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Arsênio no Brasil e Exposição Humana

ARSÊNIO NO BRASIL E
EXPOSIÇÃO HUMANA
1
Bernardino Ribeiro Figueiredo, berna@ige.unicam.br
2
Ricardo Perobelli Borba, borba@iac.sp.gov.br
3
Rômulo Simões Angélica, rsa@ige.unicamp.br
1
Instituto de Geociências/UNICAMP
2
Instituto Agronômico de Campinas
3
Centro de Geociências/UFPA

INTRODUÇÃO incluindo hiperqueratose, câncer de pele, câncer pulmo-


nar, distúrbios do sistema nervoso, aumento da freqüên-
O interesse de cientistas e da opinião pública sobre cia de abortos espontâneos e outras doenças graves
contaminação humana por arsênio vem crescendo após (Abernathy et al., 1997).
a divulgação das tragédias de Bengala Ocidental, Ban- Os casos de intoxicação mais graves por arsênio
gladesh, México e outros países do mundo. Nos inventá- ocorreram em Bengala Ocidental, Bangladesh e, na
rios publicados sobre exposição ambiental e humana ao América Latina, no México, Chile e Argentina. Esses ca-
arsênio dificilmente é encontrada referência ao Brasil de- sos graves foram causados, em geral, por consumo de
vido à carência de pesquisas sobre o tema no país. água subterrânea contaminada, extraída de aqüíferos
O arsênio é um metalóide de baixa concentração em formações geológicas arseníferas de grandes exten-
média na Crosta (1,8 ppm) e ocorre numa variedade de sões (Smedley & Kinniburgh, 2002).
tipos de depósitos minerais, principalmente na forma de Até o momento, estudos integrados do ambiente e
arsenopirita (FeAsS) e pirita arsenífera. Essas fases mi- exposição humana ao arsênio foram realizados apenas
nerais podem alterar-se a arsenatos e sulfoarsenatos em em três áreas no Brasil. Na Figura 1 estão indicadas es-
superfície, o arsênio pode ser parcialmente liberado sas áreas: (i) o Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, onde
para as águas e ainda imobilizado via adsorção em óxi- uma grande quantidade de arsênio foi liberada para dre-
dos-hidróxidos de ferro, alumínio e manganês ou em mi- nagens, solos e atmosfera como resultado da mineração
nerais de argila. secular de ouro; (ii) o Vale do Ribeira, Paraná e São Pau-
Nas águas, as formas mais comuns são oxiânions de lo, onde a liberação de arsênio para o ambiente ocorreu
As(V), em condições de Eh alto a moderado, e de As(III) devida à atividade de mineração e refino de metais no
em condições mais redutoras. A concentração de As em Alto Vale, e também naturalmente, a partir do intemperis-
água potável, segundo a Organização Mundial da Saúde, mo de rochas e formação de solos ricos em As, no Médio
não deve exceder 10 mg/L, valor adotado também pelo Vale; e (iii) Santana, Amapá, onde o arsênio esteve asso-
Ministério do Meio Ambiente do Brasil para água superfi- ciado ao minério de manganês que foi lavrado nos últi-
cial propícia a tratamento para consumo humano, confor- mos 50 anos na Serra do Navio.
me estabelece a Resolução 357 do CONAMA de 17 de Nessas três áreas foram realizados estudos de ava-
março de 2005 (http://www.mma.gov.br/port/conama/res/ liação de exposição humana incluindo análises de con-
res05/res35705.pdf). centrações de As em urina de crianças e adultos em
O arsênio é uma substância carcinogênica sendo a cinco municípios do Vale do Ribeira e duas cidades no
forma inorgânica a mais nociva ao homem. A toxicidade Quadrilátero Ferrífero, além de determinações de As em
das espécies de As(III) é considerada várias vezes su- cabelo e sangue de residentes em Santana.
perior à das espécies de As(V). A via mais comum de ex- Por outro lado, estudos integrados de fontes não
posição humana é através do consumo de água conta- pontuais de arsênio, como formações geológicas ou
minada, porém a inalação de gases e ingestão de pó po- grandes aqüíferos rasos, descritos em outras partes do
dem ser também importantes. A exposição crônica ao As mundo (Smedley & Kinniburgh, 2002) ainda não foram
pode causar sérios problemas metabólicos às pessoas, realizados no Brasil.

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Bernardino Ribeiro Figueiredo

Figura 1 – Mapa de localização das áreas de estudo e unidades geológico-tectônicas do Brasil.

O objetivo deste trabalho é o de reunir a informação ano e os parâmetros físico-químicos de qualidade de


disponível sobre essas três áreas contaminadas e outros água foram medidos in situ. As concentrações de As fo-
dados sobre ocorrências de As, colhidos da literatura, e ram determinadas por HG-AAS e as composições totais
contribuir para a discussão dos processos geoquímicos (cátions e ânions) por ICP-OES e cromatografia iônica.
superficiais que parecem favorecer a mitigação e atenu- Procedimentos similares foram efetuados para amostras
ação dos riscos de exposição da população ao arsênio de águas de fontes naturais, drenagens de minas e água
em regiões tropicais e subtropicais. de torneira das residências.
As amostras de sedimentos e solos foram secadas
MATERIAIS E MÉTODOS naturalmente, homogeneizadas e peneiradas em tela de
nylon. Os sedimentos foram analisados na fração granu-
Nas três áreas enfocadas neste trabalho foram estu- lométrica <63 mm e os solos na fração <177 mm por FRX
dadas as composições de águas superficiais e sedimen- e, no caso dos teores de As em sedimentos de Santana,
tos de corrente amostrados em diferentes períodos de também por HG-AAS. As exatidões analíticas foram con-
1998 a 2003. As amostras de água filtrada (millipore 0,45 troladas mediante análise simultânea de materiais de re-
mm) foram coletadas em pelo menos duas ocasiões por ferência certificados.

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Arsênio no Brasil e Exposição Humana

Amostras de primeira urina da manhã, coletadas en- que amostras coletadas nas proximidades de minas e de-
tre residentes no Vale do Ribeira, foram analisadas (Sa- pósitos de rejeitos podem apresentar até 350 µg/L As e
3+ 5+
kuma, 2004) para As (As + As + MMA + DMAA) por amostras de águas de minas, até 3.000 µg/L As.
geração de hidreto acoplado a absorção atômica por Em 1998, uma campanha de monitoramento humano
sistema de injeção de fluxo, no Instituto Adolfo Lutz (São foi realizada em populações de crianças em idade esco-
Paulo), segundo procedimento recomendado por Guo et lar (7-12 anos) nos municípios de Santa Bárbara e Nova
al. (1997) e utilizando material de referência certificado Lima, utilizando arsênio em urina como bioindicador
NIST 2670 (0.06 mg/mL As). (Matschullat et al., 2000). A concentração média de As em
As concentrações de As em amostras de urina, co- urina de 126 amostras foi 25,7 µg/L As e 20% das crian-
letadas no Quadrilátero Ferrífero, referem-se a As inorgâ- ças examinadas apresentaram mais de 40 µg de As inor-
nico total, determinado por HG-AAS (Matschullat et al., gânico total por litro de urina, limiar, acima do qual, efeitos
2000). No Instituto Evandro Chagas, amostras de san- adversos à saúde em longo prazo não podem ser excluí-
gue e cabelo, provenientes de Santana, foram analisa- dos. A via de exposição ao arsênio mais provável teria
das em forno de grafite utilizando-se correção de back- sido o contato com solo e poeira, visto que as concentra-
ground Zeemann (Santos et al., 2003). ções de As em água potável revelaram-se bem inferiores
a 10 µg/L (limites estabelecidos pelo Ministério da Saúde
RESULTADOS e Organização Mundial da Saúde para água potável).
Campanhas de monitoramento levadas a efeito nas
Nas três áreas onde foram realizados estudos inte- mesmas escolas nos anos subseqüentes revelaram va-
grados de geoquímica ambiental e exposição humana lores médios inferiores aos de 1998 sendo que a porcen-
ao arsênio podem ser identificados processos induzidos tagem de crianças com concentrações acima de 40 µg/L
por atividades de mineração e metalurgia. Porém, no As em urina não excederam 5% da população amostra-
Vale do Ribeira, além dos impactos provocados pelas da em 2002 (Matschullat, 2004, comunicação oral).
atividades industriais no Alto Vale, também é considera-
da a ocorrência da anomalia geoquímica de As, corres- Arsênio no Vale do Ribeira (PR-SP)
pondente à associação de rochas e solos da Unidade Pi- O Vale do Ribeira estende-se desde o nordeste do
ririca (Grupo Açungui) caracterizada em estudos anteri- Paraná até o litoral sul do estado de São Paulo abrigando
ores da CPRM (1982) e Perrota (1996). grande parte da Mata Atlântica remanescente e um im-
portante reservatório de água doce da Região Sudeste
Arsênio no Quadrilátero Ferrífero (MG) do país.
O Quadrilátero Ferrífero é a província aurífera mais Durante o século 20, a região do Alto Vale abrigou
importante do Brasil, respondendo por uma produção de várias minas de Pb-Zn-Ag em operação, bem como uma
ouro de cerca de 600 t nos últimos 300 anos. O minério de planta de refino de chumbo (Plumbum), instalada no mu-
ouro contém arsênio em minerais como arsenopirita e löl- nicípio de Adrianópolis (PR), em operação no período de
lingita ou como impureza em pirita. As litologias compre- 1945-1995. As mineralizações principais da região conti-
endem metabasaltos, formações ferríferas bandadas me- nham quantidades significativas de arsênio (arsenopirita
tamorfizadas, xistos e granitóides que apresentam altera- e tennantita), em especial nas jazidas filonares de Pane-
ção carbonática importante nas proximidades dos depó- las e Furnas, hospedadas em calcários dolomíticos de
sitos. Esses terrenos de idade arqueana e paleopro- idade mesoproterozóica.
terozoica representam uma importante anomalia geoquí- No Médio Vale, entre as cidades de Iporanga e Ita-
mica de As na porção sul do Cráton São Francisco. A con- peúna, estende-se a Unidade Piririca, de idade meso-
tribuição das atividades de mineração e metalurgia aos proterozóica, constituída de xistos e rochas metabási-
processos de liberação de As para o ambiente vem sen- cas, hospedeiras de filões de quartzo, ouro e sulfetos (in-
do estudada por vários autores como Oliveira et al. cluindo arsenopirita). Concentrações elevadas de As em
(1979), Borba et al. (2000), Deschamps et al. (2002), Bor- sedimentos de corrente e solos delimitam uma faixa de
ba et al., (2003) e Borba & Figueiredo (2004), entre outros. direção NE (CPRM, 1982; Perrota, 1996), que representa
Em toda a região, as concentrações de As nos sedi- uma anomalia natural de arsênio, visto que na área a mi-
mentos de corrente (<63 µm) são elevadas, podendo atin- neração moderna não chegou a ser implantada.
gir até 4.000 mg/kg As nas proximidades das minas, en- Campanhas de monitoramento humano para arsênio
quanto que as águas superficiais raramente apresentam foram realizadas em cinco municípios, distribuídos nas re-
concentrações superiores a 50 µg/L As, na época o limite giões do Alto Vale (1999-2001) e do Médio Vale (2001-
estabelecido pela legislação para águas não tratadas. 2003). Foram determinadas as concentrações de As em
Poucas amostras de águas de fontes naturais também urina, coletada no início da manhã, entre crianças e adul-
apresentam baixas concentrações de arsênio, enquanto tos (Sakuma, 2004). A população da cidade de Cerro Azul

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Bernardino Ribeiro Figueiredo

