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C ) — Em convênio com o Instituto Max-Planck de Limnología — Depto. de Ecologia Tropical, Plön, Alemanha.
AGUA BRANCA
AGUA CLARA
A G U A PRETA
4,0 — 4,8 60 — 100 1.0 — 1,5
10 — 20 < 1.5
Estimativa do valor da pro- Efeito bloqueador e Desfavoravelmente
Extremamente baixo Extremo
dução biológica Desfavorável
de absorção baixo
"alkalifobia" "acidofolia"
Estimativa do valor do efei- Situação fisiológica
ainda desconhecido Consequências certas
anormal muito provável
to ecofisiológico
em sais minerais, contendo uma percentagem, O segundo fator de grande influência eco-
de minerais alcalinos muito superior aos me- lógica é a drástica mudança do nível de água
tais alcalino-terrosos e uma relação Sr/Ba in- em conseqüência da distribuição heterogênea
versa à das águas até agora descritas. da chuva durante o ano, na época seca e na
Por outro lado, as águas brancas são de época chuvosa. Próximo a Manaus, o valor mé-
uma composição química normal refletindo dio do nível entre água alta e água baixa atin-
nas proporções percentuais dos seus íons, o ge cerca de 10 m com valores máximos a cer-
valor médio mundial (Tab. 2 ) . Em comparação ca de 15 m . Perto de Santarém as flutuações
com valores totais, elas não são propriamen- do nível atingem ainda de 5 a 7 m de altura.
te ricas em sais minerais, contendo somente Isso provoca inundações regulares que influen-
cerca de 35% do valor médio mundial. Porém, ciam enormes áreas na região amazônica. Cas-
em comparação com as águas pretas e claras tro Soares (1956) estima em 64.400 km2 de
a sua capacidade produtiva é muito superior. área de inundação para o Solimões/Amazonas.
As diferenças de qualidade das águas da O impacto ecológico destas inundações é im-
região amazônica explicam-se pelas diferenças portantíssimo. Anualmente largas áreas são
geológicas e geomorfológicas nas respectivas atingidas por uma mudança drástica do meio-
áreas de captação (Fig. 1). A s águas pretas e ambiente aquático para o meio-ambiente ter-
águas claras nascem na Série Barreiras e nos restre .
escudos arquéanos das Guianas e do Brasil A fauna e a flora respondem a estas mu-
Central, porém as águas pretas recebem apa- danças regulares com uma série de adapta-
rentemente as substâncias húmicas, que pro- ções morfológicas, fisiológicas e etológicas,
vocam a sua coloração escura, em grandes as quais até agora são pouco conhecidas. Te-
áreas pantanosas ou podzólicas situadas nas mos que focalizar aqui, que o conhecimento
suas áreas de captação. Os rios de água bran- sobre áreas de inundação no mundo inteiro, é
ca, recebem a água e sedimentos em parte da absolutamente i n s u f i c i e n t e . Ao nosso ver, o
área Andina e Pré-Andina, que é geoquimica- limnólogo deixou de estudar este tipo de ecos-
mente muito mais rica que as outras áreas ('). sistema com mais minúcias, porque inclui uma
Conseqüentemente a concentração de sais mi- fase considerável de ambiente terrestre e o
nerais diminui com o aumento da distância dos ecólogo terrestre deixou de estudar, porque
Andes por causa da diluição pelos afluentes inclui uma fase considerável aquática. Além
mais pobres em sais m i n e r a i s . disso, na Europa e América do Norte, que fo-
TABELA 2 — Concentração relativa (valores médios) de Na, K, M g e Ca em m g % na água de rios e igarapés, drenan-
do áreas de origem geológica diferentes, ao longo da estrada Cuiabá-Porto Velho-Manaus em comparação com o valor
médio mundial.
M ) — Exceção desta definição generalizada são por exemplo, as águas que nascem nas faixas carboníferas no Norte
e Sul da Amazônia, na altura de Santarém e que são também relativamente ricas em sais minerais.
