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VIII Jornada de Iniciação Científica do INPA .

21 a 23 de Julho de 1999 • Manaus - AM

FLO-04

ESTOQUE DE CARBONO DA VEGETAÇÃO DE CINCO SÍTIOS


COBERTOS POR FLORESTAS PRIMÁRIAS DA AMAZÔNIA
BRASILEIRA

Marilane Nascimento Irmão (I) ; Niro Higuchi (2)


Bolsista CNPq/PIBIC
(I) ; (2) Pesquisador INPA/CPST.

Depois da Convenção do Clima. assinada por mais de 160 países durante a Rio-92, e
conseqüente regulamentação através do Protocolo de Kyoto em dezembro/97, a Amazônia
passou também a despertar a atenção global por causa do estoque de carbono existente na
biomassa viva de suas florestas e pelas altas taxas de desmatamento. A motivação concreta
para esses instrumentos de medida foi a quantidade de carbono emitida anualmente pelo
planeta Terra, durante o período de 1980-1989, em torno de 7 bilhões toneladas (Hougthon,
1994), dos quais. 1,6 bilhão eram exclusivamente do uso do solo. Se 7 bilhões fizeram o
mundo todo mobilizar-se para entender e tentar resolver os problemas causados por essas
emissões, é fácil explicar a preocupação global sobre uma região, como a Amazônia, que tem
um estoque estimado em 54 bilhões toneladas de carbono na floresta em pé (Carvalho lr. et
al., 1998).
Entre os compromissos assumidos pelo Brasil, sob a Convenção do Clima, o mais
importante e o mais urgente é: "elaborar, atualizar periodicamente, publicar e facilitar aos
signatários, inventários nacionais das emissões antrópicas pelas fontes e da absorção pelos
sumidouros de todos os gases de efeito estufa. utilizando metodologias comparáveis."
Para as questões ligadas às emissões via combustível fóssil, a situação está bem
equacionada; o Brasil tem estatísticas confiáveis da produção, do consumo e da concentração
de carbono nos diferentes subprodutos do petróleo. O grande desafio é o uso do solo. Na
Amazônia, tanto para a fonte como para os sumidouros, as estatísticas são ainda insuficientes.
Além disso, o país ainda tem que resolver as questões ligadas às taxas de desmatamento e os
estoques de carbono das florestas primárias da região.
As estimativas de biomassa florestal são informações imprescindíveis para estimar o
estoque de Carbono, que por sua vez, são utilizados para estimar a quantidade de CO2 que é
liberada à atmosfera durante a transformação de matas primárias em outros tipos de uso do
solo. (Higuchi et al, 1998). Há vários modelos estatísticos para estimar a biomassa fresca
acima do nível do solo, em vários pontos da região amazônica (Higuchi et al., 1998, Santos,
1996 e Araújo et al., 1998). Além disso, as informações sobre concentrações de água e

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carbono na madeira, estão disponíveis e são bastante consistentes (Higuchi e Carvalho Jr.,
1994).
Dessa forma, para a obtenção das estimativas dos estoques de carbono da Amazônia.
são necessários representativos inventários florestais. em diferentes pontos da região. Este
trabalho pretende ajudar o Governo Brasileiro a cumprir o compromisso do inventário
nacional. com o fornecimento de estimativa do estoque de carbono de florestas primárias, de
algumas regiões da Amazônia brasileira. Essas estimativas foram obtidas com a utilização de
bancos de dados de inventários florestais executados pelo grupo de manejo florestal do INPA,
nos anos 80. Esses inventários florestais foram executados visando, principalmente, o estudo
de viabilidade econômica de projetos de desenvolvimento, ressaltando, porém, que nenhum
desses trabalhos foi executado com o objetivo específico de estimar a biomassa tlorestal. É
importante também ressaltar que os estoques estimados por este trabalho são válidos para os
anos em que as coletas de campo foram realizadas.
Os dados usados neste trabalho são provenientes de um banco de dados de cinco
inventários realizados nos anos 80, nas áreas de UHE 8albina (AM), PDRII Acre (AC),
Trombetas (PA), Projeto de Colonização Rio Arinos (MT) e Termelétrica de Manacapuru
(AM). Nas cinco áreas inventariadas foram selecionadas apenas as árvores com DAP 2: 20
em, envolvendo 20.612 indivíduos em 237 amostras, sobre uma área total amostrada de 118,5
ha de florestas primárias. As estimativas de biomassa fresca acima do nível do solo foram
obtidas de forma indireta usando um modelo estatístico desenvolvido por Higuchi et al
(1998):
Ln P = -0,151 + 2,170 ln D; para DAP 2: 20 em.
O modelo usado tem apenas o DAP como variável independente, que é uma variável
fácil de ser medida no campo. O único problema deste modelo é que o peso será sempre o
mesmo para um determinado diâmetro, independentemente da altura, da espécie e de outros
atributos da árvore.
De posse do peso fresco, que foi o valor encontrado no final de cada amostra, o passo
seguinte foi transformar a biomassa em carbono usando as concentrações encontradas por
Higuchi e Carvalho Jr. (1994), que com base na análise dos discos coletados para estudos de
nutrientes e de CO2, o peso seco representa em média 60% (s = 7,5) do peso fresco, ou seja,
do peso total de uma árvore em pé 40% é água. Ainda com base neste trabalho usou-se como
média aritmética do teor de carbono 48,5%. Este valor está muito próximo das estimativas de
teor de carbono contidas na literatura pertinente, que é de 50% (Foster Brown, 1992).

