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Inferência Estatı́stica: Estimação Pontual

Inferência Estatı́stica: Estimação Pontual

Profª.: Fernanda Clotilde

Aula preparada para turma de Inferência Estatı́stica


do Departamento de Estatı́stica da Universidade Estadual da Paraı́ba.

Campina-Grande
Agosto de 2023

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Inferência Estatı́stica: Estimação Pontual
Estimação Pontual

Estimação Pontual

Objetivo: Obter um valor plausı́vel para θ a partir da amostra.

De forma mais detalhada:


O objetivo da estimação pontual é encontrar um valor plausı́vel para θ
(vetor de parâmetros ou escalar) que indexa a distribuição de X , dada
por f (x, θ).

f (x, θ) possui forma funcional conhecida, porém, depende de θ que é


desconhecido.

Esse valor plausı́vel para θ é obtido com base na amostra observada.

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Inferência Estatı́stica: Estimação Pontual
Estimação Pontual

Definição 1: Seja θ um parâmetro, o conjunto em que θ toma valores é


denominado Espaço Paramétrico, representado por Θ.

Exemplo 1: Sejam X1 , X2 , . . . , Xn uma amostra aleatória da variável


aleatória X ∼ N(µ, σ 2 ), então

(i) se σ 2 = 1, temos que θ = µ é o parâmetro desconhecido e

Θ = {µ, −∞ < µ < ∞};

(ii) se µ = 0, temos que θ = σ 2 é o parâmetro desconhecido e

Θ = {σ 2 , σ 2 > 0};

(iii) se µ e σ 2 são ambos desconhecidos, temos que


θ = (µ, σ 2 ) e

Θ = {(µ, σ 2 ), −∞ < µ < ∞ e σ 2 > 0};

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Estimação Pontual

Definição 2: Um Estimador para θ é qualquer estatı́stica que assuma


valores em Θ.

Observações:
Geralmente, denotamos os estimadores com acento circunflexo:

θ̂ = T (X1 , . . . , Xn ) = T (X ).
e
Um estimador é o que antes chamamos de estatı́stica, porém
associado a um parâmetro populacional.
Ou seja,
se θ̂ é um estimador ⇒ θ̂ é um estatı́stica;
se T (X ) é uma estatı́stica ⇏ T (X ) é um estimador.
e e

Definição 3: Estimativa é o valor assumido pelo estimador θ̂ em uma


particular amostra.

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Estimação Pontual

Exemplo 2: Estamos interessados na média (µ) e na variância (σ 2 ) das


alturas de jovens com idade entre 15 e 18 anos de certa cidade. Vamos
coletar uma amostra para tirar conclusões. Suponha que escolhemos ao
acaso 10 jovens.

Possı́veis estimadores para µ: Possı́veis estimadores para σ 2 :


n
1 X
σ̂12 = S2 = (Xi − X )2 ;
X(n) + X(1) n−1
µ̂1 = ; i=1
2 n
µ̂2 = X1 ; 1X
σ̂22 = (Xi − X )2 ;
n n
1X i=1
µ̂2 = X = Xi .
X(n) − X(1) 2
 
n
i=1 σ̂32 = .
2

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Estimação Pontual

Supondo que dispomos da seguinte amostra observada (em metros):

1, 65 1, 57 1, 72 1, 66 1, 71
1, 74 1, 81 1, 68 1, 60 1, 77

Logo,

As estimativas para µ seriam: As estimativas para σ 2 seriam:

µ̂1 = 1, 69; σ̂12 = 0, 006;


µ̂2 = 1, 65; σ̂22 = 0, 005;
µ̂2 = 1, 69. σ̂32 = 0, 014.

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Propriedades de Um Bom Estimador

Propriedades de Um Bom Estimador

Tendo o interesse de estimar θ ou uma função de θ, digamos g (θ), dese-


jamos sempre encontrar um estimador considerado razoável estes.

Mas como saber o que é razoável neste caso?

Para isso iremos abordar agora as principais propriedades de um bom
estimador!!

