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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS MARINHAS E COSTEIRAS

Trabalho de Licenciatura

Estudo da Renovação da água no Estuário dos


Bons Sinais a partir do Modelo de Prisma de
Marés e Fracção de água doce.

Autor Supervisor:
Teófilo M. P. Ferraz Dr. Fernando Victor Saide

Quelimane, Agosto de 2009


Estudo da Renovação da água no Estuário dos Bons Sinais a partir do Modelo de Prisma de
Marés e Fracção de água doce.

I. INTRODUÇÃO & OBJECTIVOS

1.1 Introdução
Os estuários são ambientes valiosos, tanto ecologicamente como economicamente. Grande
percentagem da população humana vive perto dos estuários, causando de um certo modo
problemas em termos de degradação ambiental e de gestão (Gameiro, 2000). Estas questões
serão no futuro uma preocupação constante, razão pela qual, constitui uma forte motivação para
um estudo sobre o tempo de renovação da água no estuário dos Bons Sinais e uma compreensão
científica do funcionamento dos estuários.

O estudo sobre o tempo de renovação da água é de extrema importância pois, serve de indicador
para analisar a qualidade da água, visto que se refere ao intervalo de tempo necessário para que a
água doce retida na Zona de Mistura1 seja removida juntamente com outras substâncias.

Quanto menor for o valor de Tempo de Renovação maior será a capacidade de renovação das
águas o que reduz a susceptibilidade do sistema à poluição e processos de eutroficação. Estuários
com tempo de residência elevado, os nutrientes terão tempo necessário e suficiente para
desencadear a produção e a produtividade primária. Essa acumulação de nutrientes sustenta uma
actividade biológica intensa transformando os estuários em autênticos viveiros de peixes e
crustáceos de importância vital na economia das comunidades adjacentes.

Nos estudos anteriores sobre o tempo de renovação da água, Dias, (2005) concluiu que o tempo
de renovação da água no estuário do rio Jaguaribe, no mês de Setembro de 2005, foi de 3 horas,
passando a 2 horas em Fevereiro de 2006 e atingiu o máximo de 12 horas no mês de Junho.
Quando as vazões são menores mesmo em período chuvoso, efluentes urbanos e domésticos
descarregados no estuário podem ter efeitos negativos ampliados devido a baixa capacidade de
renovação da água.

Estudo feitos por José, (2006) concluiu que o tempo ideal para renovação da água no estuário do
rio Incomati é de 17 dias, obtido a partir do modelo de fracção de água doce, tratando-se da

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Região onde ocorre a mistura da água doce proveniente da drenagem fluvial com a água do mar
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qualidade da água, concluiu no mesmo estudo que o método de prisma de maré é o mais eficaz e,
assim sendo, a contribuição da vazão do rio é inferior em relação ao efeito das marés.

A ausência de monitoramento para a correcção das vazões hídricas nos sistemas estuarinos em
períodos de estiagem prolongados poderá representar o principal vector de comprometimento da
capacidade de renovação das águas nos estuários.

No entanto, desenvolveu-se os modelos para estudo da renovação da água, como sustento ou


resposta da incidência da descarga de efluentes domésticos e urbanos no estuário dos Bons
Sinais.

Este estudo pretende Estudar o Processo de Renovação da água no estuário dos Bons Sinais
considerando a variação sazonal da salinidade, o caudal do rio e o volume de água doce que entra
no Estuário.

Sendo assim, irá contribuir para a compreensão e análise do comportamento ecológico e a


capacidade de autolimpeza do estuário como também ajudará na interpretação dos processos
bioquímicos, de modo a promover uma gestão sustentada de ambientes estuarinos vulneráveis a
fenómenos de eutroficação e impacto negativo da descarga excessiva dos efluentes.

1.2 OBJECTIVOS
Geral:
 Estudar o Processo de Renovação da água no estuário dos Bons Sinais aplicando o
modelo de Fracção de água doce e o de Prisma de Marés.

Específicos:
 Determinar o tempo de renovação da água no Estuário dos Bons Sinais.
 Identificar os principais factores físicos responsáveis pela renovação da água no Estuário
dos Bons Sinais.
 Comparar o tempo de renovação da água determinado pelos dois modelos

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1.3 Pergunta de Pesquisa


 Quais são os processos físicos que influenciam na renovação da água?

1.4 Caracterização da área de Estudo

O Estuário dos Bons Sinais é limitado pelos paralelos 17o 48’ Sul e meridianos 36o 53’ Este,
possui um clima tropical húmido com uma estação chuvosa entre Novembro – Abril, a
temperatura mais elevada é observada em Junho e Fevereiro (28º c) e a baixa ocorre em Julho
(21º c), (www.mozpescas.gov.mz) Este estuário possui uma área cerca de 29122100.0 m2 e está
sujeito a um grande stress ambiental.

O estuário apresenta uma profundidade considerável, sendo a máxima profundidade cerca de 14


m. Assume-se que a largura e a área de secção transversal decrescem exponencialmente desde a
boca até à montante (Figura 1.1) a baixo.