Fig. 1 — Áreas geoquímicas da região Amazônica (Fittkau et al., 1975).
ram os centros do desenvolvimento da limno- em áreas inundadas não considera este fato
logía, as áreas de inundação f o r a m , há bastan- de uma maneira adequada.
te tempo, modificadas por construções de di-
ques, canais, e t c . , não havendo mais necessi- PESCA
dade e possibilidade de estudá-las.
A pesca, na região amazônica, sem dúvi-
Levando isto em consideração, temos que da alguma é um fator econômico extremamen-
ser bastante cuidadosos, em extrapolar con- te importante, sendo a base principal de pro-
clusões, que somente se baseiam em estudos, teínas animal para a população humana desta
realizados em lagos e rios " c l á s s i c o s " das re- região. Neste capítulo, limitamo-nos a comen-
giões temperadas. A maioria dos rios e lagos tar alguns fatos que, ao nosso ver, são carac-
amazônicos não corresponde a estes modelos terísticos e em parte problemáticos para a pes-
clássicos, face às grandes mudanças de nível ca na região, pois em outro trabalho neste su-
de água que originam enormes áreas de inun- plemento, Saint-Paul & Bayley fazem uma aná-
dação periódica. lise mais minuciosa do assunto.
Infelizmente, a maioria dos trabalhos pu- Baseando-se nas informações da Colônia
blicados sobre ecologia, limnología e pesca dos Pescadores Z-2 de Manaus, Junk & Honda
(1976) mostram para 1974 a distribuição do tura do mercado atual, que influencia a pesca
pescado nos principais rios do Estado do Ama- de uma maneira decisiva pelo preço do produ-
zonas (Fig. 2 ) . Este quadro combina plena- to.
mente com as conclusões ecológicas baseadas O desembarque de pescado em Manaus
nas características químicas da água, citadas chegou em 1976 a 30.800 toneladas e em 1977
no capítulo anterior. O rio Negro, sendo um a 24.900 toneladas, diminuindo cerca de 2 0 % ,
rio enorme de água preta, participa com uma porém diminuiu também o número de excur-
quantidade muito limitada no pescado total de- sões pesqueiras em cerca de 16% de 6.501
sembarcado em Manaus, enquanto a maior para 5.484 (Petrere J r . , 1978a). Isso reflete o
parte vem dos rios de água branca. Isso mos- impacto do aumento de preço do combustível
tra que os problemas pesqueiros da região e gelo na pesca.
amazônica t ê m que ser estudados e analisa-
Estudos de Petrere Jr. (1978), indicam que
dos de uma maneira bem diferenciada.
a produção pesqueira nos arredores de Ma-
Varoli (1967) estima um potencial pesquei- naus diminuiu, forçando a frota pesqueira a ir
ro de 100.000 toneladas por ano, porém, Aze- procurar o peixe de preferência do consumi-
vedo (1970) indica 633.000 toneladas. dor, até nas cabeceiras dos grandes rios a uma
Na nossa opinião, qualquer avaliação do distância de aproximadamente 1.500 km de
potencial pesqueiro para a bacia amazônica Manaus. Esta pesca altamente seletiva pode
inteira, atualmente t e m valor muito limitado, ser considerada como característica e proble-
porque não apresentam dados suficientes. mática para a região amazônica. Procura-se
Além disso, t e m que ser considerada a estru- cerca de uma dúzia de espécies, que são con-
Fig. 2 — Produção pesqueira durante 1974, nos diferentes rios do Estado do Amazonas (Junk & Honda, 1976).
