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INCÊNDIOS NO PARQUE NACIONAL DA CANASTRA*

Vicente de Paulo Faria


Analista Ambiental ICMBio

1 HISTÓRICO DAS OCORRÊNCIAS

Os registros sobre a ocorrência de incêndios na região de serra da Canastra


são
bastante antigos. Em relação à ocorrência de fogo na serra da Canastra, Saint Hilaire
já descrevia que “tinha atravessado imensos pastos que haviam sido queimados fazia
poucos dias” e que os proprietários das fazendas “ateiam fogo aos pastos em qualquer
época, indiferentemente”. Os pastos mencionados então, são os campos naturais que
ocorrem nos chapadões.

Estes registros demonstram que a ocorrência de fogo na região é bastante


antiga e frequente e, provavelmente, antes da colonização européia já havia uso do
fogo por grupos indígenas.

Os registros de ocorrência de incêndios têm sido feitos de forma continuada,


apenas na área do Chapadão da Canastra, permitindo uma análise de dados
satisfatória de características dos incêndios na região.

A análise deste material nos permite concluir que a maior parte das causas de
incêndios naquela região do PNSC, desde 1987 seja de origem antrópica, apesar do
grande número de incêndios causados por raios, chamados incêndios naturais em
áreas de cerrado e, teoricamente, são distúrbios que podem beneficiar a diversidade
de espécies. Este tipo de incêndio deve ter um monitoramento mais abrangente no
PNSC.

Entre as causas antrópicas (incêndios e queimas de pastagens), a maior parte


é criminosa, originada por incendiários.

O grande número de incêndios criminosos no PNSC é um problema, pelo fato


da complexidade dos motivos que levam o indivíduo a cometer estes atos. Esses
motivos podem abranger uma série de fatores como, por exemplo: insatisfação
com a UC devido a problemas fundiários; limitação de atividades danosas ao ambiente
no entorno da área protegida; desinformação sobre a importância da conservação dos
recursos naturais e problemas pessoais dos envolvidos (financeiros, familiares, etc.).
FOTO 01 - INCÊNDIO EM CAMPO LIMPO NO CHAPADÃO DA ZAGAIA -2012

O fogo pode oferecer benefícios imediatos aos proprietários rurais devido à


rápida conversão de nutrientes da biomassa, em cinzas, favorecendo a camada
herbácea disponível para o gado e reduzindo populações de patógenos. Contra estes
benefícios, entretanto, há vários custos para o produtor rural, associados ao uso do
fogo, como perda de nutrientes e o risco de descontrole das queimadas causando
danos em cercas, culturas arbóreas e benfeitorias.

Há também custos para os vizinhos e para a sociedade em geral, incluindo


impactos na qualidade da água e dos solos, perda de espécies nativas ou redução de
populações animais e vegetais, problemas de saúde, danos à rede de energia e
lançamento de poluentes para a atmosfera.

Os incêndios de causa antrópica, normalmente durante a estação seca,


encontram as condições propícias (vegetação seca, umidade relativa baixa, ventos
fortes) ao desenvolvimento de incêndios de grandes magnitudes. Em alguns casos, os
incêndios de causa antrópica queimaram quase toda a área do Chapadão da
Canastra. Muitos incêndios dessa natureza foram contidos em áreas menores do que
500 ha devido à ação rápida do pessoal envolvido com o combate.
A escala de impactos causados pelos grandes incêndios de causa antrópica
provavelmente está afetando elementos da biota na Unidade, já fragilizados por outros
impactos provenientes do entorno, como alteração da qualidade e quantidade de água
dos rios, desmatamentos, urbanização, etc.

Particularmente, a flora lenhosa do cerrado, as aves e alguns mamíferos de


grande porte têm sido bastante afetados em incêndios frequentes ou que tenham
atingido grandes áreas. A disponibilidade de alimentos para herbívoros também pode
ser afetada.
2 A RELAÇÃO DA VEGETAÇÃO E FAUNA COM A OCORRÊNCIA DE
INCÊNDIOS
Particularmente a vegetação de campo, predominante no Parque, na estação
seca, torna-se bastante propensa ao fogo, transformando-se em uma camada de
material morto acima do solo. Abaixo do solo, os tecidos vivos das plantas herbáceas
ficam protegidos das chamas, caracterizando uma vegetação bastante adaptada aos
incêndios.

Em razão da pequena área que ocupam, com elevado grau de endemismo e


forte pressão antrópica, incluindo a freqüência elevada de grandes incêndios,pelo
menos 351 espécies de campo rupestre em Minas Gerais estão ameaçadas de
extinção. A prática freqüente do fogo em áreas de campo rupestre pode alterar a
diversidade e riqueza das comunidades, favorecendo espécies com adaptações a este
distúrbio.

