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ISBN 978-65-260-0927-7

1. Direito processual penal - Brasil 2. Justiça criminal - Brasil I.


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343.1(81 )
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COLEÇÃO JUSTiÇA CRIMINAL
Na ótica dos juízes brasileiros
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Rogerio Schietti Cruz, Américo Bedê Júnior e Guilherme Madeira Dezem APRESENTAÇÃO
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© desta edição [2022]
Há uma tradição na magistratura brasileira que parece ter se perdido com o tempo
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Impresso no Brasil [08-2022]
Pensando nisso enviamos convites para colegas de norte a sul do país. Sabíamos
das dificuldades de prazo e de equacionamento de gerenciamento da vara, vida pessoal
Profissional
e elaboração do artigo.
Fechamento desta edição [15.07.2022]
Este livro é fruto dos artigos enviados pelos colegas do país inteiro. Artigos em
que se busca pensar o sistema de justiça criminal como um todo, seja nas questões de
direito material, seja nas questões de direito processual e também de legislação especial.
Esperamos que esta seja a primeira de muitas edições, e a ideia é que se transforme
em uma série com novos artigos a cada ano. Também esperamos que esta edição estimule
ISBN 978-65-260-0927-7
os colegas magistrados a publicarem seus artigos, publicarem seus textos.
Nós, como magistrados, sabemos das dificuldades inerentes da carreira e do custo
pessoal que é o estudo e a publicação de livros e artigos. No entanto, também entende-
mos que é importante a produção de um saber da magistratura. Um saber para além do
13
A INVESTIGAÇÃO DE RUA À LUZ DO PRINCíPIO DA MELHOR
PROVA: A GRAVAÇÃO AUDIOVISUAL POR CÂMERAS
CORPORAIS (BODY-WORN CAMERAS) COMO METAPROVA
E MEIO DE CORROBORAÇÃO DO DEPOIMENTO POLICIAL

GISELA AGUIAR WANDERLEY


Juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Mestra em
Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília - UnB.

SUMÁRIO: Introdução. 1. O princípio da melhor prova (bestevidence) aplicado às provas irrepetíveis e cau-
telares produzidas na investigação: a função epistêmica do contraditório e o princípio da cooperação
processual. 2. A necessidade de metaprovas da idoneidade da prova obtida na investigação preliminar.
3. A necessidade de fontes de corroboração do depoimento policial sobre o fato probandum ocorrido na
fase de investigação preliminar. 4. A gravação audiovisual por câmeras corporais policiais. Conclusão.
Bibl iog rafia.
I

Introdução
No tape, no testímony. Em relatório assim intitulado, a American Civil Liberties
Union - ACLU 1 apresenta a proposta de que, se não houver justificativa razoável para
a polícia não apresentar a gravação audiovisual da abordagem policial ao acusado
extraída de câmeras corporais Cbody-wom cameras), o órgão julgador deve reduzir o
valor probatório do depoimento policial, a fim de incentivar a gravação da abordagem
e a apresentação da gravação em juízo Cnudge 2 ).
O debate correlato ao tema não tardou achegar ao cenário nacional. Com efeito,
fração considerável dos processos penais em trâmite no Brasil é deflagrada a partir
da atuação presencial e ostensiva da polícia no espaço público sobretudo processos
relativos a tráfico de drogas e crimes patrimoniais. A saber, o processo penal, não raro,

1. Disponível em: https://www.aclum.orglsites/defaultlfiles/wp-contentluploads/20 16/11/ACLU_


BodyCameras_ll.21_final.pdf. Acesso em 22.03.2022.
2. Tal proposta de valoração probatória pode ser compreendida, portanto, como consectário de uma
política de incentivos e desincentivos para a adoção de condutas desejadas, em contraposição
a uma política de ordens e proibições, estudada no âmbito da economia comportamental como
nudge ("empurrãozinho") por Richard H. Thaler e Cass R. Sunstein (2019).
