 66

Figura 38 – Disposição dos vetores .......................................................................... 68

Figura 39 – Representação dos sentidos da velocidade de uma carga .................... 69

Figura 40 – Força em um fio retilíneo ........................................................................ 70

Figura 41 – Fluxo magnético ..................................................................................... 71

Figura 42 – Representação das velocidades ............................................................ 74

Figura 43 – Fenômeno refração ................................................................................ 80

Figura 44 – Representação do campo elétrico resultante ......................................... 84

Figura 45 - Campo elétrico resultante ....................................................................... 85

Figura 46 – Campo elétrico de duas cargas .............................................................. 86


11

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................ 13
Capítulo 1

1- A origem e a Evolução Histórica da Trigonometria .......................... 15

Capítulo 2

2 – Trigonometria: uma área importante da Matemática ...................... 27

2.1 – O triângulo retângulo e as razões Seno e Cosseno de um ângulo agudo ....... 27

2.2 - Ângulos notáveis ............................................................................................... 29

2.3 – Seno e Cosseno na circunferência trigonométrica ........................................... 31

2.4 – Relação fundamental da trigonometria ............................................................. 33

2.5 – Seno e Cosseno de ângulos complementares ................................................. 33

2.6 – Seno e Cosseno de ângulos suplementares .................................................... 34

2.7 – Lei dos Senos................................................................................................... 34

2.8 – Lei dos Cossenos ............................................................................................. 35

Capítulo 3

3 – O uso das Principais Razões Trigonométricas na Física ............... 39

3.1 – O que é Física? ................................................................................................ 39

3.2 – A Relação da Física com a Matemática ........................................................... 41

3.3 - Mecânica ........................................................................................................... 41

3.3.1 – Cinemática: o uso de seno e cosseno ........................................................... 42

3.3.2 – Dinâmica: a utilização do seno e do cosseno ................................................ 49

3.4 – Aplicação do Seno na Óptica ........................................................................... 54

3.5 – Ondulatória: o uso do seno .............................................................................. 61

3.6 – Seno e Cosseno no Eletromagnetismo ............................................................ 64

3.6.1 – Campo elétrico de duas cargas ..................................................................... 64


12

3.6.2 – Força Magnética ............................................................................................ 67

3.6.3 – Fluxo Magnético ............................................................................................ 70

Capítulo 4

4 – Questões Resolvidas .................................................................................. 73

4.1 - Mecânica .......................................................................................................... 73

4.2 - Óptica ................................................................................................................ 78

4.3 - Ondulatória........................................................................................................ 82

4.4 - Eletromagnetismo ............................................................................................. 84

Considerações Finais ....................................................................................... 90


REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92
13

INTRODUÇÃO

As funções Seno e Cosseno (utilizadas neste trabalho apenas como


razões), por fazerem parte da geometria, pois são partes da Trigonometria
(considerada parte da geometria), muitas vezes são aplicadas apenas no cálculo da
medida desconhecida do lado de um triângulo qualquer; e isso ofusca o valor dessas
razões como ferramentas solucionadoras de problemas. Assim, no presente
trabalho, pretendemos mostrar (principalmente) a importância das razões
trigonométricas - Seno e Cosseno - para a Física Básica, parte de uma ciência de
grande destaque atualmente, a Física. Dessa forma, se comprovará o quanto essas
ferramentas matemáticas são valorosas para a atualidade.

No primeiro capítulo apresentamos um breve histórico da Trigonometria


de maneira geral, onde se destaca sua contribuição para o desenvolvimento da
Astronomia (a recíproca também é verdadeira), evidenciando seu valor como
ferramenta útil para alguns importantes povos da antiguidade, que tinham algo em
comum: a dedicação à Astronomia.

E, dentre esses povos que se dedicavam à Astronomia, ajudando a


desenvolvê-la com o auxílio da Trigonometria, os gregos tem papel de destaque.
Assim, no decorrer do primeiro capítulo, importantes nomes da Astronomia e
Trigonometria gregas serão lembrados; e suas respectivas contribuições, relatadas.

Além de destacar a importância da Trigonometria para o desenvolvimento


da Astronomia e vice-versa, o primeiro capítulo nos faz conhecer a utilização da
Trigonometria nas construções das pirâmides do Antigo Egito; como também sua
importante aplicação no relógio de sol, possibilitando a determinação das horas, dias
e estações do ano.

O segundo capítulo apresenta as razões Seno e Cosseno (partes


importantes da Trigonometria utilizadas no terceiro capítulo), bem como as relações
entre ambas. Assim, mostra a construção dos conceitos dessas razões no triângulo
retângulo, demonstra suas leis e a relação fundamental da trigonometria. Há ainda
cálculos de senos e cossenos de alguns ângulos, estudos dos ângulos
complementares e suplementares.
14

No terceiro capítulo, o mais importante, são destacadas as necessidades


que a Física Básica tem de utilizar Seno e Cosseno como ferramentas
solucionadoras de problemas. Para tanto, está dividido em quatro partes principais:
Mecânica, Óptica, Ondulatória e Eletromagnetismo.

Na parte dedicada à Mecânica, começa-se a mostrar a importância das


razões seno e cosseno ao utilizá-las nas situações envolvendo grandezas vetoriais
com diferentes direções, comuns no dia-dia. Além disso, os estudos relativos ao
movimento obliquo, à força em um plano inclinado, ao trabalho e à potência de uma
força, são destacados devido a utilização de seno e cosseno em seus cálculos.

Com relação à Óptica, apenas o fenômeno Refração (importante para os


instrumentos ópticos) é analisado, pois se caracteriza pela mudança de direção dos
raios luminosos ao mudarem de um meio material para outro. E, esta alteração de
direção pode ser calculada somente utilizando-se a lei de Snell-Descartes, que
contém o seno de um ângulo determinado; e isso mostra o valor do seno para o
estudo da Refração.

Assim como a Óptica, a Ondulatória também estuda o fenômeno


Refração. Dessa forma, a utilização da lei de Snell-Descartes no cálculo da variação
de direção das ondas – mostrada no terceiro capítulo – tem importância significativa.

Na parte relativa ao Eletromagnetismo - uma das quatro mais importantes


do terceiro capítulo – mostra-se, além da importante aplicação da lei dos cossenos
nos cálculos de campos elétricos gerados por duas cargas, a importância da
utilização do seno no cálculo da força magnética e o uso indispensável do cosseno
na determinação do fluxo magnético, fenômenos importantes para o mundo
moderno.

E o quarto capítulo, composto de questões resolvidas envolvendo Física


Básica e Trigonometria, é uma pequena amostra dos problemas físicos que, para
serem solucionados, necessitam da utilização de Seno e Cosseno.

Esperamos que este trabalho, finalizado com um texto onde expomos


nossas conclusões, contribua para uma visão mais abrangente no que diz respeito
às aplicações de Seno e Cosseno, pois não se limitam apenas ao cálculo de
medidas desconhecidas de lados de triângulos.
15

Capítulo 1

1 - A origem e a Evolução Histórica da Trigonometria

Não há como falar do surgimento e desenvolvimento da trigonometria


sem falarmos em astronomia, pois a origem e a evolução da primeira estão
intimamente ligadas ao desenvolvimento da segunda. Para que fique mais claro,
podemos dizer que a razão para o inicio dos estudos relacionados à trigonometria
(em especial a esférica) foi principalmente a necessidade de se desenvolver a
astronomia. E isso já é o suficiente para mostrar que a mesma é de grande utilidade,
sendo amplamente aplicada na resolução de problemas.

É possível que as investigações modernas sobre a matemática da


Mesopotâmia antiga venham a revelar um desenvolvimento apreciável da
trigonometria prática. Os astrônomos babilônicos dos séculos IV e V a.C.
acumularam uma massa considerável de dados de observações e hoje se
sabe que grande parte desse material passou para os gregos. Foi essa
astronomia primitiva que deu origem à trigonometria esférica.
(EVES, 2004, p.202)

Antes de nos aprofundarmos no estudo da história da trigonometria,


devemos definir, de modo geral, o que vem a ser essa área tão importante da
matemática.

O termo trigonometria, usado pela primeira vez no final do século XVI


como título de uma exposição publicada em 1595 por Bartholomeus Pitiscus (1561-
1613), está vinculado a três radicais gregos presentes nessa palavra: tri, que quer
dizer três; gonos, que significa ângulo e metron, que corresponde à medida.
Portanto, trata-se do estudo das relações existentes entre lados e ângulos de um
triângulo, o que pode caracterizá-la como parte da geometria. Porém, atualmente, a
mesma não se restringe apenas ao estudo dos triângulos, pois, de acordo com
Bianchini e Paccola (2003, p.200), “[...] possui diversas aplicações tanto na
Matemática como na Mecânica, Eletricidade, Acústica, Música, Engenharia Civil,
etc.”

Sabe-se que a origem da trigonometria é anterior a era cristã. No papiro


Rhind1, por exemplo, encontramos no problema 56 o que pode ser considerado um
¹ Documento egípcio comprado em 1858 por um antiquário escocês, Henry Rhind, também chamado
de papiro Ahmes, em homenagem ao escriba que o copiou por volta de 1650 a.C. É constituído por
um texto matemático contendo 85 problemas.
16

dos mais antigos registros relacionados à trigonometria.

Na construção das pirâmides, os egípcios consideravam de fundamental


importância manter uma inclinação constante das faces. E, para calcular essa
inclinação era necessário encontrar a razão entre o afastamento horizontal e o
vertical. O quociente obtido era chamado de seqt da face da pirâmide. Aliás, as
pirâmides egípcias eram construídas de forma que todas tivessem o mesmo seqt,
que corresponde a um ângulo de 42°. A busca por essa medida única reforçava a
necessidade do cálculo.

No problema 56 do papiro Rhind ou Ahmes, é calculado o seqt de uma


pirâmide medindo 250 cúbitos de altura e base quadrada com 360 cúbitos de lado.
Inicialmente o escriba responsável pela resolução divide 360 por 2, logo depois
divide o obtido por 250, obtendo o equivalente a 0,72. Após multiplicar o resultado
por 7, obteve 5,04 (representação atual) em mãos por cúbitos, sendo que mãos
(outra medida utilizada pelos antigos egípcios) correspondia a um sétimo de cúbito
(unidade de comprimento) e era usada na determinação da distância horizontal.

Em outros problemas no papiro Ahmes sobre seqt, conceito equivalente


ao da atual cotangente de um ângulo, todos os valores são iguais a 5,25 mãos por
cúbitos, ou seja, mais próximo do valor do seqt da grande pirâmide de Quéops, com
os lados da base e altura medindo, respectivamente 440 e 280 cúbitos.

No Egito, por volta do século XV a.C., a idéia de cotangente também


está associada ao invento do relógio de sol, posteriormente chamado pelos gregos
de gnômon, sendo que consistia em uma haste vertical responsável por projetar
sombra sobre um plano horizontal.

A análise da sombra possibilitava determinar as horas do dia. Até mesmo


os dias e as estações do ano eram determinados pela observação do comprimento
da sombra, sendo que, nestes casos, a mesma deveria ser feita ao meio dia.

Veja a figura 1. Sendo h a medida da haste, s o


comprimento da sombra e α o ângulo
h formado pelo plano e pelos raios solares,
α
tem-se s = h x cotgα.
s
Figura 1 – Relógio de sol e cotangente
Fonte: Iezzi, 2004.
17

Tales de Mileto (séc. VI a.C.), um importante nome da matemática,


quando viajou pelo Egito e Babilônia, calculou a altura das pirâmides egípcias
através das sombras que projetavam. Acredita-se que tenha sido o primeiro a fazer
isso.
Além da cotangente de um ângulo, com a medida da sombra podia-se
obter o que hoje chamamos de tangente, secante e cossecante. Na Índia e na
Arábia (não se sabe desde quando) existia uma teoria geral sobre os comprimentos
das sombras relacionadas ao gnômon. Porém, não havia uma unidade de
comprimento padronizada para o gnômon (barra) usado; por isso, muitas vezes, o
palmo ou a altura de um homem eram utilizados.

A conhecida cotangente, como já foi mostrada, era calculada pela sombra


horizontal de um gnômon vertical de comprimento dado. Por sua vez, verificava-se a
tangente por meio da sombra lançada numa parede vertical por uma barra fixada
horizontalmente na mesma, como na figura 2.

vara

sombra

Figura 2 – Relógio de sol e tangente.


Fonte: http://ecalculo.if.usp.br/historia/historia_ trigonometria.htm

Enquanto se encontrava a cossecante através da distância da ponta do


gnômon vertical à ponta da sombra, calculava-se a secante da mesma forma, mas
por uma vara horizontal.

Mesmo com todo esse conhecimento vindo do estudo dos relógios de sol,
as primeiras tabelas de sombras foram produzidas pelos árabes somente por volta
de 860. E o nome tangente foi usado pela primeira vez em 1583 por Thomas Fincke.

Em outro documento antigo, como no papiro Ahmes, encontramos


rudimentos de trigonometria. Trata-se de uma tabula babilônica cuneiforme que
contém uma tábua de secantes, sendo que foi escrita entre 1900 e 1600 a.C. A
18

mesma é conhecida por Plimpton 322, pois pertence à coleção G.A. Plimpton da
universidade de Colúmbia.

Não se pode negar, apesar dos egípcios e dos babilônios já terem


utilizado na resolução de problemas as relações entre lados e ângulos de triângulos,
que foi a paixão pela astronomia que favoreceu fortemente o desenvolvimento da
trigonometria. É por essa razão que a trigonometria, desde muito cedo, tem ligação
considerável com a ciência que estuda os astros.

Acredita-se que já por volta do século V a.C., foram estudadas relações


entre arcos de circunferências com suas respectivas cordas². Com os gregos, por
exemplo, encontramos um estudo de relações entre arcos num círculo e os
respectivos comprimentos das cordas; e, já no tempo de Hipócrates, as
propriedades dos ângulos eram conhecidas pelos gregos. Além disso,
provavelmente Eudoxo usou razões e medidas de ângulos para calcular o tamanho
da terra e as distâncias relativas terra/sol e terra/lua. Mas são dos séculos
posteriores que temos mais informações concretas sobre o desenvolvimento da
trigonometria, como se verá a seguir.

No século III a.C., o siracusano Arquimedes, que descobriu todos os


possíveis sólidos semi-regulares, provavelmente utilizava seu teorema da corda
quebrada como fórmula equivalente a atual sen (x – y) = senx . cosy – seny . cosx.
Além disso, através do mesmo teorema, outras identidades trigonométricas podem
ser encontradas, o que sugere seu uso em cálculos astronômicos por Arquimedes.

O teorema referido, segundo Boyer (1996, p.108) era o seguinte: “se AB e


BC formam uma corda quebrada num círculo (AB ≠ BC) e se M é o ponto médio do
arco ABC e F o pé da perpendicular de M à corda maior, F será o ponto médio da
corda quebrada ABC”.

Aristarco de Samos³, que viveu por volta de 310 a 230 a.C., escreveu um
tratado cerca de 260 a.C. sobre os tamanhos e as distâncias do sol e da lua. Nessa
época, ele percebeu que sempre quando a lua está em quarto crescente os raios
solares que incidem sobre a mesma são perpendiculares à reta que passa pelos cen
² Segmentos de reta que une os dois pontos que representam as extremidades de cada arco dado na
circunferência.
³ o primeiro astrônomo a desenvolver uma teoria heliocêntrica dos movimentos planetários, ou seja, o
sol como centro do sistema.
19

tros da terra e da lua. Além disso, o ângulo formado pelas linhas de visão terra/lua e
terra/sol era de 29 trintavos de um quadrante, ou seja, correspondia a 87° na
representação moderna. Assim, vê-se que um triângulo retângulo era formado.

Com o conhecimento desses dados, Aristarco calculou as distâncias


relativas do sol e da lua, chegando à conclusão de que o primeiro astro estava cerca
de vinte vezes mais longe da terra que o segundo. E, logo após a realização desse
feito, se propôs a determinar os tamanhos dos mesmos astros.

Como o sol e a lua, vistos a olho nu, tinham a mesma dimensão, Aristarco
considerou que suas diferenças de tamanho seguiam a mesma proporção das
distâncias. E, por observações de eclipses lunares, concluiu que o diâmetro da terra
era três vezes o do nosso satélite natural. Em seguida, calculou o raio do sol como
sendo vinte vezes o da lua.

