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COACHING E

CARREIRA

Ana Clara Aparecida Alves de Souza


Introdução ao coaching
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar coaching.
 Reconhecer os antecedentes históricos do coaching, da Idade Média
à contemporaneidade, e a evolução da sua base teórica.
 Identificar as características fundamentais de um coach.

Introdução
O coaching, como prática de assessoramento, vem sendo difundido de
maneira exponencial em alguns países, incluindo o Brasil. Apesar de esse
termo ter alcançado bastante popularidade, inclusive tendo sido men-
cionado em uma novela de horário nobre no Brasil, muitas pessoas não
entendem o que é o coaching. A confusão sobre o termo se dá também
pela ausência de diretrizes, regulamentações e legislações claras, que
determinem como essa atividade vai se configurar, quais são os seus
pressupostos fundamentais e quem pode exercê-la.
Dessa forma, no processo de configuração conceitual do coaching,
alguns autores fazem reflexões sobre o seu formato enquanto metodo-
logia e sobre os elementos indispensáveis à prática. Algumas organiza-
ções que oferecem formações em coaching também participam desse
processo de conceituação. As características fundamentais de um coach
se desenvolvem na busca pelas melhores práticas e pela postura mais
adequada no exercício dessa atividade.
Neste capítulo, você vai estudar os fundamentos da conceituação de
coaching, verificando a origem do termo e seus antecedentes históricos
e teóricos. Você também vai identificar as características fundamentais
do profissional coach, possibilitando o melhor entendimento sobre a
prática do coaching.
2 Introdução ao coaching

Conceito de coaching
O coaching é uma metodologia que pode ser conceitualizada de diferentes ma-
neiras, conforme a abordagem que se dá. Entretanto, alguns elementos serão
recorrentes e fundamentais nesse processo de conceituação. Pode-se compreender
que coaching diz respeito a uma forma de estabelecer relações de potenciali-
zação, por meio das quais o coach — profissional que vai conduzir as sessões
— estimula o coachee — pessoa que contratou o serviço — a realizar profundas
reflexões, por meio das quais serão definidos objetivos, bem como as estratégias
para alcançá-los. O coaching se relaciona a um estilo de vida por meio do qual
se buscam caminhos novos ou renovados, que levem ao alcance de objetivos;
nesse processo, também se busca alcançar o autoconhecimento, conforme
leciona Whitmore (2012).
Conceituar coaching não consiste em apresentar uma sentença ou frase
pronta, fechada e inquestionável. Essa conceituação deve ter como premissa a
compreensão dos fundamentos e das particularidades da prática de coaching,
que a diferenciarão de práticas como mentoring, aconselhamento, consultoria,
entre outras.
Timothy Gallwey, um famoso treinador de golfe, foi um dos pioneiros na
adoção de técnicas diferenciadas de instrução, potencializando a consciência
e a responsabilidade de seus treinados por meio do “jogo interno”. As técnicas
incorporadas por Gallwey serviram de inspiração para que Whitmore (2012),
referência na teorização do coaching, pudesse desenvolver aspectos dessa prática
associados ao ambiente organizacional, levando em consideração elementos
significativos, como a representatividade do “significado” e do “propósito”.
Para além de um serviço, o coaching diz respeito a um estilo de vida adotado
pelo coach, que permite que ele estimule no coachee a adoção de um estilo de
vida que proporciona empoderamento. Esse empoderamento se dá por meio do
exercício de questionamentos efetivos e da identificação de informações potentes
e úteis, que levem ao alcance de objetivos.
No sentido de ilustrar como ocorre essa relação de estímulo do coach para
o coachee, podemos pensar em um objetivo declarado pelo coachee em uma
primeira sessão — por exemplo, “emagrecer”. Ao relatar esse objetivo, o coachee
será estimulado pelo coach a refletir sobre o motivo dessa demanda, como ela
se configurou ao longo do tempo, por que isso é importante, se existiram outros
momentos nos quais o coachee buscou atender a esse objetivo, por que não foi
possível, quais são as metas de perda de peso em volume e tempo e como se
pode começar a buscar isso ao longo da primeira semana após a sessão, por
exemplo. Questiona-se quais são as questões fundamentais que potencializam
Introdução ao coaching 3