Figura 1.1: Variação entre a Largura e a distância em relação a boca do Estuário

O estuário possui uma morfologia constituída por pequenas ilhas na zona central e próxima ao
rio, apresenta algumas depressões ao longo do seu curso, com maior largura observada na boca
do estuário, confinando-se em direcção à montante, como ilustra a (Figura 1.2). Esta
característica proporciona uma mistura rápida das águas dentro do estuário o que contribui para

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sua renovação. As intensidades máximas das correntes de enchente e vazante são inferiores a 1.0
m/s.

Os canais desenvolvem-se até a montante da confluência com os Rios Licuari e Cua-Cua, e,


constituem característica do estuário do ponto de vista da sua dinâmica e dos processos de
transporte que aí se desenvolvem. A morfologia do fundo é complexa, o que transforma numa
tarefa trabalhosa qualquer tentativa de estudo da propagação da maré por processos
exclusivamente experimentais.

Figura 1.2: Estuário dos Bons Sinais. Fonte: http://earth.google.com/en/map:2008

1.5 Caudais do rio Licuari


O rio Licuari desagua no Estuário dos Bons Sinais, possui uma área cerca de 3775 Km2 com uma
descarga muito irregular, durante o período chuvoso, a descarga do rio Licuari pode exceder 120

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m3/s, enquanto no período de estiagem pode ser verificada uma descarga menor do que 0.02
m3/s. (Roest, 2008).
A Figura 1.3 abaixo ilustra o comportamento dos caudais médios mensais do rio Licuari para o
período compreendido entre 1967-1981. Observa-se que o caudal médio mensal varia de um
mínimo e máximo cerca de 0.12 a 42.82 m3/s correspondentes aos meses de Outubro a Fevereiro,
respectivamente. Essa variação do caudal observada explica-se pela existência da variabilidade
das precipitações registadas anualmente.

Figura 1.3: Caudais médios mensais do rio Licuari entre 1967-1981

II. FUNDAMENTO TEÓRICO

2.1 HIDRODINÂMICA DO ESTUÁRIO

2.1.1 Conceito de Estuário


De acordo com a definição de (Pritchard citado por Vassele 2003), um estuário é uma massa de
água costeira semi-fechada com uma ligação livre com o mar aberto, fortemente influenciado
pela maré, no qual a água é misturada com a água derivada da drenagem fluvial.

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Os estuários, são assim, zonas de transição entre o rio e o mar, sujeitas a oscilações drásticas de
muitas variáveis, em escalas de tempo com período semi-diurno, quinzenal e anual (Pickard,
2007). São ecossistemas muito dinâmicos extremamente interessantes do ponto de vista
científico. Os mecanismos de mistura da água doce e oceânica contribuem para a variabilidade
das condições físico-químicas e biológicas de um estuário.
Uma adaptação possivelmente mais satisfatória foi apresentada por Dyer (1997) que definiu:
“Estuário é um corpo de água costeiro semifechado, com interligação livre com o oceano aberto,
estendendo-se rio acima até o limite da influência da maré, sendo que em seu interior a água do
mar é diluída pela água doce proveniente da drenagem continental”.

Dependendo do tipo de abordagem, um estuário pode assumir definições mais específicas. Para
oceanógrafos, engenheiros, geógrafos e ecologistas o termo estuário é utilizado para indicar a
região interior de um ambiente costeiro, onde ocorre o encontro das águas fluviais com a do mar
transportada pelas correntes de maré.

Os estuários constituem ambientes vitais que desde sempre favoreceram o desenvolvimento de


aglomerados urbanos importantes, por propiciarem actividades com grande impacto
socioeconómico, nomeadamente a portuária, a pesca e as de lazer, aliadas às suas características
hidrodinâmicas, resultantes da confluência de águas fluviais e marinhas, favoráveis à retenção de
nutrientes e à recepção das águas residuais, face à sua capacidade de diluição e transporte para
mares ou oceanos.

Esta acumulação de nutrientes sustenta uma actividade biológica intensa transformando as zonas
estuarinas em autênticos viveiros de peixes e crustáceos, de importância vital na economia das
comunidades adjacentes, assim como dispõe de grande quantidade de energia que deve ser usada
e explorada duma forma racional e sustentável.

2.1.2 Classificação dos Estuários

Considerando a definição clássica de estuário estabelecida por Cameron & Pritchard (1963), no
balanço de água estuarino, eles apresentam três fases:

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 Consideram Estuários negativos, quando a evaporação à superfície excede a entrada de


água doce. Este tipo é característico do Estuário dos Bons Sinais, onde a água superficial
tende a tornar-se mais salgada que a das camadas inferiores e, em consequência, a
afundar. Por conseguinte, neste caso, quer a água do mar quer a água doce entram no
estuário à superfície. No seu conjunto, a tendência será sempre para as águas superficiais
aumentarem de densidade, afundarem e saírem do estuário para o mar junto ao fundo.
(Figura 2.1).
 A soma dos volumes da precipitação e contribuição pela descarga fluvial da bacia de
drenagem excede o volume de água transferido para a atmosfera pela evaporação, os
estuários onde o balanço hídrico satisfaz essa condição são denominados estuários
positivos. (Figura 2.2)

 Estuários neutros, onde existe um balanço entre a taxa de evaporação e entrada de água
doce. Neste caso ocorre um regime de salinidade estático.