202 COLEÇÃO JUSTIÇA CRIMINAL A INVESTlGAÇÃO DE RUA À LUZ DO PRINCÍPIO DA MELHOR PROVA 203

tem por base fundamental a assim denominada investigação de rua, cujo ato inaugural câmeras corporais, já notoriamente implantadas por diversas corporações policiais do
(e por vezes único) consiste na abordagem e revista de pessoas, bens e locais por oca- país, pode desempenhar ambas as funções anteriores.
sião do patrulhamento de rotina. Na subsequente fase processual, a prova produzida
1. O princípio da melhor prova (best evidence) aplicado às provas
costuma reduzir-se, então, à prova oral- o depoimento dos policiais que participaram
irrepetíveis e cautelares produzidas na investigação: a função epistêmica
da diligência, sucedido pelo interrogatório do acusado. Assim, ao término da instrução
do contraditório e o princípio da cooperação processual
processual, é possível- e corriqueiro - haver abissal divergência (e não dissonâncias
meramente pontuais) entre as narrativas do policial e do acusado a respeito do mesmo Conforme já argumentado em estudo anterior4, a condenação penal depende de
fato - a própria abordagem policial-, sem que haja fontes independentes de prova aptas que o conjunto probatório demonstre a elevada probabilidade da hipótese acusatória, o
a atribuir maior idoneidade ou valor a uma ou a outra versão. que pressupõe a elevada segurança (probabilidade de acerto) do juízo de fato, de modo
Pondera-se então neste artigo que, atualmente, tal escassez probatória é, em regra, a reduzir o risco de erro judiciaP. Para que o juízo de fato seja dotado de elevada segu-
evitável. Como nos demonstra a experiência internacional, diante do avanço tecnológico rança, é então relevante a produção do conjunto probatório mais completo possível e dos
globalizado, a gravação audiovisual das interações entre policial e cidadão por câmeras meios de prova com o maior potencial epistêmico possível: os princípios da completude
corporais policiais configura um meio de prova razoavelmente disponível ao Estado- do conjunto probatório (evidential completeness) e da melhor prova (best evidence)
-acusação a fim de produzir metaprova da idoneidade da diligência policial e viabilizar devem funcionar como ideais reguladores do direito probatório.
a corroboração do depoimento policial. Assim, paralelamente ao debate relacionado à Nesse sentido, vale notar que o princípio da melhor prova é violado quando,
redução do uso da força e de reclamações contrapoliciais3 (não enfrentado neste tra- diante de circunstâncias concretas, for possível concluir que existe (ou já existiu)
balho), a gravação audiovisual da abordagem policial desponta como um meio apto a uma prova melhor (vale dizer, com maior fiabilidade ou potencial epistêmico) a que
elevar a qualidade da prova (e assim a segurança - probabilidade de acerto - do juízo de a parte tem (ou já teve) acesso razoável, mas não foi aportada ao processo por alguma
fa to) no processo penal. Daí a reflexão necessária so bre a valoração de tal meio de prova. razão objetivamente inadequada (NANCE, 1988, p. 244). A razoabilidade do acesso à
A relevância probatória da gravação audiovisual da abordagem policial vem sendo prova deve ser analisada à luz das limitações que incidem sobre a atividade probatória,
paulatinamente enfrentada pelo Poder judiciário brasileiro, notadamente pelas cortes notadamente o tempo e o custo da produção da prova diante da sua relevância para o
de superposição (Supremo Tribunal Federal- STF e Superior Tribunal dejustiça - STJ). aumento da segurança do juízo de fato (NANCE, 1988, p. 233). Assim, provas cuja
Assim, em ao menos dois julgamentos recentes, a gravação audiovisual de abordagens produção demande tempo ou custo incompatível com o devido processo legal equipa-
policiais (em via públic~ e em domicílios) foi considerada uma medida indispensável ram-se a provas indisponíveis 6 .
