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TECNOLOGIAS E PROJETOS INTERDISCIPLINARES DE ENGENHARIA


AMBIENTAL E SANITÁRIA

AUTORAS E AUTORES
RAQUEL FREITAS REIS – LILIAM GLEICY DE SOUZA OLIVEIRA – ALAN
DOS SANTOS FERREIRA – NEWTON SILVA DE LIMA – ELIANA DE MELO
MOUTINHO – GABY INÁCIO DE OLIVEIRA – SIMONE DAS NEVES SOARES
– VIVIAN PEREIRA MIQUILES – JOÃO ALVES PEREIRA JÚNIOR – RENATA
MATOS CASTRO – ALINE SANTOS DA SILVA – DANIEL MACIEL PAZ –
LUCAS PEIXOTO DOS SANTOS

RAQUEL FREITAS REIS et. al. Tecnologias e Projetos Interdisciplinares de


Engenharia Ambiental e Sanitária. Organizado por Evandro Brandão Barbosa.
Manaus: CEULM-ULBRA, 2023.

1. ODS. 2. Incêndio. 3. Desmatamento. 4. Amazônia

I. BARBOSA, Evandro Brandão Barbosa. II. REIS, Raquel Freitas.


84 páginas
ISBN: 978-65-00-88826-3.
Título: TECNOLOGIAS E PROJETOS INTERDISCIPLINARES DE
ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA

Formato: Livro Digital


Veiculação: Digital

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Dedicatória

Aos pesquisadores que buscam conhecimentos da


Engenharia Ambiental e Sanitária para elevar o nível
de qualidade de vida da sociedade.

As autoras e os autores.

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SUMÁRIO

Capítulo 1 – A DINÂMICA DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS NA REGIÃO SUL DO ESTADO DO


AMAZONAS.... 5

Capítulo 2 - ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICA DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UM IGARAPÉ


TRIBUTÁRIO DO IGARAPÉ DO QUARENTA LOCALIZADO DENTRO DE UM
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MANAUS-AM...... 25

Capítulo 3 - PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIOCHAR DERIVADO DE CASQUILHO DE


GUARANÁ (Paullinia cupana Kunth, Sapindaceae) PARA REMEDIAÇÃO DE
CORANTE EM ÁGUA................. 49

Capítulo 4 - DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA E SEUS IMPACTOS DIRETOS NO ESTADO DO


AMAZONAS.................................................................. 59

Capítulo 5 - ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA NA IMPLANTAÇÃO DE UM ATERRO


SANITÁRIO NO MUNICIPIO DE IRANDUBA............................................ 66

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CAPÍTULO 1

A DINÂMICA DOS INCÊNDIOS FLORESTAIS NA REGIÃO SUL DO ESTADO DO


AMAZONAS
(Setembro de 2022 e outubro de 2023)

Aline Santos da Silva1


Daniel Maciel Paz2
Alan dos Santos Ferreira3
Newton Silva de Lima4
RESUMO
O bioma Amazônia desempenha um papel crucial como regulador climático natural, fornecendo serviços
ecossistêmicos essenciais, como o sequestro de carbono e a regulação do vapor d'água. No entanto, os
impactos ambientais, como incêndios florestais, estão comprometendo suas funções hidrológicas e
aumentando as perdas econômicas, afetando a saúde humana e ampliando as emissões de carbono. O
aumento desses focos de queimadas na floresta Amazônica está relacionado a condições extremas de
eventos de seca, tornando áreas com árvores de cascas finas mais vulneráveis. O desmatamento também
contribui significativamente para os incêndios, pois o fogo é frequentemente usado para gerenciar áreas já
desmatadas. Isso ameaça as regiões adjacentes, levando as queimadas para o interior das matas, aumentando
as emissões de carbono e comprometendo a biodiversidade. Estudos indicam que as mudanças climáticas
estão aumentando a vulnerabilidade da floresta, com eventos como El Niño associados a períodos de seca
extrema e desmatamentos. A projeção para 2050 sugere uma redução na área úmida da Amazônia,
aumentando os riscos de incêndios e impactando as funções ecossistêmicas. O município de Humaitá, no
sul do Amazonas, é destacado como uma área conhecida como “arco de desmatamento” por ter sofrido pela
perda da cobertura vegetal desde os meados da década de 90. Os dados revelam um aumento significativo
nos incêndios entre setembro de 2022 e outubro de 2023, com áreas afetadas e perdas de vegetação nativa.
A análise aponta para a continuidade das queimadas em territórios já impactados, sugerindo práticas ilegais
de desmatamento para expansão agropecuária. A comparação entre as regiões afetadas e infrações
ambientais mostra que uma parte substancial das queimadas ocorre em áreas sem registro de infrações,
evidenciando a necessidade de reforçar as medidas de fiscalização e controle. O estudo destaca a
importância de abordagens integradas para combater incêndio, considerando fatores ambientais, práticas
agrícolas e mudanças climáticas.

Palavras-chave: Incêndios florestais. Geoprocessamento. Impactos.

ABSTRACT

1
Graduanda de Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail:
alinesantos@rede.ulbra.br
2
Graduanda de Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail:
alinesantos@rede.ulbra.br
3
Docente Orientador do Curso Superior de Engenharia Ambiental e Sanitária, CEULM/ULBRA. E-mail:
alan.ferreira@ulbra.br
4
Docente Coorientador do Curso Superior de Engenharia Ambiental e Sanitária, CEULM/ULBRA. E-mail:
newton.lima@ulbra.br

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The Amazon biome plays a crucial role as a natural climate regulator, providing essential ecosystem
services such as carbon sequestration and water vapor regulation. However, environmental impacts, such
as forest fires, are compromising its hydrological functions and increasing economic losses, affecting
human health, and amplifying carbon emissions. The escalation of these fire outbreaks in the Amazon
rainforest is linked to extreme drought events, rendering areas with thin-barked trees more vulnerable.
Deforestation also contributes significantly to the fires, as fire is often employed to manage already cleared
areas. This poses threats to adjacent regions, leading fires into the interior of the forests, escalating carbon
emissions, and compromising biodiversity. Studies indicate that climate change is increasing the forest's
vulnerability, with events like El Niño associated with periods of extreme drought and deforestation. The
projection for 2050 suggests a reduction in the Amazon's wetland area, increasing the risks of fires and
impacting ecosystem functions. The municipality of Humaitá in southern Amazonas is highlighted as an
area known as the "deforestation arc" due to the loss of vegetation cover since the mid-1990s. Data reveals
a significant increase in fires between September 2022 and October 2023, with affected areas and losses of
native vegetation. The analysis indicates the continuity of fires in already impacted territories, suggesting
illegal deforestation practices for agricultural expansion. Comparing affected regions with environmental
infractions, a substantial portion of the fires occurs in areas without recorded infractions, underscoring the
need to reinforce monitoring and control measures. The study emphasizes the importance of integrated
approaches to fire management, considering environmental factors, agricultural practices, and climate
change

Keywords: Forest fires. Geoprocessing. Impacts.

1 INTRODUÇÃO
Na floresta amazônica o fogo apresenta um padrão com características de uma
linha de chamas de movimento lento nos sub-bosques, espalhando-se nas florestas da
Amazônia (CARRERO ET AL., 2020). Muitas árvores sofrem pelas queimadas à medida
que o fogo se prolonga. A espécies arbóreas, principalmente, não são adaptadas ao fogo
ocasionando um quantitativo preocupante ao indicador de mortalidade logo no primeiro
incêndio produzindo combustível e secura necessária para incêndios subsequentes mais
danosos ao meio, logo, os incêndios florestais podem ser classificados como: incêndio
subterrâneo e ou "incêndio de solo", incêndio superficial e incêndio aérea ou de copa.

Os incêndios de solo, ocorrem ao piso da floresta amazônica, afetando uma


camada de 15 cm sob o solo mineral, impactando o material orgânico em decomposição.
Com nível baixo de oxigênio exposto, o fogo desenvolve-se de forma lenta, sem sinais de
chamas e pouquíssima fumaça, mas com intenso calor e força destruidora. Já o incêndio
superficial, ocorre em ambiente e lugar semelhante ao incêndio de solo, ou seja, também
no piso da floresta, queimando os restos vegetais não decompostos como por exemplo as

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folhas, galhos, e outros, localizados até a altura de 1,80 m do solo caracterizando uma
propagação relativamente rápida, abundante e bastante calor, não sendo difíceis de
combater (DICK ET al., 2018).

Na região do Sul do Amazonas, como na cidade de Humaitá, os incêndios


superficiais são os mais comuns, sendo a forma pela qual começam quase todos os
incêndios florestais. Uma terceira classificação, o incêndio aéreo, é conhecido
popularmente como incêndio de copa, onde são os que apresentam decorrências nas
árvores, a partir de 1,80 m do solo. A folhagem, os galhos e troncos são destruídos por
todas as partes geralmente morrem por completo. Salvo raras exceções (casos dos raios),
todos os incêndios de copa se originam de incêndios superficiais. Propagam-se
rapidamente, liberando grande quantidade de calor. São os mais difíceis de serem
combatidos. (DICK ET al., 2018).

A fragmentação de habitats ocasiona diretamente a perda de biodiversidade e


alterações em processos ecossistêmicos (HADDAD ET AL., 2015). Por exemplo, para as
assembleias de peixes neotropicais, em particular na região Amazônica, são altamente
vulneráveis as modificações do habitat causadas pela degradação ambiental,
principalmente quando o impacto está relacionado as áreas utilizadas para crescimento,
refúgio e alimentação como as florestas alagadas de várzea e igapó (LOWE-
MCCONNELL,1999; WEISS, ET AL 2023).

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O bioma Amazônia, em destaque a floresta amazônica, assim como os outros


Biomas brasileiros, são reguladores climáticos naturais que utilizam e fornecem recursos
ambientais com características essenciais de serviços ecossistêmicos sendo considerada a
maior floresta tropical do mundo devido ao grande volume de carbono e o fornecimento
de vapor d’água (FEARNSIDE, 2008). Impactos ambientais como incêndios florestais na
Amazônia afetam diretamente as funções hidrológicas da floresta e o sequestro de
carbono (BARLOW, 2012). Os incêndios florestais impactam e ocasionam perdas
econômicas e afetam a saúde humana por meio dos problemas respiratórios.

As decorrências e custos para combater doenças e controle do fogo com brigadas


em campo com utilização de aeronaves se torna caro aos custos financeiros (DE
MENDONÇA 2004). Os incêndios naturais que ocorrem na Floresta Amazônica são

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considerados evento raros com tempo de regeneração de centenas de milhares de anos
(BUSH 2008). Os impactos ambientais diretos causados pelo homem como incêndios
florestais em florestas húmidas onde tradicionalmente considera-se resistente ao fogo e
as alterações climáticas vêm aumentando a cada ano (BARNI, 2021; TURUBANOVA,
2018).

Estudo apresenta valores estimados que 58% da Amazônia esteja úmida para
controlar incêndios e consequentemente as alterações climáticas podem reduzir para 37%
no ano de 2050. Uma das causas do aumento dos incêndios florestais na floresta
Amazônica está ligado as condições extremas dos eventos de seca levando incêndios para
regiões onde encontra-se árvores características de cascas finas tornando vulneráveis aos
impactos no ambiente causados por incêndios (FEARNSIDE, 2008). O desmatamento
também é considerado um impacto ambiental de porte e nível alto, e ainda, considerado
protagonista porque o fogo é praticado para o manejo de áreas já desmatadas, e limpeza
de terrenos pós supressão vegetal de áreas de floresta nativa (SILVA, 2019; SILVEIRA,
2020).

Para não afetar as atividades do agronegócio a utilização do fogo, para o manejo


da agricultura ao combate de vegetação lenhosa nas áreas de pasto para bovinos e
correlatos, ainda é a fonte de ignição mais usada (SILVA ET AL., 2020). Desta forma, as
florestas adjacentes são ameaçadas em suas bordas fazendo com que as queimadas sejam
expandidas para parte interior da floresta criando paisagens propícias a proliferação do
fogo aumentando as emissões de carbono (PÊSSOA ET AL., 2020; SILVA ET AL., 2020;
VEDOVATO ET AL., 2016).

Segundo Marengo et al., (2018) os incêndios florestais, os períodos de secas, as


explorações madeireiras aumentam a suscetibilidade da queima por fragmentação,
inflamabilidade e ignição, enquanto que o desmatamento e a fumaça podem inibir as
chuvas, agravando os riscos dos incêndios. O aumento do risco de incêndios florestais
representa um fator ambiental adicional de mudança na região Amazônica. Os potenciais
efeitos do fogo como estressor no clima da Amazônia e as florestas, dependem da
distribuição das chuvas principalmente na estação seca. Esta informação é corroborada
por Dos Reis et al., (2021), onde durante um período de 31 anos (1985–2015) observaram
que os incêndios florestais ocorreram apenas em anos de seca extrema induzida pelo El
Niño (1997, 2009 e 2015). A associação dos incêndios florestais com fortes El Niños
mostra a vulnerabilidade da floresta às alterações climáticas. Isto está de acordo com
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chuvas recentes e tendências de chuvas extremas identificadas na Amazônia por Espinoza
et al., (2018), onde vem aumentando nas últimas décadas no norte da Amazônia, enquanto
no sul da Amazônia, onde a taxa de desmatamento é relativamente maior do que no norte
da Amazônia, as chuvas vêm diminuindo ao longo do tempo, consistente com uma
estação seca mais longa.

Outro dado que chama a atenção são as terras públicas. Dutra et al., (2023),
avaliaram entre 2003 a 2019 a extensão espacial e padrões das áreas queimadas em uma
nova fronteira de desmatamento no estado do Amazonas. Os resultados mostraram que a
tendência de aumento do desmatamento ocorreu principalmente em terras públicas,
principalmente após o novo código florestal, levando a um aumento dos incêndios de 66%
para 84% em 2019, complementam ainda, que as decisões políticas que afetam a floresta
amazônica devem incluir estimativas de combater os riscos de incêndios.

O desmatamento da floresta amazônica levará ao desenvolvimento de savanas


principalmente no leste e no sul Amazônia, talvez se estendendo até as áreas central e
sudoeste, devido a essas zonas estarem naturalmente próximas a quantidade mínima de
precipitação necessária para a chuva (LOVEJOY & NOBRE, 2019). A redução da floresta
ocasionará perdas surpreendentes de biodiversidade, carbono e, por sua vez, do bem-estar
humano.

Os reflexos do desmatamento também podem ter efeitos diretos nos ambientes


aquáticos. Em igarapés da Amazônia, a perda de cobertura vegetal altera a abundância, a
riqueza e a estrutura taxonômica de assembleias de peixes. Ilha et al., (2019), encontraram
que o desmatamento influencia fortemente a estrutura das comunidades. Igarapés em
áreas desmatadas tiveram o dobro da abundância de peixes em áreas florestadas. Essas
diferenças na estrutura das assembleias foram em grande parte causadas pelo aumento na
abundância de poucas espécies, já que nenhuma influência do desmatamento na riqueza
foi observada. A cobertura de dossel sobre os igarapés foi o mais forte preditor,
possivelmente por uma combinação de efeitos diretos e indiretos relacionados aos detritos
florestais, recursos alimentares, morfologia dos canais, e regulação de micro-climática.

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3 MATERIAIL E MÉTODO

3.1 Área de estudo

A área selecionada para o estudo foi o município de Humaitá, localizada no Sul


do Estado do Amazonas, mais precisamente nas planícies inundadas da floresta de várzea
do rio Madeira. O local para análise e aplicação do estudo justifica-se pelo motivo da
inserção e já conhecida como “arco de desmatamento” por ter sofrido pela perda da
cobertura vegetal em meados da década de 90. O município possui uma economia baseada
principalmente na agricultura, madeireiras, pesca artesanal, piscicultura e extrativismo
vegetal (INCRA, 2018).
O município de Humaitá possui 57.473 habitantes (IBGE, 2023) onde representa
1.74 habitantes por km² contemplando a bacia Hidrográfica do Rio Madeira, o clima da
região é classificado como tropical de monção, com precipitação média de 2.000 mm e
temperatura média anual de 25,6°C.

Figura 01: Mapa de localização da área de estudo, município de Humaitá.

Fonte: Soares et al., (2018).

3.2. Amostras e Procedimentos de coleta

- Identificação de eventos temporais dos incêndios florestais

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Os dados de identificação e interpretações aos eventos temporais dos incêndios
florestais com o objetivo de correlacionar a perda de biomassa vegetal a cobertura
florestal foi classificada em duas categorias: (1) Floresta de terra firme = cobertura
florestal no município de Humaitá, e (2) floresta de várzea. A identificação foi realizada
no período de 2022 e 2023, nos meses de setembro e outubro como base os dados do
Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil – (Projeto
MapBiomas 2021) por meio de métodos de classificação em imagens dos satélites
LandSat, além de planilhas com dados estatísticos com relações de cobertura e uso do
solo e formação florestal.

