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METODOLOGIA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO

Professor Rafael Damasceno

Nome: Vanessa Pontes de Lima.

PRÉ-ENTREVISTA

A escolha do tema se dá por um projeto de pesquisa no qual eu já escrevi, essa temática


de “mulher na ciência” me atrai bastante por ser pessoal. Quando estudamos ciências no ensino
médio, trabalhamos com inúmeros cientistas homens. Se você parar e relembrar dos momentos
da escola, dos cientistas, vem Isaac Newton, Albert Einstein, Pitágoras, Bhaskara. Todos
personagens importantíssimos, porém a única mulher que alguns se lembram é a Marie Curie.

Isso se dá pela metodologia de ensino? Pela falta de oportunidade fornecida às mulheres?


Pela falta de influência? Pelo machismo estrutural delineado na sociedade? É um assunto que
deve ser discutido para desconstruir e chegar o mais próximo possível de uma sociedade
igualitária.

Com o assunto em mente, eu precisava definir quem seria a pessoa entrevistada. Como se
tratava de representatividade feminina no ensino de química, dei preferência às professoras do
campus, para ter uma visão de uma mulher da ciência. Inclusive as primeiras questões são
arquitetadas para entender como foi a sua relação pessoal com a ciência, o que a influenciou.

Continuando as perguntas, a minha intenção foi acessar a realidade da entrevistada, não


só pela visão da profissão, mas na sua história de vida, desde quando ela era estudante até
agora quando leciona no IFF campus Itaperuna. Então eu tentei traçar uma certa linha do tempo
com as perguntas, onde as últimas são voltadas para a sua realidade profissional.

Com tudo isso em mente, só precisava escolher uma pessoa. Analisando a disponibilidade,
funções e tempo no campus, cheguei a uma candidata que considerei a ideal. A professora
Jessica Rohem Gualberto Creton. Mestre em Ciências da Natureza pela Universidade Estadual
do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, licenciada em Química e bacharel em farmácia. Ela já
desenvolveu projetos de pesquisa e extensão, e atualmente é a coordenadora do Curso Técnico
de Química.

A escolha do local foi de acordo com o dia a dia do laboratório do IFF campus Itaperuna,
pois no laboratório é um local onde os professores de química se sentem à vontade. Inclusive a
entrevista ocorreu após uma aula prática da entrevistada, com a mente introduzida na disciplina
de química. Acredito que isso contribuiu positivamente com a nossa entrevista.

Minha condução na entrevista foi descontraída, como uma conversa comum. Escolhi
seguir dessa forma para a entrevistada ficar totalmente confortável e responder de forma livre e
descontraída, na intenção de obter o máximo de veracidade nas respostas.

ENTREVISTA

Vanessa: Para começar eu queria que você me falasse um pouco da sua história, da sua
caminhada que você teve até chegar nesse cargo que você está agora.

Entrevistado: Acho que a caminhada começa lá no ensino médio quando a gente tem que
decidir né, o curso pra prestar no vestibular. E na época que eu tava no ensino médio eu pensava
em fazer engenharia de petróleo, era um curso que tava em alta, com uma boa disponibilidade no
mercado de trabalho. Só que aí por condições familiares eu não ia conseguir fazer um curso,
porque eu precisaria me mudar pra Campos e não ia ter condições financeiras da minha família
me manter lá. Então eu comecei a perceber que talvez eu precisasse fazer um curso noturno, pra
eu poder ir e voltar no ônibus da cidade ou então trabalhar e estudar. E aí, já que eu queria
engenharia, dentro das opções de licenciatura, eu escolhi fazer química. Só que também nesse
meio tempo eu passei pra uma bolsa pelo Prouni de Farmácia. E aí acabou com os meus pais lá
se esforçaram e conseguiram me manter em Campos pra fazer os dois cursos, eu fazia farmácia
de manhã e a licenciatura em química a noite, mas eu sempre almejei mais seguir a carreira da
docência do que trabalhar em uma farmácia, nunca sonhei em trabalhar dentro de uma farmácia,
mas vi o curso de farmácia como uma forma de crescimento na parte de pesquisa. E aí eu fiz o
curso de licenciatura que eu me identifiquei realmente. Fiz o mestrado e quando eu tava no final
do mestrado prestei concurso do Estado pra professor e o concurso do IFF. O concurso do
Estado me chamou primeiro, eu trabalhei um ano no Estado, de dois mil e doze até dois mil e
treze, e em dois mil e treze o IFF me chamou. Aí eu pedi exoneração no estado e fiquei só com a
vaga do IFF.