Figura 2.1: Estuário Negativo Figura 2.2: Estuário Positivo


Font:http://www.tulane.edu/%7Ebianchi/Courses/Oceanography/chap%2012.ppt

2.1.3. Caracterização Topográfica dos Estuários

Vales Fluviais Submersos


Este Estuários é também chamado de Planície costeira, formado através da subida do nível do
mar onde a máxima profundidade dificilmente alcança os 40 m e aumenta para a vazante,
geralmente a área da sua secção recta é triangular e aumenta exponencialmente para a boca

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(Dyer, 1997), o que traduzirá um equilíbrio bem estabelecido entre os processos de erosão ou
sedimentação e a energia das marés, a descarga fluvial é pequena em comparação com o volume
do estuário (Figura 2.3).

Figura 2.3. Estuário de Planície Costeira.


Font: http://www.tulane.edu/%7Ebianchi/Courses/Oceanography/chap%2012.ppt

Estuário de Bacias Profundas (Fjords)


Estes estuários resultam da escavação profunda de vales fluviais pela pressão dos glaciares, têm
secção rectangular (em U), como ilustra a (Figura 2.4), possuem uma profundidade cerca de 300
- 400 m e chegam a atingir perto dos 800 m (Pickard, 2007). Normalmente têm uma entrada rasa,
ou um cume submerso perpendicular a boca do estuário formada pela terminal de depósito do
glaciar (Dyer, 1997), geralmente têm fundos rochosos ou de finas camadas de sedimentos e a
deposição é restrita à montante do estuário onde o rio principal entra.

Existe, neste caso um fluxo de água doce superficial contínuo, mas a água do mar, proveniente
das marés, pode por vezes ser renovada apenas sazonalmente. A não renovação da água salgada
pode determinar a criação de condições anóxicas nas zonas mais profundas dos fiordes.

Figura 2.4: Estuário de Bacia Profunda


Font:http://www.tulane.edu/%7Ebianchi/Courses/Oceanography/chap%2012.ppt
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Estuários Formados por Barreiras

São pouco profundos, possuem área grande, na foz têm um colo submarino constituído por
bancos de areia (Figura 2.5), estes aspectos resultam do balanço sedimentar associado ao
transporte litoral resultante do regime da ondulação (ocorrem, portanto, em áreas onde o regime
dos ventos é relativamente estável). Devido a restrita área seccional, as velocidades de corrente
podem ser maiores na boca do estuário, mas em partes largas mais para o interior elas diminuem
rapidamente.

Figura 2.5: Estuário Formado por Barreira


Font:http://www.tulane.edu/%7Ebianchi/Courses/Oceanography/chap%2012.ppt

A forma destes estuários é governada pelo regime do rio na fase de inundação, e são geralmente
encontrados em zonas tropicais ou em regiões costeiras onde a deposição de sedimentos é activa,
(Dyer, 1997).

2.2 Circulação Estuarina


A circulação estuarina é um processo físico que afecta e controla muitos processos ecológicos,
ela depende de vários parâmetros entre eles, o cisalhamento eólico, correntes de maré, da
descarga dos rios e da circulação das águas oceânicas (Pickard e Emery, 1990).

Estes parâmetros condicionam a circulação gravitacional (baroclínica e barotrópica), a circulação


residual e as correntes geradas pelo vento. Geralmente um destes padrões de circulação
predomina num determinado sistema estuarino, entretanto dois ou três tipos podem ser
observados simultaneamente ou sazonalmente num mesmo estuário.

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Em estuários profundos a circulação estuarina é desenvolvida suficientemente para renovação da


água profunda de forma que a estagnação não aconteça (Pickard, 2007). A taxa de renovação é
proporcional à circulação e a descarga do rio. O outro factor principal que influencia a troca da
água em estuários profundos é a variação sazonal na estrutura de densidade, na qual a salinidade
e densidade da água da bacia, tende a diminuir lentamente a montante.

A Mistura entre a água doce superficial e salgada sub-superficial no estuário é em grande parte
governada por movimentos relativo da maré e os efeitos de ondas internas. Em estuários onde as
descargas de água doce e a acção de ondas geradas pelo vento são relativamente baixos, a
circulação é basicamente guiada pelas correntes de maré, resultantes do gradiente de pressão
(Day citado por Vassele 2003).

Como a topografia estuarina é variável, a interacção entre as correntes de maré e a topografia


varia de local para local ao longo do estuário. Isso é manifestado por pequenas diferenças na
corrente e na duração dos fluxos de maré enchente e vazante.

Na camada superficial, através da tensão exercida, pode originar um transporte residual de água,
e as ondas geradas irão aumentar a intensidade da mistura vertical, e o transporte de água será
maioritariamente na direcção do vento (Bowden, 1967). A circulação devida ao vento é
particularmente importante em lagoas.

As condições que favorecem o domínio da circulação devida ao vento são grandes extensões de
água com baixa profundidade e baixa descarga do rio. O transporte de massa, nem sempre ocorre
na mesma direcção do fluxo principal da água, devido aos processos de mistura (advecção e
difusão), Dias et al. (2007).

