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Raimunda Moreira da Franca, R. M. et. al.

ARTIGO TÉCNICO

CONTAMINAÇÃO DE POÇOS TUBULARES EM JUAZEIRO DO


NORTE-CE

CONTAMINATION OF A WELL FIELD IN JUAZEIRO DO NORTE - CEARÁ


RAIMUNDA MOREIRA DA FRANCA
Bióloga. Mestre em Engenharia Civil-Saneamento Ambiental pelo Departamento de Engenharia Hidráulica e
Ambiental -UFC, Pesquisadora do CNPq/ PROSAB/ UFC

HORST FRISCHKORN
Doutor Rer. Nat. em Físico-química pela Universidade de Marburg/Alemanha. Professor adjunto do Departamento de
Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC

MANOEL ROBERVAL PIMENTEL SANTOS


Mestre.Dutorando em Física pelo Departamento de Física da UFC

LUIZ ALBERTO RIBEIRO MENDONÇA


Biólogo. Engenheiro Civil pela UFC. Doutor em Recursos Hídricos pelo Departamento de Engenharia Hidráulica e
Ambiental da UFC. Professor do Instituto Centec Cariri-CE

MARIA DA CONCEIÇÃO BESERRA


Bióloga. Especialização em Meio Ambiente pela Universidade Regional do Cariri-URCA

Recebido: 22/03/05 Aceito: 23/02/06


RESUMO ABSTRACT
A interação do riacho dos Macacos e de uma bateria de poços, na The interaction of the Macacos Creek and a neighboring well field,
sua vizinhança, em Juazeiro do Norte-CE, foi avaliada segundo in Juazeiro do Norte-Ceará, was assessed through chemical,
parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos. Foram realizadas physicochemical and bacteriological parameters. Oxygen -18
também análisés de oxigênio-18 a fim de avaliar a mistura de measurements were made for the identification of mixes from surface
águas subterrâneas com águas superficiais. Verificou-se que o and underground waters. It was found that Macacos Creek water,
riacho dos Macacos, na maioria dos parâmetros analisados, não se with respect to most of the parameters analysed, does not conform to
enquadra em nenhuma das classes de águas doces da Resolução any of the classes for fresh water defined by CONAMA Resolution
N° 357 do CONAMA e da Portaria N° 518 do Ministério da Nr.357 by the Ministry of Health. In this creek and in the Timbauba
Saúde. Constatou-se que neste riacho e no lago da Timbaúba a Lake the concentration of coliform and thermo-resistant bacteria is
concentração de coliformes totais e termotolerantes é extrema- extremely high. MODFLOW / MODPATH modeling of advective
mente elevada. Uma simulação computacional do transporte contaminant transport from the creek to the wells showed minimum
advectivo do contaminante de partículas do rio para o aqüífero transit times between 15 and 100 days. Considering a half life of
com o modelo MODPATH/MOFLOW revela tempos mínimos about 8 days for coliform bacteria in groundwater and their extremely
de transito do manancial superficial poluído até os filtros dos high concentration in surface waters, contamination of the supply
poços entre 15 e 100 dias. Considerando a meia vida dos wells is inevitable.
coliformes em águas subterrâneas de aproximadamente 8 dias e
sua alta concentração na água superficial, contaminação dos po-
ços de abastecimento é inevitável.

PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de água, contaminação de KEYWORDS: Water quality aquifer contamination, advective
mananciais, simulação do transporte advectivo. transport simulation.

INTRODUÇÃO uma área de 235,40Km2. Está inserido derada a maior cidade do interior cearense
na bacia hidrográfica do Salgado e apre- em aspecto de desenvolvimento, possui
O município de Juazeiro do Norte senta como principais drenagens o riacho uma população de 212.133 mil habi-
situa-se no sul do Estado do Ceará, no dos Macacos e o rio Salgado. Possui como tantes, densidade demográfica de
Vale do Cariri, sob as coordenadas geo- fonte hídrica direta ou indireta o manan- 900hab/km², com taxa de urbanização de
gráficas 7°12’47’’ de latitude sul e cial subterrâneo, que representa a única 95,32%. Apresenta um comércio bem
39°18’55’’ de longitude oeste, e possui fonte de abastecimento d’água. É consi- desenvolvido e festas religiosas que atraem

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Contaminação de Poços Tubulares em Juazeiro do Norte - CE