Atualmente, sabe-se que o sol está cerca de 400 vezes mais distante da
terra que a lua e tem um diâmetro mais de100 vezes maior que o do nosso planeta.
Além disso, o raio da terra é 3,7 o lunar. Portanto, no diâmetro solar cabe mais de
370 diâmetros lunares.

O fato de Aristarco de Samos ter cometido esses erros não diminui a


importância de sua realização. No cálculo das distâncias, por exemplo, a falha se
resume à medida do ângulo (utilizou 87°, mas o valor correto era 89°50') e não a seu
método4 que era absolutamente correto. Em outras palavras, Aristarco errou por não
ter instrumentos precisos de medição. Porém, mesmo tendo feito todos esses
cálculos sobre as dimensões do sol e da lua, não pode determinar os tamanhos dos
mesmos (apenas proporcionalmente), pois isso dependia da medida da
circunferência da terra, calculada posteriormente por Eratóstenes de Cirene (276-
194 a.C.).

Eratóstenes, que passou boa parte de sua juventude em Atenas, foi


chamado por Ptolomeu III para trabalhar em Alexandria como bibliotecário da
universidade e como professor de quem mais tarde seria conhecido por Ptolomeu
Filadelfo (filho de Ptolomeu III).

Em Alexandria, ao examinar os resultados dos estudos astronômicos que


4
Recorreu a um teorema geométrico, que na atualidade seria senα/senβ<tgα/tgβ com 0°<β<α<90°,
por não terem sido desenvolvidas ainda as tabelas trigonométricas.
20

foram se acumulando durante séculos na biblioteca da universidade, Eratóstenes


descobriu que em Siena (cidade distante de Alexandria, cerca de 5000 estádios ao
sul, equivalentes a 740 km) o sol refletia diretamente para dentro de um poço
profundo ao meio-dia no dia de solstício de verão. Sabendo disso, resolveu calcular
o ângulo que um raio solar faz com a linha vertical de Alexandria.

Ao saber que esse ângulo era um cinquentavo de um circulo


(aproximadamente 7° na representação moderna), Eratóstenes concluiu que a
circunferência da terra media 50 vezes a distância de Siena a Alexandria, ou seja,
250000 estádios, equivalentes a 37000 km.

Dos trabalhos, tanto de Aristarco de Samos como de Eratóstenes de


Cirene, a pesar de terem utilizado relações entre retas e círculos, não resultou uma
trigonometria mais sofisticada. Porém, demonstraram a necessidade de uma maior
sistematização trigonométrica, sendo Hiparco de Nicéia (séc. II a.C.) o responsável
por essa tarefa.

É fato inegável que a trigonometria moderna só começaria com Hiparco,


provavelmente o mais excelente astrônomo da antiguidade, pois é autor de cálculos
que determinaram aproximadamente a duração do ano solar, autor da determinação
(por exemplo) da duração do mês lunar médio, da inclinação da eclíptica, do
tamanho da lua, da precessão dos equinócios e organizou um catálogo de 850
estrelas. No entanto, para a realização de tantos feitos, além de montar um
observatório astronômico na ilha de Rodes (situada no mar Egeu), onde passou a
maior parte de sua vida (apesar de ter nascido em Nicéia, atual Iznik, na Turquia),
teve que construir aquela na qual se acredita ter sido a primeira tabela
trigonométrica da história da matemática - em um tratado de doze livros - ganhando
assim o direito de ser chamado de pai da trigonometria.

Então, presumivelmente durante a segunda metade do segundo século a. C.,


foi compilada a que foi presumivelmente a primeira tabela trigonométrica pelo
astrônomo Hiparco de Nicéia (por volta 180 – 125 a. C.), que assim ganhou o
direito de ser chamado “o pai da trigonometria!”. (BOYER, 1996, p. 110)

A trigonometria de Hiparco, que consistia em calcular os comprimentos


das cordas de determinados arcos, era organizada em duas colunas numa tábua,
uma para o arco e outra para a corda do arco.
21

Tendo α como valores do arco, r para raio e crd(α) para a corda de α,


podemos estabelecer esta relação entre o comprimento da corda e o seno:
crd(α)=2rsen(α/2). Isso também pode ser verificado na fig. 3.

r
o α c AB=crd (α) AC=semicorda de (α)
r

B
Figura 3 – Corda de um arco.
Fonte: Iezzi, 2004.

Apesar de ser considerado o pai da trigonometria, devido a sua


importante contribuição para o seu desenvolvimento, nenhum registro dos trabalhos
de Hiparco foi preservado. Por isso, o que se sabe sobre seus feitos provém de
fontes indiretas, como o comentador Têon de Alexandria, que viveu no século IV.

Outro importante astrônomo mencionado pelo comentador Têon, foi


Menelau de Alexandria, que também teve um papel de destaque no
desenvolvimento da trigonometria.

Menelau de Alexandria teria vivido por volta do século I D.C., e, de acordo


com Têon, produziu um tratado sobre cordas num circulo em seis livros. Porém,
como outros trabalhos5 produzidos pelo mesmo, este se perdeu.

Mesmo com a perda desses trabalhos, facilmente nota-se o valor de


Menelau para trigonometria pela única obra que se preservou: Sphaerica.

A referida obra, que foi preservada em uma versão árabe, é composta de


três livros, que em conjunto tratam de astronomia e trigonometria. No primeiro livro,
além da definição do que vem a ser triângulo esférico, são trabalhadas proposições
relativas ao mesmo, sendo muitas análogas às estabelecidas para triângulos planos,
tais como: teoremas usuais de congruência e teoremas sobre triângulos isósceles.
No entanto, há um teorema em que não existe um correspondente relacionado ao
triangulo plano. Trata-se da congruência de triângulos esféricos, que depende da
igualdade dos ângulos correspondentes, sendo considerados congruentes os
5
Comentadores gregos e árabes afirmam ser Menelau autor de outras obras de matemática e
astronomia; e entre estas estaria “Elementos de geometria”.
22

simétricos. Alem disso, é provado que a soma dos ângulos dos mesmos é maior que
180°.

No segundo livro há teoremas de interesse da astronomia, sendo de


pouca importância matemática. Já no terceiro livro, encontra-se o famoso teorema
de Menelau, uma parte essencial da trigonometria esférica da época: se uma
transversal corta os lados DE, EF, FD de um triangulo DEF nos respectivos pontos
G, H, I, tem-se o que segue DG x EH x FI=EG x FH x DI. Pelo teorema exposto,
pode-se afirmar que quando uma reta corta os lados de um triangulo, o produto dos
três segmentos não adjacentes é igual ao produto dos três restantes.

Este teorema é aplicado em triângulos planos, mas Menelau o adaptou a


triângulos esféricos, ficando dessa forma na representação atual: senDG x senEH x
senFI=senEG x senFH x senDI.

Na adaptação ao triângulo esférico, em vez de uma reta, tem-se um


circulo máximo transversal interceptando os lados DE, EF, FD.

De acordo com Boyer (1996, p. 110), “Menelau, como também Hiparco


antes dele, conhecia bem outras identidades, duas das quais ele usou como lemas
para provar seu teorema sobre transversais”. São estas: se uma corda AB num
circulo de centro O é cortada no ponto C por um raio OD, então
AC/CB=senAD/senDB; e, se a corda AB prolongada é cortada no ponto C‟ por um
raio OD‟ prolongado, então AC’/BC’=senAD’/senBD’.

Não se pode negar, em hipótese alguma, a importância das contribuições


para o avanço da trigonometria, como também para a astronomia, dadas por
Menelau (no caso do estudo dos triângulos esféricos), Hiparco de Nicéia e os
demais, que são anteriores a estes. No entanto, a mais notável e respeitada obra
trigonométrica (como também astronômica) da antiguidade foi produzida por Cláudio
Ptolomeu de Alexandria, que se acredita ter vivido por volta do século II.

A obra de Ptolomeu, chamada de Syntaxis matemática, é composta de


treze livros, sendo o primeiro de grande valor para a trigonometria. Devido à
distinção dada a esta obra, visto o seu maior poder de influência e importância,
passou a ser chamada de o Almagesto (o maior), enquanto os trabalhos anteriores
eram considerados a coleção menor. Porém, esta grandiosa produção de Ptolomeu,
23

possivelmente (pelo menos no que diz respeito ao método utilizado para calcular
cordas em um circulo) tem uma enorme dívida para com a obra de Hiparco de
Nicéia.
Deixando de lado as dúvidas, sabe-se que o Almagesto de Ptolomeu foi
preservado, mesmo com a ação degradante do tempo. Assim, além da tábua
trigonométrica, conhecemos a maneira como se chegou à mesma.

Na construção da tábua trigonométrica de Ptolomeu, o seu teorema teve


um papel de destaque, pois foi a partir do mesmo que foram desenvolvidas quatro
identidades trigonométricas responsáveis por facilitar o cálculo das cordas dos arcos
correspondentes.

O teorema de Ptolomeu pode ser enunciado dessa forma: num


quadrilátero convexo inscrito num circulo, a soma dos produtos de lados opostos é
igual ao produto das diagonais. Assim, podemos imaginar o quadrado ABCD inscrito
em um circulo como o da fig. 4, para chegarmos às quatro identidades
trigonométricas citadas anteriormente.

A D

Figura 4 – Quadrilátero inscrito.


Fonte: Boyer, 1996.

Como podemos ver na fig. 4, temos um quadrado inscrito de lados AB,


BC, CD e AD e diagonais AC e BD.

Como AD é o diâmetro do círculo, AD=2r. Também se pode fazer: arco


BD=2a e arco CD=2b, logo BC=2rsen(a-b), AB=2rsen(90°- a), BD=2rsena,
CD=2rsenb e AC=2rsen(90°-b). Assim, o teorema que é representado dessa forma
AD x BC+AB x CD=AC x BD, fica no formato a seguir:

2r x 2rsen(a-b)+2rsen(90°-a) x 2rsenb=2rsen(90°-b) x 2rsena


24

Simplificando

2r x 2rsen (a-b) =-2rsen (90°-a) x 2rsenb+2rsen (90°-b) x 2rsena


2r x 2rsen(a-b) =-2rcosa x 2rsenb+2rcosb x 2rsena
(2r)² x sen(a-b) =(2r)² x sena x cosb-(2r)²senb x cosa
Sen (a-b) = sena x cosb-senb x cosa

Pelo que se pode notar, utilizando o teorema de Ptolomeu, é fácil chegar


à formula do seno da diferença. Aliás, por raciocínios semelhantes, chega-se às
outras três formulas que são: seno da soma, cosseno da soma e cosseno da
diferença. Por causa disso, as mesmas são muitas vezes chamadas de fórmulas de
Ptolomeu.

Com o conhecimento dessas quatro identidades trigonométricas, além de


ser conhecedor de uma fórmula equivalente à do ângulo metade, bem como do
teorema de “Os elementos XIII.9” 6 e dos teoremas de Tales e Pitágoras, Ptolomeu
estaria pronto para construir sua tabela trigonométrica. Porém, faltava algo muito
importante: adotar um sistema de medidas que facilitasse o cálculo relativo às
cordas.

Dessa forma, Cláudio Ptolomeu adotou o sistema sexagesimal, dividindo,


portanto, os seus graus em sessenta partes, sendo cada parte também dividida por
sessenta e assim por diante. Também dividiu o raio do seu circulo trigonométrico em
sessenta partes, obedecendo ao mesmo padrão de divisões sucessivas. É bom
deixar aqui registrado que a divisão de uma circunferência em 360 graus
provavelmente começou a ser utilizada no mundo grego desde os tempos de
Hiparco de Nicéia, mas não se sabe como isso foi estabelecido. Cogita-se a
possibilidade de que essa medida tenha sido influenciada pela astronomia, pois o
zodíaco fora dividido em doze signos.

Como era discutida uma expressão do ângulo em termos de π (Ptolomeu


usava uma aproximação para π igual a 3,1416), posteriormente surgiu o radiano.

Em fim, após o estabelecimento do sistema de medidas, Ptolomeu de


Alexandria pode produzir sua tábua trigonométrica (equiparável a uma tabela de
senos), encontrando valores de cordas de ângulos como: 36°, 72°, 6° e 3°.
6
O lado de um decágono, de um hexágono e de um pentágono, todos regulares, são os lados de
triângulo retângulo.
25

Um fato importante revela o valor do trabalho de Ptolomeu: por mais de


mil anos o livro I do Almagesto, que continha a tabela trigonométrica, foi um recurso
indispensável para o estudo da astronomia.

Além do Almagesto, Ptolomeu foi autor de outras obras, dentre as quais


podemos citar a sua Óptica, onde o mesmo tenta chegar a uma lei quadrática para a
refração, em vez de trigonométrica. Diga-se de passagem, por mais de um milênio a
trigonometria serviu principalmente como auxiliar da astronomia, sendo que a sua
aplicação na Óptica e em outras partes da física foi descoberta somente no século
XVII.
Como podemos perceber, os gregos desempenharam papel importante
no estudo da trigonometria. Porém, outro povo deve ser lembrado em
reconhecimento aos seus estudos trigonométricos: os hindus.

Enquanto os gregos, pouco antes da era cristã e nos primeiros séculos do


pós-cristo, calculavam cordas, os hindus construíram tábuas de semi-cordas (senos)
por volta do século V.

Igualmente aos gregos, os hindus utilizavam a trigonometria como


ferramenta para sua astronomia. E, são nas obras “Siddhantas e Aryabhatiya” que
se encontram tabelas de seno, inclusive o seno versor.

De acordo com Eves (2004, p. 259), os hindus “usavam nossos conheci-


dos graus, minutos e segundos nas tábuas de senos que construíam”. Porém, com o
objetivo de exprimir na mesma unidade tanto os comprimentos dos arcos como dos
senos, o raio era dividido em 3438 e a circunferência em 21600 (360 X 60) partes.

Assim, com estas modificações e por meio da fórmula Sn+1 = Sn+S1-

Sn/S1 (onde Sn é o enésimo seno e Sn é a somatória dos n primeiros senos da


sequência) puderam encontrar os senos de graus como: 7 ½º = 449, 11 ¼º = 671 e
15° = 890.

Outro povo que também deve ser lembrado - pois tem parcela de
contribuição para o desenvolvimento trigonométrico - são os árabes, que, além de
terem produzido seus trabalhos, serviram como divulgadores da trigonometria hindu
na Europa.
26

Al-Battani, por exemplo, que viveu por volta de 850 a 929, chegou à lei
dos co-senos para um triângulo esférico obliquângulo; e, na sua obra “Sobre o
movimento das estrelas”, encontram-se fórmulas onde aparecem seno e seno
versor, como esta: b = [a sen (90°-A)]/senA. Aliás, muito provavelmente foi Al-

Battani quem introduziu o circulo unitário.

Abu‟l-Wefa, outro importante nome da trigonometria árabe, que viveu no


século X, provou as fórmulas do ângulo duplo, bem como do ângulo metade; e
produziu suas tabelas de senos e tangentes.

Pode-se afirmar que o desenvolvimento da trigonometria árabe


(fortemente influenciada pela trigonometria hindu) foi impulsionado pela astronomia,
pois, como os hindus e os gregos, os matemáticos árabes eram astrônomos.

Já no século XVI, em solo europeu, o François Viète (1540-1603) em sua


obra “Canon mathematicus” (1579), produziu tabelas das seis funções
trigonométricas, com aproximação de ângulos até minutos.

Em outra obra, com o título de Variorum de rebus mathematicis (1593),


encontra-se um enunciado equivalente a esta fórmula: [(a+b)/2]/[(a-b)/2]
=[tan(A+B)/2]/[tan(A-B)/2].

Viète também conhecia as regras de prostaférese, ou seja, fórmulas que


transformavam um produto de funções numa soma ou diferença, como esta:
2cosAcosB = cos(A+B)+cos(A-B). Ademais, estas fórmulas eram utilizadas para
simplificar cálculos astronômicos.

Como podemos notar, historicamente a trigonometria esteve atrelada a


astronomia, sendo o seu desenvolvimento necessário para o avanço dos estudos
astronômicos.
27

Capítulo 2

2 - Trigonometria: uma área importante da Matemática

Sabemos que a Matemática - sendo uma ciência muito ampla - está


dividida em áreas de atuação, dentre as quais podem ser citadas a Aritmética, a
Álgebra, a Geometria e, principalmente, a Trigonometria, que trata do estudo das
relações entre lados e ângulos de um triângulo. Ademais, devido às aplicações de
Seno e Cosseno na Física Básica (mostradas no capítulo seguinte), nos limitaremos,
neste capítulo, ao estudo dessas razões trigonométricas e algumas de suas
particularidades, embora tenhamos dado um tratamento geral à história da
trigonometria anteriormente. Assim, não serão trabalhadas outras razões
trigonométricas, como a tangente. Também não serão estudas funções e seus
gráficos, equações, inequações, soma e diferença de arcos; mesmo as relacionadas
a seno e cosseno.