Os dados de identificação dos fatores ambientais e antrópicos seguiram o mesmo


intervalo de tempo dos eventos temporais de incêndios florestais de 2022 a 2023, nos
meses de setembro e outubro. Por meio dos diferentes bancos de dados do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, foram coletados arquivos contendo informações
sobre focos de queimadas e incêndios florestais no intervalo de dois meses (setembro e
outubro), em tempo quase real (a cada dez minutos) disponíveis nos formatos CSV
(Comma-separated Values) e KML (Keyhole Markup Language) podendo serem
transformados em arquivos shapes (.shp). Os dados amostrados foram trabalhados em
software de geoprocessamento como QGIS3.34.0 e Arcgis 10.8 na projeção Sirgas 2000.

- Processamento das imagens


Segundo Goes & Xavier-da-Silva, (1996), as etapas metodológicas subdividem-
se em três (Figura 02): Pré-processamento do SIG (organização e aquisição dos dados),
Processamento do SIG (tratamento e análise dos dados e das informações em formato
digital e Pós Processamento do SIG (escala, configuração das legendas dos mapas
impressos e definições de normas e unidades. A seguir serão detalhadas cada uma dessas
fases.

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Figura 02: Fluxograma das etapas metodológicas do estudo

ESTRUTURA BÁSICA
DO SIG

PROCESSAMENTO
PRÉ PÓS
DO SIG PROCESSAMENTO
PROCESSAMENTO DO
SIG DO SIG

ENTRADA E EDIÇÃO DE DADOS


ORGANIZAÇÃO E PARA COBERTURA E USO DO MAPAS TEMÁTICOS
AQUISIÇÃO DE DADOS SOLO,Fonte: Autores (2023)
DESMATAMENTO,
INCÊNDIOS FLORESTAIS E FAUNA
AQUÁTICA

Etapa 1 ou fase de Pré Processamento do SIG

Essa fase é considerada suporte para as demais, sendo dividida em três partes:

a) Investigação, organização e aquisição dos dados.


Nesta fase foi realizado o levantamento estratégico e logístico para
estruturação da pesquisa, com a seguinte atividade:

- Aquisição de informações existentes como: dados espaciais e temporais,


cartografados e não cartografados.

b) Apoio de cartas topográficas do IBGE e imagens do satélite landSat do


Instituto de Pesquisas Espaciais - INPE, representada pela escala 1:100.000
no intervalo de tempo 2022 a 2023 (setembro e outubro) para registro da base
geográfica (vias de acesso, fragmentos florestais originados por por
incêndios, quantidade).

c) Apoio das imagens de satélites para definição das classes de uso do solo
para obtenção de dados reais e atuais da área de estudo. Para os componentes
de identificação dos eventos temporais dos incêndios florestais e dos fatores
ambientais e antrópicos foram utilizadas imagens do satélite Land Remote
Sensing Satellite (LANDSAT), com baixa obstrução por cobertura de nuvens
(máximo 30%) no intervalo de tempo 2019 a 2023 correlacionado aos
períodos de cheia e seca para a região do município de Humaitá (Tabela 3).
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As imagens foram obtidas de forma gratuita do banco de dados do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE e do Projeto de Mapeamento anual
do uso e cobertura do solo - MapBiomas.

O pré-processamento (Figura 02), utilizando os software ArcGIS (versão 10.8) e


QGIS 3.34.0, o pré-processamento executado em seis (06) etapas: a) Seleção da imagem;
b) definição de áreas (shape); c) composição I (pan-sharpened); c) Incêndios Florestais;
d) composição II (reflectance); e) exportar (export raster data, format ENVI) e f) análise
da assinatura espectral (spectral profile, software ENVI).

A imagem obtida da cidade de Humatá foi a do satélite Landsat com extensão


TIFF disponível pelo INPE e pela Plataforma Google EARTH, possibilitando definir o
mapeamento temático dos componentes de estudo por meio das variáveis D x FA – D x
IF.

O satélite (LANDSAT) tem sua operação a uma altitude de 705 km, atualmente
encontra-se na órbita heliosincrona, inclinação de 98,2° e contempla todo o globo
terrestre, realiza varreduras capturando cenas de 170 km (norte-sul) e 183 km (leste-
oeste). Tem uma estrutura de resolução temporal de (16 dias) e resolução radiométrica de
(16 bits), na projeção UTM (polar estereográfica para a Antártida) e na projeção Datum
(WGS1984) e na projeção SIRGAS 2000 para o hemisfério Sul.

Contempla resolução espacial de (30 metros), podendo chegar a (15 metros) após
a “fusão” com a Banda Pancromática (PAN) possibilitando o ortorretificação de imagens
(L1T1), dados de referência de pontos de controle do terreno e altitudes baseadas em
Modelos Digitais de Elevação (MDE), como exemplo Shuttle Radar Topography Mission
(SRTM) (USGS, 2018). O Landsat opera com dois instrumentos imageadores:
Operacional Land Imager (OLI) contendo nove (09) bandas espectrais contend a banda
Pancromática e Thermal Infrared Sensor (TIRS) com duas (02) bandas (USGS, 2018). O
espectro e comprimento de onda das imagens de satélite (LANDSAT) podem ser
observados na (Tabela 01).

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Tabela 01. Perfil do sensor imageador OLI e TIRS do satélite (LANDSAT), contendo o nome da banda,
espectro e comprimento de onda (µm). Fonte: USGS, 2018.

Bandas Espectro Comprimento de


onda (µm)
Banda 1 Visível ultra-azul/Aerossol costeiro 0.43 – 0.45
Banda 2 Visível Azul 0.45 – 0.51
Banda 3 Visível Verde 0.53 – 0.59
Banda 4 Visível Vermelho 0.64 – 0.67
Banda 5 Infravermelho Próximo 0.85 – 0.88
Banda 6 Infravermelho Médio/SWIR1 1.57 – 1.65
Banda 7 Infravermelho Médio/SWIR2 2.11 – 2.29
Banda 8 Pancromática (PAN) 0.50 – 0.68
Banda 9 Cirrus 1.36 – 1.38
Banda 10 Infravermelho térmico (TIRS) 1 10.60 – 11.19
Banda 11 Infravermelho térmico (TIRS) 2 11.50 – 12.51

Etapa 2 ou fase de Processamento do SIG

Equivale à geração e criação da base de dados georreferenciada em formato


digital, comportando 10 mapas temáticos digitais e um mapa segmentado. Essa atividade
é responsável pela captura e elaboração dos mapas temáticos em formato digital.
Exemplos de dados para geoprocessamento foram: analógicos (relatórios impressos,
livros), digitais (disponíveis em sites, plataformas digitais, plataformas online e empíricos
(consultas a especialistas, ponderações). Nesta fase órgãos e instituições públicos e
privados foram consultados bem como publicações de artigos científicos que apresentam
informação de dados necessário e importante. Especialistas foram consultados
considerando suas observações sobre os dados armazenados.

Fontes de dados como órgãos públicos, federal como IBAMA, ICMBIO e


Ministério de Meio Ambiente, estaduais como SEMA e IPAAM, e municipais como
Secretarias de Humaitá e Instituições de ensino como Universidade Federal do Amazonas
– UFAM, campus Humaitá), internet (www.ibge.gov.br). Todos os dados relevantes foram
reunidos, independentes de formatos e tipologias. As informações coletadas dependeram
do problema em questão e apoio ao SIG.

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Apresentação das fontes e informações oriundas dos mapas temáticos convencionais que
serão processados e transformados em formato digital.

a) Dados básicos (base geográfica)


Esse mapa constitui a base de registros ou de georreferenciamento dos demais
planos de informação. Nele foram registradas entidades que foram usadas em todos os
outros mapas, diminuindo, desse modo, o tempo de edição dessas classes nos outros
mapeamentos (Cobertura e uso do solo, incêndio florestal no local por exemplo). Para
formulação do mesmo, foram compiladas informações oriundas das bases cartográficas
do IBGE e imagens de satélites Landsat do Instituto de Pesquisas Espaciais - INPE na
escala 1:100.000, no intervalo de tempo 2022 a 2023 (setembro e outubro). Esse plano de
informação delimitará a realidade atual da estrutura de identificação dos componentes de
estudo em questão como a identificação e interpretações aos eventos temporais dos
incêndios florestais com o objetivo de correlacionar a perda de biomassa vegetal dos
fatores ambientais e antrópicos.

b) Cobertura e Uso do solo e incêndios florestais


Para o mapeamento foi utilizada como fonte de interpretação a imagem de satélite
Landsat disponível gratuitamente na Plataforma Google Earth e no site do Instituto de
Pesquisas espaciais - INPE. A princípio, foi realizada a análise e interpretação da imagem
em laboratório para confirmar as interpretações. A categoria levantada: incêndios
florestais.

Para definição de espacialidade de dados foi estabelecido um buffer de cinco (05)


quilometros. Uma vez definida a base de dados digital, procedeu-se então às análises dos
dados, utilizando para isso o processo de tomada de decisão. Por meio das técnicas para
o processo de tomada de decisão, agregou-se as características de temas diferenciados em
uma mesma área, denominada de interseção entre temas. A operação de intersecção foi
feita a partir do cruzamento entre dois componentes.

Etapa 3 ou Fase Pós Processamentodo SIG

Correspondeu-se à análise de situações de caráter prospectivo, base ao diagnóstico


ambiental por geoprocessamento definido, consolidado e atualizável. A partir das classes
que foram registradas nos diferentes mapas avaliativos puderam ser definidos os dados
dos componentes, o que contribui significativamente na reavaliação e restruturação de
novos dados para futuras pesquisas científicas, o qual devem ir para as discussões com a

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comunidade acadêmica, por meio das audiências públicas, congressos, simpósios e outros
similires.

Assinatura Espectral dos diferentes componentes do Desmatamento, Incêndios Florestais


e Fauna aquática

A assinatura espectral correlacionada aos diferentes componentes em estudo foi


identificada a partir do pré-processamento das imagens de satélite (LANDSAT). Em
sequência, a composição II (etapa composta pelas bandas do satélite LANDSAT, após a
aquisição de imagens para análise incêndios florestais (radiância X reflectância) foi
exportada e analisada nos softwares de geoprocessamento Qgis e ArcGis, através da
ferramenta de extensão (Linear Spectral) onde possibilitou a observância do
comportamento espectral de cada componente (D x FA - IF x FA) identificados na
imagem. Gráficos e mapas foram gerados para obter a melhor classificação
supervisionada das imagens, diferenciando os pixels das áreas com a presença de dados
para relacionar aos componentes de estudo em questão (SILVA; COSTA; MELACK,
2010).

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas


Espaciais (INPE), referentes ao período de setembro de 2022 e outubro de 2023, relativos
às áreas queimadas no município de Humaitá/AM, é possível constatar que as locais que
mais foram afetadas são nas zonas oeste, noroeste e sul do município de Humaitá/AM.

No Amazonas foram identificados através do satélite AQUA Tarde (INPE,2023),


em setembro de 2022 cerca de 8659 focos de fogo, sendo o maior número já registrado
em todo o período desde 1998. Deste valor, cerca de 498 (5.8%) focos foram registrados
somente no município de Humaitá, ficando em 5ª posição no ranking de queimadas em
todo o estado do Amazonas e em 19ª posição entre os municípios com maiores índices no
Brasil neste mesmo período.

Segundo dados disponibilizados pelo projeto Queimadas (INPE,2023)


apresentada na figura, em setembro de 2022 o município de Humaitá teve registros de 80
áreas de queimadas por toda extensão do território, o equivalente a 43032,2 ha de grande
perda de vegetação nativa, primária e secundária. Através do mapa é possível notar que a

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área que mais sofreu com desmatamento em 2022 encontra-se ao sul do município, com
uma extensão de queimada equivalente a 4728,5 ha.

Figura 3: Mapa de caracterização de Área Queimadas de 2022

Fonte: Autores (2023)

Figura 4: Mapa de caracterização de Área Queimadas de 2023

Fonte: Autores (2023)

De acordo com os dados obtidos pelo satélite AQUA Tarde (INPE, 2023), no ano
de 2023, foi observado um total de 3.858 focos de incêndio. Este número representa a
maior incidência registrada para o mês de outubro desde 1998, colocando-o como 8ª
posição com maior quantidade de focos de incêndio entre os municípios do estado do

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Amazonas. Durante o mesmo período, o satélite AQUA Tarde (INPE, 2023) também
registrou 18 casos de queimadas, resultando em uma perda total de vegetação
correspondente a 8713,2 ha. A região mais impactada, identificada ao sul do município
de Humaitá, abrange uma extensão de 4017,4 hectares.

Tabela 2: Estatística de Áreas queimadas 2022 x 2023


2022 2023
SETEMBRO OUTUBRO
Registros 80 18
Média das áreas
Queimadas 537,9 484,1
(ha)
Área Mínima 22,9 33,7
(ha)
Área Máxima 4728,5 4017,4
(ha)
Novas áreas de
queimadas - 5369,9
(ha)
Área de reincidências
de Queimadas - 488,4
(ha)
Áreas adjacentes a - 2888,6
queimadas de 2022
Fonte: Autores (2023)

Conforme apresentado na tabela 2, houve uma diminuição significativa de 77,5%


de queimadas registradas entre os períodos de setembro de 2022 e outubro de 2023.
Durante o período de 2022, foram detectados 80 incidentes de queimadas, culminando
numa média de área afetada de 537,9 hectares. A menor extensão territorial impactada
registrou-se em 22,9 hectares, enquanto a maior alcançou 4728,5 hectares. Durante o ano
de 2023, foi registrada a manifestação de 18 novas áreas de queimadas, totalizando 5369,9
hectares. Adicionalmente, ocorreu a reincidência em uma área de 488,4 hectares. É
relevante salientar que 2888,6 hectares são atribuíveis a regiões adjacentes ocorridas em
2022. Estes dados evidenciam uma diversidade de escalas e intensidades nas incidências
de queimadas ao longo do período sob análise.

18
Figura 5: Mapa comparativo – Área Queimada (2022-2023) x Sobreposição (2023)

Fonte: Autores (2023)

Conforme ilustrado na Figura 5, é evidente que as regiões com os índices mais


elevados de ocorrências de queimadas estão predominantemente situadas à esquerda do
Rio Madeira, com uma concentração significativa ao longo das rodovias BR-230 e BR-
319. Conforme destacado por Martins (2020), em uma análise para mapear a distribuição
de atividades nas proximidades dessas rodovias, verificou-se que 23,8% das propriedades
ao longo da BR-230 estão sujeitas a desmatamento com o propósito de utilização e
ocupação do solo para atividades pecuárias. De maneira semelhante, ao longo da BR-319,
36% das propriedades situadas em suas margens estão envolvidas em práticas de
desmatamento com o intuito de expansão da área destinada à pastagem

Ao comparar a incidência de queimadas nos meses de setembro de 2022 e outubro


de 2023 no município de Humaitá, destaca-se que as áreas delineadas em azul
representam sobreposições entre ambos os períodos. É notável que as queimadas em 2023
recorreram em áreas previamente afetadas no ano anterior, evidenciando uma
continuidade das ocorrências em um mesmo território. Este padrão sugere que as zonas
impactadas frequentemente persistem de maneira consecutiva, indicando a possibilidade

19
de as queimadas serem desencadeadas por atividades de desmatamento ilegal, visando a
expansão territorial para práticas agropecuárias ou invasões de propriedades privadas.

Figura 6: Infrações do IBAMA x Áreas de Queimadas – Humaitá/AM

Fonte: Autores (2023)

Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais


Renováveis (IBAMA), entidade federal regida pela Lei nº 7735 de 1989 e encarregada
pela fiscalização de atividades que infringem normas relacionadas ao uso e preservação
do meio ambiente, foram registradas aproximadamente 37 infrações ambientais
relacionadas ao desmatamento ilegal no município de Humaitá. Essas infrações abrangem
uma área equivalente as sobreposições afetadas pelas queimadas entre setembro de 2022
e outubro de 2023, conforme ilustrado na Figura 6. Durante esse período, o município
contabilizou um total de 98 focos de queimadas, e apenas 37,7% da extensão territorial
desses eventos recebeu infrações do IBAMA. Isso destaca que, apesar de serem áreas com
histórico de queimadas, as infrações não impediram a ocorrência de novos episódios de
focos de incêndio nesse território.