ARTIGO TÉCNICO
romeiros e turistas do Brasil e do exterior METODOLOGIA As análises isotópicas foram feitas
em média anual de, aproximadamente, pelo Laboratório de Ecologia Isotópica da
dois milhões de visitantes (IBGE, 2000). Com base na localização dos poços Universidade de São Paulo-USP, no Cen-
De acordo com Ceará (2003), quase utilizados para abastecimento humano, tro de Energia Nuclear da Agricultura-
100% da população urbana é abastecida situados em áreas críticas e vulneráveis à CENA em Piracicaba. As medidas de 18O
basicamente com água proveniente de poluição, e considerando a presença de são feitas em relação ao padrão VSMOW
uma bateria de 18 poços, implantada pela mananciais superficiais susceptíveis à po- (Viena SMOW: Standard Mean Ocean
companhia a partir de 1976, com uma luição localizados em áreas adjacentes aos Water), fornecido pela Agência Interna-
produção máxima de 2.592 m3/h, ope- poços, foram selecionados 12 pontos de cional de Energia Atômica em Viena/Áus-
rada 24 h/dia. Nove poços da bateria coleta, a fim de se obter dados sobre a tria) e expressas em valor de d ‰ (delta
encontram-se nas margens do riacho dos qualidade da água dos poços e mananci- por mil).
Macacos (Figura 1), que anteriormente ais superficiais. No riacho dos Macacos, a (1)
drenava a área exudante do aqüífero Rio escolha dos pontos de amostragens foi
da Batateira (aqüífero superior no Vale do com base nos locais de descarga de onde:
Cariri). Hoje, o fluxo natural deste riacho poluentes a montante e jusante de parte R é a razão isotópica (18O/16O) entre o
é substituído por águas de esgotos. da bateria de poços localizada na Várzea isótopo pesado 18O e o mais abundante
16
Todos os poços exploram o aqüífero da Timbaúba (Figura 1). Adotou-se PT O na amostra; e R0: é a razão isotópica
semi-confinado Rio da Batateira, com para poço tubular e RM para o riacho (18O/16O) do padrão. O erro das medidas
profundidades entre 80 e 200 m. A dos Macacos, com indicação do poço é cerca 0,1‰.
estratigrafia geológica de uma seção da mais próximo em parêntese. Na simulação utilizou-se o modelo
bateria de poços e o perfil construtivo do As coletas foram realizadas durante computacional MODPATH, em conjun-
poço PT 03, que é representativo para os 3 meses (junho, novembro e dezembro to com o MODFLOW, para simular o
demais é mostrado na Figura 2. Uma de 2002) do período seco e em mais 3 transporte advectivo de partículas
descrição detalhada da geologia deste meses (janeiro, abril e maio de 2003) do contaminantes da fonte de poluição (ria-
aqüífero encontra-se em Mendonça período chuvoso. Nas coletas de 2003 cho) até o filtro dos poços. O MODPATH
(1996). foram incluídos os poços PT11 e PT12 traça o percurso de partículas por trans-
Naturalmente, dependendo da que exploram o mesmo aqüífero, porém, porte advectivo utilizando as cargas hi-
permeabilidade do leito do rio e da dife- fora da bateria aqui pesquisada e distante dráulicas calculadas previamente pelo
rença de carga potenciométrica entre o do riacho dos Macacos, para obtenção de MODFLOW. Essa simulação completa
rio e o aqüífero, a água pode fluir do rio parâmetros para o aqüífero não poluído. encontra-se descrita em Santos (2003).
para o aqüífero ou vice-versa. Normal-
mente, nos aqüíferos aluviais, a recarga Métodos de análises RESULTADOS E
tem origem fluvial nos períodos de altas dos parâmetros DISCUSSÕES
águas, enquanto que o fluxo de base dos determinados
rios, nos períodos de baixas águas, é asse- A qualidade da água é definida em
gurado pelas águas subterrâneas. Dureza: método titulométrico do EDTA função de valores máximos permitidos
Mendonça et al. (2005), utilizan- (APHA, 1995). para variáveis físicas, químicas e biológi-
do medidas isotópicas de oxigênio-18 Cloreto: método titulométrico do EDTA cas. A classificação dos corpos d’água é
e carbono-14 nas águas subterrâneas (APHA, 1995). estabelecida a partir da Resolução
da região do Cariri, comprovaram Amônia: método da nesslerização direta CONAMA Nº 357 de 15 de março
que elas são misturas de paleoáguas (APHA, 1995). 2005, que enquadra as águas em nove
(idade >10.000 anos), provenientes de Nitrato: método espectrofotométrico do classes através de condições indispensá-
um fluxo regional ascendente no vale, com salicilato de sódio, método de Rodier veis, visando os diferentes usos e equilí-
águas pluviais recentes infiltradas direta- (APHA, 1995). brio ecológico dos corpos d’água. A água
mente no Vale do Cariri. Tal fato chama Demanda Bioquímica de Oxigênio: mé- para consumo humano deve-se ajustar a
atenção com relação à situação atual da todo dos frascos padrões (APHA, 1995). padrões adequados de potabilidade se-
superex- plotação das águas subterrâne- Demanda Química de Oxigênio: gundo as normas do Ministério da Saúde
as, uso e ocupação desordenada da área refluxação fechada do dicromato de po- e da Organização Mundial de Saúde. A
de recarga das unidades aqüíferas, falta tássio (APHA, 1995). Portaria do Ministério da Saúde Nº 518,
de conservação e proteção nas áreas de Alcalinidade: método titulométrico e de 25 de março de 2004, estabelece os
influência dos poços e à falta de informa- potenciométrico (APHA, 1995). procedimentos e responsabilidades rela-
ções sobre a vulnerabilidade natural dos Oxigênio Dissolvido: determinação in tivos ao controle e vigilância da qualida-
aqüíferos. loco, utilizando oxímetro modelo 55 YSI de da água para consumo humano, bem
O presente trabalho tem como ob- Condutividade Elétrica: determinação in como o seu padrão de potabilidade.
jetivo avaliar a interação entre unidades loco, utilizando condutivímetro portátil,
aqüíferas e mananciais superficiais poluí- (WTW). Condutividade elétrica - CE
dos, o grau de poluição e/ou contamina- pH: determinação direta in loco com me-
ção da bateria de poços tubulares, que didor de pH da Digimed. Durante o período seco (Figura 2) a
abastece o município de Juazeiro do Nor- δ18O (Oxigênio 18): espectrometria de condutividade elétrica média da bateria
te, e do riacho dos Macacos, por meio de massa. de poços estudados variou de 150µS/cm,
análises físicas, químicas, bacteriológicas Coliformes Totais e Termotolerantes: mé- no PT 17, a 549µS/cm, no PT 2A. Du-
e isotópicas. todo cromogênico. rante este periodo as águas dos poços apre-