Quanto às plantas lenhosas de cerrado, o fogo freqüente promove um impacto


negativo na reprodução sexual pela destruição de estruturas reprodutivas
(frutos,flores, semente). Também já foram verificadas elevadas taxas de mortalidade
de plantas lenhosas em áreas de cerrado sensu stricto Os efeitos de diminuição da
densidade arbórea é fato observado.

FOTO 02 – Vegetal ciliar lenhosa danificada pelo fogo. Notar regeneração avançada
das gramíneas em primeiro plano.

A proteção contra o fogo pode levar a um aumento dos elementos lenhosos em


todas as fisionomias de cerrado, assim como pode promover o aumento da
diversidade de espécies deste componente.

Porém, deve-se considerar o papel do fogo na manutenção da elevada


diversidade de espécies da camada arbustiva-herbácea do cerrado, a qual apresenta
riqueza de espécies superior ao componente arbóreo. As espécies vegetais herbáceas
no cerrado apresentam rápida recuperação após o fogo este elemento, principalmente
quando associado às queimadas naturais, pode ser responsável por uma maior
heterogeneidade nascomunidades desta camada.

Existe pouco conhecimento a respeito da resistência e resiliência da vegetação


de matas de galeria a distúrbios como o fogo. Algumas observações de campo
indicam que o fogo beneficia a invasão por gramíneas, bambus e lianas. O fogo
também impacta negativamente as bordas das matas de galeria influenciando na sua
extensão, como foi observado no Parque Nacional de Brasília.

No PNSC, a ocorrência de incêndios frequentes provavelmente está limitando a


expansão das matas de galeria.

Portanto, os dados demonstram que as fitofisionomias fechadas de cerrado,


assim como matas de galeria e matas secas devem ter proteção máxima contra o fogo
devido à maior sensibilidade dos elementos lenhosos. As fitofisionomias abertas como
campo limpo e campo-sujo podem se beneficiar da ocorrência do fogo em regimes de
queima causados por raios ou quando pesquisas definirem se é necessário um
regime de queima controlada.

FOTO 03 Fragmento Florestal danificado pelo fogo.

Para o cerrado sensu stricto, fitofisionomia intermediária entre áreas abertas e


fechadas, ainda não há um consenso sobre um possível regime de queima adequado
devido ao elevado número de espécies lenhosas e também do estrato herbáceo nesta
fisionomia.

Algumas espécies da fauna do cerrado são pouco afetadas por incêndios,


devido à disponibilidade de abrigos e apresentação de algumas estratégias
adaptativas relacionadas com a ocorrência do fogo, como por exemplo, espécies
fossoriais/subterrâneas; a megafauna, que se caracteriza como generalista e
oportunista e outras espécies que têm coloração preta ou cinza para camuflagem em
áreas queimadas. O fogo provavelmente causa maiores danos para ovos, ninhos e
animais muito jovens, que não podem escapar das chamas.

Entretanto, após grandes incêndios, já foi verificada uma significativa


mortalidade de Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) e dados similares já
foram registrados para aves.

3 VELOCIDADE DE DISPERSÃO DO FOGO


Os incêndios que ocorrem no PNSC são caracterizados, em geral, como
incêndios de rápida propagação e reduzida/média intensidade devido às condições
topográficas e de vegetação.

A vegetação de campos predominante na região de chapada caracteriza-se como


combustível leve, o qual na época seca torna-se altamente propenso para a ocorrência
de incêndios. Não ocorrem na região rios de grande porte ou porções significativas de
florestas para barrar a propagação dos incêndios. Quando atinge as matas de galeria
o fogo diminui a velocidade, mas, freqüentemente, não é barrado, já que estas
formações são estreitas.

Foto 04 – Propagação do fogo em campo limpo

4 SISTEMA DE ISOLAMENTO DE COMBUSTÍVEIS (ACEIROS)


A execução de aceiros externos ou internos para barrar a propagação de
incêndios nas UC é um assunto bastante discutido entre os especialistas e no meio
conservacionista. As principais críticas ao uso de aceiros com fogo se referem
principalmente ao aumento de mortalidade de árvores nas faixas aceiradas, exposição
da fauna herbívora nos limites externos e aumento da invasão por espécies exóticas
de gramíneas. Não se conhecem pesquisas sobre o efeito ecológico dos aceiros.
Embora possam selecionar algumas espécies nessas faixas de vegetação,
facilitar a invasão de algumas espécies exóticas e aumentar processos erosivos,
ainda são ferramentas eficazes de baixo custo e que podem diminuir
consideravelmente os danos causados por grandes incêndios. Além disso, estes
problemas normalmente são muito menores quando comparável aos danos causados
pelo descontrole total do fogo na área.