esse problema e se o coachee já buscou ajuda de profissionais da área de nutrição


e/ou de outras áreas.
Então, esse processo, sem ser diretivo e sem determinar o que o coachee vai
fazer, mas levando-o à reflexão por meio dos mais diversos questionamentos, vai
desenhando um caminho, identificado pelo próprio coachee e pelas informações
que ele mesmo detém sobre como esse objetivo poderá ser alcançado. Cabe
ao coach potencializar essas reflexões no coachee, para que este esteja mais
consciente e pleno a respeito do seu objetivo e do fato de que ele mesmo guarda
as respostas necessárias.
Nesse processo, outro elemento fundamental do coaching vai se consolidar:
a autoconfiança que o coachee vai resgatar em relação a como agir rumo ao
atendimento de suas demandas. Cada sessão de coaching terá como foco a
busca pela potencialização da consciência e da responsabilidade do coachee; a
segurança deste vai se fortalecer à medida que ele for se sentindo protagonista
da mudança na condição que ele deseja transformar, conforme aponta Whitmore
(2012). Apesar de termos utilizado como exemplo uma demanda pessoal — o
emagrecimento —, o coaching é uma metodologia que pode ser usada para
diversas necessidades, sejam elas pessoais ou profissionais. A duração de cada
sessão e o tempo de assessoramento vão variar conforme os interesses do coachee.

Os resultados do coaching surgem a partir do estabelecimento da relação de suporte


ao coachee, que será estimulado de maneira a encontrar os meios necessários para
alcançar o seu objetivo, melhorando a sua performance e focando no seu potencial.
O coach não busca uma posição diretiva, pois compreende que coaching não se
trata de ensinar alguém, mas de ajudar alguém a aprender a partir de si, por meio de
estímulos, conforme aponta Whitmore (2012).

O coaching não se baseia na transmissão de conhecimentos, mas no estí-


mulo ao desempenho psicológico do coachee. É preciso que ambos, coach
e coachee, tenham essa noção clara, para compreender como o processo de
assessoramento deverá ocorrer. Apesar de sua contribuição ao desempenho
psicológico do coachee, a prática de coaching não deve ser vista como uma
substituta da psicologia, mas, sim, como um meio de contribuir para a refle-
xividade do coachee. O profissional coach deve ser sensível e responsável,
4 Introdução ao coaching

identificando quando o coachee necessita do auxílio de outro profissional


para a resolução de problemas.
A contribuição do coaching para o desenvolvimento do potencial do coachee
somente se dará por meio da adoção de práticas a longo prazo. Tais práticas
devem se tornar parte da percepção de mundo do coachee e ser internalizadas
como naturais à sua vivência, conforme sugere Whitmore (2012).
Fundamentalmente, o coaching consiste na reconfiguração de relaciona-
mentos e linguagens. Na perspectiva organizacional, o coaching busca um
processo de transformação no estilo de gestão, que não cause prejuízo, por
estimular a consciência, o empoderamento e a reflexão de colaboradores, mas
que fortaleça o potencial e a responsabilidade dos membros da organização.
Esses atributos tendem a ficar adormecidos nos processos convencionais de
orientação e treinamento.
No contexto organizacional, o coaching pode ser mobilizado para o aten-
dimento de uma diversidade de interesses, como:

 motivação individual e de equipe;


 delegação de responsabilidades;
 resolução de problemas;
 questões de relacionamento;
 construção de equipes;
 avaliações;
 desempenho de tarefas;
 planejamento e revisão;
 desenvolvimento de grupos; e
 trabalho em equipe.