sideradas de alto valor comercial e de prefe- pelo aproveitamento de outras espécies até
rência local aproveitando-se as outras espé- agora pouco procuradas, tais como : branqui-
cies em quantidade muito limitada, até jogan- nha, jaraquis, sardinhas, aracus e outros (Pro-
do-se fora o restante da captura. O tambaqui chilodus spp., Semaprochilodus spp., Tripor»
Colossoma macropomum) por exemplo, parti- theus s p p . , Leporinus s p p . ) (Junk & Honda,
cipou em 1977 com cerca de 3 8 % do desem- 1976; Petrere Jr., 1978a, b; Goulding, 1979;
barque total de Manaus sendo ele um peixe de Bayley no prelo). Bayley, extrapolando estudo
preferência de toda a população (dados de Pe- sobre a produção pesqueira nas áreas inundá-
trere J r . ) . Conseqüentemente, a probabilida- veis de rios africanos comparáveis às das que
de de pegar um tambaqui adulto próximo de ocorrem na Amazônia brasileira, chega à con-
Manaus é muito reduzida, chegando o maior clusão de que uma pesca baseada nestas espé-
número destes peixes a vir de locais bem lon- cies poderia render cerca de 5 0 % mais que a
ge, como por exemplo, do rio Purus. Goulding pesca atual, porém teria como conseqüência a
(1979) mostra no seu trabalho sobre a pesca redução drástica das espécies de maior porte,
no rio Madeira, que desde 1975 a produção sendo estes insignificantes para a produção
pesqueira tanto de bagres quanto de caracoí- pesqueira.
deos altamente procurados, diminuiu muito,
Os estudos de Petrere Jr. (1978b) e Goul-
mesmo aumentando o esforço pesqueiro ( F i g .
ding (1979) mostram também, que os equipa-
3).
mentos de pesca são suficientemente eficazes
Isso significa, que em certas áreas já exis-
não sendo necessária a introdução de méto-
te o problema de sobrepesca para certas es-
dos e equipamentos adicionais. Em 1977, 3 1 %
pécies. Podemos prever, que, continuando
do pescado foram capturados com malhadei-
com a pesca atual, serão diminuídos os esto-
ras, 15% com arrastão, 3 % com arrastadeira,
ques, especialmente das espécies de grande
13% com espinhei e caçoeira e somente 3 8 %
porte tais como : pirarucu, tambaqui e os gran-
com métodos tradicionais tais como tarrafa,
des bagres. Por outro lado, a diminuição de
arpão, zagaia, arco e flecha, caniço, e t c . (Pe-
captura das espécies atualmente muito pro-
trere J r . , 1978b). A utilização de equipamento
curadas, pode ser compensada e até superada
mais moderno pode criar problemas de sobre-
pesca, os quais iriam prejudicar principalmen-
Tons
te as classes mais pobres das cidades e a po-
1800 pulação ribeirinha, que dependem do pescado
1700 como fonte de proteína barata, enquanto que
1600
1500)
os outros grupos da população t ê m outras al-
1400 ternativas à disposição, por exemplo, carne
1300 bovina (Goulding, 1979).
1200
I 100
Por outro lado, o melhoramento do sistema
1000
900 de tratamento, conservação, transporte, esto-
800| cagem e distribuição, pode ser melhorado con-
700
sideravelmente, para o melhor aproveitamento
600
500 do pescado. Benchimol (1977) estima a perda
400 do pescado em cerca de 3 0 % . Conforme Bay-
300
ley (no prelo) esta perda diminuiu drastica-
200
mente por causa do aumento de preço do com-
100
bustível e de gelo. Porém, a qualidade do pes-
1968 69 "7Ü~ 72 73 74 75 76 77
cado desembarcado em Manaus do ponto de
Anos
vista higiênico é altamente lamentável. Supo-
mos que com a introdução de um controle hi-
Fig. 3 — Estimativas da produção total anual da frota giênico certa parcela da produção será repro-
pesqueira de Porto Velho — conforme Goulding (1979].
vada para o consumo humano.
Os dados citados sobre perda de pescado Considerando o fato de que a grande maio-
somente se referem às espécies atualmente ria desses peixes está sendo exportado, para
procuradas, não se levando em consideração os EUA e a Europa, a pesca de peixes ornamen-
espécies sem valor e c o n ô m i c o . Participamos, tais é uma fonte de divisas para o Estado do
durante várias épocas de safras, em pescarias Amazonas.
