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ISSN 1983-9731

Foto: Rodrigo Carvalho Alva


COMUNICADO
TÉCNICO Indicação de eucaliptos
145 para plantios em faixas
de quebra-ventos em
Brasília, DF
propriedades rurais de
Novembro, 2019
Mato Grosso do Sul
Marta Pereira da Silva
Rodiney de Arruda Mauro
Roberto Giolo de Almeida
2

Indicação de eucaliptos para


plantios em faixas de quebra-
ventos em propriedades rurais
de Mato Grosso do Sul1
1
Marta Pereria da Silva, Zootecnista, Doutora em Ecologia Tropical, pesquisadora da Embrapa Gado
de Corte. Rodiney de Arruda Mauro, Biólogo, Doutor em Ecologia Tropical, pesquisador da Embrapa
Gado de Corte. Roberto Giolo de Almeida, Engenheiro-agrônomo, Doutor em Zootecnia, pesquisador da
Embrapa Gado de Corte.

grandes áreas sem árvores. A cobertu-


Introdução ra vegetada do solo e a consequente
criação de quebra-ventos promovem
Segundo o IBGE (2005), o Estado
redução na evaporação nos sistemas
de Mato Grosso do Sul possui uma área
diversificados com a presença de espé-
de 357.145,531 km2, composto por três
cies arbóreas (VANDERMEER, 1989).
biomas sendo que a área de Cerrado
Segundo Almeida et al. (2014), a presen-
corresponde a 61%; o Pantanal a 25% e
ça de árvores no sistema produtivo pe-
a Mata Atlântica 14%.
cuário, e dispostas em nível, minimizam
A economia do estado se baseia as perdas de solo por erosão hídrica e
predominantemente na pecuária em eólica. As áreas de pastagens ressecam
suas diversas formas. Na ocupação mais quando não existem bosquetes, ou
do território houve o uso generalizado fileiras de árvores que as protejam.
da técnica do correntão, na qual são
Segundo Carvalho (2013) os quebra-
utilizados dois tratores em cada ponto
ventos nas propriedades rurais consis-
extremo de uma corrente pesada e com
tem em linhas ou faixas de árvores e
seu arraste suprime a vegetação. Essa
arbustos plantadas de forma a alterar o
técnica é indicada para a formação de
fluxo do vento, e consequentemente do
extensas áreas de pastagens cultivadas
microclima, para proteger determinadas
e agricultura. Atualmente essas áreas
áreas específicas dos efeitos do vento.
carecem de barreiras físicas para o ven-
São habitualmente instaladas em bor-
to quase que constante principalmente
daduras de campos agrícolas ou pasta-
nos meses secos do ano.
gens, melhorando a produção agrícola e
A existência de árvores nas paisa- pecuária, e em torno de zonas residen-
gens atenua a influência dos excessos ciais, rurais ou urbanas, beneficiando as
de ventos que ressecam os pastos em condições de vida dos residentes.
3