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Propriedades de Um Bom Estimador
Estimador Não Viciado

Estimador Não Viciado

Definição 3: Um estimador θ̂ é dito ser não-viciado (ou não-viesado)


para θ se o vı́cio (ou viés)

B(θ̂) = E (θ̂) − θ (1)

for igual a zero, ∀ θ ∈ Θ. Ou seja,

E (θ̂) = θ .

Se limn→∞ B(θ̂) = 0, ∀ θ ∈ Θ, dizemos que o estimador θ̂ é


assintoticamente não-viciado para θ.

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Estimador Não Viciado

Exemplo 3: Seja X1 , . . . , Xn uma amostra aleatória de X ∼ N(µ, σ 2 ). Ou


seja, E (X ) = µ e Var (X ) = σ 2 . Mostre que

X é um estimador não-viciado para µ

e σ̂ 2 é uma estimador viciado viciado para σ 2 .

1
Pn
Sendo σ̂ 2 = n i=1 (Xi − X )2 .

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Estimador Consistente

Consistência

Definição 4: Seja X1 , . . . , Xn uma a.a. da distribuição da variável aleatória


X que depende do parâmetro θ. Dizemos que o estimador θ̂ é consistente
para θ se

lim P(|θ̂ − θ| > ε) = 0, ∀ ε > 0. (2)


n→∞

Esse tipo de convergência é chamada de Convergência em Probabili-


dade.

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Estimador Consistente

Proposição: Um estimador θ̂ de θ é consistente se

lim E (θ̂) = θ e lim Var (θ̂) = 0.


n→∞ n→∞

Exemplo 4: Vimos que S 2 é não-viciado para σ 2 . Mostre que para


X1 , . . . , Xn uma amostra aleatória de X ∼ N(µ, σ 2 ), S 2 também é um
estimador consistente para σ 2 .

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Erro Quadrático Médio

Erro Quadrático Médio

Um dos critérios comumentes utilizados para avaliar o desempenho dos


estimadores é o Erro Quadrático Médio (EQM).

Definição 5: O Erro Quadrático Médio de um estimador θ̂ do parâmetro


θ é dado por

EQM(θ̂) = E [(θ̂ − θ)2 ]. (3)

Temos que

EQM(θ̂) = Var (θ̂) + [B(θ̂)]2 . (4)

No caso em que θ̂ é um estimador não-viciado para θ, temos então


que EQM(θ̂) = Var (θ̂).

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Erro Quadrático Médio

O EQM é comumente empregado na comparação de estimadores.

Dizemos que θ̂1 é melhor que θ̂2 se

EQM(θ̂1 ) ≤ EQM(θ̂2 ),

em pelo menos uma desigualdade estrita ∀ θ.

Assim, se existir um estimador θ̂∗ tal que, ∀ θ̂ de θ com θ̂ ̸= θ̂∗


tivermos
EQM(θ̂∗ ) ≤ EQM(θ̂),
então θ̂∗ é dito ser ótimo para θ.

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Erro Quadrático Médio

Se ambos os estimadores θ̂∗ e θ̂ forem não-viciados então, θ̂∗ é dito


ser o estimador não viciado de variância uniformemente mı́nima se

Var (θ̂∗ ) ≤ Var (θ̂),

com pelo menos uma desigualdade estrita.

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Erro Quadrático Médio

Exemplo 5: Seja X1 , X2 , X3 uma a.a. da variável aleatória X com E (X ) =


θ e Var (X ) = 1. Considere os estimadores

X1 + X2 + X3 1 1 1
θ̂1 = e θ̂2 = X1 + X2 + X3 .
3 2 4 4
A partir do EQM determine qual é o melhor estimador.

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Erro Quadrático Médio

Exemplo 6: Seja X1 , . . . , Xn uma amostra aleatória de X ∼ N(µ, σ 2 ).


Vimos que σ̂ 2 é um estimador viciado para σ 2 , enquanto S 2 é não-viciado
para σ 2 . Compare agora esses estimadores em termos do EQM.

Lembrando que:
n n
1X 1 X
σ̂ 2 = (Xi − X )2 e S2 = (Xi − X )2 .
n n−1
i=1 i=1

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Estimadores Eficientes

Estimadores Eficientes

Veremos agora a noção de estimador eficiente, como sendo aquele que


atinge o limite inferior da variância dos estimadores não-viciados.

