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AMBIENTE

A AMAZÔNIA
PERDE O GÁS
Estudos indicam que o leste da floresta, mais desmatado,
virou fonte de dióxido de carbono na última década,
enquanto o oeste tenta se manter como sumidouro

Marcos Pivetta

54 | AGOSTO DE 2021
D
ivulgado em dezembro passa- ros de carbono. Mas estudos feitos ao longo dos
do, o mais recente relatório do últimos 10 anos, com o emprego de diferentes
Global Carbon Project estima metodologias analíticas, como dados de satélites,
que, desde a década de 1960, as registros de crescimento e mortalidade de árvo-
plantas terrestres retiraram da res e amostras sistemáticas do ar sobre a flores-
atmosfera cerca de um quarto ta, indicam que o leste da Amazônia virou uma
do dióxido de carbono (CO2), o principal gás de fonte de carbono na década passada, ou seja, a
efeito estufa que contribui para o aumento do quantidade de CO2 que saiu desse setor do bio-
aquecimento planetário, emitido pela queima ma superou a que entrou. A situação é particu-
de combustíveis fósseis. Esse efeito benéfico ao larmente preocupante no sudeste da Amazônia,
clima ocorre porque a taxa com que os vegetais entre Pará e Mato Grosso, região em que fica o
fazem fotossíntese – e, portanto, consomem o CO2 chamado Arco do Desmatamento, que concentra
disponível no ar para se manter vivos e crescer – o grosso das intervenções humanas, sobretudo
é ligeiramente maior do que o ritmo de emissão o desflorestamento, sobre a área. O mais recen-
de dióxido de carbono por meio da queima de te trabalho a traçar esse quadro é um estudo de
biomassa, da decomposição de material orgânico longo prazo coordenado pela química Luciana
e da respiração das plantas. A diferença a favor da Vanni Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas
coluna das absorções em relação à das emissões Espaciais (Inpe), cujos principais resultados fo-
é pequena, de cerca de 2%, mas suficiente para ram descritos em um artigo publicado na revista
tornar as florestas, sobretudo as densas e exube- Nature em meados de julho.
rantes matas tropicais, importantes sumidouros Feito a partir de medições de alta precisão da
Queimada em área de carbono. Esse termo é usado para designar as concentração de carbono em amostras do ar ob-
de floresta em Autazes, áreas em que as absorções de carbono superam tidas em quatro regiões da Amazônia entre 2010
ALINE PONTES LOPES

perto de Manaus, as emissões. e 2018, o novo estudo sinaliza que a emissão mé-
durante o El Niño de
2015/2016, quando
Por ser a maior floresta tropical, com cerca de dia de CO2 foi cerca de 10 vezes maior no leste
houve maior 80% de sua área ainda preservada, a Amazônia é do que no oeste da floresta tropical durante esses
mortalidade de árvores considerada um dos mais importantes sumidou- nove anos. “Observamos que as áreas com des-

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O peso do leste da Amazônia
Porção oriental (áreas de Alta Floresta e Santarém)
apresenta maiores níveis de emissão, de desmatamento,
de redução de chuvas e de aumento de temperatura
Manaus Belém
Tefé
Santarém
Tabatinga
Quantidade de AM
PA
carbono diariamente
Rio
emitida a mais Diminuição Aumento AC Branco
do que absorvida de chuva de temperatura Alta
Região de (em gramas por Área na estação na estação Floresta
influência metro quadrado)1 desmatada1 seca2 seca2 MT
Cuiabá
Alta Floresta 0,32 24% 24% 2,6 °C

Santarém 0,41 31% 34% 1,9 ºC

Rio Branco 0,04 13% 20% 1,7 ºC

Tabatinga/Tefé 0,03 7% 19% 1,6 ºC

FOTO JOSÉ CALDAS /BRAZIL PHOTOS /LIGHTROCKET VIA GETTY IMAGES


500 Km

1 Média entre 2010 e 2018


2 Média mensal de agosto a outubro entre 1979 e 2018

FONTE GATTI, L. V. ET AL. NATURE. 15 JUL. 2021

matamento superior a 30% do seu total emitiram chuvas entre 1979 e 2018, mas a um ritmo menor.

