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R e v i s ta

An ti c s m i c a
No. 01 201 8

V i a S a n gr i s
Expediente

Edição, Diagramação e Tradução


Dom Wilians
domwilians@projetozarzax.com.br
Revisão
Soror Nihil
Colaboradores
Alexandre Araújo
Manuel Herrera
Capa
Via Sangris, Alexandre Araújo

A Anticósmica é uma revista digital gratuita criada No entanto, reconhecemos que não é um caminho
pelo Projeto Zarzax. Nosso projeto é uma para ser tomado de ânimo leve, especialmente se o
resposta ao interesse daqueles que buscam a indivíduo não estiver preparado para as grandes
iniciação na Via Sinistra, servindo de portal de mudanças que ocorrerão em sua perspectiva do
acesso às Correntes Satânicas e ao lado sombrio da universo e em si mesmo ao longo dos nossos
espiritualidade. Não estamos baseados em nenhum trabalhos. O Projeto Zarzax é uma senda para o
modelo de Ordem ou Loja, nem em hierarquias, abismo interior, um meio de abandono dos
também não há cobranças de taxas por associação aspectos fenomênicos e ilusórios do universo para
ao Projeto e qualquer seleção de quem possa ou se fazer um mergulho na profunda escuridão do
não trabalhar conosco. Somos um grupo satânico verdadeiro Ser. Como objetivo secundário do
sem restrição de métodos e livre para valorizar a projeto, buscamos também fortalecer as Correntes
experiência pessoal. Nós não nos colocamos como Satânicas para que a Gnose necessária ao despertar
o caminho a ser seguido e sim como um veículo e ao avanço dos que buscam o caminho esquerdo
que serve de meio para se alcançar metas. O possa ser adquirida. A maior parte do conteúdo
principal objetivo do projeto é proporcionar ao estrangeiro que trazemos nessa edição foi
envolvido o conhecimento iniciático necessário concedida diretamente a revista, salvo algumas
para a exploração do Caminho Esquerdo. Para matérias que seus responsáveis disponibilizam para
nós, a entrada no golfo obscuro da mente rumo às uso não comercial. Todo conteúdo dessa edição é
baixas dimensões é um marco significativo para o de total responsabilidade de seus autores.
autoconhecimento, e para isso formamos um guia Colaborações e contato com a revista podem ser
de caminhada nas sombras interiores. enviados para contato@projetozarzax.com.br
Conteúdo

E di t o r i a l 03
Uma Fórmula para Abrir o Céu, Elijah 04
Shakta Bhakti: A Devoção à Deusa, Juny McDaniel 06
Detonando a Bomba da Mente, Shivanath 08
Contágio Insignificante, Ellen Greenham 14
Postura de Isthar, Uma Experiência Extática, Ph.D Belinda Gore 16
Universo Esquisofrênico, Ellen Greenham 18
Sigilo do Ventre de Isheth Zenunim, TOTBL­218 21
David Bowie e o Oculto, Peter R. Koenig 23
Um Drink Com Espíritos, Dom Wilians 29
Conversa Com a Artista Erica Frevel, Dom Wilians 32
O Percurso Yggdrasílico do Jörmungandr, Manuel Herrera 35
Sacrifício Pessoal, Robert E. Svoboda 37
Gritando no Vazio, THEM & Ordo Saturni 39
Arte da Ama Lilith, A Mãe Sem Rosto, THEM & MLO 41
A Visão dos Pesadelos da Ama Lilith, TOTBL­218 43
Conspecto da Filosofia de Pathei­mathos, David Myatt 46
Método para Entrar no Extase Religioso, Ph.D Belinda Gore 49
Atavismo, Dom Wilians 54
Thantifaxath: Uma Recordação, Albert Petersen 56
Qliphot, Dom Wilians 59
Rejeiçao Religiosa do Mundo, A Esfera Erótica, Max Weber 60
Zero Kama, Dom Wilians 64
A Descida na Escuridão, Stanton Marlan 65
Okbish: A Deusa Aranha, Daemon Barzai 69
Barbelo & Sethianismo, Tau To Ba'al 72
Editorial
Você não vai gostar desta revista, a menos que goste de experimentar. Nosso material não é um
bom incetivo se você está procurando receitas de feitiçaria - uma lista de alguns ingredientes para misturar
e se divertir iimpressionando alguém. Essa é, propositadamente, uma revista que dá ao leitor espaço para
rabiscar pensamentos entre suas páginas. Se trata de um Item Pessoal, seu e só seu para ler, absorver e
modificar se sentir necessidade.
A feitiçaria não deveria ter regras. Ela é uma avançada ferramenta para criarmos experiências com
o oculto e a única variável é a habilidade do praticante. Se você está comprometido com esse tipo de
trabalho, sem se preocupar com regras ou a aprovação de outros, disposto a abordar a feitiçaria como um
cientista abordaria a pesquisa, e se você tem o desejo de alcançar suas experiências sem desculpas, então
esta é um revista adequada às suas necessidades.
Feitiçaria é a descoberta do próprio poder, da própria sofisticação e habilidade, e uma servidão do
indivíduo a si mesmo. O experimento é vital para o feiticeiro. A proposta desse trabalho é compartilhar
ideias que suplementam a exploração pessoal da feitiçaria, materiais estes praticados por aqueles de nós
cujo interesse é a experiência direta e não a busca pela convenção daquilo que socialmente chamam de
"satanismo ou caminho da mão esquerda", mas que não passa de dogmas e regras de condutas limitadoras.
Para mim, a obtenção de resultados tangíveis é o mais importante, e com isso o caminho é construído. Se
você executar o trabalho exposto aqui com acuidade, terá feito tudo o que precisa para obter tais
resultados. Limitações do que você possa ser ou fazer estão somente em sua mente, mas aviso que a
feitiçaria é uma via sem garantias, a menos que você esteja comprometido nesse trabalho com cem por
cento de seu ser. Ao desenvolver e agir sobre a capacidade de criar nossas próprias experiências,
alcançamos a liberdade necessária para não olhar para o impossível e desfrutar plenamente do que está
disponível através de nossas ações.
Essa primeira edição da Anticósmica desafia cada um se tornar a caricatura de si mesmo. Iremos dar
suporte para a exploração dos mecanismos da mente quando os dentes de sua engrenagem se fecham.
Iremos atrás daquele caminho individual para o qual não podemos dizer "não". Os budistas afirmam que
sua alma entra em uma nova fase a cada período de sete anos, e os biólogos dizem que o corpo substitui
completamente suas células a cada sete anos também, mas pretendemos pegar o caminho que te dará a
oportunidade de fazer as duas coisas quando terminar de ler nossa primeira edição. A Anticósmica foi
idealizada para adultos que podem lidar com a experiência transcendente da mente, do corpo e com novos
sentimentos. Então para quem está preparado, desejamos uma viagem do obscuro complexo espiritual para
a sua própria realidade e além cheia de aventura, experiência e novidade.
Uma Fórmula para Abrir o Céu
por Elijah, Trad. Pt Lotan

Os sinais do alfabeto sagrado e silencioso são representados entre as linhas da língua vulgar. Esta
magia é decretada fora do tempo, ocorrendo através de múltiplas referências de perspectivas projetadas
estereograficamente através do ponto negro da transmogrificação. O templo deve estar em ressonância com
a natureza da revelação da morte, do fogo triunfante e alguma força de negação. Por trás disso, as máscaras
revelam-escondem o silêncio. A invocação “verdadeira” é realizada com o craqueamento dos pilares em
meio ao fulgor luminoso. O vazio tem voz e fala da morte de toda a linguagem.

Através da pérola de percepção invertida, Eu me estremeço e crio teu poder inferior! Pelo inexorável esquecimento do sol
da meia-noite. Eu chamo e invoco o teu poder para o inferno! Com a lâmina perversa, forjada do triunfante Aphex Loa! Eu
empunharei e promulgarei o teu poder inferior! À aniquilação do supremo amor ingerido dentro do túnel de ágape; Eu me
torno teu poder inferior! O alvorecer da luz chama pela essência do caos. Pelas águas da Noite Inferior, o OVO suplantou a
mente. Nós estamos além do limiar, da infinidade.

or
nozon
ch
No olho do sol por meio da inversão do reino. As palavras do mago são falsidade. CHORONZON é
amarrada e acorrentada pela ponta do ferro. Através do fogo, veículos noturnos de dor é a própria palavra
falada e oculta; pelo vento e pelo ar a mentira foi recebida. Este egresso para nossa casa nasce entre as
cismas do paradoxo, a ectasia do ômega. Seu coração chora…"Oh meu deus, a luz é silenciada, e o rosto
desaparece!" O rosto é o DIAMANTE DUPLO-FUNDIDO de um deus enfurecido, rasgando entre as
páginas da verdade refratada.

Nós vivemos em um PALÁCIO INVISÍVEL. Não há fechamento para este encantamento, uma vez que tornou-se.

Notas

A magia anterior não deve ser (nem pode ser) usada por principiantes para qualquer efeito.

Cifras: Estudo Gematrico e meditação aqui revelam mais do que é mostrado.

1) O Lamion Continuum

| As ferramentas do
| Respiração e Voz
| As crianças

Pronunciado (LAH-MEE-ON) em uma única respiração de três sílabas.

LAH como em L.A, Cidade dos Anjos


MEE como em ME traga uma bebida
ON como por vez o ON da luz acesa

2) AI TH IA | As ferramentas do
11 + 11 | Irmão Escarlate

Projeto Zarzax 4 Anticosmos 01


Pronunciado (EH-EETH-EE-AY)

EH como em Eh?
EETH como em “teeth” pausado
EE como na letra “E”
AY como em “ay mate” ou “hey”

A bússola universal alinhando a grande roda; Sandalphon, o profeta mais velho. Uma nova arma mágica que
varia em construção dependendo do raio de refração, cada Aeon se alinhando no impossível Syzygy.

3) HO IR ZON |As ferramentas do


11 206 777 | Vulva Escarlate

O Cinturão Escarlate sendo a ferramenta de aquisição de domínio. A faixa revela a sua própria
vontade de acordo com os alinhamentos do AITHIA.
Aphex Loa – A extensão da Palavra do HORIZON para os filhos originais da terra, filhos dos
insetos. Um servo devorador do próprio Loa. Um adjetivo atual do esquecimento universal. Oraboras foi
esquecida. Aphex Loa (também uma técnica) é tanto antiga quanto é uma nova escola.
As seis ações indicadas na invocação são o eixo universal em torno do ponto central do devir. Há um
Saturno secreto dentro dessa mentira, que é o túmulo da morte, a morte de NEMO. O eixo pode ser
alinhado ao cubo do espaço, neste caso une-se as três mães que giram sobre o Saturno mundano com as
outras seis representando as faces do cubo: Leviatã Encarnado. Os doze são alinhados de acordo com as
doze arestas (o zodíaco); os oito vértices são os pontos do giro da roda, os tempos intermediários que
podem ser acessados a qualquer momento pela análise da transição entre os pensamentos. Um caminho
aberto para a Não-Mente.
O Ovo (Não-Mente) – O colapso catastrófico da pilhéria infinita. A natureza infinita da criação dá
origem a êxtases além das nossas limitações conceituais. Não-Mente é o estado de aquisição da consciência
vazia. A este estado de percepção, plenamente representado neste quadro de visualização mental, deve ser
dado voz, pois o veículo sem voz é delegado aos Vigilantes, os gravadores dos eventos promulgados. Não-
Mente também faz referência às águas escuras de Escorpião, gerando o raio necessário para o giro da roda.

Projeto Zarzax 5 Anticosmos 01


Shakta Bhakti: A Devoção à Deusa
Por Juny McDaniel, Trad. Pt Z.A.R.Z.A.X

Shakta bhakti ou amor devocional é a adoração de uma única grande deusa, Mahadevi ou Mahakali
ou Parama Shakti, uma deusa com muitos nomes. Também pode ser a adoração de deusas menores, que
podem não ter o poder esmagador da grande deusa, mas ainda podem motivar a pessoa a se tornar uma
devota. Como um devoto de Kali entrevistado revelou: “Eu me refugiei aos pés da mãe. Eu quero estar
com ela até morrer. Dia e noite eu moro aqui no templo, nunca vou a lugar nenhum. Aqui estou eu e aqui
fico. A mãe me dará abrigo.” A grande deusa é sem nascimento ou morte, eterna, independente, a alma do
universo. Ela é maior que o universo, mas ao mesmo tempo menor que um átomo. Ela está tanto dentro do
samsara quanto além, e suas formas manifestas incluem o sol e a lua, os ventos, todos os seres humanos e
animais, os oceanos e a terra. Ela é adorada em qualidades como intelecto, riqueza, força, misericórdia,
modéstia, perdão, paz e proteção. Compreendemos quatro tipos principais de Shakti bhakti em Bengala
Ocidental. Estas são:

1. Bhakti popular
2. Bhakti emocional
3. Bhakti política ou nacionalismo
4. Bhakti universalista ou Shakta Vedanta

Projeto Zarzax 6 Anticosmos 01


1-A bhakti popular é encontrada na literatura mangal-kavya, as histórias de deusas que são
forasteiras divinas, que entram no mundo para ganhar discípulos e proceder com base na recompensa e
punição. As divindades masculinas não as ajudam - essas deusas estão em suas causa própria. Os devotos
devem obedecer à posição comum, ou as causas devocionais serão um desastres. Desta forma, eles diferem
da orientação do grupo da maioria das deusas tribais e folclóricas. As deusas da bhakti popular buscam
devotos individuais e um relacionamento pessoal com eles. Às vezes, essas deusas já foram mulheres
humanas, que morreram e foram transformadas, e outras vezes são divindades regionais ou deusas
sânscritas que são cultuadas como figuras regionais, como a Kali de um búfalo em particular ou a Lakshmi
de um campo em particular. Eventualmente o grupo pode adorar a deusa, mas suas paixões (e às vezes sua
destrutividade) estão focadas em um único indivíduo.

2-Seguidores da bhakti emocional focam no amor devocional, e frequentemente tendem a desprezar


os aspectos folclóricos do shaktismo como envolvendo apenas propiciação ou troca econômica e falta de
amor verdadeiro. Como fazem os vaishnavas bengalis, no bhakti emocional enfatiza-se a devoção
apaixonada à divindade. Ela habita tanto em seu distante paraíso (de Manidvipa ou Kailash) quanto no
coração de seus devotos. Ela pode trazer bênçãos terrenas, mas também a salvação do renascimento, vida
em seu mundo celestial e libertação final para aqueles devotos que a desejam. O amor da deusa é mostrado
através de lágrimas, risos, canções e sintomas extáticos. Ambos, bhakti popular e emocional, são fortemente
experienciais, mas os textos antigos valorizados pelos estudiosos são frequentemente desconhecidos ou
ignorados pelos devotos. Como resultado, acaba muitas vezes se fechando em uma tradição oral.
Os devotos ds Shakta que não lêem os puranas e tantras ouvirão as canções de Shakta e lerão as
biografias dos santos ou dos aperfeiçoados (siddhas). Para esses devotos, as canções e biografias populares
são, elas próprias, textos sagrados, pois falam de experiências da deusa. As canções de Shakta têm sido
amplamente cantadas, e biografias de santos podem vir de coleções publicadas de vidas de santos, ou de
histórias contadas dentro de grupos religiosos (como grupos de Kali-kirtan, onde hinos para a deusa são
cantados).

3-O terceiro tipo de Shakta bhakti, a bhakti política ou o nacionalismo, tende a ser encontrado em
maior medida em situações de convulsão política e social. A deusa é a Mãe em sua forma como natureza ou
pátria, e ela precisa ser protegida do mau comportamento dos invasores ou forasteiros. Ela é resgatada por
seus filhos, que se tornam seus protetores e heróis por direito próprio. Como em muitas situações
familiares na Índia, a mãe é apoiada por seus filhos. Esse tipo de devoção é primariamente ética, e a deusa é
invocada como justificativa para a ação política ou social. A experiência religiosa é encontrada em
sentimentos de patriotismo e amor ao país e ao campo.

4-O quarto tipo de devoção, a universalista ou Shakta Vedanta, é um desenvolvimento posterior do


shaktismo do santo Ramakrishna Paramahamsa, do século XIX, levado adiante por seu discípulo
Vivekananda e seus seguidores. Ele enfatiza a verdadeira natureza da deusa como brahman e a filosofia e a
ética como a melhor maneira de compreendê-la1. Ela é uma forma ideal ou representação da realidade
ultimal, e os textos sagrados para os seguidores dessa abordagem seriam as biografias de Ramakrishna,
assim como textos hindus clássicos, por exemplo os Upanishads e o Bhagavad Gita. A deusa é entendida
como presente dentro de todas as divindades, e todas as religiões são caminhos legítimos para sua adoração.
No entanto, a forma da deusa representa o amor materno e é a mais doce e atraente para os praticantes.
Todos esses quatro subtipos podem ser amplamente encontrados no Shaktismo Bengali hoje,
independentemente ou misturados uns com os outros.

1 A imagem tradicional de Shakta bhakti é aquela que é similar a Vaishnava bhakti: um devoto leal e
amoroso e uma divindade misericordiosa. No entanto, o Shaktismo é uma tradição com muitos aspectos.

Projeto Zarzax 7 Anticosmos 01


Detonando a Bomba da Mente
por Shivanath, trad. Pt. Lotan

Falamos extensivamente sobre a natureza da linguagem e como ela molda nossa realidade, como a
definição de uma palavra como “justiça” varia tanto que as pessoas mal conseguem se comunicar sobre o
que é justo e o que é injusto. Nós também falamos sobre fugas da realidade verbal: sigilos, drogas, falta de
consciência no orgasmo, todas essas coisas, pois a magia frequentemente acontece em estados sem palavras.
Bem, foda-se, é hora de matar o assassino. Destrua sua mente. Você quer sair da armadilha verbal?
Pegue uma espingarda e exploda sua mente. E eu não quero dizer por uma hora ou um fim de semana,
quero dizer permanentemente. Desenhe sua fuga da Realidade Verbal e corra, fuja para o silêncio místico
que produz quietude e a prática da presença de deus. Sim, queridos, vamos falar sobre meditação, o último
ato de rebelião contra a sociedade, o sistema e todas essas outras coisas ilusórias. Meditação não é apenas
ação social: meditação é revolução para se tornar livre – por qualquer meio necessário! Esta não é uma
mensagem de “medite para que você seja mais gentil com as pessoas”. Isso não é “medite, então você ficará
mais calmo”. Isso é “medite para que você possa escapar do confinamento verbal e vagar livre no
universo”.
Meditação como política revolucionária, como anarquia, como Vontade e Vida e Liberdade. Você
sabe que sua mente é uma gaiola: que outras pessoas escreveram a linguagem que você fala, que suas
estruturas conceituais foram moldadas primeiro por seus pais, depois por suas escolas, depois por Aleister
Crowley, Bill Burroughs e Swami Sivananda. Tudo em palavras é lixo, armadilhas cada vez mais confinantes
e sofisticadas para mantê-lo no reino da experiência qual as palavras podem se referir de forma significativa.
Compreendo? Mesmo aqueles que buscam libertá-lo em palavras são mentirosos e ladrões, poluindo ainda
mais a esfera cognitiva da raça humana. Tudo o que posso fazer com essa armadilha é rotulá-la claramente:

“Isso é uma armadilha porque acrescenta palavras ao seu mundo.”

Se a linguagem é um vírus do espaço, é hora de você se curar. Destrua todo pensamento. Isso não é
besteira radical sem sentido. Ou, se for, é pelo menos besteira radical sem sentido real. Cerca de doze anos
atrás, saí da armadilha mental, atravessei a meada de pensamentos e escapei para o silêncio interno – um
estado persistente no qual, se não estou pensando ativamente em alguma coisa, há apenas uma luz
silenciosa dentro da minha cabeça, ou um ocasional AUM.
Eu credito à essa experiência uma salvação para minha vida. Sem a constante moedura da
linguagem, da tagarelice, do rádio psíquico, do disparate maligno que passa pela nossa consciência a maior
parte do tempo, é possível ver as coisas de maneira diferente: a vida é bela, as pessoas são do tipo pleno e o
sofrimento é breve ou algo que as pessoas podem acomodar. Para recarregar-se, basta sentar e brincar com
a experiência de estar vivo, fazer um chá, fazer um lanche, sair para passear, brincar com um cachorrinho.
Sem a mente para estragar toda experiência com seu fluxo constante de definição, dúvida, negatividade,
apreciação, discussão – sem o salto constante para a metapsicose, onde toda experiência é transformada em
algo sem sentido ao ser atribuída a um “significado” arbitrário – por que, então, a vida é profundamente
boa.Você entende o que eu estou dizendo? Sua mente provavelmente prendeu você e a magia não vai salvá-
lo. Pelo menos, não o tipo de magia que você provavelmente está fazendo agora.

Estabelecendo Objetivos: Vontade e Propósito na Meditação


Se você meditar para se sentir bem, é provável que você tenha sucesso. Idem para se tornar mais
calmo, menos reativo, mais tolerante. Todos esses são bons objetivos que valem a pena. Por todos os meios,
sinta-se à vontade para implantar a arma nuclear, para cavar trincheiras ou o que quer que seja. A meditação
real é sobre a libertação.

Projeto Zarzax 8 Anticosmos 01


Primeiro alvo: o tirano da interrupção interna. Deixe-me esclarecer: Dentro de você, há um
“vidente” – algo que é implicitamente “você”, recebe ou tem suas experiências. Você pica o dedo com um
alfinete, esse “você” é o que sabe que há um sentimento de dor. No entanto, esse “você” não tem realmente
nenhuma ideia do que é, porque está cercado há a anos por um caos constante. Imagine crescer durante
toda a sua vida em uma sala com música de discoteca, luzes brilhantes e alimentos que são aleatoriamente
temperados com temperos de curry, molho de tabasco e cravo. Imagine crescer naquela sala desde o
momento do nascimento, nunca conhecendo o silêncio, a quietude ou a natureza. É isso que é ser sua alma,
nascer em um corpo na cultura da linguagem e, pior, a cultura da constante interrupção e entretenimento.
Não há espaço para respirar, para ser, a menos que você mate a mente que é o DJ Psíquico, girando
registros de autodepreciação, alienação e análise. Isso é fundamental: porque aquela maldita pista de
discoteca está tocando desde que você estava ciente de ser você – e você acha que é você. Isso é
“introjeção” em termos de Gestalt – confundindo partes do ambiente com partes do seu SELF porque elas
são constantes e você também é constante. Imagine um mundo em que cada pessoa se bate na cara no meio
de cada palavra de cada frase. Imagine o nível de discurso, de compreensão, em tal mundo. Isso, meus
amigos, é o mundo da mente indomável, e a menos que você seja liberto disso, isso parecerá insano. Pare
agora mesmo.
Você tem consciência clara e ininterrupta do que está dentro de você que recebe todas as suas
experiências: os cinco sentidos, a mente, o corpo energético, os chakras – o que é que transforma todas
essas coisas em um senso de si mesmo, uma sensação de ser? Você pode olhar para o VOCÊ dentro de
todas essas coisas? Você pode colocar sua atenção diretamente no Vidente interior? As chances não são
grandes. Mas se não, e você quer mesmo assim tentar, veja como. Sente-se num quarto escuro e silencioso
ou, melhor, num confinamento de privação sensorial. Você verá uma queda acentuada nos fenômenos
sensoriais. Sentado (tente yoga como preparação) é ainda melhor. Apenas sente-se. Agora comece a
catalogar tudo em sua consciência.

“Minha perna direita está doendo. Estou pensando na minha namorada. Eu estou querendo saber o que este exercício
irá produzir. O que ele quer dizer com “armadilha”? Não parece haver nada acontecendo. Espero que meus colegas não
voltem agora. Isso não parece muito com uma discoteca, ou algo constantemente me batendo.”

O que você está vendo é a torrente de distrações que esconde a sua verdadeira natureza de você, e
faz de você um escravo do que te distrai. Este fluxo constante de coisas não é você mais do que seu cabelo
é. Se você cortar seu cabelo ou tingir de roxo, algo mudará, mas você ainda é você. Assim é com a mente: se
você raspar os cabelos até dois milímetros de comprimento, as pessoas verão que algo mudou, mas você
ainda será você – mas em vez de olhar para o mundo através de um emaranhado de franja de merda, você
vai ver o mundo claramente. Você pode cortar seu cabelo. Você pode mudar seu estilo e permanecer em
você. Lembre-se disso neste próximo bit.
Da mesma forma que seu campo visual fica quieto quando você fecha os olhos em uma sala escura,
você pode fazer com que sua mente fique quieta. A combinação de entradas sensoriais reduzidas com
entradas mentais reduzidas pode fornecer um ambiente adequado para chegar a entender a base da
identidade e da percepção, tornando-se apto ao processo de liberdade. Mas primeiro, vamos matar a mente,
certo? Domestique o leão, traga a fera sob controle, sente-se firmemente no assento do dragão. E se,
parando a mente, as vozes em sua cabeça – não as guias espirituais, mas aquelas que você considera “você”
– pararem de falar? Pense nisso por um segundo (paradoxo observado). Nenhum diálogo interno.
Nenhuma corrente de crítica. Nada. Você fecha os olhos, coloca os dedos nos ouvidos e, de repente, não há
nada. Quietude, escuridão, silêncio, luz. Descansando sereno dentro de você mesmo, sem distrações.
Nenhuma noção da passagem do tempo, apenas o puro ser.
A única coisa entre esse estado e você é a sua maldita mente. Agora, você quer falar sobre liberdade
e libertação matando-a? Arregaça as mangas. Vamos falar de táticas. Essa coisa da mente, é apenas um
mau hábito? Sim. Tente um experimento: cutuque-se com algo tipo um lápis afiado o suficiente para doer,
mas sem tirar sangue.
Projeto Zarzax 9 Anticosmos 01
Sinta a sensação, faça uma pequena pausa e pense em como se sentiu, obtenha alguns detalhes.
Agora, tente a mesma coisa de novo, mas em resposta à dor, mentalmente (interiormente) entoe alguma
outra verbalização da dor. “O mais provável é que você perceba que a sensação da dor é menos ruim
quando sua mente é preenchida com um símbolo para a dor: removendo a experiência para o nível
simbólico, a intensidade da experiência negativa real é reduzido. Essa é a etiologia da “síndrome da mente”.
Formamos uma camada entre nós e nossas experiências, negativas primeiro, mas depois todas, e
chamamos esse mecanismo defensivo de “a mente” e nos identificamos com ela tão completamente que a
confundimos com nós. E o quarto barulhento com as luzes de discoteca piscando? Nós o construímos para
fugir das experiências negativas da infância, de ser um bebê, de não ter controle, de sermos escravos dos
caprichos de nossos pais, por mais bem intencionados que fossem. A mente se forma como uma camada
defensiva contra a experiência real, ok?
Agora vamos tentar um orgasmo. Observe bem de perto: as probabilidades são de que, quando você
tem um orgasmo, você entra em um espaço totalmente não verbal por um curto período de tempo. O
óxido nitroso pode fazer praticamente a mesma coisa. Essa é uma experiência não verbal. Agora, imagine
estar nesse estado – a experiência sem contato interno da vida – o tempo todo, sem aquele sorriso bobo e o
efeito colateral, ou o efeito anestésico no cérebro. Note que você ainda está no ponto de orgasmo ou
nitroso. Há continuidade da identidade, “pequena morte” ou não. A meditação é uma forma de
permanentemente se entregar a esse estado sem palavras de ser. Então, qual é a maneira mais rápida de
superar um mecanismo de defesa? Algumas pessoas tentam, sem fim, escolher as fechaduras – desmantelá-
las, uma camada de cada vez, compreendê-las, etc. É viável, mas lento. Por que não fazer o que teme,
perceber que não é tão ruim e permitir que o mecanismo defensivo caia como uma crosta ou um terno que
você não usa mais? Uma virgem luxuriosa joga todos os tipos de jogos, dançando no limiar da experiência,
e talvez se a programação for ruim o suficiente (pense: colegiais católicas) se torna parcialmente definida
por mecanismos defensivos construídos em torno de não conseguir o que você realmente quer da vida. É
muito parecido com isso também: uma vez que você está fazendo sexo, você quer saber o que diabos está
esperando, ou pelo menos muitas pessoas pensam isso. Mesmo que a primeira experiência não seja ótima,
atravessar o abismo é útil por si só.
A Mente existe para atenuar nossa experiência de estar vivo. O livrar-se da mente é alcançado mais
rapidamente assim, permitindo-nos ter experiências de força total, removendo o medo que produz a mente.
Perca a mente, torne-se mais viva. Torne-se mais vivo, perca a mente. Como mago, esse é o ângulo para o
trabalho. Entre na brecha entre os pensamentos. Como último ponto, antes de discutirmos a técnica
prática, vamos apenas observar que entre essas palavras há um espaço. Se você lê em voz alta, há uma
lacuna entre as palavras. Você poderia fazer uma faixa silenciosa, fazendo uma gravação de áudio da fala e
gravando todo o silêncio entre as palavras. Isso também é verdade para sua mente: há uma lacuna implícita
entre as palavras na corrente de pensamento. A experiência normal é de que as palavras são “figuras” e o
silêncio é “chão/base” – se esta posição estiver invertida, de modo que você esteja ciente do silêncio como
a experiência primária, e das palavras como a experiência secundária, você já verá o caminho até lá, mesmo
que ainda haja muito lixo verbal.

A Técnica dos Três Pontos Explosivos da Cabeça


As três práticas combinadas produzirão resultados melhores e mais rápidos do que uma sozinha. A
primeira é a meditação do mantra: você pode ler um livro sobre isso, mas em poucas palavras, escolha uma
palavra (como “calma”) e repita isso continuamente em sua mente, excluindo todos os outros pensamentos
e fenômenos. Você vai descobrir que coisas estão te afastando do caminho, então você passa a repetir que é
“calmo, calmo, calmo, calmo, calmo, onde está meu gato?
Essa prática faz duas coisas:

1. Ela constrói o “músculo” de retorno da sua consciência para o lugar que você quer: o mantra.

Projeto Zarzax 10 Anticosmos 01


2. Constrói a noção de como sua consciência não está sob seu controle: você sente a atração por distrações.
Você reconhece isso.

A segunda técnica é: você apenas senta. Com seus pensamentos. Com suas emoções. E sem o mantra.
Apenas sente-se e tenha consciência do que está acontecendo. Uma interação típica entre essas duas técnicas
é:

“texugo texugo texugo


texugo texugo texugo
texugo texugo texugo
texugo cogumelo
cogumelo
cobra”

“Eu continuo tendo esses pensamentos, e eles são parte do registro emocional da ansiedade. Acho
melhor dar uma olhada nisso!”

(Longo período sentado com a consciência da ansiedade)

[Insight: Talvez ache que isso não seja tão importante afinal de contas. Lembre-se, coisas como a
Respiração Holotrópica podem ajudar a desencadear essas percepções também; de fato, é por isso que
existem – você pode fazê-la tranquilamente enquanto executa técnicas como essas e funcionará muito bem.]

“texugo texugo texugo texugo texugo


texugo texugo texugo texugo texugo
texugo texugo texugo texugo texugo
texugo texugo texugo texugo texugo
texugo texugo texugo texugo texugo”

Esta abordagem – alternando periodicamente para enfrentar diretamente os obstáculos à aniquilação


da sua mente – parece funcionar muito melhor e mais rápido do que o mantra, no sentido de realmente
chegar ao núcleo da questão. Não vai deixar você calmo e pacífico tão rapidamente, mas vai te expor para o
que realmente está acontecendo dentro de você muito mais rápido. Tente pelo menos quinze minutos sólidos
de mantras antes de mudar e praticar apenas sentado. Em seguida, tente virar para frente e para trás.
Eventualmente, basta soltar os mantras completamente. É difícil se você está fazendo certo!
A terceira técnica é o foco sensorial: sentar-se ou fazer uma atividade e tratar todo o seu campo
sensorial como uma única unidade. Veja, ouça, sinta, cheire, prove, sinta os músculos e o esqueleto, a pressão
do assento, tudo isso. Uma maneira simples de começar é sentar-se e tentar ampliar seu foco visual para que
você esteja ciente de todo o seu campo visual como uma única peça, de uma só vez. É como ter toda visão
periférica, sem o ponto focal se movendo de objeto em objeto. Esse tipo de alargamento sensorial pode ser
transmitido através dos sentidos também: primeiro todo o campo visual, depois visual e auditivo como um
sistema único, e depois também o corpo. Mas comece com seu sentido mais forte, seja visão ou som para a
maioria das pessoas, e geralmente é a visão. Ou tente sentir todo o seu corpo de uma só vez. Afaste-se do
discreto e no contínuo.
Essas três abordagens, tomadas em conjunto e praticadas em ciclos, podem resultar rapidamente no
acesso a interrupções da corrente de pensamento, resultando em períodos de silêncio interno, livres do
movimento da mente. O grande avanço acontece quando seu senso de identidade muda do fluxo de palavras
(“Eu sou meus pensamentos”) para o observador interno, o morador interno silencioso (“Eu ouço meus
pensamentos às vezes”). O processo em si é valioso, mas não pense que existe uma solução rápida para a
condição humana. Isso é trabalhoso, e parece que para uns leva anos!
Projeto Zarzax 11 Anticosmos 01
Além da Dualidade: Tantra, Equanimidade e a Estabilidade da Meditação
Antes de meditar, deve-se saber exatamente por que se está sentado. Isso parece um requisito
simples, mas não é. Você está sentado para parar de sofrer? Isso implica uma crença de que o sofrimento
pode cessar! Como podemos verificar se essas afirmações sobre a cessação do sofrimento são verdadeiras?
A fé nos resultados de outras pessoas é apropriada? Como nós sabemos? Para generalizar, você está
sentado com a expectativa de um resultado ou benefício de algum tipo? Se assim for, seja explícito sobre
por que você acha que a meditação pode produzir esse resultado.
Da mesma forma, se você está sentado para aprender algo sobre si mesmo, ou sobre sua mente, ou
sobre o mundo, saiba exatamente por que acha que a meditação pode ensinar-lhe essa coisa em particular.
Saber por que você está sentado é o primeiro passo para desmantelar o arcabouço mental que construímos
em torno das experiências espirituais que temos. Isso elimina o caminho para experimentar a meditação
diretamente, sem estar constantemente focado em um objetivo percebido. Meditação: como? Existem
muitas formas de meditação – quase tantas quantas formas de exercício físico. Diferentes formas parecem
produzir resultados surpreendentemente diferentes nos estágios iniciais, e alegações de que todas elas
terminam no mesmo lugar devem ser verificadas pessoalmente ou tomadas com fé. Além disso, é muito
difícil (ou talvez impossível!) dizer o que uma pessoa silenciosa e imóvel está fazendo com sua mente.
Embora as pessoas possam descrever a experiência que estão tendo e a técnica que estão usando,
exatamente da mesma maneira, mas como podemos ter certeza de que estão realmente fazendo exatamente
a mesma coisa?
Como exemplo, faça meditação do mantra. Duas pessoas podem fazer este exercício, uma ouvindo o
mantra em sua própria voz, a outra ouvindo-o na voz estrondosa de um ser cósmico que troveja o mantra
em seus ouvidos! Essas duas meditações terão o mesmo efeito? Como podemos saber? E quanto a
diferenças mais sutis: ouvir o mantra como se estivesse no centro do seu crânio e na sua própria voz, contra
ouvi-lo como se você estivesse falando muito baixo? Como podemos saber com certeza que essas
diferenças são significativas ou não? A técnica que usaremos é chamada de “Nath Sentado”. Esse nome é
arbitrário: a técnica existe em muitas culturas e sob muitos nomes.
Tenho visto uma descrição exata dessa técnica chamada “contemplação” pelos místicos cristãos, mas
outros místicos cristãos usam a palavra “contemplação” para significar um processo inteiramente diferente;
a comparação de técnicas de meditação na linguagem é difícil. Nath Sentado é feito da seguinte forma: um
senta em uma posição confortável o suficiente, de preferência com a coluna razoavelmente reta, e tenta ter
uma consciência relaxada de todo o conteúdo da mente e dos órgãos dos sentidos simultaneamente.