Dois elementos são essenciais para a compreensão dos fundamentos do


coaching, conforme aponta Whitmore (2012):

 Primeiro, a consciência, que abrange a atenção, a concentração e a


clareza. Considerando esse elemento, o coachee é capaz de captar de
forma mais eficiente o que está acontecendo ao seu redor. Ainda, por
meio da autoconsciência, ele pode perceber de forma mais clara o que
está experienciando em cada situação.
 O segundo elemento é a responsabilidade. Nessa perspectiva, quando os
pensamentos e as ações são apreendidos, assume-se a responsabilidade,
e, assim, o comprometimento aumenta, bem como a performance.
Introdução ao coaching 5

Destacadas essas características que fundamentam o coaching, vale


ressaltar as definições dessa prática elaboradas por alguns autores, listadas
no Quadro 1.

Quadro 1. Definições de coaching

Autor Definição

Parsloe “O coaching é diretamente relacionado com o aprimora-


(1995, p. 18) mento imediato de desempenho e o desenvolvimento de
habilidades, através de uma forma de tutorial ou instrução”.

Whitmore “Coaching é o desbloqueio do potencial de um indivíduo


(1992, p. 8) de forma a maximizar seu desempenho. É ajudar o outro a
aprender ao invés de ensiná-lo”.

Stober & Parry “Coaching é um processo colaborativo que visa facilitar


(2005, p. 13) a habilidade de um cliente para autodirigir seu aprendi-
zado e crescimento, sendo evidenciado por mudanças
significativas na autocompreensão, no autoconceito e
comportamento”.

Grant “Coaching pode ser compreendido como uma metodo-


(2005, p. 4) logia genética usada para aprimorar as habilidades e o
desempenho, assim como o desenvolvimento de indiví-
duos. É um processo sistematizado no qual indivíduos são
ajudados a explorar seus problemas, estabelecer metas,
desenvolver planos de ação e agir, monitorar e avaliar seu
desempenho de forma a melhor alcançar suas metas”.

Milaré & “A essência do coaching é ajudar o indivíduo a resolver seus


Yoshida problemas e a transformar o que aprendeu em resultados
(2007, p. 88) positivos para si e para a equipe a qual lidera”.

Cox, Bachkirova “O coaching é um processo de desenvolvimento humano


& Clutterbuck que envolve o uso de interações estruturadas e focadas
(2014, p. 1) e de estratégias, ferramentas e técnicas apropriadas para
promover mudanças desejáveis e sustentáveis, visando
o benefício do indivíduo e, potencialmente, de outros
stakeholders”.

Fonte: Adaptado de Silva et al. (2018).


6 Introdução ao coaching

Ao realizar buscas na internet sobre coaching, surgirá uma infinidade de informações,


o que pode acabar confundindo o leitor. Dessa forma, as reflexões apresentadas
neste capítulo podem contribuir para a criação de filtros, que permitam ao leitor
identificar fontes confiáveis de informação. A banalização do termo coaching levou
ao aparecimento de apropriações não confiáveis do termo e à consequente oferta de
produtos e serviços não recomendados. Fique atento!

Antecedentes do coaching
Há diversas hipóteses sobre a origem do termo coaching. Uma dessas hipó-
teses associa o termo coach à palavra carruagem, veículo que passou a ser
utilizado na Europa por volta do século XV. Em português, emprega-se o
termo cocheiro para designar a pessoa que conduz ou guia a carruagem. Uma
segunda hipótese relaciona o termo coach ao esporte, já que esse termo, em
inglês, também significa técnico ou treinador, isto é, aquele que vai conduzir
os seus treinados ao alcance de um objetivo.
No processo de compreensão da origem do termo, pode-se entender o coa-
ching como uma metodologia por meio da qual o coach vai orientar o coachee,
utilizando diferentes técnicas, conforme lecionam Whitmore (2012) e Silva et
al. (2018). Partindo dessa associação com o treinamento, nos esportes, para
se chegar à noção contemporânea de facilitação, no ambiente organizacional,
o coaching passou por um processo de configuração. A prática manteve a
ideia original de direcionamento, mas passou a destacar, de maneira mais
assertiva, um estímulo ao desenvolvimento pessoal do indivíduo, por meio
da promoção da reflexividade do coachee.
A noção contemporânea de coaching não possui uma definição clara, con-
forme destacado anteriormente. Isso porque, atualmente, há uma proliferação
de formações em coaching e um aumento contínuo no número de pessoas que
se declaram profissionais dessa área. Muitos indivíduos oferecem classificações
diversas e autorais do que vem a ser a atividade de coaching, promovendo-as
por meio de canais na internet. Em meio a essa diversidade de informações,
muitas vezes errôneas, os acadêmicos buscam melhor compreender a temática
e filtrar as informações propagadas nos diversos meios.
Além das dificuldades em definir as origens e conceituar de forma objetiva
a prática de coaching, há ainda a indefinição quanto às práticas, às habilidades,
Introdução ao coaching 7