(PR), localizada fora da área sob a influência da minera- caram teores de até 345 mg/kg As em sedimento de cor-
ção e distante da anomalia natural de arsênio, foi escolhi- rente (Toujague, 1999). Solos ricos em arsênio e metais
da como grupo de referência. Entre as comunidades resi- pesados também ocorrem na Faixa Piririca, resultantes
dentes na área de mineração do Alto Vale, aquela que do intenso intemperismo químico que afetou rochas e
apresentou as medianas mais altas de As em urina (8,94 mineralizações arseníferas. Abreu & Figueiredo (2004)
mg/L As em crianças, n=89, e 8,54 mg/L As em adultos, encontraram concentrações de 25 a 754 mg/kg As em
n=86) foi a do Bairro da Serra, município de Iporanga, lo- solo superficial (profundidade 0-30 cm) na área.
calizado nas proximidades da mina Furnas e do Ribeirão
Betari, conhecido pelas altas concentrações de arsênio e Arsênio em Santana (AP)
chumbo em sedimentos à época da mineração. No Amapá, o arsênio ocorre em arsenopirita associa-
No Médio Vale foram monitoradas seis comunidades da a formações manganesíferas, de idade pré-cambria-
residentes e as concentrações médias de As em urina de na, lavradas por mais de 50 anos na famosa mina de Ser-
crianças e adultos variaram entre 2,24 e 11,35 mg/L As ra do Navio. A fonte de arsênio não se localiza na mina,
como indicado na Tabela 1 onde constam também as me- mas no município de Santana, 350 km distante, às mar-
dianas de Cerro Azul e do Bairro da Serra para efeito de gens do Rio Amazonas, onde o minério de manganês era
comparação (Sakuma, 2004 e De Capitani et al., 2005). processado e embarcado. Nessa localidade, minérios e
Embora as concentrações de arsênio em urina não rejeitos expostos ao ar livre podem conter até 0,17% As e
possam ser consideradas elevadas, observa-se que al- água subterrânea coletada em poços de monitoramento
guns teores médios guardam diferença estatisticamente próximos a esses depósitos exibem concentrações altas
significante com os resultados obtidos para o grupo de de arsênio de até 2.000mg/L.
referência de Cerro Azul (3,60 mg/L As em crianças, Estudos geoquímicos, levados a efeito na área
n=73 e 3,87mg/L As em adultos, n=83). No Médio Vale, (Lima, 2003), revelaram concentrações de As em águas
as medianas mais altas foram obtidas para as popula- superficiais entre 5 e 231mg/L As (2001-2002) mas a mai-
ções de Galvão, São Pedro, Ivaporunduva e Castelha- oria dos valores abaixo de 50 e 10mg/L As. Amostras de
nos, coincidentemente, as localizadas mais próximas da sedimento fluvial e material de suspensão apresentaram
anomalia de arsênio do Piririca, enquanto que as media- teores variando de 1.600 a 696 mg/kg As. Por outro lado,
nas mais baixas foram obtidas para as comunidades as concentrações em águas de torneira das residências
mais afastadas da anomalia geoquímica. não ultrapassaram 0,5mg/L As.
A qualidade das águas superficiais do Rio Ribeira e A população local, cerca de 2.000 pessoas, foi ava-
tributários na região do Médio Vale foi monitorada no pe- liada para exposição ao arsênio utilizando-se análises
ríodo de 2001-2003 em cinco campanhas de amostra- de sangue e cabelo (Santos et al., 2003). Arsênio inorgâ-
gem. As concentrações de As variaram de 1 a 9mg/L, nico tem especial afinidade com cabelo e outros tecidos
sendo as concentrações mais altas encontradas no cór- ricos em queratina, podendo o teor de As nesses tecidos
rego Piririca que drena rochas hospedeiras de filões au- ser usado como bioindicador de exposição. Concentra-
ríferos e solos ricos em arsênio(Takamori & Figueiredo, ções de até 1 ppm de arsênio em cabelo e unha podem
2002). Também nesse córrego, estudos anteriores indi- ser consideradas normais, segundo Choucair & Ajax
(1988) e Franzblau & Lilis (1989), limiar também usado
pela ASTDR (2000).
Tabela 1 – Concentração de arsênio em urina de crianças e Para uma população de 512 pessoas analisadas em
adultos no Médio Vale do Ribeira (2002-2003), Santana foi obtida uma mediana de 0,20mg/g As em ca-
Cerro Azul e Bairro da Serra (Iporanga). belo (Tabela 2). De acordo com resultados obtidos em
Mediana Min Max outros países (Granero et al., 1998; Pazirandeh et al.,
Localidade n
mg/L As mg/L As mg/L As 1998; Saad & Hassanien, 2001, entre outros), os níveis
Cerro Azul 156 3,86 1 34,12 de exposição ao arsênio da comunidade de Santana não
Bairro da Serra -
175 8,90 1 62,54
Iporanga
Iporanga 112 8,14 1 33,49 Tabela 2 – Concentração de arsênio (ìg/g As )em cabelo –
Pilões 73 3,97 1 68,92 Santana, Estado do Amapá (2001-2002).
Castelhanos 58 9,48 1 60,32 Mediana Min. Max.
População n
Galvão 35 15,02 2,36 55,69 mg/g As mg/g As mg/g As
São Pedro 51 11,35 1 76,19 Homens 182 0.200 0.074 1.936
Ivaporunduva 30 10,02 1,77 34,57 Mulheres 330 0.200 0.063 1.855
Nhungara 22 5,84 1 25,95 Total 512 0.200 0.063 1.936
Fonte: Sakuma (2004) e De Capitani et al. (2005) Fonte: Santos et al. (2003)

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Arsênio no Brasil e Exposição Humana

podem ser considerados elevados, embora dados com- dos em outras localidades do país. Informações mais
plementares de arsênio urinário ainda se façam neces- sistemáticas sobre a ocorrência de arsênio em água
sários na área. subterrânea, em especial naquelas regiões onde a po-
pulação e a atividade econômica são dependentes de
Outras ocorrências de arsênio no Brasil aqüíferos rasos, ainda são escassas. Também não são
Estudos integrados de geoquímica ambiental e ava- encontradas informações sobre a liberação de arsênio
liação de exposição humana foram realizados apenas para o ambiente a proveniente de atividades agrícolas
nas três áreas descritas acima. Os três casos se referem (uso intensivo de pesticidas).
a impactos no ambiente provocados por atividades de
beneficiamento e refino mineral, representados por des- CONCLUSÕES
cartes de minas e pilhas rejeitos expostos e contamina-
ção de drenagens superficiais e de solos. Nas três áreas No Brasil, como nos demais países em desenvolvi-
as fontes de poluição podem ser consideradas pontuais, mento, a exposição a substâncias tóxicas afeta, prefe-
embora na Faixa Piririca, no Médio Vale do Ribeira, os rencialmente, a população de baixa renda e sujeita à de-
solos ricos em arsênio apresentem grande extensão. ficiência alimentar. Nas regiões norte e sudeste, referi-
Outras fontes pontuais de poluição de arsênio po- das neste trabalho, a população tem acesso à abundan-
dem ser identificadas nos distritos auríferos do greensto- te água superficial, em áreas de elevada precipitação
ne belt do Rio Itapicuru (BA), Crixás (GO) e Paracatu pluviométrica, o que configura uma situação diferente
(MG), onde foram ou são lavrados minérios auríferos, ri- daquela vivenciada nas regiões de incidência grave de
cos em arsenopirita, como o descrito no Quadrilátero intoxicação por As, onde as populações são dependen-
Ferrífero, com a diferença de que, nessas localidades, tes de consumo de água subterrânea.
as atividades de mineração não são tão antigas como O clima tropical favorece também a predominância
em Minas Gerais. de processos de intemperismo químico das rochas, do
Na Região Sul também é reconhecida a presença qual resultam perfis profundos de solos, enriquecidos
de arsênio associado aos depósitos de carvão. A mine- em ferro e alumínio, bem como sedimentos finos, que
ração de carvão nos estados de Santa Catarina e Rio funcionam como barreiras geoquímicas prevenindo a li-
Grande do Sul produziram impactos ambientais signifi- beração de As para as águas. Estes processos explicari-
cativos hoje representados pelos gigantes depósitos de am o porquê das baixas concentrações de As em águas
resíduos e lagoas sulfurosas. superficiais e, em alguns casos, em águas de nascen-
Uma revisão mais extensa da literatura e documen- tes, encontradas nas áreas estudadas, em contraste
tação geológica no Brasil ainda está por ser feita com o com as elevadas concentrações de As em solos e sedi-
objetivo de identificar fontes não pontuais de arsênio. mentos.
No banco de dados geoquímicos do Serviço Geológico Nas três áreas descritas neste trabalho observa-se
do Brasil (Lins, 2004, comunicação oral) podem ser en- que, independentemente da atividade industrial, elas
contradas até 18.670 análises de amostras de sedimen- apresentam anomalias naturais de arsênio. Aos proces-
to de corrente e solo para arsênio. Aproximadamente sos derivados da geodisponibilidade de arsênio se super-
20% das amostras apresentaram teores de arsênio su- pôs significativa liberação de As para o ambiente, decor-
periores a 100 ppm. As concentrações mais altas em rente das atividades de beneficiamento e refino mineral.
sedimento e solo foram encontradas no Vale do Ribeira Não obstante, afortunadamente, os baixos níveis de expo-
(Faixa Piririca), nas áreas dos prospectos de ouro em sição humana ao elemento tóxico, nas condições atuais,
terrenos greenstone no Amapá e Quadrilátero Ferrífero, ainda representam uma situação de risco controlável e re-
e em certas localidades na região nordeste do Estado versível. Percebe-se, além disso, que, para uma adequa-
de Rondônia. da avaliação de risco, são necessários estudos comple-
Inferências sobre prováveis fontes não pontuais de mentares de especiação de As em água e da disponibili-
As podem ser feitas a partir do mapeamento geoquímico dade de As em solos e sedimentos, não sendo suficientes
de baixa densidade do estado do Paraná. Licht (2001) apenas as determinações de concentrações totais de As
descreveu uma anomalia positiva de As associada à nos diferentes compartimentos geoquímicos.
ocorrência de folhelhos betuminosos e formações car- Até o momento, formações geológicas arseníferas
boníferas paleozóicas da Bacia do Paraná, bem como a e aqüíferos contaminados, como os indicados em ou-
ocorrência de arsênio associado à formação carbonífera tras regiões do mundo por Smedley & Kinniburgh
e uranífera na região de Figueira, no Estado do Paraná. (2002), não foram descritos no Brasil. Um inventário
No que diz respeito às águas superficiais em re- mais completo das ocorrências de arsênio no Brasil ain-
giões tropicais úmidas, os dados de concentração de As da constitui um desafio para as Geociências a ser en-
apresentados neste trabalho são coerentes com os obti- frentado no futuro.

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Bernardino Ribeiro Figueiredo

AGRADECIMENTOS zil: the case of arsenic. Journal of Soils and Sedi-


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Este trabalho é baseado em comunicação realizada FRANZBLAU, A.; LILIS, R. Acute arsenic intoxication from
no Simpósio de Geologia Médica, realizado durante o environmental arsenic exposure. Arch. Environ. He-
o
32 Congresso Internacional de Geologia, Florença, Itá- alth, Washington, D.C., v. 44, n. 6, p. 385-390, 1989.
lia 2004, e no trabalho a ser publicado no periódico Envi- GRANERO, S.; LLOBET, J.M.; SCHUHMACHER, M.;
ronmental Geochemistry & Health (Special Issue, 2006). CORBELLA, J.; DOMINGO, J.L. Biological monitoring
Estes estudos foram parcialmente financiados pela of environmental pollution and human exposure to me-
FAPESP (Proc. no. 2002/00271-0) e CNPq. tals in Tarragona, Spain: I.levels in hair of school chil-
dren. Trace Elements and Electrolytes, Berlin, v. 15, p.
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Arsênio no Brasil e Exposição Humana

SAKUMA, A.M.A. Avaliação da exposição humana ao tural waters. Applied Geochemistry, Oxford, v. 17,
arsênio no Alto Vale do Ribeira, Brasil. 2004.196 p. n. 5, p. 517–568, may 2002.
Tese (Doutorado em Saúde Coletiva)-Faculdade de TAKAMORI, A.Y.; FIGUEIREDO, B.R. Monitoramento da
Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campi- qualidade de água do rio Ribeira de Iguape para ar-
nas, Campinas, 2004. sênio e metais pesados. In: CONGRESSO
SANTOS, E.C.O.; JESUS, I.M.; BRABO, E.S.; FAYAL, BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 41., 2002, João Pes-
K.F.; LIMA, M.O. Exposição ao mercúrio e ao arsênio soa. Anais. João Pessoa: SBG Núcleo Nordeste,
em estados da Amazônia: síntese dos estudos do 2002. p. 255.
Instituto Evandro Chagas/FUNASA. Revista Brasilei- TOUJAGUE, R. R. Arsênio e metais associados na região
ra de Epidemiologia, São Paulo, v. 6, n. 2, p. 171-185, Aurífera do Piririca, Vale do Ribeira, São Paulo, Bra-
2003. sil. 1999. 56 f. Dissertação (Mestradoem Geociênci-
SMEDLEY, P.L.; KINNIBURGH, D.G. A review of the as)-Instituto de Geociências, Universidade Estadual
source, behaviour and distribution of arsenic in na- de Campinas, Campinas, 1999

– 70 –
José Augusto Costa Gonçalves

O ARSÊNIO NAS ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS DE OURO
PRETO (MG)

José Augusto Costa Gonçalves, costa@degeo.ufop.br


Margarete Aparecida Pereira, margaret@degeo.ufop.br
José Fernando Paiva
Jorge Carvalho de Lena
Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP

INTRODUÇÃO Geograficamente, o As se distribui nas rochas do


Quadrilátero Ferrífero, numa restrita associação com as
Águas utilizadas para consumo humano com con- rochas auríferas sulfetadas. A origem do As nas águas,
centrações de As (arsênio) acima dos limites estabeleci- solos e sedimentos, se deve a uma anomalia natural des-
dos pelos órgãos de controle ambiental são considera- se elemento. Essa anomalia está relacionada com a gê-
das perigosas para a saúde humana (Hopemhayn-Rich nese dos depósitos auríferos. Naturalmente, o intempe-
et al., 1996; National Research Council, 1999). rismo das rochas com teores anômalos de As promove a
O As é encontrado na constituição de uma longa lis- liberação destes, para o ambiente.
ta de minerais, em que os sulfetos, arsenetos e sulfoarse- Nesse trabalho é realizado um estudo hidrogeo-
netos são os mais comuns. Em águas naturais, o As químico das águas servidas à população de Ouro Pre-
ocorre em compostos inorgânicos e orgânicos. Em solu- to, através do comportamento temporal do As, monito-
ção, os compostos inorgânicos encontrados nas águas rado periodicamente entre janeiro de 2003 e janeiro de
em condições de Eh alto a moderado são H3AsO4, 2004.
- 2- 3-
H2AsO4 , HAsO4 , AsO4 e em condições redutoras o
H3AsO3, onde o As se apresenta nos estados de oxida- CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA ESTUDADA
ção 3+ e 5+ (Thornton & Farago, 1997).
O As é um elemento tóxico e carcinogênico. As princi- A área em estudo está inserta regionalmente na por-
pais patologias provocadas pela intoxicação aguda e crô- ção sudeste do Quadrilátero Ferrífero. O Quadrilátero
2
nica de As são problemas no metabolismo, tumores cutâ- Ferrífero compreende uma área de 7.200 km , localizada
neos, úlceras, gastrites, diarréias, arritmias cardíacas, cân- na porção centro-sul do estado de Minas Gerais. A cons-
cer do pâncreas e pulmão, maior freqüência de abortos es- tituição geológica da cidade de Ouro Preto (Figura 1),
pontâneos, fetos com baixo peso, dores de cabeça, compreende um conjunto de rochas metassedimentares
confusão mental e anemias (Hutton, 1987; Morton & Dun- e metavulcânicas pertencentes aos Supergrupos Minas
nette, 1994; Chen & Lin, 1994; USEPA, 2000; WHO, 2001). e Rio das Velhas.
No município de Ouro Preto, o abastecimento públi- O clima de Ouro Preto, de acordo com Rodri-
co domiciliar, bem como as fontes e chafarizes existen- gues (1966), adotando a classificação internacional
tes nas ruas e praças, é feito através da captação de de KOPPEN, é do tipo Cwb (tropical de altitude), ou
água superficial, de nascentes e também de águas sub- seja, mesotérmico úmido, com inverno seco e verão
terrâneas provenientes de poços tubulares e de antigas brando.
minas de ouro. A possibilidade da ocorrência de conta- Na cidade de Ouro Preto, grande parte da área ur-
minação dessas águas por As, em função das litotipos bana está localizada em um vale formado entre a Serra
constituintes dos aqüíferos, as tornariam impróprias para do Itacolomi e a Serra de Ouro Preto, tendo suas cotas
o consumo humano. variando entre 1.060 e 1.420 m de altitude.