1. Não se pensa em nada, se possível. Se você perceber que está pensando, tente voltar a uma consciência relaxada:
observar seu autoconhecimento é uma consciência relaxada. Então está se vendo não pensar. Tentar pensar em algo não é uma
consciência relaxada. Se você está pensando, deixe acontecer, mas tente observar com uma consciência relaxada. Se estiver se
sentindo, deixe acontecer, não interfira e observe seus sentimentos com consciência relaxada. Não tente parar de pensar ou
sentir: esse esforço não é uma consciência relaxada. Apenas sente-se.

2. Não processe estímulos sensoriais, se possível. Se houver ruídos de fundo, não faça riffs mentais sobre eles e seus
significados. Apenas deixe que haja barulhos. Tente não cair no estudo de sensações individuais como objetos de meditação,
simplesmente deixe todo o sensório invadir sua mente. Em comparação com outras técnicas de meditação, essa abordagem pode
parecer apenas ligeiramente diferente de simplesmente ficar sentada ali. Isso ocorre porque, na filosofia Nath, a percepção
iluminada é apenas ligeiramente diferente de apenas ficar sentado ali, e isdo se houver alguma diferença.

Uma ferramenta muito gentil é usada para investigar uma distinção muito sutil, ou talvez inexistente,
entre os dois estados de consciência “iluminada” e “não-iluminada”. Alguns minutos desta técnica terão
algum efeito, mas as coisas realmente começam depois de alguns meses de uma ou duas horas por dia. Isso
pode parecer um grande investimento de tempo em comparação com os quinze minutos de manhã e à
tarde recomendados com mais frequência, e é.
Projeto Zarzax 12 Anticosmos 01
Meditação: O que? Então, o que, exatamente, está sentado lá sem fazer nada além de ter uma
consciência relaxada de seus sentidos, mente e corpo? Qual é o objetivo de tal exercício, e por que ele
(eventualmente, talvez) melhore a qualidade de nossas vidas? A resposta é que é quase impossível fazer o
exercício conforme descrito.
Conseguir uma consciência simples e relaxada de todos os nossos sentidos e nossas mentes acaba por
ser muito difícil. Normalmente, a primeira percepção é que nossas “mentes” são de fato dominadas por um
fluxo constante de pensamentos formando um “diálogo interno” ou “fluxo de consciência”. Nem todo
mundo tem essa estação de rádio interna constante de estática mental, mas a maioria das pessoas o faz.
Outro fenômeno dominante são as emoções reprimidas: estamos em movimento o tempo todo,
então simplesmente paramos e nos vemos chorando com a tristeza ou a dor mantendo-nos ocupados para
evitar que voltemos para casa.
Apenas sentar-se sem fazer nada é, na verdade, um processo bastante ativo, porque dá tempo e
espaço para muitos fenômenos mentais que geralmente são represados por atividades como o trabalho e o
tempo de recreação para chegar ao primeiro plano. Antigos flashes de memória, pensamentos que nos
distraem e que normalmente nunca temos tempo para nos distrair, especulações selvagens…tudo isso surge,
e simplesmente limpar o acúmulo de “manutenção adiada” na mente pode levar literalmente meses de
meditação constante. Nada acontece além de assistir a um fluxo de lixo mental. Eventualmente, o riacho
clareia e começamos a entrar no território.

Meditação: O Território
O território é onde a meditação começa a nos ensinar coisas que não sabíamos sobre nós mesmos e
sobre o universo. Existem algumas verdades básicas (“sentar-se comigo mesmo é difícil e perturbador às
vezes”), que vêm quase universalmente e rapidamente. No entanto, “O Território” é definido por quatro
experiências.

1. Silêncio Interno. A “lacuna entre os pensamentos” – o minúsculo momento de silêncio entre o final de uma palavra
mental e o começo da próxima – começa a ser vislumbrada regularmente, ou até desfrutada. O silêncio interior torna-se um
fenômeno que se pode produzir à vontade com um pouco de esforço, ou mesmo com um estado de espírito e de ser sem esforço.

2. A Meditação da Conscientização Energética traz para a percepção de consciência outros sentidos além dos cinco ou
seis regulares, e você começa a sentir sua aura, a aura de outras pessoas ao seu redor, seus chakras ou fluxos de energia,
bloqueios no fluxo de energia em seu próprio corpo ou fenômenos semelhantes.

3. Comunicação Espiritual. Insights profundos aparentemente além do plano humano entram em sua consciência e
começam a mudar sua vida. Talvez você veja imagens mentais de seres tentando se comunicar com você.

4. Catarse Emocional. Você percebe padrões de sentimento e pensamento que geralmente estão ocultos para você, como a
tristeza reprimida em torno da morte de um pai ou a frustração com uma carreira que você achava satisfatória. Você se sente
obrigado a mudar. Note que todos esses fenômenos são aspectos bastante comuns da vida cotidiana, que são ampliados
simplesmente por conscientizá-los por longos períodos de tempo. Nada de novo está sendo produzido, mas as verdades existentes
estão se tornando mais visíveis, mantendo a consciência relaxada.

A maioria ou todas essas coisas são experimentadas ocasionalmente em flashes por muitas pessoas:

-uma premonição sobre o futuro ou um breve vislumbre de halos de energia ao redor das árvores…
-um momento de êxtase no orgasmo quando a mente está calma...
-meditação simplesmente leva a esses fenômenos e os aproxima da nossa consciência diária através
de um processo gradual.

Projeto Zarzax 13 Anticosmos 01


Contágio Insignificante
por Ellen Greenham, Trad. Pt Zarzax

O homem é o mais efêmero dentro desse momento cósmico; nascido sem propósito, desconhecido ontem e amanhã e tão
perfeitamente obliterado que MANA-YOOD-SUSHAI nunca se lembrará se ele existiu ou não. Tudo é uma piada e uma
ilusão - uma luta que não traz recompensa, e que não tem significado ou mérito no caos
("8 de janeiro de 1924", Derleth & Wandrei, 1965, p. 284)

Referindo-se a Mana-Yood-Sushai, princípio e divindade mais antiga do corpus do escritor irlandês


de fantasia Lord Dunsany1, Lovecraft reconhece as medidas extremas do espaço-tempo em que o universo
existiu e o grau agudo de insignificância que a criatura humana representa dentro dessas medidas. Para
Lovecraft e para o cósmico, como sustenta Schweitzer, “divindades são muito mais sinistras” (1989, p. 16)
do que para Dunsany e seu reino fictício de Pegana.
Quando divindades como Cthulhu ou Dagon acordam no universo, elas despertam para destruir a
criatura humana e arrastar a Terra para alguma outra parte do universo. Em "Caminhos para Cidade dos
Elfos: Os Escritos do Senhor Dunsany", o autor americano, crítico e ensaísta Darrell Schweitzer escreve
que o nome de Mana-Yood-Sushai sempre foi escrito por Dunsany “em negrito, talvez em deferência à Sua
majestade” (Schweitzer, 1989, p. 9). Lord Dunsany é o nome mais comumente conhecido do 18º Barão de
Dunsany, Edward Plunkett (1878-1957).
A primeira das publicações de Dunsany, Os Deuses de Pegana (1905/2000), abre com a figuração de
Mana-Yood-Sushai como um senciente arcaico e todas as outras divindades que podem existir são elas
mesmas efêmeras dentro do espaço-tempo do universo. Depois de criar os deuses, Mana-Yood-Sushai
dorme, e continuará a fazê-lo enquanto a divindade menor bate em seu tambor (Dunsany, 1905/2000, p.
536). Quando Mana-Yood-Sushai acorda, essas divindades não existirão mais em Pegana e Mana-Yood-
Sushai "pensará em algum outro plano relativo a deuses e mundo.
Quando John Gribbin afirma que “o vasto tamanho do Universo visível, que parece à primeira vista
destacar a insignificância dos seres humanos na escala cósmica das coisas, é realmente um requisito essencial
de nossa existência”, ele chama a atenção a insignificância da criatura humana como uma qualidade inerente
do universo. Ao invés de ser a pedra angular da criação de alguma divindade, a criatura humana é um único
pontinho no radar da evolução estelar. Como a frágil "efeméride de um momento cósmico", a criatura
humana não tem mais significado para o universo do que um inseto para a criatura humana. Sobre o alcance
do universo, escreve Lovecraft, “anões… sem interesse nos minúsculos insetos chamados homens” (“25 de
junho de 1920”, Derleth e Wandrei, 1965, p. 120), e “toda a pseudo-importância sentida pelo próprio
homem antes que ele examine o campo mais amplo, necessariamente se afasta - assim como a ilusão do
gigantismo de uma mosca quando removemos a lupa através da qual estamos olhando ”(" 20 de Janeiro de
1933, "Derleth & Turner, 1976, p. 136). O cosmo que eleva a criatura humana como significante no
universo é também a ilusão que oculta a revelação de que ela nada mais é do que uma criatura insignificante.
A fim de evitar o risco de loucura e a sensação de insignificância que a memória do espaço-tempo pode
desencadear, a criatura humana recua para a amnésia do cosmos que, por sua própria natureza, erige um
limite de perspectiva que necessariamente protege aquela criatura do resto do universo que está tentando
evitar. Em "Um Escaneamento Obscuro", Arctor aceita o conselho dado por Fabin - equações frias como
o resultado calculável - de tomar drogas que entregam "traços de metais pesados e complexos" ao cérebro, e
"a vida biológica continua". Mas a alma, a mente - todo o resto está morto. Uma máquina reflexa. Como um
inseto. Repetindo padrões condenados, um único padrão, repetidamente, apropriado ou não ”(Dick, 2008,
p. 915).

1 (Dunsany, 1905/2000, p. 582; Schweitzer, 1989, pp. 7-10).

Projeto Zarzax 14 Anticosmos 01


Ironicamente, como Arctor observa os outros repetindo os "padrões condenados" que prendem
suas mentes em cosmos "tele-objetivos", ele também acaba entrando em espiral em seu próprio
esquecimento da memória que o desconecta do universo e inevitavelmente leva à amnésia.
A divisão da criatura humana a partir de si até que não mantenha mais significado suficiente para a
sobrevivência no universo, é destacada pelo crítico e acadêmico australiano Chris Palmer, que escreve que
“Bob Arctor se torna Bob / Fred, como agente policial. ele mesmo como um viciado em drogas, incapaz de
evocar os dois eus, torna-se então Bruce, o viciado em morte cerebral, comparável a um inseto ou a um
mecanismo de autodestruição ”(1991, p. 332).
Ao se tornar um "mecanismo de morte cerebral" dentro da clínica de reabilitação Novo Caminho
controlada pelo governo, é esse inseto ou Bruce a própria ferramenta utilizável para o extermínio de outros
insetos. Como é explicado a Bruce ao chegar ao Novo Caminho: “Fazemos muito disso, expulsando os
insetos da existência com o tipo certo de spray. Temos muito cuidado, com sprays. Eles podem fazer mais
mal do que bem. Eles podem envenenar não só as plantações e o solo, mas a pessoa que os utiliza (Dick,
2008, p. 1087).
Como Bruce, a criatura humana se torna um inseto insignificante infestando o universo. A máquina
de insetos de Bruce no jardim do Novo Caminho agora deve parar de “tentar alcançar o céu” e “fazer a
tentativa de alcançar” algo que está abaixo dele - pelo menos em parte - “matando insetos”2 (Dick, 2008, p.
1087). Assim também o universo deve ser mantido livre de infestação que impeça sua operação e evolução,
tornando a criatura humana insignificante e eliminando a infestação superficial.
O “inseto que se choca e vibra em um círculo fechado para sempre” é o inseto capturado no cosmos
tele-objetivo. Esta é a advertência que Lázaro Longo, de Heinlein, proclama quando diz que “a
especialização é para insetos”, e a advertência de que Leto, de Herbert, reflete sobre o ensinamento de Bene
Gesserit em Crianças das Dunas que afirma que “as especializações” representam lugares onde a vida está
sendo parada, onde o movimento é represado e congelado” (1976, p. 304).
Essa parada da criatura humana e a redução do espaço no qual ela se sente segura é como uma célula
da qual ela não pode escapar e, com o tempo, uma célula da qual não deseja escapar. No espaço confinante
e luminoso de seu cosmos, a criatura humana é significativa; no espaço escuro de um universo infinito, nada
mais é do que um insignificante inseto esmagado no pára-brisa galáctico do espaço-tempo. Se a criatura
humana quiser minimizar esse risco, como afirma o acadêmico e crítico americano Fred Erisman em
referência à afirmação de Lazarus Long sobre a especialização, essa criatura deve chegar a um acordo com
"a importância da amplitude intelectual".
A criatura humana deve olhar para além da visão limitada de sua especialização, e é com essa
perspectiva que Erisman examina uma série de obras fictícias de Heinlein para apoiar a ideia de que para a
criatura humana um conhecimento abrangente e um princípio direto podem colaborar em vantagem do
indivíduo e da cultura. Essa diversidade de conhecimento, habilidades intelectuais e práticas, argumenta
Erisman, é a justificativa de Lazarus Long - e, na verdade, Heinlein - para se proteger contra a devolução de
espécies humanas que resultariam da contínua redução de seu campo de visão a sítios de especialização.
O inseto que se especializa, o inseto que enxameia e subjuga pelo peso dos números, é o inseto que
pode permitir a perda de quantidades significativas de seu número, porque, afinal, não há indivíduos. Que o
coletivo sobreviva à custa de qualquer componente individual é o que a criatura humana teme, e que o
universo das equações frias possa erradicar - ou pelo menos manter sob controle - o enxame que é a
criatura humana, também deve ser temido . Para escapar de se tornar uma parte insignificante do enxame
coletivo, a criatura humana recua. Mas essa retirada não impede a ascensão do inseto que infesta.

2 Essa máquina de reconstrução é a base do próximo passo. Como o Visnu adormecido que restaura a
ordem do caos (Campbell, 1986/2002, pp. 21-5), Mana-Yood-Sushai “fará de novo novos deuses e outros
mundos, e destruirá os deuses que ele criou” (Dunsany , 1905 / 2000p. 535).
Projeto Zarzax 15 Anticosmos 01
Postura de Isthar
The Ecstatic Experience, Ph.D Belinda Gore, Trad. Pt. Lotan

Esta figura delicada da deusa babilônica Ishtar tem mais de


três mil anos e agora está no Museu do Louvre, em Paris. Ela é
esculpida em pedra branca – provavelmente alabastro, o meio para
várias estátuas importantes daquela época – com uma preciosa
pedra vermelha, talvez uma granada, adornando seu umbigo.
Ambos os braços parecem estar presos ao corpo como dobradiças
para permitir a articulação delicada das mãos e dos próprios
braços. Seus brincos trabalhados e rolos de colares ao redor de sua
garganta são feitos de metal e no alto de sua cabeça há uma
pequena meia lua. Ishtar foi associada a Vênus e aquela pequena
meia lua a faz lembrar o ícone astrológico do planeta Vênus, um
símbolo reconhecido em todo o mundo como representando a
mulher ou o feminino. Ishtar pode ser considerada a irmã mais
nova da deusa suméria Inanna, e, como a postura de Inanna, esta
também é útil para experimentar a iniciação, embora não tanto a
respeito da morte e morrer, mas mais na perspectiva da fertilidade e,
portanto, do renascimento. Na Postura de Inanna, parece que temos experiências que se concentram no
poder pessoal, enquanto a Postura de Ishtar facilita a abertura para graça, beleza e sabedoria. As
sacerdotisas de Ishtar eram provavelmente prostitutas sagradas, que no ato sexual encarnavam a deusa e
celebravam o mistério e a beleza da renovação perpétua da terra. Em transe, as mulheres experimentam
especialmente sensações deliciosas, cheiros e sensações físicas.
Em relatos, muitas me disseram a beleza da experiência que tiveram. Mary viu um templo majestoso
com degraus e colunas, vitrais, cristais e um piso incrustado de ouro e entrou em um espaço aberto de
pisos brancos, chafariz de água azuis, cheiros agradáveis e músicas delicadas. Para outros, a beleza se
estendia ao ambiente natural, pois descreviam campos de trigo exuberantes, céus azuis, montanhas
castanhas ondulantes, um riacho cercado por salgueiros com borboletas e beija-flores criando pontilhados
de cor. Uma mulher descreveu seu próprio corpo voluptuoso sendo massageado com óleos perfumados, e
então viu o grupo de mulheres em pé em um círculo em transe, “parecendo tão adorável que uma doçura
tomou conta de mim”. Bruce viu “mulheres e meninas atrás de véus e cortinas”, e Felicitas descreveu estar
imediatamente nua, como a estátua, “nua e pronta”, sugerindo que as mulheres se preparassem para seu
papel de sacerdotisas da sexualidade sagrada.
Um homem experimentou estar com uma sacerdotisa-deusa: ele viu as pernas de uma mulher, suas
pulseiras de tornozelo em ouro, o tecido recortado de sua roupa. Ele ficou hipnotizado e a seguiu até uma
cama decorada com plantas emplumadas e perfumada com óleos. Depois de fazer amor, ele a viu escolher
outro homem, que a seguia exatamente da mesma maneira, “atraído magneticamente para ela”.
A mensagem de Judy para sua amiga era de “sexualidade e sensualidade” e ela comentou sobre sua
própria receptividade feminina: “esse transe me torna mais acessível para receber do que outros transes”.
Outra Judy disse que o centro de seu corpo estava aberto e o brilho fluiu e, em outro transe, “minhas
moléculas se separaram e eu desapareci e me tornei uma com a luz”.
De fato, para muitos havia fluxos de luz ou fogo, dissolvendo-se em energia rodopiante. Comentei
uma vez que não havia energia masculina nesse caso – nenhum objetivo, nenhuma tarefa, nenhuma
disciplina – apenas “rosas doces florescendo em meu coração; elas são tudo que eu sempre precisei,
expressões da Mãe” sempre presentes em nossas vidas. O sexo e a fertilidade fazem parte do ciclo de
iniciação, o começo de um novo crescimento e fruição e morte inevitável, cada fase uma melodia na canção
sagrada da vida. O foco nessa postura é claramente a fertilidade.

Projeto Zarzax 16 Anticosmos 01


A mão esquerda foi usada para trazer energia da terra e a mão direita usada para direcioná-la. Eu
puxei a energia do chão através da minha mão esquerda e ela brilhou como uma bola alvinitente na minha
mão direita, eu me senti como uma grande semente e os meus movimentos explodiram sementes na terra,
espalhando sobre a terra, “havia sangue no chão e estávamos todos sangrando”, fertilizando o solo. Cobras
surgiam e um representante dos grandes ciclos de transformação, Ion, apareceu em todos os lugares e, por
vezes, em uma forma estilizada de espirais ou como ondulações subindo pela coluna vertebral.
Claire viu uma “grande serpente negra, tecendo hipnoticamente, que então se tornou uma árvore
com muitas cobras, caindo no chão”. Uma energia gestante se materializou à direita de muitos indivíduos
que vivenciavam o estado de transe.
Alguns descreveram como uma bola de energia, principalmente quente, pesada e macia, ou uma
bola de energia do céu ou de um globo, “a bola da terra em azul e verde nas palmas das nossas mãos”.
Uma mulher viu uma grande árvore – como a Árvore do Mundo – se materializar no centro do círculo e
absorver todas as bolas de energia de cada pessoa. Embora houvesse sempre muita energia, estava bem
enraizada na terra, mesmo através de um pólo de energia na mão de cada pessoa que a mantinha presa ao
chão, enquanto ainda a deixava livre para se movimentar.
A experiência de pertencer a um grupo intimamente conectado foi repetida de uma sessão para
outra. “Nós éramos todos criaturas com asas, voando ao redor da Terra, tocando suavemente nossas asas
para nos ajudar a manter o equilíbrio”, “havia mulheres juntas cantando e moendo milho”, “havia mulheres
dançando em círculos”. Alguns descreveram a presença de guerreiros, marchando em torno da base de um
obelisco rosado ao ritmo de tambores pesados. Uma mulher disse: “Estávamos tentando manter o nosso
próprio ritmo em meio às forças da guerra”.
Entre os gregos, as prostitutas sagradas eram especialmente importantes para os guerreiros que
retornavam da batalha, que visitavam os templos para pedir à deusa que equilibrasse a violência agressiva da
guerra, preparando-os para retornar às esposas e filhos e aos valores cooperativos da aldeia e da vida
familiar. Essa qualidade de cura e equilibrio apareceram em alguns transes, como Claire descreveu se
curando da dor crônica e eu do meu cansaço. Os animais apareceram brevemente como guias e ajudantes.
Além das cobras, havia muitas onças, vários ursos e águias, uma leoa e uma corça.
Como essa postura facilita as experiências de transe que são tão femininas em natureza, Dominic
levantou a questão: essa postura é apenas para mulheres? Foi-lhe dito que sua intenção poderia ser
investigada, que a postura era usada por iniciados com o propósito de receber treinamento e que ele
poderia participar. Movendo-se através dos níveis astrais inferiores “através de ghouls e fantasmas”, ele
chegou a uma cidade brilhante.
Lá ele se encontrou em uma sala com professores e recebeu instruções. Após a sua descida e
retorno, um grupo de mulheres que tinham sido suas colegas de classe o vestiram com um roupão e ele se
retirou para digerir a informação que ele trouxe de volta com ele. Nesse momento, ele percebeu que ele era
uma mulher. O ensinamento lembrava-lhe Sophia e o amor da sabedoria ou filosofia. Algumas pessoas são
mais inclinadas do que outras para ouvir conselhos verbais ou instruções.
A sabedoria em uma mensagem era simples e profunda: “Esteja em seu corpo, ame sua vida, não se
retenha de sua experiência”. E ainda posso ver as lágrimas radiantes nos olhos da mulher que simplesmente
disse: “Ela me chamou de irmã”.

Postura
Fique com os pés paralelos e separados cerca de 5 cm. Mantenha os joelhos ligeiramente
flexionados. Mantenha o braço esquerdo ao lado do corpo com o cotovelo bloqueado. Mantenha os dedos
da mão esquerda juntos, mas estenda os polegares da mão e aponte os dedos para o chão. Dobre o braço
direito no cotovelo e com a palma da mão para cima, segure o braço inferior direito na frente do corpo em
um ângulo de noventa graus. Mantenha os dedos da mão direita estendidos e afastados. Feche os olhos e a
boca, e volte a face para frente.

Projeto Zarzax 17 Anticosmos 01


Universo Esquisofrênico
Neocosmicism: God and the Void, 2013, Ellen Greenham, Trad. Pt. Lotan

À medida que a compreensão do universo pela criatura humana se expande, sua percepção desse
território torna-se cada vez mais uma abstração mental, em vez de uma experiência de conexão e
participação incorporadas. O cosmicismo de Lovecraft sinaliza uma evolução dentro da visão de mundo da
criatura humana. Ao chegar ao século XX, essa visão mudou do “paraíso geocêntrico de Dante Alighieri no cume
da montanha do Purgatório, que seu século situou no meio de um oceano imaginário cobrindo todo o Hemisfério Sul”
(Campbell, 1968, p. 611), e atravessou o universo heliocêntrico de Copérnico. Nos tempos de Lovecraft, a
ciência está dando passos preliminares rumo a uma visão diferente do universo, e o cosmicismo se
desenvolve de uma maneira que abraça o modelo histórico do universo como máquina e antecipa a ciência
quântica. Essa visão do universo mantém seu foco simultaneamente no que está por trás e à frente da
criatura humana, e está aninhado dentro do cosmicismo como um componente vital de sua utilidade e
potência como modelo filosófico de investigação e iluminação. A ideia de olhar em ambas as direções ao
mesmo tempo é comparável à ideia de tempo que Heinlein descreve sucintamente como “um termo técnico
inventado por Alfred Korzybski1 e se refere ao fato de que o animal humano vive não apenas no presente,
mas também no passado e no futuro” (1941, p. 154). Encadernação do Tempo envolve uma interação entre
o que é conhecido e registrado sobre o passado histórico e o que é extrapolado como possibilidade futura.
Com base nesses parâmetros, a criatura humana toma decisões no presente em que ela existe, e cada decisão
tem efeito no evento imediato dessa decisão, enquanto também projeta no futuro que afeta todos os
eventos subsequentes. Paul Atreides na Duna de Herbert entende isso:

O vazio era insuportável. Saber como o relógio havia sido colocado em movimento não fazia diferença. Ele podia olhar para o
seu próprio passado e ver o início disso – o treinamento, a nitidez dos talentos, as pressões refinadas de disciplinas sofisticadas
e, finalmente,a ingestão pesada de especiarias. E ele poderia olhar para frente – a direção mais aterradora – e ver para onde
tudo apontava.” (1965/1978, p. 188)

A ideia do futuro como “a direção mais aterradora” é inescapável para a criatura humana dentro do
cósmico, porque sabendo que tudo vai acabar, que futuro resta? O personagem de Dick, Deckard, nos
Androids, sabe disso, e ao se perguntar se Mozart também sabia, Deckard conclui que “a performance
terminará, os assinantes morrerão, eventualmente a última partitura da música será destruída de uma forma ou de outra;
finalmente o nome “Mozart” desaparecerá, a poeira terá vencido”. Mesmo a ordem e a função dos componentes
dentro da máquina acabarão por deixar de funcionar, e quando os personagens de Dick, Chien e Tanya,
falarem sobre “música desafinando o céu” na história “Fé de Nossos Pais” (1987d, p. 221), Tanya lembra
Chien que isso refere-se à ideia de que “toda a ordem celestial do universo termina”…
De uma posição simultaneamente retrospectiva e especulativa, o universo tornou-se um lugar
estranho e, dentro de sua própria localidade, o tamanho do universo, quando expresso dentro da estrutura
newtoniana do espaço e do tempo, domina a criatura humana. Quando algo é alheio, “se estende a outra
pessoa ou lugar” (“vol. I”, Simpson e Weiner, 1989, p. 314). Ser alienígena pode até significar ter “uma
natureza repugnante, adversa ou oposta a” alguém ou algo (“vol. I”, Simpson & Weiner, 1989, p. 315). Em
suma, um universo alienígena não é familiar e não é bem-vindo na melhor das hipóteses, e mais
frequentemente um território hostil no qual “até mesmo o círculo de estrelas [é] como as pontas luminosas
de armas apontadas para baixo” (Herbert, 1965/1978, p. 197), e onde “a Estrela Polar espreita do mesmo
lugar na abóbada negra, piscando horrivelmente como um olho insano assistindo-nos” (“Polaris”,
Lovecraft, 1994, p. 31).

