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O Filho Pródigo (no século XXI)

Peça para apresentações em Paróquias - 3a versão - agosto / 2001 - 10 atores - 60´ de duração
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1o ATO 2o ATO
M - Mau Filho : Filho Pródigo :
P - Pai : Pai do F. Pródigo :
B - Bom Filho: Irmão do F. Pródigo:
A1 - A2 - Falsos amigos:
DP - Dono dos porcos:
E - Encanador:

(Primeira cena - pai chegando em casa)

CD 1 - Faixa 001
P - Ah! Que cansaço! (solta pasta, tira paletó, afrouxa a gravata. Pega uma
porção de envelopes de diferentes tamanhos postos sobre um lugar visível)
P - Ummm! O que o correio deixou aqui hoje? Banco, banco, banco, banco,
humm, humm. Conta de luz, humm, propaganda... Contas do celular: R$
60,00, a do Paulinho... R$ 40,00, dentro do esperado, deixa ver a do
Marquinho... o quê?! (solta o copo que tem na mão e o mesmo cai no chão,
espatifando-se) R$ 600,00, seiscentos reais de celular num mês?! O
Marquinho tá louco? Ah o extrato do cartão de crédito... Bem, são as
compras na farmácia, a gasolina... tá dentro do que eu esperava... deixa ver
os cartões adicionais... meu Deus! Mais um gasto desse no cartão, assim ele
vai nos levar à falência. O que será que está acontecendo com este menino?
(Entra o B - Bom filho. Pasta de escola ou faculdade)
B - Oi pai! Como foi o dia do senhor?
P - Oi filho! Nada de muito importante hoje, apenas que senti muitas saudades
de sua mãe, faz cinco anos que ela morreu, mas ainda sinto muitas
saudades. E com você está tudo bem?
B - Ah! Sim. Comigo normal. Tive prova de matemática hoje e creio que saí-
me bem.
P - Meu filho, onde está o seu irmão? Chegou aqui do correio mais uma
despesa altíssima dele. Estou muito preocupado com ele.
B - Olha pai, eu não sei... ele nem fala mais comigo, saiu hoje de casa sozinho e
não voltou até agora...
CD 2 - Faixa 001
(Entra M - Mau filho - inquieto e assustado)
P - Marcos, meu filho. Tudo bom. Como vai?
M - Pai, é o seguinte, eu vou direto ao assunto, andei pensando aí... é... eu não
sou mais uma criança, eu já tenho dezesseis anos... eu tenho meus amigos...
eu estou precisando tomar meu rumo na vida... essa casa aqui não dá pra
mim mais... eu me sinto aprisionado... e depois de pensar muito, eu vim
aqui para avisar o senhor... que... que eu tô indo embora!
P - Marcos!! O que é que é isso? Você deve estar brincando conosco...
M - Eu tô falando sério... Eu tenho minha vida, entendeu?
P - Mas, meu filho, o que é que está te faltando aqui para você buscar fora... No
que é que eu errei? Se eu errei me diga... eu faço tudo por vocês... Eu sei...
a sua mãe morreu... mas eu tenho feito tudo para dar o máximo de mim...
por favor não faça isso com a gente...
M - Eu não quero discutir isso, não tem nada disso... é que eu... eu... eu quero
ser independente...
B - Marcos... não faça isso...
M - Não se meta comigo (bruscamente), fica no seu canto... Pai tem mais uma
coisa... aquela minha poupança que está no banco lá, eu... preciso dela. Ela
é minha né?
P - Claro que é sua Marcos... Tudo o que eu conquistei na vida eu quero deixar
para vocês. Aliás, está casa é sua, eu sou seu pai, o Paulo seu irmão... nós
somos... uma família...
M - Ah! Pai a família é boa quando a gente é pequeno, mas eu já cresci e tenho
que sair para o mundo, viver a minha vida (iludido)... Minhas malas já
estão no carro, e meus amigos já estão esperando... Adeus...
(P senta no sofá prostrado e entra voz gravada )

P - Onde foi que eu errei?...