2.1- O triângulo retângulo e as razões Seno e Cosseno de um ângulo agudo

(Situação adaptada) Imagine a situação representada na fig. 5, onde um pequeno


coelho desce uma escada com sete degraus (A, C, E, G, I, K e M) apoiada em um
muro em construção. À medida que o coelho desce, exatamente ao meio dia, a
sombra (B, D, F, H, J, L, N) de seu pé no chão vai mudar também de posição.

Posição do coelho na escada

M
K
I
G
E
C
A

α
Q
B D F H J L N
Sombra dos pés do coelho no solo

Figura 5 - Percurso do coelho na escada.


Fonte: criação própria.
28

A altura em que o coelho se encontra na escada em relação ao chão é


diretamente proporcional ao espaço a ser percorrido.

R1

A distância da sombra do coelho à base da escada é diretamente


proporcional ao espaço a ser percorrido.

R2

Adotando α como ângulo que a escada faz com o chão, qualquer que seja
a posição que o coelho se encontre, a razão entre a altura que ele está em relação
ao chão e a distância que falta para terminar de descer a escada é constante. Esses
números estão diretamente ligados à medida do ângulo α. E, como escada, solo e
sombra formam vários triângulos retângulos (triângulos com ângulos retos), pode-se
concluir que em um triângulo retângulo com um ângulo interno agudo de medida α,
as razões entre as medidas dos seus lados sempre serão iguais as razões de
qualquer triângulo retângulo que tenha ângulo α, sendo que cada uma delas recebe
nomes especiais. Assim, tendo como exemplo o triângulo retângulo IJQ, da figura
anterior, temos:
I

hipotenusa
cateto oposto R1 R2
α
Q
cateto adjacente J

Figura 6 – Seno e cosseno no


triângulo retângulo.
Fonte: criação própria.

A razão R1 recebe o nome de seno de um ângulo do triângulo retângulo,


que é a razão entre a medida do cateto oposto ao ângulo e a medida da hipotenusa.
Assim:

=
29

A razão R2 recebe o nome de cosseno de um ângulo, que é a razão entre


a medida do cateto adjacente ao ângulo e a medida da hipotenusa. Observe:

O seno e o cosseno do ângulo agudo α são denominados razões


trigonométricas relativas ao ângulo α.

2.2 - Ângulos notáveis

Há alguns ângulos, chamados de notáveis, que merecem importância


maior devido o seu constante uso em problemas envolvendo seno ou cosseno. São
estes: 30°, 45° e 60°. Vejamos como calcular os senos e cossenos desses ângulos.

Ângulos: 30° e 60°

Para calcular seno e cosseno dos ângulos 30° e 60°, vamos considerar
um triângulo eqüilátero7, onde mediana8, altura e bissetriz9 relativas a um mesmo
ângulo interno coincidem. Assim, seja ABC um triângulo eqüilátero de lado x. Se
traçarmos sua altura AH de medida h, poderemos fazer os cálculos.

Veja:

30° 30°
AH = h (altura de ABC)

x x BH = CH =
h
BÂH = CÂH = 30°
60° 60°
B C
H

Figura 7 – Cálculo de seno e


cosseno no triângulo eqüilátero.
Fonte: criação própria.

7
Triângulo com todos os lados e ângulos iguais.
8
Segmento de reta que une um vértice ao meio do lado oposto em um triângulo.
9
Reta que divide um ângulo ao meio.
30

Fazendo uso do teorema de Pitágoras no triângulo retângulo ABH ou no


ACH de ângulos agudos iguais a 30° e 60°, obtemos:

x² = h² + (x/2)²
x² = h² + x²/4
h² = x² - x²/4
h=x

Vimos que a medida da altura de um triângulo eqüilátero de lado x é


h = x , então, aplicando as razões seno e cosseno aos triângulos retângulos
ABH e ACH, obtemos:

= =

=
=

= =

Ângulo: 45°

Para se obter os valores de seno e cosseno deste ângulo, consideremos


um quadrado ABCD de lado x, onde traçamos uma diagonal y que o divide e forma
dois triângulos retângulos (ABC e ACD) e isósceles (possui dois lados congruentes).

A x D
Utilizando o teorema de Pitágoras,

45° temos:
y
x x

45°
B C y=
x
Figura 8 – Cálculo de seno e cosseno em y=x
um quadrado.
Fonte: criação própria.
31

Conhecendo o valor de y pode-se determinar o seno e o cosseno de 45°.


Veja:

= =

= . = .

= =

Organizando os resultados de seno e cosseno de 30º, 45º e 60º, tem-se:

Tabela 1 - Valores das razões seno e cosseno.

Ângulo Seno Cosseno


30° 1/2
45°
60° 1/2
Fonte: criação própria.

Observando os valores da tabela, além de se notar a igualdade do seno


de 45° ao seu cosseno, percebe-se que seno e cosseno de 30° são iguais,
respectivamente, ao cosseno e seno de 60°. Isso acontece devido estes ângulos
serem complementares. E, esta relação será estudada mais adiante.

2.3 - Seno e Cosseno na circunferência trigonométrica

Circunferência ou ciclo trigonométrico, de acordo com Bianchini e Paccola


(2004, p. 7) “[...] é uma circunferência orientada de raio unitário cujo centro coincide
com a origem de um sistema cartesiano ortogonal”. Assim, a fig. 9 representa um
ciclo trigonométrico.
32

eixos das
ordenadas
1
+ Note que o plano, limitado pela
2º quadrante 1º quadrante
B
circunferência, está dividido em
-1 A quatro partes, chamadas quadrantes.
O 1 eixos das E o ponto A (1,0) é a origem dos
abscissas
arcos (partes de uma circunferência).
3º quadrante - 4º quadrante
-1

Figura 9 – Representação do ciclo trigonométrico.


Fonte: criação própria.

Observe a existência de um arco AB no primeiro quadrante. Se for


traçada um segmento de reta do ponto O (0,0) ao ponto B (c, d) - mostrado na fig. 10
- pode-se visualizar a existência de triângulos retângulos ao se considerar a
distância c do ponto B em relação ao eixo vertical e a altura d. E, assim, determina-
se o seno e o cosseno em uma circunferência trigonométrica.

eixos das
ordenadas
Observe que o arco AB tem medida
1
em graus igual a α. Logo, o ângulo
c B
central (formado pelos segmentos de
r α
d d
-1 α A medida c e r = 1) mede α. Assim:
O c 1 eixos das
abscissas

-1

Figura 10 – Cálculo de seno e cosseno no ciclo


trigonométrico.
Fonte: criação própria.

Pelo que foi mostrado, podemos concluir que o eixo das ordenadas é o
eixo dos senos, e o eixo das abscissas é o eixo dos cossenos. Além disso, os
valores de seno e cosseno variam entre -1 e 1.
O seno vale 1 quando α = 90°, e vale -1 quando α = 270°. Já o cosseno,
tem valor 1 quando α = 0° , e valor -1 quando α = 180°.
33

2.4 – Relação fundamental da trigonometria

Observe a fig. 10 novamente. Dela podemos retirar o triângulo com


ângulo α e lados medindo c, d e r.

Veja a fig. 11:

Como d = senα, c = cosα e r = 1, temos:


r
d
d² + c² = 1
α
c sen²α + cos²α = 1
Figura 11 – Triângulo retângulo e a relação
fundamental.
Fonte: criação própria.

A relação sen²α + cos²α = 1, verdadeira para qualquer valor de α, é


importante no cálculo do seno, quando se tem o cosseno; ou do cosseno, quando se
tem o seno.

2.5 – Seno e Cosseno de ângulos complementares

Seja α a medida de um ângulo, e β a medida de outro ângulo. Diz-se que


α é complementar de β ou β é complementar de α, se α + β = 90°. Logo α = 90°- β e
β = 90°- α. E, devido à existência dessa relação entre esses ângulos, há também
uma relação entre os seus senos e cossenos, mostrada com o auxílio da fig. 12,
onde temos um triângulo retângulo ABC com um ângulo igual a α e lados medindo a,
b e c. Observe o cálculo de seno e cosseno de α e do seu complementar.

= )=
c 90°- α b
α
B C cosα = =
a

Figura 12 – Seno e cosseno de ângulos


complementares no triângulo retângulo.
Fonte: criação própria.
34

Observando os valores dos senos e dos cossenos dos ângulos α e 90° -


α, percebe-se que o senα = cos (90°- α) e cosα = sen (90°- α). Dessa forma, conclui-
se que senos e cossenos de ângulos complementares são iguais.

2.6 – Seno e Cosseno de ângulos suplementares

Dois ângulos são ditos suplementares quando a soma de suas medidas é


igual a 180°. Assim, por exemplo, 30° é suplementar de 150°. Logo, sen30°
= sen150° e cos30° = - cos150°. Veja porque observando a fig. 13.

Eixo dos senos


x

B
A fig. ao lado mostra um o arco AC,
C
com C simétrico a B, medindo x.
A
O Logo, AB = 180° - x.
Eixo dos
cossenos

Figura 13 – Seno e cosseno de arcos suplementares.


Fonte: criação própria.

Note que o arco AB (do 1° quadrante) e o arco AC (do 2° quadrante) têm


o mesmo seno e cossenos de mesmo valor absoluto, embora tendo sinais
contrários. Desse modo, quando 90° < x < 180°, tem-se:

Sen (180° - x) = senx


Cos (180° - x) = - cosx
2.7 – Lei dos Senos

Em qualquer triângulo, a razão entre as medidas dos seus lados e os


senos dos ângulos opostos são iguais.

Pode-se demonstrar essa relação utilizando-se um triângulo escaleno


ABC com os lados medindo a, b e c, mostrado na fig. 14.
35

A
Observe que em ABC foram traçadas

E duas alturas (AD e CE) com medidas h

h‟ b e h‟, ocasionado o surgimento de vários


c
triângulos. No entanto, atente para os
h
triângulos ABD, ACD, ACE e BCE.

B C
D a X

Figura 14 – Demonstração da lei dos senos num triângulo escaleno.


Fonte: criação própria.

Nos triângulos ABD e ACD, temos:

= =

Nos triângulos ACE e BCE, temos:

= =

Logo:

= =

2.8 - Lei dos Cossenos

Em todo triângulo, o quadrado da medida de qualquer um dos lados é


igual à soma dos quadrados das medidas dos outros dois menos duas vezes o
produto das medidas desses lados pelo cosseno do ângulo formado por eles.
Vejamos a demonstração dessa lei.
36

Observe o triângulo escaleno ABC abaixo (fig. 15):

A
Note que a altura h divide ABC em
dois triângulos menores: ABD e ACD.
b Como ABC tem lados medindo a, b e
c
h c, ABD tem medidas c, h e BD; e
ACD, medidas b, h e a - BD.
B C
D a X
Figura 15 – Demonstração da lei dos cossenos num triângulo escaleno.
Fonte: criação própria.

Utilizando o cosseno e o teorema de Pitágoras nos triângulos ACD e


ABD, temos:

Igualando os valores temos:

Logo:

A seguir é apresentada uma tabela de senos e cossenos dos ângulos de


1° a 90°.
37

Tabela 2 – Seno e cosseno. (Continua)

Tabela de Senos e Cossenos

Ângulo Seno Cosseno Ângulo Seno Cosseno


1° 0,0175 0,9998 46° 0,7193 0,6947
2° 0,0349 0,9994 47° 0,7314 0,6820
3° 0,0523 0,9986 48° 0,7431 0,6691
4° 0,0698 0,9976 49° 0,7547 0,6561
5° 0,0872 0,9962 50° 0,7660 0,6428
6° 0,1045 0,9945 51° 0,7771 0,6293
7° 0,1219 0,9925 52° 0,7880 0,6157
8° 0,1392 0,9903 53° 0,7986 0,6018
9° 0,1564 0,9877 54° 0,8090 0,5878
10° 0,1736 0,9848 55° 0,8192 0,5736
11° 0,1908 0,9816 56° 0,8290 0,5592
12° 0,2079 0,9781 57° 0,8387 0,5446
13° 0,2250 0,9744 58° 0,8480 0,5299
14° 0,2419 0,9703 59° 0,8572 0,5150
15° 0,2588 0,9659 60° 0,8660 0,5000
16° 0,2756 0,9613 61° 0,8746 0,4848
17° 0,2924 0,9563 62° 0,8829 0,4695
18° 0,3090 0,9511 63° 0,8910 0,4540
19° 0,3256 0,9455 64° 0,8988 0,4384
20° 0,3420 0,9397 65° 0,9063 0,4226
21° 0,3584 0,9336 66° 0,9135 0,4067
22° 0,3746 0,9272 67° 0,9205 0,3907
23° 0,3907 0,9205 68° 0,9272 0,3746
24° 0,4067 0,9135 69° 0,9336 0,3584
25° 0,4226 0,9063 70° 0,9397 0,3420
26° 0,4384 0,8988 71° 0,9455 0,3256
27° 0,4540 0,8910 72° 0,9511 0,3090
28° 0,4695 0,8829 73° 0,9563 0,2924
29° 0,4848 0,8746 74° 0,9613 0,2756
30° 0,5000 0,8660 75° 0,9659 0,2588
31° 0,5150 0,8572 76° 0,9703 0,2419
32° 0,5299 0,8480 77° 0,9744 0,2250
33° 0,5446 0,8387 78° 0,9781 0,2079
34° 0,5592 0,8290 79° 0,9816 0,1908
35° 0,5736 0,8192 80° 0,9848 0,1736
36° 0,5878 0,8090 81° 0,9877 0,1564
37° 0,6018 0,7986 82° 0,9903 0,1392
38° 0,6157 0,7880 83° 0,9925 0,1219
39° 0,6293 0,7771 84° 0,9945 0,1045
40° 0,6428 0,7660 85° 0,9962 0,0872
38

Tabela 2 – Seno e cosseno. (Conclusão)

Tabela de Senos e Cosenos

Ângulo Seno Cosseno Ângulo Seno Cosseno


41° 0,6561 0,7547 86° 0,9976 0,0698
42° 0,6691 0,7431 87° 0,9986 0,0523
43° 0,6820 0,7314 88° 0,9994 0,0349
44° 0,6947 0,7193 89° 0,9998 0,0175
45° 0,7071 0,7071 90° 1,0000 0,0000
Fonte: criação própria.

Com conhecimento básico sobre seno e cosseno, podemos agora partir


para a utilização dessas razões trigonométricas na resolução de problemas da
Física Básica a nível médio, mostrada no capítulo seguinte.
39

Capítulo 3

3 - O uso das Principais Razões Trigonométricas na Física

Como se sabe, a Trigonometria tem aplicações em várias áreas, como:


medicina, música, engenharia civil, física e etc. No entanto, no trabalho em questão,
será tratada a aplicação da mesma somente na física, uma das principais ciências
do mundo moderno.

3.1 - O que é Física?

A Física é uma ciência que surgiu por volta do ano 650 a.C. e se
caracteriza por estudar os fenômenos naturais. Além disso, o termo “física” é
derivado da palavra grega physis, que significa natureza.

Sendo uma ciência que estuda a natureza, a Física acabou sendo dividida
em partes, cada uma com um campo de atuação definido, pois há uma grande
diversidade de fenômenos naturais.

Assim, tem-se:

1) Física Clássica

Desenvolvida durante séculos de observações, a Física Clássica está


dividida em cinco partes.

Mecânica – trata dos movimentos dos corpos no espaço;


Termologia – limita-se ao estudo das questões relativas ao calor;
Óptica – busca estudar a luz;
Ondulatória – estuda as ondas, como as sonoras;
Eletromagnetismo – empenha-se em explicar os fenômenos elétricos e
magnéticos.

2) Física Moderna

Criada para explicar fenômenos não entendidos pela “Clássica”, a


Física Moderna surgiu no século XX e está assentada em duas teorias importantes,
40

que são: Teoria da relatividade (trata dos movimentos produzidos por velocidades
extremamente altas) e Mecânica Quântica (estuda corpos muito pequenos, como os
átomos).