1Korzybski era um filósofo e engenheiro polonês. Vale notar a conexão com o uso de Heinlein do termo
''tempo de ligação" de Korzybski. John Clute reconhece Heinlein como um autor que escreve dentro de

Projeto Zarzax 18 Anticosmos 01


A criatura humana não é apenas alienada desse universo, é incapaz de escapar. O Paraíso de Dante
não reside mais no Pacífico – embora Dagon’s (Lovecraft, 1994, p. 11) e Cthulhu’s (Lovecraft, 2000, p. 87)
possam residir. O cosmo se tornou ilegível em referência a como e de fato onde a criatura humana vive.
Como o urbanista e filósofo francês Paul Virilio declara em Grey Ecology, o espaço no qual a vida pode ser
erguida tem diminuído significativamente e “o que chamamos de tempo real leva ao contínuo espaço
temporal sofrendo uma contração que reduz para praticamente nada a vastidão do mundo”(2009, p. 27).
Escrevendo há quase um século em ‘The Modern Temper: Um Estudo e Uma Confissão’, o crítico
social e cultural americano Joseph Krutch afirma que “o mito, uma vez estabelecido, persiste muito depois
de suposições, quais viu destruídas, porque, nascendo do desejo, é muito mais satisfatório do que qualquer
fato”(1929/1956, p. 8). As tradições míticas nem sempre são transportadas facilmente para localidades fora
de seu ponto de origem e, em um sentido cada vez mais globalizado do mundo, esse transporte pode falhar
completamente. O único grande problema que a criatura humana enfrenta ao se apegar ao mapa reificado
em que se transformou a cosmologia de Gênesis, está localizado no fato de que esse cosmo foi escrito há
milhares de anos dentro do contexto de uma cultura judaica nômade postulada no deserto e a maioria das
criaturas humanas simplesmente não vive mais assim.
Não apenas o mapa culturalmente construído do cosmo se tornou uma ilusão de que a criatura
humana se enganou em pensar que é real a possibilidade de viajar pelo mesmo, mas preso dentro dessa
transformação, o cosmos frequentemente representa a fantasia da criatura humana de um ideal que é
sempre esperado e nunca encontrado dentro do espaço-tempo do universo. Essa fantasia de um ideal é
encontrada na história de Dick, “Estranho Éden”.
Quando o capitão Johnson sai de sua nave e chega à superfície do planeta, a paisagem em que ele
entra não é diferente do Éden da cosmologia de Gênesis. Johnson e sua equipe estão lá para mapear o
planeta, mas ele tem reservas quanto a isso. Parece que desde o início Johnson sente uma ameaça no
território subjacente do paraíso, notando que:
Todos os animais eram mansos. Que tipo de pessoas construiu este lugar? O pânico apunhalou-o.
Talvez não as pessoas. Talvez alguma outra raça. Algo alienígena, além da galáxia. Talvez essa fosse a
fronteira de um império alienígena, algum tipo de estação avançada (Dick, 1987a, p. 114).
Para Johnson, o mapa de uma paisagem edênica é apresentado antes dele, mas ele sabe que se o
planeta fosse “mais próximo da Terra”, não permaneceria intacto (Dick, 1987a, p. 111). O desconforto de
Johnson, no entanto, não é meramente um resultado da compreensão de como sua própria espécie abordou
com demasiada frequência a paisagem natural, é também uma resposta a algo que ele sente estar sob o mapa
da perfeição diante dele. Ele pode buscar refúgio no desejo de um mundo primitivo no qual viver, mas ele
sabe que esse é um desejo por algo que ele nunca teve.
O universo nunca está longe da vista. Paul Atreides reconhece esse desejo humano pela experiência
de um universo que segue um senso de ordem e lógica quando diz que “existe em todas as coisas um padrão
que é parte de nosso universo. Tem simetria, elegância e graça. Tentamos copiar esses padrões em nossas
vidas e em nossa sociedade, buscando os ritmos, as danças, as formas que confortam. No entanto, é possível
ver o perigo na descoberta da perfeição final. É claro que o padrão final contém sua própria fixidez. Em tal
perfeição, todas as coisas se movem em direção à morte.” (The Collected Sayings of Muad’Dib” da princesa
Irulan, 1965/1978, p. 361).
Paul Atreides expressa uma consciência do esforço da criatura humana para “copiar esses padrões”,
na natureza que, por seus “ciclos” e “simetria”, implica o mecanismo de trabalho do universo como
máquina. A máquina continua girando, e a criatura humana biológica e finita está presa entre seu desejo pela
lógica daquela máquina no coração do território, e sua tendência humana de confiar no que vê através da
superfície do mapa como se isso fosse verdade foram de alguma forma toda a realidade em que ela existe. O
dilema em termos de sobrevivência que esta condição bipolar levanta também é observado por Paul depois
de testemunhar a morte de Duncan Idaho nas mãos de Imperial Sardaukar a serviço do inimigo Harkonnen
(Herbert, 1965/1978, pp. 215-6). Paul entende que ele é capturado dentro de um “terreno cego”,
protestando-se por ter baseado apenas no que ele pode ver e recordando o axioma “Bene Gesserit” que “Se
você contar apenas com seus olhos, seus outros sentidos enfraquecerão” (Herbert 1965/1978, p. 218).
Projeto Zarzax 19 Anticosmos 01
A criatura humana tornou-se tão fechada à luz de seu cosmos ordenadamente mapeado, que
esqueceu como é o território, e se aventurar além de tal confinamento e entrar no universo é aterrorizante.
Quando um vislumbre do universo é concedido, essa criatura quer apenas esquecer e retornar ao conforto
do cosmo; como Chien diz: “Uma alucinação…é misericordiosa. Eu gostaria de ter isso; eu quero o meu cosmo de volta”
(Fé de Nossos Pais, Dick, 1987d, p. 222).
Se a criatura humana escolhe buscar a existência no universo, essa criatura arrisca o engolfamento da
loucura ou da morte se não conseguir se reconciliar com a revelação do território. Todos os quatro autores
principais discutidos nesta tese fornecem múltiplos exemplos de tal resultado, incluindo mas de modo
algum limitados a frequentemente citada advertência a todas as criaturas humanas no parágrafo inicial de
“The Call of Cthulhu”; Richard Upton Pickman, que divide sua identidade enquanto alugava um estúdio
sob o nome de Peters, em “Pickman’s Model” (Lovecraft, 2000, pp. 44-6); Crawford Tillinghast em “From
Beyond” (Lovecraft, 1994, pp. 89-90); Joe Slater em “Além dos Muros do Sono” (Lovecraft, 1994); Alia
Atreides em Children of Dune, que inevitavelmente “sentiu que ela havia se tornado duas pessoas”, antes
de buscar a morte como sua fuga (Herbert, 1976, pp. 339, 363-8); e Slayton Ford no mundo do Jockaira em
Methuselah’s Children, (Heinlein, 1958/1999, pp. 419-21).
A natureza extrema da visão da criatura humana do universo como um estado bipolar contra o qual
ela é colocada, surge da premissa do cosmicismo de que dentro dessa bipolaridade a criatura humana tem
opções limitadas. Pode optar por permanecer ignorante do território por meio da fuga ideológica de volta
ao Gênesis da Cosmologia, ou, na busca de descascar o mapa para expor o território em sua manifestação
do universo como máquina, arriscar os resultados sintomáticos do engolfamento. Se a criatura humana teve
a sorte de recuar do limiar da revelação antes de ser engolida, ainda assim poderá retornar à amnésia do
cosmos em que até então vivia. A possibilidade sempre presente neste cenário é, no entanto, como Wingate
Peaslee descobre em “The Shadow Out of Time” (Lovecraft), em que a realidade perturbadora do
território oculto será eternamente sentida. Para a criatura humana que se desviou muito do caminho do
mapa e se viu à deriva e totalmente separada do cosmos de sua visão costumeira, uma fuga para a loucura
ou a morte acaba se tornando as únicas opções viáveis. Isso pode ser comparado a um senso de
condenação, independentemente da direção tomada, e o medo que é gerado entre esses pólos se torna um
fator primordial da criatura humana dentro do cosmicismo. Independente da escolha que é feita, aquela
criatura percebe que o resultado será o mesmo.
Durante uma conversa com Mercer e depois com sua esposa, no romance Android de Dick,
Deckard compreende que “não há salvação”, que ele deve seguir seu curso de ação. Embora Deckard saiba
que está errado, Mercer diz a ele que fazer o que está errado:“será necessário…não importa aonde você vá parar. É
a condição básica da vida, ser obrigado a violar sua própria identidade…é a última sombra, a derrota da criação; esta é a
maldição no trabalho, a maldição que se alimenta de toda a vida. Em todo lugar do universo”, (Dick, 1968/2007, p. 155).
O universo não é mais uma coisa estável ou outra. Não é nem máquina nem criação de Deus. Ele é
dividido internamente e a criatura humana também é separada dele, jogada à deriva dentro de um universo
esquizofrênico. Quando um indivíduo é rotulado como esquizofrênico, ele é diagnosticado com “[um]
transtorno mental ocorrendo em várias formas, todos caracterizados por um colapso na relação entre
pensamentos, sentimentos e ações, geralmente [com] uma retirada da atividade social e ocorrência de
delírios e alucinações ”(“ vol. XIV ”, Simpson & Weiner, 1989, p. 623).
Além disso, ser esquizofrênico também carrega “a implicação de elementos mutuamente
contraditórios ou inconsistentes” (“vol. XIV”, Simpson & Weiner, 1989, p. 624), sugerindo um tipo
particular de bipolaridade na medida em que existe uma presente implicação de que forças opostas se
manifestarão simultaneamente.
Quando tal condição é diagnosticada em uma criatura humana individual, ela pode se tornar um
problema significativo. Mas o que significaria se toda a espécie estivesse imersa em tal estado, ou se este
fosse o estado do universo? O cosmicismo toma o modelo do universo como máquina e investe nele
criaturas humanas possuidoras de uma herança cultural – e, portanto, uma visão do universo – que está
saturada na Gênesis da Cosmologia e em todas as suas implicações manifestas.

Projeto Zarzax 20 Anticosmos 01


Sigilo do Ventre de Isheth Zenunim
TOTBL - 218, Trad. Pt Lotan

O Sigilo do Ventre de Isheth Zenunim é duplo em seu poder, função e essência; é tanto uma
passagem que conduz aos mistérios internos da Deusa da Lua Negra, quanto um ponto de entrada do Sitra
Ahra para Yesod e Malkuth, através do qual seus Lilim e outros geradores do inferno são chamados. O
próprio Sigilo é um símbolo para o aspecto Isheth Zenunim de Lilith, e os anjos da Lua Negra que são
evocados através dele são suas “servidoras” – o Sucubus / Incubus e outros daemons encarregados do
roubo e transubstanciação das correntes de energia sexual que eles despertam e canalizam de volta para as
águas escuras da Lua Negra.
O Sigilo do Ventre de Isheth Zenunim é, portanto, um símbolo que pode ser utilizado para evocar a
presença das concubinas infernais que concedem
iniciação e insight nos aspectos esotéricos da
alquimia vampírica de Gamaliel. Neste contexto, o
Sigilo é usado como um ponto focal através do qual
as energias sexuais são projetadas na escuridão fértil
de Gamaliel. O Sigilo do Ventre é também uma
passagem para o reino dos pesadelos e atua como
um espelho negro no qual os desejos ocultos podem
ser projetados, fortalecidos e manifestados. Através
desse sigilo/espelho fortemente semeado de fé,
desejo e vontade, fantasmas e sombras de grande
força podem ser invocados e enviados para criar
mudanças de acordo com sua natureza e essência.
Este Sigilo é aberto em nome de Ama Lilith e
adentrado em nome de Isheth Zenunim. Isheth
Zenunim é aquela que recebe os que buscam
penetrar nos mistérios obscenos de Gamaliel, enquanto Ama Lilith é a mãe do parto que a envia para
desovar através do portal aberto de seu ventre sempre faminto. Quando, dentro do contexto dos ritos
oníricos de união, se entra através do Sigilo do Ventre, Isheth Zenunim conduz às sombrias planícies de
Gamaliel e ajuda na transformação astral e no atavismo licantrópico necessários para se caminhar nos
Jardins Lunares do Pesadelo.
Passar pelo Sigilo e entrar no Outro Lado é, portanto, um processo de morte e renascimento,
levando dos sonhos ilusórios da consciência diurna do ego para o despertar da Eu-Sombra dentro do Lado
Noturno. A ativação do Sigilo pode assumir muitas formas e é parte dos mistérios revelados através da
gnose concedida pela Rainha Sem Rosto. Mas o que pode ser revelado é que a lua branca inferior do sigilo
está ligada à essência de quem executa o chamado, e a lua negra superior do sigilo está ligada à essência
daquilo que é invocado. Essa ligação pode ser criada pelo uso dos fluidos vitais do homem, da mulher, dos
animais e das plantas, ou através dos poderes mágicos da fé e da vontade, manifestados como sigilos
sonoros ou lineares.
O Sigilo do Ventre pode ser traçado na testa, lançado no espelho, desenhado sobre pergaminho
incensado, marcado dentro da tigela preta, ou formado dentro dos sonhos despertos da mente noturna e
fortalecido com o poder do sangue, fluidos sexuais, tinturas, infusões, libações, óleos essenciais, fumaça e
outras ofertas que podem girar a chave, abrir o portão e fortalecer o elo entre a Mãe Negra e seu devoto.
Dentro de certos trabalhos, o Sigilo do Ventre de Isheth Zenunim é inscrito em um cálice de prata
consagrado, que pode então ser usado para canalizar o sacramento batismal escuro de seu ventre devasso. O
sangue negro que flui dela é tanto o veneno da Serpente mortífero para o ego quanto o néctar da
ressurreição para o Eu-Sombra.

Projeto Zarzax 21 Anticosmos 01


União Onírica com os Anjos da Lua Negra
Monte um altar para o poder em questão que deseja conectar. Neste altar, coloque todos os sinais,
sigilos, metais, pedras, imagens, ervas, espelhos e outras coisas que possam conectá-lo ao espírito com o
qual você procura a união onírica. Consagre as velas em nome desse espírito. Use esculpir sigilos e
invocações nas velas que chamem as correntes necessárias e revista as velas com seu próprio sangue, com
óleo de almíscar, Artemisia
Vulgaris e com Artemisia
Absinthium. Faça também
uma boa infusão com uma
colher de chá de Artemisia
Vulgaris e uma colher de
chá de Absinthium. Deixe
a infusão esfriar e despeje-
a no seu cálice de ritual e,
nessa infusão, misture nove
gotas de sangue do polegar
da sua mão sestra e pode
ser acrescentado se quiser
duas gotas de sangue lunar,
caso seja uma invocadora.

-Coloque o Cálice sobre o


sigilo do espírito do ritual
em questão. Bem na frente
deste altar, contemple os
outros sigilos e concentre-
se fielmente no poder que
(L'Idole de la Perversité, Jean Delville,1891)
você precisa contatar em
seus sonhos. Escreva e recite invocações para o espírito e, com a mente, crie uma forma para que ele possa
manifestar seus poderes. Acenda uma de suas velas do sonho (estas são as velas consagradas e revestidas,
não suas velas padrão de altar) e invoque as forças pelas quais anseia.
-Aponte a Adaga da Vontade e do Fogo para o cálice e trace o pentagrama da Água / O Trono
Ocidental. Vibre o nome e as fórmulas do espírito em questão e visualize o pentagrama queimar em preto.
Abaixe a adaga da Vontade no cálice do Desejo e deixe sua vontade de se unir em comunhão onírica fluir
através da lâmina com a qual você agita o elixir em um movimento anti-horário. Invoque o espírito e diga-o
para abençoar o elixir para que ele possa girar as chaves oníricas e levá-lo para a encruzilhada crepuscular,
onde você pode aproveitar a luz escura de seus deuses. Beba o elixir amargo, invoque o espírito novamente
e anuncie a ele mais uma vez a sua vontade de sonhar com ele e medite sobre a chama da vela do sonho.
Quando você se sentir pronto para entrar nos portais oníricos, louve seus deuses e apague todas as chamas,
mas deixe a vela do sonho queimar.
-Faça a sua cama no chão em frente ao altar e à luz da vela dos sonhos. Cante as fórmulas e adore a
forma que você criou com o fogo da sua mente, até atravessar os portais do sonho. Se você for abençoado,
seu desejo será realizado e o espírito com o qual você procura contato virá até você e deixará você aprende
o que você for capaz. Todo o processo pode ser repetido uma vez por semana, com uma nova vela do
sonho e novo elixir. Pode até mesmo ser feito sem o elixir quando você já abriu os portões oníricos. Mas as
velas do sonho sempre é recomendado usar, por muitas razões diferentes. A melhor hora para todas essas
conexões é quando a lua está morrendo e, se possível, deixe todo o trabalho culminar na noite em que a lua
está negra.

Projeto Zarzax 22 Anticosmos 01


David Bowie e o Oculto
por Peter R. Koenig, Trad. Pt Lotan

O que é arte, o que é rock? É difícil descrever seus códigos, seus gestos, sua estética e suas
percepções; ela pode ser experimentada apenas como uma expressão de nossa cultura – um movimento de
inquietação constante, espelhando todas as partes visíveis da sociedade. Como pode o vazio febril do êxtase
infinitamente repetido ser transformado em algo que pode ser sentido, algo ouvido e visto e pago? Afinal,
essa música não é qualificada através da consciência de seu criador, mas através dos estados mentais criados
por seus perceptores. Frank Zappa expressou isso em 1974 assim: “O ponto crucial do disco é o
apóstrofo.”
Além de ser um músico e diletante em algum momento brilhante, a perspectiva religiosa de David
Bowie e suas técnicas de composição são um espelho eloquente e fragmentário da sociedade. “Na verdade,
tenho muito do século XIX – um romântico de berço”, ele proferiu
em 1995. Seu trabalho se assemelha ao de muitos
romancistas e pensadores pós-românticos europeus, como
Hermann Hesse (Steppenwolf), Gustav Gründgens (seu
papel mais famoso: Mefistófeles) ou Aleister Crowley. De
fato, o Gesamtkunstwerk “David Bowie” cristaliza essa
realidade fragmentada em artefatos culturais, e estes, por
sua vez, coagulam em novas realidades. Bowie (nascido em
1947 como David Robert Jones) é visto por alguns como
uma espécie de homem da Renascença cuja professa
“universalidade” é uma tentativa de mostrar os marcos da
evolução, reagrupando as partes fragmentárias de nossa
sociedade; e nisso, ele se assemelha a muitos ocultistas –
mas, ao contrário da maioria dos ocultistas, Bowie tem
considerável riqueza, aclamação da crítica, inteligência
penetrante e boa aparência duradoura; ele parece pronto
para alcançar alturas e realizações ainda maiores.
O que vem a seguir, divindade? Há um elemento fáustico / mefistofélico aqui. De que outra forma
explicar o zênite absoluto da trajetória mundana deste homem? Na verdade, há pessoas que estão
convencidas de que seu sucesso não seria possível sem algum tipo de assistência sobrenatural. Eu não
compartilho desta opinião. É minha convicção que o trabalho de Bowie foi seriamente subestimado e não
pode ser reduzido a uma série de tópicos únicos. No entanto, não se pode ignorar que Bowie construiu sua
persona pública a partir das várias partes do quebra-cabeça que estão nas raízes do ocultismo moderno; ele
já estava convocando algumas dessas peças com a tenra idade de dezesseis anos.
O que David Bowie tem a ver com o ocultismo? Ele mesmo deu a resposta em sua música de 1971
“Quicksand”:

Estou mais perto da Golden Dawn Imerso no uniforme de imagens de Crowley

Na canção “Station to Station” de 1976 (gravada no final de 1975), ele mencionou as chaves ocultas
para portas para outros planos da realidade, quando ele descreveu como viajar pela Árvore da Vida
Cabalística: De Kether a Malkuth, isto é, da Divindade à Terra. Em novembro de 1995, ele finalmente
admitiu que em 1976 “o interesse primordial estava na cabala e magia. Todo aquele escuro e um pouco temível mundo do
lado errado do cérebro ..[…] Mais recentemente, [1995] eu tenho interesse nos gnósticos.”

Projeto Zarzax 23 Anticosmos 01


Sua ex-esposa, Angie Bowie, uma testemunha importante do período peculiar em questão, têm
impedido as alucinações de qualquer crítico de conspirações da sociedade oculta envolvendo nazistas. O
que é gnosticismo, e é encontrado nos fragmentos da realidade de Bowie?
“Gnosis” é a palavra grega para conhecimento, e pode ser definida como um meio de conhecimento,
em oposição à fé. A seguinte definição de gnosticismo mostra-a como algo parcialmente espiritual, algo
parcialmente psicológico – um deslocamento crônico ou inquietante com o mundo. Aqueles que são felizes
com e no mundo, que se beneficiam de boa saúde, e que experimentam amor e satisfação em seus campos
preferidos, parecem não precisar do gnosticismo “de cura do universo”, que eu acredito ser uma ferramenta
religiosa para curar a agonia do insuportável. O mago e o gnóstico vivem em dois mundos ao mesmo
tempo – mas enquanto o mago tenta usar o mundo além para ter poder sobre este mundo aqui, o gnóstico
busca uma realidade divina, um reino além do mundo atual.
Historicamente, o gnosticismo é um conjunto variado de tradições religiosas sobrepostas que muitas
vezes se contradizem. Faz parte dessas tradições que todo gnóstico inventa constantemente seu próprio
gnosticismo. Vivendo em um mundo subjetivamente sentido e vivido como um “lugar imundo” (um termo
gnóstico), clama-se pela salvação.
Arte, música, hedonismo, criatividade, religiosidade e todos os tipos de estilos de vida criativos e
alternativos sugerem uma possível ou potencial subcorrente gnóstica de auto-realização além deste mundo.
Nas palavras de Bowie: “Você está dançando onde os cães estão defecando o êxtase.” Bowie criou um
mundo além de sua existência terrena (na época rica) com a manifestação de emanações constantes de
personagens diferentes que às vezes se misturavam com a personalidade “real”, mas na maioria das vezes
tinha sido usado por ele para disfarçar sua alienação de si mesmo, da sociedade e seus mecanismos: este é o
motivo recorrente de sua busca pelo eu autêntico. Uma espécie de “dor” é rastreável em muitas de suas
letras. Isso o fez despir-se e preencher os espaços em branco deixados para trás:

“Quando ouvi alguém dizer algo inteligente, usei-o mais tarde como se fosse meu. Quando eu vi uma qualidade em alguém que
eu gostei, eu peguei. Eu ainda faço isso. É como um carro, substituindo peças.”
(Rolling Stone, 12 de fevereiro de 1976.)

Em 1972 ele sentiu que seu “cérebro doía como um armazém / não tinha espaço para gastar”.
Como Bowie é um dos mais inovadores do rock e artistas pop de todos os tempos, sua criação de múltiplas
personalidades também espelha a cultura pop, com seus mitos paranóicos e para-religiosos de homens das
estrelas visitando a Terra, tornando-se ou influenciando Messias, ou tentando viver como discretos
passageiros entre os terráqueos.

A Golden Dawn
A Golden Dawn foi uma sociedade mágica e secreta que floresceu no final do século XIX e ensinou
uma mistura única de misticismo judaico (chamado Cabala), viagens astrais, magia e como se comunicar
com anjos e demônios. Para esta última comunhão, primeiro era necessário esvaziar a mente, abrir espaço
para o desconhecido entrar – algo que se parece muito com o método “cut-up” de Bowie de escrever letras.

“Eu sempre me senti como um veículo para outra coisa, mas na verdade nunca soube o que era aquilo. Há um sentimento de
que estamos aqui para outro propósito.”

O Sniper no Cérebro Bowie estava espalhando palavras-chave ocultas por toda parte, sem nenhum
medo aparente da condenação publica. “Aquele mundo todo sombrio e assustador do lado errado do
cérebro” é expresso em termos complicados. Quando perguntado sobre seu passado ocultista

NME: Então você estava envolvido na adoração do diabo?

Projeto Zarzax 24 Anticosmos 01


Bowie: Não adoração do diabo, não, era pura magia antiga.

NME: Algo a ver com Aleister Crowley?

Bowie: Não, eu sempre achei que Crowley era um charlatão. Mas havia um cara chamado Edward Waite que era
terrivelmente importante para mim na época. E outra chamada Dion Fortune, que escreveu um livro chamado Psychic Self-
Defense. Você tinha que correr pela sala pegando pedaços de barbante e lápis de cera velhos e desenhar coisas engraçadas na
parede, e eu levei tudo muito a sério, ha ha ha! Eu desenhei portais em diferentes dimensões, e tenho certeza que, para mim, eu
realmente entrei em outros mundos. Eu desenhei coisas nas paredes e passei por elas e vi o que estava do outro lado!

(Sex and the Church Oddity, New Musical Express, fevereiro de 1997)

Sexo e a Igreja
Aleister Crowley nasceu na Inglaterra em 1875, em uma família rica e religiosa no auge da era
vitoriana. Em 1898 ele se juntou à Ordem Hermética da Golden Dawn. No Egito, em 1904, Crowley
escreveu um poema oculto anunciando o surgimento de um Novo Aeon que seria regido pela Lei do “Faça
o que tu queres” (como pode ser encontrado em “After After” de Bowie, 1970). Após a morte de um de
seus alunos, a vida de Crowley piorou. Sua reputação na imprensa britânica como “O homem mais cruel do
mundo” estava agora, mais do que nunca, trabalhando contra ele. Os últimos anos de Crowley foram
ofuscados por problemas de saúde, dependência de drogas e uma busca desesperada por dinheiro. Em
1935, ele foi declarado falido e vivia principalmente do dinheiro de sua ovelha religiosa. Ele passou pelo
London Blitz e recuperou sua existência em albergues rurais; Ele morreu em Hastings, Inglaterra, em 1947.
Crowley expandiu os limites da Golden Dawn, defendendo identificar-se com vários deuses, união com os
Deuses (anjos e demônios) durante o orgasmo e / ou consumo de fluidos sexuais masculinos e femininos
misturados. O sistema de Magia Sexual de Crowley era, e ainda é:

1. Adoração do falo, tanto dentro quanto fora;

2. Adoração da vagina e do ânus como canais divinos;

3. Interação dentro da vagina com o sangue ou as secreções de uma mulher quando excitada;

4. Impregnação + fertilização de um ovo + o ato de criação;

Crowley sonhava em dar à luz um feto per anum: “uma massa de sangue e lodo”. Ele explicou que
“a ‘criança’ de tal amor é um terceira pessoa, um Espírito Santo, por assim dizer, participando de ambas as
naturezas, mas ilimitado e impessoal, porque é uma criação incorpórea de natureza totalmente divina.”.

Stairway to Heaven
Quando perguntei a Angie Bowie por que seu ex estava envolvido em magia, ela Lembrava-se de
que ele ouvira falar que o Led Zeppelin estava envolvido no oculto e, por isso, queria ser ainda mais legal e
assustar Jimmy Page. David Bowie decidiu retaliar com sua magia, e supostamente disse à sua esposa que
ele faria isso com o que ele sabia da magia tibetana (“o lado escuro do budismo”, como ele a chamava);
tudo a ver com Aleister Crowley era “merda pequena”. Poderia haver outra razão pela qual o
crowleyanismo não era adequado para muitos artistas, exceto para eles usarem algumas palavras-chave.
Estrelas do rock ocupadas não têm tempo para a maratona de Crowley. A imagem do “Homem Mais
Malvado” é suficiente apenas para estratégias de marketing.

Projeto Zarzax 25 Anticosmos 01


Jimmy Page supostamente já estava interessado na Cabala aos onze anos. Em 1964, Page havia sido
membro da “Sociedade Para a Prevenção da Crueldade aos Homens de Cabelos Compridos” de Bowie.
Certamente, uma ferramenta para falar diante de um microfone apenas. No ano seguinte, Bowie e Page
cooperaram na faixa de Bowie, “I Pity the Fool”, e Bowie recebeu o riff de guitarra da música “The
Supermen”, de 1970, de Page.

Cut-up
A técnica de cut-up foi originalmente concebida pelos surrealistas, que a chamaram de escrita
automática ou cadavre exquis e mais tarde remontada por Brion Gysin e William S. Burroughs: você pega
um texto, corta em pedaços, remonta essas peças a esmo, e assim criar algo novo fora do vínculo da ordem
linear. Como Bowie usou a técnica de cut-up para “escrever” muitas de suas letras, não faz muito sentido
tentar analisá-las como um todo, ou cada letra individualmente, palavra por palavra. Em vez disso, é preciso
focar nas imagens recorrentes e códigos que aparecem em todo o “David Bowie opus”, que conota o seu
tipo de gnosticismo. O método de corte torna-se irrelevante se Bowie está consciente de si mesmo como
um gnóstico; isto é, se ele se expressa conscientemente em termos gnósticos – ou se está escondendo-o.
Embora, se os ensinamentos cabalásticos e mágicos forem válidos, você pode interpretá-los em tudo,
mesmo que Bowie não tenha escrito conscientemente sobre eles como tal. Parece um excelente exercício
para demonstrar que se pode encontrar qualquer significado em qualquer coisa; o que, por sua vez,
demonstra algumas verdades psicológicas, como a de que cada um de nós constrói nossa própria
interpretação da “realidade”.

“Não sei necessariamente do que estou falando na minha escrita”, disse ele a Charles Shaar Murray. “Tudo o que
faço é reunir pontos que me interessam e confundem isso. Isso se torna uma música, e as pessoas que ouvem essa música devem
pegar o que puderem e ver se as informações que eles montaram se encaixam em qualquer coisa que eu tenha montado.”

De Dick Cavett Show, 4 de dezembro de 1974:

Cavett: Você quer ser entendido? Você sabe o que quero dizer … como Ziggy Stardust foi…
Bowie: Não há absolutamente nada para entender. Quero dizer … Há fotos em que um Bowie de vinte e três anos
posa em trajes egípcios com grande semelhança com os da Golden Dawn.

Angie Bowie não vê nenhuma intenção oculta por trás disso: “Ele ficou sem ideias de fotos. Fizemos
isso em Londres no início dos anos 70. Os cérebros de Natasha Korniloff e Lindsay Kemp foram
saqueados para todas as imagens e todos os trajes possíveis.” Há rumores de que Bowie começou a
desenvolver um projeto de palco de Tutankhamon no início dos anos 1970, mas nunca passou do estágio de
planejamento. Você consegue imaginar Ziggy andando como um egípcio?
O Z i ggy t o c a v a gu i t a r r a E o n d e e s ta v a m a s a r a n h a s
Ar r a s a v a j u n to c o m o W e i r d e o G i l l y Q u a n d o a m o s c a te n ta v a a c a b a r c o m a n o s s a
E " As Ar a n h a s d e M a r te " c o r a ge m ?
E l e e r a c a n h o to A p e n a s o l u m i n o s o d a c e r v e j a a n o s gu i a r
M a s f o i l o n ge d e m a i s E n tã o r e c l a m a m o s d e s e u s fã s
V i r o u o c a r a d o m o m e n to E d e v í a m o s e s m a ga r s u a d o c e s m ã o s ?
E a í v i r a m o s a b a n d a d o Z i ggy
Z i ggy t o c o u m u i t o t e m p o
O Z i ggy c a n t a v a p r a v a l e r N o s d i z e n d o qu e é r a m o s u n s a b u t r e s
R e v i r a v a o s o l h o s e d e s m a n c h a v a o p e n te a d o A m o l e c a d a e r a gr o s s e i r a
C o m o u m ga t o j a p o n ê s E l e e r a o m á xi m o
E le o s la m b i a c o m s o r r i s o s C o m o t r a s e i r o qu e D e u s l h e d e u
E l e o s d e i xa v a p r a l á E l e l e v o u tu d o m u i to a s é r i o , m a s
C h e ga v a c o m t a n t o e s p l e n d o r C a r a , c o m o e l e t o c a v a gu i t a r r a !
B e m d o ta d o e s e m b r o n ze a d o ( L e t r a d e Z i ggy S t a r d s u t )

Projeto Zarzax 26 Anticosmos 01


Religião e Decoração
Sem as depressões que o consomem (“acertando o tempo todo”), a pessoa de Bowie…seria muito
mais difícil de entender e, em última análise, seria de pouco interesse para qualquer pesquisador, por mais
dedicado que fosse. Na verdade, Bowie é mais um gnóstico do que um artista – muito, obviamente, para
seu desgosto, como ele quer ser conhecido como um artista em primeiro lugar. Por volta de 1970, Bowie
escreveu as letras de sua música “Estou Cansado da Minha Vida”, no qual ele esboçou sua futura carreira:

“Estou tentando decidir qual jogo é o melhor para mim, que eu posso suportar…Você não percebe, então eu estou
levando você embora.”

O padrão era a ideia de mudar a identidade ou pensar em sua própria identidade. Decidir qual jogo
jogar é simplesmente o hábito de Bowie de mudar de personagem, ou de reinventar sua personalidade.
Assim, a ideia de “encontrar-se” apareceu nos “fragmentos” de palco de Bowie, como as fases de Mod e
Bob Dylan (1964-1968), Major Tom (1969-1970), Ziggy Stardust (1971-72), Aladdin Sane (72-73),
Halloween Jack (1974), O Homem Que Caiu Na Terra (1975), The Elephant Man (1980-81), Serious
Moonlight (1983, quando mais uma vez afirmou ser o verdadeiro David Robert Jones), Screamin ‘Lord
Byron (Tonight, 1984), Tin Machine (1989), Nathan Adler (1995), Earthling (1997), na internet como o Sr.
Plod (1997) e como Boz no jogo para PC Omikron em 1999. Até certo ponto, todas essas pessoas são
recriações da figura de Pierrot, uma Gnose disfarçada na forma de paródia. Bowie tem aparecido
repetidamente no palco como “Pierrot in Turquoise”, uma espécie de Threepenny Pierrot. Esse número
surgiu em 1967, quando Bowie era membro da empresa da Lindsey Kemp – um ambiente em que tudo era
aparentemente trágico, dramático e teatral; isto é, apenas uma extensão de sua própria vida. Ao mesmo
tempo (circa 1968), ele se apresentou no drama de mímica The Mask, fazendo o papel de um jovem que se
identifica fatalmente com sua máscara dolorosa, um papel que Bowie mais tarde repetiria como “Ziggy
Stardust”, que é sufocado por sua máscara enquanto “fazia amor com seu ego” no palco (reminiscente de
Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde, que mais tarde foi o enredo para o clipe de Bowie para a música
“Look Back in Anger”).
Bowie sempre se intitulou como uma criatura que vive no “zoológico humano”, tatuado com Cartas
de tarô (como o Illustrated Man de Ray Bradbury); um “Karma-Man” (que data na setlists de 1967 até
1970, sobre Zen Budismo quando ele se juntou à Sociedade Tibetana em 1967 com seu então produtor
Tony Visconti) e ser um “Silly Boy Blue” (1966,“Criança do Tibete ”, “Montanhas de Lhasa”) que nunca
deixa seu corpo por vontade própria, e assim “tem que esperar para morrer”.
Entre 1967 e 1969, Bowie disse à imprensa que dormia em pé em uma caixa de madeira antiga,
comia apenas duas modestas refeições por dia e passava por períodos intensos de silêncio. Pelo menos, foi
isso que ele disse ao jornalista George Tremlett. Mas o Zen e o Budismo Mahayana não eram sua única
ferramenta para expandir a consciência e a percepção.
A era hippie já havia terminado quando ele a parodiou em seu álbum Space Oddity; em 1970 ele
estava “sorrindo tristemente por um amor que não podia obedecer”, pois ele não deveria se tornar uma
daquelas estrelas com uma mensagem mundana que devotava suas vidas “para salvar um slogan”, um
singles, dois álbuns de flop e percorrer gravadoras, ele estava procurando por um “novo amor” e “novas
palavras”. Em sua música “The Cygnet Commitee”, Ziggy Stardust foi novamente prefigurado:

“Eu dei Vida pra Eles / Eu dei tudo para eles… / abri portas que teriam bloqueado o caminho deles.”

Prostituta Angélica
Tendo já se descrito ironicamente como “orgasmo do grande sonho da utopia” e como “um falo em
tranças” em 1969, em 1971 Bowie vivia dizendo “Eu quero ser um Super-Homem”; ele expressou esses
sentimentos mais precisamente em sua canção “Areia Morta”:

Projeto Zarzax 27 Anticosmos 01


“Estou mais perto da Golden Dawn / Imerso no uniforme de Crowley … / Eu não sou um profeta ou um homem
da Idade da Pedra / Apenas um mortal com potencial de um superhomen.”

A magia do sexo foi sugerida em“ Holy Holy ”, 1970:

“Ouça Lady, deixe-me deitar, deitar-se com você / Lentamente, ficamos muito bem e santos / Ajudando um ao
outro, como um irmão justo.”

(“Irmão justo” é um termo usado na Maçonaria e também na Golden Dawn.)

Meninos Continuam Balançando


Em 1971, Bowie afirmou que ele queria que a música fosse “tarted up, transformada em prostituta,
uma paródia de si mesma…Deveria ser o palhaço, o médium de Pierrot”, e assim ele introduziu sua
persona andrógina entre os gêneros para a admiração de seu público. Enquanto passava seu tempo olhando
bolas de cristal e comunicando-se com o mundo espiritual através de um tabuleiro Ouija, Bowie
desenvolveu a personalidade de um messias andrógino que projetaria a cena musical dos anos 70 e
questionaria noções aceitas de verdade e autenticidade – especialmente a sexualidade e música pop / rock
contrariando tudo o que é considerado “natural”.
Isso, sem dúvida, alimentou os desejos de Bowie de “folie/mania de grandeza” e uma estética de
excesso, ambos os quais poderiam ser usados para recriar o self como um objeto manufaturado – e que
significaria a substituição de Deus como o criador. Mas e a visão ocultista do mundo, onde o sexo às vezes
é visto como nem masculino nem feminino, mas como um estado mental?