à demonstração da legalidade da ação policial (cf. STj, HC 598.051/SP e STF, EDcl na Tais diretrizes podem ser aplicadas não apenas às provas produzidas no processo
MC naADPF 635). penal, em contraditório, mas também às provas produzidas na investigação preliminar,
Diante desse panorama, aduz-se neste artigo que a (im)prescindibilidade da grava- sem contraditório, quando valoráveis pelo órgão julgador por ocasião da sentença de
ção audiovisual do fato por câmeras corporais policiais no processo penal pode ser exa- mérito (provas irrepetíveis e cautelares), inclusive como contrapartida pela ausência
minada à luz dos princípios da melhor prova (best evidence principIe) e do contraditório. de contraditório, em função de sua dimensão epistêmica e como consectário do prin-
Para tanto, apresentam-se dois argumentos gerais: aduz-se que, como concretiza- cípio da cooperação processual.
ção do princípio da melhor prova e como contrapartida pela ausência de contraditório
na investigação preliminar, a fim de incentivar o incremento da qualidade da prova e 4. Cf. WANDERLEY, 202l.
elevar a segurança do juízo de fato, (1) a idoneidade das provas produzidas na fase de 5. É necessário distinguir o aumento da probabilidade do acerto da decisão (aumento da segurança
investigação deve ser demonstrada por metaprovas, sempre que estas estiverem razoa- do juízo de fato) do aumento da probabilidade da hipótese fática em julgamento (aumento da
velmente disponíveis ao aparato policial, e que (2) o conteúdo do depoimento policial probabilidade de ocorrência de determinado fato, em razão do aumento de provas favoráveis
sobre o fato probandum ocorrido na investigação deve ser corroborado por fontes inde- à hipótese respectiva). Sobre a distinção entre probabilidade e segurança do juízo de fato, ver:
pendentes de prova, também sempre que estas estiverem razoavelmente disponíveis. KEYNES, 1921; BELTRÁN, 2014; BELTRÁN, 2021. Sobre o standardprobatórionecessáriopara
a condenação penal, ver: BELTRÁN, 2021; VASCONCELLOS, 2020.
Após firmadas tais premissas, aduz-se, em específico, que a gravação audiovisual por
6. Diante de eventual violação ao princípio da melhor prova, como ventila Nance (1988, p. 244),
várias consequências podem, em tese, ser aplicadas, sejam elas integrantes ao juízo fático-proba-
3. Sobre o tema, vale conferir o estudo de Ariel, Farrar e Sutherland, em que, a partir de pesquisa tório ou não: aplicação de advertência ou outras sanções processuais, inadmissibilidade das provas
empírica em ambientes aleatoriamente controlados, concluiu-se que a probabilidade de a força produzidas, redistribuição/inversão do ônus probatório, valoração probatória desfavorável das
ser usada em condições de controle era aproximadamente o dobro daquelas em condições expe- provas produzidas (insuficiência), determinação de ofício da produção das provas não aportadas
rimentais e que o número de reclamações apresentadas contra policiais caiu de 0,7 reclamações ao processo, anulação do julgamento. No presente artigo, como se pode perceber, aborda-se a
por 1.000 contatos para 0,07 por 1.000 contatos. (ARIEL; FARRAR; SUTHERLAND, 2014). possibilidade de aplicação de consequência no plano da valoração probatória, pelo órgão julgador.
204 COLEÇÃO JUSTIÇA CRIMINAL A INVESTIGAÇÃO DE RUA À LUZ DO PRINCÍPIO DA MELHOR PROVA 205

Com efeito, depreende-se do art. 155 do Código de Processo Penal (CPP) que os A regra expressa no art. 155 do CPP e anteriormente analisada possui, porém, três
dados obtidos na fase de investigação preliminar, em regra, não têm eficácia probatória, exceções: as provas antecipadas, irrepetíveis ou cautelaress. Estas, mesmo colhidas na
daí serem qualificados como meros elementos de informação, e não como elementos de investigação preliminar, têm eficácia probatória. Como exemplo, pode-se mencionar
prova. Tal distinção tem por principal fundamento a ausência de contraditório na fase a busca e apreensão, a interceptação telefõnica/telemática, a gravação e a captação am-
de investigação. Daí se afirmar que a finalidade primordial da investigação é a de amparar biental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos, o reconhecimento de pessoas
a formação da opinio delicti pelo órgão de acusação, e não a de servir de fundamento e algumas espécies de perícia.