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Raimunda Moreira da Franca, R. M. et. al.
ARTIGO TÉCNICO

Fonte: Mendonça et al., 2005


Figura 1 – Bateria de poços e mananciais superficiais na área de estudo

Fonte: Mendonça, 1996


Figura 2 - Estratigrafia geológica da seção AB e perfil
construtivo representativo

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Contaminação de Poços Tubulares em Juazeiro do Norte - CE

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sentaram maior carga de íons. Já durante legislação brasileira estabelece valores de pH médios, as águas do riacho dos Macacos
o período chuvoso (figura 3), a CE va- entre 6,5 e 8,5 para águas destinadas ao se enquadram dentro das classes, 1, 2, 3,
riou entre 131ìS/cm, e 506ìS/cm. Ocor- consumo humano, e entre 6,0 e 9,0 para ou 4, classificadas como água doce.
reu uma diminuicão dos valores em qua- todas as classes de água doce.
se todos os poços, com exceção de PT 03, Durante o período seco (Figura 4), Oxigênio dissolvido
provavelmente, devido a recarga do as águas dos poços apresentam valores
aqüífero a partir de águas profundas as- médios máximo de pH igual a 7,6, no Durante o período seco, o valor de
cendentes. PT 05, e pH médio mínimo de 6,2, no OD nos poços (figura 6) variou de
Durante o período chuvoso (Figu- PT 2A. No período chuvoso (Figura 5), 3,8 mg/L, no PT 17, a 6,8 mg/L, no PT
ra 3), no riacho dos Macacos, a CE dimi- o valor médio máximo de pH 7,4 foi cons- 11. No período chuvoso (figura 7), o OD
nuiu; o menor valor foi de 358ìS/cm e o tatado no PT 14 e o mínimo de 6,2, no na água dos poços se manteve quase está-
maior, 756ìS/cm. Essa diminuição, cer- PT 2A. Na época da perfuração (1976), vel, não apresentando grandes variações,
tamente, aconteceu devido a diluição com o PT 04 apresentou pH 8,2 e durante o o menor valor foi de 4,7 mg/L e o maior,
águas provenientes das precipitações ocor- monitoramento apresentou valor médio 6,0 mg /L. No riacho dos Macacos (Fi-
ridas neste período. de 6,7. No riacho dos Macacos, no pon- gura 7), durante o período seco, o menor
to vizinho ao PT 05, na coleta de maio valor foi 1,1 mg/L, nos dois pontos
pH 2003, o valor de pH não condiz com o amostrados; o maior foi 1,8 mg/L, no
limite estabelecido para a classe de águas ponto vizinho ao PT 05. Neste período
Na maioria dos corpos d’água natu- doces. Durante o período seco, o pH do ano a carga orgânica lançada no riacho
rais, o pH é influenciado pela dissolução médio foi 7,0, no ponto vizinho ao PT é mais concentrada.
do ácido carbônico ou ainda pelo despe- 03, e 7,5, no ponto vizinho ao PT 05. Durante o período chuvoso, o au-
jo de efluentes domésticos e industriais No Lago da Timbaúba o valor médio foi mento no OD é significativo, partindo de
ou pelo intemperismo de rochas e da ero- 7,4. Apesar da pequena variação consta- valores próximos de zero até atingir 5,6
são de áreas agrícolas com uso de correti- tada, o pH dessas águas pode variar em mg/L, o maior valor. Esse aumento é asso-
vos e fertilizantes (Conte et al, 2001). função da temperatura, atividade bioló- ciado à ocorrência de chuvas, cujas águas
A maioria das águas subterrâneas tem gica e lançamentos de efluentes. diluem os esgotos lançados no riacho e
pH entre 5,5 e 8,5. Em casos excepcionais De acordo com a Resolução Nº 357 aumentam a turbulência de fluxo, propi-
pode variar entre 3 e 11 (Santos, 2000). A do CONAMA, considerando valores ciando uma maior oxigenação da água.

20/6/2002 5/11/2002 10/12/2002 15/1/2003 25/4/2003 20/05//03

1200 1200
Condutividade (µS/cm)

1000 1000
Condutividade (µS/cm)

800 800
600
600
400
400
200
200
0
PT.01
PT.02

PT.03
PT.04

PT.05

PT.06
PT.14

PT.17

RM PT.03
RM PT.05
PT.2A

0
RM PT.03

RM PT.05
PT.01

PT.02

PT.03

PT.04

PT.05

PT.06

PT.11

PT.12

PT.14

PT.17
PT.2A

Lago

Pontos de coleta Pontos de coleta

Figura 3 - Condutividade no período seco Figura 4 - Condutividade no período chuvoso

20/06/02 05/11/02 10/12/02 15/01/03 25/04/03 20/05/03


8 8
7 7
6 6
5 5
pH
pH

4 4
3 3
2 2
1 1
0 0
PT.01

PT.02

PT.06

RM PT.03

RM PT.05

PT.03

PT.12
PT.03

PT.04

PT.05

PT.14

PT.17

PT.01
PT.02

PT.04
PT.05
PT.06
PT.11

PT.14
PT.17
RM PT.03
RM PT.05
PT.2A

PT.2A

Lago

Pontos de coleta Pontos de coleta

Figura 5 - pH no período seco Figura 6 - pH no período chuvoso

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Raimunda Moreira da Franca, R. M. et. al.
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20/06/02 05/11/02 10/12/02 15/01/03 24/04/03 20/05/03

Oxigênio dissolvido (mg O2/L)


10 10
Oxigênio dissolvido (mg O2/L)