Vampiros de Carne Humana


Enquanto Ziggy Stardust estava “fazendo amor com seu ego”, Bowie tinha o potencial para
desenvolver sua criatividade. Mas sua riqueza crescente, a falta de qualquer oposição real para ele combater
em sua vida comercial e social, – como ele era agora um performer “aceitável”, e principalmente cercado
por lacaios e sapos – tudo isso significava que sua consciência de ter sido um “sofrimento-indivíduo-
fragmentado-em-incontáveis-peças” recuou manifestamente em segundo plano. A máquina de suicídio se
cansou, os problemas com drogas tornaram-se mais fáceis de lidar, e a vida sexual se tornou mais direta.
Agora um homem muito rico, onde estava o espinho gnóstico que existia entre 1983 e 1992? Teria
ele se tornado uma auto-paródia com a música de 1984 “Blue Jean”? Ou foi o caso da “insuportável leveza
do ser” na balada italiana “Volare” (que ele cantou no filme Absolute Beginners em 1985), ou “Imagine” de
John Lennon (cantado ao vivo em 1983)? Mais uma vez ele disse ao mundo: agora eu sou o verdadeiro
David Robert Jones – e produziu música que ele fez “com amor”, mas depois odiaria. Seu público e críticos
odiaram na primeiro audição. Então, quando The Mask colocou um sinal de “À Venda” em sua faixada de
entrada durante a década de 1980, quem ou o que se mudou? A apresentação da “Time” ao vivo de Bowie
no vídeo de 1987 da Glass Spider mostra que ele agora usou a carta de Tarot “The Hanged Man” para
representar a si mesmo como o “Redentor Redimido”, uma figura chave no ocultismo. Bowie foi
pendurado em uma corda e se deixou de cabeça para baixo no enorme Glass Spider e ofuscou o palco, com
as pernas cruzadas imitando a pose do “Enforcado” – ao mesmo tempo referindo-se ao mito de criação
Hindu do universo a ser vomitado das entranhas de uma aranha gigante. “Você nunca me viu pendurado nu
e com fio”, ele havia cantado em 1975 em “Win”.

NT: O cantor inglês David Bowie, O Camaleão (nascido David Jones), lançou 27 álbuns de estúdio, 11
álbuns ao vivo, 51 álbuns de compilações, 8 peças estendidas (EPs), 128 singles, incluindo 5 singles número
um do Reino Unido e 4 trilhas sonoras. Bowie também lançou 14 álbuns de vídeo e 72 videoclipes.
Projeto Zarzax 28 Anticosmos 01
Um Drink Com Espíritos
por Dom Wilians (Seilenós)

Bebidas alcoólicas são produzidas freneticamente, promovidas a todo instante nas mídias e ingeridas
por milhares de pessoas em todo mundo, mas poucos compreendem as suas influências espirituais e como
usá-las para favorecer a espiritualidade. Esse artigo trará uma abordagem introdutória da influência
alcoólica à nível espiritual, assim como as características mágicas do álcool e formas de utilizá-lo como
ferramenta. Sumariamente, a palavra “álcool” tem sua origem no idioma árabe. Os árabes liquefaziam um
pó escuro que batizaram de “al-kohul, al-ġawl e al-kuhul” que significa “pó fino/sutil”. Esse pó escuro era
a sobra da destilação do vinho e outras bebidas e ficou conhecido principalmente por servir de pó de
maquiagem usado pelas mulheres dos haréns. Embora civilizações antigas tenham conhecido a produção de
bebidas alcoólicas, foi somente com os alquimistas árabes na Idade Média que tal produção chegou ao nível
de uma destilação eficaz que podia controlar o teor alcoólico das bebidas, diferente da produção dos
egípcios e babilônios que tinha baixo teor alcoólico em suas bebidas por somente conhecerem o processo
natural de fermentação.
Mas com suas experiências os alquimistas árabes descobriram também que o álcool servia para
diversas coisas além da produção de bebidas e utilizaram esse componente para a criação de trescalâncias,
para extrair a essência dos óleos e até da
alma de uma entidade. A bebida alcoólica
também era vista - e continua sendo -
como uma essência e mesmo o Al-anbiq
(alambique), que por sua vez tem origem
no termo grego “ambix”, literalmente
significa “copo”, denotava essa ideia de
um repositório de onde tal essência era
extraída, fato aludido mais tarde pelos
europeus ao usarem o nome “Aqua Vitae”
para o vinho e outras bebidas, sendo que
até hoje em alguns países os destilados
são chamados assim.¹ Ao ingerir álcool, o
corpo e ntra em um processo de extração
da essência da alma e, junto com esse
processo, aspectos ocultos - o pó escuro -
podem vir à tona e assin a pessoa parecer
“transformada” ou modificada em outra
totalmente diferente ou acentuada na sua
própria estirpe. Também o álcool tem a
(Johannes Hevelius, Uranographia, 1690) capacidade de extrair a essência da alma
abrindo assim um espaço/vazio para que entidades possam usar seus atributos para influenciar o corpo,
caso visto com frequência em possessões após uma pessoa ingerir uma quantidade demasiada de bebidas
alcoólicas. Na maioria das pessoas que sofrem tais possessões, o espaço criado com a extração da essência
da alma é utilizado por demônios que somente querem aproveitar o corpo como veículo e alimento. Essas
pessoas geralmente não se lembram dos próprios atos na hora da embriaguez pois não estavam realmente
no controle. Esse é o caso narrado no folclore do demônio árabe “ghoul” cujo nome tem raiz na palavra
“Al-Kohul”, um demônio que se alimenta de carne, isto é, defuntos e pessoas cujo corpo perderam a “luz”
ou essência da vida.

1 O nome dado pelos europeus ao álcool nos destilados é aqua vitae ou água da vida. Mesmo hoje, os
destilados em geral são chamados eau-de-vie pelos franceses; akvavit e aquavit pelos noruegueses.

Projeto Zarzax 29 Anticosmos 01


Atualmente a palavra árabe para álcool é “al-ġawl”, termo utilizado para se referir ao etanol e
destilados em geral. Essa palavra deu origem para “al-ghul”, Algol, a estrela binária conhecida como Cabeça
do Demônio e que tem influência direta no corpo através da bebida alcoólica. Algol é uma estrela da
constelação de Perseus e é vista no norte. Os árabes atribuíam à ela uma influência sinistra e acreditavam
que muitos demônios teriam vindo dessa constelação. Por conta dessas atribuições malignas, muitos outros
povos também associaram seus demônios a estrela Algol. Os judeus, por exemplo, chamavam Algol de
Rosh ha Sitan/Cabeça de Satã ou chamavam de Lilith que era conhecida na época como um espírito dos
ventos hostis na península arábica, principalmente no extremo sul da palestina. Já os chineses chamavam-
na de estrela Tseih Ela, “a pilha dos cadáveres nas alturas”. Essa estrela está relacionada a qlipha de A’arab
Zaraq regida por Baal que tem fortes características da vitória² através de meios violentos e também carrega
atributos da lascívia da Venus Negra que é Lilith e relação astrológica com Saturno. Ao ingerir álcool o
corpo cria uma maior correspondência com os eflúvios da estrela Algol e avizinha seus demônios ao ponto
da lancinante influência ser sentida como diretora do corpo através das expressões mais fortes da natureza
humana que são o desejo por poder e o apetite sexual. Os antigos árabes associavam as forças malignas de
Algol aos olhos, portal por onde o eflúvio sinistro da estrela invade a concha vazia no momento de
embriaguez. Curiosamente Algol é conhecida como o “olho da Medusa” devido sua posição está marcada
exatamente no olho esquerdo da górgona diabólica na constelação de Perseus.
Já o pó de maquiagem que era o resultante dos destilados se tornou relevante nas mulheres dos
haréns árabes que escureciam os olhos para ficarem mais lascívas. Vemos também que no Egito o pó de
maquiagem, muito utilizado nos olhos pelas sacerdotisas, mulheres do faraó e dançarinas, tinha muita
importância. Os egípcios chamavam-no de “Kajal Kohl”, palavra intrinsecamente ligada a Al- Kohul. Era
um pó feito principalmente de galena triturada, o mineral mais importante do chumbo que tem
correspondência com Saturno. Essas pinturas nos olhos eram feitas também durante oferendas funerárias e
tinham a finalidade de fazer o sacerdote/sacerdotisa ser reconhecido pelos mortos e deuses do submundo
como um familiar espiritual. Nos cultos dos sacerdotes de Douaou/Ouati³ – aspectos da estrela Vênus vista
no crepúsculo matutino e vespertino – os egípcios costumavam se embriagar com cerveja e se tocavam
sexualmente. Muitos utilizavam o pó de maquiagem, principalmente de galena, malaquita e lápis lazuli
triturados e misturados a óleos, como colírio e pingavam nas pálpebras para “limpar” os olhos e criar maior
condição de visões do mundo astral. Já a bebida servia como meio de Gnose para entrar em sintonia com
Vênus nas suas duas faces, sendo que em Ouati -aspecto da Vênus Negra no crepúsculo vespertino-ocorria
a gnoses sexual. Nesse culto as bebidas eram produzidas principalmente por mulheres, homens jovens e
crianças. A seguir, temos algumas correspondências mágicas de bebidas alcoólicas que podem auxiliar na
hora de utilizar a embriaguez como ferramenta espiritual, mas deve ser observado que a quantidade a ser
ingerida vai do critério de cada um e caso haja mistura de bebidas ingeridas, o corpo irá reagir dentro de
várias correspondências combinadas e isso tem que ser bem estudado para não criar efeitos indesejáveis e
atrair influências que não favoreçam a pessoa. Também deve se ter conhecimento da visão animista dessas
substâncias, pois espiritos habitaram certas propriedades dessas bebidas e ao serem extraídos na destilagem,
muitos de seus aspectos ficam misturados;

Cerveja: (Elemento Terra), ligada a deusas da fertilidade, da guerra e sexo. Ninkasi, foi a Deusa Suméria da
Cerveja, relacionada a fertilidade, pureza e alegria; Sekhmet, a deusa leoa dos egípcios também é conhecida
como protetora dos cervejeiros e quando se embriagava ficava furiosa e acentuava seu instinto guerreiro e
vontade de destruir inimigos; Ceres, a deusa grega dos grãos, agricultura e fertilidade. Do seu nome que
surgiu a palavra cerveja. A cidra é utilizada em operações em que se deseja ser recompensado com os frutos
de seu trabalho.

2 A'arab Zaraq é, ao contrário de Netzach, a capacidade de superar obstáculos acentuada ao ponto


agressivo onde não se vê as barreiras e sim o resultado a ser alcançado.
3 Sacerdotes de Douaou/Ouati geralmente estavam realizando trabalhos médicos de oftalmologia e tinham

grande capacidade oracular com visões.


Projeto Zarzax 30 Anticosmos 01
Vinho: (Elemento Terra/Ar), é a bebida mais famosa dos gregos e tem ligação com os deuses da orgia, beleza
e êxtase. Baco é especialmente conhecido pelas suas orgias secretas no ritual da bacanália, onde todo êxtase e
alegria eram buscados. O grito Hriliu das bacantes é a forma secreta de avizinhar esses espíritos; Seilenós, o
profeta embriagado, que educou Dionísio desde a idade tenra bebia para fazer profecias e obter insights nas
suas orgias.

Rum: (Elemento Agua), tem influência na vida material e amorosa, especialmente financeira; a deusa Ningal
da mitologia suméria tem correspondência como o Rum, é a deusa da cana, que trazia o dulçor para as festas e
agradava o povo com sua beleza jovial e fertilidade. Era chamada de “grande menina”; o Rum também foi a
bebida principal nas homenagem à Netuno, onde marinheiros criaram o Festival da Neptunália. Nessa festa
era servido o Uzo, uma forma mais antiga do Rum. Esse festival era realizado no Verão como forma de atrair
a seca e proteger a plantação ; também nas religiões de matriz africana temos os espíritos Marinheiros que
trabalham com o rum. Esses fazem serviços de toda a natureza e são geralmente de natureza sombria.

Absinto : ( Elemento Ar/Agua), tem grande utilidade em operações no nível astral. Essa planta chamada
cientificamente de “Artemisia Absinthium” interage com as deusas lunares e seu nome vem da deusa Artemis
que corresponde a Diana, a deusa lunar e virgem das matas. Pode ser ingerida ou utilizada em oferendas para
abrir portais astrais.

Tequila (Elemento Fogo), é a forma moderna da Pulque (ou octli), uma bebida alcoólica consumida na
mesoamerica pelos xamãs. A tequila tem um grande efeito sobre o desejo sexual o aumentando. É feita do
agave, uma espécie de cacto e está ligada ao deus asteca Macuiltochtli uma das principais divindades dessa
tradição e atua nas rapturas e excessos.

Gin e Vodka: (Elemento Terra), essas bebidas tem as mesma correspondências, com a diferença de que a
Vodka atua com os elementos de forma mais sutil e o Gin de forma mais grosseira. As duas bebidas tem
produção básica á partir de trigo, cevada ou milho e estão ligadas a Deméter, a deusa da terra, abundancia e
fertilidade. Servem para atrair vigor físico, curar doenças, inclusive o Gin já foi utilizado como remédio, e
também servem para proteger a vida material, projetos e fazer empreendimentos vigorarem. Também atraem
energias subterrâneas de Persefone, a deusa do Hades.

Referências e Bibliografia
Ancient Beverages: Ancient Wine, The Search for the Origins of Viniculture, Patrick E. McGovern, Princeton University
Press, 2003.

“Enkidu knew nothing”: The Epic of Gilgamesh, Trans. Maureen Galery Kovacs, Stanford University Press, 1989.

“Vineyard of the red house”: Gods, Men and Wine, Wiliam Younger, The Wine and Food Society Limited, London, 1966, p.
33.

Egyptian Beer: “Beer from the early dynasties (3500-3400 B.C.) of Upper Egypt, detected by archaeochemical methods,”
Salwa A. Maksoud, M. Nabil El Hadidi, and Wafaa Mahrous Amer, Vegetation History and Archaeobotany , Vol. 3 No.
4, December 1994.

Mayan drinking: The Blood of Kings: Dynasty and Ritual in Mayan Art, Linda Schele and Mary Elen Miler, Thames &
Hudson, London, 1992.

Skara Brae: “Barley, Malt, and Ale in the Neolithic,” Merryn Dineley, BAR International Series, Vol. 1213, 2004.

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An i m a N o tu r n a
Co n v e r s a Co m a Ar t i s t a Er i c a F r e v e l
Por Dom W i l i an s

Estou em um processo de semiose na exploração de uma consciência anterior ao logos, buscando


contato com outros páramos onde a realidade (sem véus) subsiste alheia à minha própria humanidade. Eu
encontrei um passado remoto acessível por breves flashes de recordações, de tal modo que qualquer
acréscimo ou subtração de palavras a respeito do que meus nebulosos sentidos perceberam seria
possivelmente criação imaginária, mas esses instantes, mesmo que indescritíveis na minha linguagem
paralítica, foram o suficiente para criar um amálgama do Eu em mim com o que (talvez) existe de sinistro à
espreita querendo se comunicar. Eu escrevo tais vislumbres mesmo sabendo se tratar de expressões pré-
verbais, quase incomunicáveis. As vezes as linhas não passam de um necrológio, pois grande parte das ideias
que chegam são entregues ao conúbio dos vermes por não haver comunicação simbólica com essa realidade
em que vivo. Essas visões muitas vezes ocorreram ao me deparar com as pinturas da Erica. Foi um abalo
inusitado como se estivesse diante de um espelho terso e animado por uma chama nova e realmente ardente
que refletia em imagens o que a linguagem escrita não tem como expressar. Em vários momentos que
chamo de ‘estados de nevroses satânicas’, me misturei àquelas demoníacas explosões cromáticas. Como se
as pinturas fossem portais, as primeiras vezes me projetei nelas sentindo uma sensibilidade atroz e uma
tremenda alienação, de vez em quando parando para cogitar o rumo em meio a escuridão, como as paradas
rítmicas do esquife quando alguém esta sendo levado para o útero da terra, mas o que encontrei foi
surpreendente, algo além que o cérebro de um louco houvesse imaginado. Nesse ponto deixo algumas das
magníficas obras da Erica falar o que não tenho como explicar.

"O que muitas pessoas vêem como grotesco eu vejo como verdade. É o que o mundo realmente
parece quando você não está mentindo para si mesmo ou se contradizendo ou sendo submetido
a uma lavagem cerebral pelos sistemas ao seu redor."
-Erica Frevel-

Projeto Zarzax 32 Anticosmos 01


Erica, quando conheci sua arte, tive a impressão de estar diante de algo como “The Oval Portrait” de Poe,
tamanha a vivacidade e paixão que ela expressa. É como se houvesse algo orgânico do seu íntimo sendo
arrancado e projetado nas telas. Você pode dizer como se sente e como trabalha com seus pensamentos
quando está em processo de criação?

O estranho é que eu não penso muito quando estou fazendo colagem ou pintando. Eu entro em um estado de transe.
Geralmente estou sonhando ou meditando quando recebo as mensagens ou visões que inspiram o trabalho em si. O Vazio
geralmente me mostra o que fazer e é meu trabalho desenhar ou escrever as notas finais para a peça em específico. Então eu vou
ao encontro dos materiais certos para isso. Vou procurar em pilhas de revistas ou livros e encontro a imagem certa. Às vezes
elas simplesmente “caem” de um livro e eu não tenho mais que procurar. Então sento-me e medito e procuro arranjar as
imagens sobre o tabuleiro para que os recortes psíquicos espelhem a imagem astral que vejo. É por isso que as colagens estão
vivas. São grandes sigilos extraídos de mensagens do Vazio. Com a pintura, é um pouco mais direto. Se estou canalizando um
espírito para a pintura, costumo usar espelhos. Eu escrevo as músicas espirituais (invocações) ou poemas e peço para ele vir até
mim. Às vezes uso vários espelhos, todos refletindo uns aos outros, para fazer um túnel e peço ao espírito do outro lado que
passe pelos espelhos. As pinturas demoram mais que as colagens, mas eu gosto mais delas porque são peças muito originais.
Colagens são reflexos da humanidade porque são imagens da sociedade que eu uso, não as minhas. Eu simplesmente distorço
as imagens da sociedade e as uso como um portal para o Vazio.

Os elementos grotescos no seu trabalho são articulados de uma tal maneira que constroem um dispositivo
para pensar sobre o humano, a mente e sua relação com o real. A riqueza criativa de expressões que beiram
a fronteira do que pode ou não ser desse mundo, vai muito além do típico surrealismo. A sensação de que
sua arte é o resultado de uma relação entre você e uma realidade sombria não me sai da cabeça. Você se
percebe uma assinatura de uma condição sinistra que está além da sua natureza humana quando produz ou
isso já se tornou natural em você?

Realmente nem sequer percebo mais se a condição é sinistra, é apenas algo fora da percepção humana/mundana. Eu entendo
que muitas pessoas vêem isso como maligno e talvez eu esteja muito envolvida para vê-lo como tal. Eu não sou uma pessoa
particularmente sombria, na verdade. Eu acho que quando as pessoas me conhecem pessoalmente, acabam ficando surpresas
porque eu brinco muito e estou sempre sorrindo. Meu trabalho me traz muita alegria e satisfação, porque é uma expressão da
realidade não mitigada. Não é normal fazer o que faço, mas fui criada para este propósito e me sinto honrada pela
oportunidade de ser uma artista agente do Vazio. O que muitas pessoas vêem como grotesco eu vejo como verdade. É o que o
mundo realmente parece quando você não está mentindo para si mesmo ou se contradizendo ou sendo submetido a uma
lavagem cerebral pelos sistemas ao seu redor. Às vezes a verdade é difícil de ver. Dessa forma, eu acho que se as pessoas
conseguirem superar a intensidade das próprias imagens, elas verão que estou simplesmente refletindo a realidade como ela é.
Minha expressão criativa não é realmente minha, é do Vazio.

Sua arte evoca a sensação de se estar abrindo uma comunicação com a matéria escura, o que parece ativar
um portal através da própria interpretação subjetiva de quem a vislumbra. Na sua opinião o que muda no
desenvolvimento de um trabalho pessoal e um trabalho encomendado quando a intenção é manifestar esses
aspectos demoníacos?

Eu tenho sorte que a maior parte do meu trabalho encomendado está realmente dentro do escopo do meu trabalho pessoal,
então não há muita diferença entre os dois. A forma que começo o trabalho quando o cliente está escolhendo a entidade para eu
canalizar, a fim de se tornar um portal para a energia desse espírito, é um pouco diferente. Meu trabalho pessoal difere porque
eles começam como mensagens do Vazio destinadas a mim e ninguém mais está envolvido. Mas de qualquer forma, as obras
serão usadas como portais e não como arte decorativa. Acho que a maior parte do meu trabalho que se encontra nos templos ou
lares de outras pessoas é usada da mesma maneira: como retábulos auxiliadores na meditação.

Conte-nos sobre o ‘Worship Void’, seu envolvimento com o satanismo e como isso se relaciona com sua
arte. E você é um tipo de artista que busca uma carreira?
Projeto Zarzax 33 Anticosmos 01
Eu realmente não penso em mim mesmo como tendo uma carreira artística, pois eu não estou de forma alguma interessada na
própria indústria da arte. Minha arte é uma extensão da minha conexão espiritual com o Vazio, por isso é arte sagrada que
raramente tem lugar nos círculos de arte contemporânea. O satanismo foi apenas o caminho que me levou ao Culto ao Vazio e
mesmo quando eu praticava o satanismo em tempo integral, nunca fiz parte de nenhum grupo. O que eu faço agora não é
realmente compatível com o que as pessoas pensam como satanismo. Eu não tenho pentagramas ou cabeças de bode na minha
casa. Não existe o “Culto do Vazio” em si, existem apenas indivíduos trabalhando pela unidade com a escuridão e trazendo-a
para o plano material. Só isso já é suficiente para o meu trabalho se destacar mesmo contra outros artistas que usam o
satanismo como uma palavra da moda.

Quando ocorreu essa abertura para receber influências demoníacas através da arte, você buscou algum
background familiar ou mesmo amigo que pudesse contribuir para o seu autoreconhecimento como uma
artista satânica ou isso foi alcançado inteiramente na solidão?

Não, só trabalho na solidão e continuo a colaborar apenas com pessoas que considero dignas. Eu nunca senti a necessidade de
validação de amigos ou pessoas que possam ter um passado semelhante ao meu. Eu tenho trabalhado com a energia negra do
Vazio por um longo tempo, mas cerca de quatro anos atrás eu realizei um ritual para assegurar essa energia diretamente em
minhas mãos. Desde então, meu trabalho parece totalmente diferente. Tem uma certa voracidade agora que não aconteceu antes.
Eu me chamo de artista satânica apenas porque não há outra palavra para me definir e há uma séria falta de compreensão de
indivíduos fora dos círculos ocultistas sobre isso.

Deixe uma consideração final para os leitores.

Eu gostaria de agradecer a vocês que estão interessados em meu trabalho e nas implicações espirituais. Se vocês usarem minhas
pinturas ou gravuras como retábulos, estaremos conectados através da matéria escura do Vazio. Eu gostaria de continuar me
conectando com pessoas interessadas na adoração do Vazio, a fim de despertar sua criatividade destrutiva.

Obrigado a todos!

Projeto Zarzax 34 Anticosmos 01


O Percurso Yggdrasílico do Jörmungandr
por Manuel Herrera

Imagem do livro Walhall de Felix e Therese Dahn, 1 888, Domínio Público

A Serpente é o iniciador oculto do Reino do Diabo, carrasco e profeta, desliza-se no fértil chão das
florestas interiores e morde a mão do maldito apóstata traidor. O apóstata em questão, não é aquele que se
rebela contra uma igreja mas aquele que trai a sua própria religião, a religião primitiva e primordial da
serpente negra que protege a chama oculta como vestal e prostituta, duplo segredo rebelado no respiro do
seu ser.
Neste sentido, e para evitar confusões, seria melhor falar de dois tipos de apostasia, uma do tipo
servil e outra do tipo selvático. A do tipo servil, natural do anarquista e revolucionário, é aquela blasfémia
contra as instituições e dogmas aceites pela sociedade, a do tipo selvático, alegórica aos animais não
domesticados das perigosas selvas, é uma traição mais profunda, feita contra nossa natureza interior, aquela
natureza além das convenções sociais e que, em essência, é a única natureza que realmente importa pois é
eternidade in natura.
De facto, a palavra apostasia como uma traição interior só faz sentido numa linguagem de cariz
iniciático, na qual o corpo do homem é o Templo do Deus Oculto, e nesse assumir-se divino é onde a
própria traição se transforma na mais ruim das apostasias.
O iniciado tem, desde um ponto de vista teósico, três “corpos”, o primeiro, o corpo físico, é o
Templo que tem que ser salvaguardado como recetáculo da divindade, o segundo é o sacerdote, ou seja, o
ego que tem como função adorar, amar e aprender da divindade, o terceiro é a própria divindade, o Deus
Oculto, Amon-Ra como chama prometeica no meio dos dois cosmos, detrás dos olhos, num ponto
indetectável além da noite dos tempos.
O ego é um sacerdote-guerreiro, um herói na sua própria epopeia, a busca do Graal que não é outra
coisa que o grito de Walhalla!, estado de êxtase eterno nos beijos de Nuit. O teste do herói na sua ordenação
sacerdotal é o percurso de Odin até o mímisbrunnr, a fonte do conhecimento que precisa do sacrifício da
visão racional para entrar no mundo do imaginal, a realidade das divindades, e assim, com o único olho
místico, olhar pela árvore do Yggdrasil as esferas superiores.
A primeira esfera do Yggdrasil é o Mannheim, o mundo dos homens, a segunda Godheim, o
encontro com a nossa divindade latente, a terceira Vanaheim, o renascer em Babalon, a quarta Helheim, o
mundo dos mortos.

Projeto Zarzax 35 Anticosmos 01


As outras quatro esferas são morada de entidades quase thumanas e que representam aspetos da
nossa natureza que devemos transcender para ascender até o nosso despertar final em Muspelheim, o fogo
divino, o nosso próprio equinócio, o estado anterior ao Ragnarok original antes do choque com Niflheim e
no nosso final, ver renascer o Balder nórdico ou Maât Egípcia, a justiça e sabedoria divinas no seu máximo
esplendor, o contemplar da nossa divindade desde dentro de nós próprios, olhando para fora e observando
o nosso despertar no horizonte infinito, pensando nas Runas e pronunciando a primeira letra de uma nova
criação. Esta visão Yggdrasilica da existência, é de certa forma semelhante ao uso kabbaístico da árvore da
vida, muitas vezes utilizado como uma sorte de cartografia universal e mapa do progresso espiritual do
iniciado, sendo este analisado através de um sistema de emanações que vão de Kether para Malkuth,
Muspelheim para Mannheim ou inclusive contando uma décima esfera nos mundos nórdicos, de
Mannheim para mímisbrunnr, o percurso heroico de Odín nas ramas serpentinas da árvore cósmica.
A natureza destas emanações reflete num princípio de caída cósmica no qual assumimos a nossa
natureza terrena como enraizada em Malkuth, a esfera da manifestação material e como o ponto mais
distante do divino na escala sefirótica. No entanto, não é desconhecido que na tradição Kabbalística cada
esfera de manifestação divina contem as outras esferas, mas na qualidade de corpos individuais cada uma
mantém um grau de subtileza ou materialidade mais elevado. Neste sentido, é preciso observar que a
hipótese assumida quando falamos da árvore da vida como uma mapa de evolução iniciática é que todos
nós estamos em Malkuth e temos de subir pelos caminhos da árvore até chegar a Kether e depois
transcender Kether no Ain Soph, o todo supremo da divindade.
É este o percurso do Jörmungandr, a serpente negra original, sendo o seu corpo os próprios
caminhos sefiróticos que unem a criação, só que o caminho da serpente é de acima para baixo e não de
baixo para cima. Parece-me que a metodologia Kabbalistica parte de uma premissa errada, o aceitar que
tudo começa em Deus e cai até ao homem. O facto é que a evidência científica leva a considerar que tudo
começa na matéria e não num espaço infinito de perfeita divindade e que a divindade é um progredir e não
um olhar para trás.
Assim, a análise que proponho tem a ver com uma visão da árvore da vida invertida, como uma luta
desde os mundos superiores do Yggdrassil até à fonte odínica do conhecimento na base da árvore, sendo
assim o começo da criação situa-se em Malkuth, o mundo da matéria grosseira, descendo pelos caminhos
ctónicos até chegar a Kether, o último ponto da evolução criativa de Malkuth, e depois transcender a
estrutura percetível ao grito de Walhalla!.
Nesta interpretação, podemos pensar em Malkuth como o universo da matéria inanimada, que
começa num processo evolutivo até chegar à consciência isolada, união de matéria e espírito, Tipharet, que
é a esfera onde a humanidade realmente se encontra, o Midgard das mitologias nórdicas, e depois, além da
morte física, já com um espírito refinado e evoluído além da matéria, renascer na esfera de Binah como um
Vanir. Esta perspetiva da árvore da vida segue a mesma metodologia que a mais classicista no sentido de
que olha para Kether como um horizonte mágico a atingir, mas ao contrário deste tradicionalismo, o
processo não tem um princípio de caída cósmica mas simplesmente de emanações num processo de
refinamento e progredir onde Kether não obtém a sua importância como primeiro princípio da
manifestação, mas como última escada do processo evolutivo compreensível antes de passar à perfeição
divina do Ain Soph, o êxtase eterno no Walhalla. Outra grande diferença é o ponto de partida na
cartografia iniciática pois reconhecendo a parte material e divina no homem, olhamos a esfera de Tipharet
como manifestação humana, e é que não poderia ser de outra maneira pois sendo que Kether é o ponto
espiritual mais elevado da manifestação e Malkuth a encarnação da matéria, Tipharet, como manifestação
superior de Malkuth e inferior de Kether, brilha na chama de cada homem, no nosso peito de carne e
sangue. Portanto, transcendendo-nos a nós próprios e as conceções cristãs de caída e redenção, olhar para a
serpente, símbolo do iniciado, como guerreiro heroico num percurso odínico ate chegar ao mímisbrunnr, o
poço iniciático de Khem, a verdade na sua forma mais pura, sacrificarnos na boca da Tiamat oculta e
ascender no Walhalla como o espírito heroico do Deus-Guerreiro, levantarmos-nos na dança macabra do
alem e sucumbir no ciclo sem tempo da nossa ipseidade, orbitando no nosso próprio destino como o
Walhalla a expandir-se dentro da sua infinidade na sombra negra intemporal do caos primordial…
Projeto Zarzax 36 Anticosmos 01
Sacrifício Pessoal
por Robert E. Svoboda, Trad. Pt Lotan

Embora os sacrifícios védicos não tenham usado vítimas humanas por muitos séculos, o simbolismo
sacrificial continua a permear muito do rito hindu. A noz do coco, por exemplo, é uma fruta
particularmente auspiciosa porque representa muito bem a cabeça humana, com seus três olhos em uma
casca dura semelhante a um crânio que contém uma "carne" parecida com um cérebro e uma certa
quantidade de líquido que representaria o sangue, hormônios, líquido cefalorraquidiano e outros "sucos"
contidos em uma cabeça humana. As pessoas hoje em dia oferecem cocos em vez de cabeças decepadas, e
fazem isso em ocasiões de lua cheia durante agosto, quando os cidadãos de Bombaim descem para o mar
com seus cocos para tentar apaziguar os deuses da chuva e acalmar o frenesi das monções. A cabeça há
muito tempo é considerada na Índia como a parte
mais importante do corpo. Nela concentra-se o
poder, a excelência da existência, a essência do
universo. A cabeça é a sede da personalidade e,
portanto, o karma; antes que o corpo possa agir
para realizar o karma, a cabeça deve direcioná-lo
para agir. É pela cabeça que conhecemos o corpo.
A essência de um sacrifício está em sua "cabeça",
o meio pelo qual o karma de recriar a harmonia
no universo interno e externo é realizado. Quanto
mais simbólico nosso sacrifício se torna, menos
Karma precisamos desempenhar; podemos tomar
a cabeça, elemento essencial e mais importante, e
deixar o resto. Enfatizar o princípio do sacrifício é
maximizar o seu Karma, o que limita seus
benefícios potenciais. Algumas pessoas estão
começando a sugerir que geralmente é apropriado
adorar a Deus ou à Deusa com sexo, álcool e
carne, e que sacrifícios de sangue devem ser
realizados porque eles são eficazes meios de
alcançar nossos desejos. Embora tais rituais
possam efetivamente funcionar, raramente são os
melhores meios, pois são têm um alto preço e é
Aghori, Pintura de Snehal Ramdas Shirke comumente levarem à toxicidade e dependência
em vez de culto. A aura astral que eles geram também é provável que fortaleça a vontade de pessoas como
os pedófilos e traficantes que conspiram contram os que realizam o sacrifício.
É verdade que os Aghoris adoram com sexo, álcool, carne e, às vezes, sacrifício humano, mas apenas
com o propósito de trabalhar com as sobras e efeitos, não para recriação. Eles o fazem com plena
consciência do que pode acontecer com eles se caírem em auto-identificações com essas ações. Enquanto a
Lei do Karma pode ser temporariamente transcendida, ela não pode ser anulada mais do que a lei da
gravidade pode ser negada.
Os Aghoris, que completam seus vôos com sucesso, podem ir de um lugar para outro muito
rapidamente e fazer grande parte de seu trabalho de Rnanubandhana, mas se os motores deles pararem no
ar, eles cairão. Se eles caírem, eles sabem que têm que ser os únicos culpados. Aghoris preferem oferecer seu
próprio sangue em sacrifício. Eles se perguntam, "se meu amado requer prana, por que não deveria ser
meu?" Nisto eles seguem na liderança dos Vedas. Um dos poucos do mundo remanescente em Vedacharyas
é Agnihotram Ramanujan Tatacharya cujo domínio do ritual e do texto védico é verdadeiramente
deslumbrante.