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As estimativas dos estoques de carbono da vegetação das cinco áreas inventariadas são
sumarizadas no Quadro abaixo:

Localidade Amostragem N° de Amostras Área Basal Carbono (tlha) . Desvio

(ha) (m2/ha) Padrão

UHE Balbina 60 120 29 121 18,6

PDRlIAcre 15 30 18 117 33,7

Trombetas 26,5 53 23 116 16,4

Rio Arinos 7 14 14 86 19,0

CEAM 10 20 17 105 16,1

Total 118,5 237

Média 109 20,8

Quadro 1: Estimativas de estoque de carbono das áreas inventariadas.

Usando as médias estimadas e a intensidade de amostragem de cada sítio (Quadro 1), a


média ponderada é de 116, ou seja, o estoque médio de carbono para a Amazônia é de 116
t/ha ± 20. Segundo Higuchi e Carvalho Jr. (1994), as árvores com DAP ;:::20 em contribuem
com 70% da biomassa total da vegetação arbórea acima do nível na região de Manaus,
proporção que pode ser diretamente traduzi da para o carbono. Para este estudo, então, o
estoque médio de carbono de toda a vegetação que ocorre acima do nível do solo passa a ser
de 150 t/ha, podendo ser comparado com os estoques apresentados por Schroeder e Winjum
(1995), de três autores diferentes, que são 200,191 e 137 t/ha, para toda a floresta amazônica
não alterada.
° estoque médio de carbono entre os cinco sítios inventariados é de 116 t/ha ± 20.
Esta estimativa é bastante conservadora e, na ausência de trabalho mais compreensivo e
abrangente, poderia ser usada como referência para a Amazônia coberta com floresta densa de
terra- firme.

ARAÚJO, T.M.; HIGUCHI, N. ; CARVALHO, JR., J.A. 1998. Comparison of Formulae for
Biomass Content Determination in a Tropical Rain Forest in the State of Pará, Brazil.
Forest Ecology and Management 117:43-52.
FOSTER BROWN, L; NEPSTAD, D. c., PIRES, L O; LUIZ, L.M.; ALECHANDRE, A. S.
1992. "Carbon storage and land-use in extractivve reserves, Acre, Brazil". ln
Environmental Conservation/19(4), pp. 307-315.

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HIGUCHI, N. ; CARVALHO.JR. J. A. 1994. Fitomassa e Conteúdo de Carbono de Espécies


Arbóreas da Amazônia. In: Seminário Emissão x Sequestro de C02: Uma Nova
Oportunidade de Negócios para o Brasil. Anais. Rio de Janeiro. Companhia Vale do Rio
Doce. p. 127 - 153.
HIGUCHI, N.; SANTOS, J. M. DOS; IMANAGA, M.; YOSHIDA, S. 1994. Aboveground
Biomass Estimate for Amazonian Dense Tropical Moist Forests. Memoirs of the Faculty
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HIGUCHI, N.; SANTOS, J. DOS; RIBEIRO, R. J.; MINETTE, L. J.; BIOT, Y. 1998.
Biomassa da Parte Aérea da Vegetação da Floresta Tropical Úmida de Terra -:-Firme da
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SALOMÃO, R. DE P.; NEPSTAD, D. C.; VIEIRA, I. C. G. 1996. Como a biomassa de
florestas tropicais influi no efeito estufa. Ciência Hoje, 21(122): 38-47.
SANTOS, 1. DOS. 1996. Análise de Modelos de Regressão para Estimar a Fitomassa da
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Universidade Federal de Viçosa. 121p.
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