Aceiros são faixas ao longo das cer- Corymbia e Angophora. Um dos mais
cas cuja vegetação é completamente re- conhecidos é o citriodora, ou eucalipto-
movida da superfície do solo para impedir limão, por ser um dos primeiros a ser
a propagação do fogo. A proposta aqui utilizado em grandes áreas e produção de
apresentada utiliza o conceito “aceiros madeira de ótima qualidade. Atualmente
arborizados”. Este preconiza o plantio de este eucalipto é denominado pelo gênero
árvores nas faixas de aceiro resguardan- e espécie Corymbia citriodora, que foi
do uma faixa de dois a três metros sem descrita originalmente por William Jackson
vegetação na borda voltada para cultura Hooker como Eucalyptus citriodora, sendo
existente. A finalidade principal dessa transferida para o gênero Corymbia por
tecnologia é proteger as culturas perenes Hill e Johnson (1995).
e pastagens contra a perda excessiva da
umidade, ao mesmo tempo em que dimi-
nui riscos de queimadas, principalmente
Clima
na estação seca. Durante o período com O Estado de Mato Grosso do Sul está
temperaturas mais baixas, servem de numa área de transição climática, so-
abrigo para o gado doméstico, principal- frendo a atuação de diversas massas de
mente bovino, funcionando como uma ar, o que implica em contrastes térmicos
eficiente barreira quebra-vento. Além das acentuados, tanto no espaço quanto no
vantagens de se criar um microclima, a tempo. Zavatini (1992) efetuou estudos
produção de madeira pode também se sobre o clima regional, onde verificou
tornar um importante aporte econômico que o estado é cortado pela Faixa Zonal
para as propriedades rurais. Divisória, que corresponde a um limite
O plantio das árvores pode ser feito virtual de atuação de massas polares e
com espaçamentos mais estreitos, para dos resultantes regimes pluviométricos.
se obter uma faixa arborizada densa e Conforme a classificação dos cli-
impedir o desenvolvimento de vegeta- mas biológicos proposta por Bagnouls
ção herbácea no sub-bosque, evitando e Gaussen (1963), ocorrem no estado
que, na estação seca, o fogo atravesse três sub-regiões climáticas: a termoxe-
o aceiro arborizado. roquimênica atenuada, de ocorrência
Eucaliptos são espécies arbóreas na região da Bodoquena, na região
muito utilizadas em maciços florestais centro-norte do estado e arredores de
para produção de madeira para diversos Paranaíba, onde as temperaturas mé-
fins (Tabela 1). É também utilizado em dias do mês mais frio estão acima de
sistemas silvipastoris e na integração 20ºC e abaixo de 24ºC, as precipitações
lavoura, pecuária e florestas. Os anuais chegam a 1.500 mm, e o período
eucaliptos eram classificados somente seco normalmente é de três meses; a
no gênero Eucalyptus. Atualmente são mesoxeroquimênica modificada, que
incluídos em três gêneros: Eucalyptus, engloba as regiões sudoeste, centro-sul
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Tabela 1. Espécies e cultivares de eucaliptos (Corymbia e Eucalyptus) para usos comerciais de acordo
com as condições do ambiente e finalidade de uso, modificado de Paludzyszyn Filho e Santos (2011).

Espécie de
Indicação Uso da Madeira Comportamento da Espécie
eucalipto
Corymbia
Regiões livres Madeira densa. Aumenta a
citriodora
de geadas Uso geral qualidade da madeira com a
subesp.
severas duração do ciclo.
citriodora
Maior crescimento e rendimento
Regiões livres Fins energéticos, celulose volumétrico das espécies.
E. grandis de geadas de fibra curta, construção Aumenta a qualidade da
severas civil e serraria. madeira com a duração do
ciclo.
Regiões livres Crescimento menor que E.
E. urophylla de geadas Uso geral. grandis, boa regeneração por
severas brotação das cepas.
Fins energéticos, laminação, Madeira mais densa quando
Regiões livres
móveis, estruturas, comparada ao E. grandis;
E. saligna de geadas
caixotaria, postes, escoras, menos suscetível à deficiência
severas
mourões, celulose. de boro.
Fins energéticos, serraria, Árvores mais tortuosas;
Regiões livres
postes, dormentes recomendada para regiões
E. camaldulensis de geadas
mourões estruturas, com deficiência hídrica anual
severas
construção civil. elevada.
Fins energéticos, serraria,
Regiões livres Tolerante à deficiências
postes, dormentes,
E. tereticornis de geadas hídricas, boa regeneração por
mourões, estruturas,
severas brotação das cepas.
construção civil.
C. citriodora Regiões livres Serraria, laminação, Apresenta crescimento inicial
subesp. de geadas marcenaria, dormentes, lento. Indicada para regiões
variegata severas postes, mourões. com elevada deficiência hídrica.
Fins energéticos,
Regiões livres Excelente forma do fuste,
construção civil,
E. cloeziana de geadas durabilidade natural, alta
uso rural e sistemas
severas resistência a insetos e fungos.
agrossilvopastoris.
Regiões Apresenta rápido crescimento
sujeitas a Fins energéticos e e boa forma das árvores, com
E. dunnii
geadas severas serraria. dificuldades na produção de
e frequentes sementes.
Regiões Boa forma do fuste, intensa
sujeitas a rebrota, fácil produção de
E. benthamii Fins energéticos.
geadas severas sementes. Requer volume alto de
e frequentes precipitação pluviométrica anual.
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e nordeste do estado, onde as tempe- de Mato Grosso do Sul. Classificado como