B- Pai, o que houve com o Marcos?
P - É difícil explicar Paulinho... ele disse que quer ser independente... ele quer
matar uma sede que há na alma dele, a sede do prazer. Sabe Paulinho, as
coisas do mundo são assim: a gente tá com sede, o mundo oferece uma
bebida, a gente bebe e tem mais sede ainda!
B - Como assim pai?
CD 1 - Faixa 002
P - Um dia Jesus estava sentado à beira de um poço e veio uma mulher ali tirar
a sua água e Jesus disse à mulher:
- Dá-me de beber.
Mas a mulher perguntou: “tu és judeu e pedes água a mim, que sou
samaritana?”
P - Mas Jesus respondeu pra ela: “- Se você conhecesse o dom de Deus, e
soubesse quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente você mesma
pediria e Ele te daria uma água viva”.
Jesus aqui quis ensinar e tirar uma lição para nós: a sede do corpo é um símbolo
da sede de felicidade que todo homem tem. A água, que só satisfaz
temporariamente o corpo, representa as alegrias humanas sempre limitadas
e água que Jesus promete significa a graça, que é uma participação na vida
de Deus, destinada a nos satisfazer eternamente.
B - Que interessante isso né pai, assim como a gente tem sede e quer água, toda
pessoa tem uma sede de felicidade, não é?
P - Isso mesmo, mas se a pessoa tenta saciar essa sede com as alegrias
humanas, nunca fica satisfeito e termina como o Marquinhos, lançando-se
no caminho do erro.

CD 2 - Faixa 002
B - Puxa vida! parece que é exatamente isso que tá acontecendo com o
Marquinho...
P - Ele está querendo apagar essa sede com realidades deste mundo e pede às
coisas e pessoas aquilo que elas não podem dar para ele. Mas o pior é que
por mais que eu fale ele não vai aceitar... o futuro mostrará para ele a
realidade... espero que não seja tarde demais...

FECHA CORTINAS
INTERVALO COM EXPLICAÇÃO

Após o intervalo:
CD 1 - Faixa 003
+
CD 2 - Faixa 003
(Volta cena alguns anos depois, P envelhecido - abre a cortina, cena de B assistindo televisão,
entra P)

B - Vai, vai... hummmm!! Vem vê pai, tá um a zero pro Brasil...


P - Ah! Que bom, heim!
B - (Olha para P e desliga a televisão)

Atenção: Desliga
CD 2 - Faixa 003 e continua
CD 1 - Faixa 003
Que foi pai, o senhor tá meio chateado hoje...
P - Sabe que dia que é hoje meu filho? Hoje faz exatamente cinco anos que seu
irmão foi embora.
B - (Senta do lado do pai) Onde será que o Marcos está?
P - Será que ele está vivo? Sabe, Paulinho, a tua mãe tinha um costume muito
bom: quando ela tinha alguma dificuldade, algum problema, ela rezava e
abria a Bíblia, e ali encontrava sempre a resposta para o problema dela...
Hoje eu fiz o mesmo: eu amanheci triste e chateado, muito preocupado com
o Marquinho... então rezei ao Espírito Santo, e abri o Evangelho... ali tinha
uma mensagem pra mim... uma coisa que eu via, que era Deus que me
falava e eu senti uma alegria profunda no meu coração... sente um pouco,
eu vou ler pra você...

Imagine que você estivesse num lugar bem longe, no longínquo Oriente...

FUMAÇA
CD 2 - Faixa 004
N - Naquelas terras, morava um homem que tinha dois filhos...

CD 1 - Faixa 004
P - Um dia, o mais novo aproximou-se do pai e disse:
FP - “Pai, tou cansado da vida monótona e sem graça desta fazenda... Todos os
dias são iguais!... Cresci, não sou mais criança. Eu quero outras coisas que
esta casa não me pode dar... Pai, dai-me a parte da herança que por direito
me pertence... já tenho pronto meu cavalo, ainda amanhã quero partir!”

CD 2 - Faixa 005
P - Por mais que o pai insistisse, ele não quis voltar atrás.
E assim, a contragosto, o pai se viu forçado a repartir entre os dois filhos a sua
fortuna.

FUMAÇA
CD 1 - Faixa 005
P - Assim, numa triste e nevoenta manhã, em lágrimas amarguradas o pai vê seu
filho afastar-se em meio às poeiras que o trote do cavalo levanta na estrada. A
última curva, último olhar... O pai busca ainda uma última vez os olhos do filho -
aquele olhos tão claros, que ele acompanhara desde o berço - e com inenarrável
angústia sente esse olhos frios... sem dor, sem tristeza sem mesmo vacilação...