No PNSC as estradas/aceiros no Chapadão da Canastra têm causado uma


diminuição na velocidade de propagação do fogo em alguns trechos e, em alguns
casos, barram a continuidade dos incêndios

No Chapadão da Canastra há uma estrada que atravessa a chapada ligando a


Portaria São Roque até a Portaria Sacramento, com uma extensão de 60 km. Algumas
estradas, perpendiculares a esta, seguem em direção ao norte do Parque, totalizando
aproximadamente 30 km de extensão. Estas estradas não possuem uma faixa de
alargamento pelo uso do fogo, o chamado aceiro negro, reduzindo assim a eficiência
na contenção da propagação de incêndios de alta velocidade.

Foto 05 – Incêndio contido por aceiro negro. Estrada principal do PNSC.

5 SISTEMA DE DETECÇÃO DE INCÊNDIOS


Em áreas de cerrado, onde a velocidade do fogo normalmente é rápida,
adetecção de incêndios idealmente não deve ultrapassar cinco minutos.

Assim, a detecção atual na área do Chapadão da Canastra não é adequado,


pois o sistema de observação apresenta deficiências, como a falta de observadores
(torristas) e goniômetros.

Os focos de incêndio são normalmente detectados quando a coluna de fumaça


está grande o suficiente para ser observada das portarias, centro de visitantes ou das
estradas internas e externas. A frente de fogo, nestes casos, já assumiu grandes
proporções.
O sistema de detecção deve ter como padrão características que incluam a
rápida e a precisão de localização dos focos. Além disso, deve abranger os períodos
diurno e noturno e a localização dos focos, idealmente, deve ocorrer sobre quaisquer
condições de visibilidade.

Torres de observação, guaritas dotadas de goniômetros e rádio e veículos para


as rondas são freqüentemente utilizados para dar suporte a detecção em UC e áreas
de reflorestamento.

Apesar do custo inicial relativamente elevado, as torres de observação


apresentam um custo mais reduzido, quando comparado ao uso de aeronaves ou
câmeras com sensores infravermelhos. A eficiência depende da existência de
observadores treinados para permanência diurna e noturna, bem como de
equipamentos como torres, guaritas, rádiocomunicação, binóculos e equipamentos
para localização precisa dos focos(goniômetros e mapas).

O sistema de detecção existente no PNSC na região do Chapadão da Canastra


é composto de uma torre de observação, duas guaritas de observação, três portarias e
patrulhas com veículos. A região do Chapadão da Babilônia não dispõe de sistema de
detecção.

A torre e as guaritas de observação do PNSC localizadas em pontos mais


elevados na região do Chapadão da Canastra proporcionam uma boa visibilidade do
interior e entorno desta área e constituem os elementos mais importantes no sistema
de detecção. Entretanto, a torre de observação não está sendo utilizada porque a base
de madeira está comprometida, não há escadas de segurança e as condições da
cabine aparentemente são precárias.

Da mesma forma, os pontos de observação com pequena estrutura (Bentinho


e Serra Brava) não estão sendo utilizados permanentemente, mas não há
goniômetros. O estado das guaritas é satisfatório.
Atualmente, o PNSC tem obtido informações de detecção de focos de calor por
satélites. Estes dados são disponibilizados diariamente pelo Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) e enviados para o ICMBio-sede.

Este tipo de detecção tem sido muito importante principalmente devido à


dimensão do Parque e ao alcance nas áreas de entorno.

6 OS INCÊNDIOS E A INVASÃO POR PLANTAS DE ESPÉCIES EXÓTICAS


A invasão de espécies de plantas exóticas tem sido considerada uma das
maiores ameaças à manutenção da biodiversidade em áreas de conservação. Entre
as espécies de plantas exóticas existentes nas UC de cerrado, a Melinis minutiflora,
conhecida vulgarmente como capim-gordura, está disseminada por extensas áreas em
Parques Nacionais

Dessa forma, as ações de controle de fogo nestas Unidades devem considerar


também o manejo desta e de outras espécies invasoras. A espécie Melinis minutiflora
(capim-gordura) é uma gramínea perene proveniente da África Tropical, introduzida no
Brasil como pasto para o gado.