Conforme demonstrado na figura 5, as áreas com maiores extensões em hectares


destruídos estão localizadas ao sul do município de Humaitá, totalizando 8745,9 ha de
degradação. Apesar de apresentarem as maiores concentrações de focos de queimadas e

20
de haver uma diminuição desses incidentes em 2023 em comparação a 2022, são regiões
que não possuem histórico de infrações autuadas pelo órgão federal, como evidenciado
na figura 6.

Figura 7: Comparativo das Áreas sensíveis de Humaitá/AM (2022-2023)

Fonte: Autores (2023)

Devido à perda de vegetação nativa resultante do desmatamento, as áreas mais


sensíveis e expostas, como indicado na Figura 7, são aquelas destacadas em vermelho-
vinho, alcançando uma intensidade máxima com o número 11, representando um

Observa-se que, nos intervalos temporais comparados, as áreas em destaque estão


situadas ao sul do município de Humaitá, onde ocorre uma considerável concentração de
novas queimadas, conforme ilustrado na Figura 7. Essa região totaliza uma área de
desmatamento equivalente a 8745,9 hectares somente em 2023. Apesar da redução no
número de queimadas entre os períodos analisados, a zona sul do município continua
sendo o principal foco de desmatamento em toda a localidade.

5 CONCLUSÃO

A análise da distribuição espacial das queimadas em 2022 e 2023 indica uma


redução geral no número de focos de incêndio, mas ainda persistem áreas críticas,
especialmente ao sul do município de Humaitá. Essa persistência pode ser atribuída a uma
combinação de fatores, incluindo práticas agrícolas inadequadas, uso do fogo na

21
agricultura e condições climáticas propícias ao alastramento do fogo. O mapeamento das
áreas queimadas também destaca a presença de incêndios recorrentes, indicando uma falta
de controle e medidas preventivas eficazes. A sobreposição das áreas queimadas em 2023
com aquelas registradas em 2022 sugere que algumas regiões continuam sendo afetadas
repetidamente, contribuindo para a degradação contínua do ecossistema local.
É importante ressaltar que os incêndios florestais não afetam apenas a cobertura
vegetal, mas também têm impactos significativos na biodiversidade, na qualidade do ar e
na saúde humana. Além disso, a fragmentação do habitat, causada pelo desmatamento e
pelos incêndios, pode levar à perda de biodiversidade e alterações nos processos
ecossistêmicos. O aumento dos incêndios florestais na Amazônia está relacionado a uma
série de fatores, incluindo o desmatamento, as práticas agrícolas inadequadas, as
condições climáticas extremas e as alterações climáticas. A utilização do fogo para
manejo agrícola, em especial nas áreas de expansão do agronegócio, contribui para a
propagação dos incêndios para o interior da floresta.
O estudo também destaca a vulnerabilidade da floresta amazônica às alterações
climáticas, com a ocorrência de incêndios florestais associados a anos de seca extrema
induzida pelo fenômeno El Niño. Isso ressalta a importância de considerar não apenas as
práticas locais, mas também os fenômenos climáticos globais na compreensão e no
enfrentamento dos incêndios florestais na região.
A relação entre o desmatamento da floresta amazônica e a transição para savanas
destaca as graves consequências do desmatamento contínuo, essa transição teria impactos
significativos na biodiversidade, no armazenamento de carbono e no bem-estar humano.
Além disso, o estudo ressalta os efeitos do desmatamento nas áreas aquáticas,
evidenciando alterações na abundância e estrutura das comunidades de peixes em
igarapés da Amazônia. Isso destaca a interconexão entre os ecossistemas terrestres e
aquáticos, ressaltando a necessidade de uma abordagem integrada na gestão ambiental.
Em relação à metodologia utilizada, a combinação de sensoriamento remoto,
geoprocessamento e análise espacial mostrou-se eficaz na identificação e caracterização
das áreas queimadas. A utilização de dados de satélite, como Landsat, permitiu uma
avaliação abrangente das mudanças na cobertura do solo ao longo do tempo. No entanto,
é crucial destacar a importância da implementação de estratégias de prevenção, controle
e educação ambiental para lidar com os incêndios florestais na Amazônia. Isso inclui a
promoção de práticas agrícolas sustentáveis, o fortalecimento da fiscalização e a
conscientização da comunidade sobre os impactos ambientais negativos associados aos

22
incêndios florestais. Em suma, o estudo destaca a complexidade dos incêndios florestais
na Amazônia, evidenciando a necessidade urgente de abordagens integradas e
sustentáveis para preservar esse ecossistema vital. A conservação da floresta amazônica
não apenas depende da mitigação do desmatamento, mas também exige ações
coordenadas para enfrentar as causas subjacentes dos incêndios florestais.

REFERÊNCIAS

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24
CAPÍTULO 2

ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICA DA QUALIDADE DA ÁGUA DE UM IGARAPÉ


TRIBUTÁRIO DO IGARAPÉ DO QUARENTA LOCALIZADO DENTRO DE UM
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MANAUS-AM

Eliana de Melo Moutinho5


Gaby Inácio de Oliveira2
Simone das Neves Soares3
Raquel Freitas Reis4
Liliam Gleicy de Souza Oliveira 5
RESUMO

O aumento populacional e a expansão das indústrias têm ocasionado uma


notável redução na qualidade da água em várias bacias e microbacias urbanas,
resultando em esgotos a céu aberto, contribuindo para a proliferação de vetores
que podem colocar em risco a saúde da população, além de causar danos ao
meio ambiente. O propósito principal deste trabalho é analisar a qualidade da
água de um trecho do tributário do igarapé do quarenta, denominado igarapé
ULBRA/SEDUC situado em um Centro Universitário em Manaus/AM. Para isso,
ocorreram visitas ao local da coleta de amostras de água e a realização de
análises físico-químicas dessas amostras (pH, alcalinidade, cloretos, materiais
flutuantes, odor, aspecto, óleos e graxas, sedimentação, fenóis totais e oxigênio
dissolvido). Para a definição dos ensaios e parâmetros de valores, o tributário foi
classificado considerando a Resolução CONAMA 357/2005, como água doce,
classe 4, com destinação de navegação e harmonia paisagística. Alguns dos
dados apresentaram-se fora dos níveis aceitabilidade, indicando uma possível
contaminação no ponto de coleta analisado. É importante investigar a origem
desses materiais flutuantes e substâncias com odor para identificar e remediar o
impacto ambiental.

Palavras-chave: Água. Análise. Urbanização. Recursos Hídricos. Conama.

5 Graduanda de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-


mail: elianamoutinho@rede.ulbra.br
2Graduando de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-
mail: inaciooliveira@rede.ulbra.br
3Graduanda de Engenharia Ambiental pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-
mail: symony1225@rede.ulbra.br
4 Engenharia Civil e Docente do Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail:
raquel.reis@rede.ulbra.br
5 Química e Docente do Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail: liliam
greyce@rede.ulbra.br

25
ABSTRACT

The population increase and the expansion of industries have caused a notable reduction
in water quality in several urban basins and micro-basins, resulting in open sewage,
contributing to the proliferation of vectors that can put the health of the population at risk,
in addition to causing damage to the environment. The main purpose of this research is
to analyze the water quality of a stretch of the tributary of the Igarapé do Forty, called the
ULBRA/SEDUC igarapé located in a University Center in Manaus/AM. To this end,
visits to the site took place to collect water samples and carry out physical-chemical
analyzes of these samples (pH, alkalinity, chlorides, floating materials, odor, appearance,
oils and greases, sedimentation, total phenols and dissolved oxygen). To define the tests
and value parameters, the tributary was classified considering CONAMA Resolution
357/2005, as fresh water, class 4, intended for navigation and landscape harmony. Some
of the data were outside the acceptability levels, indicating possible contamination at the
analyzed collection point. It is important to investigate the origin of these floating
materials and odorous substances to identify and remediate the environmental impact.
Keywords: Water. Analysis. Urbanization. Water resources. Conama.

1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a urbanização e industrialização das regiões
metropolitanas têm causado impactos negativos nos recursos hídricos; a má
gestão do solo e o uso inadequado são fatores cruciais, ameaçando tanto a
disponibilidade quanto a qualidade da água (SANTOS, 2016).
É importante destacar que os espaços ocupados nos centros urbanos são
resultado do desmatamento de vastas áreas causando impermeabilização do
solo, contaminação dos lençóis freáticos e das águas superficiais e outros
problemas ambientais que afetam a saúde humana (FAUSTINO et al, 2014).
Os recursos hídricos no Brasil adquiriram significativa importância com a
promulgação da Lei Nº 9.433, em 08 de janeiro de 1997, conhecida como a
Política Nacional de Recursos Hídricos. Além disso, a legislação também aborda
a questão dos impactos ambientais que esses corpos d'água têm enfrentado.
Na cidade de Manaus, há inúmeras reservas hídricas naturais, tais como
rios, lagos e lagoas, as quais acabam tornando-se locais de despejo não
somente de resíduos industriais, como também dos resíduos domésticos
próprios dos moradores do entorno, o que contribui, de maneira ostensiva, com
o fenômeno da poluição. No contexto dos ambientes aquáticos, essa
contaminação é preocupante, uma vez que a água é essencial para a vida e o
progresso socioeconômico (RODRIGUES, 2016).
Isso ressalta a importância da investigação da qualidade da água, a partir
de ensaios e a aplicação de métodos de prevenção e outras formas de mitigação
ao combate à poluição hídrica presente em diversas áreas da cidade de Manaus.
Um destes ambientes, cujo quadro de poluição já se apresenta nítido, é o Igarapé
ULBRA/SEDUC.

26
O igarapé ULBRA/SEDUC está localizado na Área de Proteção Ambiental
Floresta Manaós, no bairro Japiim, zona centro-sul da cidade de Manaus.
O tema proposto parte das inquietações acerca da falta de saneamento
adequado na área de estudo, ausência de infraestrutura e ao descarte irregular
de resíduos sólidos e líquidos despejados diretamente nas águas superficiais,
podendo conter patógenos nocivos à saúde da população e a todo ecossistema.
Para tanto, o objetivo geral deste estudo consiste em analisar a qualidade
da água de um trecho do curso do igarapé ULBRA/SEDUC localizado dentro de
um Centro Universitário da cidade de Manaus/AM.
Como objetivos específicos realizaram-se os seguintes desdobramentos:
Realizar visitas in loco na área de estudo coletar amostras de água de um ponto
do igarapé ULBRA/SEDUC; Realizar ensaios físico-químicos das amostras de
água (pH, alcalinidade, cloretos, materiais flutuantes, odor e aspecto, óleos e
graxas, sedimentação, fenóis totais e oxigênio dissolvido); Analisar os dados
considerando os parâmetros de classificação da água doce do trecho em estudo
como classe 4, conforme a Resolução CONAMA 357/2005.
Este trabalho desempenha um papel fundamental na promoção da saúde
a partir da utilização de técnicas de saneamento, cumprindo os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (3 - Saúde e bem estar; 6 - Água potável e
saneamento; 11 - Cidades e comunidades sustentáveis; 14 - Vida na água e 15
- Vida terrestre) e contribuindo para a busca de soluções mais sustentáveis para
a descontaminação de águas, atendendo às necessidades prementes de
preservação dos recursos hídricos e da saúde humana.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 ESPAÇOS URBANOS E OS CURSOS D’ÁGUA

O estado do Amazonas possui municípios inteiramente drenados por


igarapés e afluentes constituintes das muitas bacias hidrográficas,
características marcantes da região norte (MIRANDA, 2017).
Localizada à margem esquerda do rio Negro, Manaus possui cinco bacias
principais: São Raimundo; Educandos; Colônia Antônio Aleixo; Puraquequara e
Tarumã-Açu, ambas situadas em zonas urbana e rural do município (MAIA et al.
2019).
De acordo com Miranda (2017), os igarapés que drenam a cidade são
oficialmente reconhecidos como parte do patrimônio natural do município,
conforme definido no plano diretor de Manaus, no entanto, à medida que a
cidade cresceu, houve uma perda gradual da identidade e das características
originais desses igarapés.

27
Os corpos d'água que compõem a paisagem urbana, têm importante
contribuição no transporte de detritos. Após a disposição inadequada de
resíduos no ambiente, os rios de amplas bacias hidrográficas atuam como
receptores desses poluentes, resultantes do escoamento urbano, através de
diversos afluentes (LUO et al, 2019).
Para Souza (2020), as bacias hidrográficas de Manaus possuem grande
contribuição na deposição de poluentes no rio Negro, influenciados pelos níveis
de profundidade dos cursos d’água, topografia da cidade e características da
população local.
O crescimento urbano de Manaus ocorreu de maneira desordenada, com
um aumento significativo a partir do final da década de 1960, quando o Polo
Industrial de Manaus foi estabelecido. Isso resultou na ocupação de áreas de
igarapés e florestas nativas, levando à descaracterização da paisagem natural
em decorrência do desflorestamento para dar espaço a novas estruturas
urbanas (CALDAS, 2016).
Segundo o censo do IBGE (2022), a população de Manaus estimada é de
2.063.689 pessoas, com densidade demográfica de 181,01 hab/Km². A cidade
possui vários pontos turísticos com reconhecimento nacional e internacional.
O estudo conduzido por Souza, Nascimento e Alvalá (2015), investigou a
expansão da área urbana de Manaus referente ao período de 1973 a 2008,
utilizando a análise de imagens captadas pelo sensor TM do satélite Landsat 5;
os resultados da pesquisa apontaram que o crescimento da cidade ocorreu
predominantemente na direção norte e nordeste, áreas que hoje correspondem
às zonas Norte e Leste, durante esse período, a área urbana aumentou em 153
km², acompanhada de um crescimento populacional de mais de 500%. A Figura
1 mostra a bacia hidrológica do Amazonas em áreas urbanas.

28
Figura 1 - Imagem que representa as bacias hidrográficas do Amazonas.

FONTE: SEMMAS (2007)

2.2 GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO AMAZONAS

O Brasil possui uma significativa reserva hídrica em suas bacias


hidrográficas. No entanto, existe uma disparidade desse recurso entre os
estados, com variações em escassez, estresse hídrico e ocorrências de eventos
naturais extremos. Isso evidencia a complexidade na gestão desse bem natural
de domínio público, no qual todos têm o direito de utilização (MARQUES, 2021).
Localizado na Região Hidrográfica da Amazônia, o Estado do Amazonas
faz parte da maior bacia hidrográfica do mundo, que abrange países como:
Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Venezuela, tendo sua origem
nos Andes Peruano, com a nascente do rio Amazonas que desemboca no
oceano Atlântico; bacia esta que integra uma área aproximada de 6 milhões de
km2 (ANA, 2015).
O Estado do Amazonas é assistido pela Lei nº 2.712 de 28 de dezembro
de 2001, que disciplina a Política Estadual dos Recursos Hídricos e estabelece
o Sistema Estadual de Gerenciamento dos Recursos Hídricos, com suas

29
diretrizes de implementação e suas ações no gerenciamento de seus corpos
hídricos.
A referida Lei, que carrega os dispositivos legais da Lei 9.433/97
conhecida como “Lei da Águas”, tem como princípio básico fundamentar
diretrizes e ações que definem os recursos hídricos, atendendo às
particularidades sociais, econômicas e ambientais. Da mesma forma objetiva
garantir o uso múltiplo da água.

2.3 SANEAMENTO BÁSICO

Saneamento é um conjunto de serviços públicos, infraestruturas e


instalações operacionais voltadas para quatro eixos de atividades:
abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas,
conforme expresso na Lei Federal nº 11.445/2007, com as alterações
promovidas pela Lei Federal nº 14.026/2020, que manteve a referida definição
(Brasil, 2020).

O avanço do saneamento está ligado à evolução das civilizações ao longo


da história, por vezes retrocedendo ou ressurgindo com o aparecimento de
novas realidades e buscas da universalização e aprimoramento dos serviços e
metas que são almejadas até hoje (Barros, 2014).

A partir da criação do Ministério das Cidades e do Conselho Nacional das


Cidades em 2003, deu-se início ao movimento para revitalizar a política de
saneamento básico, marcado pela formulação de diretrizes legais e regulatórias,
reformulação institucional e retomada dos investimentos (BORJA, 2014).

O país enfrenta desafios significativos no âmbito do saneamento básico.


Em Manaus, a situação é crítica, especialmente no que se refere ao sistema de
esgotamento sanitário, acessível apenas a 20% da população urbana. Apenas
12% das residências estão efetivamente ligadas à rede de esgoto, o que tem
impacto direto na poluição dos recursos hídricos tanto na área central quanto na
periferia da cidade (INSTITUTO TRATA BRASIL, 2021).