Embora inicialmente esteja sendo dado um tratamento geral à Física, no


decorrer deste trabalho serão abordados, de forma mais detida, alguns pontos da
Física Clássica. E, para a realização dessa tarefa, é de fundamental importância
discorrer um pouco sobre grandezas vetoriais. Mas, o que são grandezas vetoriais?

Entende-se por grandeza vetorial toda aquela que possui módulo, direção
e sentido. Assim, a força (resultado da interação entre corpos) representada por um
vetor na figura 16 e que move um bloco sobre um plano é um bom exemplo de
grandeza vetorial.

Neste exemplo, a força de módulo igual

F=12N a 12N tem direção horizontal e sentido


da esquerda para a direita

Figura 16 – Representação de uma grandeza vetorial.


Fonte: criação própria.

Como as grandezas escalares (caracterizadas apenas pelo módulo), dois


ou mais vetores - que representam as grandezas vetoriais - podem ser adicionados,
gerando outro vetor (o vetor resultante). Mas isso não significa que o módulo do
vetor resultante será igual à soma dos módulos dos vetores iniciais, pois dependerá
das direções e sentidos dos vetores a serem adicionados.

Veja alguns exemplos nas fig. 17 (a, b) e 18 (a, b):

a b a

s s b
(a) (b)
s=a+b s=a+b
|s| =|a| + |b| |s| = |a| - |b|

Figura 17 – Adição de vetores.


Fonte: Sampaio e Calçada, 2005.
41

a
s
a
b s
(a) b
(b)
s=a+b s=a+b
|s| = |a| -|b| |s|² = |a|² + |b|²
Figura 18 – Soma de vetores.
Fonte: criação própria.

3.2 - A Relação da Física com a Matemática

A Física revelou-se muito importante para o mundo moderno, pois muitos


avanços tecnológicos alcançados pela humanidade só foram possíveis devido aos
estudos relacionados aos fenômenos naturais (um exemplo simples são as
máquinas fotográficas). É muito provável que os estudos físicos ainda irão
proporcionar muitas descobertas.

A ciência desempenha um papel muito importante no mundo


contemporâneo. Não era assim há poucas gerações atrás: o
desenvolvimento científico tem-se acelerado enormemente. Tornou-
se lugar comum dizer-se que vivemos numa sociedade tecnológica e
medir o progresso pelo grau de desenvolvimento tecnológico.
(NUSSENZVEIG, 2002, p.1)

No entanto, como a Física estuda os fenômenos da natureza e os


mesmos necessitam de modelos matemáticos para serem representados e
validados formalmente, podemos constatar a importância da Matemática como
ferramenta nos estudos físicos. A Trigonometria (uma importante área da
Matemática), por exemplo, é utilizada em áreas da Física, como: Mecânica, Óptica,
Ondulatória e Eletromagnetismo. E são essas aplicações que serão apresentadas
no decorrer deste capítulo, comprovando, assim, o valor do papel desempenhado
pela Trigonometria como ferramenta para a resolução dos problemas físicos.

3.3 - Mecânica

Anteriormente, vimos que Mecânica é a parte da Física que estuda todos


os aspectos do movimento. Segundo Sampaio e Calçada (2005, p. 9) a Mecânica
“[...] procura responder a questões como: „O que é o movimento? ‟, „Como alterar ou
prever o movimento de um corpo? ‟, „O que deve acontecer para que um corpo não
42

se mova, isto é, permaneça em repouso? ‟”.


Devido a esses aspectos do movimento, a Mecânica está dividida em
duas partes: Cinemática, que estuda os movimentos sem considerar suas causas; e
Dinâmica, que dá destaque às causas provocadoras do movimento. E é com esta
divisão que será estudada a aplicação da Trigonometria (particularmente seno e
cosseno) na Mecânica.

3.3.1 – Cinemática: o uso de seno e cosseno

Sendo a Cinemática responsável por estudar os movimentos


desconsiderando as forças geradoras, os seus principais objetos de estudo são:

Velocidade Média – relação entre espaço percorrido e o tempo gasto


no percurso;
Aceleração – relação entre a variação de velocidade e a variação do
tempo;
Deslocamento – diferença entre o espaço final e o inicial ou relação
entre velocidade e tempo.

Dependendo da situação, há cálculos envolvendo velocidades que são


possíveis de serem realizados somente se for feito uso das razões trigonométricas.

Vejamos:

Situação I

(Criação própria) Supõe-se que um carro de corrida com velocidade média igual a
300 km/h (vc) esteja percorrendo uma pista (reta) especial, que se movimenta sobre
a superfície terrestre com velocidade (v p) contrária à do carro e com valor de 100
km/h (observe a fig. 19).

Com estes dados, sabendo ainda que veículo e pista permanecem em


movimento durante 30 minutos, serão calculados a velocidade e o deslocamento (D)
do carro em relação a um ponto fixo na superfície.
43

carro
pista

Figura 19 – Movimentos contrários.


Fonte: criação própria.

Como o movimento da pista tem sentido contrário ao do carro em


questão, a velocidade do veículo em relação a um ponto fixo (v s) na superfície será a
diferença entre as velocidades dos mesmos (|vs| = |vc| – |vp|), ou seja, neste tipo de
situação não há necessidade da utilização de nenhuma razão trigonométrica para
solucionar o problema. E, após obter essa diferença, pode-se calcular o
deslocamento do veículo em relação ao ponto fixo da superfície. Basta apenas
dividir o módulo de vs pelo tempo. Logo, D = 100 km, pois |vs| = 200 km/h.

Situação II

(Exemplo adaptado) Imagine que um imigrante, para chegar ao país desejado, tenha
que atravessar um rio em uma pequena embarcação.

Sabendo que no trecho da travessia a largura (L) do rio é de 200m, além


de se saber que as velocidades da correnteza (em relação às margens) e do barco
(em relação à água) são respectivamente 4m/s e 10m/s, poderão ser calculados a
velocidade do barco em relação às margens, o tempo gasto no percurso e o ângulo
formado para que o movimento da embarcação ocorra perpendicularmente às
margens.

De acordo com a descrição do problema, podemos fazer a seguinte


representação (fig. 20 e 21):

L = 200m
α

Figura 20 – Representação da travessia de um rio.


Fonte: criação própria
44

- margens
- velocidade da correnteza em relação às margens
- velocidade do barco em relação à água
- velocidade do barco em relação às margens
Figura 21 – Representação da margem e dos vetores envolvidos no movimento.
Fonte: criação própria.

Bom, como pode ser observada, a organização das três velocidades


propiciou o surgimento de um paralelogramo ou dois triângulos retângulos com um
ângulo α formado pelas velocidades do barco. Assim, utilizando-se a lei dos senos,
pode-se determinar a velocidade do barco em relação às margens (v bm), pois são
conhecidas as velocidades do barco (relativa à água) e da correnteza (relativa à
margem). No entanto, é necessário calcular previamente o senα. E isso é possível
graças ao triângulo retângulo formado.

Ao se determinar o senα, encontra-se o ângulo (α) formado para que o


movimento da embarcação seja perpendicular às margens. Assim, como a
velocidade da correnteza (em relação às margens) representa o cateto oposto e do
barco (em relação à água) representa a hipotenusa, seus valores serão,
respectivamente, 4 e 10, o que dá um seno igual a 0,4. E, aproximadamente, 23°34‟
é o ângulo cujo seno é 0,4.

Pela relação fundamental:

Sen2α + cos2α = 1
(0,4)² + cosα² = 1
Cosα = 0,9165

Logo:

vbm / sen(90° - α) = 10 / sen90°


vbm / cosα = 10
vbm = 10 . cosα
vbm = 10 . 0,9165
vbm = 9,165 m/s

Com o valor de vbm, consegue-se o tempo gasto no percurso ao dividir o


espaço (L = 200m) pela velocidade encontrada. Logo, o tempo será de aproximada
45

mente 22 segundos.

Situação III

(Exemplo adaptado) No mesmo rio da situação anterior, outro imigrante tenta fazer a
travessia em uma embarcação que enfrentará a correnteza fazendo ângulo de 60°
com a margem de onde irá partir. Sabendo que o imigrante pretende fazer uma
trajetória reta e perpendicular à margem, será calculada a velocidade necessária da
embarcação (em relação à correnteza) para se alcançar esse objetivo.

Para facilitar a resolução do problema, o mesmo está representado na


figura 22:

L = 200m
α

60°

- margens
- velocidade da correnteza em relação às margens (vcm)
- velocidade do barco em relação à água ou correnteza (v bc)
- velocidade do barco em relação às margens (v bm)
Figura 22 – Travessia de um rio, margem e vetores.
Fonte: criação própria.

Por ser de 60º o ângulo formado entre a margem e a velocidade do barco


em relação à correnteza (vbc), será de 30° o ângulo (α) formado pelas velocidades
da embarcação (uma relativa à água e a outra tendo as margens como referencial).
Assim, como a velocidade da correnteza é perpendicular à do barco (relativa às
margens), para encontrar vbc é suficiente calcular seno de 30°.

Como já se conhece o seno de 30°, que igual a 0,5, tem-se o seguinte:

sen30° = vcm/vbc
0,5 = 4/vbc
46

vbc x 0,5 = 4
vbc = 4/0,5
vbc = 8m/s

Os problemas que envolvem movimentos retilíneos com mais de uma


velocidade - na maioria das situações - requerem as relações trigonométricas em
sua resolução, ou seja, exigirão conhecimento de trigonometria de quem pretende
solucionar problemas deste tipo. No entanto, não são apenas nesses deslocamentos
que serão utilizados os conhecimentos trigonométricos, pois, no lançamento de
projéteis (onde ocorre movimento oblíquo) há a utilização imprescindível de razões
trigonométricas no cálculo das velocidades. E isso se deve ao fato de que o
movimento de um projétil pode ser analisado separadamente em um componente
horizontal e um vertical.

No movimento horizontal tem-se a velocidade constante; e no vertical, há


a aceleração da gravidade, ou seja, a velocidade varia. Além disso, as mesmas
dependerão do ângulo formado entre a velocidade inicial (v o) e a linha horizontal.

Com o auxílio de representações simples (figura 23), vejamos como isso


ocorre:

vo vo
voy
voy

(a) α (b) α

vox vox α
α

Figura 23 – Representação do movimento oblíquo.


Fonte: criação própria.

De acordo com as figuras acima, pode-se considerar a existência de


uma partícula que se movimenta com velocidade inicial (v o).

Sendo a velocidade inicial um vetor inclinado em relação à horizontal, ou


47

seja, que forma com a mesma um ângulo (α) < 90° em sentido positivo, pode-se
decompô-la em duas velocidades perpendiculares entre si. Assim, enquanto uma
terá direção horizontal, com sentido positivo; a outra terá direção vertical, com
sentido de baixo para cima na primeira parte do movimento e sentido de cima para
baixo na segunda parte.

Observando as três velocidades representadas em cada figura, percebe-


se a formação de dois triângulos retângulos e congruentes. E, como é preciso
determinar as duas novas velocidades, duas relações trigonométricas podem ser
utilizadas: seno e cosseno. Logo, tem-se:

vo - velocidade inicial
vox - velocidade horizontal (vox / vo= cosα vox = vo . cosα)
voy - velocidade vertical (voy / vo = senα voy = vo . senα)

Por não sofrer variação de velocidade (desconsiderando a resistência do


ar), vox = vx, o que permite o uso a equação horária do espaço do MU (x = xo + vx.t).
Já voy ≠ vy, pois, como sua direção é vertical, sofrerá influência da gravidade 10.
Portanto, são necessárias as utilizações das equações do MUV, que são:

vy = voy +gt, y = yo + voy . t + gt²/2 e vy ² = v²oy + 2g . (y – yo).

Exemplo:

(Exemplo adaptado) No instante t = 0, o homem-bala é lançado do solo (superfície


horizontal) por um canhão que faz com a superfície um ângulo de 45°. Sabendo que
em módulo v o = 20m/s e g = 10m/s², pode ser determinado, além da altura máxima,
a que distância (x) deve ser colocada a rede de proteção, onde o homem-bala irá
cair. Dados: sen45° = 0,7071 e cos45° = 0,7071.

Resolução:

Para se determinar a altura máxima (y máx) e a distância (x), é preciso


primeiramente calcular o tempo gasto para se chegar a esse ponto mais alto, que
ocorrerá quando vy = 0.

Logo, temos:
10
À medida que a partícula for subindo, sua velocidade irá diminuindo até chegar a zero, ocorrendo o
contrário na descida.
48

voy = vo . senα vx = vo . cosα


voy = 20 . (0,7071) = 14,142m/s vx = 20 . (0,7071) = 14,142m/s

vy = voy +gt1 x= xo + vx . t2
vy = 14,142 – 10t1 x = 0 + 14,142 . t2
0 = 14,142 – 10t1 x = 14,142t2
-14,142 = -10t1
-14,142/-10 = t1
t1= 1,4142s

Com t1 = 1,4142s, a determinação da altura máxima e da distância (x) se


tornam possíveis. No caso da distância (x), o tempo gasto para percorrê-la é 2 t1
= 2,8284s:
y = yo + voy . t1 + gt1²/2 x = 14,142 . 2,8284
y = 0 + 14,142 . 1,4142 - 5 . (1,4142)² x = 40m
y = 20 – 5 . 2
y = 20 - 10
y = 10m

Algo de muito importante que deve ser dito, diz respeito aos ângulos
complementares, pois, em lançamentos oblíquos de mesma velocidade inicial, se
houver relação de complemento entre os ângulos, os alcances serão iguais. Além
disso, o alcance máximo é obtido quando a inclinação do lançamento é de 45°.

Vejamos essas curiosidades:

Aproveitando o exemplo anterior, onde foram feitos cálculos envolvendo


α = 45°, serão calculados - para os ângulos de 30° e 60° - as alturas máximas, os
instantes em que se chegam às mesmas e os alcances. Dados: sen30° = 0,5,
cos30° = 0,866, sen60° = 0,866 e cos60° = 0,5.

Para 30°, temos:

voy = vo . senα vx = vo . cosα


voy = 20 . 0,5 = 10m/s vx = 20 . 0,866 = 17,32m/s

vy = voy +gt1 x= xo + vx . t2
vy = 10 – 10t1 x = 0 + 17,32 . t2
0 = 10 – 10t1 x = 17,32t2
49

-10 = -10t1 x = 17,32 . 2


t1 = 1s (tempo de altura máxima) x = 34,64m (alcance)

y = yo + voy . t1 + gt1²/2
y = 0 + 10t1 – 5 . t1²
y = 10t – 5t1²
y = 10 . 1 – 5 . 1²
y = 5m (altura máxima)

Para 60°, temos:

voy = vo . senα vx = vo . cosα


voy = 20 . 0,866 = 17,32m/s vx = 20 . 0,5 = 10m/s
vy = voy +gt1 x = xo + v x . t2
vy = 17,32 – 10t1 x = 0 + 10t2
0 = 17,32 – 10t1 x = 10t2
-17,32 = -10t1 x = 10 . 3,464
t1 = 1,732s (tempo de altura máxima) x = 34,64m (alcance)

y = yo + voy . t1 + gt1²/2
y = 0 + 17,32t1 – 5 . t1²
y = 17,32t1 – 5t1²
y = 17,32 . 1,732 – 5 . (1,732)²
y = 15m (altura máxima)

Como se nota, o alcance foi maior quando o ângulo media 45°. Além
disso, se verifica a igualdade dos alcances referentes aos ângulos 30° e 60°, pois,
sendo complementares, o seno de um é igual ao cosseno do outro.

3.3.2 – Dinâmica: a utilização do seno e do cosseno

Como a Dinâmica é a parte da Mecânica que estuda os movimentos dos


corpos destacando as causas, seus principais objetos de estudo são as forças
provocadoras de movimentos, que podem ser divididas em duas classes: Forças de
contato, que surgem quando ocorrem contatos entre os corpos e Forças de ação a
distância, como a gravitacional.
50

Falando ainda sobre forças, sabe-se que as mesmas, dependendo do


caso, podem ser decompostas. E, é neste processo, que se utiliza as razões
trigonométricas como ferramentas indispensáveis para o cálculo.

Sendo assim, observe:

Pensemos numa força inclinada em relação à direção do movimento


sendo aplicada em um corpo qualquer, como na figura 24 a.