raturas médias do mês mais frio são sub-úmido: apresenta índice efetivo de umi-
menores que 20ºC e maiores que 18ºC, dade com valores anuais variando de 0 a
o período seco estende-se até cinco 20%. A precipitação pluviométrica anual va-
meses, e a precipitação é regular, entre ria entre 1.200 a 1.500 mm, com excedente
1.000 mm e 1.700 mm anuais; e a eume- hídrico anual de 400 a 800 mm durante três
saxérica, (e) que incide na região sul do a quatro meses e deficiência hídrica de 500
estado, onde a curva térmica é sempre a 650 mm durante cinco meses.
positiva, o período seco ausente, apre-
Af - Clima tropical úmido ou supe-
senta precipitações regulares durante
rúmido, sem estação seca, sendo a
o ano entre 1.400 mm e 1.700 mm, as
temperatura média do mês mais quente
temperaturas médias do mês mais frio
superior a 18ºC. O total das chuvas do
estão entre 14ºC e 15ºC, cujas mínimas
mês mais seco é superior a 60 mm, com
absolutas de inverno são baixas, de 4ºC
precipitações maiores de março a agosto,
a 6ºC, nas invasões polares de inverno.
ultrapassando o total de 1.500 mm anuais.
As condições climáticas de Mato Nos meses mais quentes (janeiro e feve-
Grosso do Sul se assemelham, em gran- reiro) a temperatura é de 24 a 25ºC. Esse
de parte, às do restante da região centro tipo de clima predomina na região sudo-
-oeste do Brasil. Segundo classificação este do estado. Classificado como úmido:
de Köppen, ocorrem em Mato Grosso do Apresenta índice efetivo de umidade com
Sul quatro tipos climáticos: Af, Am, Aw, valores anuais variando de 40 a 60%. A
Cfa. O de maior abrangência na área é precipitação pluviométrica anual varia
o Aw (clima tropical úmido com estação entre 1.750 e 2.000 mm, com excedente
chuvosa no verão e seca no inverno) e o hídrico de 1.200 a 1.400 mm durante sete
Cfa (clima mesotérmico úmido sem estia- a oito meses e deficiência hídrica de 200 a
gem) em que a temperatura do mês mais 350 mm durante três meses.
quente é superior a 22ºC, apresentando
Am - Clima tropical úmido ou subúmi-
no mês mais seco uma precipitação su-
do. É uma transição entre o tipo climático
perior a 30 mm de chuva.
Af e Aw. Caracteriza-se por apresentar
De acordo com o Atlas temperatura média do mês mais frio sem-
Multirreferencial de Mato Grosso do Sul pre superior a 18ºC apresentando uma
(1990) a variação mesoclimática no es- estação seca de pequena duração que
tado pode ser classificada nos seguintes é compensada pelos totais elevados de
tipos: precipitação. Esse tipo de clima predomina
na região central do estado, nas áreas de
Cfa - Clima subtropical, com verão
serras e chapadões. Se estende para a
quente. As temperaturas são superiores a
região nordeste rumo à fronteira com o sul
22ºC no verão e com mais de 30 mm de
de Goiás. Classificado como úmido a subú-
chuva no mês mais seco. Esse tipo de
mido: Apresenta índice efetivo de umidade
clima predomina nas serras do extremo sul
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com valores anuais variando de 20 a 40%. de clima predomina no Pantanal Mato-


A precipitação pluviométrica anual varia Grossense e região norte. Outras duas
entre 1.500 e 1.750 mm, com excedente áreas são uma na região central do
hídrico anual de 800 a 1.200 mm durante estado e outra a leste acompanhando a
cinco a seis meses e deficiência hídrica de área de influência do rio Paraná, fronteira
350 a 500 mm durante quatro meses. com o estado de São Paulo. Classificado
Aw - Clima tropical, com inverno seco. como subúmido a semiárido: Apresenta
Apresenta estação chuvosa no verão, de índice efetivo de umidade com valores
novembro a abril, e nítida estação seca anuais variando de -20 a 0%. A precipita-
no inverno, de maio a outubro (julho é ção pluviométrica anual varia entre 800 e
o mês mais seco). A temperatura média 1.200 mm, com excedente hídrico anual
do mês mais frio é superior a 18ºC. As de 100 a 400 mm durante dois meses e
precipitações são superiores a 750 mm deficiência hídrica de 650 a 750 mm du-
anuais, atingindo 1800 mm. Este tipo rante seis meses.