30
A presença da Zona Franca de Manaus trouxe um importante impulso
econômico para a cidade, conferindo-lhe destaque e protagonismo. Contudo,
esse crescimento econômico também gerou desigualdades sociais e impôs
demandas crescentes por saneamento básico, como o fornecimento de água e
infraestrutura de esgoto. Essas necessidades têm se expandido para atender ao
aumento da população e às migrações cada vez mais expressivas na cidade
(STAVIE, 2015).

No ano de 2011, Manaus ocupava a 72ª posição, a colação piorou nos


anos seguintes (de 2012 a 2021) e a partir de 2021, o setor apresenta leve
melhora, mas com colocação se aproximando apenas do que era registrado há
uma década (SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÃO SOBRE SANEAMENTO
- SNIS, 2023).

Em levantamento de dados do Ranking do Saneamento realizado pelo


Instituto Trata Brasil (avaliado anualmente) com dados de 2
anos defasados do SNIS é possível entender que a cidade nos últimos 10 anos
está decrescendo continuamente saltando de 72° lugar para o atual 83° de 100
cidades avaliadas, face a isto a população continua seu gráfico de crescimento
anual, segundo dados do IBGE (Figura 2).

Figura 2 - Ranking do saneamento x crescimento populacional da cidade de Manaus

FONTE: SNIS/IBGE (2023)

31
2.4 QUALIDADE DA ÁGUA

Para Silva (2016), a água é o bem mais importante dentre todos os


recursos naturais disponíveis à humanidade, vital para a sobrevivência de todas
as espécies, estando presente na maioria dos processos metabólicos.

A qualidade da água tem sido objeto de estudo para vários autores do


estado do Amazonas, tais como, Silva (2016), Saraiva (2017), Clebsch (2018),
Silva (2019), Soares e Costa (2020), Leite et al. (2021), Arcos (2022) e Queiroz
2023. Esses estudos enfatizam a importância da investigação da qualidade da
água, uma vez que os corpos hídricos contaminados ou poluídos têm o potencial
de se tornarem veículos para doenças transmitidas pela água, resultando em
sérios problemas de saúde pública. Além disso, tais condições podem impactar
a demanda futura por água de boa qualidade.

A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente n° 357 de 2005,


indica os limites de vários parâmetros para o enquadramento de corpos hídricos
no Brasil, além de assegurar que a saúde do ser humano e o equilíbrio ecológico
não sejam degradados por problemas de qualidade deste recurso (BRASIL,
2005). E no Art. 4º desta Resolução destaca-se a classificação das águas doces
em:

Tabela 1. Classificação dos corpos d'água de acordo com a Resolução do


CONAMA 357/2005
Classe Águas Destinadas

Classe especial a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção;


b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades
aquáticas; e,
c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de
conservação de proteção integral.

Classe 1 a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento


simplificado;
b) à proteção das comunidades aquáticas;
c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui
aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274,
de 2000;

d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de


frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam
ingeridas cruas sem remoção de película; e

e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras


Indígenas.

32
Classe 2 a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento
convencional;

b) à proteção das comunidades aquáticas;

c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui


aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274,
de 2000;

d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques,


jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público
possa vir a ter contato direto; e

e) à aquicultura e à atividade de pesca.

Classe 3 a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento


convencional ou avançado;

b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;

c) à pesca amadora;

d) à recreação de contato secundário; e

e) à dessedentação de animais.

Classe 4 a) à navegação; e

b) à harmonia paisagística.

Fonte: BRASIL 2005 - CONAMA nº 357/2005.

De acordo com Von Sperling (2014), a qualidade da água pode ser avaliada por
meio de vários parâmetros que evidenciam suas principais características
físicas, químicas e biológicas.

Para os fins desta pesquisa, foi considerada a classe 4 de água doce,


enfatizando as seguintes condições e padrões:

I - Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;

II - Odor e aspecto: não objetáveis;

III – Óleos e graxas: toleram-se iridescências;

IV - Substâncias facilmente sedimentáveis que contribuam para o assoreamento


de canais de navegação: virtualmente ausentes;

V - Fenóis totais (substâncias que reagem com 4 - aminoantipirina) até 1,0 mg/L
de C6H5OH;

VI - OD, superior a 2,0 mg/L O2 em qualquer amostra; e,


33
VII - pH: 6,0 a 9,0.

2.4 .1 PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS

2.4.1.1 Materiais Flutuantes

Considerando a legislação vigente (CONAMA, 2005), material flutuante


deve estar virtualmente ausente em qualquer amostra de água.

2.4.1.2 Odor e Aspecto

Uma causa importante dos maus odores nos corpos d’água poluídos por
esgotos é atribuída à geração do sulfeto de hidrogênio, H2S. Embora esse gás
seja o composto odorante predominante nos esgotos, não é possível caracterizá-
lo como o único causador do problema (MANCUSO, 2019), havendo outros
compostos como as mercaptanas, sulfetos orgânicos e aminas que podem
também gerar odores desagradáveis.

2.4.1.3 Óleos e graxas

Durante o processo de decomposição, óleos e graxas reduzem o oxigênio


dissolvido, elevando a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e a Demanda
Química de Oxigênio (DQO), causando impactos negativos no ecossistema
aquático. Sua insolubilidade em água e diferença de densidade resultam em uma
camada superficial em rios ou mares, prejudicando a passagem de luz e
oxigênio, limitando a atividade biológica dos fitoplânctons, essenciais para a
fotossíntese e liberação de oxigênio, afetando outros organismos aquáticos
(CARVALHO et al., 2019).

2.4.1.4 Substâncias sedimentáveis

Constituem a parte mais grosseira dos sólidos que se sedimenta sob a


ação da gravidade durante um período, a partir da amostra mantida em repouso
(MUNIZ, 2019). Os sólidos sedimentáveis são considerados indicadores de
poluição e constituem um parâmetro importante na legislação. A análise de
sólidos sedimentáveis é fundamental para garantir a qualidade da água
(CONAMA, 2005).

34
2.4.1.5 Fenóis totais

Produzido naturalmente ou por processos antropogênicos, os compostos


fenólicos podem ser encontrados em alimentos, material orgânico em
decomposição, bem como em fezes e urina de animais, incluindo o homem
(OLIVEIRA, 2015). A presença de compostos fenólicos em corpos d'águas se
deve principalmente a descarga de efluentes indústrias, oriundos das atividades
de produção de: plásticos, corantes, tintas, antioxidantes, polímeros sintéticos,
resinas, pesticidas, detergentes, desinfetantes, refinaria de óleo e principalmente
de papel e celulose, além de mineração de carvão ou mesmo de despejos
domésticos.

2.4.1.6 Oxigênio Dissolvido

A baixa concentração de oxigênio dissolvido em um corpo hídrico, pode


indicar vários problemas ambientais e impactos negativos na qualidade da água.
O OD é indispensável para a sobrevivência de organismos aquáticos, como
peixes e outros seres aquáticos, podendo causar à morte em massa desses
organismos (SPERLING, 2018).

2.4.1.7 Potencial hidrogeniônico

Conforme observado por Santos e Royer (2018), o pH é uma


representação numérica destinada a expressar o equilíbrio entre íons de
hidrogênio (H+) e hidroxilas (OH-). Dessa forma, ele se configura como um
parâmetro significativo que, em conjunto com outros, pode fornecer indícios
sobre o nível de poluição, o metabolismo das comunidades ou mesmo os
impactos em um ecossistema aquático.

A escala de pH abrange valores de 0 a 14, onde 7,0 é considerado neutro,


indicando equilíbrio entre as concentrações de íons (H+) e (OH-). Em situações
em que o pH é inferior a 7,0, é caracterizado como ácido, enquanto para valores
superiores, é designado como básico (DERISIO, 2013).

35
Para Von Sperling (2014), valores baixos de pH tornam a água corrosiva,
enquanto valores elevados indicam que a água é alcalina. Em termos de saúde,
apenas águas extremamente ácidas ou básicas têm potencial para causar
irritação na pele e nos olhos. A variação no pH de um corpo d'água ocorre
naturalmente devido à dissolução de rochas, absorção de gases atmosféricos,
oxidação da matéria orgânica ou através da fotossíntese. Além disso, ações
antropogênicas, como despejos domésticos e industriais, também podem alterar
o pH.

3 METODOLOGIA
Para a realização deste trabalho seguiram-se as seguintes etapas
metodológicas apresentadas no fluxograma da Figura 3.

Figura 3 – Etapas Metodológicas

FONTE: Autores (2023)

3.1 ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo, o igarapé ULBRA/SEDUC, fica localizada no bairro do


Japiim, zona centro-sul da cidade de Manaus, fazendo parte da Área de Proteção
Ambiental Floresta Manaós, com extensão aproximada de 1.300 metros, largura
média aproximada de 3 metros, sendo tributário do igarapé do Quarenta,
compondo a bacia hidrográfica do Educandos. Os limites de estudo são atinentes
ao trecho do igarapé que transcorre dentro do campus do Centro Universitário
Luterano de Manaus (CEULM/ULBRA), limitados as coordenadas: Oeste

36
(Avenida Solimões): 3° 6'26"S 59°58'39"W; Leste (Rua Cônego Walter

Nogueira): 3° 6'42"S 59°58'28"W.

Figura 4 – Localização da área de estudo dentro.


FONTE: Google Earth (2023).

3.2 VISITAS IN LOCO

Foram realizadas visitas in loco com a finalidade verificar visualmente as


condições da área de estudo e seu entorno, a infraestrutura de saneamento
básico das adjacências, fauna e flora e a possível presença de resíduos sólidos
às margens e no leito do corpo hídrico. As condições foram registradas por meio
de imagem fotográfica.

37
Figura 5 - Margem do igarapé

FONTE: Autores (2023).

3.3 CLASSIFICAÇÃO DA ÁGUA E DEFINIÇÃO DOS ENSAIOS

A classificação da água doce ocorreu conforme a Seção I - Das Águas


Doces, Artigo 4° - “As águas doces são classificadas em:”, V – classe 4: águas
que podem ser destinadas: a) à navegação; e b) à harmonia paisagística.
Conforme a Resolução CONAMA 397/2005. A partir da classificação foi possível
relacionar os ensaios necessários para analisar a qualidade da água do trecho
em estudo, realizando os seguintes ensaios:

 In Loco:

Parâmetro Método CONAMA 357

Materiais flutuantes SMWW 2110 Virtualmente ausente

Oxigênio dissolvido SMWW 4500-O G > 2,0 mg L-1 O2

Substâncias que conferem odor SMWW 2110 Virtualmente ausente

38
 Laboratoriais:

Parâmetro Método CONAMA 357


Aspecto SMWW 2110 Não objetável
Sólidos sedimentáveis SMWW 2540 F Virtualmente ausentes
Fenóis totais SMWW 5530 A Até 1,0 mg/L de
C6H5OH
Óleos e graxas SMWW 5520 G Toleram-se
iridescências
pH

3.4 COLETA DAS AMOSTRAS

Foram realizadas duas coletas de amostras de água, nas coordenadas:


S3° 6'36" W59°58'37". A primeira coleta ocorreu no dia 01 de novembro de 2023
às 15h30. As amostras foram coletadas em garrafas de vidro esterilizadas de
1000 ml, para obtenção dos parâmetros de pH através dos ensaios de
alcalinidade total e acidez. Estes ensaios especiais foram executados no
laboratório de química do Centro Universitário Luterano de Manaus.

A segunda coleta foi realizada por um laboratório particular, no dia 08 de


novembro de 2023 às 14h e 18min, em um dia chuvoso. Para a coleta foram
utilizados frascos de vidro âmbar de 1L, frascos de PVC de 500 ml e 250 ml e
frascos de plástico de boca larga de 500 ml com tampa roscável. As amostras
foram conservadas a 4º C +-2ºC, em geleiras de plástico, utilizando-se gelo gel,
para garantir a integridade da amostra, que foi devidamente identificada. Nesta
coleta foram obtidos os parâmetros de materiais flutuantes, odor e aspecto, óleos
e graxas, sólidos sedimentáveis, fenóis totais e oxigênio dissolvido.

39
Os procedimentos de coletas podem ser visualizados na Figura 5a, 5b e 5c.

Figura 5A – Preparação e coleta de amostras

FONTE: Autores (2023).

40
Figura 5B e 5C – Preparação e coleta de amostras

B C
FONTE: Autores (2023)

3.5 ANÁLISE DOS DADOS

A análise, interpretação e classificação dos resultados ocorreram de


acordo com as especificações da Resolução CONAMA N° 357/2005, para
determinação da qualidade da água, conforme a Tabela 2:

Tabela 2 – Padrões estabelecidos pela Resolução CONAMA n0 357/2005


para corpos hídricos de água doce de Classe 4

Parâmetro Limite

Materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais Virtualmente ausente

Odor e aspecto Não objetáveis

Óleos e graxas Toleram-se


iridescências

Substâncias facilmente sedimentáveis Virtualmente ausentes

41
Fenóis totais Até 1,0 mg/L de
C6H5OH

Oxigênio dissolvido – OD Superior a 2,0 mg/L O2


em qualquer amostra

Potencial hidrogeniônico – pH 6,0 a 9,0

Fonte: CONAMA no 357/2005

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 VISITAS IN LOCO
Nas visitas in loco realizadas na área de estudo foram observadas a
ausência de infraestrutura de saneamento básico, o curso d’agua recebe cargas
difusas e pontuais das residências; o solo se apresenta sem exaustão e com
cobertura de floresta nativa satisfatória e fauna com presença de pequenos
répteis. Pôde-se observar, ainda que em pequena quantidade, a presença de
resíduos sólidos urbanos no entorno do igarapé. Por outro lado, há conservação
da vertente em toda a seção fluvial correspondente a área de estudo.

4.2 ENSAIOS

A partir das análises da amostra de água, foram obtidos os resultados dos


sete parâmetros selecionados, que estão apresentados no Quadro 1. Esses
resultados foram comparados com os valores máximos permitidos pela
Resolução CONAMA no 357 de 2005 do Conselho Nacional de Meio.

Quadro 1 – Resultados dos parâmetros analisados

Parâmetro Resultado Limite Aceitável

Sim Não

Materiais flutuantes Presença Virtualmente ausentes X

Odor Presença Não objetável X

Aspecto Característico Não objetável X

Óleos e graxas <5 Toleram-se X


iridescências

42
Substâncias <5 Virtualmente ausentes X
sedimentáveis

Fenóis totais < 0,12 Até 1,0 mg/L de X


C6H5OH

Oxigênio dissolvido – 2,31 Superior a 2,0 mg/L O2 X


OD em qualquer amostra

Potencial 7,0 6,0 a 9,0 X


hidrogeniônico – pH

Durante o procedimento de coleta das amostras, foi observado a presença


de materiais flutuantes na água (embalagens plásticas, garrafas pet, pedaços de
madeira) em baixa quantidade, devido ao carreamento pela água da chuva, de
resíduos que são deixados nas ruas adjacentes, o que não satisfaz os limites
permitidos; a água estava a uma temperatura de 31,2 oC. De acordo com Harfuch
et al. (2019), temperatura desempenha um papel fundamental nos ecossistemas
aquáticos, atuando como um indicador ambiental. Ela impacta diretamente em
diversos parâmetros, nos processos oxidativos, na respiração dos organismos
aeróbios e na decomposição da matéria orgânica realizada por micro-
organismos. Também se verificou a ausência de espuma (não natural), indicando
uma baixa carga de efluentes domésticos. A ocupação inadequada do solo nas
margens do igarapé, contribuem para elevados valores de sólidos flutuantes na
água, sobretudo em épocas de cheias onde as margens são assoreadas.

Como se pode observar no Quadro 1 o aspecto da água foi considerado


característico, apresentando-se transparente, satisfazendo a os limites
permitidos. Por outro lado, as substâncias que conferem odor foram
caracterizadas como presentes, a água apresentava odor fraco de material em
decomposição, dessa forma, infringindo a Resolução CONAMA no 357/2005,
que estabelece este parâmetro como ausente. Segundo Belli Filho et al. (2001),
os odores são resultado de misturas de moléculas químicas como enxofre (H2S,
mercaptanas), nitrogênio (NH3 e aminas), fenóis, aldeídos, cetonas, alcoóis e
ácidos orgânicos.

Os resultados obtidos da análise de fenóis totais (< 0,12), bem como para
o parâmetro óleos e graxa (< 5) e as substâncias facilmente sedimentáveis,

43
mostram um valor abaixo do limite máximo permitido para a classificação da
água como classe IV, pela resolução CONAMA 357 (Brasil, 2005).

A concentração de OD expressa em mg L-1 foi de 2,31, sendo considerada


aceitável para água doce de classe 4. No entanto, de acordo com o estabelecido
na Resolução CONAMA 357/05, o valor mínimo necessário de oxigênio
dissolvido para a preservação da vida aquática, é de 5,0 mg L-1, existindo uma
variação na tolerância de espécie para espécie. Segundo Oliveira (2016), baixos
teores de oxigênio dissolvido refletem a situação da poluição da água do igarapé.