para a sentença pelo órgão julgador. Portanto, embora a fase de investigação preliminar tenha por principal finalidade
A importância do contraditório na fase de produção probatória não se justifica a coleta de elementos de informação que permitam o embasamento da acusação, é tam-
apenas em razão de seu valor político - fonte de legitimação do processo e, ao cabo, bém nessa fase que são empregados inúmeros meios de obtenção de prova, em caráter
da própria jurisdição (sobre o tema, cf. LUHMANN, 1980; GOMES FILHO, 2001)-, cautelarlirrepetível, cujos resultados não servem apenas para embasar a acusação,
mas também em razão de seu valor heurístico e de sua função epistêmica. Com efeito, mas também para formar o acervo probatório de eventual processo penal, de modo a
a produção da prova em estrutura dialética permite que o órgão julgador exerça a ati- servir também como fundamento para a sentença penal de mérito, amparada em juízo
vidade de recognição dos fatos a partir de verificações e refutações de ambas as partes de cognição exauriente9 .
quanto à idoneidade e quanto ao conteúdo das provas, o que amplia as perspectivas Logo, a fase de investigação preliminar cumpre não apenas uma finalidade ga-
sobre o objeto controvertido e expande o seu horizonte de compreensão. Assim, as teses rantista (voltada à evitação da acusação infundada ou arbitrária) e uma finalidade
e antíteses e as correlatas provas e contraprovas apresentadas pelas partes em conflito preparatória (voltada à produção de elementos de informação que deem substrato
mínimo à acusação), mas também uma finalidade probatória (voltada à produção de
ampliam a extensão e a profundidade da cognição sobre os fatos, o que, ao cabo, con-
provas pré-constituídas, notadamente as cautelares e irrepetíveis). Daí a incidência
tribui para reduzir a possibilidade de erro judicial. Tal submissão de hipóteses a testes
do princípio da melhor prova a tais provas produzidas já na fase pré-processual, que
de verificação/refutação é própria, inclusive, do método científico, em que a verificação
de hipóteses se dá mediante aplicação de testes e experimentações voltados a verificar
se ela é confirmada por dados empíricos e se ela é resistente a hipóteses contrárias e 8. No caso das provas antecipadas, há produção da prova, perante o juízo e em contraditório, em
tentativas de falseamento (BADARÓ, 2019, p. 36-40). Daí se reconhecer a dupla fun- momento anterior ao processo judicial, vale dizer, antes do procedimento de conhecimento.
ção desempenhada pelo contraditório no processo - garantia política e instrumento Logo, como há a antecipação do contraditório, desaparece a razão para que não seja atribuída
eficácia probatória aos elementos produzidos mediante tal pontual antecipação da fase ins-
epistêmico -, que permi1'ê considerá-lo uma condição de legitimidade da decisão e um
trutória. No caso das provas irrepetíveis ou cautelares, há risco de perda, desaparecimento ou
elemento de fiabilidade da prova produzida. perecimento do objeto ou da fonte da prova em razão do decurso do tempo ou do conhecimen-
Diante da relevância do contraditório como mecanismo de fiabilidade da prova, to, pelo investigado, da execução do meio de obtenção de prova. Logo, neste caso, a eficácia
vale notar que, mesmo no processo civiF, é reduzida a eficácia probatória atribuída à probatória não se dá em razão da irrelevância do contraditório, mas em razão da inviabilidade
chamada prova unilateral, assim considerada como a prova pré-constituída por apenas pragmática de produção de tais provas em contraditório.