– 71 –
O Arsênio nas Águas Subterrâneas de Ouro Preto (MG)

Minas Gerais

CG CANGA
N GT GRUPO ITACOLOMI
GI FS
FORMAÇÃO SABARÁ
GI GC
SÃO SEBASTIÃO FT
FORMAÇÃO TABÕES
GC
GN A` FF FORMAÇÃO FECHO DO FUNIL
VELOSO FC FORMAÇÃO CERCADINHO
FC
GI GI GRUPO ITABIRA
GN GN GC
LAJES GC
GRUPO CARAÇA
SANTANA GI
GC GG GN GRUPO NOVA LIMA
FC GC GG GG GN
FC
GI
PIEDADE A A’ PERFIL GEOLÓGICO
As As FALHA
FT CENTRO
FS GI GI FALHA DE EMPURRÃO
FC
FT A
RUAS
FS PADRE FARIA
As FC E.F. (ESTRADA DE FERRO)
As FC
As ARSÊNIO
FS
FS
L
NI

GG FT
FU

E.F. MORRO DO
CRUZEIRO
DO
FF
FT FF
IRÃO
RIBE SARAMENHA FT

NOSSA SENHORA
DO CARMO
GT
FS FS

Figura 1 – Esboço Geológico da cidade de Ouro Preto, modificado


de Barbosa (1969) e Quade (1982).

HIDROGEOLOGIA - OS SISTEMAS AQÜÍFEROS: (C.A.), nos meses de janeiro, março, maio, julho, setem-
DESCRIÇÕES E CARACTERIZAÇÕES bro e novembro. Em cada ponto de coleta foram medi-
dos in situ o pH, Eh, temperatura, sólidos totais dissolvi-
Foram identificados três categorias de sistemas dos e condutividade elétrica.
aqüíferos: um meio granular, caracterizado por mantos O método de análise de especiação de As utilizado,
de alteração e coberturas detríticas indiferenciadas, um foi por voltametria de onda quadrada (Gonçalves et al.,
meio granular-fissurado, constituído pelas rochas itabirí- 2004). Os experimentos voltamétricos foram realizados
ticas, e um meio fissural, representado pelas rochas xis- em um polarógrafo Metrohm, modelo 757 VA Computra-
tosas e quartzíticas (Quadro1). ce, dotado de um eletrodo de trabalho de gota pendente
de mercúrio, um eletrodo de referência Ag/AgCl/KCl
-1
MATERIAIS DE MÉTODOS 3mol.L e um eletrodo auxiliar de platina.

Dentre as várias captações de água subterrânea e RESULTADOS E DISCUSSÕES


superficial utilizadas pela população da cidade de Ouro
Preto, foram selecionados 17 pontos de amostragem Dos 17 pontos estudados (Tabela 1), em 13 não foi
(P.A.), para estudo. As amostras de água natural subter- encontrada a presença de As. Entretanto, em quatro lo-
rânea e superficial (Tabela 1) foram coletadas ao longo calidades, o As(V) foi detectado em concentrações que
-1
do ano de 2003, em seis campanhas de amostragem variaram entre 9 e 224 µg.L . Do total de amostras de

– 72 –
José Augusto Costa Gonçalves

água analisadas, os valores das concentrações de As 1 – o declínio dos níveis de água após as estações
de 75% das amostras estavam acima dos valores com- chuvosas propiciam o início dos processos de oxidação
-1
patíveis ao consumo humano, que é de 10 µg.L de As nos sistemas aqüíferos;
(FUNASA, 2001). Em todas as amostras de água estuda- 2 – nos períodos chuvosos, os sais formados nas zo-
das, não foi detectada a presença do As(III), espécie nas de oxidação, durante o período seco, são solubiliza-
mais tóxica de As. dos e transportados.
As amostras de água que apresentaram concentra- Somados às condições climáticas, e atuando de
ções de As impróprias para o consumo humano foram forma concomitante, os caminhos das precipitações at-
encontradas nos pontos de amostragem P.A. 14 (Mina mosféricas, tanto pelo escoamento superficial, como pe-
do Chiquinho), PA 15 (Chafariz – Rua do Barão), PA 16 las águas infiltradas, encontram na geomorfologia e no
(Piedade-Tassara) e P.A. 17 (Biquinha da Rua Santa Rita relevo abrupto da área, condições propícias para fluxos
– Mina Velha). rápidos, facilitando as interações água-rocha, a solubili-
A direta e estreita relação entre a sazonalidade do cli- zação e o transporte de quantidades maiores de subs-
ma e os valores das concentrações de As, encontrada tâncias e elementos.
nas águas de alguns pontos estudados (P.A. 14, P.A. 15, Os sistemas aqüíferos existentes, também contri-
P.A. 16, P.A. 17), é evidenciada na Figura 2. Em todos es- buem de forma relevante na solubilização e liberação
ses pontos as curvas representativas dos índices de chu- do As para o ambiente. Tanto os filitos e quatzitos fer-
va e dos valores das concentrações de As, mostram a ruginosos, rochas da Formação Cercadinho (aqüífero
mesma tendência, ou seja, os períodos de maior incidên- fissural), como principalmente os itabiritos e itabiritos
cia de chuva são também os que apresentam os maiores dolomíticos, Formação Cauê, filitos dolomíticos e for-
valores nos teores de As nas águas analisadas. Períodos mações ferríferas dolomíticas da Formação Gandare-
estes compreendidos entre os meses de dezembro e la, rochas xistosas (aqüífero granular-fissural), apre-
março. sentam boas condições de porosidade e permeabili-
Por outro lado, na estação mais seca, entre os me- dade, densa malha de fraturas, microfraturas e planos
ses de junho e setembro, os valores das concentrações de foliação. Nessas formações, onde se localizam os
de As nas águas apresentaram os menores valores, sen- pontos em que ocorrem As em águas subterrâneas,
do que para os pontos (P.A 14 e P.A 16), nesses meses, são observadas, as presenças de minerais sulfetados
o As não foi detectado. Para todos os pontos com pre- oxidados e minerais secundários, expostos superfici-
sença de As nas águas, os valores máximo e mínimo, almente.
dos teores de As, coincidem com os valores máximo e A oxidação dos corpos minerais sulfetados, tem iní-
mínimo dos índices pluviométricos. cio com a redução do aporte de águas no fim do período
Duas condições hidrogeoquímicas podem levar chuvoso, estendendo-se por todo o período seco, poden-
às variações da qualidade das águas (Rose et al., do produzir considerável quantidade de sais solúveis.
1991): Essas condições ocorrem inicialmente e principalmente

Quadro 1 – Os sistemas aqüíferos, litologias predominantes e unidades geológicas associadas (Modificado de IGA, 1995)

Sistemas Aqüíferos Litologia Predominante e Unidades Geológicas

Meio Granular
Aqüíferos em Manto de alteração e Coberturas detríticas Saprólitos, colúvios, areias finas, capas lateríticas e formações de
indiferenciadas canga

Meio Granular – Fissurado

Aqüífero Itabirítico Itabirito e itabirito dolomítico da Formação Cauê / Filito dolomítico e


formações ferríferas dolomíticas da Formação Gandarela

Meio Fissurado

Aqüífero Xistoso Xisto, clorita-filito e xisto, quartzo-clorita e quartzo-clorita-sericita


xisto do Grupo Nova Lima / Filito dolomítico, filito e siltito da
Formação Fecho do Funil / Mica e clorita-xisto, quartzito da
Formação Sabará

Aqüífero Quatzítico Quartzito, quartzito ferruginoso, filito da Formação Cercadinho /


Quartzito conglomerático do Grupo Itacolomi

– 73 –
O Arsênio nas Águas Subterrâneas de Ouro Preto (MG)

Tabela 1 – Localização dos Pontos de Amostragem (P.A.) e composição química das amostras de água subterrânea

PA01 Rua Tomé Vasconcelos – 438 / Bairro São Cristóvão—————Tipo de Captação: Antiga mina de ouro—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA02 Travessa Sargento Francisco Lopes-1—————Tipo de Captação: Nascente—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA03 Travessa Sargento Francisco Lopes-2—————Tipo de Captação: Antiga Mina de Ouro—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA04 Jardim Botânico—————Tipo de Captação: Superficial—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA05 Água Limpa – Caixa 4 (Quadra de Futebol)————Tipo de Captação: Nascente————Não foi detectado As ao longo do ano

PA06 Água Limpa – Caixa 5 (Banheira)—————Tipo de Captação: Nascente—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA07 Nossa Senhora do Carmo—————Tipo de Captação: Superficial—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA08 Saramenha de Cima—————Tipo de Captação: Superficial—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA09 Morro São Sebastião—————Tipo de Captação: Poço Tubular—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA010 Estação de Tratamento do Itacolomi—————Tipo de Captação: Superficial—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA011 Biquinha – Rua 13 de Maio (Frente ao número 160)—————Tipo de Captação: Antiga Mina de Ouro—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA012 Mina do Bem Querer—————Tipo de Captação: Antiga Mina de Ouro—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA013 Morro São João—————Tipo de Captação: Poço Tubular—————Não foi detectado As ao longo do ano

PA014 Mina do Chiquinho Tipo de Captação: Antiga Mina de Ouro

Ph Temp STD CE Eh As III As V Na Mg Al K Ca Mn Fe Ba

CA1 7,43 19,7 14,12 21,38 0,397 <5 27,0 1,06 0,26 < LQ 0,94 1,35 58,80 < LQ 7,87

CA 2 6,62 19,0 16,38 25,15 0,433 <5 14,8 1,80 0,40 < LQ 1,03 1,35 127,90 < LQ 6,27

CA 3 6,57 17,5 17,39 25,99 0,488 <5 <5 1,78 0,50 < LQ 1,03 1,23 124,40 < LQ 5,96

CA 4 6,37 18,3 16,63 25,90 0,398 <5 <5 1,58 0,49 < LQ 1,00 1,20 53,10 < LQ 26,87

CA 5 6,30 20,0 16,50 25,35 0,383 <5 <5 1,61 0,48 < LQ 1,04 1,22 7,58 < LQ 14,13

CA 6 6,59 20,6 15,13 22,63 0,387 <5 <5 1,68 0,44 < LQ 0,88 1,23 18,05 < LQ 4,75

PA 15 Chafariz – Rua do Barão-30 (Vicentão) Tipo de Captação: Nascente

pH Temp STD CE Eh As III As V Na Mg Al K Ca Mn Fe Ba

CA 1 7,16 19,6 54,21 80,85 0,399 <5 71,0 7,15 1,12 < LQ 2,80 4,28 10,34 < LQ 9,03

CA 2 6,24 19,4 48,24 73,33 0,497 <5 62,9 7,32 1,02 < LQ 2,62 2,97 15,51 < L.Q. 7,42

CA 3 6,28 18,6 48,23 71,49 0,469 <5 48,0 7,00 1,10 1,76 2,53 2,45 14,95 4,33 7,59

CA 4 6,67 18,2 49,03 75,45 0,335 <5 25,0 6,90 1,08 < LQ 2,60 2,43 15,04 < L.Q. 39,61

CA 5 7,82 19,5 49,25 74,65 0,412 <5 25,0 7,14 1,02 3,13 2,64 2,46 15,38 5,05 28,50

CA 6 7,31 20,7 49,95 73,90 0,365 <5 26,5 1,26 0,44 38,20 0,35 1,22 9,49 12,30 4,72

PA16 Piedade Tipo de Captação: Antiga Mina de Ouro

pH Temp STD CE Eh As III As V Na Mg Al K Ca Mn Fe Ba

CA 1 7,21 18,7 46,70 69,50 0,420 <5 29,0 5,65 0,93 3,35 2,30 3,63 29,60 < L.Q. 13,61

CA 2 6,65 18,6 48,43 73,55 0,488 <5 22,8 6,70 1,00 7,97 3,17 3,38 31,54 < L.Q. 12,95

CA 3 6,61 18,4 47,15 69,83 0,517 <5 <5 6,23 1,07 5,83 2,92 2,75 32,38 < L.Q. 12,13

CA 4 6,55 18,1 49,22 75,75 0,414 <5 <5 5,65 1,04 < LQ 2,78 2,73 27,19 < L.Q. 25,25

CA 5 6,53 19,0 42,87 64,88 0,400 <5 15,2 5,46 0,99 3,83 2,72 2,73 31,63 < L.Q. 22,16

CA 6 6,73 20,4 41,47 61,13 0,408 <5 9,0 6,60 1,12 4,49 2,93 3,58 30,26 < L.Q. 13,20

PA 17 Biquinha da rua Santa Rita (Mina Velha) Tipo de Captação: Antiga Mina de Ouro