É encontrada extensivamente no país, em locais alterados, como margens de estradas


e campos de cultura abandonados e, também, em unidades de conservação. Apesar
de ocorrer principalmente em locais perturbados por atividades humanas, esta espécie
não depende apenas destes ambientes para se estabelecer, ao contrário da maioria
de outras espécies também introduzidas.
A Melinis minutiflora suprime o crescimento das espécies nativas devido aos
densos grupamentos de indivíduos que formam. Além disso, a invasão desta gramínea
induz o ciclo fogo/gramínea, no qual a gramínea fornece o combustível fino necessário
para o início e propagação do fogo, que aumenta em freqüência, área e intensidade.
Após a passagem do fogo, a gramínea invasora coloniza a área mais rapidamente do
que as espécies nativas e causa um aumento na suscetibilidade ao fogo.

Devido ao elevado conteúdo de resinas, o capim-gordura é mais inflamável do


que espécies nativas, pois o fogo alcança temperaturas acima de 300o C a 1 cm do
solo, durante mais de três minutos, com picos atingindo 1.008º C.

Este padrão de queima e a maior altura das chamas em áreas com capim-
gordura é bem diferente do padrão em áreas naturais de cerrado, o qual resulta em
um aumento expressivo dos danos para espécies lenhosas.

O capim-gordura e a Brachiaria são as espécies exóticas mais disseminadas


na área do Chapadão da Canastra e Babilônia, ocorrendo principalmente nas bordas
de estrada. O controle e, se possível, a erradicação destas duas espécies, são
importantes para a diminuição de riscos de grandes incêndios.

7 ÁREAS CRÍTICAS À OCORRÊNCIA DE FOGO NO PNSC


Na área do Chapadão da Canastra a porção norte, principalmente entre as
Portarias de São João Batista da Canastra e de Sacramento, é considerada a de
maior risco. Além desta área, a região entre a Portaria São Roque e a divisa com o
córrego da Fazenda na porção nordeste do Parque também é problemática. Quanto
aos incêndios causados por raios, de acordo com informações de funcionários, esta
região tem distribuição ao acaso.

Na área do Chapadão da Babilônia toda a região é considerada crítica pelo


elevado índice de ocorrência de fogo, pois a região de chapada é ainda maisatingida.
Nos vales, fatores como maior concentração de moradias, benfeitorias, culturas
agrícolas e matas de galeria de maior largura limitam a expansão dos incêndios e o
número de ocorrências.
Na área do chapadão da Babilônia, utilizada principalmente como pastagem
para o gado e com número menor de moradias, os incêndios são em maior número e
atingem maiores áreas. Nestas áreas praticamente não há atividades de combate,
como nos vales em razão da falta de recursos financeiros e humanos.

8 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO FOGO

Segundo Guimarães et ali (2014) os impactos causados por incêndios são:

8.1 - Meio físico.


1- Aquecimento do solo – O solo é um mau condutor de calor, desta forma, mesmo
que haja um incêndio de grandes proporções não ocorrerá mudanças significativas na
condução de calor dentro do perfil do solo. Quanto maior a profundidade, menor são
as variações do efeito tampão da temperatura do solo.
2- Erosão – O fogo remove a cobertura vegetal viva e morta que recobre o solo,
deixando-o desnudo e à mercê das intempéries climáticas, como o aumento da
velocidade do vento, aumento da exposição à luminosidade e calor, maior velocidade
de escoamento da água, propensão ao surgimento de sulcos e erosão laminar no solo,
que futuramente poderá evoluir a voçorocas.
3- Redução do teor de matéria orgânica – O fogo consome o material combustível da
superfície do solo e, dentre estes a matéria orgânica, que é um constituinte com
função primordial na manutenção do efeito tampão do solo, atividade dos
microorganismos, estrutura e agregação do solo, além de diminuir o alumínio
disponível.
4- Redução de nutrientes do solo – Os nutrientes são consumidos durante o processo
de queima e ocorrência de incêndio, alguns destes tornam-se mais rapidamente
disponíveis para as plantas e solos na composição da cinza e muitos são perdidos
pela fumaça, lixiviação e percolação para maiores profundidades.
5- Acidez do solo – As cinzas provenientes do fogo são dispostas no solo promovendo
o aumento da alcalinidade, por acréscimo de bases hidroxiônicas, e
assim, reduz-se a acidez. Este, porém, não é um efeito duradouro, se não houver
tempo e condições para assimilação, as cinzas podem ser facilmente levadas pelo
vento ou pela ação das chuvas.
6- Aumento na velocidade do vento – A abertura do dossel, causada pela ação da
combustão, direciona o vento para estas áreas e potencializa sua intensidade e
velocidade, causando danos e prejuízos à vegetação remanescente.
7- Alteração do microclima local – O ecossistema proveniente de áreas florestadas
apresenta um microclima característico, com baixa amplitude de variação das
condições climatológicas, temperaturas amenas, elevada umidade relativa do ar, baixa
velocidade do vento e reduzida insolação direta ao solo, características estas que são
modificadas pela ação do fogo.
8- Liberação de carbono à atmosfera – O CO2 capturado nas árvores é devolvido à
atmosfera no processo de queima, em quantidade muito maior do que o ambiente
pode absorver e, dessa forma, ocorrem alterações nas condições climáticas, refletindo
nos demais ecossistemas.
9- Redução da qualidade da água – Após o processo de queima o ambiente fica
descampado e ocorrem mudanças na qualidade da água, devido ao aumento do
escoamento superficial; às novas áreas de drenagem e bacias de contenção; e ainda,
à remoção da mata ciliar, promovendo o aumento do assoreamento, redução da
profundidade do curso d’água, aumento da turbidez da água e mudanças no ciclo
hidrológico.

