Você está na página 1de 6

Transcrições das Entrevistas

ENTREVISTADA 01:

Formação: Física, Mestranda em Educação. 06 anos de experiência.

3. O que levou à carreira de professor? Quais são suas motivações?

Inicialmente quando entrei no curso era a última coisa que queria fazer. A primeira vez foi com
cursinho vestibular, achei interessante, sempre gostei de uma perspectiva mais social da
ciência. Aí quando entrei em contato com a sala de aula foi mais próximo do que me agradava,
eu me senti bastante a vontade, gostei da área e eu fiz PIBID também, eu acho que foi o ponto
de mudança.

3.1 Você adota alguma prática pedagógica, ou alguma ideologia?

Na nossa graduação, em Física, a gente não tem, apesar de ser licenciatura. O que eu aprendi
foi alguma coisa do PIBID. Aí eu aplico a minha perspectiva do PIBID até hoje. Motivar os
alunos, a se interessar...

4.1 Sobre a atual Educação Brasileira:

Eu posso falar mais do contexto da escola pública. No ano passado eu trabalhei em outra
escola, que não era essa tão modernizada que proporcionava tanta liberdade pro professor
trabalhar, lá eu pude sentir, vamos dizer, as violências que o professor recebe em sala de aula.
Aqui, a gente pode falar que estamos um pouco protegido em relação a isso, o diretor tem
umas posturas bem particulares e ele banca isso, diferente da Secretaria de Educação, só que
geralmente nas escolas isso é muito imposto no trabalho, a gente não tem muito o que
conversar a respeito. Acho que acontece, não tem muito o que falar. A gente tem uma carga
horária muito pesada, não tem tempo pra planejar, o salário é baixo, a situação das escolas,
tanto de infraestrutura quanto de pessoal é muito fraca... eu acho que essas práticas
neoliberais do estado de Minas não ajudam muito a carreira docente. Em escola particular eu
tive pouca inserção, trabalhei um ano e meio, e escola particular é outro clima, lá a educação é
tratada como um produto mesmo, como uma mercadoria, não tenho o que reclamar porque já
entrei sabendo como seria, e mesmo assim as coisas funcionavam muito mais, os alunos eram
mais interessados, mais motivados. A escola pública é difícil por causa disso, porque além de
encontrar aluno de faixa socioeconômica mais baixa, os pais não estimulam, eles não veem
perspectiva na hora que vão sair da escola, então, é todo um processo, os alunos não estão
interessados, os alunos também não, o governo também não, a gente finge que ensina, eles
que aprendem, eles passam e aí vão pra universidade entrar tentar alguma coisa...

4.2 Sobre a situação atual dos docentes:


É um pouco difícil falar disso, eu sou de uma geração nova, estou meio que entrando na
contramão, mas tem muita gente que adota isso, que se colocou enquanto professor do Estado
e tá muito passivo diante disso, mas eu acho que essa nova geração está vindo com um
pensamento um pouco diferente, um pouco mais acreditada do que os antigos.

4.3 Sobre o ambiente escolar, as relações entre alunos, diretores, professores:

Olha, vocês estão numa escola privilegiada, eu acho que seria bom escutar escolas diferentes.
Vou falar daqui e da relação que eu tinha com a anterior. Aqui eu me sinto extremamente
valorizada, apesar do sistema não proporcionar que essa profissão seja valorizada socialmente,
não rua quando eu falo: “ah, eu fiz Física pra professora” – “Ah, mas isso compensa?”, sempre
tem aquela tendência de colocar a coisa como ruim, mas aqui na escola não, a direção, a
escola te trata com extremo respeito, vocês podem ver pelos corredores se derem pra fazer
uma observação, o diretor sempre chega perto dos professores e diz: “Bom dia professor”,
“Boa tarde”, sempre que acontece alguma coisa o professor é autoridade na sala, sempre que
alguém discorda e vem reclamar na escola o professor tem que estar presente, ninguém aceita
nenhuma reclamação se o professor não tiver por perto pra poder justificar. Então aqui é muito
bom de trabalhar por causa disso, mas eu já tive experiências onde a direção dava apoio total
para os estudantes, os professores tavam meio sozinhos pra dar conta de tudo.