Definição 6: Chamamos de Eficiência de um estimador θ̂, não-viciado,


para o parâmetro θ, o quociente

LI (θ)
e(θ̂) = , (5)
Var (θ̂)

em que LI (θ) é o Limite Inferior da Variância dos Estimadores Não-


Viciados de θ.

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Estimadores Eficientes

Temos que e(θ̂) = 1, quando LI (θ) = Var (θ̂).

Ou seja, quando a variância de θ̂ coincide com o limite inferior da variância


dos estimadores não-viciados de θ, dizemos então que θ̂ é eficiente para
estimar θ.

Veremos que
1
LI (θ) =  2  (6)
∂ log f (x,θ)
nE ∂θ

quando certas condições de regularidades estão satisfeitas.

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Estimadores Eficientes

Condições de Regularidades:

As condições de regularidade são basicamente duas:

O suporte da distribuição, ou seja, A(x) = {x, f (x, θ) > 0}


independe de θ.

É possı́vel a troca das ordens das operações de derivação e


integração (somas) sob a distribuição da variável aleatória X .

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Exemplo 7: Seja X1 , . . . , Xn uma amostra aleatória de X ∼ N(µ, σ 2 ), em


que σ 2 é conhecido. Mostre que X é um estimador eficiente para µ.

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Exemplo 8: Seja X1 , . . . , Xn uma amostra aleatória de X ∼ Poisson(λ).


Mostre que X é um estimador eficiente para λ.

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Estimadores Eficientes

∂ log f (x,θ)
Definição 7: A quantidade ∂θ é chamada de Função Escore.

Resultado 1: Sob as condições de regularidade


 
∂ log f (x, θ)
E = 0. (7)
∂θ

Definição 8: A quantidade
" 2 #
∂ log f (x, θ)
IF (θ) = E (8)
∂θ

é denominado de Informação de Fisher de θ.

IF (θ): é a informação esperada que X tem sobre θ.

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Estimadores Eficientes

Como consequência do Resultado 1, temos:


 
∂ log f (x, θ)
IF (θ) = Var . (9)
∂θ

Resultado 2: Sob as condições de regularidade:


" 2 #  2 
∂ log f (x, θ) ∂ log f (x, θ)
E = −E . (10)
∂θ ∂θ2

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Resultado 3: Se X1 , . . . , Xn é uma amostra aleatória da variável aleatória


X com fdp (ou fp) f (x, θ) e informação de Fisher IF (θ), então a In-
formação Total de Fisher de θ (IFn (θ)) correspondente a amostra obser-
vada é a soma das somas das informações de Fisher das n observações da
amostra. Ou seja,

IFn (θ) = nIF (θ). (11)

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Teorema: (Desigualdade da Informação) Quando as condições de regu-


laridade estão satisfeitas, a variância de qualquer estimador não-viciado θ̂
do parâmetro θ satisfaz a desigualdade
1
Var (θ̂) ≥ (12)
nIF (θ)

chamada de Limite Inferior de Cramés-Rao.

É válido salientar que a desigualdade da informação não é um


método de construção de estimadores. Ela apenas possibilita
verificar se determinado estimador é eficiente ou não.

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Teorema: Seja X1 , . . . , Xn uma amostra aleatória da variável aleatória X


com fdp f (x, θ) para a qual as condições de regularidade estão satisfeitas.
Seja γ̂ um estimador não-viciado de g (θ). Então,

[g ′ (θ)]2
Var (γ̂) ≥ . (13)
nIF (θ)

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Exemplo 9: Seja X1 , . . . , Xn uma amostra aleatória de X , variável


aleatória com distribuição Gama de parâmetros α > 0 e β > 0, tal densi-
dade de X é
1 1
f (x, β, α) = x α−1 e − β x , x > 0.
β α Γ(α)

Admita que α é conhecido e que são válidas as condições de regularidades.

(a) Mostre que β̂ = X /α é um estimador não-viciado de β.


(b) Determine LI (β) e LI (g (β)), com g (β) = Var (X ).
(c) β̂ = X /α é um estimador eficiente de β?
(d) β̂ = X /α é um estimador consistente de β?

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