Com relação ao pH, verificou-se, que o valor obtido de 7,0, está de acordo
com a Resolução CONAMA n° 357/2005, que define, entre outros parâmetros,
uma faixa de pH de enquadramento entre 6 a 9, esse resultado, portanto, está
de acordo com o estabelecido pela referida legislação.

5 CONCLUSÃO

A água representa um recurso essencial para o nosso planeta, já


estabelecido como um direito fundamental. No que diz respeito à qualidade da
água, é necessário que não apenas os parâmetros químicos, mas também os
físicos estejam em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela legislação.
A água de qualidade inferior apresenta riscos à saúde dos seres vivos. Portanto,
é nossa responsabilidade garantir que sua utilização ocorra de maneira
sustentável e segura.

Os resultados obtidos no presente trabalho mostram que a qualidade da


água do Igarapé ULBRA/SEDUC, encontram-se em condições pouco
degradada, visto que os parâmetros analisados de aspecto, oxigênio dissolvido,
sólidos sedimentáveis, óleos e graxas e fenóis totais se revelaram, dentro dos
limites aceitáveis estabelecidos pela resolução CONAMA nº. 357/2005 em
relação aos corpos de águas doces de Classe IV.

Concernente aos resultados dos materiais flutuantes e substâncias que


conferem odor, foi possível observar que houve variação no ponto de coleta
analisado, evidenciando um valor acima do limite aceitável estabelecido pela
Resolução CONAMA no 357/2005 para corpos de águas doces de Classe IV.

44
Em síntese, a qualidade da água é uma questão complexa e
multidisciplinar que demanda a cooperação de diversos setores para garantir a
segurança hídrica e a preservação do meio ambiente. É essencial direcionar
investimentos em pesquisas, desenvolvimento e inovação para aperfeiçoar
tecnologias e práticas de gestão da água, com o objetivo de garantir a
preservação dos ecossistemas aquáticos.

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48
CAPÍTULO 3

PRODUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BIOCHAR DERIVADO DE


CASQUILHO DE GUARANÁ (Paullinia cupana Kunth, Sapindaceae) PARA
REMEDIAÇÃO DE CORANTE EM ÁGUA
Lucas Peixoto dos Santos¹
Alan dos Santos Ferreira²
Newton Silva de Lima³
RESUMO
O guaraná (Paullinia cupana Kunth, Sapindaceae) é uma planta nativa da
Amazônia, que possui diversas propriedades farmacológicas, sendo
intensamente utilizado nas indústrias alimentícia e farmacêutica. Conforme as
informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), na publicação Produção Agrícola Municipal, a produção nacional de
guaraná em 2022 situou-se em 2,4 mil toneladas, tendo os estados da Bahia e
o Amazonas como principais produtores nacionais. Durante a torrefação do
guaraná a amêndoa encolhe um pouco pela desidratação e a pele da semente
(pericarpo), chamada de casquilho, se solta, e pelo fato de ser pouco solúvel em
água e amargo, esta, torna-se um resíduo do produto final. Resíduos de
biomassas, estão sendo cada vez mais utilizados na produção de biocarvão para
a remediação de amostras ambientais. O biocarvão, ou biochar, é um material
rico em carbono, sustentável e de baixo custo, derivado de biomassa, ele
apresenta características atraentes para ser aplicado nas mais diferentes áreas
da pesquisa. Não foi encontrado na literatura trabalhos com a utilização do
casquilho como biocarvão para remedição de água, dessa forma, este trabalho
se propõe a obter e caracterizar o biocarvão a partir do resíduo do casquilho do
guaraná para utilização na remedição de corantes inorgânicos em água,
apresentando com isso um novo destino para esse resíduo.

Palavras – chave: Resíduo, casquilho, guaraná, água.

ABSTRACT
Guarana (Paullinia cupana Kunth, Sapindaceae) is a plant native to the Amazon,
which has several pharmacological properties, being intensively used in the food
and pharmaceutical industries. According to information released by the Brazilian
Institute of Geography and Statistics (IBGE), in the publication Municipal
Agricultural Production, the national production of guarana in 2022 stood at 2.4
thousand tons, with the states of Bahia and Amazonas as the main national
producers.

49
1
Graduando de Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail:
lucaspeixoto@rede.ulbra.br
²Docente orientador do Curso Superior de Engenharia Ambiental e Sanitária, CEULM/ULBRA. E-mail:
alan.ferreira@ulbra.br
³
Docente Coorientador do Curso Superior de Engenharia Ambiental e Sanitária, CEULM/ULBRA. E-mail:
newton.lima@ulbra.br

During the roasting of guarana, the almond shrinks a little due to dehydration and
the skin of the seed (pericarp), called the casquilho, is loosened, and due to the
fact that it is poorly soluble in water and bitter, it becomes a residue of the final
product. Biomass waste is increasingly being used in the production of biochar
for the remediation of environmental samples. Biocarvão, or biochar, is a carbon-
rich, sustainable, low-cost material derived from biomass, it has attractive
characteristics to be applied in the most different areas of research. No studies
were found in the literature with the use of the bushing as biochar for water
remeasurement, thus, this work proposes to obtain
and characterize the biochar from the residue of the guarana bushing for use in
the remeasurement of inorganic dyes in water, thus presenting a new destination
for this waste.
Key words: Residue, bushing, guarana, water.

1 INTRODUÇÃO

O guaraná (Paullinia cupana Kunth, Sapindaceae), produto natural da


Amazônia, é reverenciado por suas qualidades estimulantes e gastronômicas,
apresenta diversas funções farmacológicas, por exemplo, funções
antimicrobianas, antioxidantes, anticarcinogênicas, estimulantes e cognitivas,
além de proteção hepática e perda de peso, sendo intensamente utilizado na
indústria alimentícia e farmacêutica (DA SILVA et al., 2017; VENTURA et al.,
2018).
Biochar é um produto sólido carbonáceo da conversão termoquímica (ou
seja, pirólise, torrefação e gaseificação) de biomassa a uma temperatura de 300–
900 °C, preferencialmente em ambiente com deficiência de oxigênio para alto
rendimento de biochar (HE et al., 2022). As matérias-primas podem ser
encontradas a partir de uma variedade de fontes. O método de preparação é
simples e a reciclagem de resíduos pode ser realizada. Os principais
componentes da biomassa derivada de plantas são celulose, hemicelulose e
lignina. Também pode ser chamado de biocarvão lignocelulósico (AMALINA et
al., 2022).

50
A adsorção é um método de descoloração confiável com as vantagens de
operação simples, conveniência e bom efeito de descoloração. Nos últimos
anos, muitas tentativas foram feitas para desenvolver novos materiais de
adsorção com baixo custo e alta eficiência de remoção, além do carvão ativado
comercial. O Biochar apresenta um meio adsorvente mais ideal e
ecologicamente correto e pode ser preparado a partir de diversos resíduos
agrícolas e florestais gerados pelas atividades humanas como matéria-prima
(PANG et al., 2019).
Analisando a grande quantidade de resíduo de guaraná produzido todos
os anos, assim como, a capacidade de utilizar resíduos de biomassas na
produção de biochar para o tratamento de amostras ambientais, este trabalho se
propõe a produzir, caracterizar e aplicar biochar a base de resíduo de guaraná
na remediação de corantes inorgânicos em água, propiciando um destino mais
vantajoso a esse resíduo.
O objetivo geral desta pesquisa é produzir e caracterizar biochar a partir
do casquilho do guaraná para aplicação como material adsorvedor.
Consequentemente, os objetivos específicos é obter biochar a partir de resíduo
do guaraná, em seguida, caracterizar estruturalmente e morfologicamente o
biochar produzido e ainda realizar testes de adsorção do biocarvão com o
corante alaranjado de metila.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 ORIGEM E APLICAÇÃO DO GUARANÁ

Praticamente o único produtor de guaraná do mundo é o Brasil. Originário


da Amazônia, o guaraná é encontrado principalmente na região sudeste do
estado do Amazonas, nos municípios de Maués e Parintins. Nas últimas
décadas, o cultivo do guaraná tem sido incentivado em outras áreas,
principalmente nos vales dos rios Purus e Tapajós (Amazonas), nos estados do
Pará, Acre e Rondônia, na região produtora de cacau da Bahia, entre as cidades
de Salvador e Ilhéus, no Vale do Ribeira, no estado de São Paulo, e na região
de Alta Floresta, Mato Grosso. As plantas de guaraná são abundantes na região
de Maués, a 250 km de Manaus. Também podem ser encontrados em pequenas
áreas da Amazônia venezuelana. (MARQUES et al., 2019)
O interesse pelo guaraná se deve principalmente à ação farmacológica da
cafeína, que está associada ao aumento do estado de alerta e à melhora das
capacidades cognitivas e físicas. As sementes de guaraná são quimicamente
ricas em cafeína (2,41–5,07%) e taninos (5,0–14,1%), especialmente aqueles
derivados de proantocianidinas (10,7%) e de catequina (5,98%) e epicatequina
(3,78%) (MARQUES et al., 2022). O teor de cafeína nas sementes de guaraná é
4–6 vezes maior do que o encontrado nos grãos de café, folhas de chá e nozes
de cola (BELLAMINE et al., 2023).

Conforme as informações divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia


e Estatística (IBGE), a produção nacional de guaraná em 2022 situou-se em 2,4
mil toneladas, de acordo com a publicação Produção Agrícola Municipal. Em
2022, o principal estado produtor foi a Bahia, representando 63,2% da produção
nacional. O segundo maior produtor foi o Amazonas, que contribuiu com 27,9%

51
da produção total em 2022, havendo produzido 686 toneladas. Isso representa
um aumento de 6,7% em comparação com o ano anterior. (CONAB, 2023).
A comercialização do guaraná envolve a venda em ramas (sementes
torradas), tanto para exportação quanto para sua agroindustrialização. A partir
desta última, é possível obter: Xarope (concentrado) destinado ao consumo
direto como bebida energética, ao ser misturado à água, ou para a produção
industrial de bebidas refrigerantes gaseificadas; bastão (também conhecido
como rolo ou barra), utilizado para ralar e obter o pó, que pode ser misturado à
água e consumido; próprio pó, já acondicionado em frascos, cápsulas
gelatinosas ou sachês. Este formato é utilizado tanto na preparação caseira de
uma bebida energética quanto ingerido puro, como tônico. (SEBRAE, 2005).
As diversas etapas do processamento para a obtenção do produto final
aqui considerado, com alto grau de qualidade, são descritas como se seguem:
Recepção e pesagem: os sacos contendo as ramas são recepcionados na
fábrica e passam pelo processo de pesagem. Caso a empresa receba guaraná
já beneficiado de outros produtores, ou seja, em ramas acondicionadas em
sacos de aniagem, esses sacos são pesados e conduzidos diretamente à etapa
de moagem. Descascamento mecanizado: Consiste na retirada do pericarpo da
semente torrada do guaraná, o qual representa 20% de seu peso. Este processo
é realizado por meio de uma máquina despolpadeira, a mesma utilizada no
descascamento da mamona, com um rendimento de aproximadamente 800
kg/dia (SEBRAE, 2005). Em alguns casos os beneficiadores locais aproveitam o
pericarpo ou “casquilho” (casca retirada dos grãos de guaraná antes de moer ou
pilar) para produzir o xarope, mas sem valor comercial na região (SILVA et al.,
2018).

2.2 APLICAÇÃO DO BIOCHAR

A investigação sobre a utilização de diversas formas de resíduos de


culturas para a produção de biochar aumentou devido aos benefícios
económicos, operacionais e ambientais. Os resíduos das culturas são os
materiais que sobraram após as culturas terem sido colhidas no campo agrícola,
consumidas em casa ou processadas na indústria. Exemplos comuns de
resíduos de culturas incluem caules, folhas, palhas, folhas, vagens, cascas, etc.
Os resíduos de culturas podem ser resíduos de campo ou resíduos de processo,
dependendo de onde são gerados (AWOGBEMI; KALLON, 2023).
Biochar é um material quimicamente e fisiologicamente estável.
Pesquisas recentes demonstraram que biochar degrada/decompõe bioticamente
(decomposição microbiana) e abioticamente (decomposição oxidativa). Devido à
imensa área de superfície e porosidade do biocarvão, ele tem o potencial de
aumentar a capacidade de retenção de água do solo e contaminantes em
amostras de água, a capacidade de troca catiônica e resistência de plantas a
doenças (RASOOL et al., 2021).
Com o aumento da temperatura de pirólise, a estrutura da camada de
carbono se transformará de carbono aromático amorfo para carbono aromático
conjugado e depois para carbono do tipo grafite (TAN et al., 2023). Biochar
compreende quatro elementos básicos, C, H, O e N. Comparado ao carvão
ativado, uma variedade de elementos inorgânicos como Si, K e Ca estão
presentes no biochar. A pirólise de diferentes matérias-primas de biomassa

52
resultará em diferenças notáveis. O conteúdo de cada elemento depende
principalmente da matéria-prima da biomassa (LIAN et al., 2023).
Pesquisas recentes têm utilizado biochar na remediação de água, e uma
dessas aplicações está relacionada com a descoloração de amostras ambientais
com o processo de adsorção. Os corantes são compostos orgânicos
amplamente utilizados nas indústrias têxtil, cosmética e alimentícia como
agentes corantes, podendo chegar até os corpos hídricos e causar sua
contaminação. Essa água contendo corante possui maior cromaticidade e
dificulta a propagação da luz, inibindo assim o crescimento de plantas aquáticas.
Além disso, os corantes sintetizados artificialmente não são apenas tóxicos para
os animais na água, mas também cancerígenos e teratogênicos para os
humanos (YANG et al., 2023).
A adsorção é um método de descoloração confiável com as vantagens de
operação simples, conveniência e bom efeito de descoloração. Nos últimos
anos, muitas tentativas foram feitas para desenvolver novos materiais de
adsorção com baixo custo e alta eficiência de remoção, além do carvão ativado
comercial. O Biochar apresenta um meio adsorvente mais ideal e
ecologicamente correto e pode ser preparado a partir de diversos resíduos
agrícolas e florestais gerados pelas atividades humanas como matéria-prima
(PANG et al., 2019).

3. METODOLOGIA

3.1 MATERIAIS

As amostras utilizadas neste trabalho foram obtidas do resíduo do fruto


guaraná (denominado “casquilho”). O processamento do guaraná deixa resíduos
de casca, sendo a casca da semente 20% de seu peso, que é descartado ao
meio ambiente sem qualquer aplicação relacionadas, essas cascas são
denominadas de “casquilho”, e foram adquiridas em uma cooperativa de
produtores rurais localizada no município de Maués -AM. As amostras estavam
secas e foram mantidas em recipientes fechados de plástico.

3.2 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

3.2.1 PROCESSO DE MOAGEM

As amostras de casquilhos foram acondicionadas em reatores de aço inox


juntamente com esferas de aço inox, esses reatores foram colocados em um
moinho de bolas modelo BM500 da Anton Parr por um período de 1h. O moinho
está localizado no Laboratório de processos Químicos – IFAM CMC. O pó
resultante foi colocado em uma estufa padrão a 100 ºC por um período de 72h.
Para a obtenção do biocarvão, 1g do pó foi colocado em cadinho de
alumina para tratamento térmico em valor de temperatura de 400ºC por 2 h em
um forno tubular sob atmosfera de gás nitrogênio, com taxa de aquecimento de
10 ºC/min, o equipamento está localizado no laboratório LAPEC-UFAM,

53
posteriormente o biocarvão obtido foi macerado com o auxílio de um almofariz e
pistilo por um período de 15min. O processo de obtenção do biocarvão está
resumido no desenho esquemático da Figura 01.

Figura 01: Desenho esquemático do processo de obtenção do Biocarvão.


Fonte: O Autor.

3.2.2 CARACTERIZAÇÃO DO BIOCARVÃO

As imagens de microscópio eletrônico de varredura (MEV) foram obtidas


por Vega 3, Tescan acoplado a um sistema de espectroscopia de energia
dispersiva de raios-X (EDS; INCA energy, United Kingdom), localizado no
Laboratório Temático de Microscopia e nanotecnologia LTMN-INPA.
Os espectros de infravermelho foram registrados em um
espectrofotômetro (FT-IR; modelo Cary 630, Agilent) em modo transmitância na
faixa de varredura 4000–650 cm−1, localizado no Laboratório LSCN-IFAM
Campus Distrito Industrial.
Os espectros de Raios X foram obtidos em um Difratômetro de Raios X
modelo D2 Phaser, BRUKER, localizado no Laboratório LSCN-IFAM Campus
Distrito Industrial.