4.5/4.6/5 Sobre a atual situação dos alunos:

Então, eu como professora de física, pesquisadora do ensino de Física, eu acho que o principal é
a falta de base que eles têm. No meu caso, eles começam a ver Física no finalzinho do nono
ano, eles tem uma, tipo uma introdução à Física quando eles tem “Ciência”. O nono ano é pra
eles verem Biologia, Química e Física, então é como eles tivesse um terço de um ano pra fazer
uma introdução do que eles vão ver dali pra frente. Quando eles chegam no primeiro ano, o
currículo que já está estabelecido, nas Escolas, não no CBC, porque o CBC é muito bom, nas
escolas é muito rigoroso, é muito cruel, eles chegam aqui sem ter nenhuma noção do que é
Física, e ainda tem que aplicar conceitos, formulação matemática e modelagem matemática e
aquilo confunde a cabeça deles totalmente sem contar que quando eles estão no primeiro ano
do Ensino Médio eles tem 15 anos e é uma idade muito complicada. Então os primeiros anos
são muito difíceis de trabalhar por causa disso, eles não tem base sem contar que a idade já é
difícil. Mas eu vejo também muito problema em relação a falta de interesse mesmo, daí até a
minha perspectiva, desde o PIBID trabalhar com motivação.

5.1 Sobre o aspecto positivo da Educação atual:

(Risos)... Esse é um pouco complicado... Eu não acredito na escola como ela é hoje, eu acho que
isso não funciona, mas eu acho que eu saí da Física pra fazer um mestrado em Educação
porque eu acredito que a Educação seja uma ferramenta poderosa para transformação social,
então acho que vale a pena investir.
6. Qual a ação necessária pra educação hoje?

... Deixa eu pensar... Olha, eu acho que a organização dos currículos seria uma coisa boa e
unificação dos currículos também nas escolas. Eu falo do ponto de vista da escola estadual, da
rede pública estadual, então, entendam assim. Eu acho que seria bom uma organização melhor
de infraestrutura nas escolas, igual eu te falei, aqui nós estamos numa situação muito
privilegiada, a gente tem laboratórios equipados, a gente tem muito espaço físico, a escola tem
bastante verba mas é uma escola modelo na cidade, o resto das escolas não tem essa
realidade, às vezes pra gente conseguir um laboratório, às vezes um data-show é muito difícil,
as salas são pequenas, não tem cadeiras às vezes, pra todo mundo, então... Infraestrutura.
Tem uma política agora do governo de diminuição da nossa carga-horária, a gente passou de
18 horas pra 16 horas, só que essas 16 horas tem que ser feitas na escola, eu acho que deveria
ter autonomia do professor, escolher aonde vai fazer porque por exemplo eu tenho que ficar
aqui duas horas por semana, mas por exemplo hoje não tem internet na escola, como é que
vou trabalhar? Tem três computadores, e olha quantos professores tem na escola. Então não
tem infraestrutura pra trabalhar aqui já que eles querem que eu permaneça aqui por um
tempo a mais. Sem contar valorização da profissão passa pela valorização econômica, porque
hoje eu trabalho com isso porque eu sou solteira, moro sozinha e eu to fazendo meu mestrado,
só a minha bolsa do meu mestrado é maior do que meu salário, então se fosse pra eu trabalhar
pro resto da minha vida, eu não vou trabalhar, vou trabalhar até eu acabar meu mestrado e
fazer um concurso pra outra coisa que eu me sinto valorizada e é um tempo perdido, o que eu
estudo eu não posso fazer aqui, entendeu? Também as escolas tem que ter um pouco mais de
autonomia com relação a superintendência, não só autonomia mas participação das políticas
públicas, é essencial.