A dispersão e a advecção de massas de água e de suas propriedades decorrem de vários


processos que envolvem o movimento oscilatório das marés, difusão molecular (geralmente
pequena), gradientes de densidade, cisalhamento lateral entre massas de diferentes velocidades
de corrente, fricção com o fundo e difusão turbulenta (viscosidade do fluído), (Kjerfve e
Wolaver, Kjerfve citados por José 2006)

Durante um ciclo de maré (enchente e vazante), geralmente, observa-se uma forte relação entre
as velocidades das correntes, o transporte e as concentrações de partículas em suspensão.
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Variações destes padrões podem ser observadas em ambientes, onde se verifica uma alta
deposição de sedimentos, em função das partículas e estabilização do substrato pela vegetação.

2.3 Princípios básicos da circulação e mistura

Os princípios básicos que controlam a circulação e mistura, são expressos pela equação de
movimento da água e pela equação de continuidade de volume da água e de massa de sal
(Bowden, 1983).

Consideremos o eixo cartesiano com OX e OY no plano horizontal perto da superfície livre, OX


sendo ao longo do estuário, positivo em direcção ao mar, OY perpendicular ao estuário e OZ
decrescente. Consideremos ainda u, v, w como sendo as componentes da velocidade média no
ponto (x, y, z) no tempo t, então as equações de movimento podem ser escritas:

u u u u 1  P  xx  xy  xz 
x:  u  v  w  fv        (2.1)
t x y z   x x y z 

v v v v 1  P  yx  yy  yz 
y:  u  v  w  fu        (2.2)
t x y z   y x y z 

P
z:  g  0 (2.3)
z

Onde:
f  2sen →é o parâmetro de Coriolis
 → é a latitude
 → é a velocidade angular
P → é a pressão
 xy →é o stress no plano perpendicular para OX actuando na direcção OY

g → é aceleração de gravidade

 → é a densidade

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Nestas equações, as componentes de stress xx, xy, xz, etc., tem sempre um resultado do stress
turbulento, excepto perto dos limites; os stress devido a viscosidade molecular são vários de
magnitude pequena.

Então se u’, v’, w’, são as componentes da velocidade turbulenta em qualquer instante, As
velocidades horizontais são calculadas com base nas equações do movimento enquanto a
localização da superfície livre e a velocidade vertical são calculadas por continuidade. As
equações são aplicadas, explicitamente, a cada volume de controlo num referencial
tridimensional. Os termos de Coriolis e aceleração de gravidade podem ser omitidos.

Assumindo o equilíbrio dinâmico, onde não há variação com o tempo, a equação da continuidade
do volume resume-se em:

u v w
  0 (2.4)
x y z

A equação de conservação do sal pode ser escrita de seguinte maneira:

DS   S    S    S 
  Kx    K y    K z  (2.5)
Dt x  x  y  y  z  z 

Onde:

Kx, Ky, Kz são os coeficientes de difusão na direcção x, y, z respectivamente. Como no caso da


viscosidade estes coeficientes podem ser omissos.

Em qualquer estuário, assume-se que as velocidades transversais são muito pequenas


comparando com as velocidades ao longo do estuário, sendo assim os termos envolvendo v na
equação acima pode ser omissos (José, 2004).

A partir da (Equação III) pode se obter a equação hidrostática, a pressão P à profundidade z é da


por

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p  pa  g  dz (2.6)


Onde:

Pa → é a pressão atmosférica;

 - é a elevação da superfície em relação a nível médio do mar. Assumindo que é uniforme


então:

p  
z
 g s  g  dz (2.7)
x x 0
x

Onde:

s – é a densidade na superfície. A densidade  é função da salinidade S, temperatura  e


pressão, assim:

 = (S, , p) (2.8)

Em qualquer estuário, a variação da densidade () em função da pressão (P) podem ser omitidos,
e muitas vezes a dependência em função da temperatura potencial é de pequena importância
comparando com a dependência em S. Nesse caso é suficiente tomar a densidade () como sendo
uma função linear de S. Sendo assim:

  0  S (2.9)

Onde: a é uma constante.

A solução completa do problema da circulação estuarina poderia resolver-se envolvendo as


Equações de (2.1) a (2.5) com (2.7) e (2.8) ou (2.9). As componentes da velocidade dependem
dos gradientes de pressão, que são funções da distribuição da densidade. A densidade é função
da salinidade e a distribuição da salinidade depende da velocidade, completando assim o sistema.

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Em muitos estuários, os processos de mistura são condicionados pela combinação da turbulência


gerada internamente, pela turbulência gerada na fronteira que varia de magnitude no espaço e no
tempo e pela difusão. O perfil da salinidade que define estuário estratificado, parcialmente e
completamente misturado é resultante desta turbulência. (Dyer, 1997).

2.4 Tempo de Renovação da água no Estuário

Tempo de residência (ou de renovação) da água no interior do estuário é definido como sendo o
tempo necessário para que a água doce proveniente do rio chegue ao mar. (Dyer, 1997).

O tempo de residência é um importante indicador do funcionamento do estuário. É possível


afirmar que estuários com um tempo de residência baixo exportarão mais rapidamente os
nutrientes, vindos de descargas a montante, do que estuários com um tempo de residência longo.