3.2.3 TESTE DE ADSORÇÃO

Para verificar o comportamento da absorbância em função da


concentração de alaranjado de metila, efetuaram-se curvas de calibração
em um comprimento de onda de 464 nm em pH neutro. As concentrações
utilizadas foram de 10, 25, 50, 75 e 100 mg. L-1 do corante Alaranjado de Metila.

54
Para o estudo de adsorção do corante na presença do biocarvão, foi
utilizado uma solução de 100 ml do corante na concentração de 50 mg.L-1 em
água deionizada na presença de 50 mg.L-1 do biochar, essa solução foi
submetida a uma mesa agitadora em rotação fixa de 160 rpm durante 2 horas.
Alíquotas foram coletadas em intervalos de tempos, com valores de 20, 40, 60,
80, 100 e 120 min. Todas as alíquotas coletadas em triplicatas foram submetidas
a uma centrifuga para se obter o sobrenadante que foi analisado em
Espectrofotômetro UV/Vis da marca Shimadzu modelo UV1800 localizado no
Laboratório LSCN-IFAM Campus Distrito Industrial.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As imagens de MEV do biochar são mostradas na Figura 02. É possível


verificar nas imagens que o material possui cavidades e poros bem visíveis,
como também microporos. Estas imagens MEV confirmam que o processo de
pirólise forneceu importante modificações na superfície do casquilho, como
protuberâncias, cavidades, sulcos, poros e microporos que são favoráveis para
fins de adsorção, uma vez que permitem a penetração dos corantes na estrutura
adsorvente.

Figura 02: Imagens MEV do biocarvão produzido a partir do casquilho do guaraná.

Fonte: Santos, 2023.

55
A Figura 03 apresenta os gráficos de DRX referentes ao casquilho (a) e
ao biocarvão (b). Os padrões de difração de raios X foram medidos para
investigar as composições das fases cristalinas do casquilho e do seu biocarvão.
Os padrões de difração em ambas as amostras não apresentam claramente
fases cristalinas bem definidas, evidenciando dessa forma que tanto o casquilho
como seu biocarvão apresentam estrutura amorfa. Essa característica é
interessante para estudos de adsorção, visto que, esse tipo de estrutura mais
desorganizada, com mais espaços vazios, sulcos, poros e microporos, permite
acomodação das grandes moléculas de corante na superfície adsorvente.

Figura 03: Espectros de raios X do casquilho (a) e do seu biocarvão (b).

1400
800
1200
a b
1000 600
Intensidade (u.a.)
Intensidade (u.a.)

800
400
600

400
200
200

0 0
10 20 30 40 50 60 70 80 10 20 30 40 50 60 70 80
2 2

Fonte: O Autor.

A remoção de corantes orgânicos tóxicos da água contaminada é muito


importante desde a perspectiva da proteção ambiental. Para verificar o
comportamento da absorbância em função da concentração de alaranjado de
metila, efetuaram-se curvas de calibração em valores de concentrações de 10 a
100 mg. L-1 do corante Alaranjado de Metila. A Figura 04a corresponde à curva
de calibração realizada em pH neutro mostrando relação linear entre
absorbância e concentração. A reta do gráfico apresentou coeficiente linear igual
a 0,997.
A Figura 04b apresenta o estudo do processo de adsorção do corante
frente a presença do biocarvão. A eficiência de Adsorção (A) para o corante
foram calculadas como A = (A0-At) / A0 × 100%, onde A0 é a absorbância inicial
da solução do corante em λmax = 464 nm, e At é a absorbância obtida em t min.
Conforme mostrado na Figura 4b, a eficiência de adsorção do corante é de cerca
de 70,55% após reagir por 120 min, ele valor pode ser considerado satisfatório
visto que nenhum tipo de tratamento foi realizado no biocarvão.

56
Figura 04: (a) Curva de Calibração para o Alaranjado de Metila em um comprimento de
onda de 464 nm. (b) Espectro UV-Vis da diminuição da banda de absorção em 464 nm
na presença do biocarvão.

a b
Absorbância
0,3
0,3 0,2

0,2

0 min

Absorbância
Absorbância

0,2 0,1
20 min
0 20 40 60 80 100
Concentração Alaranjado de Metila (mg/L)
0,1 40 min
100 mg/L
60 min
0,1
75 mg/L 80 min
50 mg/L 100 min
25 mg/L
10 mg/L 120 min
0,0 0,0
300 400 500 600 700 800 300 400 500 600 700 800
Comprimento de onda (nm) Comprimento de onda (nm)

Fonte: O Autor.

Com base no que foi observado na caracterização, podemos considerar


que foi obtido com sucesso o biocarvão a base do resíduo do casquilho do
guaraná, as suas características são atraentes para a sua utilização como um
material adsorvedor de corantes, sua aplicação foi satisfatória no processo de
adsorção do corante alaranjado de metila.

5 REFERÊNCIAS

AMALINA, Farah et al. Advanced techniques in the production of biochar


from lignocellulosic biomass and environmental applications. [S. l.]:
Elsevier Ltd, 2022.

AWOGBEMI, Omojola; KALLON, Daramy Vandi Von. Application of biochar


derived from crops residues for biofuel production. Fuel Communications, [s. l.],
v. 15, n. March, p. 100088, 2023. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.jfueco.2023.100088.

BELLAMINE, Aouatef et al. Authentication and Safety of Commercial Guarana


(Paullinia cupana L) Powdered Extracts. Current Developments in Nutrition,
[s. l.], v. 7, p. 100516, 2023. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1016/j.cdnut.2023.100516.

CONAB. Análise Mensal Guaraná, Agosto de 2023. [s. l.], 2023.

57
DA SILVA, Givaldo Souza et al. Chemical profiling of guarana seeds (Paullinia
cupana) from different geographical origins using UPLC-QTOF-MS combined
with chemometrics. Food Research International, [s. l.], v. 102, n. June, p. 700–
709, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.foodres.2017.09.055.

HE, Mingjing et al. Waste-derived biochar for water pollution control and
sustainable development. Nature Reviews Earth & Environment, [s. l.], v. 3, n.
7, p. 444–460, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s43017-022-00306-
8.

LIAN, Wanli et al. Preparation and application of biochar from co-pyrolysis of


different feedstocks for immobilization of heavy metals in contaminated soil.
Waste Management, [s. l.], v. 163, p. 12–21, 2023.

MARQUES, Leila Larisa Medeiros et al. Metabolomic profiling and correlations of


supercritical extracts of guarana. Natural Product Research, [s. l.], 2022.

MARQUES, Leila Larisa Medeiros et al. Paullinia cupana: a multipurpose plant –


a review. Revista Brasileira de Farmacognosia, [s. l.], v. 29, n. 1, p. 77–110,
2019. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.bjp.2018.08.007.
PANG, Xuening et al. Adsorption of crystal violet on biomasses from pecan
nutshell, para chestnut husk, araucaria bark and palm cactus: Experimental study
and theoretical modeling via monolayer and double layer statistical physics
models. Chemical Engineering Journal, [s. l.], v. 378, n. June, 2019.

RASOOL, Mujahid et al. Role of biochar, compost and plant growth promoting
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SEBRAE. Informações de Mercado sobre Guaraná. [s. l.], 2005.


SILVA, Ana Carolina Bastida da et al. A cadeia de valor do guaraná de Maués.
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TAN, Shimeng et al. Utilization of current pyrolysis technology to convert


biomass and manure waste into biochar for soil remediation: A review. [S.
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VENTURA, Sandra et al. Effects of Paullinia cupana extract on lamotrigine


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potential clinical impact. Food and Chemical Toxicology, [s. l.], v. 115, n.
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for dyes adsorption and aerobic sludge granulation. Chemosphere, [s. l.], v. 322,
n. July 2022, 2023.

58
CAPÍTULO 4

DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA E SEUS IMPACTOS DIRETOS NO


ESTADO DO AMAZONAS
Renata Matos Castro6
Alan dos Santos Ferreira²
Newton Silva de Lima³

RESUMO
O objetivo desse trabalho é mostrar fatos atuais consequentes do desmatamento da
Amazônia, apresentando números específicos do estado do Amazonas e comparando a
situação com os estados que apresentam os maiores indicies de desmatamento na
Amazônia Legal. Comparando a evolução do desmatamento e suas consequências no
estado do Amazonas, ressaltar a importância de se tomar atitudes enquanto ao tema, para
que o futuro seja saudável para a vida no planeta. Para esse fim, foram utilizados dados
divulgados em sites oficiais de informações ambientais, ONGs, Jornais locais. O estudo
mostrou o quanto é importante conter o desmatamento na Amazônia, pois, mais do que o
equilíbrio ambiental em um estado da Amazônia legal, sua preservação contribui com o
equilíbrio ambiental mundial

Palavras-chave: Desmatamento. Amazônia. Preservação. Consequências.

IMPACTS OF DEFORESTATION IN THE AMAZON


ABSTRACT
The objective of this work is to show the current consequences of deforestation
in the Amazon, presenting specific numbers for the state of Amazonas and comparing the
current situation with the major indicators of deforestation. Comparing the evolution of
deforestation and its consequences in the state of Amazonas, recorded since 2019, it
highlights the importance of taking action while fearing it, so that the future is healthy for
life and the planet. For this film, data published in official environmental information
sites, NGOs, and local newspapers were used. The study showed how important it is to
contain deforestation in the Amazon, because, while the environmental balance in the
state of the Amazon is legal, its preservation contributes to the global environmental
balance.
Keywords: Logging. Amazon. Preservation. Consequences.

6
Graduanda de Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário Luterano de Manaus. E-mail:
renatacastro@rede.ulbra.br
²
Docente Orientador do Curso Superior de Engenharia Ambiental e Sanitária, CEULM/ULBRA. E-mail:
alan.ferreira@ulbra.br
³
Docente Coorientador do Curso Superior de Engenharia Ambiental e Sanitária, CEULM/ULBRA. E-mail:
newton.lima@ulbra.br

59
1. INTRODUÇÃO

O aumento do desmatamento continua sendo tão preocupante quanto sempre foi.


Embora as estatísticas de órgãos oficiais demonstrem que o desmatamento da Amazônia
varia conforme a fonte, existe um consenso geral de que 10% a 12% da floresta em todos
os países da região amazônica já tenha sido desmatada.
As alterações de uso e ocupação do solo na floresta amazônica, mais
precisamente, na região do arco do desmatamento no início da década de 1970, vem se
destacando pelos seus impactos negativos contribuindo para a perda da biodiversidade e
climáticos (FEARNSIDE ET AL., 2021). Em meados dos anos 1980 o combate ao
desflorestamento em todo Brasil se tornou prioritário ao estabelecimento de políticas
ambientais por meio do governo brasileiro. Através de políticas públicas elencando os
aspectos sociais e econômicos ao monitoramento, controle e fiscalização efetiva se
tornaram estratégias principais. Estratégias essas, que efetivaram a arrecadação de multas
daqueles proprietários de lotes, imóveis e outros semelhantes buscarem a devidas
autorizações do Instituto de meio Ambiente e Recursos Renováveis -IBAMA.
Para um melhor controle, monitoramento e fiscalização, o IBAMA, com apoio do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, trabalham com a coleta, extensão e os
índices do desmatamento por meio de sua plataforma digital de acesso gratuito.
Diversas são as causas para o desenfreado desmatamento na região sul do estado
do Amazonas. Ao longo dos anos a densidade demográfica e a pressão econômica tem
em seus parâmetros uma relação entre os grandes latifundiários aos pequenos
agricultores. Conforme Fearnside (1989), a oportunidade, facilidade e incentivos fiscais
deram avanço aos desmatamentos no decorrer dos anos 70.
Em consequência da altíssima inflação, pouco antes do Plano Real, a economia
brasileira foi dominada durante décadas desencadeando a elevada valorização de terras
com preços que atingiam os mais altos níveis que justificavam-se como o insumo para a
atividade agropecuária. A supressão de árvores demandava terras e o desmatamento para
criação de pastagens se tornou o mais oportuno. (HECHT ET AL., 1988).
A partir da década de 90, verificou-se importante mudança no perfil da fronteira
amazônica, em especial no que diz respeito à disponibilidade de minérios, madeira, carne
e, mais recentemente, grãos, atendendo ao interesse nacional de melhorar o desempenho
da balança comercial de nosso mercado exterior.
Esse novo momento da Amazônia trouxe o agravamento de um problema já
gerado desde sua configuração inicial, consistente nos grandes impactos ambientais sobre
a região, sendo o desmatamento seu exemplo mais eloquente (DA COSTA, 2017).
Não somente a região desmatamento é prejudicada, porém, as consequências
atingem o âmbito local e regional, e também todo o planeta, o que resulta em alterações
climáticas devido a perda do revestimento florestal, e o efeito estufa devido a queima de
madeira, aumento da sedimentação dos rios, além de danos como erosão, degradação do
solo e perda da biodiversidade (DA COSTA, 2017).

60
Temos como exemplo prático e recente a forte e histórica estiagem registrada no
estado do amazonas em 2023, que acabou afetando desde abastecimento de cidades de
forma geral quanto a vida de espécies em geral.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
A partir da década de 90 em função da “explosão” madeireira na região
Amazônica e houve grande procura e uso de seus recursos naturais, somado a três fatores
como a escassez de madeira nas florestas das regiões Sul e Sudeste, abundancia de
florestas com quase nenhuma restrição para exploração predatória e a localização que
facilitava a relação aos mercados internos e externos (VERISSIMO; PEREIRA, 2014).
Na metade da década seguinte, houve um grande crescimento no desmatamento
da Amazônia, causando grandes preocupações, sendo uma região importante por abranger
as regiões que possuem a vegetação sensível a bruscas mudanças no período de estiagem
e consequente possuem o período mais longo de seca na Amazônia (DEBORTOLI, 2013).
Atualmente o governo brasileiro tem se esforçado para conter o desmatamento na
região, mas suas ações têm se mostrado relativamente sem efeitos, demostrando que seus
índices variam para mais ou para menos independentemente do sistema de
monitoramento e controle empregado, evidenciando que ações são tomadas sem a certeza
da identificação da cauza raíz do problema. Há no Brasil ao menos cinco sistemas de
monitoramento via satélite todos elaborados pelo INPE (Sistema Nacional de Pesquisa
Espaciais) tais como: PRODES, DETER, DEGRAD, TerraClass e Queimadas dos quais
também são utilizadas outras ferramentas para aferir e realizar estimativas das emissões
de gases tóxicos (MMA, 2016).
O desmatamento na floresta Amazônica tem maior concentração no espaço
denominado de “arco do desmatamento”. Que abrange áreas do sudeste do Estado de
Maranhão, norte do Tocantins, sul do Pará, norte do Mato Grosso, Rondônia, sul do
Amazonas e sudeste do Acre, como ilustrado na figura abaixo:

Figura 1 – Arco do desmatamento ano 2019.

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

61
De acordo com a figura 3 os estados que mais desmataram foram o Pará, Mato
Grosso e Rondônia totalizando 80,72% de área desmatada (TERRABRASILIS/
PRODES, 2019). Em seguida temos o estado do Amazonas com 7.12% contribuindo
significativamente para a estatística de desmatamento da Amazônia Legal.

Figura 2 – Percentual do desmatamento da Amazônia Legal período de 31 anos

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

A união entre o desmatamento e queimadas em grandes proporções geram


consequências em vários pontos do país. Um dos pontos pode ser afirmado por Eneas
Salati, pesquisador científico que na década de 70 comprovou que a vegetação não é
apenas um produto do clima, mas que também tem uma grande influência no mesmo
(SALATI et al., 1979).
Segundo Martins (2006) a fumaça e a fuligem das queimadas acabam causado
danos no sistema de nucleação de nuvens poluindo-as e inibi a formação produção de
chuvas.
O desmatamento provoca a deterioração do habitat natural deixando os restos de
florestas insuficientes para a sobrevivência das espécies em geral, principalmente as
nativas que são encontradas naquela área especifica e acabam ficando fragilizadas e
acabam tornando um alvo fácil a serem extintas. É obvio que muitos dos animais são
diretamente influenciados pelas modificações ecológicas nos fragmentos de borda que
restam das florestas, alterando a estrutura, a composição e a abundância das espécies
(NASCIMENTO et al., 2019).
Segundo publicação feita pelo site Green bonds, (FEDERAÇÃO BRASILEIRA
DE BANCOS (FEBRABAN). Green bonds, São Paulo, 2015). as consequências do
desmatamento na Amazônia são a devastação da biodiversidade, pois haveria destruição
de habites de diversas espécies de animais; erosão e empobrecimento do solo, pois sem a
vegetação o solo ficaria sem proteção dada pela cobertura das plantas e a água da chuva
causaria maior impacto no solo; diminuição dos índices de chuvas, pois a Amazônia é
responsável por direcionar a água ou humidade do ar para as outras regiões do país;
mudanças climáticas; desertificação; aumento de pragas e doenças, já que com a falta da
mata muitos animais se aproximariam dos centros urbanos e assim facilitariam possíveis
contaminações que poderiam ser evitas caso os animais estivesse na floresta.
O desenvolvimento da Região Amazônica e a expansão de atividades produtivas
geraram o desmatamento de sua floresta. Um dos trabalhos precursores e específico sobre

62
o desmatamento é o de Tardin et al. (1979). Embora alguns apontem enfaticamente para
fatores específicos, como a construção e pavimentação de estradas (Laurance et al., 2004;
Soares Filho et al., 2005;
Diante de problemas que o desmatamento traz ao meio ambiente, surgem
trabalhos que visam oferecer sustentabilidade ambiental para as atividades econômicas
na região (Reydon, 1997) e, numa escala mais ampla, que propõem o zoneamento
ecológico e econômico da região (Rebello; Homma, 2005).