próximas de Manaus, nos quais até 8 0 % do A captura de peixes ornamentais foi mui-
pescado total foram jogados na água, (por to discutida por ecólogos, sendo muitas vezes
exemplo, mandi, peixe-cachorro, piranha e ou- chamada predatória, provocando riscos ecoló-
tros Pimelodus s p . , Hydrolycus s p . , Serrasal- gicos para as espécies capturadas. Sem dúvi-
mus s p p . ) . Este pescado poderia ser usado da alguma, a mortalidade de peixes ornamen-
para fins agropecuários, por exemplo, em for- tais atualmente é muito elevada, sendo calcu-
ma de farinha de peixe, pescado fermentado, lada em termos de até 8 0 % , por causa de mé-
etc. todos inadequados de transportes, estocagem
O desenvolvimento da tecnologia de pes- e tratamento de doenças e parasitas. Porém,
cado na região amazônica t e m que levar em o aumento do preço de combustível vai forçar
consideração os seguintes fatores : os exportadores, a diminuir esta alta taxa de
mortalidade para ficar em condições de con-
1. Quantidade limitada de matéria-prima. correr economicamente no mercado interna-
cional. Em geral, não podemos ver diferença
2. Épocas pronunciadas de safra e escas-
alguma entre a pesca de peixes para o con-
sez.
sumo e para fins ornamentais e não vemos
atualmente riscos de extinção das espécies
Necessitamos do desenvolvimento de uni-
procuradas, porque muito antes de chegar a
dades pequenas de tecnologia simples, distri-
uma diminuição precária dos estoques, a pes-
buídas ao longo dos rios nos pontos principais
ca de peixes ornamentais se tornará antieco-
de desembarque, de modo a aproveitar todo o
nômica.
pescado em excesso, para o mercado local,
sendo relevante que essas unidades tecnológi-
cas possam reduzir ou até parar o seu funcio-
A l é m de problemas de sobrepesca, temos
namento, durante as entressafras sem provo-
que levar em consideração os efeitos de mu-
car problemas econômicos.
danças de meio-ambiente que podem provocar
A instalação de grandes unidades pode problemas muito mais sérios aos estoques
provocar uma pressão pronunciada nos esto- pesqueiros. Como já f o i mencionado anterior-
ques pesqueiros, encarecendo, a longo prazo, mente, as inundações periódicas influenciam
o pescado, criando problemas sócio-econômi- grandes regiões, permitindo ao peixe entrar nas
cos especialmente para a população ribeirinha áreas inundadas para a desova e à procura de
e a classe de baixa renda nas cidades. alimentação. Por isso, mudanças drásticas em
Uma outra fonte de rendimento para a re- grande escala irão provocar efeitos negativos
gião amazônica é a exportação de peixes orna- aos estoques pesqueiros. Por exemplo, sabe-
mentais. Foram exportados de Manaus (com. mos que muitas espécies são frutívoras, ali-
pes. do Dr. BIós, Coord. Reg. SUDEPE) : mentando-se de flores, frutos e sementes de
árvores da floresta inundada. Um desmata-
exemplares Cr$ mento em grande escala das áreas inundáveis,
1976 12.532.417 5.238.572 conseqüentemente diminuirá a oferta de ali-
1977 14.001.007 7.200.660 mento para estas espécies.
1978 17.903.485 11.692 848
APROVEITAMENTO DAS VÁRZEAS
As principais espécies foram o Neón (Chei-
rodon exelrodi, Hyphessobryon innesi), o Aca- O fato de que, em regiões inundáveis, as
rá-disco (Symphysodon s p p . ) e o Coridoras mesmas áreas podem servir durante a seca pa-
ÍCorydoras s p p . ) . ra fins agropecuários e durante a cheia como
pastagens e berçário para os animais aquáti- lagos produzem grandes quantidades de plan-
cos, pode provocar um sério conflito de inte- tas aquáticas de alto valor nutritivo, que com
resses entre a pesca e as atividades agrope- a diminuição dos grandes herbívoros aquáti-
cuárias. O problema é notadamente sério na cos (peixe-boi, capivara, tartarugas, e t c ) , não
região amazônica, pois nas áreas inundáveis estão sendo utilizadas de uma maneira ade-
dos rios de água branca, as " v á r z e a s " , existem quada por animais silvestres e podem servir
os solos mais férteis da região, oferecendo um para alimentação de animais domésticos e pa-
grande potencial para a agropecuária, se o agri- ra adubo orgânico, sem interferir no equilíbrio
cultor for capaz de adaptar seus métodos de ecológico (Junk, 1979).