(O pai sai “chorando”. Fecha a cortina. No palco, muda cenário


para a cena dos porcos)

CD 2 - Faixa 006
P - Passaram-se os dias, os meses e os anos. E nunca mais ninguém viu, e nem
mesmo ouviu falar do imprudente jovem.
Entretanto, ele havia se estabelecido num lugar muito distante.
(passa fora do palco, ou num lugar lateral, em companhia dos dois
“amigos”. Bebem alegremente)
P - Aí passou a viver entre pessoas que tinham costumes muito diferentes
daqueles que seu pai lhe havia ensinado. Como trazia farto ouro e boa prata em sua
bolsa, não tardou em cercar-se de amigos. Amigos... Amigos da riqueza e do
prazer, amigos cuja sinceridade não excedia o tamanho de uma moeda.

CD 1 - Faixa 006
P - E nessa terra, nessa companhia, sem pensar e nem prever, esbanjou tudo
numa vida desenfreada.
Após os atores saírem de cena
CD 2 - Faixa 007
P - Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande seca e terrível
fome naquela região, e ele, então sem recursos, começou a passar necessidade. Tão
rapidamente como haviam surgido, todos os seus falsos amigos desapareceram.
Impelido pela fome e pela necessidade, vagou dias pelas fazendas, à procura de
emprego. Ai! Ele, que sempre tivera tudo à mão, nada sabia fazer, e em todas as
partes os exigentes capatazes recusavam aquelas mão fracas e inúteis.

CD 1 - Faixa 007
P - Por fim, percorrendo a última e pior estrada, na menor e mais pobre aldeia,
chegou à última e mais suja das casas, onde um velho e repugnante homem
finalmente o aceitou a trabalhar.
DP - “Ah, pele frágil, que mãos finas tem! Vadio e ordinário, que nunca
trabalhaste! Já tenho meus empregados, mas se queres ficar aqui, cuida dos
meus porcos, mas cuida bem deles, que valem mais do que ti! Um dia essa
carne trará alegria a um banquete, e nem sequer isso, tu és capaz de fazer!
Vai, e se trabalhas bem, no fim do dia te dou os restos da mesa de meus
empregados!”

CD 2 - Faixa 008
P - Mas quase nada restava, e ele quase nada comia.
Passaram-se dias nesse repugnante trabalho, e numa tarde, enquanto alimentava
os porcos veio-lhe a idéia de que aqueles animais alimentavam-se melhor do que
ele. E a esse miserável rapaz, esquecido de sua dignidade de ser humano, ocorreu
de roubar e comer a nojenta lavagem de que se alimentavam os porcos.

CD 1 - Faixa 008
(quando está quase pondo na boca a tigela de lavagem, chega o dono dos porcos e o apanha
em flagrante. Furioso, chuta a tigela e bate com uma vara no rapaz)

DP -“O quê, leproso!!! Ainda quer roubar a comida de meus porcos??


Ladrão vagabundo, que não merece nem sequer o pão seco que te dou! Se te
pego roubando de novo, te mando queimar as mãos! Nunca, nunca, nem
pense mais em roubar! Essa comida é para os meus porcos, e não para você,
verme infame!
(sai furioso)
Entrou então em si e refletiu:
FP - “Aí está. Agora valho menos que um porco. (chora) Ai, onde fui
parar! Nunca, jamais imaginei que iria chegar a isso... Ai, minha antiga
casa!... Ai! Meu pai, meu pai! Quantos empregados do meu pai têm pão com
fartura, e eu aqui, morrendo de fome...

CD 2 - Faixa 009
FP - Sim.... eu vou voltar!...Vou me levantar, e vou encontrar meu pai, e
dizer a ele:
“Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem teu
filho. Trata-me como um dos teus empregados.”

P - Desde que o filho partiu, o Pai, deitava-se pensando no seu filho. Sonhava
imaginando a vida do seu filho e acordava com a esperança de reencontrá-lo.
Todos os dias subia ao ponto mais elevado das suas terras e, com um olhar distante,
percorria o horizonte à procura do seu filho. Onde estará o meu filho? O que estará
fazendo?... E, de repente, um dia, um ponto perdido na distância, ia se
aproximando e ganhando vulto.
Seu coração disparou. Será ele?... Na medida em que as distâncias se
encurtavam, a dúvida ia tornando-se em certeza. É ele! Sim, é ele! E começou a
gritar: Meu filho! Meu filho! E os seus gritos se misturaram com outros lastimantes
que pareciam o seu eco: Pai! Meu Pai!. E as suas vozes ficaram no aperto de um
abraço.
Então o filho diz ao Pai:

FP - “Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço que me chamem
teu filho...”