Na ocorrência de casos como este, pode-se decompor a força em duas


forças perpendiculares entre si (figuras 24b e 24c), que juntas produzem o mesmo
efeito da original, ou seja, somando-se as duas tem-se uma resultante de igual valor.
Não há perdas ou acréscimo.

F F

a) b) Fy β
α

Fx

Fy
c)

Fx

Figura 24 – Representação da decomposição de forças.


Fonte: criação própria.

Para encontrar o módulo dessas duas novas forças, além da força de


origem, será feito uso do seno e cosseno, pois visualizando as três forças (figura
24b), podemos notar dois triângulos retângulos, sendo que um com ângulo (α) e o
outro com β.

Logo:

senα = Fy / F cosα = Fx / F
Fy = F . senα Fx = F . cosα

senβ = Fx / F cosβ = Fy / F
Fx = F . senβ Fy = F . cosβ
51

Com o conhecimento dessas relações entre as forças, pode-se, por


exemplo, calcular a velocidade com que um bloco, ao deslizar (sem atrito) sobre
uma rampa, chega à superfície; apesar de que neste caso a força peso (P) seja
perpendicular à horizontal. No entanto, como o plano é inclinado, a referida força é
inclinada em relação à direção do movimento.

Exemplo:

(Exemplo adaptado) Supõe-se que um bloco qualquer de massa (m) seja


abandonado num ponto de um plano com inclinação de 30°. Desconsiderando o
atrito e sabendo que a distância desse ponto ao plano horizontal é de 10m, serão
determinadas a aceleração do bloco e sua velocidade final ao completar o percurso.

Com o intuito de facilitar a resolução, o problema está representado


abaixo (fig.25):

FN

Px

30° 30°

Py
P
Figura 25 – Movimento de um bloco num plano inclinado.
Fonte: criação própria.

Pela figura acima, vê-se a força peso (P = m . g) sendo decomposta em


duas outras forças (Px e Py), pois é inclinada em relação ao movimento, fazendo
ângulo de 60° com sua direção por ser perpendicular à horizontal. Logo, P faz 30°
com Py, já que esta última faz ângulo de 90° com a direção do movimento e com P x.
Assim, tem-se o seguinte:

Px / P = sen30° Px = P . sen30° e Py / P = cos30° Py = P . cos30°

Como as forças Py e FN (força normal) são opostas, anulam-se por terem


mesmo módulo. De acordo com a Lei da Ação e Reação, enquanto o bloco aplica
uma força (Py) sobre o plano inclinado, este, por sua vez, aplica uma força (F N) de
52

mesma intensidade contra o bloco.

Neste caso, resta apenas a força P x, que, como toda força provocadora
de movimento, pode ser calculada como F = m . a.

Logo:

P = m .g Px = P . sen30°
g = 10m/s² Px = m . g . sen30°
sen30° = 0,5 Px = m . a
m . a = m . g . sen30°
a = g . sen30°
a = 10 . 0,5
a = 5m/s²

De posse da aceleração, o valor da velocidade pode ser encontrado pela


equação de Torricelli:
v² = vo² + 2a ∆s
v² = 0 + 2 . 5 . 10
v² = 100
v = 10m/s

Além da utilização de seno e cosseno no cálculo das forças, esta última


razão também é necessária para determinar o trabalho realizado pelas mesmas
(quando são constantes e provocam movimento retilíneo); bem como para calcular a
potência média empregada na sua realização.

De acordo com Gonçalves e Toscano (1997, v. 1, p. 228) “O trabalho (t)


[...] corresponde ao produto do módulo da componente da força na direção do
deslocamento (Ft) pelo módulo do deslocamento (d).” E, isso é porque as forças
podem ser aplicadas com alguma inclinação em relação ao deslocamento, sendo
aconselhável utilizar essa relação mais abrangente, em vez de simplesmente
F = F . d. Segundo Sampaio e Calçada (2005, p. 108), “o trabalho da força F ( F)

é definido por: F= F . d . cosӨ”.

Observando a figura 26, pode-se entender melhor esta definição, pois,


como se percebe, d é o deslocamento retilíneo do corpo provocado pela força
53

(constante), que forma com este o ângulo Ө.

F F

Ө Ө

d
Figura 26 – Movimento de um corpo.
Fonte: Sampaio e Calçada, 2005.

A força F é inclinada e pode ser decomposta em duas forças; uma com a


direção do movimento e a outra sendo perpendicular a este. Veja a fig. 27:

Fy F

Sendo Fy perpendicular ao movimento,


Ө
seu trabalho é nulo. Assim, resta
Fx
Fx (F x / F = cosӨ Fx = F . cosӨ)
Figura 27 – Decomposição da força.
Logo:
Fonte: criação própria.
F = Fx . d

F = F . d . cosӨ

Para esclarecer melhor a utilização desta fórmula no cálculo do trabalho


de uma força, um exemplo será apresentado.

Exemplo:

(Exemplo adaptado) Suponha que em um corpo qualquer, sobre um plano


horizontal, seja aplicada uma força de 50N, produzindo um deslocamento de 10m.
Desconsiderando a existência de outras forças e sabendo que a mesma faz ângulo
de 30° com o deslocamento, pode-se calcular o seu trabalho. Dado: cos30° = 0,866.

Resolução:

F= F . d . cos30°

F = 50 . 10 . 0,866

F = 433 j (joules)
54

Com relação ao cálculo da potência média, o uso do cosseno se faz


necessário devido ao fato de que a potência média de uma força é a razão entre o
trabalho realizado por essa força e o intervalo de tempo gasto na sua realização.

Pm = F / ∆t

Logo, como F = F . d . cosӨ, Pm = F . d . cosӨ .


∆t
Dessa forma, sendo v m = d / ∆t, temos: Pm = F . vm . cosӨ. E, do exemplo
anterior, supondo que o trabalho tenha sido realizado em apenas 5 segundos, a
velocidade média (vm) será de 2m/s.

Portanto:
Pm = F . vm . cosӨ
Pm = 50 . 2 . cos30°
Pm 86,6 W ( 86,6 j/s)

3.4 - Aplicação do Seno na Óptica

Já foi dito anteriormente que a Óptica é a parte da Física Clássica que


estuda a luz. Logo, a mesma nos explica, por exemplo, porque enxergamos e como
enxergamos. Em outras palavras, pode-se dizer que a Óptica analisa todos os
fenômenos relativos à luz, sendo a refração – fenômeno que será estudado por
requerer a utilização do seno nos cálculos que o envolvem – um deles.

A palavra refração deriva do latim refractus (quebrar em português) e é a


denominação dada ao fenômeno caracterizado pela mudança de velocidade da luz
ao passar de um meio para outro. E, quando ocorre essa mudança, pode haver
alteração na direção dos raios luminosos.

Óculos, projetores de filmes ou de slides, máquinas fotográficas,


binóculos, microscópios e lunetas são instrumentos ópticos que utilizam
lentes de vidro ou plástico transparentes. Essas lentes geralmente
modificam a direção de propagação da luz que passa através delas.
Essa propriedade está associada à mudança de meio em que a luz vem
se propagando, que caracteriza o fenômeno luminoso denominado
refração. (GONÇALVES E TÓSCANO, 1997, v. 2, p. 224)

Na verdade, a velocidade de propagação da luz depende do meio em que


se propaga, ou seja, a luz pode apresentar mais “lentidão” em um meio A que em
55

um B. Assim, quando a mesma passa de um meio material para outro,


possivelmente, ocorre mudança de velocidade, a chamada refração.

Sendo diferentes as velocidades da luz em meios distintos, pode-se


determinar o índice de refração de um material qualquer, que é uma forma de
comparar a velocidade da luz nesse meio material com a velocidade da mesma no
vácuo. Assim, em um material A, por exemplo, o índice de refração para uma cor de
luz definida (cores distintas de luz tem diferentes velocidades em um mesmo meio) é
dado por:

nA = c / vA ; tal que c é a velocidade da luz no vácuo e v A, velocidade da


luz no meio A.

Dado o significado de índice de refração, vamos apresentar, agora, as


leis desta, sendo a segunda lei, por envolver seno, a mais importante para este
estudo.

Observando a figura 28, vê-se o fenômeno refração ser representado.


Note que no meio A, um raio luminoso (incidente), que se propaga fazendo ângulo
ӨA com a normal (reta perpendicular à superfície no ponto de incidência), penetra no
meio B.
i n
ӨA
A

B
.
ӨB r

Figura 28 – Representação da refração.


Fonte: Sampaio e Calçada, 2005.

Ao penetrar no meio B, o raio luminoso (refratado), além de sofrer


variação de velocidade, forma um ângulo ӨB com a normal, tal que ӨB < ӨA. Isso
acontece porque, neste caso, A é menos refrigente que B, ou seja, n A < nB.

Se por acaso A fosse mais refrigente que B, ocorreria o contrário: o raio


refratado se afastaria da reta normal. No entanto, esses desvios na direção da luz,
em qualquer um dos casos, não ocorreriam se o raio incidente formasse ângulo Ө=0
56

com a normal, como na fig. 29.


i

B
r

Figura 29 – Incidência normal.


Fonte: Sampaio e Calçada, 2005.

Como se pode observar nas figuras 28 e 29, tanto o raio incidente, o


refratado e a normal à superfície estão no mesmo plano. E é esta a primeira lei da
Refração.

Quanto à segunda, trata-se da relação constante existente entre os senos


dos ângulos ӨA (meio A) e ӨB (meio B). E afirma que, sendo n A (índice de refração
do meio A) e nB (índice de refração do meio B), nA . senӨA = nB . senӨB.

A referida lei é também conhecida como “lei de Snell – Descartes”, pois,


apesar de algumas dúvidas, o holandês Snell a descobriu e foi Descartes o primeiro
a publicá-la (talvez teve acesso ao trabalho de Snell ou descobriu sozinho essa
relação). E a mesma pode ser assim demonstrada:

Observe a fig. 30:

i i
P P
ӨA ӨA
A ӨA ӨA
B C ӨB D
ӨB

F
Figura 30 – Demonstração da lei de Snell – Descartes.
Fonte: criação própria.

Seja i o raio incidente que se propaga no meio A com velocidade v A e


fazendo ângulo igual a ӨA com a normal no ponto C. O mesmo realiza um
deslocamento P = vA . t .
57

Considerando o meio A menos refrigente que B, v A > vB (velocidade da luz


no meio B). Assim, quando o raio incidente penetra no meio B sua direção é
alterada, de modo que se aproxima da normal (ӨB < ӨA), ou seja, sofre refração.
Além disso, com uma velocidade menor – o agora raio refratado – realiza um
deslocamento CF = vB . t < P = vA . t .

Traçando-se um segmento de reta perpendicular a i, o ângulo entre esse


segmento e a superfície de separação dos meios A e B será ӨA. Da mesma forma,
ao se traçar um segmento de reta de D a F (perpendicular a CF), o ângulo formado
entre DF e a superfície de separação dos meios A e B será ӨB.

Como pode ser observado, houve a formação de triângulos retângulos


com medidas de catetos diferentes. No entanto, as medidas das hipotenusas são
iguais. E isso pode ser observado ao se deslocar i até o ponto D.

Logo:

senӨA = P / CD
senӨB = CF / CD
senӨA / senӨB = P / CF

Como P = vA . t e CF = vB . t , tem-se:

senӨA / senӨB = vA . t / vB . t
senӨA / senӨB = vA / vB

Sendo nA = c / vA e nB = c / vB , 1 / (vA / vB) = (c / vA) / (c / vB) = nA / nB e


1/ (nA / nB) = vA / vB . Assim:

senӨA / senӨB = nB / nA
nA . senӨA = nB . senӨB

Veja agora alguns exemplos em que se utiliza a segunda lei da refração.

Exemplo 1:

(Exemplo adaptado) Imagine que um raio monocromático (única cor), propagando-


se pelo ar, incida sobre a superfície da água com ângulos de incidência e refração
iguais a, respectivamente, 30° e 22°. Calcular a velocidade com que a luz se propa
58

ga na água. Dados: nar = 1; sen30° = 0,5; sen22° = 0,3746.

Resolução:

nA . senӨA = nB . senӨB
nar . sen30° = nágua . sen22°
1 . 0,5 = nágua . 0,3746
0,5 / 0,3746 = nágua
nágua = 1,33

Como nágua = c / vágua, com c = 3,00 . 108 m/s, tem-se:

1,33 = 3 . 108 / vágua,


vágua = 3 . 108 / 1,33
vágua = 225563909,77m/s

Exemplo 2:

(Exemplo adaptado) Seja i um raio monocromático que se propaga em um meio A e


incide no meio B com ângulo de 60°. Determinar a mudança de direção sofrida pelo
raio i ao passar para o meio B. Dados: sen60° = 0,866; n A = 2 e nB = 3.

Resolução:

nA . senӨA = nB . senӨB
2 . sen60° = 3 . senӨB
2 . 0,866 = 3 . senӨB
1,732 = 3 . senӨB
senӨB = 1,732 / 3
senӨB = 0,5773

Então: ӨB = 35°15‟ (ângulo formado entre o raio refratado e a normal).


Logo, a mudança de direção sofrida pelo raio será de -24°45‟ (35°15‟- 60°).

Exemplo 3:

(Exemplo adaptado) Um raio de luz monocromática, propagando-se em um meio C


de nC = 1,5, incide sobre um meio D com ângulo de 45° e refrata-se formando
ângulo 60° com a normal. Dados sen45° = 0,7071 e sen60° = 0,866, pode-se
calcular o índice de refração (ND) do meio D.
59

Resolução:

nA . senӨA = nB . senӨB
nC . sen45° = nD . sen60°
1,5 . 0,7071 = nD . 0,866
1,06065 = nD . 0,866
nD = 1,06065 / 0,866
nD = 1,225

Além de possibilitar a determinação da variação de direção da luz numa


refração (por exemplo), a Lei de Snell – Descartes, através do cálculo dos ângulos
limites dos raios refratados nos meios mais refrigentes, permite que sejam
encontrados – nos mesmos – as zonas onde a incidência de luz resulta em reflexão
total.

Observe:

Sejam A e B dois meios, tal que nA < nB, ou seja, A menos refrigente que
B.

Suponha que um raio monocromático propague-se em A até penetrar em


B, como na figura 31. Note que, se ӨA é o ângulo de incidência e ӨB, o ângulo de
refração, pelo que se sabe, ӨA > ӨB.

i nA < nB
ӨA > ӨB
ӨA
A

B
ӨB

Figura 31 – Diferença entre os ângulos.


Fonte: Sampaio e Calçada, 2005.

Se ӨA for aumentado gradativamente, de acordo com segunda lei da


refração, ӨB também irá aumentar como mostrado nas figuras 32a e 32b.
60

nA < nB
ӨA
A A
.
(a) B B
(b)
ӨB ӨB = L

Figura 32 – O ângulo limite.


Fonte: Sampaio e Calçada, 2005.

Como se pode ver, quando ӨA = 90°, ӨB será o ângulo limite (L), ou


seja, o mesmo será a maior distancia angular que o raio refratado pode ter em
relação à reta normal num meio mais refrigente.

Utilizando a Lei de Snell – Descartes, temos:

nA . sen90° = nB . senL
senL = nA/ nB

Conhecendo o significado de ângulo limite e considerando os mesmos


meios A e B, suponha agora que, em vez de estar se propagando em A, o raio se
propaga em B.

Se o raio incidir em A com ângulo L, este refratará com ӨA = 90°. E se o


ângulo de incidência for maior que L?

Como de B (mais refrigente) para A (menos refrigente) o raio refratado


tende a se afastar da normal, ӨA obrigatoriamente teria que ser maior que 90°, logo
o raio não sairá do meio B, ocorrendo a chamada reflexão total. Em outras palavras,
qualquer raio que incida com Ө > L sobre um meio menos refrigente, não refratará,
mas refletirá.

Veja um exemplo:

(Exemplo adaptado) Sabemos que o índice de refração da água é 1,33 e do ar pode


ser considerado 1. Assim, pode-se calcular o ângulo limite, que, aliás, tem seno
sempre igual à razão entre o índice de refração menor pelo maior.

Então:

senL = nar / nágua


senL = 1 / 1,33
61

senL = 0,752
L = 48°42‟

Como L = 48°42‟, se um raio de luz que se propaga na água incidir no ar


com Өágua = L, este refratará com Өar = 90°. Porém, se Өágua = 70° (por exemplo), o
raio refletirá.

Observe a representação dessa situação na fig. 33:

Ar
.
Água Өágua=L

Өágua=70°

Figura 33 – Reflexão total.