Projeto Zarzax 37 Anticosmos 01


Quando nos conhecemos, ele relatou-me que há uma passagem no Taittiriya Samhita do Yajur Veda,
que afirma que originalmente todo sacrifício era da própria carne do sacrificador. Um bom Aghori ainda
hoje não aceita substituto. A principal tarefa do Sangue é o transporte do prana, e a oferta de sangue à uma
divindade é fundamentalmente a oferta do prana desse ser. Vimalananda, que sempre valorizou a suavidade,
geralmente preferia usar técnicas de sacrifício que fossem mais sutis do que o derramamento literal de
sangue. Este é o tipo de penitência que os Tantras pretendem fszer entender quando falam de rituais
sacriticiais internos.
Kuushituki Upanishad dá um exemplo de antaryaga em sua descrição de "agnihotra interior".
Agnihotra geralmente se refere ao trabalho de um fogo sagrado externo, mas o agnihotra interno envolve o
oferecimento de respiração (outro transporter de prana) como uma oblação na fala, e a oferenda da fala
como uma oblação na respiração quando se calar. Desta forma você pode oferecer oblações continuamente
enquanto você continuar a respirar, usando seu corpo como seu altar sacrificial e sua própria vida como seu
sacrifício. Um bom aghori domina a arte do auto-sacrifício, os bons aghoris amam ferozmente consumar
essa ação dentro de si mesmos e se recusam a renunciar a entrega, nem que seja por um momento, onde
quer que eles vão, pois suas ablações nunca podem ser interrompidas.
Para um Aghori, a vida no "smashan interno" não é uma metáfora; esta é uma realidade interna e
subjetiva, uma realidade que é mais real para eles do que a a existência do EUA. Aghoris sabem que tudo o
que não é puro, Consciência, é sujeira. Por não se distinguirem entre uma variedade de sujeira e outra,
literalmente não vêem razão para discrimar entre fezes e frutas. Em vez disso, ignoram tudo, exceto ao que
ajuda no ponto de fusão, consumindo voluntariamente sua própria sujeira quando precisam. O décimo nono
verso do Karpuradi Storra, um hino a Kali, afirma que a Deusa se deleita em receber em sacrifício a carne
de cabra, búfalo, gato, ovelha, camelo e homem. Embora o ganancioso por carne use esta e outras
referências textuais para sancionar a matança de animais, o que um aspirante realmente precisa sacrificar é
sua luxúria (a cabra), raiva (búfalo), cobiça (gato), inveja (camelo), e orgulho e paixão por coisas mundanas
(homem). Esses cordões grossos que nos uniram ao mundo devem ser cortados se quisermos nos tornar um
sva-tantra verdadeiramente independente.

D e vi M a h a t m y a

Ela portava um estranho bastão


coroado por um crânio
e tinha uma guirlanda de cabeças humanas,
estava envolta em uma pele de tigre,
e parecia horrorosa com sua pele macilenta,
sua boca escancarada,
aterrorizando com sua língua para fora,
com olhos afundados e vermelhos,
e uma boca que enchia os quatro cantos com
rugidos."

Projeto Zarzax 38 Anticosmos 01


THEM e Ordo Saturni: Gritando no Vazio
Abyssal, ToT, Trad. Pt. Dom Wilians, Lotan

+O+

Christos Beest me disse uma vez que ele estava aliviado por não ter “gritado no vazio”…se ele quis
dizer o que quero dizer com isso agora, ao contrário eu me encontro em paz por estar fazendo exatamente
isso. Eu grito no vazio porque é a única comunicação pura e honesta que existe. Não há, afinal, nada e
ninguém além de mim que possa interpretar ou conhecer o meu ser e que não haja tolerância para tais
coisas. Realmente não há compartilhamento direto de experiências de filosofias ou metodologias – existe
apenas o que alguém faz para si mesmo, para o bem ou para o mal.
As escolas de sociologia e de idiomas dizem que não há comunicação real entre os seres humanos.
Assim, não há ninguém externo que possa julgar ou oferecer conselhos – porque essa vida, essa existência,
está entre mim e o vazio. Se alguém ouvir meu grito, deixe-o fazer os ecos que quiser – deixe-o impor suas
próprias sanções de acordo com a vontade dele. Pois instruir diretamente, dirigir, orientar, oferecer
conselhos aos outros, ou pretender conhecê-los é uma comunicação impura e desonesta.
Minhas convicções, minhas contradições, meus direitos, meus erros, minhas opiniões, minha loucura,
tudo pertence ao vazio – é aí que estou cara a cara com cada um dos meus mistérios e sozinho com esses
mistérios. É só para o Vazio que eu respondo. Para quem eu falo. Quem me conhece. Quem fala de volta.
Linguagem, palavras, conversas são carregadas de pesos, armadilhas e submissões; carregada de grandeza,
com limitações, com vontade. Falar com os outros é vincular os outros, buscar concordância, amizade,
solidariedade, ganho material, ou companhia, garantia, validação, invalidação, orientação ou respostas.
Respostas não podem vir quando há apegos, mas dentro de si mesmo através de si mesmo quando tudo se
foi e os ossos foram limpos.
A conversa não pode deixar de ser uma má orientação, supõe e impõe, sugere, postula e inventa,
sustenta e e desconstrói. Precisa e quer. Ele turvou a água clara da percepção e introduziu objetos estranhos
no templo intocável e fechado. A conversa pede por submissão, por favores, por reconhecimento, por
comércio, por amor, por dinheiro, por compreensão, por controle, por atenção, por culto – onde não pode
haver nenhum, onde só pode haver uma conexão direta suprapessoal ao Ser ou a fabricação de um ruído
que a distorce.
As vozes extras chutam um redemoinho de detritos, elas interferem na transmissão direta com o
Vazio – tanto com a deles como com a minha. As palavras são ruídos que as pessoas não ouvem bem o que
são – um tumulto cacofônico que obscurece a pureza, oculta a verdade, a simplicidade em si. O único
caminho honesto que conheço agora é a solidão. Apenas ser e gritar no vazio por tanto tempo e tão alto
quanto eu precisar. Então deixe o vazio compartilhar meus segredos com quem quiser ouvir. É assim que
falo com os outros.
Que qualquer pessoa que ouça indiretamente e capte qualquer som que os agrade para si – sem
tentar complicar sua própria comunicação com o vazio, pedindo-me esclarecimentos, fazendo perguntas,
fazendo desafios, exigindo desconstrução, criticando aquilo que pertence ao vazio ou procurando me
envolver – de modo que ela também não seja diretamente enganada pela promessa de ‘pessoa para pessoa’,
por comunicação pessoal para fornecer clareza – pois ao contrário procuraria enganar a todos nós. A
clareza é puramente entre o homem e o vazio. Qualquer coisa menor do que este silêncio sagrado que
permite que os outros se comuniquem com o Vazio mais claramente, é impor distorção e uma tirania da
vontade sobre outrem.

Projeto Zarzax 39 Anticosmos 01


Que qualquer pessoa que ouça indiretamente e capte qualquer som que os agrade para si – sem
tentar complicar sua própria comunicação com o vazio, pedindo-me esclarecimentos, fazendo perguntas,
fazendo desafios, exigindo desconstrução, criticando aquilo que pertence ao vazio ou procurando me
envolver – de modo que ela também não seja diretamente enganada pela promessa de ‘pessoa para pessoa’,
por comunicação pessoal para fornecer clareza – pois ao contrário procuraria enganar a todos nós. A
clareza é puramente entre o homem e o vazio. Qualquer coisa menor do que este silêncio sagrado que
permite que os outros se comuniquem com o Vazio mais claramente, é impor distorção e uma tirania da
vontade sobre outrem.

Uma compreensão interessante, ou melhor, apresentação de um entendimento. Quando eu formulei


o modelo representativo de múltiplas camadas das meditações em esfera, elas foram compostas em torno
desse resumo. Eu tentei falar sobre isso até certo ponto em referência a uma linguagem de imagens, embora
parecesse irônico tentar usar mil palavras para argumentar que as palavras não têm sentido, exceto como
meio de transmitir imagem para compreensão. Funcionou para Kierkegaard e Nietzsche, embora eu
suponha que são quase um milhão de palavras postulando a falibilidade da linguagem como princípio e
dispositivo. Eu divago embora. A forma elevada da meditação em esferas, que na verdade ainda uso com
regularidade, é uma meditação sobre a forma separada inata de um eu. A esfera negra deve ser abstraída da
natureza física. Na composição elevada ou em versões mais complexas, sugeri que se reconhecesse dentro
da esfera duas aberturas, uma para a esquerda e outra para a direita.
À direita, havia uma abertura que entrava enquanto a esquerda era uma saída. Essa é a natureza da
interação com o Vazio ou com a multidão. Outra distinção através de recitação ou práticas de meditação é
formular a noção de que somente através da vontade ativa ou passiva a informação pode entrar no self ou
ser excretada. Uma vez que o eu tome posse ou permita a absorção da informação, ele terá deixado o Vazio
e se tornado parte de si mesmo, e pode nunca mais sair disso sem exercer força para se excretar de volta ao
Vazio.
Uma vez que qualquer forma de percepção ou criação de si é excretada, é necessário vê-la como
parte do Vazio e não ter apego ao eu. Na forma mais elevada da meditação, foi instruído ver no exterior da
esfera um lodo ou uma substância semelhante a alcatrão e reconhecê-la como sendo o ego. É uma proteção
ou essência reflexiva que também pode ser vista como uma acumulação que interrompe o processo dessa
função de se relacionar porque pode capturar pensamentos ou abstrações e começar a pensar em si mesmo
em fases relativas a ditames que não mais estão em posse ou estão além da capacidade de se relacionarem.
Levando em conta as formas divinas usadas também na construção da Ordem de Saturno, esse ritual foi
minha contribuição mais fundamental para a Ordem e suas metodologias. Compus isso e suas formas
variadas para refletir as três representações das formas divinas e como uma metodologia para alterar
sistematicamente a visão de mundo e abordar os conceitos de utilidade.
Dentro do modelo de RH isso era realmente tudo o que eu ‘roubei’ da Ordem enquanto
encapsulava através de palavras e gesticulava minha percepção do trabalho final de um ‘Magister Templi’ ou
‘Adepto’ ou você escolhe a obscura referência para a palavra ‘realização’. O Eu auto-atualizado é aquele que
reconhece o ser alienígena do eu e a separação do Ser do Vazio ou da comunalidade. Lidar com a futilidade
da existência ou das relações é outra questão.

NT: Abyssal representa uma fração de milhares de e-mails que o Temple Of THEM escreveu / recebeu ao
longo de uma década. Ele inclui conselhos dados e recebidos, e-mails de e para grupos ocultos, postagens
em fóruns e tratamentos do Sinistro de uma ampla variedade de pessoas.

Projeto Zarzax 40 Anticosmos 01


Arte da Ama Lilith
A Mãe Sem Rosto
Abyssal, Trad. Pt Dom Wilians Lotan
+O+ X
Olá X, obrigado por nos contatar aqui no Salve Azerate! Obrigado pelo esboço. Muito
endereço do Templo. Em anexo está um esboço da interessante a maneira como você traçou a estrela de
geometria geral para um desenho de protótipo da nove pontas em torno do corpo ajoelhado da Ama
Ama Lilith. No entanto, gostaria de discutir algumas Lilith. Desta forma, certos pontos seriam mais
questões que tenho sobre a representação da Ama. claros, e é muito interessante que as mãos dela sejam
Para nós, o Caos Rastejante é uma Corrente Sinistra fixadas de uma maneira que os pontos traçados da
que “Ri” e tambpem “Despreza” a frágil carne da estrela marquem ao redor de seu corpo. E o reflexo
humanidade. Nós entendemos essa corrente como da estrela na poça de sangue também é e pode ser
forças que ofuscam o ser humano em seu vasto muito eficiente. A única coisa que gostaríamos de
estrelato e sua ilusão de elevar-se ao alto como um mudar é a tocha / vela. Seria melhor se parecesse
condutor importante dessa corrente. E, pois, aqui o com uma tocha “normal” com uma chama negra ou
conflito surge quando a “Visão” é essencialmente uma vela normal. As formas devem ser fáceis de
homocêntrica, colocando grande importância na entender, pois os diferentes objetos simbólicos em
forma humana como canal para o sinistro, e isso não suas mãos estão ligados a diferentes conceitos
é uma ilusão que desejamos gerar. Já na minha míticos / poéticos associados à Sua essência, dentro
opinião, um retrato da Ama fiel ao texto exotérico do contexto em que essas formas são usadas.
da MLO pode ser facilmente criado, mas ficará Quanto à forma dessa visão em si e do simbolismo
aquém de expressar o desumano. antropomórfico usado, a razão pela qual a Visão é
Parece haver uma exatidão cabalística na descrita dessa maneira é para apresentar ideias
Visão que força a forma humana à uma coesão através de formas que podem ser entendidas até
antinatural com uma estrela de nove pontas – essa mesmo por aqueles sem iniciação em Seus mistérios.
insistência na estética levou, ao que me parece, a um Esta forma da Ama Lilith foi recebida como uma
número desnecessário e penoso de instrumentos. A visão pelo autor desse texto, e a forma, assim como
ideia da Visão é bela pelo que é. E se realizada, pode as diferentes partes desta visão, revelam diversos
muito bem ser e é hipnótica, impressionante e aspectos da sua essência e sublinham as coisas que
inspiradora. No entanto, o plano no qual Ama pode sentimos serem importantes para enfatizar,
ser retratada por nossos artistas, não precisa ser o tornando ideal para se fazer a visão pública.
humano, se quiserem. Mesmo sem rosto, com seis Isso é feito a fim de estabelecer uma tradição
braços e asas de dragão, o meme remanescente da mais obscura do satanismo qlifótico, com um
sua forma humanóide é pouco congruente para sistema demoníaco mais Elevado e Mágico que
expressá-los (os Deuses Negros). aumente as principais forças do Lado Noturno, de
Talvez você possa nos ajudar a entender Ama forma que o Iniciado atravesse as diferentes formas
Lilith de uma forma diferente – para que possamos manifestadas através da 218. A corrente pode
discutir o que é que a MLO deseja retratar – e trocar alcançar a essência daquilo que é o coração negro da
sugestões sobre como isso pode ser alcançado. nossa tradição. Essa visão é composta de muitos
[Estaremos interessados em ver se este esboço está símbolos em um, a fim de sublinhar os aspectos
em alinhamento com o que você tinha em mente dessa força do Lado Noturno que consideramos
para a sua Visão.] relevantes. É por isso que suas formas devem ser
claras, para que a pessoa, por meio da contemplação
I SS, + O + de suas diferentes partes, possa buscar as emanações
ocultas da Lua Negra de Gamaliel.

NT: Abyssal representa uma fração de milhares de e-mails que o Temple Of THEM escreveu / recebeu ao
longo de uma década. Ele inclui conselhos dados e recebidos, e-mails de e para grupos ocultos, postagens
em fóruns e tratamentos do Sinistro de uma ampla variedade de pessoas.
Projeto Zarzax 41 Anticosmos 01
Isso não significa que acreditamos que Ama Não é nosso desejo mudar sua visão ou sua
Lilith, em sua essência, “parece” com essa visão. A corrente. THEM, entre outras coisas, é uma força
visão / imagem em si destina-se a ter a função de que emergiu para solidificar aquelas pessoas (e
um “texto” explicativo sobre algumas das coisas que grupos) que compartilham, em termos psicológicos,
gostamos de enfatizar sobre a Mãe Sem Rosto. Na da busca pela reunião do ‘Eu’ com o ‘eu’, do Ego
verdade, seu caráter sem rosto é o mesmo que a ‘para criar algo totalmente desumano.
ausência de forma, mas, como uma Rainha dos Uma de nossas áreas de estudo é o Reino
Pesadelos, ela pode assumir todas as formas para Astral e os sonhos – e é em parte por causa do uso
influenciar o Lado da Morte e as mentes débeis do da MLO deste reino que então decidimos emprestar
homem. Vou enviar-lhe uma pintura que outro um ‘tentáculo’ no fortalecimento de sua corrente
“amigo” nos enviou. Sua versão não é correta através do efeito atraente da arte apropriada e
quando se trata dos detalhes simbólicos, mas a sinistra.
posição dos braços e da criança enforcada é boa. A MLO nos parece uma formação madura
Mas apesar de tudo, o esboço que você enviou foi de pessoas dedicadas a procurar a coisa que você
muito bom e pode ser realmente poderoso. Talvez o chama de Chama Negra – que em si mesmo nos diz
seio deva ser um pouco mais redondo em seu que você está essencialmente alinhado conosco em
esboço, e a ferramenta de castração talvez esteja caráter. Eu vou criar outro esboço mais preciso da
aberta, pronta para cortar. O coração em chamas é Ama, e enviá-lo para sua avaliação.
uma parte muito complicada da imagem, mas sua
versão parece boa, talvez devesse ser um pouco [PS: As tesouras foram fechadas de modo a
menor. Mas tudo isso pode se tornar muito eficaz representar duplamente um falo cortado – as duas alças
dentro do que acreditamos. Então, obrigado pelo arredondadas são sugestivas à uma ferramenta de castração.
trabalho e pela ajuda, e se houver algo que não esteja Tenha certeza que muitas mudanças serão feitas, e eu
claro, você é bem-vindo para nos escrever sobre. triunfarei.]

X 2 1 8 M LO / Te m p l o d a Lu z N e g ra + O + TH E M
+O+ +O+
X, eu tinha considerado incluir um aviso Olá, este é o desenho final de Ama Lilith
com o anexo, mas decidi ir contra ele. Talvez fosse para você e para a MLO. Observe que, além do
mais prudente se eu tivesse feito isso. O que você armamento exotérico imediato que elucida a chama
está vendo e o que significou a geometria geral é um negra e a natureza de Ama Lilith, nosso artista
esboço da forma estética da Visão da Ama Lilith – incluiu várias conotações esotéricas ou ocultas
as ferramentas, mãos, asas, seios, são representações associadas a Ama (de acordo com o texto da MLO)
extremamente grosseiras e assim têm pouca ou que os diligentes podem identificar. Enquanto Ama
nenhuma semelhança com a real intenções de minha se transforma num eneagrama, suas Asas de Dragão
apreensão – mas usadas apenas como guias de criam a forma de um grande Cálice no espaço negro
colocação. Estou muito lisonjeado por considerá-las atrás dela e, mais abaixo, quando elas retornam de
razoáveis, mas elas passarão por uma transformação seu arco e vêm para descansar no fundo do desenho,
massiva se quisermos continuar com este projeto. criam o corpo bulboso de aspecto aracnídeo, os seis
Um segundo “arquétipo” está disponível no grupo braços e as duas pernas de Ama simbolizando as
mvimaedivm – e o primeiro, para o qual você foi extensões da aranha, os seios sugestionam olhos
direcionado pela primeira vez, foi digitalizado para (mais facilmente visto girando a imagem de cabeça
substituir a foto digital usada anteriormente – para para baixo).
maior clareza. Os dois arquétipos são típicos de E daí a razão para o efeito do eneagrama
nossa própria ‘corrente’ – e podem emprestar a você refletido na poça de sangue. Note que esta também
uma ideia maior do que pode ser esperado de nossa é uma foto digital e a digitalização ainda está por vir.
Visão de Ama Lilith. Esperamos que você esteja satisfeito com ‘nossa
visão de sua visão’.
Projeto Zarzax 42 Anticosmos 01
X

Olá, trabalho muito interessante e devo dizer leva à essência dos Deuses Negros que é
que gostei muito. Não é 100% do jeito que eu importante “entender”…Então, agradeço ao THEM
visualizo, mas uma forma muito válida e digna de pelo bom trabalho feito e espero que possamos
apresentar algumas de Suas essências. fazer algo mais no futuro. No momento, não tenho
Algo interessante de você saber é que um acesso ao computador tanto quanto normalmente,
dos nomes de Lilith dentro da MLO é Arachnidia! mas, com o tempo, responderei a todos os e-mails
Ela é a Deusa Aranha do Sitra Ahra cuja a teia que recebo.
neutraliza / dissolve / substitui as teias cósmicas do Será bom ver a digitalização real da imagem
destino. A Arachnidia está ligada à visão da Ama mais tarde para ver melhor os detalhes. Obrigado
Lilith, como você tão corretamente percebeu. Muito novamente.
interessante, pois acredito que em algum nível
estamos conectados a uma Essência das Trevas Qu e a s ci n za s re cu m b ra m a tod os!
muito similar. A forma é apenas um caminho que Te m p l e of Th e B l a ck Li g th

A Visão dos Pesadelos da Ama Lilith


A Deusa Sem Rosto do Sitra Ahra, MLO/TOTBL, Trad. Pt Dom Wilians, Lotan

Projeto Zarzax 43 Anticosmos 01


Suas Três Mãos Direitas
Na mão direita superior ela segura uma ferramenta de castração (uma tesoura sangrenta) ou um falo
arrancado e ensanguentado. Isso a conecta à sexualidade adversa e adversária que tem sido vista como
algo que faz com que o lado masculino ‘deus’ seja impotente, mas também tem significados mais
profundos em todos os níveis e conecta Ama Lilith à sexualidade demoníaca do obscuro feminino
primordial. Essa sexualidade é aquilo que domina e subjuga a força sexual masculina / solar e é, portanto,
(entre muitas outras coisas) um símbolo da Ama Lilith como antítese da submissa Eva e Shekinah e suas
libidos virginais que são dominadas por Adão e YHWH. Em um nível mais mundano e exotérico, a tesoura
representa seu papel como castradora que tira o calor sexual e virilidade daqueles que rejeitam sua essência
e seus impulsos amorais e libertadores.
Na mão direita do meio, ela segura um laço pendente feito de um cordão umbilical. Neste laço, um
feto ou uma criança bem nova (menos de 6 meses de idade) é enforcada pelo pescoço. Isso representa a
conexão de Ama Lilith com o aborto, a morte no berço, o natimorto e a barbaridade da mulher. Mais uma
vez, essas coisas representam-na como a Mãe das Trevas que dá a luz à morte e, através da morte, renasce
em seu próprio reino. A criança que ela escolhe antes de nascer em Malkuth se tornará um dos Lilim de
Ama Lilith em Gamaliel (há um significado mais profundo ligado a esse simbolismo que é entendido ou
não, dependendo do próprio nível de iniciação e gnose). Isso também liga Ama Lilith à antítese da ‘mãe do
homem’ e faz dela a mãe das sombras daqueles que são ‘mortos dentro do útero e ressuscitados dentro do
túmulo’. O feto enforcado em sua mão representa Ama Lilith agindo como a antítese da procriação
cósmica e mostra que ela é a única que encerra as gerações da lua maternal de Yesod antes que elas possam
se manifestar plenamente em Malkuth. O laço também está, de certa forma, ligado aos aspectos aracnídeos
de Ama Lilith e às suas teias da Lua Negra.
Em sua mão direita, ela tem um rasgo, o sangue gotejando dele queima o coração. Este coração é o
símbolo de todas as paixões que a Ama Lilith controla, manipula e inflama. Este coração ardente
representa algumas de suas bênçãos e algumas de suas maldições e é algo que seus devotos devem receber e
depois retornar a ela como uma oferta. O coração é também o local do templo dedicado à sua adoração e
as chamas de amor e ódio que queimam dentro dele se inflamam para a glória da Ama Lilith! Este coração
está ligado ao solo de cremação que é o lugar onde as formas e os invólucros externos de todos os desejos
são queimados, a fim de haver a revelação da verdadeira essência, que só pode ser realizada através da Ama
Lilith.

Suas Três Mãos Esquerdas


Em sua mão esquerda superior, ela segura uma vela ou uma tocha acesa com a chama negra. Esta é
sua Chama de Sabedoria e Destruição. Através desta chama ela ilumina sem lançar sombras e traz
destruição às mentiras demirúrgicas que ocultam Sua Verdade Luciferiana. A chama também representa o
poder de Satan-Lúcifer, que se manifesta e nasce através de Ama Lilith. Esta chama negra é uma
manifestação da Luz Negra ou o impulso anti-cósmico do Caos primitivo que deu origem a todo o Sitra
Ahra e com a chama dessa luz negra na mão, Ama Lilith é a Rainha das Chamas do Inferno! A chama
negra da vela / tocha também está conectada a certos aspectos de Daath como o portal de seu ventre e
representa muitos outras formas da essência oculta de seus mistérios.
Na mão esquerda do meio, Ela segura o vaso ou cálice preenchido com o elixir negro. Este cálice
manchado de sangue contém a essência da lua negra da Ama Lilith e seu veneno que pode conferir
verdadeira iniciação em seus mistérios mais sombrios ou causar loucura e morte tanto para a alma quanto
para o espírito. Este cálice é a sua “Taça de Abominações” que traz dentro de si o vinho tinto e negro da
fornicação dela, misturado com a semente flamejante de Samael. O cálice também está ligado à Força do
Dragão, ao reino astral, ao lado noturno e ao portal de Gamaliel. Muitos outros mistérios estão conectados
à sua taça e serão revelados através da iniciação e das bênçãos de Ama Lilith.

Projeto Zarzax 44 Anticosmos 01


Em sua mão esquerda inferior, ela segura a serpente negra do conhecimento e sabedoria proibidos.
Esta serpente representa as formas e poderes ofídicos de Ama Lilith, mas também seu poder e controle
sobre a “serpente caída no homem”. Esta serpente de fogo é o mesmo que Kaalshakti ou Kundalini das
tradições védicas e é a parte do seu poder que queima dentro de todos os seus filhos. Esta serpente é a
doadora dos frutos da Árvore de Daath / Morte e é o poder que, quando despertado pela bênção da Ama
Lilith, reunirá a chama negra com o fogo interior e fará do homem uma das Serpentes do Sitra Ahra.
Enquanto esta serpente estiver dormindo, o homem estará em escravidão sefirótica, mas quando a serpente
for despertada, o homem abandonará sua concha mundana e se erguerá como um Dragão de Fogo, pronto
para renascer no Lado Noturno através do útero da Ama Lilith.

Seu Corpo
O corpo nu de dragão da Ama Lilith é pálido como um cadáver. Seu rosto é uma sombra sem forma
que irradia a escuridão. Seus seios são redondos e firmes, cheios do néctar de seu veneno ófito. Seu longo
cabelo negro está despendurado livremente por trás de seus ombros, passando por seus quadris. De seu
Yoni flui o sangue abençoado (vermelho ou negro) e cria uma poça escura envolta de seus pés manchados
de sangue. Dentro desta escura poça de sangue, o contorno do belo corpo da Ama Lilith é refletido na
forma de uma estrela de nove pontas invertida.

Ó poderosa Lilith, deixe­me saborear


o toque dos teus lábios gelados!
Permita­me ser saciado pela força de tua
presença e inicie­me nos mistérios da Lua Negra!

Abra­te pra mim, ó Mãe da Noite,


da mesma forma que abro minha mente para ti,
e em nome de Satanás,
preencha toda a minha existência com tuas águas negras da morte
e inicie­me nos mistérios mais sombrios do teu demoníaco reino.

Projeto Zarzax 45 Anticosmos 01


F i l o s o fi a
Conspecto da Filosofia de Pathei-mathos
Numinous Way, David Myatt, Trad. Pt Dom Wilians

I. Moralidade, Virtudes e Modo de Vida


II. Sabedoria, Pathei-Mathos e Humildade
III. Enantiodromia e a separação da alteridade
I. Moralidade, Virtudes e Modo de Vida
Para a filosofia de Pathei-Mathos, ‘o bem’ é considerado como o que é justo; o que alivia ou não
causa sofrimento; o que é compassivo; o que é honrado; o que é racional e equilibrado. Esse saber do bem
surge da (atualmente subutilizada e subdesenvolvida) faculdade humana de empatia natural, o que é
diferente do conhecimento empático, suplementar e complementar ao conhecimento que pode ser
adquirido por meio dos fundamentos aristotélicos da filosofia convencional e experimental: ciência.
A empatia, portanto, inclina a pessoa para certas virtudes; em direção a um tipo particular de caráter
pessoal; e desinclina a mesma para fazer o que é mau, o que é injusto; o que é insensível; o que
intencionalmente causa ou contribui para o sofrimento.
Pois a empatia nos permite perceber diretamente e sentir o φύσις (physis) dos seres humanos e
outros seres vivos. A empatia faz uma translocação de nós mesmos e assim um conhecimento de outro ser-
vivo como aquele ser vivo é, sem presunções e sem todas as ideações, todas as projeções, todas as categorias
ou categorizações assumidas ou acreditadas. Pois a empatia envolve uma simpatia com outro ser vivo; um
devir – por um momento ou momentos causais – daquele outro ser, de modo que nós sabemos, podemos
sentir, podemos entender, o sofrimento ou a alegria daquele ser vivo. Em tais momentos, não há distinção
entre eles e nós – existe apenas o fluxo da vida; apenas o presenciar e a unidade última da Vida com o nosso
eu entendido como apenas uma falível, frágil, microcósmica emanação mortal da Vida, e cuja emanação
pode afetar outra vida de uma maneira boa ou ruim. Além disso, a empatia e o pathei-mathos nos dão a
compreensão de que nós seres humanos temos a habilidade – o caráter – (ou podemos desenvolver a
habilidade, o caráter) para entender e nos conter, para decidir fazer o que é bom e não fazer o que é errado.
Essa habilidade da razão, essa escolha e essa capacidade de desenvolver nosso caráter são a gênese da
cultura e expressam nosso potencial natural como seres humanos.
A simpatia numinosa – συμπάθεια (simpatia, benignidade) – com outro ser vivo nos inclina a tratá-lo
como nós mesmos desejaríamos ser tratados: com justiça, compaixão, honra e dignidade. Também nos
inclina a não julgar aqueles que não conhecemos; aqueles além do alcance de nossa faculdade de empatia.
Nisso há ou pode desenvolver-se:

(I) Wu-wei, o cultivo de um equilíbrio interno que surge de uma apreciação da mudança natural (o fluxo)
dos seres vivos e como é desequilibrado e difícil de interferirmos em modos que conflitem com o caráter
natural de tais seres e com essa mudança natural. Parte dessa apreciação é do numinoso; outra é de nossos
próprios limites e limitações, porque nós mesmos somos apenas uma pequena parte dessa mudança natural,
um aspecto do qual é a natureza. A apreciação do numinoso e de nossos limites nos inclina para uma certa
humildade.

(II) Uma apreciação da inocência, pois a inocência é considerada como um atributo daqueles que, sendo
pessoalmente desconhecidos para nós, não são, portanto, julgados por nós e assim recebem o benefício da
dúvida. Pois essa presunção de inocência dos outros – até que a experiência pessoal direta, como o
conhecimento individual e empático deles, provem o contrário – é a coisa justa, racional, numinosa, humana
e culta a ser feita.
Projeto Zarzax 46 Anticosmos 01
(III) Uma apreciação de como e por que um amor pessoal e leal entre dois indivíduos é a coisa mais bela,
mais numinamente humana de todas.

Em essência, o Caminho de Pathei-Mathos é um modo ético, interior, pessoal, não-político, não-


interferente, não-religioso, mas espiritual, de reflexão individual, mudança individual e vida empática. É uma
consciência da importância de virtudes como compaixão, humildade, tolerância, gentileza e amor.