às características e aos objetivos do profissional dessa área. Muitas técnicas,


modelos e ferramentas são incorporados à prática do coaching, que passa a
assumir diferentes formas, no que tange à sua metodologia.

Fundamentos teóricos do coaching


Ao origens do coaching enquanto método disciplinar, tal qual se conhece hoje,
remetem ao diálogo com diferentes disciplinas, como filosofia, psicologia, ad-
ministração, sociologia, entre outras, no processo de construção desse conceito,
que segue em constante definição. Assim, são diversos os esforços e as classi-
ficações que buscam conceituar o termo coaching. O Quadro 2 traz diferentes
abordagens dessa prática, com base na síntese elaborada por Silva et al. (2018).

Quadro 2. Conceituações do termo coaching

Abordagem Essência do coaching

“O coaching é, acima de tudo, sobre crescimento


Humanista
e mudança do humano”. (Stober, 2006, p. 17)

Abordagem baseada nos três princípios da condição


humana: necessidade de relacionamento, incerteza
Existencial e ansiedade existencial. Seu foco é primariamente na
exploração descritiva da visão de mundo do indivíduo,
considerando suas preocupações atuais (Spinelli, 2014)

O coaching ontológico consiste em uma forma de


trabalho com indivíduos, baseada no engajamento
Ontológica
de três esferas da existência humana: linguagem,
emoções e fisiologia (postural corporal) (Sieller, 2014).

Nessa perspectiva, o coaching visa a aprimorar


a conscientização da dimensão transpessoal
Transpessoal da vida e facilitar a experiência de se conectar
com os outros, de forma a gerar sentimentos
de alegria e completude (Rowan, 2014).

Abordagem interacional baseada em diversas noções,


Análise
tais como os estados do ego, os roteiros de vida e os
transacional
padrões interacionais (Napper & Newton, 2014).

“O propósito do coaching é a mudança de


Comportamental
comportamento”. (Peterson, 2006, p. 51)

(Continua)
8 Introdução ao coaching

(Continuação)

Quadro 2. Conceituações do termo coaching

Abordagem Essência do coaching

Desenvolvimento Coaching é sobre ajudar clientes a


adulto amadurecerem (Ives, 2008).

O coaching é, principalmente, sobre o desenvolvimento


Cognitivismo
de pensamentos adaptativos (Ives, 2008).

Orientação “Coaching é um processo orientado para


para metas metas e soluções”. (Grant, 2006, p. 156)

“Desviar a atenção do que causa dor para


Psicologia
o que energiza e impulsiona as pessoas a
positiva
seguirem adiante”. (Kauffman, 2006, p. 220)

Fonte: Adaptado de Silva et al. (2018).

As abordagens apresentadas no Quadro 2 não esgotam as possibilidades de


conceituação teórica do coaching, conforme apontam Silva et al. (2018). Na ver-
dade, diversos esforços têm sido realizados em diferentes áreas para classificar
essa atividade e melhor compreendê-la. Entretanto, é fundamental que o leitor
que está explorando o tema busque identificar, nas amplas classificações, os
elementos comuns — como a ideia fundamental de que é por meio do auxílio
e do assessoramento do coach que o coachee vai encontrar em si o suporte e
as informações necessárias à busca pelo seu objetivo. Fica evidenciado nessas
classificações que deve ser buscado pelo coach a potencialização do coachee,
no que diz respeito ao seu pensamento, desenvolvimento e reflexividade.
A consciência, a mudança de comportamento e a reconfiguração de pensa-
mentos e práticas perpassam todos esses esforços classificatórios — é nesses
elementos centrais que o coaching se configura em essência.

