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Módulo 4.

1 – Direito à Aprendizagem 1

Estudo de Caso
4.1. Direito à Aprendizagem

“E aliás, cá pra nós, até o mais


desandado
Dá um tempo na função,
quando percebe que é amado
E as pessoas se olham e não se
falam
(...)
As pessoas não são más, elas
só estão perdidas
Ainda háGerais
Orientações tempo”
Antes de tudo, leia este documento até o
final;
O professor vivencial conduzirá a discussão e
fará a sistematização do que foi discutido.

Trecho da música “Ainda Há Tempo”, de Criolo


Módulo 4.1 – Direito à Aprendizagem 2

Conhecendo o contexto
Leitura do relato do caso, observando o contexto da escola,
seus desafios e potencialidades (7 minutos)

A Escola Estadual Henriqueta Lisboa (EEHL) está


localizada em um bairro de Belo Horizonte afastado do
centro. As famílias atendidas pela escola são moradoras da
região, que tem infraestrutura urbana precária, e uma grande
concentração de casas e comércio no entorno. Geralmente, as
mães deixam seus filhos na escola antes de trabalhar, e os
irmãos mais velhos, ao irem embora, passam na escola
municipal do bairro para pegar seus irmãos mais novos, já que
a mãe ainda está trabalhando.

Há um posto de saúde e um CRAS próximo à escola, e


na rua de baixo tem uma antiga praça. Nos últimos anos, tem
aumentado os casos de violência no bairro (tiveram alguns
casos de furto, agressões físicas, e há um ponto de venda de
drogas próximo).

A escola atende cerca de 1.000 estudantes do 6º ao 9º


ano do Ensino Fundamental, e do 1º ao 3º anos do Ensino
Médio. O Ensino Médio funciona no turno da manhã, e o
Ensino Fundamental, no turno da tarde. O contexto
socioeconômico dos estudantes da escola é de
vulnerabilidade, e cerca de 80% dos alunos são de famílias
beneficiárias do Programa de transferência de renda
governamental. Muitos estudantes vivem apenas com suas
mães e irmãos. A escola possui 46 professores atuando no
Ensino Fundamental e no Ensino Médio.

O prédio principal da escola foi construído há 20 anos e


a infraestrutura deixa um pouco a desejar. A pintura das
paredes das salas está desgastada, e a biblioteca tem virado
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depósito de arquivos. Por isso, apesar de ter muitos livros


interessantes, mesas e cadeiras adequadas, a biblioteca acaba
sendo pouco utilizada por professores e estudantes. Os
banheiros estão funcionando, e há bebedouros adequados. A
cozinha funciona bem, mas em breve precisará de novos
materiais, porque o descuido dos estudantes com os pratos e
copos tem causado perdas todas as semanas. A sala de
professores é ampla e arejada, mas as paredes desgastadas
dão uma sensação de descuido, o que faz com que
professores não gostem muito de ficar na escola mais do que
precisam. A maioria dos professores está desmotivada e
cansada. Entretanto, Joana, Giovana e Maria, no turno da
manhã, e Marcus e Carla, no turno da tarde, ainda acreditam
muito na potência de seu trabalho, e na importância de
planejarem boas aulas, que sejam diferentes para engajar os
estudantes. Estes cinco professores tentam incentivar os
estudantes a aprender e pensar no futuro. Giovana é a
professora referência para o Projeto de Vida no Ensino Médio
da escola.

As famílias têm pouco tempo disponível para


acompanhar a vida escolar dos filhos, mas se envolvem
sempre que possível nas atividades promovidas pela escola,
quando ficam sabendo, já que muitas vezes os estudantes
acabam não mostrando os convites para as mães ou
responsáveis, pois não querem seu envolvimento com a
escola. Segundo os professores, os alunos são desmotivados e
têm defasagem de aprendizagem, o que não é de hoje e se
intensificou com o ensino remoto durante a pandemia de
Covid-19. Frequentemente comentam entre eles, nos
corredores, que um determinado estudante “não tem jeito”, e
muitas vezes fazem afirmações do tipo quando estão se
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direcionando aos próprios estudantes. O período pandêmico


comprometeu significativamente questões referentes à
saúde mental dos estudantes e dos profissionais, o que
compromete e dificulta a construção de relacionamentos.

Todos os dias há casos de indisciplina dos estudantes: a


maioria dos professores já perderam a paciência, e assim que
o estudante começa a incomodá-lo na sala de aula, pedem
uma vez para parar, e na segunda vez, já mandam o estudante
para a sala da direção.

A direção da escola é composta por uma diretora e um


vice-diretor, ambos eleitos pela comunidade escolar. A
coordenação pedagógica da escola é uma função assumida
mediante aprovação em concurso público, cujo profissional é
licenciado em Pedagogia. Há um coordenador pedagógico
para cada turno, e eles tentam fazer atividades que motivem
os estudantes, e para formação dos professores, mas acabam
tendo que se dedicar mais a ajudar nas questões burocráticas
ou de indisciplina. Não raras vezes, ainda, os coordenadores
assumem as aulas, ou reúnem turmas na quadra para
realização de atividades, pois o absenteísmo dos professores
é recorrente.

De modo geral, os estudantes, especialmente do Ensino


Médio, gostam da escola. Estudaram ali desde o Ensino
Fundamental, e construíram uma comunidade forte.
Entretanto, historicamente têm pouca abertura para
conversar com professores e com a direção escolar. Ficam
incomodados com as paredes desbotadas e com a biblioteca
inutilizável, mas acham que, como há descaso por parte da
direção, eles também não precisam cuidar do ambiente
escolar. Além disso, como os professores estão sempre
desanimados e irritados, já desistiram de tirar dúvidas e se
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engajar nas aulas. Só se preocupam com as aulas dos


professores que consideram mais “legais”.

Estudo de caso – Assumindo papéis


Você é professor / professora da Escola Estadual Henriqueta
Lisboa há mais de 9 anos, se reconhece como parte daquela
comunidade. Você acabou de assumir a direção, e faz parte do
grupo de professores que acredita nos estudantes e percebe a
necessidade e a viabilidade de transformação da escola. Você
quer melhorar a escola, mas não sabe bem por onde começar,
já que a maior parte dos professores não está interessada nessa
melhoria. Você quer desenhar uma estratégia para, a partir da
gestão, melhorar o Clima Escolar da EEHL.

Você chama os professores que sabe que são mais engajados,


e que também querem ver a transformação da escola.

Neste grupo, vocês começam a discutir:

1. Como o contexto atual da escola prejudica o direito à


aprendizagem dos estudantes? Anotem suas respostas.

2. Como vocês vão fazer para que a elaboração/revisão do Projeto


Político Pedagógico e do Plano de Ação contribua para a
melhoria no Clima da escola? Descrevam em linhas gerais o que
farão, porquê esse processo será importante, e qual dimensão
(ou quais dimensões) do clima escolar vocês impactarão mais.

3. Estabeleçam uma lista contendo três a cinco compromissos


que a gestão escolar pode fazer para melhorar o clima escolar
e melhor garantir o direito à aprendizagem de cada estudante.

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