V: Nessa sua carreira você tem alguma inspiração? Seja ela familiar, seja ela um um ídolo.
E: Eu nunca acostumei ter alguém específico assim, mas eu sempre costumo observar as
pessoas que estão próximas de mim e às vezes pegar pontos bons nela e falar “ó, vou passar a
seguir isso como fulano faz”, porque eu vejo que isso foi bom na vida dela ou então também
observar pontos negativos e decidir que eu não vou fazer aquilo, mas assim alguém específico
não.

V: Poderia me dizer alguma coisa que te motivou a levar, a fazer as escolhas que você fez e a ter
chegado até aqui, tipo, o que te motiva diariamente?

E: Eu acho que, o que que me motivou, acho que durante a época de escola mesmo a gente vai
se identificando com áreas, né? Exatas, humanas, cada um vai seguindo. Então, pois é, no
quando eu tava no primeiro ano do ensino médio, eu gostava muito de física. Era uma área que
eu queria seguir. Aí quando eu cheguei no terceiro ano é que química deu um estalo na minha
cabeça e eu comecei a entender química, que química antes era só muita decoreba. E aí quando
eu percebi e entendia aqueles conteúdos, aí eu entendi que química era mais legal. Então eu
acho assim que professor sempre tem muita influência, professor, por exemplo, quando faz
aquilo, né? Atua com amor, ele acaba influenciando os alunos. E aí quando a gente pega um
professor numa área que o professor não está disposto a se dedicar, o aluno acaba também não
gostando daquele conteúdo Então é por isso que eu procuro hoje fazer o que eu faço
demonstrando prazer, demonstrando que eu estou satisfeita porque eu realmente estou e pra
poder influenciar as outras pessoas, porque se eu mostrar que eu estou insatisfeita como que a
química vai influenciar, né? Se eu hoje trabalho com licenciatura e eu chegar falando que é chato
dar aula que eu não gosto de dar aula, que num, como que eu vou influenciar positivamente
aqueles futuros professores a exercerem as profissões dele.

V: Quando você ouve o termo “mulher na ciência” qual é a primeira coisa assim que vem na sua
cabeça?

E: Eu acho que igualdade. Eu nunca tive problema com essa questão de mulher. Por exemplo, lá
na minha casa, né? Somos três filhas, então a gente nunca teve assim, nunca vivenciou isso. E
até eu lembro que quando eu fui pra faculdade, que eu fui pra Campos, eu lembro de um senhor
falando assim “Mas o seu pai deixou você ir fazer?” como se fosse um absurdo, eu “uai, deixou,
qual o problema?” né? Aí tipo, aí você aí depois de um tempo que você percebe que talvez assim,
se fosse um homem, num ia ter problema nenhum, mas como era uma mulher saindo de casa pra
estudar. Tem algumas pessoas que acabam, e até hoje eu brinco com meu pai e falo assim “ Pai,
já pensou se você não tivesse deixado suas filhas estudar? Ia tá as três bobonas aí dentro de
casa até hoje”, né? Então, assim, eu nunca vivenciei esse impedimento, nunca vivenciei muito
próximo, “não, é mulher não pode”. Mas assim a gente vê muitos relatos, a gente quando analisa,
né? O salário da mulher é sempre menor e na verdade nós somos iguais Mas assim a gente vê
muitos relatos, a gente quando analisa, né? O salário da mulher é sempre menor e na verdade
nós somos iguais.

V: Entendi. E, como você percebe a presença da mulher cientista na disciplina de química, em


específico aqui na disciplina de química daqui do IFF?

E: Então, eu tenho visto que as mulheres agora estão sendo maioria. Um ponto, no nosso caso
aqui do curso do IFF, eu acho que é pelo fato de ser licenciatura. Ainda tem aquele estigma de
que homem tem que fazer engenharia ou direito ou medicina. Né? Então quando se fala em
licenciatura a gente acaba muito das vezes não tendo Homens que se identificam e não é pelo
fato de ser química e sim pelo termo licenciatura. “Ah, o que que eu vou fazer? Dar aula? Então
eu não quero”. Mas aí o que que a gente vê depois no futuro? Homens que seguiram a área de
engenharia de direito e que acabam atuando como professor. Mesmo que seja na área deles eles
acabam vendo que a profissão professor em alguns poucos casos é uma boa opção.

V: Você poderia me citar quais mulheres cientistas que vêm na sua cabeça nesse exato
momento?

E: Marie Curie, espera aí, deixa eu ver alguma recente? Eu sou ruim pra guardar nome… aqui no
nosso campus mesmo a Patrícia, uma mulher que vem na minha mente, eu vejo ela como uma
pessoa dedicada na área, né? Da pesquisa, ela desenvolveu vários trabalhos, tem vários artigos.
A Josane também, né? Então, às vezes a gente pensa que só longe da gente vai ter, mas às
vezes muito perto da gente, a gente tem mulheres com essa característica.

V: Entendi. Você já fez algum evento ou alguma atividade com a temática de mulher na ciência?