Figura 1. Mapa de clima de Mato Grosso do Sul, escala 1:5.000.000 (modificado de IBGE,
2002).
7

Barreiras Quebra-
Ventos
Onde Uh é a velocidade do vento no
As barreiras quebra-ventos, como
topo da barreira, h a altura da barreira, x a
faixas de árvores, utilizadas nas pro-
distância à barreira, z a altura referente ao
priedades rurais são úteis em diversas solo, z0 coeficiente de rugosidade da su-
situações, desde proteção de estruturas perfície do terreno, f a porosidade da bar-
até como diminuir a evapotranspiração reira e L uma medida de estabilidade da
das pastagens, deixando-as mais apete- atmosfera (comprimento Monin-Obukhov).
cíveis durante o período seco. Podemos ver mais facilmente o efeito
A velocidade do vento a uma determi- dos tipos de barreiras na velocidade do
nada altura (U) depende de um conjunto vento através do desenho esquemático
na Figura 2, modificado de Naegeli (1953).
de fatores conforme a expressão:

Figura 2. Velocidade do vento a diferentes distâncias de uma barreira quebra-ventos e efeito


da densidade da barreira. Velocidade do vento em percentagem da velocidade inicial antes de
alcançar a cortina: distância da barreira em múltiplos da sua altura (H). Densidade da barreira:
- - - - rala; ----- média, ....... densa, _____ muito densa (modificado de Naegeli, 1953).
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Solos apresenta em comum, normalmente,


baixa fertilidade natural, textura arenosa
Em Mato Grosso do Sul os solos e, principalmente, a intensa influência
foram identificados e caracterizados de exercida pela água, quer pelo transbor-
acordo com variações na fertilidade natu- damento de corpos d’água, quer pela
ral e sob diferentes condições de relevo, elevação do lençol freático à superfície.
erosão, drenagem, vegetação e uso. Na área da Depressão do Pantanal,
Os solos de maior ocorrência no es- ocorrem amplamente os espodossolos,
tado são os latossolos, apresentando-se planossolos e gleissolos. Na região peri-
normalmente com textura média a muito férica à Depressão, ocorrem vários tipos
argilosa e com caráter álico. Ocupam de solos, como os planossolos nátricos,
basicamente a Bacia do Paraná, estan- localizados a sudoeste do estado, mar-
do amplamente distribuídos na porção geando em ampla faixa o Rio Paraguai,
central do estado, estendendo-se ao desde Corumbá até Porto Murtinho, os
sul e nordeste, apresentam grande va- neossolos regolíticos e os chernossolos
riação entre as diferentes classes, das rêndzicos. Ocorrem ainda, os chernos-
quais os latossolos vermelhos são os de solos argilúvicos junto às Morrarias e os
maior expressividade (23,4%), seguidos vertissolos, em manchas de dimensões
dos latossolos vermelhos perférricos significativas localizadas próximas a
(10,8%), que se concentram na região Corumbá.
da Grande Dourados, e, finalmente, os Em menor proporção, mas ainda com
latossolos vermelho-amarelos (0,5%). ocorrência significativa, encontram-se
Na porção centro-oeste do estado, na Bacia do Paraná os argissolos, con-
verifica-se a ocorrência disseminada centrando-se na região sul do estado, e
dos neossolos quartzarênicos órticos, de forma menos expressiva margeando
que compreendem solos de textura cursos d’água, afluentes do rio Paraná.
areia ou areia franca, bem drenados e Na região nordeste e às margens do rio
com baixa fertilidade natural, encontra- Paraná, em faixa de largura variável,
dos também margeando as Serras de são encontrados neossolos flúvicos,
Aquidauana, de Maracaju e do Pantanal, gleissolos, e solos com horizonte super-
e correspondem, juntamente com os ne- ficial orgânico, dentre outros.
ossolos quartzarênicos hidromórficos, à
segunda classe de maior expressividade Orientações gerais
no estado (17,2%).
Especificamente na Bacia do Atualmente existem muitas empresas
Paraguai, tem-se a ocorrência de solos do setor florestal que oferecem serviços
hidromórficos diversos, com carac- de florestamento e/ou reflorestamento
terísticas distintas e que, no entanto, que estabelecem parcerias com o pro-
dutor rural pecuarista. Fornecem toda a
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experiência adquirida e maquinário para