pH Temp STD CE Eh As III As V Na Mg Al K Ca Mn Fe Ba

CA 1 7,00 19,2 90,74 135,70 0,420 <5 224,0 8,36 2,02 30,40 3,86 11,96 20,53 < L.Q. 12,73

CA 2 6,92 19,2 82,05 125,00 0,495 <5 125,9 8,97 1,74 27,76 3,60 9,53 38,60 < L.Q. 11,51

CA 3 6,42 18,6 82,88 123,01 0,532 <5 68,0 9,39 1,84 7,41 3,75 6,79 57,30 < L.Q. 14,61

CA 4 5,93 18,4 82,00 126,50 0,408 <5 17,0 9,47 1,85 < LQ 3,90 6,30 68,00 < L.Q. 33,64

CA 5 6,56 18,6 80,90 122,70 0,388 <5 <5 9,93 1,74 11,53 3,97 6,09 71,10 < L.Q. 25,86

CA 6 6,87 19,1 85,94 127,10 0,397 <5 27,0 9,44 2,03 25,33 3,37 10,73 30,18 < L.Q. 11,30
-1 -1 1 1 -1 1 1 -1 -1 -1
Limite do Quadrilátero (LQ) (5µgL ) (5µgL ) (0,15mgL- ) (0,01mgL- ) (4µgL ) (0,05mgL- ) (0,01mgL- ) (4µgL ) (9µgL ) (0,2µgL )

– 74 –
José Augusto Costa Gonçalves

550 30 550 75
70
500 500
65
450 25 450
60
400 Ponto 14 400 Ponto 15 55
Mina do Chiquinho Chafariz do Barão
Precipitação (mm)

Precipitação (mm)
350 350 50
20

As V (µg/L)

As V (µg/L)
45
300 300
40
250 250
35
15
200 200 30

150 15 0 25

10 20
100 10 0
15
50 50
10
0 5 0 5
4

04
04
03

4
04

04

4
4

04

04
4

4
03

4
04

04

4
4
4
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fe

ag
ju

ou
ja

ab

no
se
de

fe

ag
ju
m

ja

m
m

m
Período considerado Período considerado

550 35 550 255

500 500 230

450 Ponto 16 30 450 Ponto 17 205


400
Piedade 400
Mina Velha
18 0
25
Precipitação (mm)
Precipitação (mm)

350 350
15 5

As V (µg/L)
As V (µg/L)

300 300
20 13 0
250 250
10 5
200 200
15
80
15 0 15 0

10 0 55
10 10 0

50 50 30

0 5 0 5
4

04

04
4
03

4
04

04

04

04
4

04
03

4
4

04

04
4

4
4
4
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ab

no
se

ou
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ag
ju

ab

no
ja

se
de

fe

ag
ju
ja
m

m
m

Período considerado Período considerado

Legenda : Curva representativa dos valores de chuva no período considerado

Curva representativa dos valores de As V nos pontos estudados

Figura 2 – Representação gráfica da relação entre as precipitações atmosféricas e as concentrações de As V, no período de dezembro de 2003
a novembro de 2004 em pontos de captação de água para uso doméstico.

nas áreas de recarga da águas subterrâneas e encos- Armienta et al. (2001), relatam a contaminação de águas
tas, onde os processos intempéricos na zona não satura- subterrânea por As, proveniente de processos de oxida-
da, rica em O2 livre, provocam a oxidação dos minerais ção da arsenopirita e da dissolução da escorodita, origi-
sulfetados, como principalmente a arsenopirita. A rea- nárias de mineralizações sulfetadas encaixadas em ro-
ção de oxidação da arsenopirita, segundo Plumlee chas carbonáticas.
2+ +
(1999) é: FeAsS + 3.25O2 + 1.5H2O = Fe + 2H +
2- 2-
HAsO4 + SO4 . ESTUDO DA PRESENÇA DO AS NAS RESIDÊNCIAS
Sob essas condições ácidas, o As possui alta mobi- DO BAIRRO PADRE FARIA
lidade, Mok et al. (1988), se liberando das rochas mine-
ralizadas através de processos inorgânicos ou bióticos, O Bairro Padre Faria é abastecido por águas de vári-
Nordstron & Southam (1997). as captações. Amostras de água foram coletadas em 42
Borba (2002), credita principalmente a esse mineral residências de algumas ruas desse bairro (Tabela 2),
e à sua dissolução incongruente, em decorrência da ele- previamente sorteadas para garantir a aleatoriedade
vação do pH do meio, a presença de As em águas sub- dos pontos de amostragem. As residências foram seleci-
terrâneas de algumas minas de Ouro Preto e na mina de onadas por amostragem sistemática, sendo selecionada
Passagem em Mariana. No Vale de Zimapám, no México, uma a cada dez existentes na rua.

– 75 –
O Arsênio nas Águas Subterrâneas de Ouro Preto (MG)

Tabela 2 – Concentrações de As Total em algumas de água nos aqüíferos, favorece a oxidação dos minerais
residências do Bairro Padre Faria sulfetados. Na estação chuvosa, ocorrerá a dissolução
desses minerais, mobilizando e lixiviando o As (Banks et
AMOSTRA As mg/L AMOSTRA As mg/L al., 1997; Freeze & Cherry, 1994) para o ambiente, au-
PF 01 < L.Q. PF 22 189,00 mentando as concentrações desse elemento nas águas
PF 02 < L.Q. PF 23 9,88 subterrâneas, ao mesmo tempo em que podem diluir as
PF 03 8,66 PF 24 10,76 concentrações originais. Os valores das concentrações
PF 04 8,57 PF 25 7,47 de As determinadas nas amostras de água, são repre-
PF 05 8,82 PF 26 55,52 sentativas do momento da amostragem e da estação do
PF 06 8,54 PF 27 16,11 ano, podendo sofrer variações em seus valores, para
PF 07 < L.Q. PF 28 9,74 mais ou para menos, ao longo do tempo.
PF 08 9,23 PF 29 10,91 Em decorrência da existência de As nas águas
PF 09 9,62 PF 30 < L.Q. subterrâneas utilizadas pela população de alguns bair-
PF10 11,51 PF 31 < L.Q. ros da cidade de Ouro Preto, providências dos órgãos
PF 11 9,90 PF 32 < L.Q. municipais responsáveis pela distribuição de água se fa-
PF 12 10,14 PF 33 < L.Q. zem necessárias. A constituição de um eficaz e eficiente
PF 13 < L.Q. PF 34 < L.Q. sistema de abastecimento de água que contemple a
PF 14 < L.Q. PF 35 7,47 identificação e caracterização das áreas contaminadas,
PF 15 8,90 PF 36 < L.Q. um inventário de todas as captações de água, elabora-
PF 16 8,42 PF 37 < L.Q. ção de um plano de controle e monitoramento constante
PF 17 8,04 PF 38 < L.Q. dessas águas.
PF 18 8,17 PF 39 < L.Q.
PF 19 < L.Q. PF 40 < L.Q.
PF 20 127,00 PF 41 < L.Q. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PF 21 13,46 PF 42 < L.Q.
PF – Padre Faria ARMIENTA, M.A.; VILLASENÕR, G.; RODRIGUES, R.;
L.Q. – Limite de Quantificação ONGLEY, L.K.; MANGO, H. The role of arse-
nic-bering rocks in groundwater pollution at Zimapan
CONCLUSÕES Valley, Mexico. Environmental Geology, Berlin, v. 40,
n. 4-5, p. 571 – 581, Feb. 2001.
Na metodologia utilizada, as espécies inorgânicas BANKS, D.; YOUNGER, P.; ARSENEN, R.; IVERSEN, E.;
As(III) e As(V) podem ser quantificadas em águas natu- BANKS, S. Mine-water chemistry: the good, the bad
rais, com custo relativamente baixo, resposta rápida e and the ugly. Environmental Geology, Berlin, v. 32, n.
-1
sensibilidade elevada. Teores acima de 5 µgL podem 3, p. 157 – 174, Oct. 1997.
ser facilmente determinados, cobrindo-se uma faixa ex- BARBOSA, A . L. M. Geologic map of the Ouro Preto, Ma-
tensa de concentrações. As respostas para as análises riana, Antonio Pereira e São Bartolomeu quadran-
das amostras reais são perfeitamente similares às dos gles, Minas Gerais, Brazil. Washington,
padrões, não havendo, portanto, interferências prejudi- DNPM/USGS, 1969. U.S. Geological Survey Professi-
ciais das matrizes. onal Paper, 641; plates 7,8,9,10.
Uma característica de áreas em que as águas sub- BORBA, R.P. Arsênio em ambiente superficial: proces-
terrâneas apresentam elevados teores de As, com rela- sos geoquímicos naturais e antropogênicos em uma
ção aos valores permissíveis para o consumo humano, é área de mineração aurífera. 2002. 202 p. Tese (Dou-
o grau de variabilidade espacial em concentrações de torado em eociências)-Instituto de Geociências, Uni-
As, (Smedley et al., 2002). Assim, pode ser difícil ou im- versidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
possível predizer a concentração de As, em uma nascen- BRASIL.Fundação Nacional de Saúde. Portaria nº
0

te, poço ou mina, tendo por base os resultados de nas- 1469/2000, de 29 de dezembro de 2000 : aprova o
centes ou poços vizinhos. Aqüíferos afetados por As, po- controle e vigilância da qualidade da água para con-
dem ser restritos a certos ambientes, apresentando um sumo humano e seu padrão de potabilidade. Brasí-
comportamento espacial errático, e parecerem ser exce- lia: FUNASA, 2001. 32 p.
ção à regra. CHEN, C.; LIN, L. Human carcinogenity and atherogeni-
As variações das concentrações de As nas águas city induced by chronic exposure to inorganic arse-
subterrâneas da área pesquisada, ao longo do período nic. In: Nriagu, J. O. (Ed.). Arsenic in environmental:
de um ano estão relacionadas à sazonalidade climática. part II: human health and ecosystem effects. New
Na estação de déficit pluviométrico, a redução do nível York: John Wiley & Sons, 1994. P. 109 – 132.

– 76 –
José Augusto Costa Gonçalves

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LENA, J.C.; NALINI JR, H.A. 2004. Determinação das gister, Washington, DC, v. 65, n 121, p. 38888 –
0

espécies de arsênio em águas naturais utilizando 38983, Jun. 22, 2000.


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– 77 –
Arsênio em Sedimentos Estuarinos do Canal de Acesso à Baía de Antonina, Paraná

ARSÊNIO EM SEDIMENTOS
ESTUARINOS DO CANAL DE
ACESSO À BAÍA DE
ANTONINA, PARANÁ.
1
Fabian Sá, fabianbgm@ufpr.br
1
E. C. Machado,
2
J. R. Ângulo,
1
Centro de Estudos do Mar – UFPR
2
Departamento de Geologia – UFPR

INTRODUÇÃO

O complexo estuarino da Baía de


Paranaguá, situado na costa sul do Bra-
sil, entre 2516’ e 2534’ S e 4817’ e 4842’
W, é formado pelas baías de Paranaguá
propriamente dita, incluindo a região de
Antonina, e das Laranjeiras (Figura 1).
Este sistema é de extrema importân-
cia para o ecossistema costeiro e no de-
senvolvimento econômico e social do
estado do Paraná, uma vez que constitui
um espaço geográfico propício a instala-
ções portuárias, industriais, atividades
pesqueiras (local de reprodução e cres-
cimento de espécies de interesse comer-
cial) e turísticas. A região da baía de
Antonina, situada na porção mais interna
do complexo estuarino da Baía de Para-
naguá, vem sofrendo reativação de insta-
lações portuárias através do crecimento
destas atividades na região, sendo ne-
cessário o aumento do calado dos canais Figura 1 – Mapa do eixo L – O do complexo estuarino da Baía de Paranaguá.
de acesso aos portos de Paranaguá e
Antonina, havendo necessidade de dra-
gagens periódicas para a manutenção do calado. MÉTODOS
Na região do complexo estuarino da Baía de Para-
naguá coexistem atividades urbanas, portuárias, indus- Em maio de 2001 foram coletadas amostras de sedi-
triais (fertilizantes, estocagem de produtos químicos, mentos superficiais, em 9 pontos, dispostos em 3 seções
granéis), dragagens, atividades pesqueiras, entre mui- ao longo dos 12 km compreendidos entre a Ponta do Fé-
tas outras (Figura 2). lix e o terminal da Petrobrás (Figura 3).

– 78 –
Fabian Sá

(a) (c)

(b)
Figura 2 - Atividades urbanas/industriais e portuárias que ocorrem concomitantemente na região: (a) depósito de resíduos sem planejamento;
(b) atividades de dragagens; (c) emissários de esgoto doméstico/industrial.