INFOGRÁFICO ALEXANDRE AFFONSO


muito mais carbono do que as com uma taxa de O aumento térmico foi de, no máximo, 1,7 ºC, e a
desflorestamento inferior a 20%”, comenta Gatti, redução média de pluviosidade de 20%, de acordo
que estuda a química da atmosfera da Amazônia com o artigo. Na Amazônia, um mês é considera-
por meio de um projeto no âmbito do Programa do seco quando chove, em média, menos de 100
FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas milímetros (mm) no período.

N
Globais – PFPMCG (ver quadro acima). “Dados
meteorológicos indicam que, nos últimos 40 anos, ão são apenas o desmatamento
o leste foi o setor da Amazônia que sofreu o maior e as queimadas que interferem
aumento médio de temperatura e a maior redu- diretamente no balanço de car-
ção de chuvas durante a estação de seca na região, bono. Áreas de floresta degrada-
entre agosto e outubro.” da, apesar de ainda se manterem
Mais úmida e preservada, a seção ocidental do em pé, tornam-se mais secas e
bioma também apresentou um balanço de car- passam a emitir mais CO2 do que absorver. “Es-
bono (soma de todas as emissões e absorções) tamos diante de uma tempestade perfeita, um
delicado. No entanto, no setor oeste, a transição círculo vicioso em que um processo retroali-
da condição de sumidouro para a de fonte de car- menta o outro”, diz o ecólogo Luiz Aragão, do
bono parece ainda estar no começo, embora já Inpe, especialista em sensoriamento remoto,
se insinue. “Se o oeste da Amazônia sofrer mais coautor do artigo. “O avanço das queimadas, do
impactos de atividade humana, é possível que desmatamento e das áreas degradadas aumenta
também ali ocorra o que estamos vendo na parte as emissões de carbono na Amazônia e altera
leste”, diz, em entrevista a Pesquisa FAPESP, o o clima local e global. A floresta se torna mais
químico John Miller, do National Oceanic and quente e mais seca, especialmente no período de
Atmospheric Administration (Noaa), dos Estados estiagem, e a mortalidade de árvores cresce. Esse
Unidos, que também assina o artigo. efeito afeta novamente o balanço de carbono e
Na porção oriental da floresta, a temperatura impulsiona mais alterações climáticas.”
média no período de estiagem subiu mais de 2 O físico Paulo Artaxo, da Universidade de São
graus Celsius (˚C) e a incidência de chuvas di- Paulo (USP), destaca a importância dos achados
minuiu em pelo menos 25% nas últimas quatro do estudo de seus colegas na Nature. “Alterações
décadas, segundo cálculos feitos pela equipe li- no ciclo de carbono na Amazônia produzem im-
derada por Gatti. A época de seca também tem se pactos não só no clima da região, mas de todo o
tornado cada vez mais longa, com mais dias sem Brasil e até do planeta”, destaca Artaxo, um dos
chuva expressiva. No oeste da Amazônia, houve coordenadores do PFPMCG. Por meio dos cha-
elevação da temperatura média e diminuição das mados rios voadores, uma parte da grande umi-

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dade da região Norte processada pela floresta é tologista Renata Libonati, chefe do Laboratório de
transportada pelo Centro-Oeste, Sudeste e outras Aplicações de Satélites Ambientais do Instituto de
partes do país. Sem ela, o regime de chuvas se al- Geociências da Universidade Federal do Rio de Ja-
tera nessas regiões e pode causar secas agudas. neiro (Igeo/UFRJ), que não participou do estudo.
Coordenador da Divisão de Observação da Ter- O trabalho que saiu em julho na Nature é conti-
ra e Geoinformática (DIOTG) do Inpe, Aragão nuação de um projeto coordenado por Gatti, que,
tem se dedicado a estudar os impactos de longo em 2014, rendeu um artigo publicado com des-
prazo do desmatamento e especialmente das taque de capa nesse periódico científico. Aquele
queimadas, duas formas de agressão à floresta primeiro estudo usava a mesma metodologia de
promovidas pelo homem, sobre parcelas da Ama- coleta de dados adotada no atual trabalho, mas
zônia com vegetação degradada. Ele também é abrangia um período de apenas dois anos, 2010
um dos coautores de outro trabalho, igualmente e 2011. O novo artigo agregou mais sete anos de
publicado em julho, mas na revista PNAS, que informações de campo. “No trabalho de 2014,
mostra os efeitos do fenômeno climático El Niño mostramos que um ano extremamente seco, como
(aquecimento anormal das águas superficiais do 2010, levava a Amazônia a emitir mais carbono do
oceano Pacífico) na grande seca ocorrida entre que um ano com clima dentro do esperado, como
o fim de 2015 e o início de 2016 na Amazônia. 2011”, explica a bióloga Luana Basso, membro da