a implantação de faixas de eucalipto
Adubação e calagem
paralelas as cercas, com toda a capa- Como recomendação de plantios de
cidade para formar um bom plantio de eucalipto em faixa nos aceiros, parale-
quebra-ventos. lamente as cercas, faz-se necessário à
Os produtores podem também recor- adubação das mesmas para a obtenção
rer as publicações referentes ao manejo de um maior êxito na sobrevivência e
de eucalipto em propriedades rurais em rápido crescimento das mudas.
Higa et al. (2000), Wilcken et al. (2008), A quantidade de adubo depende do
Santarosa et al. (2014). tipo e nível de fertilidade do solo. De um
Abaixo repassamos, de forma geral, modo em geral, aplicam-se:
algumas orientações para o produtor, • de 25 a 50 g de Nitrogênio por
sobre as etapas de implantação, manejo planta, menores dosagens para
e aproveitamento da madeira das faixas maiores teores de matéria orgâ-
de quebra-ventos. nica no solo;
A quantidade de faixas, ou linhas, de • de 50 a 100 g de fósforo (P2O5)
eucalipto varia de acordo com o tama- por planta, de acordo com a tex-
nho dos piquetes e com o interesse do tura do solo, maiores teores para
produtor em possuir uma reserva maior solos mais argilosos;
ou menor de madeiras. E de acordo com
a destinação dessas. • de 20 a 40 g de potássio (K2O)
por planta, conforme o teor do
A orientação geral é que os piquetes elemento do solo. Recomenda-
devem possuir curvas de nível para se que o nitrogênio e o potássio
evitar erosão laminar. Se for o interesse sejam aplicados em duas etapas,
do produtor, no primeiro ano, o piquete metade na época do plantio (iní-
onde serão implantadas as faixas de cio das chuvas) e o restante no
árvores nas bordas dos piquetes, pode final do período chuvoso.
ser realizado o plantio de uma cultura
anual como, por exemplo, milho, sorgo, Na época do plantio aplicam-se, tam-
soja, etc. Deste modo, as árvores não bém micronutrientes, principalmente, boro
sofrerão com o efeito mecânico da pre- e zinco, sob a forma de fritas (“fritas” ou
sença de bovinos adultos. Outras duas FTE - Fritted Trace Elements), na dosagem
alternativas, caso não ocorra o plantio de 30 g por planta de FTE BR-8 ou BR-12.
de uma cultura anual, são o isolamento A calagem não é obrigatória, mas pode
das faixas de árvores com cerca provi- ser utilizada nas plantações de eucaliptos
sória ou cerca elétrica. E a segunda é para correção de acidez e, principalmente,
quando da implantação e/ou renovação para repor o cálcio em áreas de pastagens
das pastagens do piquete em questão. antigas. Nas áreas com solos calcários não
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é necessária essa prática como, por exem- eucalipto que são faixas paralelas às
plo, na região da Serra da Bodoquena e na cercas dentro dos piquetes. O espaça-
região do município de Corumbá. Nos solos mento aqui sugerido é o de 3,0 m x 2,0
de baixa fertilidade recomendam-se aplicar m, que equivale a 1.666 árvores/ha.
1.500 a 2.500 kg de calcário dolomítico dis-
O primeiro desenho de espaçamento
tribuído a lanço na área total ou aplicados
que sugerimos é o formato quadrangular
em faixas de 1,0 a 1,5 m de largura sobre
(Figura 3A). Neste esquema as árvores
as linhas de plantio. Aconselha-se realizar
são plantadas a distâncias fixas. O cál-
a aplicação do calcário, aproximadamente,
culo do número de árvores é dado pela
45 dias antes do plantio.
seguinte fórmula:

Combate a formigas
Antes do plantio do eucalipto nas Onde, S é o tamanho da área a ser
covas, deve-se realizar um combate as plantada, L são os lados do quadrado.
formigas existentes na área. Formigas Por exemplo, nossa Área (S) tem 1 ha e
cortadeiras ou saúvas (gêneros Atta e o espaçamento é de 3 m x 2 m. O núme-
Acromyrmex) são extremamente preju- ro de árvores será de 10.000 m2 / 6 m2,
diciais para as florestas. Após a limpeza ou seja 1.666 árvores ha-1.
do terreno, e antes de se revolver a terra,
consegue-se maior facilidade de localiza- O segundo desenho de espaçamen-
ção dos formigueiros e maior eficiência na to sugerido é o formato triangular (Figura
sua eliminação. Entretanto, o combate às 3B). Este desenho de plantio permite
formigas cortadeiras deve ser estendido uma barreira de vento mais fechada
até a exploração final do povoamento. que o esquema anterior. O cálculo do
Recomenda-se o uso de iscas granuladas, número de árvores é dado pela seguinte
em razão da sua maior facilidade de ma- fórmula a seguir:
nuseio, do maior rendimento operacional
em áreas limpas e da baixa toxicidade ao
ambiente. Em períodos chuvosos, as is-
cas devem ser colocadas em embalagens
impermeáveis (porta-iscas), distribuídas Onde h é a altura do triângulo:
sistematicamente em toda área em que o
combate é necessário.