Canal de acesso
25° 25' S

Pontos de coleta
25° 26'

Baí a de An tonina

25° 27'

7
8
9 25° 28'

Baí a de Paranagu á
4
5 25° 29'

6 1
2
3 25° 30'

Paranaguá 25° 31'

25° 32'

1 0 5 km

48° 42' 48° 39' 48° 36' W 48° 33' 48° 30'

Figura 3 – Mapa dos pontos de coleta e delimitação do canal de acesso ao Terminal Portuário Ponta do Félix
e o porto Barão de Teffé, Antonina.

– 79 –
Arsênio em Sedimentos Estuarinos do Canal de Acesso à Baía de Antonina, Paraná

Foi realizada extração forte utilizando HF e HNO3 Tabela 1


com aquecimento, afim de obter a dissolução completa
de toda a estrutura cristalina dos grãos presentes no se- Estação
Cd Pb Cr Cu Ni Hg
dimento, liberando os elementos metálicos tanto naturais (ppm) (ppm) (ppm) (ppm) (ppm) (ppm)
quanto os resultantes das atividades antrópicas. O ele- 1 2,075 24,750 57,250 15,250 30,922 0,400
mento arsênio foi determinado pelo método de espectro-
2 1,394 21,663 48,805 13,197 21,499 0,930
fotometria de absorção atômica (AAS) no Laboratório de
Oceanografia Geológica da Fundação Universidade Fe- 3 2,225 23,250 52,000 9,250 20,982 0,247
deral do Rio Grande (FURG). 4 2,488 19,652 28,358 5,224 14,112 0,262
5 1,990 18,657 27,363 4,478 18780 0,094
FATORES FÍSICOS
6 2,498 25,475 48,202 15,734 19,986 0,091
Marone & Jamiyanaa (1997) classificam a maré do 7 2,714 19,173 34,114 5,976 7,900 0,076
Complexo Estuarino da Baía de Paranaguá como micro-
8 2,545 19,212 44,162 10,978 19,795 0,299
maré, predominantemente semidiurna com desigualda-
des diurnas, sendo a amplitude média de 1,4 m em situa- 9 2,679 21,825 29,018 5,456 9,006 0,047
ção de quadratura e 1,7 m em períodos de sizígia. Knop-
pers et al. (1987) interpretou que o setor L – O do Com-
plexo Estuarino de Paranaguá pode ser classificado
como um estuário parcialmente misturado tipo 2, no dia-
Arsênio
grama Estratificação – Circulação de Hansen & Rattray
(1965).
35,0
Segundo Noernberg (2001), este setor sofre maior
30,0
influência do aporte de água doce de sua bacia de dre- 25,0
[ ] ppm

nagem em relação ao eixo N – S, apresentando respos- 20,0 Arsênio (ppm)


15,0
ta mais rápida e intensa aos processos relacionados à 10,0
estratificação da coluna d’água, intrusão salina, aporte 5,0
de sedimentos fluviais e formação da zona de máxima 0,0
turbidez. Este autor delimitou a presença de uma zona 1 2 3 4 5 6 7 8 9
de máxima turbidez (ZMT) neste setor, ocorrendo entre Pontos de coleta
as Ilhas Gererês e o Porto de Paranaguá, e acrescentou
ainda que a ocorrência desta zona está diretamente re-
Figura 4 – Concentrações de arsênio nas amostras coletadas.
lacionada à geometria do corpo estuarino, intensidade
das correntes de maré e à estratificação da coluna
d’água.
Outro aspecto importante para este tipo de siste-
ma é a presença de uma grande diversidade de itens
RESULTADOS E DISCUSSÃO de pescado, o que amplia o número de vias de acesso
dos elementos metálicos em suas águas e sedimentos
As concentrações de arsênio determinadas para às populações humanas, principalmente em núcleos
as amostras de sedimento superficial variaram entre 7,9 urbanos onde a dieta alimentar é constituída basica-
e 30,9 ppm (Figura 4). Analisando a distribuição das mente de pescado. A população destes locais geral-
concentrações de arsênio nos sedimentos superficiais mente apresenta diferentes fontes alimentares, como
no eixo L – O do complexo estuarino observou-se um peixes e alguns invertebrados: mariscos, sururu
acréscimo significativo em direção à cidade de Parana- (Mytella guyanensis), ostras em geral, caranguejos e
guá (Figura 5), demonstrando a influência da zona de siris (Callinectes danae). Kolm et al. (2002) realizaram
máxima turbidez na retirada deste elemento da coluna análises de elementos metálicos em fígado de Catho-
d’água e concordando com Sá (2003), que também en- rops spixii (Ariidae), provenientes da Baía de Antoni-
controu concentrações elevadas neste mesmo local na. Os resultados mostraram concentrações de até
para diversos outros elementos metálicos (Tabela 1). 518,69 µg/kg para arsênio demonstrando a ocorrência
Este autor ainda alerta para a existência de uma fonte dos processos de bioacumulação e biomagnificação
potencial no município de Paranaguá, pois as concen- neste ambiente, sugerindo que uma quantidade ainda
trações de arsênio são ainda mais elevadas ao redor desconhecida deste elemento encontra-se em alguma
desta cidade. forma biodisponível.

– 80 –
Fa bi an Sá

25° 27
'

Antonin a
7
Ar sê nio p
( pm)
8 2
14
9 26 25° 28
'

38

4
50 (a)
5 25° 29
'

6 1
2
3
25° 30
'

Paranagu á
25° 2 9' 45"
25° 31
'

1 0 4 km
48° 40
' 48
° 39' 48° 38' 4 8° 37' 48° 36' 4 8°35' 48° 34
' 48° 33'

Ar sê ni o (ppm ) 9
10
(b) 25° 3 0' 00"

2 7
8
14
26
38 6 5
50 25° 3 0' 15"

2 3
25° 3 0' 30"

1
C anal do An haia
25° 3 0' 45"

100 0 500
m

48°33' 30" 48°3 3' 1 5" 48 °33' 00" 4 8°32' 45" 48° 32' 30" 48°32' 15" 48°3 2' 00" 48° 31' 45" 48° 31' 30"

Fi gu ra 5 – Mapa de pro por ci o na li da de das con cen tra ções de ar sê nio no se di men to super fi ci al, em des ta que o Ter mi nal Por tuá rio da Pon ta do
Fé lix e as ilhas Ge re rês pró xi mo ao mu ni cí pio de Pa ra na guá.

De vi do à gama de in for ma ções ge o quí mi cas ain da physi cal and che mi cal cha rac te ris tics. Nerítica, Cu ri-
inexistentes para a região do complexo estuarino da ti ba, v. 2, n. 1, p. 1-36, 1987.
Baía de Pa ra na guá os es tu dos atu a is es tão sen do en fo- KOLM, H.E. Et al. Avaliação dos im pac tos de cor ren tes
ca dos na ge ra ção de co nhe ci men to so bre a es pe ci a ção da cons tru ção de um píer pela FOSPAR – Fer ti li zan-
de diferentes elementos nos sedimentos superficiais, tes Fos fa ta dos do Pa ra ná S.A.: re la tó rio téc ni co. Pon-
determinação dos níveis de referência ( background) e tal do Pa ra ná: UFPR-CEM-FOSPAR, 2002. 184 p.
as con cen tra ções pre sen tes na co lu na d’água. Estes es- MARONE, E.; JAMIYANAA, D. Ti dal cha rac te ris tics and a
tu dos ser vi rão, não só para fu tu ros tra ba lhos de ca rá ter variable boun dary nu me ri cal mo del for the M2 tide for
ci en tí fi co, como para o ge ren ci a men to das ati vi da des de the Estu a ri ne Com plex of the Bay of Pa ra na guá, PR,
dragagem, dando suporte para tomadas de decisões. Bra zil.Nerítica, Cu ri ti ba, v. 11, n. 1-2, p. 95-107, 1997.
Como por exem plo, qual o me lhor des ti no para o ma te ri al NOERNBERG, M. A. Processos morfodinâmicos no
dra ga do e as prin ci pa is en tra das des tes ele men tos para Complexo Estuarino de Paranaguá: um es tu do uti li-
o sis te ma. zando dados Land sat-TM e me di ções in situ . 2001.
118 f. Dis ser ta ção (Dou to ra do em Ge o lo gia Ambi en-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS tal)-Departamento de Ge o lo gia, Univer si da de Fe de-
ral do Pa ra ná, Cu ri ti ba, 2001.
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culation in straits and es tu a ri es. J. Mar. Res., New nos sedimentos su per fi ci a is e atividades de dra ga-
Ha ven, v. 23, p. 104-122, 1965. gem no Com ple xo Estu a ri no da Baía de Pa ra na guá,
KNOPPERS, B. A.; BRANDINI, F. P.; THAMM, C. A.). Eco- PR. 2003. 92 p. Dissertação (Mestrado em Ge o lo-
logical studies in the Bay of Paranaguá: II: some gia)-Uni ver si da de Fe de ral do Pa ra ná, Cu ri ti ba, 2003.

– 81–
Expo si ção Hu ma na ao Arsê nio no Mé dio Vale do Ri be i ra, São Pa u lo, Bra sil

EXPOSIÇÃO HUMANA AO
ARSÊNIO NO MÉDIO VALE
DO RIBEIRA, SÃO PAULO,
BRASIL
1
Edu ar do Mel lo De Ca pi ta ni,ca pi ta ni@fcm.uni camp.br
2
Sa ku ma, Ali ce M., ali ce@ial.sp.gov.br
3
Bernardino Ri be i ro Fi gue i re do, ber na@ige.uni camp.br
4
Mo ni ca M. Bas tos Pa o li el lo, mo ni bas@ser con tel.com.br
2
Isa u ra A.Oka da
2
Ma ria Cris ti na Du ran
2
Ro ber ta I. Oku ra
1
Faculdade de Ciên ci as Mé di cas, UNICAMP
2
Insti tu to Adol fo Lutz
3
Insti tu to de Ge o ciên ci as, UNICAMP
4
Uni ver si da de Esta du al de Lon dri na

INTRODUÇÃO in tem pe ris mo de ro chas hos pe de i ras de fi lões au rí fe ros


com sul fe tos e ar se no pi ri ta (Tou ja gue, 1999; Bra ga & Fi-
A bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Iguap e gue i re do, 2002). A exis tên cia de agru pa men tos po pu la-
abran ge as re giões do su des te do Esta do de São Pa u lo cionais re si din do nes sa área jus ti fi cou a re a li za ção de
e les te do Pa ra ná. As ati vi da des de mi ne ra ção e me ta lur- ava li a ção de ex po si ção. A po pu la ção que vive nos ba ir-
gia na região foram poluidoras e contribuíram para a ros e quilombos do Médio Vale do Ribeira é forma da
con ta mi na ção de dre na gens e so los no en tor no da re fi- principalmente por remanescentes dos escra vos que
naria lo ca li za da no mu ni cí pio de Adri a nó po lis (PR). trabalhavam na mi ne ra ção até o fi nal do sé cu lo XIX, e
O grau de ex po si ção ao ar sê nio de cri an ças e adul- con ser vam até hoje an ti gas tra di ções de uso dos re cur-
tos re si den tes no Alto Vale do Rio Ri be i ra foi ava li a do sos naturais locais, sobrevivendo principalmente da
por Sa ku ma (2004), em es tu do epi de mi o ló gi co an te ri or. agri cul tu ra fa mi li ar.
Na que le es tu do, a po pu la ção in ves ti ga da in clu iu mo ra- A ex po si ção am bi en tal a ní ve is ele va dos de ar sê-
do res da área ur ba na dos mu ni cí pi os de Ri be i ra (SP) e nio (formas inorgânicas trivalentes e pentavalentes)
de Adrianópolis (PR), inclu in do pequenas vilas rura is pode acar re tar do en ças vas cu la res e de pele, além de
(Vila Mota e Ca pe li nha) lo ca li za das a 500 e a 1.000 me- câncer de pulmão, fígado, bexiga e pele. A absorção
tros da an ti ga re fi na ria Plum bum (Adri a nó po lis), de sa ti- de arsênio de pende de vários fatores como o esta do
vada em 1995, e Ba ir ro da Ser ra, lo ca li za do na área ru- nutricional do indivíduo, a dose ingerida e o tem po de
ral do município de Iporan ga (SP), próximo à anti ga exposição (Sa ku ma et al., 2003; ATSDR, 2000). Os
mina de Furnas. Na quele e neste estudo foi utilizada com pos tos ar se ni a is me ti la dos (for mas or gâ ni cas) re a-
como população de referência controle, não exposta, gem me nos com os te ci dos e são ex cre ta dos mais ra pi-
os re si den tes em Cer ro Azul (PR), mu ni cí pio lo ca li za do damente que as formas inorgânicas, apresentando,
a mon tan te das áre as con ta mi na das, fora das áre as de por tan to, me nor to xi ci da de.
mi ne ra ção e re fi no. O presente estudo teve como objetivo ava liar o
No Mé dio Vale ocor rem ro chas e so los ri cos em As, grau de exposição ao As na po pu la ção de cri an ças e
em es pe ci al, ao lon go da Fa i xa Pi ri ri ca, lo ca li za da en tre adul tos do Mé dio Vale do Ri be i ra (MV), es pe ci al men te
os municípios de Iporanga e Eldorado. Nes sa fa ixa na re gião que so fre in fluên cia da ano ma lia na tu ral com
ocor rem so los com até 2.000 mg/kg As, re sul tan tes do As (Fa i xa Pi ri ri ca), por meio da de ter mi na ção dos ní ve is