D
equipe de Gatti, que atualmente faz estágio de
e acordo com dados desse es- pós-doutorado na Universidade de Leeds, no Rei-
tudo, que tem como principal no Unido. “O foco, então, era na variável tempo.
autora a bióloga brasileira Erika Agora nossa ênfase é mostrar como se comporta
Berenguer, da Universidade de o balanço de carbono em áreas da Amazônia com
Lancaster, no Reino Unido, cerca diferentes níveis de desmatamento, de queimadas
de 3 bilhões de árvores morreram e de mudanças climáticas.”
em uma área equivalente a 1,2% do território da A produção das informações que serviram de
Amazônia brasileira nos três anos seguintes devido base para o mais recente artigo envolveu um ex-
à seca extrema e a incêndios florestais. Um dos tenso trabalho de campo. Com o emprego de um
efeitos desse perecimento anormal de árvores é avião de pequeno porte voando entre 300 metros
que toneladas a mais de carbono voltaram para a e 4,4 quilômetros de altitude, os pesquisadores
Vista aérea de trecho atmosfera. “Estudos recentes indicam que fogos recolheram a cada dois meses amostras do per-
preservado da floresta
amazônica, que retira
associados ao desmatamento são mais intensos fil do ar sobre quatro pontos da Amazônia: Alta
mais carbono do que que os demais tipos de fogos na Amazônia e con- Floresta, em Mato Grosso, no sudeste da região;
os setores desmatados tribuem para maiores emissões”, explica a clima- Santarém, no Pará, no nordeste; Rio Branco, no
Acre, no sudoeste; e Tabatinga, no Amazonas,
no noroeste. Em alguns anos, as amostras do no-
roeste vieram de Tefé, mas, para efeitos práticos,
os dados de Tefé e Tabatinga são considerados
representativos da mesma região. No total, foram
obtidas 590 amostras atmosféricas.
O avanço das queimadas e do desmatamento na
parte oriental da Amazônia são apontados pelos
autores do artigo como as principais causas de
essa região ter se tornado uma fonte de carbono.
Com menos árvores em pé, a capacidade de retirar
CO2 da atmosfera, via fotossíntese, diminui (ver
quadro sobre ciclo do carbono na floresta na página
58). Se, além de cortada, a vegetação é queimada,
o carbono que estava armazenado na biomassa
da planta retorna diretamente para o ar. Os auto-
res dizem que, se não houvesse desmatamento e
queimadas, a Amazônia como um todo seria um
sumidouro de carbono. Porém, seus dados indicam
que sua porção sudeste, mais impactada pelo ho-
mem, já se comporta como uma fonte de carbono
mesmo quando o peso das emissões específicas
das queimadas é desconsiderado.
“As espécies de árvores mais longevas da Ama-
zônia podem viver em média 180 anos”, comenta
o botânico Marcos Buckeridge, do Instituto de

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Biociências da USP, que estuda o crescimen- biomassa e, portanto, liberou carbono. Sabemos
to de plantas e cultivos em ambientes ricos em da importância do desmatamento para as mu-
dióxido de carbono e não participou do estudo danças climáticas globais”, disse, em comunicado
coordenado por Gatti. “A maior parte do carbono de imprensa, Stephen Sitch, da Universidade de
absorvido pelas plantas fica armazenada nelas Exeter, no Reino Unido, um dos autores do tra-
por todo esse tempo e só é liberada quando elas balho. “Nosso estudo mostra como as emissões
morrem. A decomposição das plantas libera len- associadas a processos de degradação florestal
tamente o carbono enquanto as queimadas fazem podem ser ainda maiores. A degradação é uma
isso de forma acelerada. Assim que recomeça o ameaça generalizada à integridade futura da flo-
crescimento vegetal em uma área desmatada, o resta e precisa ser pesquisada com urgência.”