cultivo às inundações periódicas. Sabemos Gostaríamos apenas de focalizar a neces-
que outras áreas tropicais, com similares con- sidade de uma cooperação intensiva entre os
dições ecológicas, t ê m centros de colonização órgãos responsáveis pela agropecuária e pela
humana com alta produção agropecuária, tais pesca, de modo a integrar o planejamento e a
como nos rios : Nilo, Ganges, Bramaputra, Me¬ realização de projetos, que atinjam as várzeas,
kong e o u t r o s . Mas, sabemos também que para evitar danos pesados para os estoques
apareceram conflitos seríssimos entre ativida- pesqueiros e para garantir o melhor aproveita-
des agropecuárias modernas e a pesca, porque mento das várzeas tanto do lado da agropecuá-
não houve um planejamento em conjunto e ria quanto do lado da pesca.
uma cooperação intensiva entre ambos os gru-
Além disso, uma outra necessidade de
pos.
atuação em conjunto, pode surgir com relação
Bangladesh, por exemplo, situada cerca de a problemas de poluição das águas. Enquanto
30% na área de inundações dos rios Ganges em condições " n o r m a i s " , quer dizer, em condi-
e Bramaputra, antigamente, era conhecida pe- ções de rios sem áreas de inundação, as subs-
la abundância dos seus estoques pesqueiros. tâncias poluidoras somente atingem a fauna
Entretanto a intensificação da produção de ar- aquática, e depois são lançadas ao mar, na ba-
v
roz, provocou a ampliação d a s áreas cultivadas cia amazônica elas podem comprometer tam-
e grandes construções de diques, sem levar bém a agropecuária. Se, por exemplo, uma fá-
em consideração aspectos de pesca. Face a brica de celulose e papel solta resíduos de
isto, foram destruídas e bloqueadas importan- mercúrio na água, estes serão durante cada en-
tes áreas de desova e caminhos de migração chente, em parte depositados nas várzeas rio
de peixes e crustáceos, provocando um decli- abaixo, podendo intoxicar por muitos anos os
ve drástico da produção pesqueira. A l é m dis- peixes, os produtos agrários e a carne dos ani-
so, a implantação de grandes áreas de mono- mais d o m é s t i c o s .
cultura de arroz, provocou sérios problemas de
pragas, que foram superados com quantida-
des crescentes de inseticidas aplicados na re-
PROJETOS HIDRELÉTRICOS
gião inteira por aviões, causando em contra-
partida não somente a intoxicação das pragas,
Em 1977, cerca de 84,2% da energia elé-
como também, dos peixes e dos animais aquá-
trica do Brasil f o i produzida por hidrelétricas
ticos que servem como base nutritiva aos
( M . Pinto Paiva c. p e s . , fonte Eletrobrás). En-
peixes.
quanto a produção de energia elétrica à base
Este exemplo não significa que a utilização de óleo diesel fica cada vez mais cara, além
das várzeas pela apropecuária automaticamen- de problemas de poluição do ar pelo consumo
te vai acabar com os estoques pesqueiros. de fontes energéticas fósseis, estão ainda à
Pelo contrário, achamos muito importante a disposição do Brasil, grande potencial ocioso
utilização associada da pesca com a agrope- de energia hidrelétrica. A ELETROBRÁS calcu-
cuária, pois é garantido, dessa forma o melhor la para a bacia amazônica um total de
aproveitamento de uma grande área de solos 56.729 M W ( M . Pinto Paiva, c. p e s . ) , signifi-
f é r t e i s , que recebem uma renovação dos nu- cando 36,6% da capacidade total do Brasil, que
Junk
mento do país, enquanto as disponibilidades bloqueando além disso, o caminho dos cardu-
de outras bacías hidrográficas já estão sendo mes migratórios, por exemplo, do jaraqui, que
usadas em escala maior, há muito t e m p o . durante a época da água baixa se acumula em
Há dois anos, está em funcionamento a grandes quantidades abaixo dos vertedouros,
pequena hidrelétrica de Curuá-Una, perto de sem condições de subir o r i o . Está em modi-
Santarém com 40 M W . Entrou recentemente, ficação a composição dos estoques pesqueiros
também em funcionamento, a represa Paredão na represa e nas áreas adjacentes.