8 8

6 6

4 4

2 2

0 0

PT.06

PT.14
PT.01
PT.02

PT.03
PT.04
PT.05

PT.11
PT.12

PT.17
RM PT.03
RM PT.05
PT.01

PT.04

PT.14

PT.2A
PT.02

PT.03

PT.05

PT.06

PT.17

RM PT.05

Lago
RM PT.03
PT.2A

Pontos de coleta Pontos de c oleta

Figura 7 - Oxigênio dissolvido no período seco Figura 8 - Oxigênio dissolvido no período chuvoso

A legislação brasileira em vigor es- 1 0/12/02


tabelece limites de 6,0, 5,0, 4,0 e 2,0 mg/L 14
de OD para as águas de classe 1, 2, 3, e 4,
12
respectivamente. Verifica-se que durante
Nitrato (mg N-NO3 -/L)

o período seco, as águas do riacho dos 10


Macacos não se enquadram nas classes 1, 8
2, 3, e 4 de águas doces. 6

Nitrato
4

2
As águas subterrâneas apresentam 0
geralmente teores de nitrato entre 0,1e
P T .2A
P T .01

P T .02

P T.03

P T .04

P T .05

PT .06

P T.14

P T .17

RM P T .03

RM P T .05
10 mg/L, porém, em águas poluídas,
osteores podem chegar a 1.000mg/L Ponto s de c olet a
(Santos, 2000). Segundo a Portaria
Nº 518 de 25 de Março de 2004, água Figura 9 - Nitrato no período seco
destinada ao abastecimento humano não
15/12/03 2 5/04/03 20/05/03
deve conter mais que 10mg N-NO3-/L.
14
Concentrações elevadas podem causar
metahemoglobinemia (cianose) em crianças. 12
Nitrato (mg N-NO3 -/L)

O nitrato pode chegar às águas sub- 10


terrâneas através de esgotos domésticos e 8
industriais ou pela lixiviação de áreas agrí- 6
colas. Elevado teor de nitrato associado
4
com um teor de cloreto é uma forte indi-
cação de poluição de águas subterrâ- 2
neas por águas residuárias domésticas 0
PT.04

PT.11

PT.17

Lago

(Driscoll, 1987).
PT.01

PT.02

PT.03

PT.05

PT.06

PT.12

PT.14
PT.2A

RM PT.03

RM PT.05

Durante o período seco (Figura 8),


nas águas dos poços, as concentra- Ponto s de colet a
ções de nitrato se mantiveram entre
15,6 mg N-NO 3 - /L, no PT 2A, e Figura 10 - Nitrato no período chuvoso
0,8 mg N-NO3-/L, no PT 17. No perío-
do chuvoso (Figura 9), essas concentra- atingindo 12,8 mg N-NO3-/L. No perí- Amônia
ções variaram entre 5,8 mg N-NO3-/L, no odo chuvoso, considerando a média dos
PT 2A, e 0,3 mg N-NO3-/L), no PT 12. dois pontos amostrados, essa concen- Durante o período seco (Figura 10),
Considerando o nível máximo tração caiu para 4,3mg N-NO3-/L. No somente o PT 17 apresentou valores
de nitrato permitido pela legislação Lago da Timbaúba, amostrado apenas du- (1,4 mg NH3/L) condizentes com a Por-
(10 mg N-NO3-/L), verifica-se que o rante o período chuvoso, a media foi taria Nº 518 de 25 de Março de 2004,
PT 2A apresentou concentrações superio- 4,8mg N-NO3-/L. que estabelece uma concentração abaixo
res no período seco (15,6 mg N-NO3-/L), De acordo com a Resolução Nº 357 de 1,5 mg N-NH3/L.
o que indica poluição por esgotos do- do CONAMA, as águas do riacho Durante o período chuvoso (Figu-
mésticos devido à proximidade de manan- dos Macacos durante o período seco e ra 11) as concentrações de amônia nos
ciais superficiais poluídos. A maior con- chuvoso se enquadram no limite de poços variaram de 3,0 mg N-NH3/L, no
centração de nitrato no riacho dos Maca- 10 mg N-NO3-/L estabelecido para águas PT 06, e 0,7 mg N-NH3/L, no PT 11.
cos aconteceu durante o período seco, de classes doces. Com base na Portaria Nº 518 de 25 de

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Contaminação de Poços Tubulares em Juazeiro do Norte - CE

ARTIGO TÉCNICO
Março de 2004, considerando valores 10/12/02
médios, os poços (PT 01, PT 2A, PT 03,
14
PT 05, PT 06 e PT 17), apresentaram va-
12

Amônia (mg N-NH3/L)


lores acima do limite de 1,5 mg N-NH3/L
estabelecido para águas de consumo hu- 10
mano. Com relação a esse parâmetro, tais 8
poços apresentam indícios de poluição 6
por matéria orgânica. Na época da perfu- 4
ração (1976), o PT 04 apresentou traços 2
de amônia e durante o monitoramento 0
a concentração média observada foi de

PT.01

PT.04

PT.14
PT.02

PT.03

PT.05

PT.06

PT.17

RM PT.05
RM PT.03
PT.2A
1,3 mg N-NH3/L.
A concentração de amônia no riacho Pontos de coleta
dos Macacos é mais elevada; duran-te o perí-
odo seco (figura 10), o mínimo foi de 9 mg Figura 11 - Amônia no período seco
N-NH3/L e o máximo, 12,8 mg N-NH3/L.
15/12/03 24/04/03 20/0 5/03
A presença de amônia no riacho dos
Macacos pode ser atribuída aos constan- 14

tes lançamentos de efluentes domésticos Amônia (mg N-NH3/L) 12


in natura como também ao uso de ferti- 10
lizantes nitrogenados na área, processos 8
erosivos e lixiviação dos solos agrícolas. 6
De acordo com a Resolução Nº 357 4
do CONAMA, o riacho dos Macacos 2
não se enquadra nas classes 1, 2, ou 3,
0
cujo valor máximo é de 0,02 mg /L, po-