U
carbono começa novamente a ser absorvido.”
Outros trabalhos chegaram a conclusões se- m artigo de 2015, que também ga-
melhantes à do estudo de Gatti, Aragão e seus nhou as páginas da Nature, é uma
colaboradores. Artigo publicado na Nature Cli- referência obrigatória sobre o te-
mate Change em abril deste ano sinaliza que a ma balanço de carbono na grande
Amazônia emitiu 18% mais carbono do que ab- floresta tropical. Coordenado por
sorveu entre 2010 e 2018. Os cálculos do balanço pesquisadores da Universidade de
de carbono foram feitos a partir de medições dos Leeds, com a participação de brasileiros e colegas
fluxos de CO2 realizadas por satélites. O estudo de outros países, o estudo sugere que a Amazônia
estimou que os setores de vegetação degradada, vem perdendo progressivamente a capacidade de
em geral vizinhos a áreas desflorestadas e a pro- retirar carbono da atmosfera devido a um aumento
priedades destinadas à agropecuária, emitiram de mais de um terço na mortalidade de árvores
quantidades significativas de carbono em relação desde meados dos anos 1990. Além do desma-
às partes propriamente desmatadas. “A Amazô- tamento e da degradação da floresta, mudanças
nia brasileira como um todo perdeu parte de sua climáticas, tanto em nível local como global, esta-

Como a floresta absorve


e emite C02 EMISSÕES

A fotossíntese é o principal mecanismo que fixa o carbono,


2 Decomposição de biomassa
enquanto as queimadas, a decomposição de matéria orgânica Quando as plantas ou
os seres vivos em geral morrem,
e a respiração das plantas o liberam para a atmosfera
sua biomassa é decomposta
lentamente pela ação de insetos,
bactérias e fungos. Durante
ABSORÇÃO o processo, o carbono que
fazia parte das plantas e outros
Fotossíntese
1 As plantas
seres vivos é devolvido à
atmosfera na forma de CO2
transformam a luz solar Atmosfera
em energia para seu Queimadas
crescimento e sobrevivência
3 A combustão de matéria
em processo denominado vegetal, como ocorre nas

FOTO BRUNO KELLY / REUTERS / FOTOARENA INFOGRÁFICO ALEXANDRE AFFONSO


fotossíntese. Ao combinar queimadas, libera rapidamente
o CO2 retirado da para a atmosfera o carbono
atmosfera com a água estocado, às vezes durante
e os nutrientes captados anos ou décadas, nas plantas.
por suas raízes, as O processo, frequentemente
plantas produzem associado ao desmatamento,
carboidratos e oxigênio. despeja no ar tanto o
Os carboidratos ficam dióxido de carbono como o
retidos nos vegetais. 1 monóxido de carbono (CO)
O oxigênio é liberado 4
de volta para a atmosfera.
Ricos em carbono,
4 Respiração de plantas
Diferentemente da
os carboidratos formam fotossíntese, que ocorre
a maior parte da biomassa apenas sob o efeito da luz solar,
das plantas. A diminuição a respiração das plantas
na quantidade de árvores 2 é um processo ininterrupto.
e de vegetação reduz 3 Por esse mecanismo, os
a capacidade de uma vegetais consomem oxigênio
região de atuar como e liberam CO2 e água para
sumidouro de carbono o meio ambiente