Fonte: criação própria.

3.5 - Ondulatória: o uso do seno

Como o próprio termo indica, a Ondulatória estuda os fenômenos naturais


denominados ondas, que podem ser definidas como “fenômenos periódicos que se
propagam em meios materiais (ou no vácuo) transportando energia”.

Embora possuam propriedades importantes, neste estudo dedicado às


ondas será levada em consideração apenas a propriedade da Refração, devido à
utilização indispensável do seno na sua segunda lei, que acabamos de ver.
Entretanto, antes de se analisar a refração, é importante entender melhor o conceito
de onda.

Veja:

Para exemplificar a definição dada, pode-se considerar a situação


ilustrada na figura 34, onde se tem uma corda esticada com uma de suas
extremidades presa a um ponto fixo e a outra sendo mantida por uma força F.

Se esta força F provocar, na extremidade da corda, um movimento rápido


de sobe e desce, surgirá uma ondulação percorrendo a mesma, ou seja, em toda
62

sua extensão (em cada ponto da corda) ocorrerão os mesmos movimentos. E isso é
uma amostra de ocorrência do transporte de energia, provocado pelo abalo que se
propaga pela corda, já que nem um dos seus pontos move-se sobre esta.

Figura 34 – Onda transportando energia.


Fonte:http://ww2.unime.it/weblab/awardarchivio/ondulatoria/onda.htm#
Ondas%Peri%F3dicas

Um bom exemplo de onda é o movimento feito pela água parada ao ser


atingida por uma pedra, devido o surgimento de um circulo crescente que apresenta
certo relevo.
Esses exemplos que acabaram de ser dados tratam-se de ondas
mecânicas, que se propagam apenas em meios materiais. Porém, existem as ondas
eletromagnéticas – produzidas pelas oscilações de prótons e elétrons – que podem
se propagar no vácuo. E a luz é um exemplo de onda eletromagnética.

Na figura 34 há a representação de uma onda provocada por um abalo


caracterizado por dois movimentos simples, um de subida e outro de descida.
Entretanto, se este abalo ocorrer periodicamente, como na figura 35, a onda será
periódica. Ademais, o tempo gasto pelo abalo para percorrer um comprimento de
onda (distancia do ponto A ao ponto B na figura) é chamado de período T, que é o
inverso da freqüência f (repetição de por segundo) dada em hertz (símbolo Hz).
Assim, tem-se: T = 1/ f; = v . T ou = v / f, com v = velocidade.

A B
A

v
A B
A A

Figura 35 – Onda periódica.


Fonte:http://ww2.unime.it/weblab/awardarchivio/ondulatoria/on
da.htm#Ondas%Peri%F3dicas

Apesar dos diferentes meios de propagação, as ondas mecânicas e mag


63

néticas obedecem à equação do comprimento de onda, que inclusive é utilizado na


adaptação da Lei de Snell – Descartes (demonstrada anteriormente) para o cálculo
da Refração em ondas.

Observe a fig. 36:

λA
n

ӨA
A

B
ӨB
λB

Figura 36 – Representação do comprimento de uma onda em diferentes meios.


Fonte: criação própria.

De acordo com a segunda lei da refração (Lei de Snell – Descartes),


senӨA . vB = senӨB . vA. E, segundo Sampaio e Calçada (2005, p.251), “a onda [...]
refratada têm a mesma freqüência f da onda incidente”. Mas, sendo diferentes as
velocidades nos meios A e B, seus comprimentos de ondas serão diferentes. Logo,
como vA = A . f e vB = B . f , tem-se:

senӨA / senӨB = A. f/ B. f
senӨA / senӨB = A/ B

A partir das relações acima, pode-se solucionar problemas que


envolvem a propriedade da refração nas ondas.

Veja um exemplo:

(Exemplo adaptado) Suponha que uma onda se propague em um meio A e incida


sobre um meio B com ângulo de 45°. Sabendo que esta se refrata fazendo com a
normal um ângulo de 30° e que seu comprimento de onda no meio A é A = 20 cm,
determine o comprimento de onda no meio B ( B). Dados: sen45° = 0,7071 e sen30°
= 0,5.

Solução:
senӨA / senӨB = A/ B
64

sen45° / sen30° = 20 / B

0,7071 / 0,5 = 20 / B

1,4142 = 20 / B

B= 20 / 1,4142
B= 14,142 cm

3.6 - Seno e Cosseno no Eletromagnetismo

O Eletromagnetismo, como outras partes da Física Clássica, tem muita


importância, principalmente devido às contribuições que seus estudos sobre
fenômenos elétricos e magnéticos têm dado para o mundo moderno.

As aplicações do eletromagnetismo revolucionaram toda a tecnologia.


Indústria, iluminação, transportes, computação, entretenimento,
funcionam com base na energia elétrica, na “fada Eletricidade”, como foi
chamada no inicio deste século. (NUSSENZVEIG, 1997, p. 2)

Por se pretender verificar as aplicações de seno e cosseno no


Eletromagnetismo, serão estudados apenas o campo elétrico de duas cargas, a
força magnética e o fluxo magnético.

3.6.1- Campo elétrico de duas cargas

Sabe-se que cargas elétricas, isoladamente ou em conjunto, geram o


chamado campo elétrico, caracterizado pela influência que as mesmas exercem
nos seus arredores.

Convencionalmente, atribui-se ao campo gerado por uma carga negativa


o sentido de aproximação em relação ao corpo detentor da eletricidade. E, terá
sentido de afastamento quando a carga geradora for positiva.

Além de possuir direção e sentido, o campo elétrico pode ser medido, ou


seja, o seu módulo pode ser calculado.

Vejamos:

Se em um determinado ponto P do espaço, nas proximidades de um


corpo com carga Q (geradora de um campo elétrico) for colocado outro corpo
65

(menor) com carga q, surgirá uma força F de atração (se as cargas tiverem sinais
opostos) ou de repulsão (caso as cargas sejam de mesmo sinal). E isto prova a
existência do campo elétrico.

Caso o corpo menor tenha sua carga dobrada (2q), a força F também
dobrará. E se o mesmo for eletrizado com uma carga 4q? Neste caso, F
quadruplicará.

Como a força F tem uma variação diretamente proporcional à alteração


de carga no corpo menor, verifica-se a existência de uma constante, que na verdade
se trata do campo elétrico (E).

Logo:

F/q = 2F/2q = 4F/4q = E


F/q = E

Como se vê, a relação F/q possibilita o cálculo do valor do campo elétrico


num ponto onde este atua, sendo que, neste caso, P é a localização da carga q. No
entanto, é possível fazê-lo sem depender da mesma e da força F; pois, segundo a
lei de Coulomb, a força existente entre duas cargas elétricas puntiformes é
diretamente proporcional ao produto dos seus módulos e inversamente proporcional
ao quadrado da distância que as separa.

Assim, sendo Q a carga geradora do campo elétrico, q a carga de prova


(as duas dadas em Coulomb), d a distancia entre elas e K a constante de
proporcionalidade, que depende do meio onde se encontram as cargas e das
unidades utilizadas, tem-se a seguinte relação para a força elétrica:

F =K . |Q| . |q|

Sendo E = F/q, fazendo a substituição tem-se:

E = (K . |Q| . |q|) /|q|



E = K . |Q|

A relação acima mostra a possibilidade do cálculo do módulo do campo


elétrico em um determinado ponto P utilizando apenas K (com valor no vácuo igual a
66

9 . 109 N m² ), Q e d.

Com o conhecimento de como se determinar o valor do campo elétrico
gerado por uma carga, pode-se agora calcular o módulo de um que seja resultado
de duas cargas elétricas.

Vejamos:

Sejam Q1 e Q2 duas cargas elétricas puntiformes gerando um campo


elétrico. Sabe-se que cada carga gera seu próprio campo. Assim, nessa
circunstância, seu valor em um ponto P será a soma vetorial dos campos gerados
individualmente por cada carga.

Para efeito de entendimento, considere a fig. 37. Nela estão


representadas duas cargas positivas (Q 1 e Q2) e puntiformes gerando cada uma o
seu campo elétrico (E1 e E2).

Como o ponto P sofre os efeitos provocados por E 1 e E2, a intensidade,


direção e sentido do campo elétrico no mesmo serão representados por Eres - vetor
resultante - obtido pela regra do paralelogramo traçado sobre os campos (E 1 e E2),
onde o vetor soma é sua diagonal.

A figura 37 mostra ainda o ângulo Ө formado pelos vetores E1 e E2, que é


utilizado na lei dos cossenos para a determinação do valor de Eres.
Q1 +

E2 P Q2 +
180-Ө
Ө

Eres E1

Figura 37 – Representação de um campo elétrico resultante.


Fonte: criação própria.

Obedecendo à Lei dos Cossenos, demonstrada no capítulo 2, o cálculo


de Eres será dado por:
(Eres)² = (E1)2 + (E2)² - 2 . E1 . E2 . cos (180° - Ө)
67

Exemplo:

(Exemplo adaptado) Duas cargas Q1 = + 5,0 . 10-9 C e Q2 = + 6,0 . 10-9 C geram um


campo elétrico Eres. Sabendo que estas cargas distam de um ponto B,
respectivamente, 0,04m e 0,05m; e que seus campos individuais - com sentido de
afastamento em relação às cargas geradoras - formam um ângulo Ө = 60°, pode-se
determinar a intensidade de Eres no ponto considerado. Dado: K = 9,0 . 10 9 unidades
no SI.

Lembrando: E = K . |Q| /d².

Assim:

E1 = 9 . 109 . 5 . 10-9 / 0,04² E2 = 9 . 109 . 6 . 10-9 / 0,05²


E1 = 28,125 . 103 N/C E2 = 21,6 . 103 N/C

Como (Eres)² = (E1)2 + (E2)² - 2 . E1 . E2 . cos (180° - Ө), tem-se:

(Eres)² = (28,125 . 103)² + (21,6 . 103)² - 2 . (28,125 . 103) . (21,6 . 103) . cos
(180° - 60°)
(Eres)² = (791015625) + (466560000) – 2 . (28125) . (21600) . cos (120°)
(Eres)² = 1257575625 + 607500000
(Eres)² = 1865075625
Eres =
Eres = 43,187 . 103 N/C

3.6.2 - Força Magnética

Força magnética é simplesmente a força de atração ou repulsão exercida


por um campo magnético, que, por sua vez, é gerado por um ímã ou por cargas
elétricas em movimento; e possui direção (determinada pelo equilíbrio da agulha de
uma bússola), sentido (norte- sul) e, evidentemente, possui módulo, ou seja, é um
vetor (representado por B).

Sabe-se que na natureza os campos magnéticos atraem ou repelem


apenas alguns materiais, como cobalto e o ferro, pois possuem propriedades
especiais (ímãs microscópicos). Entretanto, quando uma partícula com carga elétrica
68

move-se com velocidade v em um campo magnético, pode sofrer os efeitos da força


magnética.

Quando uma carga elétrica está em repouso num campo magnético, ela
não sofre ação do campo. Mas, quando ela se move, o campo magnético
que ela cria interage com o campo magnético preexistente, o que faz a
carga elétrica mudar a direção do seu movimento (costuma-se dizer: a
carga elétrica em movimento sofre uma deflexão ao atravessar um
campo magnético). Mas a experiência mostra que, quando a carga
elétrica se move na direção do vetor B (pouco importando o sentido do
movimento), ela não sofre deflexão, pois, neste caso, o campo elétrico
não exerce força sobre a carga elétrica em movimento.
(GONÇALVES, 1978, p.316)

Através de experiências se constatou que, além de ser perpendicular


aos vetores v e B (contidos no mesmo plano), a força magnética (F) tem valor em
módulo simultaneamente proporcional a |q|, v e senӨ (Ө é o ângulo formado entre v
e B, mostrado na figura 38). Isso significa que, por exemplo, se em vez de |q|
tivéssemos |2q|, F teria módulo dobrado. Assim, tem-se:

B α
F / (|q| x v x senӨ) = 2F / (|2q| x v x senӨ) = B Ө
q>0 v

Figura 38 – Disposição dos vetores.


Fonte: Sampaio e Caçada, 2005.

Como se nota, B (a intensidade do campo magnético) é a constante de


proporcionalidade da relação acima descrita. Logo:

F / (|q| . v . senӨ) = B
F = |q| . v . B . senӨ

Fazendo uso dessa relação, se encontra a força magnética, que, sendo


exercida por B, atua sobre q provocando alterações na direção de sua velocidade.

Exemplo:

(Exemplo adaptado) Uma partícula eletrizada, com velocidade igual a 25,0 . 104 m/s,
se move na região de um campo elétrico de B = 1,6 T (tesla). Sabendo que Ө = 90°
e que a carga q = 5,0 . 10-20 C, determinemos a força magnética.
69

Resolução:
F = |q| . v . B . senӨ
F = (5 . 10-20) . (25 . 104) . (1,6) . sen90°
F = 2,0 . 10-14 N

O exemplo exposto mostra que o campo magnético exerce maior força


quando v é perpendicular a B, pois sen90° = 1. Assim, quanto menor o seno, menor
será a força magnética. E, quando Ө = 0 ou Ө = 180° F = 0, pois seus senos são
iguais a zero. Nestes casos, a carga elétrica - de velocidade v - estará se movendo
na mesma direção do campo magnético B, ou seja, não há razão para a existência
da força, pois a mesma surge apenas para alterar direções diferentes em relação à
direção deste.

É importante mostrar que, quando Ө = 0° v tem mesmo sentido de B,


ocorrendo o contrário se Ө = 180°.

Veja a fig. 39:

Ө = 0° B Ө = 180° B
F=0 F=0
v v
q q
B B

Figura 39 – Representação dos sentidos da velocidade de uma carga.


Fonte: Sampaio e Calçada, 2005.

O sentido de F é o mesmo da figura 38, quando a carga é positiva. Se for


negativa, o sentido será oposto.

A fórmula F = |q| . v . B . senӨ, além de possibilitar o cálculo da força


magnética em uma carga q em movimento, determina a intensidade de F em um fio
retilíneo de comprimento L, que contém corrente elétrica de intensidade i fazendo
ângulo Ө com B (mostrado na fig.40). Porém, para isso, é preciso fazer uma
adaptação.

Veja:
v = ∆s/∆t, logo v = L/∆t, pois L = ∆s.

Assim:
F = |q| . (L/∆t) . B . senӨ
70

Como i = Q/∆t, tem-se:


F
F = B . (q/∆t) . L . senӨ
α
F = B . i . L . senӨ
B
Ө
i
q>0

Figura 40 – Força em um fio retilíneo.


Fonte: criação própria.

Exemplo:

(Exemplo adaptado) Sabendo que em um fio de comprimento L = 0,30 m – em uma


área onde atua um campo magnético de intensidade B = 0, 20 T - percorre uma
corrente de intensidade i = 3 A (ampère), pode-se determinar a força magnética
neste fio. Dados: Ө = 30°, sen30° = 0,5.

Resolução:

F = B . i . L . senӨ
F = 0,2 . 3 . 0,3 . 0,5
F = 0,09 N

3.6.3 - Fluxo Magnético

O fluxo magnético pode ser entendido como a “quantidade” de campo


magnético que atravessa uma área S de um circuito elétrico. Em 1831, Michael
Faraday constatou que a variação desse fluxo em materiais capazes de conduzir
eletricidade produzia corrente elétrica, evidenciando, assim, a importância do seu
cálculo.

Para um campo magnético de intensidade B, que atravessa uma área S,


tem-se maior fluxo quando este realiza uma travessia normal (perpendicular) ao
plano da área em questão, mostrado na fig. 41 a. Isso significa que, à medida que o
ângulo Ө – formado entre B e a reta normal – for aumentando de 0° a 90°, o fluxo
magnético (Φ) diminuirá, como cosseno de Ө (fig. 41b e 41c). Além disso, constata-
se que quanto maior a área S ou a intensidade de B, maior será o mesmo, ou seja,
71

há uma evidente relação de proporcionalidade, que pode ser expressa por:


Φ = B . S . cosӨ.

n B n B

S S
(a) (b)

n
Considerando que n seja o raio unitário de
B
uma circunferência trigométrica, e que esteja
Ө
sobre o eixo dos cossenos, verifica-se
facilmente a diminuição do cosseno e,
(c) S
conseqüentemente, do fluxo magnético (Φ).
Figura 41 – Fluxo magnético.
Fonte: criação própria.