uma das partes e advinda de fonte acessível, manipulável e controlável pela própria 9. Colhe-se da doutrina italiana a distinção entre meios de prova e meios de investigação (ou de
pesquisa), conforme aponta Yarshell (2009). Os meios de prova são definidos como instrumentos
parte, sem submissão ao contraditório. A saber, conquanto não se considere tal prova
ou atos praticados em caráter endoprocessual e em contraditório, pelos quais são produzidos
ilícita (inadmissível), trata-se de prova de pouca fiabilidade (reduzido potencial epis- elementos de prova no processo, a fim de que estes possam confirmar ou refutar uma hipótese
têmico) e, consequentemente, de nenhum ou reduzido valor probatório. Assim, como fática previamente formulada por uma das partes do processo (afirmação quanto à ocorrência
regra, alude-se à imprestabilidade da prova unilateralmente produzida. ou não de determinado fato), de modo a servir: de fundamento à decisão judicial. Já os meios
de investigação consistem em instrumentos ou atos praticados em caráter extraprocessual e
realizados, em regra, mediante surpresa (mediante desconhecimento do sujeito investigado,
7. Como exemplos, podem-se mencionar o laudo técnico de avaliação do imóvel produzido pelo com diferimento do contraditório para eventual processo futuro), pelos quais são produzidos
próprio ente público desapropriante na ação de desapropriação (STJ, REsp 1. 185.583/SP, Pri- elementos de informação, a fim de que estes possam embasar a formulação de uma hipótese fática
meira Seção, j. 27.6.2012, recurso especial representativo de controvérsia repetitiva), o termo diante de determinado acontecimento ainda não esclarecido, de modo a servir defundamento ao
de ocorrência de apuração de fraude em medidor de consumo de energia elétrica feito unilate- prosseguimento da própria investigação ou, em última análise, à formulação de uma acusação.
ralmente pela concessionária (STJ , REsp 1. 412.4 33/RS, Primeira Seção, j. 25/04/2018, recurso Apesar da distinção cronológica (endoprocessual/extraprocessual), modal (com contraditório/
especial representativo de controvérsia repetitiva; cf. também Resolução n. 1000/2021-ANEEL, sem contraditório) e finalística (base para acusação/decisão), pode-se vislumbrar um elemento
art. 591) e também a captura de tela de sistema interno ("tela sistêmica") de fornecedores coincidente entre os meios de prova e os meios de investigação: ambos são instrumentos de
no mercado de consumo (por todos, cf. TJSP; Apelação Cível 1004247-84.2020.8.26.0073; produção de elementos de conhecimento sobre fatos. As distinções conceituais, por outro lado,
j.31105/2021). possuem atenuações, como se extrai do art. 155 do CPP.
206 COLEÇÃO JUSTIÇA CRIMINAL A INVESTIGAÇÃO DE RUA À LUZ DO PRINCÍPIO DA MELHOR PROVA 207

não tem função exclusivamente endoprocessual ou interna, pois também já atende a Quanto ao ponto, é elucidativa a posição de Flávio Luiz Yarshell:
uma função instrutória, nos termos anteriormente expostos. [A] distinção entre meios de prova e meios de investigação, embora conceitualmente
Nesse contexto, vale notar que a investigação preliminar é promovida por órgão justificada, parece não se despregar adequadamente da premissa de que a prova, em
estatais profissionalizados (polícia/Ministério Público). Por isso, em atenção aos prin- última análise, seria elemento dirigido apenas à formação do convencimento do juiz;
cípios da cooperação processual e da boa-fé processual (CPC, arts. 50 e 60, c/c CPp, o que, como dito, revela, quando menos, uma visão apenas parcial do fenômeno.