– 82 –
Edu ar do Mel lo De Ca pi ta ni

de ar sê nio uri ná rio. O estudo bus cou tam bém iden ti fi- Os re sul ta dos re fe ren tes ao gru po con tro le (Cer ro
car os fa to res so ci o de mo grá fi cos que in flu en ci a ram no Azul) fo ram ob ti dos em 156 pes so as an te ri or men te es tu-
grau de ex po si ção. da das por Sa ku ma (2004).
Um ques ti o ná rio foi apli ca do aos par ti ci pan tes, para
POPULAÇÃO DE ESTUDO reunir informações sobre condições socioeconômicas,
há bi tos ali men ta res, ati vi da des ocu pa ci o na is, hob bi es e
A po pu la ção de es tu do do Mé dio Vale foi cons ti tu í da lazer.
por 378 cri an ças e adul tos mo ra do res de oito lo ca is dis- O ter mo de con sen ti men to li vre e es cla re ci do, apro-
tin tos, agru pa dos se gun do as ca rac te rís ti cas ge o ló gi cas vado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências
dos lo ca is de mo ra dia (den tro da Fa i xa Pi ri ri ca ou fora Mé di cas da UNICAMP, foi lido e as si na do pe los par ti ci-
dela (Fi gu ra 1). pan tes, pais ou res pon sá ve is.
O gru po po pu la ci o nal 1 es tu da do na pre sen te pes -
quisa foi formado por 112 participantes re sidentes na MATERIAL E MÉTODO
área ur ba na do mu ni cí pio de Ipo ran ga (SP), fora da Fa i-
xa Piririca, mas com pro vá vel in fluên cia das ati vi da des Entre abril de 2003 e mar ço de 2004, fo ram co le ta-
mineradoras de Fur nas. O gru po 2, por 192 re si den tes das amos tras da pri me i ra uri na da ma nhã, em fras cos de
nos Ba ir ros de Nhun gua ra e de Cas te lha nos, e nos Qu i- polietilenopreviamente des con ta mi na dos com áci do ní-
lom bos de São Pe dro, Gal vão e Iva po run du va, re giões tri co, sem adi ção de con ser van tes, e man ti das re fri ge ra-
ru ra is lo ca li za das dentro da extensão da Faixa Piririca. das até o re ce bi men to do la bo ra tó rio.
Os re si den tes nos Qu i lom bos de Pi lões e Ma ria Rosa, lo- Os com postos arseniais fo ram de terminados por
calizados em uma re gião mais dis tan te, fora da Fa i xa Pi- HG-AAS. Foi utilizado um espectrômetro de absorção
ri ri ca, for ma ram o gru po 3 des te es tu do com, 74 par ti ci- atô mi ca, Per kin-Elmer, mo de lo Analyst 100, com ge ra-
pantes. dor de hidretos e sistema de injeção de fluxo Per -
kin-Elmer, mo de lo FIAS 400. Foi
usado o método analítico des -
cri to por Guo et al. (1997), ba se-
ado na complexação dos com-
postos arseniais toxicologica-
mente importantes (As(III) +
As(V) + áci do mo no me ti lar sô nio
(MMA) + ácido di metilarsínico
(DMA ) com cis te í na. O mé to do
analítico foi validado previ a -
men te, usan do ma te ri al de re fe-
rência certi fi ca do (NIST 2670),
com valor certificado de 60 µg
L-1. O limite de quantificação
do mé to do foi de 0,4 µgL-1 nas
amostras di luídas cinco vezes,
cor res pon den do a 2,0 µg L-1 de
ar sê nio na amostra.
As aná li ses es ta tís ti cas fo-
ram fei tas com o programa
FAIXA PIRIRICA SPSS 10.0 for win dows (Sta tis ti-
cal Package for Soci al Scien -
ce). Para os re sul ta dos de ar sê-
nio na uri na (As-u) aba i xo do li-
mi te de detecção (LD) foi atri-
bu í do o va lor de 1,0 µg L-1, que
cor res pon de à me ta de do li mi te
de de tec ção do mé to do ana lí ti-
co. Não foi fe i to ne nhum ajus te
em re la ção à creatinina uriná -
Fi gu ra 1 – Lo ca li za ção do Vale do Ri be i ra e da Fa i xa Pi ri ri ca ria.

– 83 –
Expo si ção Hu ma na ao Arsê nio no Mé dio Vale do Ri be i ra, São Pa u lo, Bra sil

RESULTADOS As concentrações medianas de arsênio urinário


para os gru pos 1 (8,07 µg L-1 ) e 2 (11,04 µg L-1 ) fo ram
A fi gu ra 2 mos tra osBoxplot dos re sul ta dos de con- estatisticamente di fe ren tes quan do com pa ra das com o
cen tra ção me di a na de As-u (µg L-1) na população con- gru po con tro le (3,86 µg L-1 ) (r < 0,0001). Já a con cen-
tro le (Cer ro Azul) com pa ra da com os gru pos 1, 2 e 3. tra ção me di a na do gru po 3 (3,62 µg L-1), fora da Fa i xa
A ta be la 1 apre sen ta a aná li se des cri ti va da con cen- Pi ri ri ca, não foi es ta tis ti ca men te di fe ren te da me di a na do
tra ção de As-u para cada um dos gru pos es tu da dos. gru po con tro le (r = 0,92). É pos sí vel ob ser var que a ex-

Conc entração d e As-u


80

60

40

20

0
N= 156 11 2 192 74

Cont role 1 2 3

Gru po

Fi gu ra 2 – Box plots da con cen tra ção de As-u (µg.L-1) da po pu la ção con tro le (Cer ro Azul) e po pu la ção dos gru pos 1, 2 e 3.

Ta be la 1 – Con cen tra ção de ar sê nio uri ná rio nos gru pos po pu la ci o na is es tu da dos
As urinário ( µg.L-1 ) N(%) N(%)
Grupo Área / local Idade N
mediana mínimo máximo > 40 µg.L < LD
Controle nascente do Rio Ribeira de Iguape criança* 73 3,60 1,00 34,12 0 (0%)
Cerro Azul – PR (pop. controle) adulto 83 3,87 1,00 16,00 0 (0%)
total 156 3,86 1,00 34,12 0 (0%) 51 (32,9%)
1 Iporanga ( área urbana) criança 82 8,35 1,00 33,49 0 (0%)
fora da Faixa Piririca adulto 29 7,42 1,00 27,55 0 (0%)
total 111 8,07 1,00 33,49 0 (0%) 13 (11,6%)
2 Faixa Piririca criança 67 9,85 1,00 55,69 3 (4,5%)
Nhunguara, Castelhanos, Galvão, adulto 123 11,68 1,00 76,19 7 (5,7%)
São Pedro, Ivaporunduva total 190 11,04 1,00 76,19 10 (5,3%) 20 (10,4%)
3 Fora da Faixa Piririca criança 28 3,64 1,00 31,28 0 (0%)
Pilões, Maria Rosa adulto 46 3,11 1,00 68,92 2 (4,3%)
total 74 3,62 1,00 68,92 2 (2,7%) 29 (39,2%)
Total Médio Vale criança 177 7,99 1,00 55,69 3 (0,8%)
adulto 198 9,09 1,00 76,19 9 (2,4%)
*
total 375 8,21 1,00 76,19 11 (2,9%) 62 (16,4%)
-1
* 7 a 14 anos ** Li mi te de de tec ção ( 2,00 µg.L )

– 84 –
Edu ar do Mel lo De Ca pi ta ni

posição ao As é ma i or na po pu la ção re si den te na área verduras cultivadas nos quintais das moradias. Para
da Fa i xa Pi ri ri ca, onde ocor re a pre sen ça na tu ral do As. fins de avaliação es ta tís ti ca com re lação ao consumo
Comparando-se as medianas de As-u en tre cri an- de car ne bo vi na e fran go, a po pu la ção foi di vi di da em:
ças e adul tos nos três gru pos, ob ser vou-se au sên cia de “con so me uma vez ou me nos” e “mais que uma vez por
diferenças significativas apresentando (r = 0,707; r = semana”. Com relação aos outros alimentos, foi feita
0,544 e r = 0,811, para os grupos 1, 2 e 3, respectiva - uma avaliação qualitativa do tipo “consome” ou “não
mente). con so me”.
Do to tal das amos tras ana li sa das, 11,6%, 10,4% e Con si de ran do ape nas a po pu la ção de cri an ças, ob-
39,2% dos in di ví du os, res pec ti va men te nos gru pos 1, 2 ser vou-se que as que têm o há bi to de brin car em con ta to
e 3, apresentaram con cen tra ções de ar sê nio in fe ri o res com o solo não apre sen ta ram me di a na de As-u, es ta tís ti-
ao li mi te de de tec ção do mé to do (2,00 µg.L-1). Por sua ca men te di fe ren te da que las que não pos su em esse há-
vez, o gru po con tro le (Cer ro Azul) apre sen tou 32,9% de bi to.
ca sos aba i xo do li mi te de de tec ção. A ta be la 2 mos tra que não exis te di fe ren ça sig ni fi-
Não houve di ferença estatisticamente significante can te en tre as me di a nas de As-u de quem con so me e de
en tre as me di a nas com re la ção ao sexo, tan to en tre as quem não con so me pe i xe, car ne bo vi na ou fran go, pelo
cri an ças quan to en tre os adul tos. me nos uma vez por se ma na. No en tan to, as pes so as dos
Nes te es tu do, fo ram ava li a das ou tras va riá ve is que grupos 1 e 3 que não con so mem le i te e de ri va dos têm
poderiam in flu en ci ar os ní ve is de ar sê nio uri ná rio, tais ma i or con cen tra ção me di a na de As-u.
como: con su mo de le i te, car ne, fran go, pe i xe, ver du ras Utilizando modelo de regressão logística múltipla
e frutas localmente produzidas, além do consumo de observou-se que as variáveis que juntas melhor ex pli-
água (Whi te & Sab bi o ni, 1998), pois o es ta do nu tri ci o nal cam as con cen tra ções de As-u fo ram: lo cal de mo ra dia
influencia diretamente a ab sor ção do ar sê nio (Man dal (variável “grupo populacional”), número de vezes que
et al., 1998). Foi per gun ta do aos mo ra do res qual o con- consome carne por semana, e número de vezes que
sumo semanal de car ne, frango, peixe, le ite, frutas e con so me fru tas e ve ge ta is (r < 0,10) (Ta be la 3).

Ta be la 2 – Con cen tra ção de As-u me di a na se gun do o con su mo de ali men tos na po pu la ç ão de cri an ças e de adul tos dos três
gru pos po pu la ci o na is do Mé dio Vale
Valores de ρ
Consumo de carne bovina Consumo de frango Consumo de leite e derivados
Grupo (uma ou mais vezes por semana) (uma ou mais vezes por semana)
Adultos Crianças Total Adultos Crianças Total Adultos Crianças Total
1 1,000 0,117 0,141 – 0,964 1,000 0,054 0,223 0,027
2 0,914 1,000 0,953 1,000 0,240 0,612 0,838 0,723 0,856
3 0,549 0,678 1,000 0,749 0,678 0,445 0,412 0,041 0,027

Ta be la 3 – Aná li se de re gres são lo gís ti ca múl ti pla das va riá ve is ex pli ca ti vas re fe ren tes à po pu la ção do Mé dio Vale
pré-selecionadas (Mo de lo fi nal: As > 3,86 µg.L-1 [me di a na de As-u do gru po con tro le])

Regressão Logística Múltipla ( As > 3,86 µg.L-1 / Grupo controle)

Razão de chances (OR)


Variável β ρ
Estimativa ICI (95%) ICS (95%)
Constante 0,728 0,040 2,071
Carne Consumo semanal de carne -0,181 0,024 0,835 0,714 0,976
Vegetais e frutas Consumo semanal de frutas e verduras
produzidas na moradia -0,130 0,042 0,878 0,774 0,995
Local de moradia Grupo 3 ( Pilões; Maria Rosa) 0,000
Grupo 1 ( Iporanga , área urbana) 1,417 0,000 4,126 1,903 8,945
Grupo 2 ( Nhunguara; Castelhanos;
São Pedro; Galvão; Ivaporunduva ) 1,596 0,000 4,934 2,680 9,082

– 85 –
Expo si ção Hu ma na ao Arsê nio no Mé dio Vale do Ri be i ra, São Pa u lo, Bra sil