Este é um factor particularmente importante para a ocorrência de blooms de algas no interior do


estuário, sendo, desta forma, esperado que em estuários com um tempo de residência baixo, os
blooms de algas sejam inferiores. Em geral, estuários com tempos de residência menores que o
tempo de duplicação dos organismos inibe a formação de blooms de algas.
(http://www.institutomilenioestuarios.com.br/monografias.html)

O tempo de residência da água doce no estuário pode ser calculado como a razão entre o volume
de água doce existente no interior do estuário e o caudal do rio. O cálculo do tempo de residência
a partir de dados de campo requer o conhecimento da distribuição espacial de salinidade, e em
alguns casos a suposição de que toda a água doce existente no interior do estuário é proveniente
do rio e que a distribuição de salinidade não dependia do tempo na altura em que foi medida,
Dias et al . (2007).

Em termos gerais, o tempo de residência de uma dada região varia de acordo as condições de
circulação encontradas em cada ambiente.

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III. METODOLOGIA

3.1 Caracterização da Pesquisa

Este estudo, quanto a natureza é de carácter teórico visto que para a sua realização usou-se dados
de temperatura, salinidade e a profundidade, que foram disponibilizados pela Escola Superior de
Ciências Marinhas e Costeiras - UEM. Esses dados foram colhidos no Estuário dos Bons Sinais
durante os meses de (Julho, Agosto e Setembro de 2007), (Novembro de 2008 e Janeiro de
2009).

Para este estudo foram usados dados do caudal do rio Licuari, obtido na Dissertação de Mestrado
de (Roest, 2008), (Tabela 5), anexo.

Quanto aos fins, o presente estudo caracteriza-se como sendo Explicativo, no entanto, visa
identificar os processos físicos que influenciam na renovação da água

3.2 Material Usado

No trabalho de campo usou-se os seguintes instrumentos CTD SBE 19 plus e GPS III plus.

Os CTDs são aparelhos usados para a medição de salinidade, temperatura e profundidade


(Conductivity, Temperature, Depth). Estes são compostos por sensores de condutividade,
temperatura e pressão. O SBE 19 plus mede a condutividade, a temperatura e a pressão em
ambientes de águas doces ou marinhas a profundidades inferiores a 7000 m.

As suas principais características são: sensores de temperatura e condutividade, medidor de


tensão e sensor de pressão. O SBE 19 plus tem a capacidade de fazer rápidas amostragens com
uma alta precisão (0.005 à 0.01 oC) para a temperatura, 0.0005 à 0.001 psu para salinidade e 0.1 à
0.25% para a condutividade).

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O GPS (Global Positioning System) é um instrumento que nos dá o posicionamento geográfico


de qualquer ponto da superfície da Terra. Se estivermos num barco em movimento ele pode dar-
nos a velocidade instantânea, a velocidade média, o tempo e a distância entre dois pontos.

3.3 Observações de Campo

Fez-se um cruzeiro no estuário dos Bons Sinais com finalidade de medir os parâmetros
Temperatura, Salinidade e Profundidade da água, com ajuda do CTD, que foi calibrado para
fazer medições contínuas no intervalo de 1segundo, para isso foi necessário fazer-se uma
excursão longitudinal ao longo do estuário onde já foram mapeadas e dimensionadas as 9
Estações (Figura 1.2), com ajuda do GPS, estando a estação inicial localizada na boca do
estuário. Os parâmetros acima indicados foram medidos em cada estação, da boca do estuário à
montante, durante os meses de medição.

Modelos usados.

O tempo de residência proveniente do rio pode ser inferior ao tempo proveniente de outras
descargas, sendo assim, usou-se dois modelos a fim de comparar os resultados obtidos, modelo
de Fracção de água doce e o de Prisma de maré, propostos por Ketchum (1951), usados por
Taylor (1973), Dyer (1997) e José (2004).

3.4 Modelo de Fracção de Água doce

Este modelo considera todos parâmetros físicos que condicionam o processo de mistura em
segmentos ao longo do estuário (Figura 3.1). A fração de água doce f i é um número
adimensional assumindo valores entre 0 e 1 de acordo com a menor ou maior descarga de água
doce, respectivamente é representado pela (Equação 3.1).

S0  Si
fi  (3.1)
S0

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Esse modelo permite a estimativa da distribuição unidimensional da fração de água doce da


salinidade média ao longo do estuário e do tempo de renovação. A água doce é utilizada como
indicador e o modelo adotado pode ser facilmente adaptado para incluir estimativas da variação
unidimensional da concentração de qualquer substância conservativa dissolvida na zona de maré.

Onde:
S 0  Salinidade da água na boca do estuário;

S i  Salinidade média no tempo e profundidade medida in situ;

f i  Fracção de água doce

Vi  Volume geométrico estacionário do estuário.

Figura 3.1: Representação esquemática de um estuário dividido em segmentos.


Fonte:(Apontamentos de Oceanografia Costeira citados por José 2006)

O volume geométrico estacionário (Vi) foi determinado a partir da largura e profundidade médias
entre duas estações consecutivas, multiplicadas pelo comprimento que as separa. Para se obter o
volume total, fez-se o somatório dos volumes parciais.

Assumindo equilíbrio dinâmico, Q representa a taxa de água doce que pode ser removida do
estuário (Dyer, 1997), no entanto o tempo de Residência (TR) será dado pela (Equação 3.2)
abaixo:

 fV i i
TR  i
(3.2)
Q

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Marés e Fracção de água doce.