Para saber mais sobre como vem sendo construída a noção de coaching, ao buscar
o termo definições de coaching na internet, é possível ter uma noção de como as
empresas que oferecem formações buscam classificar essa atividade. Se for acrescentada
Introdução ao coaching 9

à busca a palavra Scielo (“definições de coaching Scielo”), é possível identificar artigos


acadêmicos que fazem o esforço de definir e contextualizar essa prática. Isso permitirá
ao leitor ampliar a noção de coaching para além deste capítulo e compreender o
quanto esse tema vem sendo explorado e debatido.

Características fundamentais de um coach


Os ambientes sociais em constante mudança têm levado as pessoas e as orga-
nizações a buscarem novos sentidos e formas de executar práticas tidas como
consolidadas e, muitas vezes, inquestionadas. Nesse processo de reconfiguração
e adequação de práticas a essas mudanças ambientais sistemáticas, o coaching
tem conquistado espaço ao propor mudanças significativas em questões fun-
damentais, como a forma por meio da qual as pessoas refletem e questionam
as suas práticas. Afinal, ao longo do tempo, deixou-se de fazer perguntas
fundamentais, que antes possibilitavam a compreensão das inquietações e
dos contextos nos quais os indivíduos se inserem.
Nesse sentido, pensar nas características fundamentais de um coach é
associar as habilidades desse profissional a elementos essenciais nos processos
de autoconhecimento e tomada de consciência e responsabilidade, conforme
aponta Whitmore (2012). O treinamento e a formação em coaching, de forma
isolada, não serão capazes de garantir que o profissional tenha aquilo que se
apresenta como seminal para a prática dessa atividade. Algumas das caracte-
rísticas fundamentais de um coach podem ser elencadas; entretanto, deve-se
considerar que outras diversas podem se somar, no sentido de atender às
questões fundamentais da prática do coaching.
O profissional coach deve ser alguém com bom autoconhecimento e ge-
renciamento de si, no sentido de poder, na troca com o coachee, potencializar
estímulos que o levem a também alcançar essas habilidades. O coach deve
ser alguém capaz de estabelecer uma boa comunicação e um bom suporte ao
relacionamento com a pessoa que vai assessorar. Esses elementos permitem
que se conquiste maior confiança; assim, as reflexões e informações oriundas
do coachee podem se intensificar. A capacidade de dar suporte a alguém é
fundamental ao coach, dado que, no processo de descobertas do coachee e na
execução das estratégias — definidas como caminhos aos objetivos —, será
necessário acompanhar de maneira atenta e garantir os ajustes necessários ao
processo, conforme aponta Whitmore (2012).
10 Introdução ao coaching