Com a relação Φ = B . S . cosӨ, pode-se determinar o fluxo magnético


em um circuito.

Exemplo:

(Exemplo adaptado) Seja S = 2m² a área de uma superfície plana. Sabendo que em
S atua um campo magnético de intensidade B = 1,3 T, e que o mesmo faz ângulo de
45° com a reta normal, calcule o fluxo ( Φ). Dado: cos45° = 0,7071.

Resolução:

Φ = B . S . cosӨ
Φ = 1,3 . 2 . 0,7071
Φ = 1,83846 Wb (weber)

Como vimos, tanto o seno como o cosseno, tem grande utilidade nos
cálculos dos fenômenos estudados pela Física, o que demonstra a importância
dessas razões trigonométricas como ferramentas fundamentais para o
desenvolvimento dessa ciência, bem como para os avanços tecnológicos. Para
deixar mais claro, alguns exemplos podem ser citados:
72

O estudo do movimento oblíquo propiciou o desenvolvimento da


balística;
A reflexão total, calculada a partir da segunda lei da refração, é
aplicada na fibra óptica;
A força magnética é aplicada na construção de motores elétricos;
O fluxo magnético, em geradores eletromagnéticos, é importante para
a produção de eletricidade.
73

Capítulo 4

4 - Questões Resolvidas

Este capítulo, composto de questões11 resolvidas de nível médio, tem


como propósito reforçar o destaque dado anteriormente à importância da Utilização
de Seno e Cosseno como Ferramentas Indispensáveis para a Resolução de
Problemas da Física Básica. Assim, suas questões, que requerem a utilização de
seno e cosseno para serem solucionadas, abrangem as quatro áreas da Física
Básica apresentadas no capítulo anterior: Mecânica, Óptica, Ondulatória e
Eletromagnetismo.

4.1- Mecânica

As questões resolvidas relativas à Mecânica - neste capítulo - tratam de


problemas simples; e, alguns desses, representam situações que podem vir a
ocorrer, mostrando, assim, que além de serem essenciais nos cálculos de alguns
problemas da Mecânica, as razões seno e cosseno são úteis no nosso cotidiano.

1. Um avião comercial – com velocidade 500 km/h em relação ao ar - viaja de uma


cidade A para uma B, que fica a 2000 km de distância a leste de A. Os controladores
de vôo sabem que o vento, soprando com direção sul – norte, tem velocidade de 60
km/h em relação ao solo. Assim, para chegar à cidade B, o piloto terá que inclinar o
avião para a sua direita. Porém, devido a falhas de comunicação entre torre de
controle e piloto, este último não foi informado sobre a direção, sentido e velocidade
do vento; por isso desenvolve um movimento perpendicular à direção deste e sofrerá
uma alteração na sua direção devido o movimento do ar, além de ter velocidade
diferente em relação ao solo. Portanto, após 4 horas de vôo, pousará na cidade C,
situada ao norte de B. Assim, determine a distância (D) entre B e C.

Resolução:

O problema descrito pode ser assim representado:


11
As questões que constam neste capítulo foram produzidas baseadas em questões presentes nas
obras de Gonçalves (1978), Gonçalves Filho e Toscano (1997) e Sampaio e Calçada (2005).
74

C
vSolo
v Vento = 60km/h
α
A
B
vAr = 500km/h

vAr = velocidade do avião em relação ao ar.


vSolo = velocidade do avião em relação ao solo.
vVento = velocidade do vento.
Figura 42 – Representação das velocidades.
Fonte: criação própria.

Empregando a lei dos cossenos pode-se calcular a velocidade do avião


em relação ao solo, utilizada no cálculo da distância de A até C. E, após fazer esses
cálculos iniciais, utiliza-se novamente a lei dos cossenos para determinar D.

Assim... Sendo t = 4h, ∆s = 503,6 . 4 = 2014,4 km

(vSolo)² = 500² + 60² - 2 . 500 . 60 . cos90° D² = 2000² + 2014,4² - 2 . 2000 . 2014,4


(vSolo)² = 250000 + 3600 – 0 . cosα
(vSolo)² = 253600 D² = 4000000 + 4057807,36 – 8057600
(vSolo) = . cosα
(vSolo) = 503,6 km/h D² = 8057807,36 – 8057600 . cosα

Como cosα = 500 / 503,6 = 0,99

D² = 8057807,36 – 8057600 . 0,99


D=
D = 284,22 km

2. Um navio pirata, com seu canhão, ataca outro que está a 600 m de distância.
Considerando que a velocidade inicial da bala seja de 50m/s e que consegue atingir
o outro navio após 14s, determine o ângulo de inclinação em relação à horizontal
que o canhão tem no momento do disparo. Desconsidere a resistência do ar.

Resolução:

De acordo com as informações, o problema trata de um movimento


oblíquo. E, como t = 14s e 600 m é o deslocamento horizontal da bala, para
75

encontrar o ângulo de inclinação basta calcular a velocidade horizontal e utilizar a


equação horária do movimento retilíneo uniforme.

Assim, tem-se:

vx = vo . cosα x = xo + vx . t
vx = 50 . cosα 600 = 0 + 50 . cosα . 14
600 = 700 . cosα
cosα = 600 / 700
cosα = 0,857
α = 31°

3. Numa partida de futebol, um jogador “pouco habilidoso” arrisca de longe um chute


ao gol. Sabe-se que a bola, ao ser chutada, sai do chão com velocidade inicial de 20
m/s e fazendo ângulo de 36° com o solo. Sabendo que o jogador está de frente para
a meta do goleiro e a 50 m desta, descubra se a bola cairá antes, depois ou
diretamente no gol. Dados: g=10m/s²; sen36° = 0,5878; cos36° = 0,8090.
Desconsidere a resistência do ar.

Resolução:

Para calcular o deslocamento horizontal, além de se determinar a


velocidade horizontal, é preciso encontrar o tempo gasto para percorrê-lo, que é o
dobro do tempo da altura máxima. Assim, será necessário também calcular a
velocidade vertical (inicial) e utilizar a equação da velocidade do movimento
uniformemente variado e a equação horária do movimento retilíneo uniforme.

Logo:

voy = vo . senα vx = vo . cosα


voy = 20 . sen36° vx = 20 . 0,8090
voy = 20 . 0,5878 vx = 16,18 m/s
voy = 11,756 m/s

vy = voy +gt1 x = xo + v x . t 2
0 = 11,756 – 10t1 x = 0 +16,2 . 2,3512
- 11,756 / -10 = t1 x 38 m
t1 = 1,1756s
76

Portanto, a bola cairá num ponto do solo que fica antes do gol.

4. Em um parque na praça da cidade, uma criança desliza sobre um escorregador


que faz ângulo Ө = 30° com a superfície e mede 7 m. Considerando g =10 m/s²,
determine a aceleração adquirida pela criança e sua velocidade ao chegar à
superfície. Desconsidere a força de atrito.

Resolução:

Como vimos anteriormente, a aceleração de corpos que deslizam sobre


planos inclinados não depende da massa. Dessa forma, para determinar a
aceleração, utiliza-se apenas o valor da gravidade e o seno do ângulo. E, com o
módulo da aceleração, pode-se determinar a velocidade utilizando-se a equação de
Torricelli.

Logo:

a = g . sen30° v² = vo² + 2a ∆s
a = 10 . 0,5 v² = 0² + 2 . 5 . 7
a = 5 m/s² v² = 70
v=
v = 8,36 m/s

5. Um pequeno bloco de massa m é abandonado no alto de um plano inclinado de


16 m de comprimento e sem atrito. Sabendo que em 5 segundos o bloco percorre
toda a extensão desse plano, calcule o ângulo Ө. Dado: g = 10m/s².

Resolução:

Como na questão anterior, a aceleração pode ser calculada apenas


utilizando-se o módulo da gravidade e o seno do ângulo. E, feito isto, utiliza-se a
equação horária do movimento uniformemente variado para calcular o ângulo Ө.

a = g . senӨ s = so + vo . t + a . t² / 2
a = 10senӨ 16 = 0 + 0 . 5 + 10senӨ . 5² / 2
16 = 125senӨ
senӨ = 16 / 125
senӨ = 0,128
Ө = 7° 21‟
77

6. Numa rodovia estadual, um carro com problemas mecânicos é levado à oficina


mais próxima por um guincho, que aplica uma força F = x com inclinação de 45° em
relação ao deslocamento. Sabendo que o ponto onde o carro começou a ser
guinchado dista 10000 m da oficina, calcule o trabalho realizado pela força F. Dado:
cos45° = 0,7071.

Resolução:

Por se tratar de uma força inclinada em relação ao deslocamento

F = F . d . cosӨ. Logo:

F = x . 10000 . cos45°

F = x . 10000 . 0,7071

F = 7071x

7. Supondo que, da questão anterior, o tempo gasto pelo guincho para levar o carro
até a oficina foi de 30 minutos, determine a potência média da força.

Resolução:

Para calcular a potência média da força é necessário determinar


primeiramente a velocidade.

Veja:

30 min. = 1800s Pm = F / ∆t = F . v . cosӨ


v = 10000 / 1800 Pm = x . 100 / 18 . cos45°
v = 100 / 18 m/s Pm = 100x / 18 . 0,7071
Pm 3,93x W

8. Seja F = 200N uma força inclinada aplicada a um bloco B, que desenvolve uma
velocidade média vm = 1m/s. Sabendo que F atua durante 10 segundos sobre B e
que sua potência média é Pm = 141,42 W, encontre o ângulo de inclinação e calcule
o trabalho da força.

Resolução:

Com os valores de Pm, F e vm pode-se encontrar o ângulo de inclinação


utilizando-se a relação Pm = F . v . cosα. E, para calcular o trabalho, basta utilizar as
78

relações d = v . t e F = F . d . cosα.

Pm = F . v . cosα Como d = v . t = 10 m...


141,42 = 200 . 1 . cosα F = F . d . cosα

141,42 / 200 = cosα F = 200 . 10 . cos45°

cosα = 0,7071 F = 2000 . 0,7071

α = 45° F = 1414,2 J

9. Uma força F de Pm = 150 W e vm = 3m/s, é aplicada com inclinação Ө sobre um


corpo. Sabendo que cosӨ = 0,8, determine a força F.

Resolução:

Com os valores de Pm, vm e cosӨ, para determinar F é suficiente utilizar


Pm = F . v . cosӨ.

Pm = F . v . cosӨ
150 = F . 3 . 0,8
F = 150 / 2,4
F = 62,5 N

4.2 - Óptica

Esta parte do capítulo de questões resolvidas, dedicada à Óptica, é


composta de questões relacionadas ao fenômeno Refração. Portanto, na resolução
de todas houve a utilização da lei de Snell-Descartes.

10. Um raio de luz monocromática, propagando-se pelo ar incide sobre a superfície


de um diamante. Sabendo que o raio incidente faz ângulo Ө = 45° com a normal,
calcule o ângulo que o raio refratado faz com esta. Dados: n ar = 1; ndiamante = 2,42 e
sen45° = 0,7071.

Resolução:

Para solucionar este problema o uso da relação nA . senӨA = nB . senӨB


se faz necessário.
79

NAr . senӨAr = nDiamante . senӨDiamante


1 . sen45° = 2,42 . senӨDiamante
0,7071 / 2,42 = senӨDiamante
senӨDiamante 0,3
ӨDiamante 17°

11. Em um rio com uma camada de gelo de espessura considerável incide um raio
monocromático que faz ângulo de 30° com a normal. Determine variação final
(ângulo final de refração menos o ângulo inicial de incidência) da direção do raio ao
se propagar do ar para o gelo e deste para a água. Dados: n ar = 1; ngelo = 1,31; nágua
= 1,33 e sen30° = 0,5.

Resolução:

Para calcular a variação final da direção da luz é necessário determinar o


seno do ângulo de refração do raio ao passar do ar para o gelo e utilizá-lo para
determinar o ângulo de refração do raio ao passar do gelo para a água.

Veja:

nA . senӨA = nB . senӨB nGelo . senӨGelo = nÁgua . senӨÁgua


nAr . senӨAr = nGelo . senӨGelo 1,31 . 0,38 = 1,33 . senӨÁgua
1 . sen30° = 1,31 . senӨGelo 0,4978 / 1,33 = senӨÁgua
0,5 / 1,31 = senӨGelo senӨÁgua 0,374
senӨGelo 0,38 ӨÁgua 22°

Logo, a variação final foi de - 8°

12. Devido à refração, objetos cobertos pela água são vistos como se estivessem
mais próximos de quem os vê, quando na verdade não estão. Isso ocorre porque os
raios de luz refletidos pelos objetos submersos e que chegam até nossos olhos são
recebidos como se não tivessem sofrido variação alguma, ou seja, enxergamos
apenas na direção final assumida pelos raios. Assim, num tanque cheio de água, um
garoto observa um objeto no fundo e que aparentemente está a 60 cm de
profundidade. Sabendo que o raio refletido pelo objeto - propagando-se pela água -
incide sobre o ar fazendo ângulo com a normal igual a Ө = 30°, determine a
profundidade real (x) do tanque. Dados: nar = 1; nágua = 1,33 e sen30° = 0,5.
80

Resolução:

Devido à complexidade do problema, o mesmo é representado pela figura


43.

n
As linhas pontilhadas da figura
ӨAr representam as profundidades aparente
α ar
Superf. e real. E as linhas verde, vermelha e
α água
60 cm preta representam, respectivamente, os
30° raios incidente, refratado e “fictício” (com
x
deslocamento DF igual ao do incidente).
Figura 43 – Fenômeno refração.
Fonte: criação própria.

Como o objetivo é calcular x, deve-se fazer... Assim...

nA . senӨA = nB . senӨB α = 90° - 41°42‟


nÁgua . senӨÁgua = nAr . senӨAr α = 48° 18‟
1,33 . sen30° = 1 . senӨAr sen48° 18‟ = 60 / DF
1,33 . 0,5 = senӨAr 0,746 = 60 / DF
senӨAr = 0,665 DF = 60 / 0,746
ӨAr 41° 42‟ DF 80,43 cm

Logo:

Sen60°= x / DF
0,866 = x / 80,43
x = 0,866 . 80,43
x 70 cm

13. Calcule o ângulo limite de refração da água quando um raio monocromático,


vindo do ar, incide sobre sua superfície. Dados: n Ar =1 e nÁgua = 1,33.

Resolução:

Para o cálculo do ângulo limite de refração é necessário utilizar na lei


nA . senӨA = nB . senӨB o maior ângulo de incidência possível, que é 90°.

nAr. senӨAr = nÁgua . senӨÁgua


81

1 . sen90° = 1,33 . senӨÁgua


1/ 1,33 = senӨÁgua
senӨÁgua 0,752
ӨÁgua 48° 48‟

14. Considere os meios A e B com índices de refração iguais a n A = 1,5 e nB = 2.


Determine:

a) O ângulo que o raio refratado faz com a normal no meio B, quando um raio
monocromático – vindo de A - incide sobre B com ângulo ӨA = 70°. Dado: sen70°
= 0,9397.

Resolução:

Para a determinação do ângulo de refração utiliza-se a lei nA . senӨA = n B


. senӨB.

nA . senӨA = nB . senӨB
1,5 . sen70° = 2 . senӨB
1,5 . 0,9397 / 2 = senӨB
senӨB 0,705
ӨB 45°

b) O ângulo limite de refração em B e a zona onde ocorrerá reflexão total se um raio


– propagando-se em B – incidir em A.

Resolução:

O ângulo limite de refração sempre é determinado quando se tem o


ângulo de incidência igual a 90°.

Veja:

nA . senӨA = nB . senӨB Como 48° 30‟ é o ângulo limite, a zona


1,5 . sen90° = 2 . senӨB onde ocorrerá reflexão total será o
1,5 / 2 = senӨB conjunto de todos os ângulos x, tal que
senӨB 0,75 x > 48° 30‟.
ӨB 48° 30‟
82

4.3 - Ondulatória

Como as questões relativas à Óptica, as questões relacionadas a


Ondulatória tratam do fenômeno Refração. Assim, a lei de Snell-Descartes foi uma
ferramenta essencial para solucioná-las.

15. Uma onda mecânica – propagando-se em um meio A – incide sobre B com ӨA =


36°. Sabendo que = 15 cm e 10 cm, determine o ângulo de refração em B.
Dado: sen36° = 0,5878.