3.5 Modelo de Prisma de Maré

Neste modelo assume-se que toda água que entra no interior do estuário durante a maré enchente
se mistura completamente com a água do estuário e o volume do prisma é igual ao volume da
água do mar e o volume do escoamento do rio. Na maré vazante, o mesmo volume de água é
removido e a água doce contida no estuário é igual ao incremento do escoamento do rio, como
ilustra a (Figura 3.2) na seguinte página.

Figura 3.2: Representação de um prisma de marés no Estuário.


Fonte:(Apontamentos de Oceanografia Costeira citados por José 2006)

Para satisfazer a hipótese da mistura completa da água da descarga fluvial com a do mar na maré
enchente, esse método deve ser aplicado a estuários bem misturados ou com pequena
estratificação vertical da salinidade (Miranda, 2002). Entre tanto, pode ser adoptado para
estuários parcialmente misturados ou altamente estratificados, considerando apenas a camada
superficial bem misturada do sistema.

O volume de água que entra em cada período de maré foi determinado a partir dos valores da
amplitude da maré prevista consultados na Tabela de Marés (INAHINA, 2007), para o Porto de
Quelimane nos meses de medição já referenciados acima, efectuada a partir de observações
maregráficas, e a amplitude de maré observada na estação inicial.

O volume do prisma VP foi determinado a partir da diferença dos volumes de água na maré
enchente e vazante, que é removido do estuário em cada período de maré.

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Marés e Fracção de água doce.

Com base no volume VP de água removida do estuário em cada período, determinou-se o volume
V0 do estuário no nível mais baixo subtraindo o volume total do estuário (V) pelo volume VP;
posteriormente determinar-se-á o tempo de renovação da água com base na (Equação 3.3) a
seguir.

V0  V p
TR  *T (3.3)
Vp
Onde:
V0  Volume da água do estuário no nível mais baixo da maré;

V p  Volume da água removida do estuário em cada período da maré.

T  Período de maré correspondente a 12.42hr = 44712s

Os dados obtidos foram tratados de forma quantitativa e processados no computador a partir dos
pacotes estatísticos Excel (usado para obter tabelas e gráficos), Matlab (usado para obter perfil
longitudinal do estuário.

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Marés e Fracção de água doce.

IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Tempo de Renovação da água no estuário dos Bons Sinais

Modelo de Prisma de Marés

O volume de água determinado durante as marés enchente e vazante, ao longo do estuário no


mês de Novembro, foi cerca de 444*106 m3 e 204*106 m3, respectivamente, na qual a diferença
dos dois representa o volume do prisma (Vp), cerca de 240*106 m3 (Tabela 1) abaixo. O tempo
de renovação da água foi cerca de 0.5 dias, determinado a partir da (Equação 3.3), considerou-se
que a maré leva 12.42 horas, para completar o seu ciclo.

Com este modelo, a água no mês de Julho leva no máximo cerca de 2 dias para se renovar
completamente do Estuário, sendo este o período seco, onde se regista menor descarga de água
doce, além do volume de água, o caudal do rio, é um factor determinante para o aumento do
Tempo de renovação das águas, pois pode ou não apresentar competência para o rompimento da
barreira física imposta pelo regime de marés.

Tabela 1: Tempo de Renovação da água determinado a partir do modelo de Prisma de Marés no


Estuário.
21/Jul/07 21/Ago/07 20/Set/07 28/Nov/08 30/Jan/09
Vol. da água na Maré enchente
(106m3) 173 442 434 444 496
Vol. da água na Maré Vazante
(106m3) 107 164 138 204 105
Vp (106m3) 66 278 296 240 391
V0 (106 m3) 186 24 43 13 138
Tempo de Renovação TR (dias) 2 0.5 0.6 0.5 0.7

O domínio das marés, intensifica o processo de renovação da água, nos períodos com menores
volumes de água doce, tornando o estuário com características fortemente marinhas.

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No entanto, a descarga fluvial assim como as marés são os principais vectores que controlam a
hidrodinâmica do estuário. Dias et al. (2007) e Duarte (2001) afirmam que as variações sazonais
de água doce afectam directamente, os processos de circulação e mistura.

O comportamento do prisma de marés constitui um dos aspectos mais importantes a ser


analisado, quando se pretende avaliar a capacidade de suporte de um sistema estuarino ao
lançamento de efluentes (Anexo 1).

Modelo de Fracção de água doce

Para determinar o Tempo de renovação da água foi necessário determinar o volume de água doce
em cada secção do Estuário, assumindo que toda água deste durante a maré enchente, tenha
origem fluvial. O volume de água doce variou cerca de 1.39*106 a 12.49*106 m3
correspondentes a Novembro de 2008 e Janeiro de 2009, respectivamente. (Tabela 2).

A variação longitudinal dos tempos de renovação da água demonstra que o padrão da descarga
ao longo do estuário não é linear. A 26 km de distância da boca do estuário, correspondente a
secção S8 estimou-se que a massa de água doce ou qualquer contaminante levaria 0.8 dias para
sair daquela secção (Figura 4.1).