II. Sabedoria, Pathei-Mathos e Humildade


Ao longo de milênios, o patheimathos acumulado de indivíduos – frequentemente demonstrados na
arte, literatura, memórias, música, mitos, lendas e muitas vezes manifestos no espírito de uma consciência
do tipo religioso ou em alegorias espirituais – produziram certos insights, certas sugestões de sabedoria,
quais eram uma necessidade de equilíbrio alcançado por não ir além dos limites numinosos; uma intimação
evidente no taoísmo, e em mitos e lendas gregas, onde este “ir além” não-inteligente é chamado de βρις –
hubris – e bem descrito, por exemplo, por Sófocles em Antígona e Édipo Tirano.
Outra indicação de sabedoria – e talvez uma das mais significativas – é o que Ésquilo escreveu em
seu Agamenon, dizendo que o Imortal, Zeus, guiando os mortais à razão, forneceu uma nova lei que
substitui as anteriores e que essa nova lei – esta nova orientação estabelecida para os mortais – é pathei-
mathos. Ou seja, para nós, seres humanos, pathei-mathos possui uma autoridade viva e numinosa. A
sabedoria que surge da própria experiência pessoal, de experiências formativas que envolvem alguma
dificuldade, algum pesar, algum sofrimento pessoal, é frequentemente ou pode ser mais valiosa para nós
(mais viva, mais significativq) do que qualquer doutrina, do que qualquer fé religiosa, do que qualquer
palavra que alguém possa ouvir de outra pessoa ou ler em algum livro.
Pathei-mathos, assim como a empatia, oferece um certo entendimento, um conhecimento e, quando
combinados, pathei-mathos e empatia são ou podem ser um guia para a sabedoria, para um conhecimento
consciente específico concernente à nossa própria natureza, nossa relação com a Natureza e nossa relação
com outros seres humanos. Se expressas filosoficamente, podem revelar a natureza do Ser e dos seres.
Como o alcance de nossa faculdade de empatia é limitado ao imediatismo do momento e às
interações pessoais, e como o aprendizado forjado pelo pathei-mathos é direto e pessoal, então o
conhecimento, o entendimento que a empatia e o pathei-mathos revelam e fornecem é baseada nas nossas
limitações de conhecimento pessoal e compreensão pessoal. Isto é, o que é tão revelado não é alguma teoria
grandiosa ou práxis ou filosofia que é considerada aplicável a outros, ou que se acredita que pode ou deve
ser desenvolvida para ser aplicável a outros ou desenvolvida para oferecer orientação além do indivíduo, em
questões políticas e / ou sociais e / ou religiosas e / ou em termos ideológicos, mas sim um modo pessoal,
individual, espiritual e, portanto, interior.
Ou seja, somos honestos, não sabemos quando não sabemos; aceitamos que não temos
conhecimento e / ou experiência suficientes para formar e expressar uma opinião sobre assuntos que não
estudamos e não temos experiência pessoal, e sobre pessoas que não conhecemos e não interagimos
pessoalmente durante um período de tempo. Aceitamos que nossa empatia e pathei-mathos – nosso
julgamento pessoal, nossa experiência, nossa apreciação interior do numinoso, o conhecimento adquirido
pessoalmente – são o que nos informam e nos guiam: não a fé e não a retórica, nem as palavras ou a paixão,
nem a propaganda ou as ideias, nem o dogma ou as políticas e nem a ideologia dos outros.
Há, portanto, uma apreciação, um conhecimento, que é a gênese de um julgamento equilibrado e
pessoal – um discernimento – e cujo conhecimento é uma prova da nossa percepção do Ser e dos seres.
Isso é o entendimento de que todos os seres vivos são emanações do Ser e de como o caminho da mudança
moral e da transformação não causadoras de sofrimento, tanto pessoal como social, é o caminho da
mudança individual e interior, de ajudar outras pessoas de maneira direta e prática, porque nossa percepção
é a da escala humana das coisas, de nós mesmos como falíveis e de indivíduos como seres humanos
presumidamente inocentes e bons ou capazes de fazerem boas mudanças, até que a experiência direta e o
conhecimento deles revelem o contrário.
Projeto Zarzax 47 Anticosmos 01
III. Enantiodromia e a Separação da Alteridade
A revelação a respeito de nossa própria natureza, nossa relação com a Natureza e nossa relação com
outros seres humanos que a empatia e o pathei-mathos fornecem é, como mencionado anteriormente, o
entendimento de que todos os seres vivos são emanações do Ser e, portanto, do que está além da separação
que a divisão (instintiva ou não) em nosso ego e nos outros causa. É uma revelação de que essa “separação
da alteridade” é mera aparência causal, e cuja aparência não apenas obscurece a natureza do Ser e dos seres,
mas é também a gênese da arrogância e, portanto, do sofrimento, um caminho longe da sabedoria.
Parte dessa “separação da alteridade” é feita quando nós (instintivamente ou não) dividimos as
pessoas em categorias assumidas e, assim, atribuímos a elas algum termo, algum rótulo ou algum nome.
Nós então presumimos que “as conhecemos” frequentemente depois de julgá-las com base nas qualidades
(ou na falta deles) que nós ou outras pessoas atribuímos ou associamos a essa categoria, termo ou rótulo.
Além disso, frequentemente ou principalmente nos definimos – nos proporcionamos identidade e
imbuímos nossa vida com significados – ao aceitar ou assumir ou designar a nós mesmos (ou permitir que
outros assim nos atribuam) a uma categoria ou categorias fabricadas por humanos. No entanto, todas essas
categorias, termos, rótulos, nomes – e os deveres e responsabilidades, e / ou gostos / desgostos atribuídos
a eles – foram e são a gênese do sofrimento, pois levam a (e levaram) certas categorias a serem
consideradas como melhor que ou oposto a outras, e de noções de superioridade / inferioridade, de
amados / odiados. Disso surge o conflito, tanto o pessoal como o conflito suprapessoal de alguns seres
humanos (conflito de subjugar alguns outros seres humanos designados ou identificados com alguma
categoria diferente).
Existe por milênios a periodicidade de tal designação, a identificação com tais conflitos entre as
categorias manufaturadas por humanos. As categorias antigas desaparecem ou são renomeadas ou extintas,
novas são fabricadas. As vezes, as categorias se mesclam, formando um novo tipo, atribuindo um novo
nome. E o sofrimento, a falta de compreensão sobre a natureza do Ser e dos seres, a separação da
alteridade, continua.
Enantiodromia é o termo usado na filosofia de pathei-mathos para descrever a revelação e o
processo de perceber, sentir e conhecer além da aparência causal e da separação-da-alteridade e, portanto,
conhecer o que se separou – ou foi incorretamente percebido como separado – retornando à totalidade, à
unidade, de onde surgiu. Os seres são compreendidos em sua relação correta com o Ser além da abstração
causal de diferentes opostos desconsiderados ou conflitantes, e quando, como resultado, ocorre uma
reforma do indivíduo. Uma relação, uma apreciação do numinoso que a empatia e o pathei-mathos
fornecem e a relação e apreciação do pathei-mathos acumulado por indivíduos ao longo de milênios, nos
tornaram conscientes ou tentaram nos informar ou nos ensinar.
Pois todas as religiões vivas, todas as formas espirituais vivas, manifestam ou expressaram ou foram
fundadas para expressar essa mesma sabedoria. Cristianismo, islamismo, judaísmo, hinduísmo, budismo,
taoísmo, tudo – em seu próprio modo e além de suas diferentes manifestações externas e os diferentes
termos e expressões e alegorias usados para elucidar ‘o numinoso’ – expressa, realça ou pode melhorar
nossa humanidade: nossa capacidade de nos conter, de admitir nosso desconhecimento, de admitir nossos
erros, de perceber além de nós mesmos e além da “separação da diferença”. Ser compassivo, perdoador e
receptivo à humildade e reforma.
Enantiodromia não é, portanto, nada novo quando aceita que o processo, a descoberta, a reforma,
são – na filosofia dos pathei-mathos – coisas naturais que não envolvem qualquer teoria, ou dogma, ou
práxis, ou requerem qualquer fé ou crença de qualquer tipo. Em vez disso, há o cultivo pessoal da empatia,
do wu-wei, uma apreciação do numinoso e do conhecimento pessoal descoberto pelo pathei-mathos, e isso
é tudo.

NT: Este texto é baseado em cartas manuscritas e resume e / ou cita várias respostas de Myatt
enviadas a vários correspondentes durante o mês de abril de (2012).
Projeto Zarzax 48 Anticosmos 01
Método Para Entrar no Extase Religioso
Por Ph.D Belinda Gore, Trad. Pt Lotan

Minha inspiração é Felicitas Goodman1, uma grande estudiosa que se concentrou em estabelecer
uma estrutura do transe que pudesse existir independentemente da religião organizada. Ao começar a
ensinar suas técnicas em oficinas, percebi que os elementos do transe extático são similares àqueles usados
em práticas contemplativas. Existem cinco etapas fundamentais na prática do transe em êxtase para
indivíduos comuns que não são treinados como xamãs, mas que têm a mesma capacidade inerente de
interagir com o mundo do espírito:

1. Preparar a si mesmo
2. Estabelecer o espaço sagrado
3. Acalmar a mente
4. Estimular o sistema nervoso
5. Uso de uma postura ritual

Para entender completamente cada elemento da prática, precisamos revisar cada passo com mais
detalhes e explorar maneiras de melhorar a experiência em todos os níveis.

Preparar-se
A preparação é essencial porque temos a capacidade de interferir com a mudança para estados
incomuns de consciência se decidirmos fazê-lo. É essa capacidade de exercer a vontade pessoal que atua
como uma válvula de segurança e nos permite ensinar este método com confiança, sabendo que o corpo e
a mente do praticante podem e funcionarão para garantir a segurança pessoal. Os participantes das oficinas
geralmente perguntam se todos podem fazer o transe e, sim, quase todos podem. As poucas exceções
incluem pessoas cujo sistema nervoso, uma vez estimulado, não pode responder ao princípio organizador
oferecido pelo ritual, como é o caso de pessoas com transtornos psicóticos. No entanto, pessoas normais
também podem resistir ao transe quando se treinam para não responder à estimulação. Um bom exemplo
são os praticantes da meditação zen. Em seus primeiros workshops em Viena, ensinando em um centro
Zen, Felicitas ficou surpresa quando os participantes entusiasmados tiveram dificuldade em entrar no
estado de transe em êxtase. Eventualmente, eles resolveram a causa do problema. Esses meditadores
haviam praticado durante anos métodos para esvaziar suas mentes de todo pensamento que surgisse.

1 Felicitas D. Goodman (1914–2005) foi uma linguista e antropóloga americana. Ela era uma especialista
altamente conceituada em lingüística e antropologia e pesquisou e explorou posturas corporais rituais por

Projeto Zarzax 49 Anticosmos 01


Meditação zen budista é a última prática contemplativa em que o objetivo é o vazio. Concomitante
com a prática é um acalmar do sistema nervoso, ritmo cardíaco e padrões de ondas cerebrais. O transe em
êxtase não é contemplativo na natureza, mas é o resultado da estimulação do sistema nervoso, com um
aumento da frequência cardíaca, mas com padrões mais lentos de ondas cerebrais. Os praticantes zen
estavam sentindo o estímulo e se acalmando. Eles começariam a ter visões internas e esvaziariam suas
mentes. As duas práticas trabalharam uma contra a outra. Com uma compreensão das diferenças e
reconhecendo o que era necessário para o transe em êxtase, esses participantes da oficina logo puderam
aprender a mudar para um modo diferente do seu estado meditativo costumeiro.
A preparação psicológica é tão simples quanto antecipar a experiência do transe com uma
expectativa positiva:

“Isso é benéfico para mim e sairei da experiência sentindo-me melhor comigo mesmo e com o mundo”.

Esse é um estado de espírito que facilita a mudança de consciência que identificamos como o estado
de transe. Assim que os novos praticantes aprendem a usar posturas corporais ritualísticas e têm algumas
jornadas práticas, também ensinamos a esclarecer a intenção do transe para que a postura ritual possa ser
selecionada. A escolha da postura define a intenção. Não é o foco da mente que nos leva à Realidade
Alternativa, mas sim a posição do corpo. Em última análise, os indivíduos reconhecem que recebem o que
precisam, independentemente da postura escolhida, mas as posturas específicas apoiam tipos específicos de
experiências. O indivíduo ou grupo decide se deve abordar os espíritos para curar, orientar ou para uma
metamorfose. Os participantes do grupo podem fazer breves declarações sobre as questões da vida que são
seu foco atual, ou quando um indivíduo está realizando o transe sozinho, alguns momentos de tempo
quieto ou a redação do diário realizarão o mesmo propósito. O jejum é muitas vezes uma preliminar para
viajar no mundo dos espíritos. No entanto, eu não encorajo ninguém a jejuar, apenas evitar comer
alimentos pesados nos dias das oficinas. Como muitas pessoas se comem dietas de alimentos processados,
o jejum de curto prazo geralmente funciona como um método para limpar o corpo e livrar-se de produtos
químicos tóxicos.
Se alguém estiver no meio da desintoxicação, esse processo fisiológico pode interferir nas mudanças
que o corpo e o sistema nervoso precisam sofrer para entrar e manter o estado de transe. O jejum
supervisionado em preparação para um trabalho pode ser útil se as pessoas estiverem dispostas a realizar
essa limpeza por conta própria, mas isso não é necessário. Durante o ritual de preparação para o transe em
êxtase, usamos manchas como forma de limpar as teias mentais e emocionais e nos tornar
psicologicamente prontos a mudar para um estado expandido de consciência. A prática de maculação foi
revivida com o atual interesse pela espiritualidade dos nativos americanos. Nas igrejas e templos, sua
contraparte é o uso de incenso. Nós queimamos uma erva ou resina perfumada para criar fumaça que limpa
tanto o espaço externo quanto o espaço pessoal ou energético de cada indivíduo. Colocando uma pedra em
uma grande concha plana ou cerâmica à prova de fogo, você pode queimar um pedaço de carvão (há
pequenos briquetes auto-iluminados vendidos em lojas religiosas ou onde você pode comprar incenso) e
colocar um pouquinho de sálvia ou cedro, ou um pedaço de resina, como copal, sobre ele. Puxando a
fumaça sobre sua cabeça e corpo, você está limpando o entupimento energético. As tradições dizem que a
fumaça vive nos dois mundos, no mundo físico visível, porque podemos vê-lo, mas também no mundo
espiritual, porque não tem substância.

Estabelecendo O Espaço Sagrado


Uma vez que você esteja preparado, o próximo passo é estabelecer o espaço sagrado. Igrejas e
templos são os espaços tradicionalmente usados para rituais espirituais, mas podemos criar espaços
sagrados em qualquer lugar usando alguns passos simples. Criar um ponto parado em um mundo em
movimento é criar um recipiente seguro para a experiência da transcendência, um contêiner que tenha
limites bem definidos e a proteção contra invasões e interrupções.
Projeto Zarzax 50 Anticosmos 01
Escolha bem o seu espaço. Eu tentei liderar grupos em transe extático em ambientes externos – sob
a gigantesca pedras nas ruínas de Tikal, no templo de Aphaia na ilha de Aegina, em um lugar de gramado
em Machu Picchu, mas sempre me senti desconfortável em fazê-lo porque não pudemos escapar aos olhos
curiosos de outros visitantes desses locais. Os participantes raramente reclamavam e muitas vezes tinham
experiências visionárias maravilhosas, mas eu estava desconfortável e mais de uma vez convoquei o
Espírito do Jaguar para nos proteger. Em transe, pude observá-la rosnando em volta do perímetro do
grupo para guardar os limites.
Em outras situações, organizamos confortavelmente três oficinas do lado de fora, mas todas
aconteceram dentro de uma área prescrita, como a quadra de dança no Instituto Cuyamungue ou no fundo
da Caverna do Urso no Rancho Cauda Negra, em Montana. É importante criar um belo espaço também,
talvez com velas e flores, que também são componentes de muitos serviços religiosos.
Um altar estabelece o foco central e é o lugar para colocar todos os materiais, como um chocalho,
velas, bem como quaisquer objetos sagrados especiais que sejam significativos para você. Junto com a
preparação do espaço físico, nós também nos santificamos fazendo uma invocação a Deus ou aos deuses.
Em nossa prática, convidamos os espíritos a estarem conosco, primeiro despertando o espírito do chocalho
ou do tambor que estamos usando.
Um método simples é tomar uma pitada de fubá de milho ou sálvia também e soprar sobre ele.
Minha respiração identifica que eu sou o único enviando este presente para o espírito do meu chocalho.
Então faço um círculo ao redor do chocalho, dando apenas um pouco do presente para o leste, sul, oeste e
norte do meu chocalho, e acima e abaixo dele. Felicitas me ensinou a dizer algo assim: “Acorde, santo irmão,
soa bem e verdadeiro.” Às vezes eu acrescento: “Cantem docemente aos espíritos e os chamem por nós”. Virando para o
leste, eu digo: “Espíritos e anciões no leste, o lugar onde o sol nasce e todas as coisas começam, juntem-se a nós aqui em
nosso ritual. Venha estar conosco agora”, e sacudo o chocalho quatro vezes. Virando para o sul, eu digo:
“Espíritos e guardiões do sul, o lugar da plenitude, da estação de crescimento e do meio-dia, por favor, juntem-se a nós agora.
Venham conosco”, e novamente eu agito o chocalho quatro vezes. De frente para o oeste, eu digo: “Espíritos,
guardiões do coração, aqueles que vivem no lugar onde tudo é forte, vêm se juntar a nós nesta cerimônia. Venha estar conosco”,
e eu sacudo o chocalho quatro vezes. E olhando para o norte, eu digo: " Antepassados, espíritos, guardiões da
sabedoria, vivendo no lugar de onde o frio vem e onde a semente jaz enterrada no fundo do solo, descansando, nós chamamos
vocês e pedimos para se juntarem a nós agora”, e novamente eu agito o chocalho quatro vezes. Finalmente,
estendendo meus braços acima de mim com o chocalho na minha mão, eu chamo: “Espíritos do Mundo
Celeste, sol, lua, vento e Via Láctea, convidamos vocês a se juntar a nós aqui. Venham estar conosco agora”, e eu sacudo o
chocalho quatro vezes, e depois me inclino em direção à terra e digo: “Levante-se, queridos espíritos da Terra,
levante-se e junte-se a nós aqui. Venha estar conosco em nosso ritual.” De novo, sacudo o chocalho quatro vezes. É
claro que as associações direcionais mudam quando estou ensinando no hemisfério sul, mas o modelo pode
ser facilmente adaptado. Depois de qualquer invocação, é apropriado oferecer algo a esse presente. No
espaço para o qual nós chamamos os espíritos, sopramos outra pitada de fubá, oferecemos isto para as
quatro direções e acima e abaixo:“Para todos vocês que ouviram nosso chamado e vieram, obrigado por sua presença
aqui, e sejam bem-vindos.” Então nós jogamos o fubá em direção ao céu, devolvendo o presente dos milharais
que, de acordo com a tradição Pueblo, eram seus corpos que eles davam para que as pessoas famintas
pudessem comer.

Incinerando A Mente
O terceiro passo do processo de transe extático é uma prática para acalmar a mente. A tagarelice
interna interfere efetivamente na mudança de consciência necessária para o êxtase. As pessoas usam vários
alucinógenos para suprimir essa função, mas isso acrescenta riscos adicionais, tanto físico quanto
legalmente. Para uma prática fora do contexto de um ritual guiado por um especialista religioso experiente,
não recomendamos o uso de drogas ou de alteração da consciência. Uma alternativa simples é aprender a
prática meditativa fundamental de esvaziar a mente, geralmente com uma técnica de respiração. Um
método simples é sentar-se confortavelmente e contar suas respirações.
Projeto Zarzax 51 Anticosmos 01
Na inspiração, concentre-se em um ponto logo abaixo do umbigo e observe a elevação de sua
barriga ao inspirar profundamente. Então permita que a respiração libere naturalmente, isto é, expire e
conte isso como uma respiração. Faça uma pausa e depois respire um segundo, expanda a barriga devagar e
solte e conte “dois”. Inevitavelmente a mente começa a vagar: “É isso… ‘o caminho certo? Com o que eu
me pareço? Lembra o que aconteceu da última vez que tentei meditar? O que é que eu queria lembrar de
fazer esta tarde?” e assim por diante. Quando isso acontece, basta trazer o foco de sua atenção de volta para
a respiração e a contagem. Lentamente, a conversa morre e nossa sensação de presença no momento se
aprofunda. Tente contar cinquenta respirações antes de usar uma postura sagrada para o transe: conte dez
respirações, segure um dedo e repita isso mais quatro vezes. Esta também é uma técnica eficaz sempre que
você precisar acalmar sua mente. Eu recomendo aos meus clientes de psicoterapia que têm dificuldade para
dormir ou desenvolver ansiedade antecipatória. Às vezes, em um grupo, as pessoas preferem se concentrar
apenas na respiração e somente o líder faz a contagem. Eu recomendo contar porque dá à mente algo para
fazer e ajuda a impedir que ela vagueie.

Estimulando O Sistema Nervoso


Os três passos identificados até agora são úteis na preparação para a meditação e práticas
contemplativas, bem como para o êxtase. O próximo passo diferencia dos dois caminhos. Enquanto na
meditação aprendemos a acalmar a mente e o corpo, na prática do transe em êxtase precisamos estimular o
sistema nervoso. Nosso método é usar um tambor ou chocalho para criar um ritmo uniforme de cerca de
200 batidas por minuto, uma batida que é consistente com ritmos cerimoniais nas danças animalescas dos
índios Pueblo, que são nossos vizinhos no Instituto Cuyamungue.
Para iniciar a mudança na consciência que conhecemos como êxtase, você tem que fazer algo para o
corpo. As criancinhas induzem estados moderados de êxtase quando se deleitam em girar, repetidas vezes,
no merrygo-round ou girando seus corpos até que caiam. Palmas, dançar, cantando todos têm um efeito
semelhante. Estímulos mais duros e mais exigentes como flagelação, longos períodos de privação e vários
tipos de drogas absorvidas naturalmente também são eficazes e todos têm sido tradicionalmente usados por
xamãs e outros especialistas religiosos para induzir a transcendência extática.
A beleza de trabalhar com posturas sagradas é que elas são tão profundas que a simples batucada ou
barulho é suficiente e não pode ser usada com consequências perigosas. O som afeta o cérebro para que os
processos racionais sejam subjugados e outras funções sejam estimuladas. O som do chocalho deve ser
uniformemente consistente durante uma sessão de quinze minutos para facilitar a mudança no
funcionamento do sistema nervoso.
Dada a precisão desse meio de estimular o cérebro e o sistema nervoso, é possível entrar no estado
de transe com o começo do som do chocalho acompanhado por uma postura ritual – e ainda mais
importante, retornar do estado alterado na sugestão. Esta última capacidade distingue jornadas intencionais
em Realidade Alternativa de pessoas com transtornos psicóticos, que não podem escolher quando a
mudança na consciência ocorre, nem onde a mudança irá levá-las. Felicitas e eu fizemos uma gravação há
muitos anos que inclui quatro sessões, cada uma totalizando quinze minutos de som: a primeira sessão
registra o som de um chocalho (Felicitas), a segunda inclui dois chocalhos (nós duas), a terceira registra
apenas um tambor (eu), e a quarta inclui um chocalho e um tambor (nós duas). Eu prefiro a ressonância do
tambor e do chocalho quando o som ao vivo não é possível.

Usando Uma Postura Ritual


Simplesmente estimular o corpo e, mais especificamente, o sistema nervoso, não proporcionará uma
experiência religiosa. Felicitas aprendeu em sua pesquisa inicial que, dadas as quatro condições anteriores, os
sujeitos certamente experimentariam mudanças na consciência, mas nenhum deles tinha o que poderia ser
chamado de experiência espiritual ou transe em êxtase.

Projeto Zarzax 52 Anticosmos 01


No entanto, graças a uma descoberta fortuita de um artigo sobre o possível impacto do uso de
mudras, ou posturas, durante a meditação, ela se mostrou errada. O corpo sozinho é suficiente para
produzir transcendência extática na presença de um ritual que pode moldar o que ocorre enquanto o
sistema nervoso é estimulado.
O ritual alinha o corpo como uma chave numa fechadura, abrindo a porta para a percepção através
de “órgãos” alternativos que nos permitem ver, ouvir, cheirar e sentir ondas de energia que aprendemos a
filtrar. As posturas corporais rituais são: rituais realizados pelo corpo enquanto ele mantém uma postura de
uma maneira muito específica. Para usar uma postura sagrada, primeiro borrife e chame os espíritos como
descrito acima. Depois de cinquenta respirações para desacelerar a mente, peço a todos que assumam a
postura que escolhemos para aquela sessão.
Por muitos anos temos investigado o que acontece conosco durante esse estado expandido de
consciência que chamamos de transe extático. A pesquisa das ondas cerebrais nos permitiu ver que, durante
o estado de transe em êxtase, algo está sempre acontecendo no hemisfério direito do cérebro, mesmo
quando o hemisfério esquerdo não o registra. Usando a técnica do eletroencefalograma da análise espectral,
o físico e psicólogo Gunter Haffelder, do Insitut für Kommunication und Gehirnforschung (Instituto de
Comunicação e Pesquisa do Cérebro) em Stuttgart, mediu as frequências cerebrais em indivíduos que
participavam de uma sessão de transe em êxtase usando posturas corporais sagradas. Olhando para o
gráfico, fica bem claro onde o cérebro começa a identificar o começo do som. No caso de um sujeito,
houve o cume característico de nova atividade no cronosetrograma no lado direito sem o cume
correspondente no lado esquerdo. Esse indivíduo provavelmente não teria identificado nenhuma mudança
interna de uma perspectiva objetiva e observacional, mas o monitor mostra que a presença do chocalho
provocou reações emocionais. De muitas fontes, incluindo os escritos de Sigmund Freud para o recente
livro de Malcolm Gladwell, Blink, aprendemos que há mais coisas acontecendo em nossa psique do que
sabemos conscientemente. Aparentemente isso é verdade também no estado de transe extático. Felicitas
escreveu que “o ritual é o meio de comunicação para (os Espíritos), tão importante quanto a fala é para
nós”. Sabemos quando um ritual está correto quando algo acontece.
O que é que acontece experiencialmente neste estado extático despertado? É essencialmente um
processo de três etapas. Primeiro fazemos a mudança de consciência e nos abrimos para ela. Nós
entregamos nosso apego teimoso ao mundo como definido pelo ego e nos permitimos ser tomados pelo
som e pela resposta de nossos corpos em outras dimensões da realidade. Tem sido minha experiência em
trabalhar com centenas e centenas de pessoas nos workshops e nos locais de aconselhamento que nós
nunca somos levados mais longe do que podemos ir enquanto ainda mantemos a percepção consciente do
ego que observa. O objetivo não é perder a consciência, mas expandi-la. Também é verdade que no
movimento expansivo nunca explodimos, mas sempre mantemos o limite da existência autoconsciente
dentro do eu pessoal. Guiados pelos espíritos cujo plano visitamos, somos treinados por eles a expandir e
receber continuamente, passando pelos primeiros estágios de ver cores e formas, depois de perceber
animais e paisagens e talvez outras formas espirituais, e finalmente de entrar na dimensão do êxtase em que
estamos em sintonia com esses múltiplos mundos.
No final de uma sessão de êxtase, é hora de reduzir a expansividade, de recuar devagar e com
cuidado. Em oficinas e grupos de transe extáticos, sugerimos que, quando o barulho ou a bateria pararem
na conclusão de uma sessão de quinze minutos, as pessoas lembrem-se de mudar de posição, de sair da
postura ritual e de respirar devagar por alguns minutos, revendo as experiências de transe, mantendo os
olhos fechados. Então é melhor documentar o que ocorreu durante a sessão de transe, escrevendo sobre a
experiência, compartilhando verbalmente em uma sessão de grupo, ou talvez em alguma forma de música
ou arte visual. O funcionamento racional dominante do cérebro esquerdo pode anular o estado de transe
mais sutil, por mais poderoso que seja no momento, assim como muitas vezes experimentamos quando
tentamos nos lembrar de nossos sonhos no dia seguinte. Para reter a memória da experiência, é importante
também definir trilhas de memória no lado esquerdo do cérebro. Sabemos que a intenção com a qual
começamos o ritual, bem como o ambiente físico e nossa orientação psicológica, tudo determina em algum
grau o que experimentamos durante um estado de transe extático.
Projeto Zarzax 53 Anticosmos 01
Atavismo
por Dom Wilians

Dragon Breath de A.O. Spare

Biologicamente, o atavismo é o reaparecimento de traços ancestrais e aspectos remotos da natureza


humana. A palavra vem do latim atavus e estritamente refere-se a algo secular e hereditário, mas é
comumente utilizada no ocultismo para apontar tanto o ancestral, quanto aquilo que não pode ser rastreado
na gene e nem na história da humanidade. O atavismo se encontra abaixo do radar eclesiástico pois se trata
de uma 'manifestação ancestral' que muitas vezes ressurge mediante experiências isoladas, não algo que
constitui fenômenos que possam ser provocados dentro de uma religião ou culto organizados, sendo mais
uma anomalia de probabilidade do que uma prática com resultado formal.
O atavismo é um vórtice profundo que faz emergir aspectos primordiais do subconsciente criando
um núcleo de energia senciente que percorre desde as primeiras linhas da natureza até a sua explosão na
superfície da consciência. Nesse sentido, o atavismo pode ser interpretado tanto como uma Forma do
Pensamento, uma zona de poder de magnitude maior como são os Éteres, quanto a manifestação de deuses
e forças esquecidas como os da narrativa de Lovecraft sobre os Old Ones.
A visão de Grant sobre o atavismo é baseada na paleantropologia e tem forte influência dos estudos
de Gerald Massey. Para Grant, o ressurgimento atávico era um impulso primordial de reunião com a fonte
do ser que ocorria mediante a reversão da vontade e do desejo como forma de voltar paras as regiões do
subconsciente. O simbolismo da bruxaria tradicional, da feitiçaria e magia, para ele era uma manifestação
atávica desse impulso. A lua ligada aos êxtases noturnos, a dança de costas das bruxas e cânticos feitos ao
contrário, para Grant representavam uma forma de reunião com o passado remoto. Muitas dessas práticas
ritualísticas estavam ligadas à uma oposição ao curso do sol, remetendo a ideia de que a escuridão era a
própria fonte para a qual o impulso atávico levaria ao reencontro. Podemos ver que as ideias os estudos de
Massey na Seção 6 do Gênesis Natural dão fundamento para a praxis tifoniana sobre o atavismo como
impulso de retorno a fonte e coloca essa fonte como a escuridão à qual a luz se opõem:

Projeto Zarzax 54 Anticosmos 01


"O platonista Damascius relata que os egípcios colocaram a escuridão como o princípio de todas as coisas, a escuridão
desconhecida, incompreensível e inconcebível, da qual a luz foi emanada. A escuridão primitiva ainda não era a de Orfeu e dos
platônicos obscurecidos pelo excesso de luz. Eles vieram mais tarde distinguir dois tipos de escuridão, uma abaixo e a outra
além da luz. A noite foi o primeiro ‘revelador’ da luz das estrelas e, portanto, uma forma de mãe, a mãe ( Mut) que é
chamada de “amante da escuridão e aquela que traz a luz”. Na última das Lendas de Izdubar, a mãe de todos, Ishtar é
“Aquela que é a Escuridão; aquela que é a noite, a Mãe, que dá a luz ao Alvorecer, Ela é a Escuridão". A mãe no México,
Cihuacohuatl, é a serpente feminina que gerou a luz, e ela é a mãe de gêmeos claros e escuros. Na sabedoria de Salomão é
uma fase primordial personificada pela escuridão: “Ela é mais bonita do que o sol e acima do arranjo das estrelas. Não pode
ser comparada com a luz, pois é antes disso – análogo à frase de Plutarco- antecessora a luz". O eon ou a idade ( heh) é o dia,
a eternidade é a noite."
(Tipologia da Serpente, Seção 6, Genesis Natural de Gerald Massey)

E também fala da importância da escuridão para o homem primitivo no processo de autoconhecimento de


sua natureza e condição:

'As primeiras condições de existência observadas pelos homens primitivos foram precisamente
aquelas que podiam imediatamente ser contempladas, a noite e o dia seguinte em uma alternância
incessante. O início era a impenetrável escuridão da noite primitiva. A exclamação universal da mitologia é:
“Havia Escuridão. “No começo, tudo era escuridão e a escuridão era tudo”. O homem primitivo saiu da
noite, sua mente impressionou de forma indelével, tingida exatamente como seu corpo em uma escuridão
natural, porque a influência da noite era a primeira a ser pensada conscientemente, a primeira coisa que
chamou sua atenção e puxou o seu olhar para cima quando ele ainda estava se movendo mentalmente a
quatro patas."
(Tipologia da Serpente, Seção 6, Genesis Natural de Gerald Massey)

A fórmula thelêmica de ALHIM pode ser utilizada para entender os fenômenos primitivos e escuros
do atavismo pois permite um contato ou varredura dos aspectos do Aeon da Mãe no subconsciente do
indivíduo, principalmente aqueles em conflitos com o surgimento de personalidades mais humanizadas
criadas para se oporem ao lado primitivo, como no caso de Sofia e muitos arquétipos patriarcais de deuses.
Em Magick Em Teoria e Prática, Crowley descrevendo a fórmula de ALHIM nos dá uma melhor ideia
disso:

"Alhim (Elohim) é a palavra exotérica para “Deuses”. É o masculino plural de um substantivo feminino, mas sua
natureza é principalmente feminina. É um perfeito hieróglifo do número 5. Os elementos estão todos representados, como um
Tetragrammaton, mas não há desenvolvimento de um para outro. Eles estão, por assim dizer, misturados – indisciplinados,
simpatizando uns com os outros apenas em virtude de sua energia selvagem e tempestuosa, mas elasticamente sem resistência."

(Magia em Teoria e Prática, Aliester Crowley)

Além de ser parte dessa "energia selvagem e tempestuosa" que Crowley descreve - e que pode ser
facilmente ligado aos fenômenos primários de ressurgência-, o atavismo também se encontra por detrás de
muitas de nossas criações e manifestações modernas mais organizadas. Junto com a herança de caracteres
físicos e psíquicos transmitidos pelos gens dos ascendentes remotos, o atavismo também traz o desejo de
rompimento das limitações destes, uma busca por domínio e exploração da natureza e o que possa estar
além dela, o mesmo motor que movia o homem primitivo a sair e conhecer o outro lado, o mundo. Spare
faz mençao disso no Livro dos Prazeres dando um exemplo de ressurgência atávica de ave se manifestando
através da criação da tecnologia de máquinas voadoras.