DISCUSSÃO tanto, alertam para a necessidade de se buscar so lu-


ções para o de sen vol vi men to eco nô mi co da re gião, que
O va lor de 40 µg L -1 para As-u é con si de ra do crí ti co con tem plem a pre ser va ção da co ber tu ra na tu ral lo cal e
para ex po si ções a lon go pra zo, pois efe i tos ad ver sos à que evi tem o des flo res ta men to e a ero são, sob ris co de
saúde podem ocorrer aci ma desse limite (Trepka, ex por o solo na tu ral men te con ta mi na do com ar sê nio.
1996) . O va lor mé dio de As-u ob ti do por Mats chul lat et
al. (2000) foi de 27,7 ± 19,2 µg L-1 , na re gião de mi ne ra- AGRADECIMENTOS
ção, em Nova Lima e San ta Bár ba ra, su des te do Esta do
de Mi nas Ge ra is, ten do sido ob ser va do que 19,2% das Nos sos agra de ci men tos aos moradores dos lo ca is
-1
crianças apresentaram níveis aci ma de 40 µg L . No estudados, através de seus líderes comunitários, aos
presente es tudo, essa percentagem foi igual a 0%, pro fis si o na is e au to ri da des lo ca is, aos pro fes so res e di-
5,2% e 2,7%, respectivamente, nos gru pos 1, 2 e 3. O re to res das es co las pelo apo io, e aos pais das cri an ças
gru po con tro le não apre sen tou re sul ta dos aci ma des se que co la bo ra ram par ti ci pan do vo lun ta ri a men te des te es-
limite. tu do.
No es tu do de Sa ku ma (2004), cri an ças mo ra do ras À FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa d o
próximo à mina de Furnas (bair ro Serra de Iporanga) Estado de São Paulo, Projeto 2002/0271-0, ao IAL –
-1
apresentaram me di a na de de As-u de 8,94 µg L (in ter- Insti tu to Adol fo Lutz, São Pa u lo e à UNICAMP – Uni ver-
va lo de 1,00 – 63,0), en quan to cri anç las mo ra do ras pró- si da de de Cam pi nas, São Pa u lo pelo apo io fi nan ce i ro e
xi mo à re fi na ria de chum bo que pro ces sa va mi né rio con- logístico.
ten do ar sê nio, apre sen ta ram me di a na de 6,40µg L -1 (in-
ter va lo de 1,00 – 50,0). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Em nosso estudo observou-se que as popu la ções
per ten cen tes ao gru po 1 (Ipo ran ga, zona ur ba na, fora da ATSDR. Agency for To xic Subs tan ces and Di se a se Re-
Faixa Pi rir ca, mas com pro vá vel in fluên cia am bi en tal da gistry. To xi co lo gi cal pro fi le for ar se nic. Atlan ta, GA :
mina de Fur nas, em fun ção da pro xi mi da de ge o grá fi ca) US. De partment of Health and Human Services,
e ao gru po 2 (mo ra do res na Fai xa Pi ri ri ca), apresentam 2000.
4,126 e 4,934 vezes mais chance (OR), de apresentar BRAGA, P. S.; FIGUEIREDO, B. R. Comportamento de
concentrações de ar sê nio su pe ri o res a 3,86 µg.L -1 (me- me ta is pe sa dos em so los na re gião do Vale do Ri be -i
di a na de As-u en con tra da na po pu la ção con tro le), res- ra (SP). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
pec ti va men te, quan do com pa ra das às pes so as do gru- GEOLOGIA, 41., 2002, João Pessoa, PB. Anais.. .
po 3 (mo ra do res fora da Fa i xa Pi ri ri ca). João Pes soa : SBG. Nú cleo Nor des te, 2002. p: 231.
A prin ci pal via de ex po si ção ao ar sê nio em si tu a ção GUO, T.; BAASER, J.; TSALEV, D.L. Fast au to ma ted de-
não ocu pa ci o nal é atra vés da in ges tão de água ou ali- ter mi na ti on of to xi co lo gi cally re le vant ar se nic in uri ne
men tos. A in ges tão diá ria to tal de As de pen de do há bi to by flow in jec ti on-hydride ge ne ra ti on ato mic ab sorp ti-
alimentar. Takamori & Figueiredo (2002), avaliaram as on spec tro metry. Anal. Chim Acta, v. 349, p. 313-8,
águas su per fi ci a is da Fa i xa Pi ri ri ca, ana li sa das em cin co 1997.
oca siões no pe río do en tre 2001 e 2003. Ne nhu ma amos- MANDAL, B.K.; CHOWDHURY, T.R.; SAMANTA, G.;
tra apre sen tou con cen tra ções de As ex ce den do 10 mg MUKHERJEE, D.P.; CHANDA, C.R.; SAHA, K,C.;
L- 1. Tam bém não fo ram en con tra dos po ços de abas te ci- CHAKRABORT, D. Impact of safe water for drinking
mento das populações que indicassem consumo de and co o king on five ar se nic-affected fa mi li es for 2 ye-
água subterrânea. ars in West Ben gal, India. Sci en ce To tal Envi ron men-
Investigando as pro vá ve is fon tes ali men ta res de As tal, v. 218, p. 185-201, 1998.
em nosso es tudo, verificou-se que o au mento de uma MATSCHULLAT, J.; BORBA, R. P.; DESCHAMPS, E.;
uni da de no con su mo se ma nal de car ne e de fru tas e ver- FIGUEIREDO, B.R.; GABRIO, T.E.; SCHWENK, M.
du ras pro te ge a po pu la ção de al can çar con cen tra ções Human and en vi ron men tal con ta mi na ti on in the iron
de ar sê nio na uri na ma i o res que 3,86 µg . L-1. quadrangle, Bra zil. Applied Ge o che mistry, v.15, p.
No Mé dio Vale do Ri be i ra, a pre sen ça na tu ral de ar- 181-90, 2000.
sênio nas ro chas e so los da Fa i xa Pi ri ri ca, pa re ce ser a SAKUMA, A.M. Avaliação da exposição hu ma na ao ar -
fonte pro vá vel das concentrações de As-u en con tra das sênio no Alto Vale do Ribeira, Brasil. 2004. 197 p.
nas po pu la ções ali re si den tes. A mag ni tu de das con cen- Tese (Dou to ra do), Fa cul da de de Ciên ci as Mé di cas,
tra ções uri ná ri as en con tra das, no en tan to, (me di a nas de Universidade Estadual de Cam pinas, Campinas,
-1 -1
8,07 µg.L em Ipo ran ga-zona ur ba na, e 11,04µg.L nos 2004l.
mo ra do res na Fa i xa Pi ri ri ca), não apon tam para si tu a ção SAKUMA, A. M.; CAPITANI, E.M.; TIGLEA, P. Arsê nio. In:
de ris co ele va do à sa ú de hu ma na. Os re sul ta dos, no en- AZEVEDO, F.A.; CHASIN, A.A.M. Metais ge rencia-

– 86 –
Edu ar do Mel lo De Ca pi ta ni

mento da toxicidade, São Paulo : Atheneu, 2003. ociências, Universidade Estadual de Campinas,
p.203-38. Cam pi nas, 1999.
TAKAMORI, A. Y.; FIGUEIREDO, B. R. Monitoramento da TREPKA, M.J. et al. Arse nic bur den among chil dren in in-
qualidade de água do rio Ribeira de Igua pe para ar sê- dustrial areas of eastern Germany. Science To tal
nio e metais pesados. In: CONGRESSO BRASILEIRO Environmental, v. 180, p.95-105, 1996.
DE GEOLOGIA, 41., 2002, João Pessoa, PB. Anais. WHITE, M.A.; SABBIONI, E. Tra ce ele ment re fe ren ce va-
João Pes soa, PB : SBG. Nú cleo Nor des te, 2002. p: 255. lu es in tis su es from inha bi tants of the Eu ro pe an Uni-
TOUJAGUE, R. Arsê nio e me ta is as so ci a dos na re gião on. X. A study of 13 ele ments in blo od and uri ne of a
au rí fe ra do Pi ri ri ca, Vale do Ri be i ra, São Pa u lo, Bra sil. United Kingdom po pu la ti on. Science Total Envi ron-
1999. 94 p. Dis ser ta ção (Mes tra do) - Insti tu to de Ge- mental, v. 216, p. 253-70, 1998.

– 87 –
Chumbo e Arsênio nos Sedimentos do Rio Ribeira de Iguape, SP/PR

CHUMBO E ARSÊNIO NOS


SEDIMENTOS DO RIO
RIBEIRA DE IGUAPE, SP/PR
1
Idio Lopes Jr.; idiojr@sp.cprm.gov.br
2
Bernardino R. Figueiredo; berna@ige.unicamp.br
2
Jacinta Enzweiler; jacinta@ige.unicamp.br
2
Maria Aparecida Vendemiatto; aparecida@ige.unicamp.br
1
Serviço Geológico do Brasil, CPRM/SP
2
Instituto de Geociências, UNICAMP

INTRODUÇÃO da do Ribeira, onde se localizam as antigas frentes de


lavra da mina de Furnas. Um pouco mais para jusante,
A bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape pos- nas regiões dos bairros Castelhanos, Nhunguara e des-
sui uma área aproximada de 28.000 km² e localiza-se tacadamente nas áreas dos quilombos de São Pedro e
no extremo-nordeste do Estado do Paraná e sudeste do Ivaporunduva, as margens dos rios dos mesmos nomes
Estado de São Paulo (Figura 1). Possui mais de dois mi- (margem esquerda do Ribeira), ocorrem antigas (co-
lhões de hectares de floresta equivalente a aproxima- nhecidas desde o início da colonização portuguesa)
damente 21% dos remanescentes de Mata Atlântica do mineralizações de ouro associadas ao arsênio das ar-
País. O rio Ribeira tem uma extensão de 470 km, sendo senopiritas. Essa região, onde a litologia predominante
120 km em terras paranaenses e 350 km em território são metapelitos intercalados com rochas metabási-
paulista. cas/ultrabásicas é conhecida geologicamente como
O Alto Vale do Ribeira foi palco, durante décadas, Faixa Piririca. Todos esses fatos motivaram o Instituto
de uma intensa atividade de mineração voltada para a de Geociências da UNICAMP junto com o Serviço Geo-
produção de chumbo, zinco e prata. Até 1996 quando lógico do Brasil – CPRM/SP, Instituto Adolfo Lutz, Facul-
as últimas minas foram fechadas, produziram-se danos dade de Ciências Médicas da UNICAMP e a Universi-
à vegetação e à paisagem, especialmente nas lavras a dade Estadual de Londrina a elaborar e executar o pre-
céu aberto. Com o beneficiamento de minério (minas do sente estudo que recebeu apoio financeiro da FAPESP
Rocha e Panelas) e refino de metais, foram produzidas e com escopo de se diagnosticar o impacto do arsênio
pilhas de rejeitos que se encontram ainda expostas e e do chumbo na saúde dos habitantes e no meio ambi-
sujeitas a inundações periódicas. Na planta da Plum- ente. Foi executado o Mapeamento Geoquímico Multie-
bum, junto à margem direita do rio Ribeira, município de lementar de Baixa Densidade utilizando-se amostras
Adrianópolis, moradores das vilas vizinhas continuam dos sedimentos dos leitos ativos das drenagens da Ba-
expostos a intoxicação por chumbo, mesmo após o fe- cia do Ribeira para se observar como esses elementos
chamento da indústria. Na região da mina de Furnas, estão distribuídos ou, em outras palavras, suas paisa-
trabalhos realizados em 2003, com peixes do Ribeirão gens geoquímicas.
Furnas, mostraram que duas espécies de bagres e cas-
cudos achavam-se contaminadas com chumbo. Essas MATERIAIS E MÉTODOS
espécies de peixes de fundo procuram seus alimentos
nos sedimentos argilosos e sofrem forte impacto, pois O mapeamento geoquímico consistiu na coleta ma-
nessas frações o chumbo está mais concentrado. Na nual de 187 amostras de sedimentos de corrente abran-
mina de Furnas o chumbo ocorre associado ao arsênio. gendo toda a bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Igua-
Aliás, o arsênio passa a apresentar concentrações anô- pe. Além dessas, foram coletadas 25 amostras de “over-
malas a partir do rio Betari, afluente da margem esquer- bank” com o objetivo de se observar as paleopaisagens

– 88 –
Chumbo e Arsênio nos Sedimentos do Rio Ribeira de Iguape, Sp/Pr

Figura 1 – Localização da bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape com as divisões municipais, o contorno da bacia
e os remanescentes da Mata Atlântica.

e compará-las com as atuais. As coletas foram realiza- Pb, Rb, S, Sb, Sn, Sr, Th, U, V, Y, Zn, Zr). Como no Brasil
das durante os períodos das estações secas, para que o e em outros países, os mapeamentos geoquímicos de
material amostrado fosse o mais representativo possível sedimentos de corrente contemplam a análise da fra-
da bacia a montante da estação de coleta, evitando-se ção menor do que 180mm, e considerando que em mui-
dessa forma contribuições laterais que sempre ocorrem tos estudos de Geologia Médica/Geoquímica Ambien-
durante o período de chuvas torrenciais. Antes de cada tal é muito comum que seja analisada a fração menor
coleta, com equipamentos apropriados, foram obtidos do que 63mm, no presente estudo foi tomada a decisão
parâmetros físico-químicos das águas fluviais tais como: de analisar as duas frações granulométricas. Verifi-
pH, Eh, OD (oxigênio dissolvido), condutividade, turbi- cou-se posteriormente que as respostas das duas fra-
dez e temperatura. As amostras de “overbank” foram co- ções, do ponto de vista da identificação das anomalias
letadas nos primeiros 30 cm de “top soil” de paleoalu- geoquímicas, são muito semelhantes. Todos os resulta-
viões. dos obtidos foram reunidos no Atlas Geoquímico do
Nos laboratórios do IG-UNICAMP essas amostras Vale do Ribeira (2005).
de sedimentos foram secadas, peneiradas e analisa-
das por fluorescência de raios X, nas frações menores ARSÊNIO
do que 180mm (80#) e 63mm (230#), para 10 óxidos
(SiO2, TiO2, Al2O3, Fe2O3, MgO, CaO, Na2O0, K2O, P2O5) e O arsênio (As) pode ocorrer em quatro estados de
21 elementos-traço (As, Ba, Co, Cr, Cu, Ga, Mo, Nb, Ni, oxidação: arsenato (+5), arsenito (+3), arsina (-3) e o me-