3. METODOLOGIA

Para Gil (2002) pesquisa pode ser entendida como um processo de busca de
informações para solucionar o problema proposto através de procedimentos científicos
de aspecto racional e sistêmico.
Pode-se afirmar quanto a esta pesquisa que a mesma apresentou abordagem
quantitativa buscando apresentar e analisar os dados quantificados quanto a realidade do
contexto estudado, e quanto aos objetivos trata-se de uma pesquisa exploratória (GIL,
2002).
Este trabalho foi norteado a partir da revisão bibliográfica em artigos publicados,
monografias, jornais, dados de órgãos e sites oficiais que tratam sobre o tema abordado,
como Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Projeto de Monitoramento
Legal por Satélite (PRODES). A partir dos dados obtidos foi possível analisar o
porcentual de desmatamento e verificar as oscilações periódicas do aumento e diminuição
do desmatamento pelo período de 2022 à 2023.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A perda de florestas tem um efeito imediato e direto no estilo de vida que nós, nas
partes altamente industrializadas do mundo, apesar de nossa própria dependência do que
a floresta tropical fornece. O gráfico da Figura 3 demonstra o tamanho de áreas
desmatadas em Km².
Figura 3 – Taxas de desmatamento (km²) no estado do Amazonas desde 1988

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE

Com base nas informações apresentadas no gráfico, podemos concluir que em 30


anos o ano de 2022 teve recorde em desmatamento o que nos leva a concluir que as ações

63
praticadas pelo governo para reduzir e eliminar o desmatamento não são eficazes e que o
desmatamento tem forte tendência a piorar a cada ano.
Como consequência clara, direta e objetiva dos efeitos do desmatamento,
podemos citar a severa estiagem que atingiu o estado do Amazonas e afetou
significativamente a vida da população inteira do maior estado da nação. Famílias ficaram
isoladas, cidades tiveram dificuldades de abastecimento, morte de animais, saúde das
pessoas afetadas pela incidência de fumaças provenientes das queimadas, escassez de
chuvas, etc.

5. CONCLUSÃO
Com a realização dessa pesquisa foi possível entender que o combate ao
desmatamento na Amazônia de forma geral é um dos grandes desafios que vamos
enfrentar no futuro.
A Floresta Amazônica é essencial, frente aos benefícios que proporciona, não só
para o planeta, como para a vida humana, afetando diretamente na qualidade de vida.
Deve-se exigir dos órgãos ambientais competentes que promovam vistorias in
loco, posteriores a execuções de planos de manejo e de autorizações de supressão vegetal,
bem como exijam, quando for o caso, auditoria independente sobre tais planos e
autorizações, a fim de que as fraudes em tais execuções sejam corretamente identificadas.

REFERÊNCIAS

DA COSTA,José Douglas Monteiro. Avaliação da dinâmica do desflorestamento legal no


estado do amapá com a utilização de geotecnologias. Disponível em:
<https://www2.unifap.br/cambientais/files/2017/03/TCC-
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relação com o desmatamento. 2013. 217 f. Tese (Doutorado) – Curso de Desenvolvimento
Sustentável, Universidade de Brasília, Brasília, 2013.
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2015. Disponível em:
<http://mediadrawer.gvces.com.br/publicacoes/original/2_febraban_portugues_gb.pdf>. Acesso
em: 29 set. 2023.
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MARTINS, Jorge Alberto. Efeito dos núcleos de condensação na formação de nuvens e o
desenvolvimento da precipitação na região amazônica durante a estação seca. 2007. 198
f. Tese (Doutorado) – Curso de Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas,
Meteorologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Disponível em:
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/14/14133/tde-02042007-123958/pt-br.php. Acesso em:
10 nov. 2023.

64
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NASCIMENTO, Juliana Silva et al. Monitoramento ambiental Impactos ambientais
movidos pelo desmatamento sucessivo da amazônia legal. Brazilian Journal Of
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REYDON, B. P.; LEONARDI, M. L. A. (Org.). Economia do meio ambiente: teoria, políticas
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SALATI, Eneas; DALL’OLIO, Attilio; MATSUI, Eiichi; GAT, Joel R.. Recycling of water in
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VERISSIMO, Tatiana Corrêa; PEREIRA, Jakeline. A floresta habitada: história da
ocupação humana na Amazônia. Belém: Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia, 2014.

65
CAPÍTULO 5

ESTUDO DE VIABILIDADE TÉCNICA NA IMPLANTAÇÃO DE UM ATERRO


SANITÁRIO NO MUNICIPIO DE IRANDUBA
TECHNICAL FEASIBILITY STUDY OF IMPLEMENTING A SANITARY LANDFILL IN
THE MUNICIPALITY OF IRANDUBA

Vivian Pereira Miquiles7


Raquel Freitas Reis8
João Alves Pereira Junior9
RESUMO

O objetivo deste artigo consiste em examinar a viabilidade da implementação de


um aterro sanitário no município de Iranduba-AM, localizado na margem
esquerda do Rio Solimões. O estudo analisa a viabilidade desta técnica de
disposição final de resíduos sólidos e sua influência na mitigação de impactos
ambientais e na diminuição de custos por meio de práticas sustentáveis. A
abordagem da pesquisa foi executada de forma quantitativa, utilizando métodos
da Engenharia Econômica. As informações essenciais para a análise foram
coletadas por meio de pesquisas bibliográficas. Observou-se que o município
carece de um aterro sanitário adequado, sendo a disposição dos resíduos
ocorrendo atualmente em um extenso "lixão". Como conclusão, evidencia-se que
a construção de um aterro sanitário em Iranduba representa a alternativa mais
sustentável e economicamente viável.
Palavras-chave: Aterro. Resíduos, Gestão, Ambiental.

ABSTRACT
The objective of this article is to examine the feasibility of implementing a landfill
in the municipality of Iranduba-AM, located on the left bank of the Solimões River.
The study assesses the viability of this solid waste disposal technique and its
influence on mitigating environmental impacts and reducing costs through
sustainable practices. The research approach was quantitative, employing
methods from Economic Engineering. Essential information for the analysis was
gathered through bibliographic research. It was observed that the municipality
lacks a proper landfill, with waste disposal currently taking place in an extensive
"dump." In conclusion, it is evident that the construction of a landfill in Iranduba
represents the most sustainable and economically viable alternative.
Keywords: Landfill, Waste, Management, Environmental.

7
Graduanda de Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário Luterano de Manaus.
E-mail: vivian.miquiles@rede.ulbra.br
8
Engenheira Civil, Engenheira de Segurança do Trabalho e Docente do Centro Universitário
Luterano de Manaus. E-mail: raquel.reis@ulbra.br
3
Engenheiro Civil e Graduando de Engenharia Ambiental e Sanitária pelo Centro Universitário
Luterano de Manaus. E-mail: joaoalves@rede.ulbra.br

66
1. INTRODUÇÃO

A gestão eficiente de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) é um desafio


global que se intensifica nas cidades em crescimento e o município de Iranduba,
situado no coração da Amazônia, não é exceção a essa realidade. Atualmente,
a cidade enfrenta sérios desafios, devido à ausência de técnica adequada de
disposição final de RSU, que ocorre predominantemente de lixão a céu aberto.
Essa prática, além de apresentar uma forma de disposição inadequada, não
ameaça apenas a saúde pública, mas também coloca em risco o equilíbrio
ambiental da região, acentuando os problemas de contaminação do solo, do
lençol freático e da proliferação de vetores.

Conforme Pereira, (2019), atualmente o município de Iranduba enfrenta a


problemática de um lixão a céu aberto, o qual está associado a uma série de
doenças e gastos excessivos na área da saúde local.

A necessidade de soluções mais sustentáveis e eficazes para a gestão de


resíduos em Iranduba é inegável, e neste contexto emerge o projeto de estudo
de viabilidade técnica para a implantação de um aterro sanitário no município.

A hipótese desta pesquisa enfatiza a necessidade de estabelecer um


aterro sanitário que tenha capacidade de acomodar a constante expansão na
produção de resíduos provenientes da população do município de Iranduba.
Segundo o IBGE, (2022) o município de Iranduba teve aumento de 130,9% da
população, ocupando, entre 33 municípios do país, a quinta posição no ranking
brasileiro daqueles com crescimento do número de domicílios maior que 100%.

O objetivo geral deste artigo é, portanto, avaliar a viabilidade da


implantação de um aterro sanitário no município de Iranduba-AM, abrangendo
diversos aspectos técnicos, ambientais e econômicos que contribuirão para uma
gestão eficaz dos resíduos gerados pela população.

Para isto foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: realizar


uma estimativa da quantidade média de resíduos sólidos gerados pelo município
de Iranduba para os próximos 22 anos com o intuito de fornecer dados para
embasar o dimensionamento e planejamento adequado do aterro sanitário;

67
avaliar os custos associados à implementação e operação do aterro sanitário,
incluindo a projeção dos custos do empreendimento, desde a construção até o
encerramento.

Neste cenário desafiador, este artigo busca fornecer um alicerce sólido


para a tomada de decisões informadas e sustentáveis em relação à gestão de
resíduos sólidos no município do Iranduba contribuindo não apenas para a
solução local, mas também para o debate mais amplo sobre a gestão de
resíduos em cidades em crescimento, especialmente aquelas situadas em
regiões de grande relevância ecológica, como a Amazônia.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A gestão de resíduos sólidos se caracteriza como uma prática


fundamental na preservação do meio ambiente e na promoção de uma
sociedade mais sustentável. Ela desempenha um papel crucial na redução dos
impactos ambientais negativos associados ao descarte inadequado de resíduos
e na maximização da recuperação de recursos valiosos. Corroborando os fatos
supracitados, Lopes (2019) alude que o tratamento adequado de resíduos
sólidos é essencial para minimizar a poluição do solo e da água, reduzir a
emissão de gases de efeito estufa e prevenir riscos para a saúde pública.

2.1 Residuos sólidos

Conforme Lopes (2019) os resíduos sólidos, frequentemente


denominados lixo ou detritos, podem ser definidos como materiais descartados
provenientes de atividades humanas e processos industriais que não têm mais
valor imediato para seus geradores. Esses materiais podem assumir diversas
formas, desde sólidos, líquidos, até semissólidos, e são gerados em uma
variedade de contextos, incluindo residencial, comercial, industrial e institucional.

Por conseguinte, segundo RECESA (2008), os resíduos sólidos podem


ser classificados em diferentes categorias com base em suas características
físicas e composição. As principais classificações incluem resíduos orgânicos,
resíduos recicláveis, resíduos perigosos e resíduos não perigosos. Essa
categorização é fundamental para a tomada de decisões sobre como lidar com
cada tipo de resíduo, uma vez que a gestão inadequada de resíduos sólidos

68
pode ter sérios impactos ambientais, como a contaminação do solo e da água,
além de contribuir para a emissão de gases de efeito estufa. Também representa
um risco à saúde pública, visto que pode atrair vetores de doenças e causar
poluição do ar.

Ainda conforme RECESA (2008), para minimizar os impactos negativos


dos resíduos sólidos, são necessárias práticas adequadas de tratamento e
disposição. Isso pode incluir a coleta seletiva e a reciclagem de materiais
recicláveis, a compostagem de resíduos orgânicos, o tratamento de resíduos
perigosos e a disposição final de resíduos não recicláveis em aterros sanitários
ou incineração. De acordo com Lopes (2019) uma abordagem fundamental para
a gestão de resíduos sólidos é a prevenção e redução da geração de resíduos.
Isso envolve a promoção de práticas como a reutilização de produtos, a compra
consciente e a redução do desperdício, visando diminuir a quantidade de
resíduos gerados desde o início. Nesse contexto a reciclagem desempenha um
papel significativo na gestão de resíduos sólidos, permitindo que materiais como
papel, vidro, plástico e metais sejam coletados, processados e transformados
em novos produtos, reduzindo assim a necessidade de recursos naturais.

2.2 Aterro sanitário

Segundo a Borges (2015) a disposição final de resíduos sólidos é uma


preocupação ambiental fundamental em todo o mundo. A forma como lidamos
com o descarte de resíduos tem um impacto direto na qualidade do meio
ambiente, na saúde pública e na sustentabilidade a longo prazo. Três métodos
comuns de disposição final de resíduos sólidos são os lixões, os aterros
controlados e os aterros sanitários. Cada um desses métodos tem suas próprias
características e implicações ambientais. Nesse contexto, conforme explanado
por RECESA (2008), os lixões são o método mais antigo e menos recomendável
de disposição de resíduos. Nesse sistema, os resíduos são descartados a céu
aberto, sem qualquer tratamento ou controle adequado. Isso resulta em graves
consequências, como a contaminação do solo e da água, a proliferação de
doenças e pragas, e a liberação de gases tóxicos na atmosfera. Lixões são
ineficientes e insustentáveis, e a maioria dos países busca eliminá-los.

Em contraste, segundo Viana et al (2020), os aterros controlados


representam uma evolução em relação aos lixões, pois oferecem alguma
69
supervisão e controle dos resíduos. No entanto, eles ainda carecem de medidas
modernas de proteção ambiental. Os aterros controlados não contam com
barreiras impermeáveis, sistemas de coleta de gases ou tratamento avançado.
Isso pode resultar em impactos ambientais a longo prazo e não é uma solução
ideal. Por outro lado, os aterros sanitários são considerados a forma mais
avançada e responsável de disposição final de resíduos sólidos. Eles são
projetados com medidas rigorosas de controle, incluindo barreiras
impermeáveis, sistemas de drenagem de líquidos percolados e coleta e
tratamento de gases. Além disso, os resíduos são compactados e cobertos
diariamente com uma camada de solo, reduzindo a poluição ambiental e
minimizando riscos para a saúde pública. A regulamentação ambiental e os
padrões de operação estritos tornam os aterros sanitários uma opção mais
segura e sustentável.

Figura 1: Aterro Sanitário

Fonte: Portal Resíduos Sólidos (2019)

Ainda conforme Viana et al (2020), A disposição final dos resíduos


desempenha um papel fundamental na prevenção da poluição do solo e da água,
na redução das emissões de gases de efeito estufa e na proteção da saúde
pública. Além disso, a transição de práticas obsoletas, como lixões e aterros
70
controlados, para a adoção de aterros sanitários é crucial para garantir um futuro
mais limpo, sustentável e saudável para as gerações futuras. Nesse contexto, A
viabilidade técnica do aterro sanitário no município de Iranduba é
intrinsecamente vinculada à compreensão abrangente do contexto regulatório e
legislativo, bem como das normas que norteiam a disposição final de resíduos
sólidos urbanos (RSU) na região norte, notadamente em Manaus e seus
arredores. É imperativo considerar a legislação vigente relacionada à gestão de
resíduos, alinhando-se às diretrizes federais, estaduais e municipais que regem
a atividade.

2.3 Panorama da cidade de Iranduba

O município de Iranduba está localizado na região norte do Brasil, no


estado do Amazonas (Figura 1). Possui uma área de 2.216,817 km², e uma
população estimada em cerca de 61.163 habitantes (IBGE,2022). É uma cidade
que foi conectada com o município de Manaus, a partir da construção da ponte
sobre o Rio Negro, denominada Jornalista Phelippe Daou, inaugurada no ano de
2011. A ponte proporcionou o crescimento econômico e populacional da cidade,
resultando um aumento de 130% da população, comparado aos dados dos
últimos 12 anos, conforme dados do CENSO (IBGE, 2022).