PT.06

PT.14

RM PT.03
RM PT.05
PT.2A
PT.01
PT.02

PT.03
PT.04
PT.05

PT.11
PT.12

PT.17

Lago
dendo ser enquadrado na classe 4 (águas
destinadas à navegação), para qual um Pontos de coleta
valor limite de amônia não foi estipu-
lado. Figura 12 - Amônia no período chuvoso
Durante o período chuvoso (Figu-
ra 11), no riacho e no Lago da Timbaú- 20/06/02 05/11/02 10/12/02
ba, as concentrações variaram de 300
A lcalin id ad e (mg CaCO 3 /L)

8,9 mg N-NH3/L, no ponto vizinho ao


250
PT 03, e 11,5 mg N-NH3/L, no ponto
vizinho ao PT 05. Neste período as águas 200

do riacho também não se enquadram 150


dentro das classes 1, 2, ou 3, classificação 100
da Resolução Nº 357 do CONAMA; as-
50
sim, tanto o riacho dos Macacos como o
Lago da Timbaúba encontram-se poluí- 0
PT.01

PT.02

PT.03

PT.04

PT.05

PT.06

PT.14

PT.17

RM PT.03

RM PT.05
PT.2A

dos por esgotos domésticos.

Alcalinidade Pontos de coleta

A alcalinidade das águas subterrâ- Figura 13 - Alcalinidade total no período seco


neas, geralmente, situa-se entre 100 e
300 mg CaCO3/L, somente em casos ex- 15/01/03 25/04/03 20/05/03
cepcionais pode atingir 1000mg CaCO3/L 300
A lcalinidade (mg CaCO 3 /L)

(Custodio e Llamas, 1983).


250
Para o período seco (Figura 12), os
poços mostraram variação na média de 200
17,3 mg CaCO3/L, no PT 2A, e 157,2 mg 150
CaCO3/L, no PT 06. No período chu- 100
voso (figura 13), a alcalinidade foi su-
50
perior em todos os poços, apresentando va-
lores médios mínimo de 41,1 mg CaCO3/L 0
PT.01
PT.02

PT.03
PT.04
PT.05
PT.06
PT.11
PT.12
PT.14
PT.17
RM PT.03
RM PT.05
Lago
PT.2A

(PT 2A) e máximo de 169,8 mgCaCO3/L


(PT 06). O aumento da alcalinidade das
águas dos poços durante esse período Pontos de coleta
pode estar relacionado á entrada de águas
novas bicarbonatadas. Figura 14 - Alcalinidade no período chuvoso

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Raimunda Moreira da Franca, R. M. et. al.
ARTIGO TÉCNICO