PFP - Filho, não fales assim. Não importa o que aconteceu. O que realmente
importa é que você está aqui meus braços.

P - O Pai soube fazer de um pecado arrependido uma festa, e assim, chamou os


empregados:

PFP - “Depressa, tragam a melhor túnica para vestir meu filho. E


coloquem um anel no seu dedo e sandálias nos pés! Peguem um novilho
gordo e o matem. Vamos fazer um banquete! Oh, meu Deus! Alegrem-se!
Vejam todos! Este é meu filho desaparecido! Eu já o dava por morto, e agora
ele tornou a viver! Estava perdido, e foi encontrado!!”
Vamos celebrar uma grande festa! Eu te recuperei! Tu estás agora ao meu
lado! Que felicidade! O teu arrependimento e o meu perdão são agora a
nossa alegria e o nosso prêmio” (Cfr. Lc 15, 11-32).

CD 2 - Faixa 010
FUMAÇA - Fecha cenário antigo
(FP sai de cena e descongela a cena do séc. XXI)

B - Mas pai... que impressionante essa história, parece até...

CD 1 - Faixa 010
E - Encanador, aqui é o apartamento 32?
P - (Meio atordoado) Ehhh! Não o 32 é o do lado...
E - Desculpa, aí, hein!!
P - É meu filho, vamos voltar a realidade, não é?
CD 2 - Faixa 011
P - Alô! Ô Benedito, diga!

CD 1 - Faixa 011
Z - Ô Seu José, é seguinte ó, tem um pessoa aqui na portaria... olha sujeito
meio suspeito viu, disse que quer falar com o senhor mais não quer dizer
quem é.
P - Olha Benedito, dá uns dois reais para ele, deve ser um mendigo, diz que eu
não posso atender, tchau. (desliga e toca de novo o interfone)

CD 2 - Faixa 012
CD 1 - Faixa 012
Z - Seu José, ele não quis aceitar os dois reais, acho que não é mendigo não, tá
muito mal vestido, tá com uma aparência... Ele disse que quer falar com o
senhor, ainda que seja por interfone... o senhor fala com ele?...
P - Puxa, mais que coisa chata, tá bom, eu falo.
Alô, quem é... (silêncio)

CD 2 - Faixa 013
M - Alô... pai... meu pai...

CD 1 - Faixa 013
P - Marcos!!...
(P solta o interfone, B pega a e fala)

B - Alô, alô... Quem está aí?


CD 2 - Faixa 014 - ATENÇÃO - Continua o CD 1
Z - Alô! É o Benedito...
B - Benedito, cadê o rapaz?

CD 2 - Faixa 015 - ATENÇÃO - Continua o CD 1


Z - Eu não sei... acho que foi embora, ele começou a chorar... Ah! Não ele tá
aqui... ele tá pedindo para subir até aí...
B - Então manda ele subir correndo... (desliga o interfone)
Pai o senhor está passando bem?...
(toca a campainha, P se levanta rápido, enxuga o rosto e abre a porta - M entra e se joga aos pés
de P)

M - Pai... Pai... eu fui um mau filho, desperdicei o seu dinheiro, desperdicei o


amor que o senhor tinha por mim... eu tinha um futuro e esse futuro eu
joguei pela janela... Sei quantas esperanças o sr. tinha em mim. Mas essas
esperanças já não existem mais. Eu sujei o nome da família. Eu estou
doente pai, sou um miserável... eu fui um ingrato e sou um ingrato. Mas no
futuro, não o quero ser mais. Antes, eu não sentia saudade, mas agora
sinto, e muito. Muito mesmo! Saudades do sr., saudades do Paulo. Pai, eu
quero voltar para casa. Mas nem sei se o sr. vai me querer de volta, depois
de tudo o que eu fiz. E no estado em que estou.
(Entra música, P levanta M)

CD 2 - Faixa 016
P - Você está vivo meu filho?!! Você está vivo....!!!! Eu imaginei que nunca
mais fosse vê-lo. Por que você não voltou antes, por que você duvida do
meu perdão? Ainda que o mundo inteiro te desprezasse... te abandonasse, e
o por pior estado que você esteja... meu filho, eu sou teu pai... Quem
poderia compreender a dor intensa de meu coração quando eu vi você sair
de casa, e hoje eu não sei descrever a alegria que eu sinto em poder te
receber. Acaso não tem o pai mais cuidado com o filho doente do que com
os que tem saúde? O que importa agora é que você está arrependido.
Vejo por tuas lágrimas que Deus te perdoou, e é claro que eu te recebo... vamos,
meu filho, trilhar juntos este caminho de volta!...
B - Marquinhos! Quando você saiu eu chorei muito, até quis pôr a culpa no pai,
mas depois eu vi que você estava errado mesmo! Graças a Deus que você
voltou, meu irmão, meu irmão do coração!