Ter paciência e ser um bom ouvinte são atributos que permitirão ao coach
ter a capacidade de acalmar o coachee, especialmente em momentos em que
surge a pressa para atingir algum objetivo. Nessas horas, o coachee deve
estar consciente e sereno quanto às etapas, às ações e ao tempo necessário. Na
manifestação de suas urgências, o coachee necessitará que o coach seja capaz
de ouvi-lo e de potencializar a sua fala ao interagir, e não apenas silenciar ou
concordar de maneira monossilábica com os seus relatos.
Os interesses do coachee devem ser respeitados pelo coach, e suas infor-
mações devem ser norteadoras das sessões e das decisões que venham a ser
tomadas em conjunto. O coach deve evocar no coachee criatividade e inovação,
para este pensar sobre as questões apresentadas. O respeito à diversidade é
também uma característica fundamental do coach, além da flexibilidade e da
capacidade de evitar ser assertivo e diretivo em suas orientações ao coachee.
O coach não precisa ser obrigatoriamente alguém da área em que o coachee
necessita de auxílio, mas deve ter uma noção geral, baseada na dedicação
e no estudo de variadas fontes, buscando compreender como se configura
o contexto da atuação do coachee, conforme sugere Whitmore (2012). Se
a orientação desejada é relacionada ao universo esportivo, por exemplo, é
fundamental que o coach busque informações para melhor compreender o
esporte praticado pelo coachee. Se a orientação é sobre uma carreira de alto
executivo em uma multinacional, por exemplo, o coach deverá se situar sobre
a configuração desse universo.
O coach deve atuar como um elevador de consciência do coachee, con-
forme leciona Whitmore (2012). Por isso, ele não precisa ter formação na área
atendida, mas necessitará de um conhecimento, adquirido em formação, a
respeito de como conduzir essa elevação de consciência. Se o coach não acredita
plenamente naquilo que defende, o coaching não deverá ser a sua atividade
profissional. É claro que ter uma formação na área a que o coachee deseja se
dedicar não é um fator prejudicial ao coach; tal formação poderá ajudar ou
prejudicar, dependendo da forma como esse conhecimento for abordado pelo
coach em sua relação com o coachee. O importante, acima de tudo, é que o
protagonismo e a responsabilidade do coachee sejam potencializados.
Nesse sentido, Batista e Cançado (2017), ao realizarem uma pesquisa
sobre as competências do coach, a partir da percepção de coaches no Brasil,
destacaram 14 competências fundamentais a esses profissionais, relacionadas
a conhecimentos (C), habilidades (H) e atitudes (A), conforme apresentado
no Quadro 3.
Introdução ao coaching 11

Quadro 3. Competências requeridas para o exercício da profissão coach

Ordem Competências CHA

Manter a confidencialidade de informações e dados da


1 H
atividade de coaching, para garantir um trabalho ético.

Exercitar a escuta ativa, para identificar as necessidades do


2 H
cliente.

3 Comunicar-se com o cliente de forma clara e objetiva. H

Criar empatia com o cliente, para estabelecer aliança


4 H
profissional.

Promover a autoanálise (conhecer suas próprias forças


5 e fraquezas), para avaliar os resultados do seu próprio A
trabalho.

Auxiliar o cliente a adquirir clareza sobre suas próprias


6 A
motivações, aspirações e compromissos com a mudança.

Auxiliar o cliente na análise de suas respostas inte-


7 lectuais, emocionais e profissionais, para promover o A
autodesenvolvimento.

Comprometer-se com os objetivos do cliente/organização,


8 A
a fim de alcançar as expectativas e os resultados.

Estabelecer processos de aprendizagem contínua para


9 C
aprimoramento do desempenho do cliente.

Auxiliar o cliente a lidar com incertezas e ambiguidades,


10 preparando-o para enfrentar mudanças, contratempos e A
eventualidades.

Auxiliar o cliente a alinhar suas metas de desempenho


11 C
individual às metas da organização.

Transmitir uma visão de mundo ampla e global, para


12 C
estimular a capacidade de reflexão do cliente.

Diagnosticar o funcionamento da organização (papel e


expertise de cada unidade da organização), para auxiliar o
13 C
cliente a trabalhar de forma integrada, para potencializar
os resultados organizacionais.

Acompanhar as tendências de mercado, para auxiliar o


14 C
cliente a lidar com situações novas e inusitadas.

Fonte: Adaptado de Batista e Cançado (2017).


12 Introdução ao coaching

Além dessas características, Weiss (2012) destaca também como característi-


cas do coach a escuta habilidosa e sensível, a capacidade de comunicação sensível
e franca e a perspicácia de observador do comportamento. Ressalta ainda que o
coach deve ter habilidades mínimas de consultoria e conhecimento organiza-
cional, não tendo, necessariamente, que ser um consultor. O comportamento do
coach deve combinar paciência, capacidade de persuasão e confidencialidade.