Durante o período seco, no riacho De acordo com a Portaria Nº 518 atendem ao limite estabelecido pela Re-
dos Macacos, os valores médios de de 25 de março de 2004, as águas de solução Nº 357 do CONAMA para águas
alcalinidade situaram-se entre todos os poços estão dentro do limite es- doces, que fixa o valor em 250 mg/L.
156,4 mg CaCO 3 /L e 226,3 mg tabelecido (500 mg CaCO3/L) para águas
CaCO3/L. Já no período chuvoso, os de consumo humano. Demanda bioquímica de
valores médios variaram de 161,6 Durante o período seco, no ria- oxigênio e demanda
mgCaCO3/L a 199,7 mg CaCO3/L cho dos Macacos, considerando os dois química de oxigênio
(Figuras 12 e 13). Constata-se, portan- pontos amostrados, a dureza média foi
to, que não há mudanças significativas de 216 mg CaCO3/L. Já no período chu- Durante o período seco (Figura 18),
no riacho dos Macacos em função da voso, o valor da dureza duplicou com re- o valor maior de DBO observada no ria-
estação. A alcalinidade é determinada lação ao período seco, atingindo valores cho dos Macacos foi de 244 mg/L e o
mais pelos de efluentes domésticos e in- em torno de 426 mg CaCO3/L. menor de 15mg/L. Já durante o período
dustriais do que pelas águas naturais. chuvoso com uma melhor homoge-
Cloreto neização, o valor mínimo foi 65 mg/L e o
Dureza valor máximo 155 mg/L. Em termos de
As concentrações de cloreto verifi- média, houve um decréscimo durante o
De acordo com os padrões de qua- cadas nas águas dos poços durante o perí- período chuvoso, que pode ser explicado
lidade da água para consumo humano odo seco se mantiveram bastante variá- pela diluição da matéria orgânica devido
(Portaria Nº 518 de 25 de Março de veis (Figura 16). A média menor foi às chuvas. Com relação à DBO medida,
2004), o limite máximo desejável é de 9,5 mg/L, nos poços PT 14 e PT 17, e o riacho dos Macacos não se enquadra
500 mg CaCO3/L. maior, 61,5 mg/L, no PT 2A. Durante o nas classes especial, 1, 2, 3 e 4 de águas
Os valores de dureza para as águas período chuvoso, as concentrações de doces, conforme o que estabelece a Reso-
subterrâneas estão, geralmente, situados cloreto aumentaram nos poços PT 01, lução Nº 357 do CONAMA.
entre 10 e 300 mgCaCO3/L, podendo PT 2A, PT 03, PT 04, PT 06, PT 14 e As concentrações de DQO (Figura
atingir 1000 mgCaCO3/L e, em casos PT 17 e diminuíram nos poços PT 02 e 19) nas águas do riacho dos Macacos,
excepcionais, 2000 mgCaCO3/L. As PT 05 (figura 17). Na época da perfura- durante o período seco, variaram de
águas subterrâneas podem ser classificadas, ção (1976), o PT 04 apresentou concen- 89 mg/L a 456 mg/L. Durante o perío-
em termos de dureza (mg CaCO3/L), tração de cloreto 8 mg/L e durante o do chuvoso não houve grandes variações
como “branda” (<50), “pouco dura” monitoramento o valor médio observa- com relação ao período seco. Os valores
(50-100), “dura” (100-200) e “muito do foi 39,55 mg/L. Porém, as águas de DBO e DQO se apresentaram bas-
dura” (>200) (Custodio & Lamas,1983). de todos os poços atendem ao limite de tante elevados, confirmando que o ria-
Durante o período seco (Figura 14), 250 mg/L, estabelecido na Portaria cho dos Macacos recebeu carga orgânica
a dureza das águas dos poços, considerando Nº 518 de 25 de março de 2004. poluidora.
valores médios, se manteve bastante variá- No período seco, as concentrações De acordo com a Resolução Nº 357
vel. O valor menor foi 48 mgCaCO3/L, no de cloreto no riacho dos Macacos foram do CONAMA, a DBO5 (medida por
PT 17, e o maior, 138 mgCaCO3/L, no de 67 mg/L e 348,3 mg/L (figura 16). 5 dias a 20°C), pode atingir 3 mg/L para
PT 06. No período chuvoso (Figura 15), No primeiro ponto de coleta, as águas do as classes de águas doces (classes especial
a dureza das águas dos poços aumentou riacho dos Macacos não se enquadram e 1), 5 mg/L para classe 2, 10 mg/L para
em quase todos os poços, o maior va- dentro dos limites estabelecidos para águas classe 3; para a classe 4 não faz referência.
lor médio foi de 156,6 mg CaCO3/L, doces. Durante o período chuvoso, no
PT 2A, e o menor, de 53,6 mgCaCO3/L, riacho dos Macacos, o menor valor foi Coliformes totais e
PT 17. Mesmo assim, as águas dos po- 82,7 mg/L e o maior, de 209,7 mg/L termotolerantes
ços, também considerando valores médi- (Figura 17). No primeiro ponto ocorreu
os, mantêm a mesma classificação (“dura” uma diminuição na concentração de As concentrações de coliformes to-
na maioria dos poços), com exceção do cloreto, provavelmente devido à diluição tais e termotolerantes nas águas dos po-
PT 17, que passa a ter águas “branda”. durante as chuvas. Nesse período, as águas ços apresentaram-se bastante variáveis ao

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600 600
Dureza (mg CaCO 3 /L)
Dureza (mg CaCO 3 /L)

500 500

400 400

300 300
200 200

100 100

0 0
PT.01

PT.02

PT.03

PT.04

PT.05

PT.06

PT.14

PT.17

RM PT.03

RM PT.05

PT.01
PT.02

PT.03
PT.04
PT.05
PT.06
PT.11
PT.12
PT.14
PT.17
RM PT.03
RM PT.05
PT.2A

Lago
PT.2A

Pontos de coleta Pontos de coleta

Figura 15 - Dureza total no período seco Figura 16 - Dureza total no período chuvoso

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Contaminação de Poços Tubulares em Juazeiro do Norte - CE

ARTIGO TÉCNICO
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120 120
100 100

Cloret o (mgCl- /L)


Cloret o (mgCl-/L)

80 80

x10
x 10
60 60

x10
40 40

x 10
x 10
x10
20 20

0 0

PT.02

PT.04

PT.12

RM PT.03
P T .01

P T .06

RM P T.03

RM P T .05
P T.2A

PT.2A
PT.01

PT.03

PT.05
PT.06
PT.11

PT.14
PT.17

RM PT.05
Lago
PT .02

P T .03

P T .04

P T .05

PT .14

P T.17
Ponto s de colet a Pontos de coleta
Figura17 - Cloreto no período seco Figura 18- Cloreto no período chuvoso

RM PT 03 RM PT 05 RM PT.03 RM PT.05

600 600
DBO (m g /L )

500
400 500
DQO (m g/L )

300 400
200
300
100
0 200
20/06/02

05/11/02

10/12/02

15/01/03

25/04/03

20/05/03

100
0
20/06/02 05/11/02 10/12/02 15/01/03 25/04/03 20/05/03
Período seco Período chuvoso
Período seco Período chuvoso