ENTREVISTADO 02:

Formação: Licenciatura plena em História (Licenciado e Bacharel), 08 anos de experiência.

3. O que levou à carreira de professor? Quais suas motivações?

Tem razões que são bastante pessoais, meu pai foi professor. A minha geração encontrou uma
maior dificuldade em fazer uma universidade, na época, até pro Ensino Médio de São João Del
Rei era complicado, não só no Ensino Médio, de quinta a oitava série, você tinha que fazer uma
prova de seleção, então a escola Estadual a gente já pensa no Cônego Osvaldo Lustosa, porque
era a única escola Estadual, na época tive que trabalhar; família grande e tal... Eu não pude dar
continuidade aos estudos, aí depois que São João Del Rei conseguiu a universidade, apareceu
essa oportunidade e eu me identifico muito com o curso de História desde quando... início da
minha vida estudantil, aí optei por fazer história e porque também eu tentei várias outras
opções de trabalho e coincidiu de eu não ter me encontrado e busquei essa alternativa.
3.1 Você adota alguma prática pedagógica? Alguma ideologia?

Ideologia... não. Dar aula é uma construção do conhecimento... a gente... busca o professor, ter
o domínio grande, conteúdo... o que ele planeja pra cada ano, e aí buscar dentro daquilo que
lhe é permitido, ele buscar essa transmissão de conhecimento, essa construção do
conhecimento e buscando o equilíbrio né? Porque a gente não pode ter a escola tradicional
nem a construtivista como eles colocam, da forma que colocam. Então a gente busca um
equilíbrio entre isso. Hoje a gente dispõe em algumas escolas e outras não de recursos
metodológicos que a gente utiliza mas a gente também não pode e a gente tem verificado às
vezes um exagero nesses recursos tecnológicos que o aluno fica muito desgastado com isso.
Porque ainda há, aliás... sempre acreditei, vou acreditar que o papel do professor como
mediador do conhecimento é fundamental a partir do momento em que ele esteja na sala de
aula discutindo com os alunos... Ele, a figura do professor, é muito importante.

4.1 Sobre a atual Educação brasileira:

Em termos gerais eu não acredito muito nas divulgações que os governos dão de que a
educação esteja com qualidade do jeito que eles colocam. Mas acredito também que muitos
estudos devem ser feitos e a teoria que eles tem apresentado aí pra dar uma contribuição pra
melhoria da qualidade da educação não tá focalizando bem, sempre focaliza o professor,
escola e, inclusive eu falo isso com meus alunos, tem que focalizar também o aluno, o aluno é o
principal agente de aprendizagem e a nossa sociedade tem que ter uma mudança estrutural
pra que os alunos tenham essa consciência de que o saber e a busca de conhecimento na
sociedade moderna é essencial, e o aluno não tem essa consciência e eu acredito ainda que é
uma situação que vai levar muito tempo porque ao longo dos anos historicamente os governos
nos embates com os professores que buscavam melhorias de trabalho, de salários, o governo
ele destruiu a imagem do professor. Ele utilizou os recursos de governo, que são muitos, pra ele
manipular mídia com propaganda... a imagem do professor no Brasil é uma imagem que ficou
bastante prejudicada e isso tem prejudicado demais a educação, tem desvalorizado a educação
porque a sociedade não tem essa consciência... tem consciência até da educação, mas a gente
vê aí até uma situação controversa que embora tenha essa consciência, essa sociedade, ela
não busca que esse conhecimento seja uma coisa que você tem que se sacrificar um pouco, eu
falo pros meus alunos, de uma coisa assim que depende de um certo esforço, quer dizer, de um
grande esforço.