Figura 4.1: T. Renovação da água determinado em cada secção no período chuvoso

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No entanto, na secção S4, situada aproximadamente a 15 km em relação à boca do estuário,


assumiu forte tendência à retenção de água chegando ao tempo de residência cerca de 1.0 dia,
indicando que a topografia do estuário, contribui para acúmulo de água no interior do estuário e
consequentemente para o aumento do tempo de residência. O mesmo que a massa de água
levaria cerca de 3 dias para se renovar completamente do estuário (Tabela 2).

Figura 4.2: Perfil topográfico longitudinal do estuário dos Bons Sinais com destaque para a área
com maior tempo de residência.

A descarga de água doce representa um dos principais meios pelos quais substâncias naturais ou
tóxicas fluem aos estuários e o tempo de residência é um dos indicadores de fragilidade mais
adequados à análise da vulnerabilidade de estuários.
Tabela 2: T. Renovação determinado a partir de Fracção de água doce
28/Novembro/08 30/Janeiro/09 Média
f1 (%) 0.1 0.2 0.2
f2 (%) 1.2 2.3 1.8
f3 (%) 0.001 4.3 2.2
f4 (%) 00.3 4.3 2.3
f5 (%) 0.1 6.5 3.3
f6 (%) 0.4 9.1 4.8
f7 (%) 2.1 8.3 5.2
f8 (%) 2.2 7.4 4.8
6 3
Vol. de água doce (10 m ) 1.39 12.49 6.94
3
Caudal do rio Q (m /s) 9.68 30 19.84
T. Renovação (dias) 1.7 4.8 3.24

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4.2 Comparação do Tempo de Renovação da água determinados pelos modelos de Fracção


de água doce e de Prisma de Maré.

Os resultados obtidos (Tabelas 1 e 2), indicam que no modelo de Prisma de marés as águas se
renovam em menos tempo, tornando este modelo ideal para análise da qualidade de água,
assumindo o estuário dos Bons Sinais menos susceptível à retenção de poluentes.

Entretanto, o modelo de fracção de água doce é mais aplicável para determinar o tempo de
renovação da água no período chuvoso, por considerar a entrada significativa de água doce,
sendo assim, serve de indicador para análise da vulnerabilidade do estuário contra os processos
de eutroficação.

O modelo de fracção de água doce é ideal comparativamente ao de prisma de marés para


Estuário dos Bons Sinais, porque, para além de considerar todos parâmetros físicos que
concorrem para a o processo de renovação da água, também permite determinar o tempo de
renovação da água em qualquer segmento de estuário. Este estudo vem comprovar com
resultados encontrados por José (2004), no estuário de Incomati, que concluiu que o modelo de
fracção de água doce é mais eficaz, embora, por se tratar de áreas de estudo diferentes, as suas
características topográficas são semelhantes ao dos Bons Sinais.

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V. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1 Conclusões
O trabalho realizado, representa um mecanismo relevante na definição da escala temporal dos
processos de renovação da água no estuário dos Bons Sinais. Com base nos, resultados obtidos
conclui-se que:

 No modelo de Prisma de marés, o tempo mínimo de renovação da água foi cerca de 0.5
dias e no máximo 2 dias, sendo este ideal para avaliação da qualidade da água no estuário
dos Bons Sinais.

 O tempo de renovação da água determinado a partir do modelo de fracção de água doce


foi de 3 dias, e serve de indicador para análise da vulnerabilidade do estuário contra os
processos de eutroficação.

 O modelo de fracção de água doce é mais eficaz comparativamente ao de prisma de


marés para Estuário dos Bons Sinais, por considerar todos parâmetros físicos que
concorrem para a renovação da água.

 Os principais factores físicos que influenciam na renovação da água no estuário dos Bons
Sinais são a topografia do próprio estuário, o caudal do rio e a influência das correntes de
marés.

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5.2. Recomendações

 Que se continue com estudos desta natureza, tendo em consideração a influência da


precipitação à montante, visto que dela depende o caudal fluvial.

 Que se faça o monitoramento das águas do estuário com maior frequência, pois efluentes
urbanos e domésticos descarregados nesta região podem ter efeitos negativos devido a
elevado tempo de renovação da água.

 Que se crie estações fixas de medição de caudais dos rios Licuari e Cua-cua, que
desaguam no Estuário dos Bons Sinais.

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VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 BOWDEN, K. F. (1983). Physical Oceanography of Coastal Waters. 302 pp. England,


Ellis Horwood Ltd.

 CAMERON, W. M. & Pritchard, D. W. (1963) Estuaries. In The Sea, Vol. 2 (Hill, M. N.,
ed.). Wiley, New York.

 DIAS, F. J. S.; MAlA, L. P. (2005). Avaliação da hidroquímica e tempo de residência no


estuário do rio Jaguaribe - CE. Em: Anais/Resumos da 57a Reunião Anual da SBPC,
Fortaleza. SBPC. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, São Paulo:
http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra

 DIAS, F.J.S (2005). Avaliação da descarga e Geoquímica do Material em Suspensão do


Estuário do Rio Jaguaribe (Ce). 107p.