Espaçamento
Aqui propomos localizações especí-
ficas para a localização das árvores de h = 2,598
11

Onde S é o número de árvores, L1 é anos. E, para madeira serrada a partir


o lado 1, ou altura do triângulo, e L2 é o de 12 anos. O corte para aproveitamen-
lado 2, ou a base do triângulo. Por exem- to da madeira deverá ser realizado no
plo, nossa área de plantio S tem 1 ha, e o final do período de seca devido à rebro-
espaçamento é de 3 m x 2 m. O número tação. Os eucaliptos, em geral, tem uma
de árvores será de 641 árvores ha-1. capacidade boa de rebrota. Deve-se
aguardar até o ano seguinte para esco-
lher os dois brotos mais vigorosos para
a continuidade da barreira quebra-vento.

Tratos Silviculturais Estratégia de


uso de barreiras
Na fase inicial é muito importante o
combate a plantas invasoras devido a quebra-ventos
mato-competição. Deve ser feita uma lim-
peza, capina e roçadas, no primeiro ano. O produtor pode utilizar de diversas
A capina pode ser mecânica ou química. estratégias na utilização de eucaliptos
como barreira quebra-ventos. Aqui cita-
Corte mos duas, que podem ser aplicadas tan-
to para o esquema quadrangular quanto
para o triangular, a seguir:
O aproveitamento da madeira depen-
de para qual outro objetivo foi planejado. • linha de árvores permanentes:
Para produção de energia, através da nesta o produtor não faz o corte
lenha e carvão, ocorre entre seis e oito

Figura 3. Visão esquemática de plantios de árvores para a formação de faixas quebra-ventos:


A. formato quadrangular. B. formato triangular..
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da fileira de árvores mais próxima imediato dessa grande retirada de árvores


da linha da cerca. Deste modo nativas, dentre outras consequências, é a
esta funcionará como barreira escassez de madeira para os mais diver-
permanente, sendo que as de- sos fins nas propriedades rurais.
mais fileiras podem ser aprovei-
tadas a madeira de acordo com Os resultados obtidos por Miranda et
as necessidades da propriedade. al. (2018) com base nas informações dos
imóveis inscritos no Cadastro Ambiental
• utilização a partir das faixas Rural (CAR) de Mato Grosso do Sul, até
mais externas utilizando a linha janeiro de 2018, mostram que o estado
da cerca como referência mais tem o registro 35.478 mil propriedades
interna. Desse modo o produtor rurais. E, segundo essas informações do
pode ir cortando as linhas de CAR, nessas propriedades a vegetação
árvores mais distantes da cerca nativa somam 11.127.933 hectares. Vale
na medida em que vai plantan- lembrar que essa vegetação nativa não
do novas mudas e/ou deixando é somente floresta, mas incluem todas
os rebrotes (selecionando dois as fitofisionomias dos biomas Cerrado,
por tronco) se desenvolverem. Mata Atlântica e Pantanal.
Desse modo, sempre teremos
faixas de árvores exercendo a Juntamente com a implantação de
função de quebra-ventos. barreiras quebra-ventos, faz-se neces-
sário o bom manejo do solo da proprie-
dade, como a implantação de curvas
Considerações finais de nível para evitar a erosão laminar e
aumentar a infiltração de água no solo.
A implantação de quebra-ventos é Assim, as faixas de eucalipto, paralelas
uma alternativa para resolução de cria- às cercas, auxiliam num efeito sinérgico
ção de barreiras físicas para a proteção a manutenção da umidade do solo nos
de pastagens e outras culturas, em mé- piquetes por um tempo maior.
dio prazo, por meio do uso de eucalipto,
devido ao seu rápido crescimento e fácil Em áreas que passam por perío-
manejo. Esta árvore também pode ser dos severos de seca já se encontra
uma das alternativas para o aumento da disponível clones como o híbrido de E.
fonte de renda nas propriedades rurais. urophyilla x E. grandis (urograndis), que
representam cerca de 10 % do total da
Devido ao desmatamento das áreas área comercial plantada no Brasil e têm
com vegetação nativa no processo de aumentado nos últimos anos, principal-
ocupação do estado de Mato Grosso do mente como florestas clonais.
Sul, em 1996 restavam 5.696.700 ha com
mata nativa (IBGE, 2007). Um resultado As barreiras de árvores permitem
melhorar o clima nas áreas de pastagens
13

ao reduzir a velocidade do vento, agir BRANCO, E. F. Técnicas de plantio de eucalipto.


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