no Território do A m a p á . Está em fase de cons- Não houve desmatamento antes do fecha-
trução a gigantesca represa de Tucuruí no rio mento da barragem, o que atualmente provoca
Tocantins e foram iniciadas as obras da repre- problemas na qualidade da água pela grande
sa de Balbina no rio Uatumã, próximo de Ma- quantidade de material orgânico em decompo-
naus. Isso, sem dúvida alguma, é somente o sição. No futuro, os troncos submersos vão
começo de um desenvolvimento, que vai abran- atrapalhar consideravelmente a pesca. A con-
ger até o final do século, vários outros rios da centração de oxigênio perto da barragem, atin-
região. ge o ponto zero em certas épocas, na profun
didade de 2 m, formando-se nas partes mais
É óbvio que qualquer obra desta grandeza,
fundas grandes quantidades de H S que preju-
tem um grande impacto sobre o meio-ambiente 2
dicam as t u r b i n a s .
aquático. Em outras regiões tropicais, os efei-
tos negativos associados à construção de bar- Os estudos em andamento irão continuar
ragens são vários, podendo, em certos casos, ainda por vários anos. até a represa alcançar
até superar os benefícios da represa construí- um novo equilíbrio ecológico, para que possa-
da. Na construção da barragem de Assuam, mos avaliar os efeitos do represamento a lon-
por exemplo, surgiram os seguintes proble- go prazo. De qualquer f o r m a , já foram colhi-
mas : das as seguintes informações : a água preta
aparentemente não provoca o crescimento em
a) Modificações que causaram prejuízos da massa de macrófitas aquáticas, como mostram
produção agrícola rio abaixo por causa os afluentes de água preta da represa Curuá-
da falta de inundações regulares que de- Una, que até agora são colonizados somente
positavam sedimentos férteis nas áreas em quantidades insignificantes; o apodreci-
inundáveis; mento da madeira emersa é muito mais rápido
que o da submersa, fato importante, que por
b) Erosão do Delta do Nilo;
exemplo na área da represa Tucuruí, poderia
c) Pragas e doenças em escala muito maior
ajudar na estocagem da madeira cortada; co-
que antes, por causa da modificação do
meçam a desenvolver-se populações de peixes
meio-ambiente;
aptos a colonizar águas lênticas, com hábitos
d) Deterioração da qualidade da água;
alimentares e reprodutivos respectivos, que no
e) Impacto sobre os estoques pesqueiros;
futuro podem ser utilizados para a piscicultu-
f) Problemas de navegação por causa de
ra e o povoamento de biótopos similares.
desenvolvimento em massa de plantas
aquáticas. Observa-se, de acordo com os exemplos
acima, que no acompanhamento da construção
Estudos em andamento na represa hidrelé- de barragens na região amazônica por meio de
trica de Curuá-Una, há dois anos (Junk et al., amplos projetos científicos, pode reduzir, no
no prelo), demonstram que a construção de futuro, os efeitos negativos indicando ao mes-
barragens na região amazônica pode ser acom- mo tempo medidas adequadas, para o aprovei-
panhada por problemas s i m i l a r e s . tamento multi-específico das represas.
Em 1977, quando começaram os estudos, Infelizmente os estudos em Curuá-Una co-
já cerca de 2 0 % da superfície da represa de meçaram somente depois do término das
Curuá-Una estava coberta por plantas aquáti- obras, faltando^ dessa forma dados fundamen-
cas. O represamento tinha provocado uma gran- tais sobre a situação natural da área atingida
de mortalidade de peixes na área represada, e as mudanças ecológicas durante a constru
ção, uma falha que deveria ser evitada nos pró- mum), pirapitinga (Colossoma brachypomum),
ximos projetos h i d r e l é t r i c o s . Está atualmente matrinchã (Brycon s p p . ) , Acará-açu (Astrono-
em discussão um projeto de levantamento da tus ocellatus), pacu (Methynnis s s p . ) e ou-
fauna e flora aquática na área da represa Tu- tros, mostraram resultados excelentes. Mui-
curuí e do acompanhamento científico das mu- tas das espécies são carnívoras, com tendên-
danças ecológicas, durante a construção da cia a comer frutas e outros órgãos vegetais.