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ratura média do planeta vai se elevar rapidamen-
te nas próximas décadas devido ao aumento da
emissão de gases de efeito estufa, principalmente
em razão da queima de combustíveis fósseis. “As
pessoas têm de ter em mente que o aumento do
aquecimento global induz as mudanças climáticas
e leva à maior ocorrência de eventos extremos,
que podem ser episódios muito intensos tanto de
seca ou chuva como de calor ou de frio”, pondera
Marengo. Nesse contexto, embora a Amazônia
esteja se tornando mais quente e seca (e emitin-
do mais carbono) quando vista como um todo
ou em sua porção mais a leste, não é paradoxal
ter ocorrido a maior cheia em quase 120 anos do
rio Negro em Manaus no fim de junho deste ano.
Em razão de fortes chuvas, o leito do rio subiu 30
metros e afetou a vida de quase meio milhão de
habitantes do estado. Mais ou menos no mesmo
período, durante o verão no Canadá e no oeste
dos Estados Unidos, em outra anomalia que parte
dos cientistas atribui às mudanças climáticas, os
termômetros marcaram temperaturas recordes
acima de 50 ºC. Em julho, Alemanha, Bélgica e
Países Baixos registraram a maior enchente dos
últimos 100 anos, imputada também por alguns
às mudanças climáticas.
Cheia do rio Negro, riam impulsionando esse fenômeno. O estudo em Para o climatologista Scott Denning, da Uni-
no Amazonas, campo acompanhou por três décadas a evolução da versidade Estadual do Colorado, nos Estados
em meados deste ano
foi a maior da história
biomassa (crescimento e diminuição do tamanho Unidos, os resultados do estudo liderado pelos
das árvores) em 321 parcelas da floresta. brasileiros na Nature coloca em dúvida a capa-

O
cidade de longo prazo da floresta amazônica em
climatologista José Maren- sequestrar carbono da atmosfera e atuar como
go, coordenador de pesquisa um importante contrapeso ao aquecimento glo-
e desenvolvimento do Centro bal. “As observações contínuas feitas em quatro
Nacional de Monitoramento de regiões da Amazônia por essa equipe represen-
Desastres Naturais (Cemaden), tam um tipo de dado muito difícil de se obter e
elogia a importante contribui- são um indício de que a condição de sumidouro
ção científica do estudo. “Vários estudos indicam de carbono da Amazônia está sendo ameaçada
que o leste da Amazônia está se tornando mesmo pela degradação da floresta e aquecimento do
uma fonte de carbono e outros trabalhos, inclusive clima”, disse, em entrevista a Pesquisa FAPESP,
nossos, mostram que o período de estiagem nessa Denning, que assina, também na Nature, um co-
parte da região está ficando mais quente e seco nas mentário sobre o artigo do grupo do Inpe. “O
últimas décadas”, diz Marengo. “Isso não é bom futuro da acumulação de carbono nas florestas
para o balanço de carbono e aumenta o risco de tropicais sempre foi incerto. Os perfis atmosfé-
secas e de incêndios.” No entanto, a Amazônia é ricos obtidos por Gatti e seus colegas mostram
uma região muito extensa e fazer generalizações que esse futuro incerto está ocorrendo agora.” n
para a toda a área é arriscado. Em simulações cli-
máticas, alguns modelos apontam, por exemplo,
que em setores do noroeste da Amazônia pode Projeto
vir a chover ainda mais nas próximas décadas em Variação interanual do balanço de gases de efeito estufa na bacia
razão das mudanças climáticas globais. Atualmen- amazônica e seus controles em um mundo sob aquecimento e mu-
te, a porção ocidental, que é mais preservada, é danças climáticas – Carbam: Estudo de longo termo do balanço do
carbono da Amazônia (nº 16/02018-2); Modalidade Projeto Temático;
também mais úmida do que o setor oriental. Ali Programa Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais; Pesquisadora
chove até mais de 3 mil mm por ano. responsável Luciana Gatti (Inpe); Investimento R$ 4.436.420,43.
O aquecimento global é a faceta mais visível
das mudanças climáticas. Mas isso não quer dizer Artigos científicos
que vai ficar mais quente todo o tempo e em todos GATTI, L. V. et al. Amazonia as a carbon source linked to deforestation
and climate change. Nature. 15 jul. 2021.
os lugares. Em certas regiões, é possível até que BERENGUER, E. et al. Tracking the impacts of El Niño drought and fire
esfrie em alguns períodos do ano. Mas a tempe- in human-modified Amazonian forests. PNAS. 27 jul. 2021.

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