Pe r íodo m onitor ado Pe r íodo m onitor ado

Figura 19 - DBO no riacho dos Macacos Figura 20 - DQO do riacho dos Macacos

longo do período de monitoramento. Dos dos das proximidades. O PT 02 está lo- ambientais. A área de domínio do mode-
onze poços amostrados, apenas dois (PT calizado a 70 m do riacho dos Macacos, lo, de extensão 11.000 m x 13.000 m, foi
11 e PT 12), não apresentaram coliformes provável fonte de poluição. O PT 14 apre- escolhida de tal forma que a área de interes-
em nenhuma das coletas. Tais poços, em- senta apenas coliformes totais em peque- se, que corresponde à bateria de poços, fi-
bora localizados fora da parte da bateria es- nas densidades, porém, repetindo-se em casse centrada na malha para não sofrer in-
tudada, foram incluídos no monito- três coletas. O PT 03 apresenta apenas terferência dos contornos durante as simu-
ramento com o propósito de comparação, coliformes totais apesar de estar localizado lações. Foi traçado um círculo em torno do
visto que se encontram em boas condições a 13 m do riacho dos Macacos, a jusante poço, com raio igual à distância entre o poço
sanitárias e distantes dos focos de poluição. de lançamentos de efluentes brutos. e riacho dos Macacos, onde as partículas
De acordo com a tabela 1, os poços Os poços PT 01, PT 04, PT 05 e (bactérias) transportadas por advecção são
PT 2A e PT 05, apresentam maior inci- PT 06 apresentaram pouca e variável con- dispersas. As linhas de trajetória das partí-
dência de coliformes totais e ter- centração de coliformes. Alguns desses culas mergulham em direção aos filtros dos
motolerantes (39 e 76 NMP/100mL) poços estão localizados em áreas de polui- poços. As partículas mais rápidas levam um
respectivamente. No PT 2A pode estar ção próxima, com córregos de esgoto visí- tempo entre 15 e 100 dias para atingir o
relacionado com a proximidade do poço veis na vizinhança. filtro do poço (Tabela 2).
com o riacho dos Macacos (17 m) e a No riacho dos Macacos e no lago da As concentrações de coliformes apre-
pouca profundidade, de apenas 32 m. Timbaúba, a concentração de coliformes to- sentam variações temporais diferenciadas,
No PT 05 suspeitamos ter ocorrido con- tais e termotolerantes, em ambos os períodos indicando uma dependência com a carga
taminação da amostra, já que valores ele- de amostragem, superam o limi- te máximo de poluentes existentes nas proximida-
vados não se repetiram. Os poços PT 17, detectado pelo método cromogênico, de des de cada poço. No final do período
PT 02 e PT 14 também apresentaram 2.419 NMP/100mL (Tabela 1). chuvoso verifica-se uma redução das con-
concentrações de coliformes totais e centrações.
termotolerantes bastante variáveis, se re- Simulação computacional Os tempos para as partículas atingi-
petindo ao longo do monitoramento. O com uso do MODPATH rem os filtros dos poços são relativamente
PT 17 situa-se a 27 m do lago da reduzidos, principalmente nos poços PT
Timbaúba, que recebe contribuições flu- A simulação foi feita considerando 03 e PT 17, mais próximos das fontes
viais, é usado para dessedentação de ani- apenas a bateria de poços do riacho dos poluidoras, considerando a alta carga
mais e para lançamentos de resíduos sóli- Macacos, que apresenta problemas bacteriana do riacho dos Macacos e a meia

Eng. sanit. ambient. 99 Vol.11 - Nº 1 - jan/mar 2006, 92-102


Raimunda Moreira da Franca, R. M. et. al.
ARTIGO TÉCNICO

Tabela 1 - Coliformes totais (CT) e termotolerantes (TT) em NMP/100mL nas águas dos poços,
lago e riacho dos Macacos em Juazeiro do Norte - CE, nos períodos seco e chuvoso

* ponto não amostrado NMP: Número Mais Provável CT: Coliformes Totais TT: Coliformes Termotolerantes
A: Ausência (> 2419): Valor máximo detectado pelo método cromogênico

Tabela 2 - Tempo mínimo que as partículas levam para atingir o filtro dos poços em
transporte advectivo a partir do riacho dos Macacos

vida de coliformes em água subterrânea minação bacteriana pelo riacho dos pidamente nos solos de alta permea-
de aproximadamente 8 dias (Edberg Macacos. bilidade (Tabela 3). Os valores mais
et al, 1997). baixos, para PT 06, PT 05 e PT 14
Segundo Auer e Niehaus (1993), Caracterização isotópica (25/03/03), representam misturas das
as bactérias do grupo coliforme, em um das águas subterrâneas: águas recentes de origem pluvial com
dado ambiente, têm seu decaimento ace- oxigênio-18 paleoáguas ascendentes de um fluxo re-
lerado por agentes físicos, químicos e bio- gional. Estas paleoáguas têm δ18O mais
lógicos, dentre eles a radiação solar, a tem- Foram feitas medidas de 18O para baixo, pois são marcados pela temperatu-
peratura, o pH, a salinidade e a bacte- avaliar o grau de influência de águas su- ra mais baixa (≅ 5°C) no final do
riofagocitose. No caso da água, o decai- perficiais nas águas bombeadas pelos po- Pleistocênico.
mento pode ser mais lento em ambiente ços. Em águas superficiais este isótopo é Os valores mais altos (em negrito
turvo ou escuro com temperatura próxi- enriquecido pela evaporação (que vapo- Tabela 2) representam misturas de águas
ma a da atmosfera. Nas águas subterrâne- riza com uma pequena preferência as recentes de origem pluvial com águas su-
as, as bactérias estão protegidas de agen- moléculas mais leves), resultando em um perficiais (marcados pela evaporação com
tes que aceleram o decaimento. Des- δ 18O mais elevado (aqui, menos nega-tivo). δ18O mais elevado): PT 2A (26/08/02;
ta maneira, aumenta a permanência das Valores em torno de –3,2‰ repre- 25/03/03), PT 03 (10/06/02; 26/08/02),
bactérias neste meio e o perigo de conta- sentam água de chuva atual infiltrada ra- PT 07 (10/06/02), PT 14 (26/08/02) e

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Contaminação de Poços Tubulares em Juazeiro do Norte - CE

ARTIGO TÉCNICO
18
Tabela 3 - Oxigênio-18 (δ O ‰(VSMOW) nas águas dos poços em Juazeiro do Norte