Projeto Zarzax 55 Anticosmos 01


Thantifaxath: Uma Recordação
por Albert Petersen, Trad. Pt Lotan

Em 2004, foi oferecida a oportunidade de testemunhar um ritual mágico de um grupo que


trabalhava em Londres, Inglaterra. Fui convidado para participar do evento não como participante, mas
como um observador externo. Tendo um profundo interesse no ocultismo e também vindo de uma
formação jornalística, eu agarrei a chance. A seguir, darei um extrato de um corpo maior de trabalho
atualmente em desenvolvimento.
Não estou interessado na moral ou na ética por trás daquilo que as pessoas escolhem fazer –
normalmente, acho que qualquer discussão em torno dessas áreas é extremamente monótona e, na maioria
das vezes, uma indicação de ingenuidade arraigada. No entanto, estou profundamente intrigado com os
fatores motivadores por trás das ações de uma pessoa ou grupo, quando, como resultado de uma reunião /
conversa dentro de um pub, recebi a oferta, e tentei explorar o máximo possível os ângulos do evento. Eu
mudei os nomes para honrar minhas garantias de confidencialidade e admitir que muito do que se segue foi
reescrito a partir de anotações feitas in situ.
Como mencionado em outro lugar, não estou interessado em nenhum tipo específico de magia ou
espiritualidade. Eu vou fazer uma cisão na maioria das coisas, incorporando o que funciona para mim, ao
mesmo tempo dispensando o que não produz resultados adequados. Eu não usaria a palavra “tolerante”,
pois isso tem muitas conotações negativas em minha mente. Eu apenas deixo as pessoas continuarem com
o que elas estão fazendo – contanto que isso não interfira comigo.
Eu encontrei vários membros do grupo para ter um ar de bravata, como se eles se achassem
terrivelmente maus – mas através de extensas conversas eu os achei relativamente ‘morais’ com todo o
grupo rejeitando o uso de estupro, assassinato, abuso infantil ou outros atos nefastos e ilegais dentro de
seus rituais. O evento aconteceu em uma casa com terraço em Holborn, Londres, onde 22 membros do
grupo tentaram se comunicar com Thantifaxath, um espírito qlipótico descrito extensivamente No Lado
Noturno do Éden de Grant e outras obras.
Duas coisas que me impressionaram imediatamente foram a profundidade da organização exigida
para o rito e o grande número de membros do grupo. A pesquisa anterior nessa área havia sido produzida
com apenas pequenos grupos de cinco ou seis membros, mas aqui havia uma organização oculta em larga
escala que de alguma forma conseguia circunavegar as inevitáveis políticas que tendem a surgir em grandes
grupos. Falando com os membros após o evento, descobri que cada membro participante do rito recebia
uma tarefa específica relevante para o ritual. Por exemplo, uma pessoa seria responsável por fornecer os
ingredientes para o incenso, outra seria encarregada de adquirir as velas apropriadas e assim por diante.
Fiquei muito impressionado com o grau de organização e eficiência dentro do grupo.
O grupo preferiu não realizar qualquer forma de banimento ou purificação antes do início do ritual,
sustentando que as correntes e entidades com as quais eles buscavam a comunhão prosperavam em “auras
impuras”. Em vez disso, todos os participantes jejuaram durante 30 horas antes da invocação. Quando
entramos na sala de estar, a primeira coisa que me impressionou foi a escuridão. Cortinas pretas tinham
sido puxadas pelas grandes janelas, apesar do fato de que eram três horas da manhã. A outra coisa que me
impressionou foi o cheiro do incenso, que mais tarde me lembrei de ser uma mistura de mirra e enxofre. A
fumaça do incensário era espessa e acre, queimava a parte de trás da garganta e ardia nos olhos e no nariz;
o quarto era iluminado por apenas três velas altas (duas pretas, uma azul escuro) que ficavam no que
parecia ser uma laje de madeira no fundo da sala. Da minha posição no lado oposto da sala, pude ver que
não havia mobília, então presumi que tudo havia sido removido antes do ritual.
O que eu achei um pouco desconcertante foi o fato de que havia um prato de metal no altar
contendo o que eu só posso presumir que era um grande pedaço de excremento humano. Eu nunca
descobri o propósito exato disso, mas presumo que esteja lá para jogar as mentes dos participantes em um
estado de confusão e repulsa. Se esse era o efeito desejado, certamente estava trabalhando em mim.

Projeto Zarzax 56 Anticosmos 01


Vinte e dois membros do grupo entraram na sala, todos vestidos em vestes de preto, azul e roxo
escuro. Um círculo foi formado consistindo de treze homens e mulheres adolescentes em vestes, enquanto
os nove membros restantes se despiam e formavam um quadrado de três fileiras dentro do círculo. De
maneira solene, todos eles consumiram o que foi chamado de “Vinho do Sabá” – eu não estava em festa
para participar do sacramento. Mais tarde, descobri que o vinho consistia em vinho tinto, secreções
menstruais / vaginais, sêmen, pimenta-do-reino, zimbro e possivelmente alguma forma de alucinógeno,
embora ninguém confirmasse esse último ingrediente. De acordo com P, o rito tecnicamente começou às
3:00 da manhã, apesar de falar com os entrevistados depois, fui informado que o ritual realmente começou
no início do jejum, o que ocorreu 30 horas antes. Apesar de estar em uma sala escura, comecei a perceber
imagens que decoravam o templo; isso incluía um grande Tau duplo, flores (que pareciam papoulas) e
representações grosseiras de escorpiões, cabras e crocodilos. O sigilo de Thantifaxath ocupou o lugar de
honra no altar, que também notei estar coberto de conchas de ostras. Mais uma vez, mais tarde, descobri
que as conchas eram da última alimentação comida antes do jejum começar. O grupo recitou ABAB
AGIEL ZAZEL ARANTHRON, e foi nesse momento que percebi que a maioria das correspondências
usadas eram aquelas tradicionalmente atribuídas a Binah. O canto era muito bonito com camadas distintas;
por exemplo, uma seção estava repetindo o ABAB. AB. ABA. ABAB em tom baixo enquanto outro grupo
foi poderosamente vocalizante AG. AGIEL. AGIEL ZAZEL e assim por diante. As muitas sílabas
diferentes encheram a sala em uma estranha harmonia. Ao questionar os membros após o evento, descobri
que não havia regras rígidas sobre quem cantava o quê. Cada participante conhecia os cânticos apropriados
ao ritual e seguia o que parecia certo. O canto ficou muito alto e me perguntei se havia vizinhos que
pudessem chamar a polícia. Até agora eu estava me sentindo bem, só com náuseas náuseas – do incenso
que presumi – e também me sentia um pouco ansioso, embora não conseguisse identificar exatamente por
que, já que tenho sido testemunha e participante de muitos rituais. Houve uma sensação distinta de pânico
crescente que eu me esforcei para afastar.
O círculo começou a adotar o que eu só posso descrever como “mudras de corpo inteiro”,
alternando entre o braço direito para baixo com o braço esquerdo estendido em um ângulo de 45 graus da
cintura e outra com os dois braços para cima, as mãos na altura do ombro. O ‘quadrado’ dentro do circulo
não adotou esses mudras. Os cantos continuaram por muito minutos, apesar de ser um observador externo,
comecei a sentir os efeitos do trabalho; a ansiedade foi substituída por uma sensação de claustrofobia, e
houve momentos em que senti seriamente que iria sufocar. Eu queria ir embora, mas sabia que, como
profissional, era impossível para mim. Eu lutei contra o pânico e tentei me concentrar em registrar o que
estava ocorrendo no templo. Eu não tenho certeza em que ponto o seguinte começou quando eu estava
distraído ao analisar meu próprio bem-estar físico, mas quando voltei minha atenção para o grupo, percebi
que os participantes nus estavam balançando para trás e para frente, alguns sentados em suas coxas, alguns
nos pés, alguns na posição tradicional de lótus. Mais tarde, verificou-se que aqueles na formação quadrada
foram considerados “As Potencialidades” e receberam quase o livre intento (além de quebrar o círculo) para
fazer o que parecia adequado para invocar o espírito.
Notei que em nenhum momento o nome Thantifaxath era falado, embora eu tenha notado que
todos os nove membros nus também estavam decorados com o sigilo apropriado, pintado em seus torsos
com o que parecia ser lama do rio. Lembro-me de pensar na época que achei isso extremamente
imprudente. Outra lembrança clara da noite foi o pensamento “é de se admirar que as pessoas pensem que
você é um satanista quando você está se debatendo com merda e sangue e Deus sabe o quê mais?”, embora
até onde eu sabia, P e o grupo não estivessem de forma alguma associados à Adoração ao Diabo.
A essa altura todo o meu corpo estava doendo dolorosamente. Meus músculos estavam rígidos e eu
queria desesperadamente sentar-me; no entanto, eu havia concordado em permanecer em silêncio e não
atrapalhar ou distrair o grupo. Eu só queria sair. Mais uma vez eu comecei a introspecção, mas desta vez eu
‘me segurei’ antes de me distrair e voltar meu foco para o que estava acontecendo na sala. Os membros nus
praticavam atos sexuais em si mesmos, incluindo a masturbação, a inserção do que pareciam efígies de
pedra-sabão de vários totens em suas vaginas e ânus, removendo as efígies e sugando-as e limpando-as em
seus corpos.
Projeto Zarzax 57 Anticosmos 01
Padrões estranhos (possivelmente outros sigilos?) que eu não reconhecia eram traçados na pele,
deixando rastros cintilantes de saliva e secreções em vários pontos do corpo. Eu poderia imaginar que, para
alguém de fora que não fosse familiar com tais ritos, teria sido ao mesmo tempo estranho, repulsivo e
estranhamente erótico. Para mim, havia um elemento sexual nisso, mas eu estava mais intrigado do ponto de
vista antropológico. Eu estava ansioso para ver o que aconteceria a seguir, embora admita que a introdução
do aspecto sexual no rito renovou meu interesse e eu temporariamente me esqueci do meu desconforto
físico.
Senti que estávamos nos aproximando do pico do rito quando as nove pessoas do círculo
começaram a proferir, em alguns casos, uma frase ou falavam apenas uma palavra, enquanto alguém pegava
a parte restante da sentença. O seguinte foi transcrito como um monólogo contínuo, embora na verdade
tenha sido falado por vários membros:

“Aossic, sua boceta…enfiando coca na boceta da sacerdotisa…sua boceta…vejo você…no tempo…com suas porra de
ficção…não há segredo oculto…desistir… muita ênfase em uma vida sozinho? Um livro…”

O discurso foi interrompido por ataques de risos, lamentações. Mas ainda ouvia baixo:

“Suas memórias não são divinas…ficar assistindo as bruxas mijarem…é isso que você está fazendo. Escondendo sua
luxúria em magia ridiculamente nobre… você joga com magia. Jogue com magia. Jogue com magia. Escondendo sua luxúria
suja em vestes e livros…pegue uma nova página, jogue estrelas para baixo, reconheça o sigilo pelo seu valor e função, acredite
Kadaf (Kadath?), Kadosh, kaph…escolha e mastigue uma pessoa no trono e vai chorar por seus erros, estúpido, estúpido (isso
é falado com muita pena, acompanhado de um tremor de cabeça)…você precisa de uma nova direção, uma nova ereção. Na
falta de originalidade, você faz conexões tênues com ficções…fodendo ficções… Eu, o sem nome, eu, o vazio, fui, sou e serei,
sempre, todos os caminhos. Você está obcecado – e com o erro você corre em erro, incerto…direções erradas…ereções erradas!
Salto, salte cada vez mais alto…o caixão está vazio porque o cadáver pulou e saiu…a palavra é o falo e você vai se engasgar
com a palavra! Vai ficar na sua garganta como a maçã no pescoço do primeiro filho. Pan é tudo. O inocente arrastou para a
teia, um sacrifício de circunstância…longo e largo, o tempo é deixado de lado enquanto você…você… você está esticado como
um fio de arame além de si mesmo. Você cuz… o olho deste sol vai queimar…”

Neste ponto, um dos oráculos fixaram seu olhar em um membro particular do círculo:

“Então você quer um cristal, sim? Olhe! Está feito. Agora me adore pela minha bondade ou caia na minha respiração
que queima o campo no calor do meio-dia. O rei está enterrado no túmulo de um pobre e você quem roubou a palavra da sua
boca, suplantando-a com os seus próprios dedos. Faça-a assim, faça-a assim, faça-a assim muitas, muitas, muitas, muitas,
muitas, muitas vezes. A densidade engasga, empurra para frente, para cima. Sem truques, sem números, para frente, para
frente. Como te honrar com sangue e flores e cópulas? Foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se, foda-se. Você
aprenderá.”

Estas duas últimas palavras foram ditas em um tom perturbadoramente severo e ficaram na minha
memória quase mais do que qualquer outra coisa. Este discurso provavelmente levou cerca de 15 a 20
minutos do início ao fim. No momento em que as últimas palavras foram proferidas, as nove quase que
caíram ao chão e pareciam estar em coma. Foi um grande efeito. O resto do grupo realizou o necessário
fechamento do templo, apesar do fato de que nenhum ritual de purificação / abertura foi realizado. Os nove
foram então atendidos pelos outros membros do grupo que lhes forneceram toalhas quentes, cobertores e
similares. Pessoalmente, tenho minhas próprias dúvidas sobre se o contato foi feito (ali, por ser uma
manifestação verdadeira) ou se foi uma liberação subconscientemente transmitida dos oráculos / membros
que desejam redirecionar as energias do grupo, ou se isso foi algum tipo de golpe para derrubar a atual
estrutura organizacional do grupo. Eu ouvi de um membro que havia várias pessoas no grupo que sentiam
que estavam indo “por um caminho errado; um beco sem saída”, o que aumentou ainda mais minhas
suspeitas em relação à comunicação recebida. Essa foi uma tentativa de direcionar sutilmente o grupo para
Projeto Zarzax 58 Anticosmos 01
uma estrutura organizacional. Eu ouvi de um membro que havia várias pessoas no grupo que
sentiam que estavam indo “por um caminho errado; um beco sem saída”, o que aumentou ainda mais
minhas suspeitas em relação à comunicação recebida. Essa foi uma tentativa de direcionar sutilmente o
grupo para uma nova direção?
Na hora de começar o ritual, fiquei sabendo que todos respeitavam muito o trabalho de Grant, e
estaria beirando a blasfêmia para sugerir abertamente que Grant talvez estivesse indo na direção errada.
Algumas semanas depois, descobri que um cristal havia sido “descoberto” por um dos membros presentes
naquela noite; como se vê eles anteriormente expressaram o desejo de um novo cristal de vidência alguns
meses antes, mas não conseguiram encontrar um satisfatório. Eu digo “descoberto”, mas o cristal foi
realmente “encontrado” e comprado de uma banca em Camden Market; aparentemente, era exatamente o
que o membro estava procurando. Muitos do grupo entenderam isso como uma confirmação de que a
invocação foi um sucesso. Mantive contato com P e com o grupo por muitos anos desde então e tenho
extensas anotações de campo de outros trabalhos que eles realizaram (comigo mesmo, seja como
participante ou como observador), que estou trabalhando atualmente como parte de um projeto maior.

Qliphot
por Dom Wilians

A Kabbalah com sua complexa estrutura das O que é a força motriz de toda mudança
características gerais do universo dentro de um cósmica ou o ‘todo’ com o qual tecnicamente a
modelo ideográfico chamado Etz Chayim, a Árvore humanidade busca união para se harmonizar.
da Vida, se tornou um caminho experimental da O bem no conceito da criação dimensional é
sabedoria oculta em todo o ocidente. Esse modelo o emanador que atua como substrato receptivo da
foi desenvolvido no século XII por místicos luz contida ou reshimu, ele é a voz que pronuncia o
espanhóis e por francêses que transformaram a verbo da criação e continua impulsionando a
Tradição Hebraica em um poderoso e avançado expansão cósmica.
sistema esotérico. Utilizando a geometria, o som e O mal, por sua vez, como radiação negativa,
os números para explicar a criação e evolução retração e destruição é projetado nas Qliphoth, as
cósmica relacionadas ao processo objetivo de conchas vazias, e é definido como a antítese caótica
transformação humana, o modelo da Etz Chayim das quatro dimensões. Sendo então destrutivas e
estabelece inicialmente que os principais estágios da divisórias, as Qliphoth acabam desempenhando um
criação e expansão cósmica foram: a posição papel importante por romperem limitações que
central de um ponto da luz ilimitada, a retração dificultam a exploração de níveis mais ‘profundos’
equidistante dessa luz para formar uma fronteira da existência. Além de reverter todo processo
esférica e por fim a iluminação desse vácuo numa descendente da criação em uma ação de retorno ao
trajetória linear. A radiação ou emanação para fora Vazio, as Qliphoth possibilitam o homem a
desse centro criou o mundo da Emanação, Criação, trabalhar nas ‘profundidades’ das quatro dimensões
Formação e Manifestação onde o homem passou a nesse processo e ter acesso ao conhecimento
existir de forma arquetípica, espiritual e física. A proibida do ‘bem e do mal’ na quinta dimensão. Ao
chave para entender essa expansão e mundança está estudar a Etz Chayim, a maioria dos kabbalistas
no quinto verso do capítulo I do Sefer Yetzirah: considerou que uma cortina cobre a realidade
“Dez sefirot do Nada; sua medida é dez que não tem fim. superior (tikkum) fazendo com que a humanidade
Uma profundidade de começo, uma profundidade de fim; subsista alheia à sua própria gênese. Esse véu é o
uma profundidade de bem, uma profundidade de mal; uma mencionado ‘erro do princípio’, a grande Ilusão
profundidade de cima, uma profundidade de baixo; uma que condiciona as pessoas viverem em um estado
profundidade do leste, uma profundidade do oeste; uma comatoso de consciência. Para ver além dessa
profundidade do norte, uma profundidade do sul.” Essas Ilusão é preciso remover essa cortina. Por isso as
passagens do Sefer Yetzirah apontam para as Qliphoth e as poderosas deusas negras com suas
quatro dimensões em que o homem existe e alude características de divisão e destruição têm um papel
uma quinta, “uma profundidade de bem, uma significativo no despertar e na caminhada espiritual
profundidade de mal”), na Via Sinistra.
Projeto Zarzax 59 Anticosmos 01
P o l i t i c k a
Rejeiçao Religiosa do Mundo
A Esfera Erótica
por Max Weber, Trad. Pt Lotan

A ética fraternal da religião de salvação está em tensão profunda com a maior força irracional da
vida: o amor sexual. Quanto mais sublimada é a sexualidade, quanto mais baseada em princípio, e coerente,
é a ética de salvação da fraternidade, tanto mais aguda a tensão entre o sexo e a religião. Originalmente, a
relação entre o sexo e religião foi muito
íntima. Todas as relações sexuais faziam,
frequentemente, parte do tal orgiasticismo
mágico ou eram o resultado não-intencional
da excitação orgiástica. A base da seita dos
skoptsy (Castradores) na Rússia evoluiu de
uma tentativa de eliminar o resultado sexual
da dança dita orgiástica (radjeny) do Chlyst,
considerada pecaminosa. Assim sendo, a
prostituição sagrada nada tinha que ver com
uma hipotética “promiscuidade primitiva”;
foi, habitualmente, pela sobrevivência do
então orgiasticismo mágico no qual todo e
qualquer êxtase era louvado e considerado
Caren van Herwaarden , Lucky Believers , 201 6 , colagem espacial sobre papel , 43,5 x 53,4 x 9,5 cm 6
“sagrado”. E a prostituição profana, assim,
heterossexual, bem como homossexual, é
muito antiga e, com freqüência, bastante sofisticada. (O treinamento das tríbades ocorre entre os
chamados aborígines.) A transição dessa prostituição para o matrimônio legalmente constituído está cheia
de todos os tipos de formas intermediárias.
Concepções do matrimônio como uma disposição econômica para garantir a segurança da esposa e a
herança legal para o filho; como uma instituição importante (devido aos sacrifícios mortais dos
descendentes) na vida no além; e tão importantes para a procriação — essas concepções do casamento são
pré-proféticas e universais. Nada têm, portanto com o ascetismo em si. E a vida sexual, per se, teve seus
fantasmas e seus deuses como qualquer outra função. Uma certa tensão entre a religião e o sexo só se
destacou com o culto temporário da castidade dos sacerdotes. Essa castidade bastante antiga nem pode ter
sido determinada pelo fato de que, do ponto de vista do ritual vigorosamente padronizado do culto da
comunidade, a sexualidade era facilmente considerada como especificamente dominada pelos demônios.
Além disso, não era por acaso que subseqüentemente as religiões proféticas, bem como as ordens de vida
controladas pelos sacerdotes, regulamentavam, quase sem exceção importante, as relações sexuais em favor
do matrimônio.
O contraste de toda regulamentação racional da vida com o orgiasticismo mágico e todos os tipos
de frenesis irracionais se expressa nesse fato. A tensão entre religião e sexo foi aumentada pelos fatores
evolucionários, de ambos os lados. No lado da sexualidade, a tensão levou da sublimação ao “erotismo”, e
com isso a uma esfera cultivada conscientemente, e portanto não-rotinizada. O sexo foi não-rotinizado não
só, ou necessariamente, no sentido de ser um tanto estranho às convenções, pois o erotismo contrasta com
o naturalismo sóbrio do camponês. E foi precisamente o erotismo que as convenções da Cavalaria
habitualmente tomavam como objeto de sua regulamentação. Essas convenções, porém, regulamentaram
caracteristicamente o erotismo, disfarçando as bases naturais e orgânicas da sexualidade. A qualidade
extraordinária do erotismo consistiu precisamente num afastamento gradual do naturalismo ingênuo do
sexo. A razão e significação dessa evolução, porém, envolvem a racionalização universal e a intelectualização
da cultura.

Projeto Zarzax 60 Anticosmos 01


O grau e a forma pela qual uma ênfase de valor é colocada no erotismo, como tal, variaram
enormemente por toda a história. Para os sentimentos incontidos dos guerreiros, a posse das mulheres e a
luta por elas tiveram o mesmo valor que a luta pelos tesouros e conquista do poder. Na época do
helenismo pré-clássico, no período do romance cavalheiresco, uma decepção erótica podia ser considerada
por Arquíloco uma experiência significativa, de relevância duradoura, e a captura de uma mulher podia ser
considerada um incidente incomparável numa guerra heróica. Os tragediógrafos conheciam o amor sexual
como um poder autêntico do destino, e seu repertório incluía ecos duradouros dos mitos.
Uma mulher, porém — Safo —, não foi igualada pelo homem na capacidade de sentimento
erótico. O período helênico clássico, o período do exército dos hoplitas, concebia as questões eróticas de
uma forma relativa e excepcionalmente sóbria. Como o provam todas as suas confissões, esses homens
foram ainda mais sóbrios do que a camada educada dos chineses. Não obstante, não é exato que esse
período não conhecesse a ansiedade mortal do amor sexual. O amor helênico caracterizou-se exatamente
pelo oposto. Devemos lembrar-nos — apesar de Aspásia — do discurso de Péricles e finalmente da
conhecida oração de Demóstenes. Para o caráter exclusivamente masculino dessa época de “democracia”,
o tratamento da experiência erótica com mulheres como “destino da vida” — para usar nosso
vocabulário — teria parecido quase que ingênuo e sentimental.
O “camarada”, o rapaz, era o objeto exigido com toda a cerimônia do amor, e este fato ocupava
precisamente o centro da cultura helênica. Assim, com toda a sua magnificência, o eros de Platão é, não
obstante, um sentimento muito controlado. A beleza da paixão báquica não era um componente oficial
dessa relação. A possibilidade de problemas e de tragédia tendo por base um princípio surgiu na esfera
erótica, a princípio, através de algumas exigências de responsabilidade que, no Ocidente, nascem do
cristianismo. A conotação de valor da sensação erótica, como tal, evoluiu porém primordialmente e antes
de tudo o mais sob o condicionamento cultural das noções feudais de honra. Isto aconteceu pela
transferência dos símbolos da vassalagem cavalheiresca na relação sexual eroticamente sublimada. O
erotismo recebeu uma conotação de valor mais freqüentemente quando, durante a fusão da vassalagem e
das relações eróticas, ocorreu uma combinação com a religiosidade cripto-erótica, ou diretamente com o
ascetismo como durante a Idade Média. O amor dos trovadores da Idade Média cristã foi um serviço
erótico dos vassalos. Não se dirigia às moças, mas exclusivamente às mulheres dos outros homens;
envolvia (teoricamente!) noites de amor abstêmias e um código de deveres casuísta. Com isso começou a
“provação” do homem, não perante seus pares, mas diante do interesse erótico da “dama”. A concepção
da “dama” foi constituída exclusiva e precisamente em virtude da sua função de julgar. A masculinidade
do helenismo contrasta muito claramente com essa relação entre o vassalo heróico e a “dama”. O caráter
especificamente sensacional do erotismo desenvolveu-se ainda mais com a transição das convenções da
Renascença para o intelectualismo crescentemente não-militar da cultura dos salões. Apesar das grandes
diferenças entre as convenções da Antiguidade e da Renascença, estas últimas eram essencialmente
masculinas e de luta; sob esse aspecto, aproximavam-se muito da Antiguidade. Isso se deve ao fato de que,
à época de Cortegiano e de Shakespeare, as convenções renascentistas haviam acabado com a castidade
dos cavaleiros cristãos.
A cultura dos salões baseia-se na convicção de que a conversação intersexual é importante como
força criadora. A sensação erótica, clara ou latente, e a comprovação do cavalheiro perante os olhos da
dama tornaram-se meio indispensável de estimular essa conversação. Desde as Lettres Portugaises, os
problemas amorosos reais das mulheres tornaram-se um valor de mercado intelectual e específico, e a
correspondência amorosa feminina tornou-se ima “literatura”. A última intensificação dessa esfera erótica
ocorreu, em termos das culturas intelectualistas, quando essa esfera colidiu com o traço inevitavelmente
ascético do homem especialista vocacional. Sob essa tensão entre a esfera erótica e a vida cotidiana
racional, a vida sexual especificamente extraconjugal, que havia sido afastada das coisas cotidianas, pôde
surgir como o único laço que ainda ligava o homem à fonte natural de toda vida. O homem emancipara-
se totalmente do ciclo da velha existência simples e orgânica do camponês. Uma tremenda ênfase de valor
sobre a sensação específica de uma salvação interior em relação à racionalização foi o resultado disso.

Projeto Zarzax 61 Anticosmos 01


inexauribilidade de sua própria experiência, que não é comunicável e, sob esse aspecto, equivale à
“posse” do místico. Isso ocorre não apenas devido à intensidade da experiência do amante, mas à
dedicação da realidade possuída. Sabendo que a “própria vida” está nele, o amante coloca-se em oposição
ao que, para ele, é a experiência sem objetivo do místico, como se enfrentasse a luz mortiça de uma esfera
irreal. Assim como o amor consciente do homem maduro está para o entusiasmo apaixonado do jovem,
assim a ansiedade mortal desse erotismo do intelectualismo está para o amor cavaleiresco. Em contraste
com esse último o amor maduro do intelectualismo reafirma a qualidade natural da esfera sexual, mas o faz
de modo consciente, como uma força criadora materializada. A ética da fraternidade religiosa opõe-se,
radical e antagonicamente, a tudo isso. Do ponto de vista de tal ética, essa sensação interior e terrena da
salvação pelo amor maduro compete, da forma mais aguda possível, com a devoção a um deus
supramundano, com a devoção a uma ordem de Deus eticamente racional, ou com a dedicação de um
anseio místico de individuação, que só parece “genuíno” à ética da fraternidade. Certas inter-relações
psicológicas das duas esferas aumentam a tensão entre religião e sexo. O erotismo mais elevado coloca-se
tanto psicológica quanto fisiologicamente numa relação mutuamente substitutiva com determinadas
formas sublimadas da piedade heróica. Em oposição ao ascetismo racional, ativo, que rejeita o sexo como
irracional, e que é considerado pelo erotismo um inimigo poderoso e mortal, essa relação sucedânea é
orientada especialmente para a união mística com Deus.
Dela segue-se a constante ameaça de uma revanche mortalmente requintada da animalidade, ou de um
deslizar inexorável do reino místico de Deus para o reino do Demasiado-Humano. Essa afinidade psicológica
aumenta naturalmente o antagonismo dos significados interiores entre o erotismo e a religião. Do ponto de
vista de qualquer ética religiosa da fraternidade, a relação erótica deve manter-se ligada, de forma mais ou menos
requintada, à brutalidade. Quanto mais sublimada for, tanto mais brutal. Inevitavelmente, esta relação é
considerada de conflito. Tal conflito não é exclusivamente, nem mesmo predominantemente, o ciúme e a
vontade de possessão, excluindo terceiros. É muito mais do que a coação mais íntima da alma do
companheiro menos brutal. Essa coação existe porque jamais é percebida pelos próprios participantes.
Pretendendo ser uma dedicação extremamente humana, ela constitui o gozo sofisticado de si mesmo no
outro. Nenhuma comunhão erótica consumida sabe-se baseada em qualquer outra coisa que não uma
destinação misteriosa de um para o outro: o destino, neste sentido mais elevado da palavra. Com isso, ela
se sabe “legitimada” (num sentido inteiramente amoral).
Mas, para a religião da salvação, esse “destino” é apenas o incêndio puramente fortuito da paixão.
A obsessão patológica, assim criada, a idiossincrasia e as variações de perspectivas e de toda justiça objetiva
podem parecer, à religião da salvação, como a mais completa negativa de todo o amor fraternal e toda
servidão de Deus. A euforia do amante feliz é considerada “boa”; tem a necessidade cordial de poetizar
todo o mundo com características felizes, ou encantar todo o mundo num entusiasmo ingênuo para a
difusão da felicidade. E encontra sempre a zombaria fria da ética radical, e de base verdadeiramente
religiosa, da fraternidade. Os trechos psicologicamente mais completos das obras de Tolstói podem ser
citados, quanto a isso. Aos olhos dessa ética, o mais sublime e doce erotismo é o pólo oposto de toda
fraternidade, orientada religiosamente nestes aspectos: deve, necessariamente, ser exclusiva em sua essência
interior; deve ser subjetiva no mais alto sentido imaginável; e deve ser absolutamente incomunicável. Tudo
isso está, decerto, longe do fato de que o caráter apaixonado do erotismo, como tal, parece à religião da
fraternidade uma perda indigna do autocontrole e da orientação no sentido da racionalidade e sabedoria
das normas desejadas por Deus ou da “posse mística” da santidade. Para o erotismo, porém, a “paixão”
autêntica, per se, constitui o tipo de beleza, e sua rejeição é blasfêmia. Por motivos psicológicos e de
acordo com seu sentido, o delírio erótico só está em uníssono com a forma orgiástica e carismática de
religiosidade, que, porém, num sentido especial, é interiorizada. A aceitação do ato do matrimônio, da
copula carnalis, como “sacramento” da Igreja Católica, é uma concessão a esse sentimento. O erotismo
entra facilmente numa relação inconsciente e instável de substituição ou fusão com o misticismo exterior e
extraordinário. Isso ocorre com a tensão interior muito forte entre erotismo e misticismo. Ocorre porque
são psicologicamente substitutivos.

Projeto Zarzax 62 Anticosmos 01


Fora dessa fusão, o colapso no orgiasticismo ocorre muito rapidamente. O ascetismo voltado para o
mundo interior e racional (ascetismo vocacional, por assim dizer) só pode então aceitar o matrimônio
racionalmente regulamentado. Esse tipo de matrimônio é aceito como uma das ordenações divinas dadas
ao homem, como uma criatura inevitavelmente amaldiçoada em virtude de sua “concupiscência”. Dentro
dessa ordem divina, é dado ao homem viver de acordo com as finalidades racionais que ela impõe e
somente de acordo com elas: procriar e educar os filhos, e estimular-se mutuamente ao estado de graça.
Esse ascetismo racional interior deve rejeitar a sofisticação do sexo transformado em erotismo, como uma
idolatria do pior gênero. Por sua vez, esse ascetismo reúne a sexualidade primária, naturalista e não-
sublimada do camponês, transformando-a numa ordem racional do homem como criatura. Todos os
elementos da “paixão”, porém, são então considerados resíduos da Queda. Segundo Lutero, Deus, para
impedir o pior, é tolerante para com esses elementos de paixão. O ascetismo racional voltado para o
mundo exterior (ascetismo ativo do monge) também rejeita os elementos apaixonados, e com eles toda a
sexualidade, como um poder diabólico que põe em risco a salvação. A ética dos quacres (tal como se
evidencia nas cartas de William Penn à sua mulher) bem pode ter conseguido uma interpretação
autenticamente humana dos valores interiores e religiosos do casamento. Sob tal aspecto, a ética quacre foi
além da interpretação luterana, um tanto grosseira, do significado do matrimônio. De um ponto de vista
exclusivamente interior, somente a ligação do matrimônio com o pensamento da responsabilidade ética de
um pelo outro — daí uma categoria heterogênea à esfera exclusivamente erótica — pode encerrar o
sentimento de que alguma coisa única e suprema poderia estar encerrada no matrimônio; que ele poderia
ser a transformação do sentimento de um amor consciente da responsabilidade, através de todas as nuanças
do processo vital orgânico, “até o pianíssimo da velhice”, e uma garantia mútua e uma dúvida mútua (no
sentido de Goethe). Raramente a vida oferece um valor em forma pura. Aquele a quem é dado, pode falar
da graça e fortuna do destino — e não do seu próprio “mérito”.

Cronologia
1864 — Max Weber nasce em Erfurt, Turíngia, em 21 de abril.
1869 — Muda-se para Berlim com a família.
1882 — Conclui seus estudos pré-universitários e matricula-se na Faculdade de Direito de Heidelberg.
1883 — Transfere-se para Estrasburgo, onde presta um ano de serviço militar. 1884 — Reinicia os
estudos universitários.
1888 — Conclui seus estudos e começa a trabalhar nos tribunais de Berlim. 1889 — Escreve sua tese de
doutoramento sobre a história das companhias de comércio durante a Idade Média.
1891 — Escreve uma tese, História das Instituições Agrárias.
1894 — Exerce a cátedra de economia na Universidade de Freiburg.
1896 — Aceita uma cátedra em Heidelberg.
1898 — Consegue uma licença remunerada na universidade, por motivo de saúde.
1899 — É internado numa casa de saúde para doentes mentais, onde permanece algumas semanas.
1903 — Participa, junto com Sombart, da direção de uma das mais destacadas publicações de ciências
sociais da Alemanha.
1904 — Publica ensaios sobre os problemas econômicos das propriedades dos Junker, sobre a
objetividade nas ciências sociais e a primeira parte de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
1905 — Parte para os Estados Unidos, onde pronuncia conferências e recolhe material para a continuação
de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
1906 — Redige dois ensaios sobre a Rússia: A Situação da Democracia Burguesa na Rússia e A Transição
da Rússia para o Constitucionalismo de Fachada.
1914 — Início da Primeira Guerra Mundial. Weber, no posto de capitão, é encarregado de
organizar e administrar nove hospitais em Heidelberg.