E: Botar em prática não, eu já pensei como sala temática, mas aí às vezes por conta do tema da
semana acadêmica acaba não conseguindo e aí a ideia sempre fica pra um ano seguinte.

V: Éh, você trabalha a relação da mulher na ciência na disciplina que você leciona?
E: A orgânica é bem complicado, né? E aí agora pensando assim geralmente dentro de alguns
mecanismos, às vezes o processo leva o nome de quem propôs e aí eu sempre às vezes trago a
foto, né? E sempre são homens, nunca peguem uma mulher.

V: Entendi. Quais são os métodos e estratégias que você utiliza ou gostaria de utilizar para
implementar e promover um ambiente mais inclusivo e igualitário na disciplina de química?

E: Igualitário em relação a homem e mulher?

V: Sim, com relação a gênero, diversidade.

E: Eu não costumo identificar muito essa, essas, como é que fala? Assim… essas diferenças
atrapalharem a minha disciplina. Então assim, eu percebo mais às vezes que é uma uma questão
assim de exclusão e talvez eu não sei o motivo. Talvez o motivo seja até algum deles. Mas eu
sempre, assim, quando eu identifico que um aluno está sendo excluído. Eu chego perto de um
grupo e falo “Fulano pode ficar? Vamos ajudar?” Aí se aquele grupo fala que “sim” eu chamo
Fulano e falo “Fulano, entra aqui nesse grupo” aí a pessoa vem. Mas às vezes eu tento incluir em
grupo e o grupo fala que não e dá justificativa, né? E aí a gente vai tentando, mas às vezes eu
percebo que em algumas turmas têm que mudar a metodologia e não dar, por exemplo, pra
passar em dupla, uma atividade em grupo, porque você vai ter gente que vai sofrer muito com a
exclusão.

V: Hm-huh. E isso você fala na própria segregação dos alunos com os alunos?

E: Dentro da turma. É. Às vezes eu não sei o motivo, né? Não sei se né? Não sei se é por conta
de gênero, de religião, por conta… não sei. Mas assim eu sempre tento trazer. Tem vez que é
fácil. Você vai no grupinho, às vezes você vai num grupo que está assim, bons alunos e de
conteúdo, assim, de assimilação e aí você fala “Dá pra botar fulano aqui?” Porque às vezes ele
está sendo excluído porque ele tem mais dificuldade na aprendizagem. Aí eles fazem até uma
carinha assim tipo “aí”, mas acaba concordando e aí você traz aquele aluno. Às vezes tem turmas
que às vezes é bem difícil você conseguir integrar todo mundo.

V: Entendi. Na sua opinião, quais são os passos importantes que as escolas ou instituições de
ensino podem tomar para fortalecer a representatividade e o reconhecimento da mulher na
ciência, e consequentemente melhorar o processo de ensino e aprendizagem na disciplina de
química?
E: Aqui foi tanta coisa que eu… (risos)

V: Tipo assim, eh, qual iniciativa que o IFF poderia tomar pra poder melhorar essa questão, tipo
assim de visibilidade, representatividade, da aluna se vê ali como uma cientista.

E: Eu acho que hoje tudo gira em torno da mídia, né? Acho que tudo ganha mais visualização
quando você bota na rede. Seja Instagram, seja. Então eu acho que assim, quando a gente tem
atuação de um aluno na pesquisa, de uma aluna. Acho que a gente pode promover, né? Fazer
mais divulgação, postar mais fotos dela atuando, que acaba influenciando outras pessoas que às
vezes tão só ali olhando as postagens a perceber que uma mulher pode tá fazendo aquilo tudo.
Acho que é uma forma legal da gente divulgar.

V: Então, aqui eu já conclui as minhas perguntas. Você gostaria de pontuar mais alguma coisa?

E: Acho que não.

Por fim eu agradeço a colaboração da entrevistada e encerro a entrevista.

PÓS-ENTREVISTA

A entrevista foi satisfatória, ocorrendo conforme o planejado. Acredito que o local foi uma
boa escolha, tendo em vista que não houveram interrupções, uma vez que o laboratório não é um
local tão frequentado assim como as demais salas do campus. Acredito que não adotei nenhuma
tática específica, mas a entrevistada colaborou com uma entrevista descontraída e gratificante.

Em alguns momentos, coisa de segundos, tive que me conter para não interferir na linha
de raciocínio da entrevistada. Momentos em que a mesma fazia silêncios rápidos. Mas, com a
entrevista gravada, não identifiquei momentos de interrupção. Mas acredito que, para entrevistas
futuras, preciso treinar melhor a condução das entrevistas. Como se tratava de uma professora
que tenho uma certa proximidade, a minha inaptidão não prejudicou a qualidade da entrevista.
Mas se fosse uma pessoa totalmente desconhecida, acredito que o resultado não seria
satisfatório.

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