art. 30), a atuação do órgão de investigação deve ser formatada e orientada pelo propó- Isso fica mais claro quando se percebe que em relacão aos meios de investiga cão
sito de conferir "a maior segurança do Ministério Público (para acusar) e do Judiciário são toleradas a surpresa e a não-observância do contraditório. Sobre isso, é preciso
(para julgar)." (STJ, HC 598.051/SP, Sexta Turma, ReI. Min. Rogerio Schietti Cruz, considerar que a surpresa é, por assim dizer, antecedente à prática do ato,justamente
para lhe dar conteúdo relevante e eficaz. Trata-se de elemento tendente a impedir que
DJe 15.3.2021, p. 61). Assim, também à luz de tais princípios, é indispensável que a
a pessoa cuja conduta é investigada reaja e, assim, torne inócuos os meios empre-
atuação do órgão de investigação seja desde já orientada à obtenção da melhor prova gados. Contudo. a surpresa não afasta - pelo contrário, impõe com maior rigor - a
logicamente relevante e razoavelmente disponível- assim considerada aquela com a necessidade do registro formal dos resultados da investigação, independentemente
melhor aptidão para a demonstração dos fatos a um terceiro imparcial (melhor potencial de ayem possa favorecer. (YARSHELL, 2009, p. 38-39, sem grifos no original)
epistêmico) - a fim de facilitar a atividade do órgão julgador e reduzir a possibilidade
Portanto, o emprego de meios de obtenção de prova durante a fase de investigação
de erro na determinação dos fatos (aumentar a segurança do juízo de fato). Para tanto,
preliminar, sem contraditório, tem por contrapartida a necessidade de produção de
mostra-se indispensável o emprego de meios que permitam a produção de metaprovas metaprova (prova sobre a prova) destinada à comprovação da idoneidade dos meios
da idoneidade dos meios de obtenção de prova utilizados de forma unilateral na fase de obtenção de provas empregados nessa fase procedimental. O ônus de produção da
inquisitorial. metaprova recai então sobre o Estado-acusação.
Feitos tais esclarecimentos, a partir de tais premissas, nos dois tópicos a seguir, Nessa ordem de ideias, pode ser elucidativa a menção à recente disciplina legal
argumenta-se que (1) a idoneidade (inclusive legalidade) dos meios de obtenção de da cadeia de custódia, introduzida nos arts. 158-A a 158-F do Código de Processo Pe-
prova empregados na fase de investigação deve ser demonstrada pelas meta provas nal (CPP) brasileiro, incluídos pela Lei n. 13.964/19 10 • Trata-se de instituto orientado
razoavelmente disponíveis ao órgão de investigação; e que (2) o depoimento policial justamente à garantia da autenticidade e da integridade dos elementos probatórios, de
sobre o fato probandum ocorrido na fase de investigação deve ser corroborado por fontes modo a conferir maior confiabilidade ao material probatório coletado sem contraditório.
independentes de prova razoavelmente disponíveis ao órgão de investigação. Assim, ao se atribuir ao Estado o poder de produzir meios de obtenção de prova
sem a observância do contraditório - tendo em vista a necessidade/u tilidade do elemento
2. A necessidade de' metaprovas da idoneidade da prova obtida na surpresa para a viabilização do próprio resultado útil da medida -, a contrapartida desse
investigação preliminar poder é o ônus de demonstração da idoneidade dos meios empregados, por meio de
"Toda prova, antes de provar, deve ser provada". Essa síntese de Francesco Iaco- metaprovas, de que é exemplo a cadeia de custódia.
viello expõe que a valoração probatória propriamente dita (exame racional da aptidão A exigência de metaprova da idoneidade dos meios de obtenção de prova em-
da prova para a demonstração dos fatos controvertidos - thema probandum) pressupõe, pregados na fase de investigação preliminar, então, é um consectário do princípio da
logicamente, a valoração da idoneidade (credibilidade/confiabilidade) das provas melhor prova. Tendo em vista que a produção de prova cautelar e irrepetível na fase
(MARINONI; ARENHART, 2019, p. 320). Nesse sentido, a cadeia de custódia (CPP, de investigação preliminar é feita de modo unilateral, mas pode servir à formação da
art. 158-A), a qualificação da testemunha e respectiva contradita (CPP, arts. 203 e 214), cognição exauriente sobre o mérito pelo órgão julgador, então deve ser acompanha-
ou o currículo do perito (CPP, art. 159) são meios que têm por finalidade a prova não da por metaprovas que incrementem a sua idoneidade (credibilidade/confiabilidade)
e reduzam, ao cabo, a possibilidade de erro judicial no juízo de fato.