De acordo com Conceição et al (2020), levando em consideração o


crescimento populacional, foi observado que, à medida que o número de
habitantes aumenta, há uma correlação direta com a quantidade de resíduos
gerados. Essa relação é fundamentada na tríade consumo, recurso e resíduo,
denota que um maior número de pessoas implica em um consumo mais elevado
de bens e serviços, resultando, por consequência, em uma produção
proporcionalmente maior de resíduos. Nesse sentido, a situação da gestão de
resíduos sólidos em Iranduba reflete uma realidade desafiadora, visto que a
escassez de uma gestão dos resíduos dificulta a validação dos dados. No
entanto, conforme aludido anteriormente, Castro (2012) afirma que a coleta de
resíduos no município de Iranduba não ocorre diariamente, o que leva ao
acúmulo de resíduos nas vias públicas. Estima-se que a quantidade de RSU
recolhidos diariamente no município seja aproximadamente 68m³. Como
resultado, a cidade enfrenta desafios ambientais significativos, destacando-se a
ausência de um aterro sanitário adequado.

71
2.4 Regulamentação

Segundo ABRELPE (2022), a região Norte do Brasil enfrentou desafios


significativos na gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) em 2022, destacando
a necessidade premente de estratégias eficazes. Das 5.110.575 toneladas/ano
de RSU geradas pelos 450 municípios, aproximadamente 83% foram coletadas,
revelando lacunas na cobertura dos serviços. Mais alarmante ainda, 64,1%
desses resíduos, equivalentes a 3.242.805 toneladas anuais, foram destinados
a lixões e aterros controlados, sublinhando a ameaça ambiental e a urgência de
investimentos em infraestrutura para destinação adequada. Além disso, o
investimento médio mensal de R$ 8,58 por pessoa na coleta de RSU em 2022
ressalta a necessidade de alocar recursos de maneira mais eficiente,
incentivando práticas sustentáveis. Este montante representa um esforço
financeiro, sugerindo a importância de uma alocação otimizada para melhorar a
eficácia dos serviços, bem como para investir em alternativas sustentáveis de
gerenciamento de resíduos.

De acordo com Gomes (2014), a cidade de Manaus, inserida no contexto


da gestão de resíduos sólidos, é regida por um arcabouço legal robusto que
reflete a importância atribuída à questão ambiental. A Constituição Federal
delega ao poder público municipal a responsabilidade pela limpeza urbana,
coleta e destinação final do lixo, consolidando-se como fundamento na busca
pela observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A Lei de
Crimes Ambientais nº 9605/1998 reforça essa abordagem, penalizando o
lançamento inadequado de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, e
estabelecendo sanções para a ausência de medidas de precaução diante de
riscos ambientais graves. No âmbito municipal, a Lei Orgânica de Manaus,
promulgada em 1990, reitera a competência exclusiva do município para
organizar e prestar serviços de limpeza pública, coleta, tratamento e disposição
final de lixo. Alinhando-se a diretrizes nacionais, a discussão no Amazonas
reflete a necessidade de erradicar lixões, conforme estipulado pela Lei
12.305/2010, que requer a apresentação do Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) e a construção de aterros sanitários.
Essa legislação nacional estabelece princípios, objetivos e diretrizes para a
gestão integrada e ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, com foco na

72
ordem de prioridade que inclui não geração, redução, reutilização, reciclagem,
tratamento e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. Dessa
forma, as normas legais evidenciam a necessidade imperativa de cuidado no
manejo do lixo, alinhando-se aos princípios da sustentabilidade e preservação
ambiental.

Sendo assim, denotando o apontado no Plano Municipal de Gestão


Integrada de Resíduos Sólidos do município de Iranduba (2012), a disposição
final de resíduos sólidos em Iranduba apresenta características preocupantes,
evidenciando a ausência de uma infraestrutura adequada, como um aterro
sanitário. Todos os tipos de resíduos, incluindo aqueles provenientes de serviços
de saúde, varrição e poda, são encaminhados para uma área situada a uma
considerável distância da cidade, utilizada de forma irregular desde o ano de
2007. Localizada nas coordenadas geográficas S 03° 14’ 588’’ e W S 060° 14’
588’’, essa área de 15 hectares, adquirida pela Prefeitura Municipal, é acessada
por uma estrada não pavimentada na rodovia Carlos Braga, no Ramal do
Janauary, km 6. A falta de pavimentação, somada à ausência de práticas
regulares de revolvimento do solo e à inexistência de técnicas de
impermeabilização, resulta em uma situação alarmante de poluição visual,
ambiental e sanitária, impactando o solo, ar e água.

Por conseguinte, o estudo de viabilidade técnica para a implantação de um


aterro sanitário no município de Iranduba representa uma iniciativa crucial diante
dos desafios identificados na disposição inadequada de resíduos sólidos na
região. Além de considerar os fatores regionais que impactam a gestão de
resíduos, o projeto se pautará por rigorosas diretrizes normativas para assegurar
a eficácia e sustentabilidade da iniciativa. A análise técnica incorporará as
normas brasileiras NBR 13896/97 e NBR 8419/92, que estabelecem critérios e
procedimentos para o projeto e a execução de aterros sanitários, garantindo a
conformidade com padrões técnicos reconhecidos. Ademais, o estudo será
orientado pelos princípios estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA), notadamente a Resolução 404/2008, que dispõe sobre os
padrões e critérios para o licenciamento ambiental de aterros sanitários. Ao
adotar essas normativas, o projeto não apenas visa atender aos requisitos legais,
mas também busca estabelecer uma infraestrutura que promova a gestão

73
integrada e ambientalmente adequada dos resíduos sólidos em Iranduba,
contribuindo para a preservação do meio ambiente e o bem-estar da comunidade
local.

3. METODOLOGIA
3.1 Área de Estudo

O local escolhido para o desenvolvimento do artigo é o município de


Iranduba-Am e sua localização pode ser visualizada na figura 2.
Figura 2 - Mapa de Localização do município de Iranduba

Fonte: autores (2023)

3.2 Coleta de Dados

Para obtenção dos dados essenciais para os cálculos, utilizou-se a


estimativa da quantidade média de resíduos sólidos gerados e descartados pela
população do município, disponíveis pela Associação Brasileira de Empresas de
Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE,2022). Além disso, também
foram utilizados dados do Censo Demográfico de 2022, disponibilizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Posto isso, com base nas
diretrizes delineadas no manual de orientação para elaboração de plano
74
simplificado de gestão integrada de resíduos sólidos, elaborado pelo Ministério
do Meio Ambiente (MMA, 2016), torna-se fundamental realizar anualmente uma
estimativa da geração de resíduos sólidos. Essa prática se mostra essencial ao
planejar e executar as medidas necessárias para ajustar o manejo adequado
desses resíduos ao longo do período estabelecido.

O dimensionamento e o planejamento do aterro sanitário, foi estimado


para 22 anos de operação. Essa projeção compreende demandas futuras,
Equação 1
fornecendo dados sólidos que embasarão as estratégias necessárias no manejo
e na estruturação adequada do sistema de gestão de resíduos sólidos. Para
dimensionar a taxa percentual de crescimento de uma população em um período
específico de tempo, utilizou-se a equação 1.

2
= −1
1

K= Taxa Média de crescimento anual;


P2= população do ano 2;
P1=população do ano 1;
t2=ano 2
t1=ano 1

Com a aplicação da taxa de crescimento populacional, o método


geométrico chega à projeção populacional por meio de Equação
uma progressão
2
geométrica, representando graficamente a evolução da população por meio de
uma curva, que se assemelha a uma parábola. A equação subsequente
exemplifica esse processo:

= . .( )

K= Taxa Média de crescimento anual;


P2= população do ano 2;
P1=população do ano 1;
t2=ano 2
t1=ano 1

75
Considerando as diretrizes estipuladas pela Associação Brasileira de
Empresas de Tratamento de Resíduos (ABETRE), pelo Ministério do Meio
Ambiente (MMA) e dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais (ABELPRE), que indicam a vida útil de um aterro
sanitário ao longo de 42 anos, sendo os últimos 20 anos destinados às fases de
encerramento e pós-encerramento, é essencial projetar a evolução populacional
para os próximos 22 anos. Esse período é considerado significativo para análise
de viabilidade de investimentos equivalentes ao tempo em que o aterro estará
em operação efetiva, segundo estudos. Para realizar tal projeção, foram
consultados os dados do banco de dados do IBGE que forneceram informações
detalhadas sobre o crescimento populacional do município em estudo, conforme
demonstrado na Quadro 1.

Quadro 1 - Estimativa da população.

Fonte - Adaptado IBGE

No município de Iranduba, essa avaliação foi conduzida a partir de dados


estimados, visando compreender a magnitude da geração desses resíduos pela
população local. Para tal fim, foi aplicada uma taxa de crescimento de 0,39%,
conforme estabelecido pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza
Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) em 2018. Esta abordagem
metodológica permite não apenas estimar a produção atual de RSU, mas
também antecipar tendências futuras, fundamentais para o planejamento
estratégico e a implementação de medidas adequadas de gestão ambiental e
urbana.

Para o dimensionamento utilizaram-se ainda os conhecimentos técnicos e


regulamentares, como a NBR 13896/97 (ABNT, 1997), que trata de aterros de

76
resíduos não perigosos - critérios para projeto, implantação e operação, e na
NBR 8419/92 (ABNT, 1992), bem como a consideração de particularidades
locais, a fim de garantir que o aterro fosse projetado de maneira apropriada e
sustentável.

3.3 Procedimentos

Para estimativa da geração de RSU para a cidade de Iranduba foi


elaborado um fluxograma dos procedimentos, conforme a figura 3.

Figura 3: Procedimentos de estimativa

Fonte: Autores (2023)


77
4. RESULTADOS

4.1 Estimativa populacional e RSU

A projeção do crescimento populacional e a estimativa da geração de


Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) são elementos fundamentais para
compreender as demandas futuras e estabelecer estratégias eficazes de
planejamento urbano e gestão de resíduos. Utilizando o método geométrico,
buscou-se prever as tendências demográficas e o consequente aumento na
produção de resíduos ao longo do tempo. A análise dessas projeções,
expressada na tabela 2, oferece uma visão sistemática das expectativas de
crescimento populacional e sua relação direta com a geração de RSU.

Quadro 2: Estimativa de crescimento populacional e geração de RSU

Geração per Geração de Geração de


População Geração de RSU
Ano capita RSU RSU
(hab) (Kg/dia)
(kg/hab/dia) (ton/dia) (ton/ano)
2022 61163 0,895 54.740,89 54,74 19.980,42
2023 63647 0,898 57.186,58 57,19 20.873,10
2024 66233 0,899 59.532,66 59,53 21.729,42
2025 68923 0,899 61.974,99 61,97 22.620,87
2026 71723 0,900 64.517,52 64,52 23.548,89
2027 74636 0,900 67.164,35 67,16 24.514,99
2028 77668 0,900 69.919,77 69,92 25.520,72
2029 80822 0,901 72.788,24 72,79 26.567,71
2030 84105 0,901 75.774,38 75,77 27.657,65
2031 87522 0,901 78.883,02 78,88 28.792,30
2032 91077 0,902 82.119,20 82,12 29.973,51
2033 94776 0,902 85.488,15 85,49 31.203,17
2034 98626 0,902 88.995,30 89,00 32.483,29
2035 102632 0,903 92.646,34 92,65 33.815,91
2036 106801 0,903 96.447,16 96,45 35.203,21
2037 111139 0,903 100.403,91 100,40 36.647,43
2038 115653 0,904 104.522,99 104,52 38.150,89
2039 120351 0,904 108.811,05 108,81 39.716,03

78
2040 125240 0,904 113.275,03 113,28 41.345,38
2041 130327 0,905 117.922,14 117,92 43.041,58
2042 135621 0,905 122.759,90 122,76 44.807,36
2043 141129 0,906 127.796,13 127,80 46.645,59
2044 146862 0,906 133.038,98 133,04 48.559,23
Total gerado em 22 anos 743.398,66
Fonte: Autores (2023)

A análise dos dados de evolução populacional e geração de Resíduos


Sólidos Urbanos (RSU) entre os anos de 2022 e 2044 revela uma relação direta
entre o crescimento demográfico e a quantidade de resíduos gerados. A
população do município apresenta um aumento progressivo ao longo dos anos,
partindo de 61.163 habitantes em 2022 para 146.862 em 2044. Paralelamente,
a geração per capita de RSU também registra uma tendência ascendente, com
uma média de geração diária por habitante que varia entre 0,895 kg e 0,906 kg.
Os números correspondentes à geração de RSU diária, mensal e anual
demonstram um aumento significativo ao longo do período analisado. Em 2022,
a geração diária totaliza 54.740,89 kg, equivalente a 54,74 toneladas por dia e
19.980,42 toneladas por ano. Em contrapartida, em 2044, essa quantidade
atinge 133.038,98 kg diários, convertendo-se em 133,04 toneladas por dia e
48.559,23 toneladas anuais.

Conforme denotado na figura 4, a tendência de crescimento exponencial


na produção de RSU reflete a necessidade de estratégias eficazes de gestão de
resíduos, considerando não apenas a expansão populacional, mas também o
impacto ambiental decorrente do aumento na geração de resíduos. Este
panorama reforça a urgência de políticas públicas e práticas sustentáveis para
mitigar os efeitos negativos desse crescimento na qualidade do ambiente urbano
e na preservação do meio ambiente a longo prazo. A compreensão desses dados
é fundamental para orientar decisões e investimentos voltados para o manejo
adequado e a redução do impacto dos resíduos sólidos urbanos na comunidade.

79
Figura 4: Gráfico de crescimento exponencial da população e geração de RSU
para os próximos 22 anos

Geração de RSU e População


160000

140000

120000

100000

80000

60000

40000

20000

População (hab) Geração de RSU (ton/ano)

Fonte: Autores (2023)

4.2 Custos

Durante essa fase, a análise foi conduzida considerando tanto os


aspectos financeiros quanto temporais, seguindo uma abordagem quantitativa.
Além disso, foram investigadas opções para a destinação adequada dos
resíduos sólidos, visando aprimorar a viabilidade financeira da solução. De
acordo com a ABETRE, um aterro de médio porte, com capacidade para até 800
toneladas diárias, será a escolha para o município. No entanto, é importante
notar que no quinto ano, a quantidade de resíduos gerados ultrapassará a
capacidade de um aterro de pequeno porte, estimada em 100 toneladas diárias.
A tabela 3 apresenta o custo para a operação de um aterro de médio porte:

80
Quadro 3: Custos de viabilização de um aterro sanitário de médio porte

Etapa de aterro Participação Custo da etapa


Pré-implantação 0,97% R$ 2.294.389,84
Implantação 3,88% R$ 9.177.559,36
Operação 87,30% R$ 206.495.085,56
Encerramento 1,37% R$ 3.240.529,98
Pós Encerramento 6,48% R$ 15.327.470,27
Custo total do aterro
100,00% R$ 236.535.035,00
Médio
Fonte: Adaptado de ABETRE (2019)

A análise dos custos para a viabilização de um aterro sanitário de médio


porte em Iranduba, Amazonas, revela uma distribuição significativa ao longo das
diferentes etapas do projeto. A fase de operação destaca-se como a de maior
custo, representando 87,30% do investimento total, totalizando R$
206.495.085,56. A etapa de implantação, responsável por 3,88% do custo total
(R$ 9.177.559,36), e o pós-encerramento, com 6,48% (R$ 15.327.470,27),
também demandam atenção quanto aos gastos. Estes dados ressaltam a
importância de uma análise criteriosa e planejamento detalhado para a
viabilidade financeira e sustentabilidade da implementação do aterro sanitário
em questão.

5. CONCLUSÃO

Com base nas análises realizadas sobre os custos envolvidos na operação


de um aterro sanitário de médio porte no município de Iranduba/AM, torna-se
evidente que esse empreendimento representa um investimento considerável ao
longo de 22 anos, totalizando 6.424.000 (seis milhões quatrocentos e vinte e
quatro mil) toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU). Considerando o custo
por tonelada de R$ 318,19. Diante desse cenário, torna-se evidente que a
operação de um aterro exclusivamente para o município de Iranduba seria
financeiramente inviável. No entanto, em virtude do espaço disponível, tem-se a

81
possibilidade de compartilhamento desse espaço com municípios vizinhos para
divisão dos custos operacionais do aterro de médio porte, considerando a
disposição compartilhada de resíduos sólidos.

Portanto, a viabilidade financeira de um aterro de médio porte para o


município de Iranduba se torna mais plausível quando há a cooperação entre
esses municípios vizinhos. Essa cooperação não apenas auxiliaria na
distribuição dos custos, tornando o projeto mais sustentável economicamente,
mas também contribuiria para uma gestão mais eficiente e abrangente dos
resíduos sólidos urbanos na região.

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Amostragem de Resíduos. 2004. Rio de Janeiro.21p.

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84

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