 DIAS, F.J.S.; MARINS, R.V.; MAIA, L.P.; DE FARIAS, E.G.G. (2007). Dependência
do Tempo de Residência da Água no Estuário do Rio Jaguaribe

 Duarte, A.A.L.S., Pinho J.L.S., Pardal M.A., Neto J.M., Vieira, J.M.P., Santos F.S.
(2001). Effect of Residence Times on River Mondego Estuary Eutrophication
Vulnerability. Water Science and Technology, 44 (2-3), 329-336.

 DYER, K. R. (1997) Estuaries: A Physical Introduction. 2ª Ed. Wiley. Chichester. 195p.

 GAMEIRO, C. A. P. (2000). Variação Temporal e Espacial do Fitoplânton no Estuário de


Tejo. Relatório de Estágio Profissionalizante apresentado à Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa para obtenção do grau de Licenciado em Biologia Vegetal
Aplicada

 INAHINA (2007). Tabela de Marés-2008, Ano XVII. Moçambique.

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Marés e Fracção de água doce.

 JOSÉ, Edson A. (2003). Estimativa do Tempo de Renovação da Água no Estuário do Rio


Incomati. Contribuição para o Estudo da Qualidade da Água, tese de licenciatura. 38 pp.
Maputo, Universidade Eduardo Mondlane.

 KETCHUM, B. H. (1951) The exchange of fresh and salt waters in tidal estuaries.
Journal of Marine Research, 10: 18–38.

 LACERDA, L. D.; MARINS, R V. (2002). River damming and mangrove distribution.


Electronic Journal of GLOMIS/ISME, Okinawa, v. 02, n. 01: 1-4.

 MIRANDA, L. B.; CASTRO, B. M.; KJERFVE, B. (2002). Princípios de oceanografia


física de estuários. 417 pp. São Paulo, Edusp.

 PICKARD, George, L.; EMERY, William J. (1990) Descriptive Physical Oceanography


An Introduction. 249 pp Anthony Rowe Ltd, Great Britain.

 PICKARD, George, L.; EMERY, William J &TALLEY, Lynne D. (2007). Descriptive


Physical Oceanography . Partial draft of edited version of Pickard and Emery. Elsevier

 ROEST, A. (2008). Sustainable agricultural development in Mozambique. MSc Thesis.


96 pp. Wageningen University, the Netherlands

 VASSELE, V, J. (2004). Modelo de Intrusão Salina no Estuário do Incomáti Baseado na


Influência Geométrica e Topográfica do Estuário. Tese de Licenciatura. 46 pp. Maputo,
Universidade Eduardo Mondlane.

 (http://www.institutomilenioestuarios.com.br/monografias.html)
 Font:http://www.tulane.edu/%7Ebianchi/Courses/Oceanography/chap%2012.ppt
 http://earth.google.com/en/map:2008
 http://www. www.mozpescas.gov.mz

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VII. ANEXO
Anexo 1

AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE SUPORTE DOS ESTUÁRIOS

 Impacto de actividades em Estuários sobre a região costeira

Diversos processos ambientais e actividades socioeconómicas realizadas na zona costeira são


indirectamente afectados pelas actividades e usos das bacias de drenagem, mesmo quando
distantes da costa, Lacerda et al. (2002). O exemplo mais significativo é bacias de drenagem que
recebem efluentes de diferentes actividades urbanas e agrícolas.

Na cidade de Quelimane ainda não existe nenhuma forma de tratamento de efluentes municipais,
pois estes são descarregados directamente no estuário dos Bons Sinais, tornando-os vulnerável a
problemas ambientais principalmente para a comunidade de Chuabo-Dembe, arredores. Assim
como, não existe uma gestão dos recursos hídricos que teria sido fundamental para o uso
sustentado desses recursos na região.

A sensibilidade do estuário aos impactos ambientais, depende das características ecológicas e


biogeoquímicas do ecossistema em particular, incluindo as próprias actividades humanas aí
instaladas, assim, rios intermitentes, deverão ser regidos por limites sazonalmente mais
restritivos quanto à liberação de efluentes urbanos e agrícolas, por exemplo.

Sendo assim, tornou-se necessário portanto, o delineamento de indicadores consistentes da


capacidade de suporte dos estuários, capaz de fornecer cenários confiáveis a implantação de
futuras actividades.

De um modo geral, a capacidade de suporte dos estuários será um reflexo da qualidade ambiental
de suas águas. O detrimento da qualidade das águas leva a processos de eutroficação e
contaminação, que resultam em significativa depreciação do capital natural de uma dada região,
limitando seus futuros usos e dificultando a gestão de seus recursos.

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Anexo 2

Tabela 3: Dimensões Médias do Estuário

Volume Total do Estuário (m3) 25*107


Comprimento Total do Estuário (m) 27200
Largura Média do Estuário (m) 1035.20
Profundidade Média do Estuário (m) 8.23

Tabela 4: Dimensões do Estuário

Secções Larg. Média (m) Comp. (m) Prof. Média (m) Volume (107 m3)
S1 1625 5000 8.94 7.26
S2 1093 3600 5.83 2.29
S3 1405.5 1800 6.56 1.65
S4 1250 5400 11.32 7.64
S5 719 1900 12.26 1.67
S6 688 3100 9.20 1.96
S7 688 2600 6.37 1.14
S8 813 3800 5.35 1.65

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