barragem. Existe a possibilidade de adaptar igarapés
através da construção de pequenas barragens
AQUICULTURA e áreas alagáveis, aproveitando o alto lençol
freático para piscicultura semi-intensiva, sem
O conhecimento do p o t e n c i a l de peixes atingir o meio-ambiente natural em maior es-
amazônicos comestíveis para fins de piscicul- cala, aproveitando para alimentação adicional
tura, é muito l i m i t a d o . Podemos verificar que
dos peixes as frutas do mato não usadas pelo
o conhecimento sobre a maioria de peixes or-
homem, tais como : sementes de palmeiras,
namentais é bem superior do que o conheci-
seringueiras, castanheiras, e t c . A l é m disso,
mento sobre os peixes de valor para o consu-
resíduos das atividades agropecuárias podem
mo humano.
servir para a alimentação dos peixes seja dire-
Não existe tradição de aquicultura na re- tamente ou em cultivo combinado : peixe/por¬
gião amazônica, porque até agora não havia ne- co, p e i x e / p a t o , e t c . Experimentos preliminares
cessidade de praticá-la. Enquanto a pequena deste tipo no INPA, já em andamento, com
população humana se distribuiu nas margens pacu e matrinchã em tanques abastecidos pe-
dos rios, concentrando-se principalmente nas lo lençol freático, mostram resultados altamen-
beiradas dos rios de água branca, por causa te p r o m i s s o r e s .
das várzeas f é r t e i s , o abastecimento com pro- Como já foi mencionado, atualmente, ain-
teína animal em forma de peixes era garanti- da faltam informações básicas sobre a biolo-
do pela pesca artesanal. Atualmente, verifica-
gia, reprodução natural e artifical e o compor-
mos uma concentração da população crescen-
tamento em cativeiro das espécies, como tam-
te nas cidades, o que inibe o acesso fácil da
bém a experiência prática de manuseio, trans-
grande maioria dos moradores à pescaria de
porte e produção de alevinos em grande esca-
auto sustento, e provoca o transporte caro do
la. A elaboração de todas estas informações
pescado por longas distâncias.
técnicas e científicas e a transferência destas
A l é m disso, ao longo das rodovias recém- informações aos futuros aquicultores amazo-
construídas estão sendo realizados atualmente nenses, vai demorar vários anos. Por isso, os
muitos projetos agropecuários em áreas bem órgãos responsáveis por esta atividade, deve-
distantes dos rios piscosos. A população des- riam tomar imediatamente as providências ne-
tas áreas aproveita no início a caça, como fon- cessárias para a implantação da aquicultura
te de proteína barata, mas depois de poucos na região amazônica, pois se isso não aconte-
anos esta fonte fica esgotada, ficando à dispo- cer em tempo hábil e com a ênfase necessá-
sição somente a carne dos animais domésti- ria, a região amazônica correrá o risco de re-
cos, que é mais cara (Smith, 1976). ceber espécies exóticas como a Tilápia, por fal-
Embora existam nestas áreas de terra fir- ta de oferta de espécies indígenas. Isso não
me, igarapés e locais alagáveis em grande vai resolver o problema da piscicultura na re-
quantidade, não há produção natural significan- gião, mas pelo contrário, pode provocar proble-
te de peixes c o m e s t í v e i s . Deste modo, estes mas ecológicos seríssimos, que atualmente
corpos de água só podem ser aproveitados a não são avaliáveis. Os estudos pormenoriza-
partir da piscicultura. Experimentos com espé- dos das espécies amazônicas por outro lado,
2
cies amazônicos no DNOCS ( ) e no INPA, en- pode estimular de uma forma decisiva, a pisci-
t r e os quais tambaqui (Colossoma macropo- cultura no nordeste do Brasil oferecendo es-
& SCHMIDT, G. W.
porte, conservação, tratamento e estoca-
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