4.2 Sobre a atual situação dos docentes:

A situação do professor hoje é uma situação bastante delicada. O professor não sabe ainda
como vai ser... a coisa tá insegura, a gente não sabe o que vai ser a educação do Brasil se
continuar dessa forma. Os professores que estão aí trabalhando tão desanimados, a gente
percebe isso, desanimados em certas situações né? Os que estão aí , embora desanimados vão
sempre continuar, mas não vai ter condição de dar conta da educação, a demanda necessária,
porque o que está sendo verificado é que não tem perspectiva de melhora não.
4.5/4.6 Sobre a situação dos alunos atualmente:

É relativo de escola pra escola, relativo de turnos, o turno da noite, por exemplo, o aluno falta
mais, o turno da manhã o aluno é mais assíduo; o aluno da manhã ele é mais cobrado pelos
familiares, ele não tem essa autonomia pra... né? E o aluno da noite já tem. Eu vejo assim que
aluno tem até consciência que ele precisa estudar, mas ele não tá disposto, não busca com
bastante decisão aquilo. Da noite eu percebo muito isso, eu trabalho muito a noite, então a
gente vê que o aluno, durante a faixa etária que ele tinha maior disponibilidade pro estudo ele
não aproveitou, seja por razões de dificuldades de aprendizagem, por questão disciplinar, ele
vai pra noite e aí ele sabe da necessidade da aprendizagem, ele tenta, mas ele não vem
disposto a fazer todo o sacrifício que a escola demanda, que a aprendizagem demanda. E o
aluno da manhã a gente vê que são mais cobrados pela família então eles dão uma resposta
melhor, mas mesmo assim há uma grande dispersão dentro da sala de aula, o aluno hoje...
diante desse leque de informações de possibilidades ele não consegue ter um enfoque.

5.1 Sobre o aspecto positivo da educação atual:

Tem de positivo que a escola é necessária. Até porque ela tem um papel social muito
importante. A escola é o espaço da socialização, a escola não vai acabar por isso. Só na escola
o aluno consegue conviver com realidades diferentes da dele, então é onde ele vai desenvolver
a tolerância, o respeito às diversidades. A gente vê, por exemplo... eu tava observando e
analisando a situação... eu li em algum lugar alguma coisa a respeito, nos Estados Unidos, 2%
da população cuida pessoalmente da educação dos filhos. Alguns pais, eles mesmos, tem
condições pra isso, eles mesmo dão aulas pros filhos contrata também às vezes professores
particulares. E aí o que acontece, esse aluno, ele não tem essa socialização que só a escola
fornece e isso tem até uma hipótese que estaria ligado a violência da escola porque o aluno
que só depois, na universidade, que ele vai pra escola... então ele não desenvolveu essa
tolerância, o respeito à diversidade, as diferenças... aí ele chega a ponto de pegar uma arma e
fazer aí um assassinato em série aí na escola.

6. Qual ação necessária para a educação hoje?

No caso do Brasil uma ação a longo prazo, estrutural, uma ação de governo de política pública,
de conscientização da sociedade através do resgate da imagem do professor. A gente não vê
outra alternativa que não seja essa. Os sindicatos estão fragilizados... a gente vê que o
governo, ele toma medidas pra dividir, pra desarticular os professores, o tempo inteiro ele faz
isso... aprovando leis ilegais... eu acredito que pra resolver o problema de governo, ele usa de
qualquer artifício até ilegal pra... né? E vai passando a responsabilidade pro próximo, né?
Então você vê que esse grande problema aí que eu acho pra escola que é a lei 100, você
conhece a lei 100? A Lei 100, o governo do estado de Minas Gerais ele admitiu professores sem
concurso público e efetivou esses professores... por questão previdenciária, porque ao longo
dos anos foi contratando professores e recolhia a previdência, só que não repassava e aí pra
uma questão previdenciária ele desobedeceu a constituição e tá aí pra ser votado no TSE, isso
aí é uma coisa muito séria que realmente coloca os professores numa situação bastante
delicada. As escolas estão, assim, num clima tenso, por isso não pode falar! Você tem colegas...
e não é pela questão do colega que pode ser competente, muitas vezes são muito competentes,
mas, é a forma que foi feita e pelo governo que foi feito e o proveito que ele tira dessa
situação. A educação está sendo tratada com muito desrespeito, eles fazem qualquer coisa.

Você também pode gostar