– 89 –
Chumbo e Arsênio nos Sedimentos do Rio Ribeira de Iguape, SP/PR

tal (0). As espécies solúveis, geralmente, estão nos esta- CHUMBO


dos de oxidação +3 e +5. Raramente ocorre na forma li-
vre, ordinariamente encontra-se ligado ao enxofre, oxi- O chumbo (Pb) é um elemento de ocorrência natu-
gênio e ferro (sulfetos). Os compostos do arsênio apre- ral, encontrado com relativa abundância na crosta ter-
sentam diferentes toxidades dependendo da forma restre, quase sempre como sulfeto de chumbo (galena)
química. Assim as espécies de As (III) são dezenas de e geralmente está associado a outros elementos como
vezes mais tóxicas que as de As (V). Nas monitorizações zinco, cobre, cádmio, prata e ouro. Em sistemas aquáti-
ambientais ou biológicas é importante conhecer as es- cos contaminados, a maior parte do metal encontra-se
pécies químicas presentes, e por isso os ensaios de es- fortemente ligada aos sedimentos de fundo. Em organis-
peciação nos estudos geoquímicos do arsênio são muito mos aquáticos, o acúmulo do chumbo em sedimentos é
importantes. influenciado por vários fatores ambientais como tempe-
O arsênio possui mobilidade média, um pouco ratura, pH, Eh, salinidade, além do conteúdo de ácidos
mais alta do que a do chumbo, tanto em ambiente áci- húmicos. Na forma de sais, o chumbo apresenta alta to-
do quanto alcalino, e com isso não se distancia muito xidade para invertebrados aquáticos, em concentrações
da fonte que lhe deu origem, como podemos observar acima de 0,1 mg/L para organismos de água doce, e 2,5
nos mapas geoquímicos (Figuras 2 e 3). Como não mg/L para organismos marinhos. Altos níveis de metais
houve, ao contrário do chumbo, uma exploração inten- no solo podem levar à captura pelas plantas e escoa-
siva de ouro cujo principal hospedeiro é a arsenopirita, mento para as águas superficiais e subterrâneas. No
também não ocorreu uma poluição de As ao longo do Estado de São Paulo, a CETESB estabeleceu valores ori-
rio Ribeira. entadores para solo e água subterrânea (D.D. Nº
Nos mapas, os sedimentos das sub-bacias enrique- 195-2005-E, de 23/11/2005). Para o chumbo nos solos, o
cidas (Figuras 2 e 3) em As ou muito enriquecidas refle- valor de intervenção agrícola é de 180 ppm e no residen-
tem com fidelidade a presença, na área da bacia de cap- cial é de 300 ppm. Considerando a grande quantidade
tação, das antigas minas de chumbo fortemente associa- de anomalias geoquímicas nos sedimentos de corrente
do ao arsênio (minas do Rocha, Panelas, Laranjal e Fur- do Vale do Ribeira e sabendo que as concentrações são
nas), bem como as zonas com mineralizações de ouro bem mais diluídas em relação às correspondentes ano-
associado a sulfetos de arsênio, zinco e cobre (Faixa Piri- malias de solo, pode-se alertar que vários núcleos popu-
rica-São Pedro, com destaque para o rio Ivaporunduva, lacionais do vale estão sob constante exposição ao
representado pela sub-bacia do ponto de coleta 132 e chumbo e sua toxidade.
pelas cabeceiras do rio Pedro Cubas a montante do pon- A exploração de chumbo no Vale do Ribeira, até
to de coleta 140). As sub-bacias que contêm o rio Ribeira, meados dos anos 90, ficou bem retratada nos mapas
cujos sedimentos estão enriquecidos em As no trecho da geoquímicos do chumbo (Figuras 4 e 5). Os rejeitos de
Faixa Piririca, refletem um aporte de dispersão geoquími- minério jogados dentro das drenagens e estocados nas
ca daquelas zonas mineralizadas, bem como a presença suas margens, associados a fortes desníveis topográfi-
de veios mineralizados que cortam o rio Ribeira no trecho cos e a freqüentes chuvas torrenciais, foram os respon-
do Bairro dos Castelhanos. Destaca-se que os valores en- sáveis pelo enriquecimento dos sedimentos do Rio Ri-
contrados nos sedimentos de corrente são sempre meno- beira desde a mina do Rocha no Paraná até sua foz no
res do que os valores encontrados sobre os solos que de- complexo estuarino de Iguape – Cananéia, no litoral Sul
ram origem às anomalias geoquímicas. Pela D.D. nº Paulista.
195-2005 de 23/11/2005 da CETESB, o valor de interven- A mina de Panelas que pertencia à empresa Plum-
ção (acima do qual existem riscos potenciais, diretos ou bum, no município de Adrianópolis-PR, pode ser consi-
indiretos à saúde humana, considerando um cenário de derada como uma das principais responsáveis pelo
exposição genérico) para solos agrícolas para o As é de chumbo no leito do Rio Ribeira. Esta empresa, localizada
35 ppm e de 55 ppm para solos residenciais. à sua margem direita, beneficiava o minério (predomi-
Durante a realização deste projeto, de caráter multi- nantemente galena) e, além de jogar resíduos e efluen-
disciplinar, as populações expostas a estas anomalias tes diretamente no leito do rio, empilhava rejeito e esco-
geoquímicas de arsênio foram estudadas através da ria do refino junto à sua margem, como pôde ser obser-
análise do arsênio urinário em adultos e crianças. Ape- vado até recentemente. Parte do material contaminado
sar do monitoramento das águas fluviais terem mostrado também alcançou ruas e quintais das vilas operárias
um enriquecimento em arsênio nos rios que drenam as (Vila Mota e Capelinha) adjacentes à mina. Estudos ante-
zonas mineralizadas, suas concentrações são inferiores riores desenvolvidos nessa região, com crianças de 7 a
ao limite estabelecido pelo CONAMA (Conselho Nacio- 14 anos, mostraram concentrações médias de
nal de Meio Ambiente) e pela OMS (Organização Mundi- 11,89mg/dL de Pb no sangue (para os órgãos de controle
al de Saúde) que é de 10 mg / L . de saúde o índice máximo para criança é de 10mg/dl)

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Chumbo e Arsênio nos Sedimentos do Rio Ribeira de Iguape, Sp/Pr

Figura 2 – Paisagem geoquímica do arsênio na fração < 180 ìm. As amostras das sub-bacias de cor azul possuem valores menores do que 2,3 ppm; cor verde entre 2,3 e 11,9 ppm possuem
os valores de “background” regional; cor laranja entre 12 e 34 ppm e na cor vermelha com valores acima de 34 ppm.

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Idio Lopes Jr.

Figura 3 – Paisagem geoquímica do arsênio na fração < 63 ìm. As amostras das sub-bacias de cor azul possuem valores menores do que 3 ppm; cor verde entre 3 e 12,3 ppm possuem os
valores de “background” regional; cor laranja entre 12,4 e 29,6 ppm e na cor vermelha com valores acima de 29,7 ppm.

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Chumbo e Arsênio nos Sedimentos do Rio Ribeira de Iguape, Sp/Pr

Figura 4 – Paisagem geoquímica do chumbo na fração < 180 ìm. As amostras das sub-bacias de cor azul possuem valores menores do que 14 ppm; cor verde entre 14 e 36,9 ppm possuem
os valores de “background” regional; cor laranja entre 37 e 124 ppm e na cor vermelha com valores acima de 124 ppm.

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Idio Lopes Jr.

Figura 5 – Paisagem geoquímica do chumbo na fração < 63 ìm. As amostras das sub-bacias de cor azul possuem valores menores do que 18 ppm; cor verde entre 18 e 49,9 ppm possuem
os valores de “background” regional; cor laranja entre 50 e 123 ppm e na cor vermelha com valores acima de 123 ppm.

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Idio Lopes Jr.

chegando-se a registrar até 37,8mg/dl em algumas de- nor relação comprimento/peso, baixa capacidade de
las, em Vila Mota e Capelinha. reprodução e conseqüentemente um número menor
O chumbo é um elemento que possui baixa mobili- de peixes (75% menos) por área em comparação com
dade em qualquer ambiente (oxidante, redutor, ácido e outros riachos de porte similar não contaminados da
alcalino) e co-precipita facilmente com óxidos de região.
Fe-Mn; assim os sedimentos de corrente perdem con-
teúdo de Pb rapidamente a partir de uma ocorrência REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ou um depósito mineral. O SGB/CPRM desenvolveu
durante muitos anos pesquisa de ouro na faixa Piriri- AZEVEDO, F. A.; CHASIN, A. A. M. Metais: gerenciamen-
ca-São Pedro e acabou por descobrir um depósito de to da toxidade. São Paulo: Atheneu, 2003. 554 p.
ouro associado a sulfetos de arsênio, chumbo, zinco e COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO
cobre. Este depósito fica localizado no divisor de AMBIENTAL – CETESB. Decisão de Diretoria Nº 195-
águas do Rio São Pedro (nas figuras 4 e 5 é uma drena- 2005-E: de 23 de novembro de 2005. São Paulo:
gem da margem esquerda do rio Pilões, um pouco a [s.n.], 2005. 4 p.
montante do ponto de coleta 133, próximo à barra do CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE –
rio Pilões com o Ribeira) e do rio Ivaporunduva CONAMA. Resolução nº357: de 17 de março de
(sub-bacia do ponto 132). Nesse local, as anomalias 2005. 23 p.
de chumbo no solo alcançaram valores acima de 500 CUNHA, F. G. Contaminação humana e ambiental por
ppm e, no entanto, nos pontos de coleta dos sedimen- chumbo no Vale do Ribeira nos Estados de São Pa-
tos de corrente, não tão distantes, não se apresenta- ulo e Paraná. 2003. 111p. Tese (Doutorado) - Uni-
ram anômalos (ponto 133) ou não passaram de 124 versidade Estadual de Campinas, Instituto de Geo-
ppm (ponto 132). ciências, Campinas, 2003.
Destaca-se desta forma a diferença da dispersão FIGUEIREDO, B. R. Minérios e ambiente. Campinas:
iônica do chumbo, na Faixa Piririca-São Pedro, da dis- Editora da Unicamp, 2000. 401 p.
persão predominantemente clástica (particulado de GREENWOOD, N. N.; EARNSHAW, A. Chemistry of the
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bilidade de seus sedimentos ainda mostrarem valores HOWARTH, R. J.; THORNTON, I. Regional geochemical
anômalos a centenas de quilômetros a jusante da últi- mapping and its applications to environmental
ma fonte de chumbo, mesmo com a retirada diária de studies. In: APPLIED environmental geochemistry.
dezenas de toneladas de areia para a construção civil London: Academic Press, 1983. p. 41-78.
da calha do Ribeira nas proximidades da cidade de LEVINSON, A. A. Introduction to exploration geoche-
Registro. mistry. Ottawa: Applied Publishing Academic Press,
Embora ausente das águas do rio Ribeira e de 1974. 612 p.
seus principais afluentes entre as cidades de Iporanga LICHT, O. A. B. et al. Levantamento geoquímico multiele-
e Eldorado, como foi constatado pelo monitoramento mentar de baixa densidade no Estado do Paraná: hi-
realizado durante a execução do projeto, e dessa for- drogeoquímica - resultados preliminares. A Terra em
ma sem causar nenhum dano às populações e ao meio Revista, Belo Horizonte, v. 3, n.3, p. 34-46, 1997.
ambiente, o mesmo não se pode dizer dos sedimentos LOPES JR., I. Atlas geoquímico do Vale do Ribeira. [S.l.] :
da calha do Ribeira e dos afluentes que possuem mi- FAPESP; CPRM-SGB, 2005. 77 p.
nas de chumbo nas suas bacias de captação. Em um LOPES JR., I. et al. A prospecção geoquímica desco-
trabalho que consistiu no estudo de peixes do Ribeirão brindo novas mineralizações auríferas no Vale do Ri-
Furnas, coletados entre 1998 e 2000, por uma equipe beira. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
da Universidade de Tecnologia Chalmers de Gotem- GEOLOGIA, 38.,1994, Balneário de Camboriú. Ana-
burgo, Suécia, foi demonstrado duas espécies de ba- is. Balneário de Camboriú : SBG, 1994. 3v. v. 3., p.
gres e cascudos que apresentaram atividade 50% me- 170-171.
nor da enzima ALAD (enzima relacionada à síntese de LOPES JR., I.; VASCONCELOS, C. S. de; WILDNER, W.
glóbulos vermelhos no sangue e, normalmente, utiliza- ; SILVA, L. A. C. Geoquímica das Folhas Jacupi-
da como indicador da presença de chumbo no ambi- ranga e Rio Guaraú (1:50.000). In: SIMPÓSIO DE
ente), em relação aos da mesma espécie, de rios não GEOLOGIA DO SUDESTE, 6., 1999, São Pedro, SP.
contaminados. Essas espécies de peixes de fundo são Boletim de Resumos. São Paulo : SBG, Núcleos
afetadas pela poluição porque procuram seus alimen- São Paulo/Rio de Janeiro/ Espirito Santo, 1999. p.
tos nos sedimentos argilosos nos quais o chumbo está 38.
fortemente concentrado. Foram observadas altas con- LOPES JR., I. 2001. Projeto Mogi-Guaçu / Pardo. Levan-
centrações de Pb nos tecidos desses peixes, uma me- tamento Geoquímico das Bacias dos Rios Mo-

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Chumbo e Arsênio nos Sedimentos do Rio Ribeira de Iguape, SP/PR

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