* ponto não amostrado ou não analisado PT: poço tubular

recentes de origem pluvial com águas su- mais parâmetros analisados não se enqua- Na simulação computacional com
perficiais (marcados pela evaporação com dram em nenhuma das classes de águas o aplicativo MODPATH, o tempo míni-
δ18O mais elevado): PT 2A (26/08/02; doces. No riacho dos Macacos e no Lago mo para o transporte advectivo de partí-
25/03/03), PT 03 (10/06/02; 26/08/02), da Timbaúba, em todas as análises reali- culas do manancial superficial até o filtro
PT 07 (10/06/02), PT 14 (26/08/02) e zadas, constataram-se concentrações de dos poços varia de aproximadamente 15
PT 17 (26/08/02; 25/03/03). Conse- coliformes totais e termotolerantes maio- a 100 dias. Estes tempos são relativamente
qüentemente, os poços com δ18O mais res que a quantificável pelo método reduzidos considerando a meia vida dos
elevado, PT 2A e PT 17, se destacam cromogênico (> 2.419 NMP/100mL). coliformes em águas subterrâneas, de apro-
também nos coliformes totais (Figura 20). Embora sendo facilmente possível ximadamente 8 dias, e a elevada carga
Assim, as medidas de δ18O comprovam a remoção destas bactérias por tratamen- bacteriana no riacho dos Macacos e no
para a área dos poços, a forte recarga do to, a Portaria No. 518 do Ministério da lago da Timbaúba. Dessa forma, a conta-
aqüífero pelo riacho. Saúde define-as como padrões de po- minação dos poços por estes mananciais
tabilidade e indicadores de contamina- se torna evidente.
CONCLUSÕES ção fecal, exigindo-se ausência em água Assim, o riacho dos Macacos e o lago
para consumo humano. Assim, apesar dos da Timbaúba constituem os elos princi-
A qualidade química das águas de números relativamente baixos, conside- pais na conexão entre a água superficial e
parte dos poços amostrados apresenta in- ramos a sua presença mais um indício de a água subterrânea e necessitam de eleva-
dícios de poluição por esgotos domésti- contaminação da água subterrânea pelo da atenção e proteção. Na atualidade, eles
cos. Constatou-se uma sazonalidade na riacho dos Macacos. são as principais entradas de contamina-
condutividade elétrica das águas dos po- Medidas de oxigênio-18 compro- ção química e bacteriológica das águas
ços. No riacho dos Macacos, durante o vam uma forte interação hidráulica entre subterrâneas, funcionando como fontes
período seco, observou-se variações acen- o riacho dos Macacos e o aqüífero Rio da persistentes e contínuas de poluição das
tuadas, o menor valor foi 706µS/cm e Batateira. Os poços PT 2A e PT 17, que águas exploradas para consumo huma-
o maior 1.087ìS/cm. No PT 2A as me- receberam mais contribuição de águas no. Portanto, devem ser tomadas precau-
didas de nitrogênio de amônia e de nitra- superficiais, reconhecíveis pelos valores ções para evitar o despejo de esgoto e lixo
to ultrapassaram os valores máximos per- mais elevados de δ18O, também apresen- na área. O perigo que a bateria de poços e
mitidos pela Portaria 518 do Ministério taram coliformes totais e termotoleran- o aqüífero rio da Batateira correm no caso
da Saúde. As águas da maioria dos po- tes com concentração máxima de, respectiva- de contaminação do riacho dos Macacos
ços foram classificadas como de dureza mente, 39 NMP/100mL e 6 NMP/100mL por matéria tóxica persistente, é elevado.
moderada com valores variando entre e de 31 NMP/100mL e 6 NMP/100mL.
56 e 149 mgCaCO3/L. Já as águas do Em geral, as águas captadas por po- AGRADECIMENTOS
riacho dos Macacos foram classificadas ços profundos não apresentam co-
como águas duras. liformes fecais devido à baixa velocida- Os autores agradecem ao CNPq, à
O riacho dos Macacos pode ser en- de e a capacidade filtrante do meio FUNCAP, à Agência Reguladora de Ser-
quadrado dentro das classes de águas do- aqüífero. Dessa forma, a presença de viços Públicos Delegados do Estado do
ces (1, 2, 3, e 4) de acordo com a Resolu- coliformes nessas águas indica um peri- Ceará-ARCE, ao Laboratório de Sanea-
ção Nº 357 do CONAMA, consideran- go eminente de contaminação por ele- mento - Labosan da UFC, à Companhia
do os parâmetros: pH e cloreto. Os de- mentos químicos conservativos. de Água e Esgoto do Estado do Ceará -

Eng. sanit. ambient. 101 Vol.11 - Nº 1 - jan/mar 2006, 92-102


Raimunda Moreira da Franca, R. M. et. al.
ARTIGO TÉCNICO

Cagece, à Universidade Regional do water against surface microbial contamination: SANTOS, M. R. P. Transporte advectivo de
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Recursos Hídricos) – Departamento de Enge- Rua Padre Verdeixa, 850
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v. 27, n. 4, p. 693-701, 1993. Tel.: (88) 3521-3410
CEARÁ. Companhia de Água e Esgoto do Es-
MENDONÇA, L. A. R. et al. Isotope measurements E-mail: rmfcariri@hotmail.com
and ground water flow modeling using MODFLOW
tado do Ceará - Cagece. Dados de populações e for understanding environmental changes caused by
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EDBERG, S. C.; LECLERC, H.; ROBERTSON, taleza: CPRM/REFO, LABHID-UFPB, cap.5,
J. Natural protection of spring and well drinking p. 81-108. 2000.

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