Resolução:

Como se sabe, para calcular a refração em ondas utiliza-se a segunda lei


da refração. No entanto, de acordo com o capítulo anterior, a uma adaptação dessa
lei envolvendo o comprimento de onda em diferentes meios.

Observe:

senӨA / senӨB = A/ B

sen36° / senӨB = 15 / 10
0,5878 / senӨB = 1,5
senӨB = 0,5878 / 1,5
senӨB 0,392
ӨB 23° 6‟

16. Em um meio A uma onda que se propaga com velocidade v A =10 m/s incide em
B fazendo ângulo com a normal igual a 50°. Sabendo que f = 50 Hz e lembrando da
relação v = . f, determine o comprimento dessa onda (que sofreu variação de
direção igual a -15°) no meio B.

Resolução:

Com os valores de vA, f e da variação de direção, determina-se facilmente


A e ӨB (ângulo de refração), empregados na lei senӨA / senӨB = A / B, que
determinará B (comprimento da onda no meio B).

v= A .f ӨB – 50° = -15° senӨA / senӨB = A/ B


83

10 = A . 50 ӨB = 50° - 15° sen50° / sen35° = 0,2 / B

A = 0,2 m ӨB = 35° 0,766 / 0,5736 = 0,2 / B

B 0,2 / 1,33
B 0,15 m

17. Uma onda se propaga em um meio A com A 16 cm e em B com B = 12 cm.


Encontre o maior ângulo possível de ser formado entre a normal e a onda, após
passar de A para B refratando-se.

Resolução:

Igualmente às questões relacionadas à óptica, para encontrar o maior


ângulo de refração de uma onda em um meio qualquer, deve-se empregar o maior
ângulo de incidência na lei de Snell-Descartes.

Veja:

senӨA / senӨB = A/ B

sen90° / senӨB = 16 / 12
1 / senӨB 1,33
senӨB 1 / 1,33
senӨB 0,752
ӨB 48° 48‟

18. Em um tempo t = 5s, uma onda que se propaga com = 6 cm em um meio A,


percorre 30 m. Sabendo que esta onda, após incidir com ӨA = 30° sobre o meio B,
sofre uma variação de – 10°30‟, calcule o tempo t necessário para que a onda
percorra o mesmo espaço nesse novo meio. Lembre-se: v = . f e v = ∆s / t.

Resolução:

Para calcular o tempo t se faz necessário utilizar a variação de direção


para encontrar ӨB (ângulo de refração); empregar a v = 30/5 para determinar a
freqüência; utilizar a lei senӨA / senӨB = A/ B para obter B (comprimento da onda
em B); empregar B e f para determinar vB; e, finalmente, utilizar o deslocamento
(30 m) e vB na relação vB = ∆s / t. .
84

Veja:

ӨB – 30° = -10° 30‟ senӨA / senӨB = A/ B vB = .f


ӨB = 30° - 10° 30‟ sen30° / sen19° 30‟ = 6 / B vB = 0,04 . 100
ӨB = 19° 30‟ 0,5 / 0,33 = 6 / B vB = 4m /s
vA = .f B 6 / 1,51 vB = ∆s / t.
6 = 0,06 . f B 4 cm 4 = 30 / t
f = 100Hz t = 7,5s

4.4 - Eletromagnetismo

Sendo o Eletromagnetismo uma parte da Física Clássica que estuda


fenômenos elétricos e magnéticos, todas as questões estão relacionadas a
fenômenos elétricos ou magnéticos. Assim, há questões sobre campo elétrico (onde
se utiliza a lei dos cossenos), força magnética (há a utilização do seno) e fluxo
magnético (em que se utiliza o cosseno).

19. Em um triângulo eqüilátero de lado L = 0,04 m foram colocadas, em dois dos


vértices, duas cargas positivas e iguais a 5 . 10 -6 C. Obtenha o módulo do campo
elétrico resultante no terceiro vértice. Dado: K = 9 . 10 9 N m²/ C².

Resolução:

Por se tratar de um triângulo equilátero, o ângulo formado entre os


campos individuais gerados pelas cargas (cada carga gera o seu próprio campo
elétrico) será de 60°. Assim, para obter o módulo do campo elétrico resultante deve-
se calcular primeiramente os campos individuais e empregá-los na lei dos cossenos.

Observe a fig. 44.


-6
Q1 = 5 . 10 C E1 = K . Q1 /d²
60° 0,04 m E1 = 9 . 109 . 5 . 10-6 / 0,04²
E1 = 28,125 . 106 N/C
60° 60° E2
-6
Q2 = 5 . 10 C E2 = 28,125 . 106 N/C
0,04 m 60°

E1 Eres

Figura 44 – Representação do campo elétrico resultante.


Fonte: criação própria.
85

Logo:

(Eres)² = (E1)2 + (E2)² - 2 . E1 . E2 . cos (180° - Ө)


(Eres)² = (28,125 . 106)² + (28,125 . 106)² - 2 . 28,125 . 106 . 28,125 . 106 . cos120°
(Eres)² = 2 . 791015625 . 106 – 2 . 791015625 . 106 . (- 0,5)
(Eres)² = 158203125 . 107 + 791015625 . 106
(Eres)² = 2373046825 . 106
Eres =
Eres 48713928,45 N/C

20. Em um dos vértices - formado por dois lados diferentes - de um triangulo


retângulo e isóscele, se localiza uma carga Q1 = 3 . 10-6 C; e, no centro do maior lado
está a carga Q2 = 1 . 10-6 C. Determine o módulo do vetor Eres no vértice reto,
sabendo que os lados iguais medem 0,05 m cada. Dado: 9 . 10 9 N m² / C².

Resolução:

Sendo um triângulo retângulo e isóscele, os dois lados congruentes,


obviamente, formam um ângulo reto.

Veja a fig. 45.

Como Q2 está no centro do lado


x
45° -6
Q2 = 1 . 10 C maior, E2 divide o triangulo ao
0,05 m
meio. Assim, os dois novos
E1 45° 45°
Q1 = 3 . 10-6 C triângulos retângulos e isósceles
Eres 0,05 m
45°
E2 têm os seus lados iguais medindo
a metade do lado maior (x) do
Figura 45 – Campo elétrico resultante.
Fonte: criação própria.
original.

Logo, empregando-se a lei dos cossenos e calculando E1 e E2 tem-se:

0,05² = (x / 2)² + (x / 2)² - 2 . x / 2 . x / 2 . cos90° E1 = 9 . 109 . 3 . 10-6 / 0,05²


0,0025 = x² / 4 + x² / 4 E1 = 108 . 105 N/C
x² = 0,0025 . 2 E 2 = 9 . 109 . 1 . 10-6 / 0,035²
x= E2 734,693877 . 104 N/C
x 0,07 m

(Eres)² = (E1)2 + (E2)² - 2 . E1 . E2 . cos (180° - Ө)


86

(Eres)² = (108 .105)² + (734,693877 . 104)² - 2 . 108 . 105 . 734,693877 . 104 . cos135°
(Eres)² = 11664 . 1010 + 53977509290129,1129 + 112213516864954
(Eres)² = 282831026155083,1129
Eres =
Eres = 168,1758086 . 105 N/C

21. Duas cargas elétricas (Q1 = 2 . 10-9 C e Q2 = 3 . 10-9 C) distam 0,08 m uma da
outra, pois estão situadas nos vértices da base de um retângulo com esta medida.
Sabendo que a altura do mesmo é de 0,06 m, determine o vetor E res no centro do
retângulo. Dado: 9 . 109 N m²/C².

Resolução:

Para determinar o campo elétrico resultante, além de se utilizar a lei dos


cossenos no cálculo final, deve-se empregá-la para calcular a distância (x) de
qualquer um dos vértices da base ao centro do retângulo e para encontrar o cosseno
do ângulo formado entre os campos individuais gerados pelas cargas (calculados
após a determinação de x).

Observe a fig. 46.


Eres

E2 α
E1
0,06 m
x α x
-9 -9
Q1 = 2 . 10 C Q2 = 3 . 10 C
0,08 m
Figura 46 – Campo elétrico de duas cargas.
Fonte: criação própria.

x² = 0,04² + 0,03² - 2 . 0,04 . 0,03 . cos90° E1 = 9 . 109 . 2 . 10-9 / 0,05²


x² = 0,0016 + 0,0009 E 1 = 7200 N/C
x= E2 = 9 . 109 . 3 . 10-9 / 0,05²
x = 0,05 m E2 = 10800 N/C

0,08² = 0,05² + 0,05² - 2 . 0,05 . 0,05 . cosα


0,0064 = 0,005 – 0,005cosα
cosα = - 0,0014 / 0,005
cosα = - 0,28
87

cos(180° - α) = 0,28

(Eres)² = (E1)2 + (E2)² - 2 . E1 . E2 . cos (180° - α)


(Eres)² = 7200² + 10800² - 2 . 7200 . 10800 . 0,28
(Eres)² = 168480000 – 43545600
Eres =
Eres 11177,4 N/C

22. Uma carga q = 3 . 10-19 C, movimentando- se em um campo magnético com


v = 2 . 104 m/s, sofre os efeitos de uma força F = 42 . 10 -16 N. Sabendo que
B = 1,4 T, encontre o ângulo formado entre v e B.

Resolução:

Com os valores de F, q, v e B, para encontrar o ângulo é suficiente utilizar


F = |q| . v . B . senӨ.

Veja:

F = |q| . v . B . senӨ
42 . 10-16 = 3 . 10-19 . 2 . 104 . 1,4 . senӨ
42 . 10-16 = 8,4 . 10-15 . senӨ
senӨ = 0,5
Ө = 30°

23. Em um campo magnético de intensidade B = 1,2 T, move-se com v = 8 . 105 m/s


uma carga q = 2 . 10-19 C. Determine a força magnética exercida por B sobre a
carga, que corta o campo magnético com ângulo de 60°.

Resolução:

Como são conhecidos os valores de q, v, B e do ângulo entre v e B, a


relação F = |q| . v . B . senӨ deve ser utilizada para determinar F (força magnética).

Observe:

F = |q| . v . B . senӨ
F = 2 . 10-19 . 8 . 105 . 1,2 . sen60°
F = 16,63 . 10-14 N
88

24. Num fio condutor de comprimento L, onde atua perpendicularmente um campo


magnético de B = 0,5 T, percorre uma corrente de 4A (ampère). Determine a força
magnética sobre o fio.

Resolução:

A força magnética será determinada ao se empregar F = B . i . L . senӨ.

F = B . i . L . senӨ
F = 0,5 . 4 . L . sen90°
F = 2L N

25. Um fio retilíneo, medindo 0,40 m, sofre os efeitos de uma força magnética
F = 0,576 N devido a existência de um campo de intensidade B = 0,3 T. Encontre a
intensidade da corrente. Dado: senӨ = 0,8.

Resolução:

Para encontrar a intensidade da corrente deve-se utilizar F = B . i . L .


senӨ, pois são conhecidos os valores de F, B, L e seno de Ө.

F = B . i . L . senӨ
0,576 = 0,3 . i . 0,4 . 0,8
i=6A

26. Uma superfície de área A está sob ação constante de um campo magnético de
B = 1 T. Calcule o fluxo magnético quando:

a) B formar ângulo de 60° com a superfície de A = 0,5m².

b) B formar ângulo de 50° com a normal à superfície de A = 0,5m².

c) B formar ângulo de 30° com a normal à superfície de A = 0,3m².

Resolução:

O fluxo magnético é obtido quando se utiliza Φ = B . S . cosӨ, onde B é a


intensidade do campo magnético, s é a área da superfície atingida pelo campo e Ө é
o ângulo entre a normal e a direção do campo magnético.
89

Veja:

a) Φ = B . S . cosӨ
Φ = 1 . 0,5 . cos30°
Φ 0,43 Wb

b) Φ = B . S . cosӨ
Φ = 1 . 0,5 . cos50°
Φ 0,32 Wb

c) Φ = B . S . cosӨ
Φ = 1 . 0,3 . cos30°
Φ 0,26 Wb

Como se percebe, há uma série de problemas da Física Básica que são


solucionados com o auxílio indispensável das razões seno e cosseno e suas leis.
90

Considerações Finais

As razões trigonométricas – principalmente seno e cosseno – como a


Matemática no seu todo, devem ser entendidas como técnicas para serem aplicadas
em outras áreas do conhecimento, não se limitando apenas à própria Matemática.

Assim, o trabalho desenvolvido – além de mostrar as aplicações da


Trigonometria no passado - revelou a utilização dessas técnicas em uma das mais
importantes ciências do Mundo Moderno, a Física.

De acordo com os resultados da pesquisa bibliográfica, vê-se que a


Trigonometria sempre foi uma ferramenta matemática útil. Ademais, seu
desenvolvimento se deve às necessidades de aplicações práticas, o que comprova,
dessa forma, seu valor como conjunto de técnicas solucionadoras de problemas
desde a sua origem. E, algumas aplicações históricas da Trigonometria, relatadas no
trabalho, podem ser destacadas:

Há mais de três mil anos, como foi mostrado, os egípcios já utilizavam a


cotangente na determinação da inclinação de suas pirâmides e para calcular
o tempo;
Por volta do século VI a. C, Tales de Mileto, importante matemático, chegou
a utilizar os conhecimentos trigonométricos de que dispunha para calcular as
alturas das pirâmides egípcias;
Aproximadamente no ano 260 a. C, Aristarco de Samos calculou – utilizando-
se da Trigonometria - a distância do sol à Terra em comparação com a
distância Terra/Lua. Além disso, determinou as dimensões proporcionais da
lua e sol, tendo como base o tamanho do planeta Terra;
Por volta do século III a. C, Eratóstenes de Cirene, por meio do cálculo de um
simples ângulo, determinou a circunferência da Terra.

As aplicações históricas da Trigonometria, destacadas acima, são apenas


exemplos comprobatórios da utilidade dessa ferramenta matemática, pois a história
mostra que essa área dos conhecimentos matemáticos teve papel de destaque no
desenvolvimento dos estudos astronômicos. Astrônomos como Hiparco de Nicéia e
Cláudio Ptolomeu de Alexandria desenvolveram a Trigonometria justamente para
91

aplicá-la na Astronomia. Por isso, pode-se afirmar que a Astronomia favoreceu o


desenvolvimento da Trigonometria e vice-versa.

Como vimos, a Trigonometria foi importante no passado, assim como é


bastante relevante para Física e outras áreas do conhecimento nos dias de hoje.
Ademais, mostrar a utilidade da Trigonometria – particularmente seno e cosseno –
para a Física Básica foi o principal objetivo desse trabalho.

E, sendo a Física uma ciência importante para o Mundo Moderno por


estar alicerçada no fato de que seu desenvolvimento se traduz em avanços
tecnológicos, mostrar que uma determinada ferramenta matemática é importante
para o seu desenvolvimento é também mostrar que esta ferramenta é útil para o
Mundo Moderno. Esse é o caso de seno e cosseno, utilizados na Física Básica.

A Física Básica, também chamada de Física Clássica, se divide em cinco


áreas de atuação. No entanto, neste trabalho, somente quatro foram estudadas, pois
são nessas áreas que se verificam as aplicações de seno e cosseno.

Na Mecânica, que trata dos movimentos dos corpos, vimos seno e


cosseno serem utilizados, por exemplo, nos cálculos envolvendo movimento oblíquo,
importante para o desenvolvimento da balística.

Na Óptica (estudo da luz) e na Ondulatória (estudo das ondas) o seno é


indispensável para o cálculo da Refração, fenômeno utilizado na fabricação de
instrumentos ópticos.

No Eletromagnetismo, que estuda fenômenos elétricos e magnéticos, o


seno e o cosseno são essenciais nos cálculos de campo elétrico, força magnética e
fluxo magnético, que é importante para a produção de eletricidade.

Logo, sendo tão úteis para a Física, tanto o Seno como o Cosseno tem
parcela de contribuição para os avanços tecnológicos, ou seja, essas ferramentas
são úteis para o Mundo Moderno. Em outras palavras, as razões trigonométricas –
Seno e Cosseno – estão presentes em nossas vidas mais do que imaginamos.
92

REFERÊNCIAS

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descobrir: novo. São Paulo: FTD, 2000.

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Paulo: Atual, 2004. (coleção matemática: ciências e aplicações).

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93

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Matemática. __. São Paulo: Scipione, 2005.
94

Universidade do Estado do Pará


Núcleo Universitário Regional do Baixo Tocantins
Curso de Licenciatura Plena em Matemática
Rodovia PA 150, KM 02 s/n
Moju - PA

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