CD 1 - Faixa 014
M - Sabe Paulinho, eu sentia em mim um desejo, uma verdadeira sede de
felicidade e pensei que a encontraria nas diversões e prazeres do mundo,
achei que papai fosse um egoísta, querendo prender-me em casa, achei que
ele fazia isso, para ter-me perto dele, mas depois que vi as coisas como
eram eu imaginava...
Eu fui atrás das alegrias humanas e elas iam se despedindo de mim deixando
saudades e mais desejo. Vi que tudo murchava diante de mim, como o
algodão doce na boca de uma criança. Procurei o amor e encontrei
desavenças, infidelidades, decepções... e em mim, aumentava a sede... a
sede ardente como de um animal envenenado. Eu me sentia vazio, cheio de
tédio, tentava tudo e depois desistia, via que nada valia o trabalho que dava.

CD 2 - Faixa 017
Daí, eu havia desistido de tudo... me juntei com más companhias... Foram a
minha ruína as más companhias... Ah, como eu me arrependo...(abanando a
cabeça).
Quando me ofereceram cigarro e bebida pela primeira vez, disseram: “Que é
isso, você não é homem não? Homem tem que beber, tem que fumar!” E eu
como um bobo (abana a cabeça)... Comecei a ir às festas deles, discotecas e
bares... Foi lá que tomei contacto com as malditas drogas... As primeiras, os
traficantes dão de graça, para a gente se viciar. Depois, não há mais droga
que chegue. A pessoa fica escravo, não consegue mais parar... Também não
há dinheiro que chegue para pagá-las. E se não paga, morre. Lembro até
hoje o dia em que o traficante me deu uma arma roubada.

CD 1 - Faixa 015
Ele falou: “Se não tem dinheiro para pagar, roube. Se vire! Roube logo, pague
logo, senão vai morrer”...
Eu roubei gente... (Pequena pausa. Levanta a cabeça abanando-a com os olhos
fechados, suspirando. Retoma:) E aquele ambiente dos cortiços, das
quadrilhas... Mas que coisa horrorosa! Meu Deus do Céu! Por que lugares
eu andei! Quanta imundície! Não há chiqueiro de porcos mais imundo na
face da terra... Sujeira de alma... os vícios, as traições, a falsidade... Você
não pode confiar nem na própria sombra, nesses lugares...
Mas eu pensava que era feliz...

CD 2 - Faixa 018
...desde que não faltasse a droga. Eu pensava que eu é que era entendido das
coisas, que eu que sabia gozar a vida...
Um dia, ... eu estava num carro roubado. Um carrão de luxo, e vestido com
roupas importadas... Ia viajar, para torrar o dinheiro que tinha roubado na
véspera. E carregado de cocaína na maleta...
Eu me sentia frustrado...
Entra por baixo
CD 1 - Faixa 016
Não conseguia mais dormir direito... vivia nervoso, vendo a hora ser preso a
qualquer momento. E dependendo daquela... daquela droga na maleta para
viver... eu... eu sentia vergonha de mim mesmo, me odiava!”
Para esquecer aqueles pensamentos, arranquei o carro e saí a toda velocidade.
Fui rodando sem destino pelas ruas, até que me veio uma tontura - por falta
da droga certamente - e atravessei um sinal vermelho...