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Z e r o Ka m a

Zero Kama é um projeto musical experimental fundado em 1983 pelo austríaco Michael DeWitt.
Seu estilo deu origem sobretudo para o subgênero industrial “ritual”. O primeiro lançamento do Zero
Kama foi VVVVV, gravado para cassetes. A sigla da frase em latim Vi Veri Veniversum Virus Vicis, que
significa ‘Pelo Poder da Verdade, eu, enquanto vivo, conquistei o mundo’. Essa sigla foi usada por Crowley
como mote durante as operações mágicas no deserto da Argélia registradas no livro A Visão e a Voz, mas
aparece originalmente na peça teatral de Cristopher Marlowe intitulada de ‘A História Trágica do Doutor
Fausto’. Em 1984, Dewitt lançou o álbum The Secret Eye do LAYLAH e realizou alguns concertos ao vivo
no NL-Centrum Amsterdam. Nesse período DeWitt lançou mais doís trabalhos, ‘Archangels of Sex’ e
‘Govern Destruction of Regime’, que consistiam em gravações cassetes. Após esses trabalhos, DeWitt se
retirou do contato com o público.
O álbum The Secret Eye do LAYLAH foi gravado no apartamente de DeWitt. O músico conta ter
recebido uma mensagem de LAYLAH para que gravasse-o em seu templo. O nome árabe LAYLAH
significa literalmente ‘noite’ e é largamente utilizado em Thelema para simbolizar o aspecto tântrico e
oculto do feminino, sendo esse um dos nomes secretos de Babalon.
DeWitt fez a gravação do The Secret Eye do LAYLAH utilizando somente instrumentos feitos a
partir de ossos, como chocalhos feitos de dedos, instrumentos de sopros feito de fêmur e tambores de
crânios, além disso ele incluiu uma foto impressa dos instrumentos na capa do álbum. Durante uma de suas
poucas apresentações, o DeWitt foi fotografado usando tais instrumentos.

Mesmo havendo trabalhado em outros projetos e concluido gravações com a companhia de outros
músicos, DeWitt declara que o álbum The Secret Eye do LAYLAH é algo insuperável que está muito além
de tudo que ele pôde trabalhar musicalmente desde então.

Projeto Zarzax 64 Anticosmos 01


A Descida na Escuridão
The Black Sun: The Alchemy and Art of Darkness, Stanton Marlan Trad.Pt Dom Wilians

Abandone a esperança, todos vós que entrais aqui!


-Dante, Inferno, Canto 3-
O que se segue é difícil e desconfortável. Hillman adverte que o nigredo “fala com a voz do corvo,
predizendo acontecimentos terríveis”, e Dante nos diz: “Abandone a esperança, todos vós que entrais aqui”.
Contudo, além dessas advertências, eu gostaria de fornecer algum encorajamento. O artista Ad Reinhardt
apontou que temos uma tendência natural a nos afastarmos de tais experiências, mas ele nos encorajou a
“esperar um minuto”, para manter-se firme – porque olhar para a escuridão requer um período de
adaptação. A recompensa por ficar está disponível para aqueles que têm fé suficiente para resistir à “duração
infinita”. Ficar com a escuridão permite que algo aconteça que nos escaparia se fôssemos precipitados. Se
resistirmos à nossa tendência natural de fugir diante de experiências dolorosas, poderemos descer aos
aspectos sombrios do inconsciente, o que é necessário se quisermos fazer contato com o que Goethe
chama de “natureza infinita” . Virar-se para tal escuridão requer certa disposição para fazer companhia ao
sofrimento e fazer uma descida ao inconsciente. A grande obra de Goethe, Fausto, foi essencial para Jung,
que certa vez disse que “não se pode meditar o suficiente sobre Fausto” . Edinger também observou que
esse trabalho é de “grande importância para a compreensão psicológica do homem moderno”.
Para Jung, Goethe estava nas garras de uma descida, um processo arquetípico, um processo também
vivo e ativo dentro dele como substância viva, o grande sonho do mundo arquetípico. Era o principal afazer
para Goethe e essencial para seu objetivo de penetrar nos segredos sombrios da personalidade. Na abertura
de Fausto, magnum opus de Goethe, Fausto reflete sobre o nigredo da “noite”:

“Eu estudei agora, para meu pesar, Filosofia, Direito, Medicina, e – o que é pior – teologia de ponta a ponta com
diligência. No entanto, aqui estou eu, um tolo miserável e ainda não mais sábio do que antes. Eu me tornei mestre e doutor
também, e por quase dez anos eu levei meus jovens estudantes a uma feliz perseguição para cima, para baixo e de todas as
formas – e descobrir que não podemos ter certeza. Isso é demais para o coração suportar! Bem posso saber mais do que todos
aqueles idiotas, aqueles médicos, professores, oficiais e sacerdotes, não se incomodar com escrúpulos ou dúvidas e não temer o
inferno nem seus diabos – mas também não me alegro com nada, não sei nada que eu ache que vale a pena e não imagine que o
que eu ensino possa melhorar a humanidade ou torná-la piedosa. Nenhum cachorro iria querer ficar assim! … Ai! Eu ainda
estou confinado à prisão, maldito buraco de pedra onde a luz do sol penetra através do vidro pintado. Restrito por esta grande
massa de livros que vermes consomem, que a poeira cobriu e que até o teto-cofre estão intercalados com papéis sujos. E você
ainda se pergunta por que seu coração está ansioso e seu peito contraído, por que uma dor que você não pode contar para inibe
sua vitalidade completamente! Você está cercado, não pelo mundo vivo em que Deus colocou a humanidade, mas, em meio a
fumaça e mofo, apenas por ossos de animais e dos mortos…sustentada pela esperança, a imaginação uma vez subiu
ousadamente em seus voos sem limites. Agora que nossas alegrias estão destruídas no abismo do tempo, ela se contenta em ter
um escopo limitado. No fundo do coração, ela rapidamente faz seu ninho, aí ela engendra tristezas secretas e, naquele berço
inquieto, destrói toda a alegria silenciosa…”

Nessa condição da alma, neste berço de trevas onde a luz fraca do Sol mal penetra que encontramos
o Sol Niger. Meu primeiro encontro com a imagem do sol negro começou inocentemente. Ocorreu
enquanto trabalhava com uma mulher que relatou o seguinte sonho:

“Estou em pé na Terra. Eu penso: Por que eu deveria fazer isso quando posso voar?” Como estou voando, acho que
gostaria de encontrar meu guia espiritual. Então eu noto, agarrando a minha cintura, uma pessoa. Eu acho que isso pode ser o
meu guia. Eu ‘chego atrás de mim mesmo’ e puxo a figura para a frente para que eu possa olhar na cara. É uma jovem
esquizofrênica. Eu sei que este não é o meu guia. Eu a coloquei de lado e continuei minha jornada para o sol. Pouco antes de
chegar lá, um vento vem e me leva de volta à Terra.”

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A jornada para o céu e para a ala solar é um tema comum, se não universal. James Hillman nos diz
que “a vida humana não pode deixar de voar…enquanto respiramos ar e falamos ar, somos banhados em
sua imaginação elementar, necessariamente iluminados, ressonantes, ascendentes”. Para ele, “aspiração,
inspiração, o gênio é estruturalmente inerente, uma tensão pneumática dentro de cada alma”. A função da
asa, nos diz Platão, é pegar o pesado e elevá-lo nas regiões acima, onde os deuses moram. De todas as coisas
relacionadas com o corpo, a asa tem a maior afinidade com o divino. Temas semelhantes são confirmados
na arte, no folclore, na mitologia clássica, na escultura e na poesia. O movimento para cima e para fora
parece ter uma qualidade universal. Na festa de Ícaro, Sam Hazo escreve:

“O poeta imita Ícaro. Ele é inspirado a ousar a impossibilidade, mesmo que isso signifique que ele pode e possivelmente
falhará na tentativa. Seu destino é tentar encontrar a língua do silêncio, para dizer o que está além dos dizeres, para cunhar do
ar que ele respira um alfabeto que cativa como a música. Sua vitória, se é que chega, deve necessariamente ser uma vitória do
instante, uma segunda fossa lírica de triunfo, rápida como um beijo”.

O estudo de Hazo sobre Ícaro valoriza a necessidade de fuga – se uma alma quiser ter um vida
vibrante e criativa. É importante, como analista, aprender como sustentar essas ascensões pneumáticas e
espirituais, conhecer o valor do espírito puro e, ao mesmo tempo, ter consciência dos seus perigos. Como
uma mariposa atraída por uma chama, nossas almas icarianas estão em perigo quando, em nossas aspirações,
nos esquecemos de nossos corpos na Terra e do chamado a uma vida integrada. Para analistas, se não para
poetas, o “beijo rápido” deve estar ligado a um relacionamento mais estável com nossas possibilidades
transcendentes, de modo que nossos olhos também estejam fixos em “asas de cera” e no perigo de almas
queimadas e buracos negros.
Tivemos o benefício dos mitos de Phaethon, Ixion, Bellerephon e Ícaro para nos lembrar do lado
perigoso de voar muito alto e muito perto do sol, de se tornar a presa de Poseidon. O problema para Ícaro
não é que ele deseje voar (pois isso é uma emanação natural e saudável de nosso potencial constitucional),
mas que há uma diferença importante entre uma imaginação corpórea fundamentada e um vôo gnóstico
defensivo ou ingênuo que deixa o corpo e a escuridão para trás. Os analistas em geral aprenderam a olhar o
“vôo” e o “espírito” com o olho de Brueghel, e não com o de Ovídio. Em Metamorfoses, Ovídio descreve
“o espanto de um pescador, um pastor e um lavrador quando viram Dédalo e Ícaro voando pelo céu, um
acontecimento que foi interpretado como uma epifania dos deuses.”
Esse espanto é ilustrado na queda de Ícaro por Petrus Stevens e Joos de Momper. Pieter Brueghel,
por outro lado, em sua “Paisagem Com a Queda de Ícaro” (1558, Museu Real de Bruxelas), “inverteu o
tema de Ovídio de enfatizar os humildes camponeses que continuam seu trabalho sem sequer olhar o céu
ou, em Ícaro, este último reduzido a uma figura insignificante que caíra no mar.” Para os analistas,
identificar-se com qualquer uma dessas perspectivas tem consequências ciclópicas. É importante olhar com
os dois olhos, para ver através das perspectivas tanto de Ovídio quanto de Bruegel, com um olho para a
epifania e para o mar da terra, ou nós mesmos estamos perdidos em unilateralidade.
O desejo de meu paciente de sair da Terra pode muito bem ter sido motivado espiritualmente, mas,
em caso afirmativo, também foi uma fuga da dor associada à imagem da menina esquizofrênica limítrofe,
uma imagem patológica de angústia psicológica. Pode-se imaginar a psique dizendo a ela: “Vire-se em
direção a essa figura das trevas que se agarra a você. Esse é o seu guia.” Esse giro não era imaginável, e seu
ego sonhador pneumático era dirigido com uma única intenção: ir para o céu, para o sol. Confrontando-se
com essa direção estava o espírito do vento que a levou de volta à Terra e, no momento, a aterrou
gentilmente. Na alquimia, é importante que o espírito pneumático permaneça em conexão com a Terra,
como imaginado no Viridarium Chymicum de Stolcius.
Na figura abaixo, o pássaro que voa alto está ligado à criatura pequena e lenta da Terra, que impede o
espírito de voar para longe. Quando a ligação com a Terra não é honrada, o aterramento pode emergir
inconsciente e severamente.

Projeto Zarzax 66 Anticosmos 01


Imagem Alquímica do Volátil e do Fixo, 1 624,
de Edward Edinger, Anatomia da Psique

Eu não posso dizer se o que se seguiu foi de alguma forma relacionado à negligência do lado
sombrio da psique ou foi uma parte do seu destino biológico e espiritual, mas como o nosso trabalho
continuou, encontramos um lado mais destrutivo da imagem do Sol Niger.
Em uma sessão analítica, minha paciente relatou que sentiu algo ameaçador em seu peito. Ela
descreveu como uma bola escura que tinha longos fios atingindo todo o corpo. Sua inclinação era estender
a mão e levantá-la. Entre as sessões, em uma imaginação ativa, ela desenhou a imagem que sentia estar
alojada em seu peito. Era um sol brilhante com um denso centro preto e longos tentáculos fibrosos.

Depois de desenhá-lo, ela sentiu que a imagem não era suficientemente ameaçadora e sentiu a
necessidade de desenhá-la novamente. Ela desenhou uma segunda imagem, na qual o centro preto tinha
aumentado de tamanho e o brilho do amarelo foi substituído por um campo vermelho. As longas fibras
negras permaneciam, e havia muitas formas negras circulares que meu paciente descreveu com horror
como uma explosão de embriões mortos esqueléticos. Era como se ela tivesse trazido à superfície um sol
negro comprimido e explodindo que parecia prefigurar sua capacidade de verbalizar lembranças dolorosas
de sua inquietação inassimilável e a loucura de seus sentimentos suicidas. Apesar dessa recuperação e do
processo que iniciou, a imagem, como um demônio devorador, não diminuiu. Pouco depois, ela relatou um
sonho em que sentia que uma guerra nuclear era inevitável. Enquanto lutava com essas imagens, ela sofreu
um aneurisma na região anterior do cérebro e chegou perto da morte. Ela perdeu a visão em um olho, mas
sobreviveu. Não pude deixar de sentir alguma ligação entre a imagem do sol negro e o incidente médico,
que quase lhe custou a vida e levou à cegueira parcial.

Projeto Zarzax 67 Anticosmos 01


Ao pesquisar a literatura analítica, deparei com o caso de Robert, publicado pelo analista australiano
Giles Clarke em Harvest (1983). Seu artigo é intitulado “Um Buraco Negro Na Psique”. Nele, ele descreve
o caso de Robert, um homem de vinte e nove anos que estava lutando com algo que parecia impossível de
integrar ou explicar em termos de teorias convencionais, psicodinâmicas. Clarke descreve um sonho de
Robert, no qual há uma imagem de um buraco negro no qual o mundo todo desaparece.
Astronomicamente, um buraco negro é um sol ou uma estrela que entrou em colapso sobre si mesmo,
criando um vácuo que suga toda a matéria para dentro de si, uma “visão científica” do Sol Negro. Para
Clarke, a psicologia do buraco negro está ligada ao fracasso da vida psíquica e a algo que é um objeto
inassimilável e intolerável de ansiedade e pavor. Ele a conecta com uma espécie de atrofia crônica e psíquica
que às vezes pode ser literalmente fatal. O sonho de Robert foi seguido por uma série de imagens
perturbadoras e sintomas físicos debilitantes. Clarke relata imagens de um “bebê natimorto”, um
“nascimento de mutante ou monstro”, abortos e um “aborto espontâneo”. Robert “desenvolveu
enxaquecas, sua visão sofreu, seu paladar e olfato atrofiaram, e suas pernas formigaram e doeram”.
Finalmente, Robert ficou gravemente doente e morreu de câncer.
Outro encontro com o sol negro é relatado no livro de Ronald Laing “O Self Dividido”, onde ele
fala do surgimento do sol negro em seu tratamento de Julie, que foi diagnosticada com esquizofrenia. Por
um lado, Julie imaginou ser qualquer um de um grande número de personalidades famosas, mas
internamente não tinha liberdade, autonomia ou poder no “mundo real”. Como ela podia ser qualquer um
que ela se importasse em mencionar, ela não era ninguém. Ela estava “aterrorizada pela vida: “a vida iria
amassá-la como uma polpa, queimar seu coração com um ferro quente vermelho, cortar as pernas, mãos, língua, seios”. A
vida foi concebida nos mais violentos termos e ferozmente destrutivos imagináveis. Ela afirmou que
“nasceu sob um sol negro”, e as coisas que viviam nela eram bestas selvagens e ratos que infestaram e
arruinaram sua cidade interior. As imagens de Julie são ampliadas na descrição de Von Franz do Sol Niger
como o lado destrutivo do deus Sol, lembrando-nos que Apolo é o deus não só do Sol, mas também de
ratos e lobos e que o lado escuro do Sol é demoníaco e seus raios queimam a vida até a morte. Ele é um
deus sem justiça e traz a morte para os vivos. Laing prossegue observando que essa imagem antiga e muito
sinistra do sol negro surgiu, para Julie, independentemente de qualquer leitura; ainda assim, ela descreveu a
maneira como os raios do sol negro queimavam e a enrugavam, e sob o sol negro ela existia como uma
coisa morta. Sua existência, então, foi retratada em imagens de dissolução e completamente árida. Essa
morte existencial, essa morte-em-vida, era seu modo predominante de estar no mundo. Nessa morte não
havia esperança, nem futuro, nem possibilidade. Tudo já havia acontecido. Não havia prazer, nenhuma
fonte de satisfação possível, pois o mundo estava tão vazio e tão morto quanto ela. Em Alchemy, von
Franz escreve sobre o lado sombrio do Sol como destrutivo, injusto e demoníaco. Ela se refere a esse
aspecto do Sol Negro, onde o sol é tão quente que destrói todas as plantas. Ela relembra uma história da
Indochina que relata que um sol muito quente foi disparado ao amanhecer por uma figura de herói ligada a
Saturno. Para Von Franz, a sombra do Sol como “um Sol sem justiça, que é a morte para os vivos”, reflete
“uma consciência mal funcionante” que rejeita o lado de Deus.

Projeto Zarzax 68 Anticosmos 01


Okbish: A Deusa Aranha
por Daemon Barzai, Trad. Pt Lotan

Okbish, conhecida dentro da Corrente


Draconiana / Tifoniana como uma deusa
aracno ofidiana, é uma divindade que pertence
à Zona Malva, o equivalente dentro da
Ordem Esotérica Dragon Rouge como "Nox
Xon". Esta é a dimensão entre os planos,
aquela que não pertence ao Lado Negro da
Criação, mas nem a Luz, um tema recorrente
na magia Lovecraftiana. Okbish, que significa
Aranha, é a deusa que tece sua teia cósmica
/ estelar no Abismo da falsa Sefira: Daath O
Abismo. Suas teias vão além do tempo e do
espaço conhecidos pelo homem, ligando os 21
templos secretos que existem em uma forma
infinita entre ambas as Árvores Cósmicas (A
Árvore da Vida e a Árvore das Sombras /
Qlipoth). Esse conhecimento pode ser re
velado pela deusa se o mago pedir. Esta
Deusa tem muitos e diferentes aspectos e
pode se manifestar ao mago com diferentes
máscaras. Uma delas é metade de seu corpo na forma de uma aranha e metade de uma mulher
bonita. No entanto, quando o mago chega próx imo dela, pode ver seu rosto primitivo.
Normalmente, ela tem um tridente em uma mão e um cálice na outra, cheia de veneno,
símbolos de poder e transformação. Em outras visões, Okbish se manifesta como uma mulher nua,
com pele leitosa, olhos reptilianos. Em muitas dessas visões, aparecem espaços estelares, cheios de
templos no meio do universo, ou lugares como desertos, cheios de templos em ruínas, pirâmides
de cabeça para baixo e locais esquecidos onde se praticava rituais. Trabalhar com Okbish não é
algo difícil, porque ela sempre esteve pronta para responder ao mago que sente seu chamado. No
entanto, devemos estar prontos para mudanças, seus vapores tóxicos e venenos, embebedam os
sentidos do mago, envenenam a mente e o espírito para transcenderem as bar reiras dessa realidade
e darem um passo além. As experiências com essa deusa são sempre algo pessoal e cada mago
pode aprender novas técnicas e formas avançadas de trabalhar com ela, pois seu trabalho é visto
como uma forma de gnose pessoal.

Métodos de Trabalho
Como eu disse antes, trabalhar com Okbish não seria um grande problema para um mago
que tenha o treinamento mágico certo, porque ela está sempre pronta para responder. Mas, esse
trabalho não é para um iniciante, porque a gnose que a deusa envia ger almente é demais para
alguém sem experiência anterior. Neste ensaio, colocarei meu foco em um ritual de invocação, um
ritual de trabalho em equipe e um ritual de scrying (viagem). Todas essas formas de trabalho são
pontos de partida, e eu não tenho nenhum a dúvida que o trabalho sistemático e longo com a
deusa, trará novas formas de contato e métodos avançados de trabalho. Os rituais podem ser feitos
durante a noite, você também pode aproveitar as fases da Lua, isto é, durante a Lua Cheia ou Lua
Nova, mas v ocê também pode fazêlo a qualquer momento. O uso de sangue está presente nos
rituais, e eu realmente aconselho você a usá-lo se quiser ter bons resultados.
Projeto Zarzax 69 Anticosmos 01
Okbish: A DeusaAranha Um Ritual de Invocação O seguinte ritual de invocação é um
chamado à Deu sa em seu aspecto de Aranha dentro do templo da carne. Isso permitirá que você
não apenas entre em contato com ela, mas aprenda também sobre seus poderes e alcance um
veículo com essa divindade. Para o ritual seguinte, você precisará do sigilo da deusa, um cálice com
um pouco de licor verde, duas velas pretas, se no seu punhal ritual e algum elemento aguçado para
o sacrifício de sangue. Além disso, você pode usar alguns incensos fortes como Sândalo ou Sangue
de Dragão. Acenda as velas e o incenso, concentre sigilo da deusa, relaxe a mente e o corpo e
observe o sigilo, diga 13 vezes o seguinte mantra:

"OKBISH - ARACNE - OCTANIA"

Sinta como a energia da deusa entra no seu templo. Quando você se sentir pronto, derrube um
pouco do seu sangue no sigilo, mas também dentro do cálice que representa o veneno da deusa. Então,
levante sua adaga e comece com a invocação:

In Nomine Draconis! “OKBISH - ARACNE - OCTANIA” Deusa Aranha do Vazio Primordial, Guardiã
da Chama Negra, dos Templos Atlantes Esquecidos. Aracno-ófita, Deusa Estelar das Qlipoth, venha, eu (Nome Mágico) te
chamo, eu te ofereço meu corpo como o seu Templo de Carne, minha mente como seu Altar, minha alma como seu Vaso. Me
ensine sua Gnose Estelar, Me guie entre os planos para os Templos Esquecidos além do tempo e do espaço.

Levante sua adaga e diga as seguintes palavras:

Okbish, derrame seu veneno neste cálice, envenene meus sentidos, e deixe-me ver além do Véu desta Realidade. Beba
o conteúdo do cálice. Tome seu tempo e visualize como o líquido é o veneno tóxico da Deusa. Quando você se sentir pronto,
continue com a última parte da invocação, levantando sua adaga: Aracne venha até mim, ensina-me sua Gnose, mostre-me
sua glória. In Nomine Draconis! Ho Ophis Ho Archaios! Ho Drakon Ho Megas!

Abra-se para a experiência e deixe a deusa guiá-lo e mostrar o que você tem para ver. Quando você
quiser terminar com a experiência, apenas agradeça à deusa e retorne à sua consciência normal. ]]

Os Templos Estelares - Um 'Pathworking' de Okbish


A seguinte meditação pode ser usada como um ritual isolado ou após a invocação. Também
pode fazer como introdução a viagem aos mundos dos sonhos, se você quiser usálo desta usa
maneira, mas faça a visualização antes de ir dormir tentando entrar em contato com a de em seus
sonhos. Coloque no seu altar o selo da Deusa e acenda duas velas negras, adicione à meditação
algum incenso forte. Relaxe sua mente e corpo e quando você se sentir pronto, diga o seguinte
mantra:
“OKBISH ARACHNE OCTANIA”

Comece a visualizar como do sigilo da deusa sai uma névoa espessa e negra que preenche o
seu local de ritual pessoal. Uma escuridão profunda preenche todo o lugar e você não pode ver
nada. Não há mais ou menos, apenas escuridão, e você está flutuando no vazio. De repent e pode
ver uma estrela de 11 pontas que brilha com cores avermelhadas e douradas. Está embaixo de
você e sua forma cresce. Medite por algum tempo neste símbolo. Então, a estrela cresce mais,
tornandose uma enorme teia de aranha que brilha com a cor prateada e se estende de forma
infinita pela escuridão. Você anda sobre ela, e no que parece ser seu meio tem uma enorme
escada de ônix levando para cima. Passo a passo, sua consciência se derrete com a Corrente
Noturna. Quando você chega ao último degrau, você vê um trono de ônix, que é cercado por
crânios, ossos e corpos em decomposição. Sentada no trono, há uma linda mulher nua com feições
Projeto Zarzax 70 Anticosmos 01
draconianas e olhos reptilianos. De um lado, ela tem o cálice de onde sai esverdeada
fumaça tóxico, de outro, ela te m um tridente. Você chega perto dela e ela convida você a beber
de seu cálice. Você bebe o líquido.
Agora o veneno está em seu corpo,
o que é uma sensação de êxtase e
embreaguêz. Lentamente, a escuridão
preenche todos os seus sentidos e
seu corpo é trans formado. Você
deixou sua forma humana para se
tornar uma enorme aranha. A Deusa
não está mais em seu trono, ela se
uniu com sua consciência. Deixe que
ela fale com você e ensine como
usar essa nova forma e os seus
poderes.
A experiência pode continuar
de diferentes maneiras, você pode ir
com esta nova forma para outros
espaços tempos, você pode usar suas
novas habilidades para fazer teias e
manipular seu destino e os destinos
dos outros, ou você pode usar seu
veneno para atacar seus inimigos no
plano astral . Além disso, você pode
fluir com a experiência e deixar que
as visões e experiências continuem de A Deusa Aranha, Magan Publications
maneira natural. Quando você quiser terminar com a experiência, agradeça à deusa pela experiência
e conhecimento e termine com a meditação.

O Espelho de Okbish: Um Ritual Evocativo


O seguinte ritual é uma evocação, mas no estilo de um 'scrying' (viagem) como ponto de
partida para entrar em contato com a Deusa. Okbish está sempre pronta para responder às nossas
perguntas e ansiosa por transmitir sua gnose estelar. Para isso, será necessário que você tenha um
espelho negro, duas velas pretas, o sigilo da deusa e um incenso forte. O uso de fluído sexual e
de sangue está presente neste ritual, e é aconselhável fazêlo para um bom elo com a deusa. No
entanto, isso não é uma obrigação e cabe a cada mago decidir por isso. Coloque o sigilo da deusa
na frente do espelho, da maneira que você pode ver seu reflexo nele. Acenda as velas e o
incenso, relaxe sua mente e corpo e quando se sentir pronto, diga como um mantra:

“OKBISH ARACNE OCTANIA”

Observe o reflexo do sigilo no espelho e deixe sua mente vagar livremente, deixando a
experiência fluir de maneira natural. Quando conseguir o contato, levante sua adaga e diga o
seguinte chamado: In Nomine Dracon is! Ho Ophis Ho Archaios! Okbish, Deusa Aranha, Senhora
do Veneno Primordial, você, que vive além do tempo e do espaço, entre as Dimensões e além do
Abismo, venha esta noite e me mostre seus mistérios. Neste ponto, você pode derramar um pouco
do seu s um ato autoangue no sigilo e também começar com erótico, concentrar suas energias no
contato com a Deusa. Quando você terminar, levante seu punhal e continue com o chamado:
Aracne, abra os Portais da Noite, manifeste sua presença neste espelho que é o Lado escuro.
Projeto Zarzax 71 Anticosmos 01
Barbelo & Sethianismo
por Tau To Ba'al, Trad. Pt Lotan

Barbelo de Nina Falaise

A primeira emanação do Absoluto é um princípio feminino, diferentemente mencionado como


Pensamento, Providência, Pensamento Prévio ou Pré-Conhecimento (em grego, todas estas palavras têm
gênero feminino), e “Barbelo”, que em Thelema é Babalon. A cosmologia gnóstica apresenta o princípio
criador feminino em um duplo papel; o princípio mais elevado sendo Barbelo e o princípio inferior sendo
Sophia, a Nuit em Thelema que é o próprio Universo. Como no Apócrifo de João, Barbelo é a primeira
emanação. Um trecho do quinto verso desse importante texto gnóstico apresenta esse conceito.

Ela é o Pensamento do Todo (Protenóia) - a luz dela brilha como a luz Dele - o poder perfeito, que é a imagem do
Espírito puro, invisível, e perfeito. É o primeiro poder, a glória de Barbelo, a glória perfeita nos aeons, a glória da revelação.
Ela glorificou o Espírito puro, e foi ela quem o saudou, porque graças a ele, ela havia surgido. Este é o primeiro pensamento, a
imagem Dele; ela se tornou o útero de tudo, pois ela que é anterior a todos eles, ela é a Mãe-Pai, o Primeiro Homem, o
Espírito sagrado, os três-vezes-macho, os três-vezes-poderosos, o andrógino três-vezes-nomeado, o aeon eterno entre os invisíveis,
e o primeiro a vir.

O sexto verso:

Ela pediu para que o Espírito puro invisível a desse previsão. E o Espírito consentiu. E quando ele havia consentido,
a previsão veio, e ficou ao lado da presciência; esta origina do pensamento do Espírito puro invisível. A previsão glorificou o
Espírito e Barbelo (o poder perfeito dele), porque foi por ela que ele tinha surgido.

Barbelo faz parte de um syzygy com o Logos, sugerindo o Adam Kadmon, como um ser andrógino.
O .verso sete traz esta ideia, como também apresenta isto como a divindade preparada para a sua involução:

E olhou para Barbelo com a luz pura que envolve o Espírito invisível e com sua centelha. E ela concebeu dele. Ele
gerou uma centelha de luz possuindo bem-aventurança. Mas que não o iguala em grandeza. Esta foi uma criança unigênita da
Mãe-Pai que tinha vindo; é o fruto único, o unigênito do Pai. A Luz pura.

Projeto Zarzax 72 Anticosmos 01


E o Espírito puro invisível se alegrou pela luz que veio, que surgiu pelo primeiro poder da presciência dele, que é
Barbelo. E ele a ungiu com sua bondade até que se tornasse perfeita, não carecendo de qualquer valor, porque ele tinha ungido
com a bondade do Espírito invisível. E ela (a luz) o auxiliou quando ele derramou sobre ela. E imediatamente, quando a luz
tinha recebido do Espírito, ela glorificou o Espírito sagrado e a presciência perfeita, pela qual ela tinha vindo. E ela pediu que
lhe desse um ajudante, que é a mente, e ele consentiu alegremente. E quando o Espírito havia consentido, a mente veio
glorificando ele e Barbelo. E todos estes surgiram no silêncio.

A cosmogonia muda no  Evangelho dos Egípcios. Este primeiro trecho, no início do texto, oferece-
nos algo da natureza virginal de Barbelo similar ao aspecto de Babalon. Aqui, parece quase como se os dois
nomes estivessem juntos em um só nome: Barbelon.

O segundo poder ogdoad, a Mãe, o Barbelon virginal, [...] epititioch, memeneaimen [...], que preside o céu, karb[...],
o poder ininterpretável, a Mãe inefável. Ela se originou de si mesma [...]; ela surgiu; ela concordou com o pai do silêncio.

Mas mais adiante no texto, enquanto o Sethianismo está descrevendo sua doutrina escatológica,
Barbelon é apresentado como um homem, insinuando para nós que isto é alguma forma de ofício angélico,
em vez de um ser mítico.

Então o grande Seth deu louvores ao grande Espírito virginal, e ao macho Barbelon virgem, a virgem masculina
Youel, e Esephech, o portador da glória e da coroa de sua glória, e o grande Doxomedon-Aeon, e os tronos que estão nele, e os
poderes que os cercam, e todo o pleroma. E ele pediu vigilantes para sua semente. Então vieram dos grandes eons quatrocentos
guerreiros etéreos, acompanhados pelo grande Aerosiel e o grande Selmechel, para guardar a grande e incorruptível raça, seus
frutos e os grandes homens de Seth, do tempo e do momento final da Verdade e Justiça, até a consumação do aeon e seus
arcontes, aqueles que os grandes juízes condenaram à morte. 

Aqui é criada uma escatologia onde a confusão da linguagem (o Logos) é algo a ser corrigido, pois
essas forças de conflito (Arcontes) trabalham contra a “Verdade e Justiça” que está no coração da
Manifestação de Sagitário.  Portanto, Seth é o Salvador que preservará o Dharma, como Krishna no
Bhagavad-Gita.

Podemos, então, imaginar os Arcontes como o que chamamos hoje, em Thelema, os adeptos da
Escola Negra de Magia, naturalmente, sendo os Aeons aquelas frações da Escola Branca. O livro é então
concluído com uma referência a Barbelon, que sugere novamente essa comparação e até como consorte de
Sophia ou algo que emana dela.

O grande Seth escreveu este livro com cartas durante cento e trinta anos. Ele o colocou na montanha que é chamada de
'Charaxio', a fim de que, no final dos tempos e das épocas, pela vontade do divino Autogenes e todo o pleroma, através do dom
do amor paternal, impenetrável e impensável, possa surgir e revelar esta raça incorruptível e santa do grande salvador, e
aqueles que habitam com eles em amor, e o grande, invisível e eterno Espírito, e seu Filho unigênito, e a luz eterna, e sua
grande e incorruptível consorte e a incorruptível Sofia, e o Barbelon, e todo o pleroma na eternidade.

Projeto Zarzax 73 Anticosmos 01

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