8.2 Meio biótico


1- Mortandade de animais – O fogo destrói habitat e nichos de vários animais que
residem no ecossistema, além de remover o alimento disponível a esses animais,
obrigando-os a se afugentarem ou sucumbirem à ação devastadora do fogo.
2- Danos na madeira – A lucratividade final da madeira é maximizada com a
agregação de valor da melhor condução possível das etapas silviculturais. O fogo
degrada os constituintes da madeira reduzindo sua resistência mecânica, sua beleza
estética, características organolépticas, enfim, sua qualidade geral, e ainda torna-se
porta de entrada para ataque de pragas e doenças.
3- Limpeza do sub-bosque – Algumas atividades silviculturais utilizam o fogo para
limpeza do sub-bosque, sendo este um impacto positivo no que se refere à retirada de
mato-competição e plantas invasoras, que competem com as espécies arbóreas por
luz, água e nutrientes, mas tal prática deve ser muito bem orientada, para não se
transformar em um incêndio sem controle.
4- Emissão de brotos – As elevadas temperaturas de um incêndio podem proporcionar
com rapidez e vigor a brotação, germinação e floração de espécies mais resistentes
ao fogo, além da abertura de fissuras em sementes impermeáveis, que com a entrada
de água promovem a quebra de dormência.
5- Impactos às culturas agrícolas – As culturas agrícolas normalmente possuem ciclo
curto e desenvolvem em pequeno espaço de tempo, uma alta produtividade. O fogo,
além de destruir parte da área, aumenta o intervalo entre safras, diminuindo a
viabilidade do empreendimento.
6- Redução da atividade de microorganismos – O crescimento e desenvolvimento de
microorganismos são proporcionais às condições ideais do ambiente. A catálise
dessas reações por meio de elevadas temperaturas pode levar a redução da
população e morte. Porém, as comunidades microbianas dos horizontes superficiais
do solo, correm um risco maior de serem afetadas pelo fogo, do que as que vivem nos
horizontes mais profundos, uma vez que o efeito do calor diminui rapidamente
com a profundidade do solo, além do aumento de umidade, favorecendo a
proliferação dos microorganismos.
7- Interferência na sucessão vegetal – Os danos causados pelos incêndios provocam
alterações na composição fitossociológica e mudanças nos níveis tróficos,
potencializam o aparecimento de espécies pioneiras, em decorrência da maior
luminosidade, ao mesmo tempo em que eliminam espécies secundárias e climáxicas,
por serem adaptadas ao sombreamento.
8- Renovação da pastagem – A disposição de nutrientes facilita a emergência de
novas plantas e rapidamente aumenta o vigor e germinação da pastagem, sendo
positiva para esta atividade.

8.3 Meio Socioeconômico


1- Transtornos à população do entorno – A presença do fogo pode acarretar danos e
prejuízos a populações indiretamente ligadas à área de ocorrência de incêndios, por
meio do excesso de fumaça, problemas respiratórios, poluição do ar por partículas que
são espalhadas pelo vento, dificuldade na visibilidade.
2- Impactos paisagísticos e destruição de áreas de recreação – Visualmente as
conseqüências deixadas pelo fogo, provocam depreciação da qualidade paisagística e
beleza cênica do ambiente. Esses danos afetam também áreas de recreação,
havendo interrupção nas atividades de turismo local.

*Adaptado do plano de Manejo PNSC/2005

1 - GUIMARÃES et alli (2014).Análise dos impactos ambientais de um incêndio


florestal. AGRARIAN ACADEMY, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.1, n.01; p.38

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