CD 2 - Faixa 019
Meti o carro em cima de uma viatura policial. Fui preso, mas fugi e tornei a ser
preso várias vezes.
Até que um dia, foragido da polícia, passei no cemitério onde mamãe está
enterrada... Fui ao túmulo dela, tinha algumas flores secas lá... Mas havia
uma imagem de São José que o senhor, papai, deve ter colocado lá, onde o
senhor tantas vezes rezou por mim... Havia uma vela acesa ao lado de uma
fotografia minha... (baixa a cabeça um momento, toma posição normal em
seguida) Ao lado, estava meu livro da Primeira Comunhão, e o terço que
mamãe me deu naquele dia... Lembrei-me imediatamente das palavras dela:
“Meu filho, reze esse terço todos os dias. Reze, para que Nossa Senhora
faça de você um homem de bem”... comecei a chorar. Peguei o tercinho e
fui embora, sem ninguém me ver.
(Puxa o terço do bolso e o mostra para o irmão) Está vendo? É este aqui.
Comecei a rezá-lo naquele mesmo dia. E se não fui para o inferno, devo-o a
este terço, devo-o à minha querida mãezinha, devo-o a você e a papai, mas
devo sobretudo à Mãe de todas as Mães, a Nossa Senhora, que está no Céu
velando por nós, a todo momento ajudando a gente voltar para o bom
caminho, e a perseverar nele (pequena pausa).
O mundo hoje está muito ruim, muito ruim mesmo, Paulinho. Ai de quem tem
crianças, ai de quem tem jovens hoje em dia para criar. Quanto deve sofrer
um coração de mãe, preocupada com os riscos que seus filhos correm. A
droga está em qualquer lugar, está dentro das salas de aula. Qualquer
criança, qualquer jovem pode ser “adotado” pelos traficantes. E ai do
professor, ai do diretor de escola que tentar reagir. Matam sem piedade.
A única solução está n’Aquele que fez o Céu e a Terra. E o melhor caminho
para chegar até Ele, é a Mãe d’Ele, Nossa Senhora... O pai e a mãe que
ensinem seus filhos a rezar desde cedo, que introduzam em suas almas um
grande amor e uma grande devoção a Nossa Senhora, estarão deixando um
inestimável tesouro como herança para seus filhos. Sobretudo se eles
procurarem lhes dar boas companhias, que vão ajudá-los a conservar esse
tesouro, essa herança, ao longo das turbulências da juventude. Isso é o
maior benefício que alguém pode fazer às suas crianças...
Saindo do cemitério, entrei na Igreja, eu estava sujo, doente, parecia um
mendigo... me sentei no fundo... o órgão começava a tocar...

CD 1 - Faixa 017
Era difícil eu segurar as lágrimas... me lembrava de mamãe, de papai, de... de
você... na hora do Evangelho, eu estava cabisbaixo... nem prestei atenção...
até que percebi o padre falar a palavra PAI. Levantei um pouco a cabeça e
ouvi quando ele contou aquela história do filho que deixou a casa e depois
retornou... o Filho Pródigo!
Aquilo era pra mim! Chorei tanto que quase não conseguia parar. Algumas
pessoas vieram me ajudar, perguntavam porque eu chorava e eu não
conseguia responder... aí eu comecei a pensar: o charco das satisfações
carnais, da glória humana, não me bastam, não é aqui que encontrarei a
felicidade que procuro... foi aí que eu pensei:

Entra por baixo

CD 2 - Faixa 020
...Vou voltar pra casa de meu pai!
P - Filho! não pense mais nisso. Você está de volta e eu já te perdoei! todos nós
temos que saber perdoar e pedir perdão.
Perdoar parece representar um ato de fraqueza e pedir perdão parece que nos
humilha, especialmente quando no fundo pensamos que a nossa culpa não é
tão grande ou que é a outra parte mais culpada... Muitas vezes a gente
pensa: ele é que tem que pedir perdão; se eu tomo a iniciativa, estou dando-
lhe razão: isso não é justo e, sobretudo, se perdoar, já sei que incorrerá no
mesmo erro de sempre, além disso é vergonhoso demais reconhecer o
próprio erro... este pensamento é fruto do orgulho. A grandeza de coração
consiste em dar o primeiro passo, dizendo corajosamente: “peço
desculpas”, ou, mais fácil ainda, dando a entender por um gesto, por um
favor, por um sorriso, que implicitamente estamos pedindo perdão ou que
estamos dispostos a perdoar.

CD 1 - Faixa 018
O Sagrado Coração de Jesus disse em uma de suas revelações: “Sim amo as
almas que cometeram o primeiro pecado de vêem a pedir-me humildemente
perdão... eu as amo depois de chorar o segundo pecado. E si isto se repete
não mil vezes mais um milhão, amo-as, perdôo-as e lavo-as com Meu
próprio sangue o último pecado assim como o primeiro. Farei conhecer que
a medida de meu amor e misericórdia para com as almas caídas não têm
limites.. Desejo perdoar. Descanso perdoando... Sempre estou esperando
com amor... Que não desanime... que venham... que se atirem sem temor
em meus braços... porque eu sou seu Pai.

A.M.D.G.

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