Visando ao melhor entendimento de como o coaching e a atividade do coach têm sido


banalizados, os artigos disponíveis nos links a seguir apresentam reflexões e alertas
relacionados ao tema.

https://qrgo.page.link/3nbmq

https://qrgo.page.link/xX7Mj

Características negativas no exercício do coaching


As características dispensáveis na atividade de coaching são justamente aquelas
opostas às características fundamentais. Nesse sentido, um profissional coach
não deve ser alguém que trabalha a partir de imposições e certezas inquestio-
náveis, pois, dessa forma, não permitirá o espaço necessário ao coachee para
a identificação de suas próprias respostas e caminhos.
O coach também não deverá ser alguém que traça um plano de ação para
o coachee a partir das suas próprias convicções ou daquilo que, em algum
momento, funcionou na sua experiência pessoal. Ele deve compreender o
contexto do coachee, desde a sua personalidade até o seu histórico pessoal e
as suas vivências acumuladas. Não é papel do coach traçar receitas milagrosas
para o coachee, considerando que há uma grande probabilidade de elas não
se adequarem a realidades diferentes.
Uma pessoa pouco empática não será um bom coach; é necessário sis-
tematicamente se colocar no lugar no coachee, para compreender a fundo
suas angústias e os sofrimentos associados à demanda apresentada. Nesse
exercício, será possível captar questões elementares para a compreensão do
objetivo declarado.
Introdução ao coaching 13

O coach não deve ser uma pessoa convicta de que sabe tudo e que o seu
papel é apenas de ensinamento. Ao contrário, no processo de assessoramento, o
coach, sendo sensível à troca, vai crescer em conjunto com o coachee e apren-
der com essa interação. Sinalizar que estão ambos em construção e evolução
nesse processo é fundamental ao estabelecimento da confiança necessária.
No processo de conhecimento do coachee, o coach deve perceber até onde
a sua expertise pode contribuir para potencializar habilidades e reconhecer
que aquele que tem as informações fundamentais, que serão usadas para traçar
uma estratégia, é o coachee, e não ele próprio. O coach deve se perceber como
um facilitador e estimulador da autoconsciência do coachee.

Para compreender como pode ocorrer uma sessão de coaching, recomenda-se ao


leitor a busca por vídeos na internet, pois, por meio deles, é possível identificar vários
modelos de interação, tanto individuais quanto em grupo.
No link abaixo, temos um exemplo de uma sessão de coaching individual.

https://qrgo.page.link/s9y5m

BATISTA, K.; CANÇADO, V. L. Competências requeridas para a atuação em coaching: a


percepção de profissionais coaches no Brasil. Revista de Gestão, [s. l.], v. 24, n. 1, p. 24-
34, 2017. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rege/article/view/131522. Acesso
em: 24 jun. 2019.
SILVA, L. C. O. et al. Desvendando o coaching: uma revisão sob a ótica da psicologia. Psico-
logia: Ciência e Profissão, [s. l.], v. 38, n. 2, p. 363-377, abr./jun. 2018. Disponível em: http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-98932018000200363&lng=
en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 24 jun. 2019.
WEISS, A. Coach de ouro: como alcançar o sucesso em uma atividade atraente e rentável.
Porto Alegre: Bookman, 2012.
WHITMORE, J. Coaching para aprimorar o desempenho. São Paulo: Clio Editora, 2012.
14 Introdução ao coaching

Leituras recomendadas
COSTA, E. S.; BRUM, V. Coaching e mentoring no processo de gestão de carreira: um
estudo sobre a ferramenta GROW e a sua aplicabilidade no contexto empresarial.
Revista da Carreiras e Pessoas, Porto Alegre, v. 9, n. 1, p. 46-62, jan./abr. 2019. Disponível
em: http://revistas.pucsp.br/ReCaPe/article/view/37233. Acesso em: 24 jun. 2019.
PIMENTA, F. F. A transformação através do processo de coaching. In: SPINK, M. J. P.;
FIGUEIREDO, P.; BRASILINO, J. (org.). Psicologia social e pessoalidade. Rio de Janeiro:
Centro Edelstein de Pesquisas Sociais; ABRAPSO, 2011.

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