do fato controvertido em si (fato probandum) , mas da idoneidade da prova relativa ao
fato controvertido. São, pois, provas da prova (metaprovas). 3. A necessidade de fontes de corroboração do depoimento policial sobre
Diante das provas cautelares e irrepetíveis produzidas na fase de investigação o fato probandum ocorrido na fase de investigação preliminar
preliminar, à luz do valor político e heurístico do contraditório, vale ponderar que,
como contrapartida à ausência de contraditório nessa fase da persecução penal, os Na jurisprudência relativa ao valor probatório do depoimento policial, em busca
métodos e formas de produção de tais provas no curso da fase de investigação devem exploratória de precedentes, encontram-se, em resumo, duas orientações prevalecentes:
ser rigorosos a fim de assegurar a idoneidade de tais provas e, consequentemente, o seu (1) a primeira, no sentido de que o depoimento policial goza de presunção relativa de
valor probatório, em contraste com a regra da imprestabilidade das provas unilaterais.
Daí a importãncia das metaprovas da idoneidade das diligências encetadas nessa fase 10. Dispositivos legais em larga escala inspirados nas definições e procedimentos que já constavam
procedimental. da Portaria n. 82/2014-SENASP
208 COLEÇÃO JUSTIÇA CRIMINAL A INVESTIGAÇÃO DE RUA À LUZ DO PRINCÍPIO DA MELHOR PROVA 209

veracidade/credibilidade ll ; (2) a segunda, no sentido de que o depoimento policial, também o direito de reação à pretensão formulada. Para viabilizar a reação, notada-
em tese, tem a mesma idoneidade de qualquer depoimento testemunhal, pois o cargo mente diante das provas pré-constituídas na fase inquisitorial, é indispensável que haja
público ocupado, por si só, não confere maior ou menor valor probatório ao depoi- possibilidade efetiva de refutação da hipótese acusatória. Tal possibilidade é diminuta
mento em juízo 12 • quando a prova da acusação se reduz à prova oral produzida pelo agente policial, sem
A segunda corrente anteriormente resumida é compatível com o atual regramento a coleta de fontes de prova que permitam contradizer a versão oficial.
da prova testemunhal no Código de Processo Penal. Não obstante, vale ponderar que, Com efeito, o depoimento policial, conquanto relevante, configura prova produ-
conforme pontuado, à luz do princípio da melhor prova, deve-se exigir a produção zida pelo próprio aparato estatal, por agente público que, por sua própria condição,
de meios de prova que se corroborem mutuamente e assim permitam conferir à prova tem interesse objetivo (sem necessidade exame de boa-fé subjetiva) na demonstração
produzida unilateralmente maior confiabilidade e segurança. Propõe-se, assim, uma da idoneidade da sua própria conduta (a fim de evitar responsabilização por eventual
distinção restritiva (restrictive distinguishing) de tal entendimento, a fim de considerar ilícito, conforme reconhecido pelo STJ no julgamento do HC 598.051/SP - item XI do
necessária a produção de meios de corroboração do depoimento policial sempre que voto condutor). Assim, trata-se de meio de prova que reproduz a versão estatal, sem
estes estejam razoavelmente disponíveis ao aparato policial, a fim de incentivar a produção viabilizar a efetiva verificação e a refutação de tal versão e que assim obstaculiza ou, no
de tais meios e assim incrementar a qualidade da prova e a segurança do juízo de fato. mínimo, dificulta o exercício do contraditório.
Entre tais meios de prova aptos à corroboração do depoimento policial, sobressaem Nesse rumo, o depoimento policial isolado, produzido pelo próprio agente estatal
a gravação audiovisual da diligência (a seguir examinada), a oitiva de testemunhas incumbido da execução do meio de obtenção de prova deve ser compreendido como
civis presentes no local do fato (se necessário, com o uso dos mecanismos de proteção elemento insuficiente para a demonstração da idoneidade dos meios de obtenção de
àquelas que se sintam receosas ou ameaçadas - Lei n. 9.807/99, e, no Estado de São prova por ele empregados e para a demonstração do próprio fato probandum, sempre
Paulo, Decretos Estaduais n. 44.214/199gen. 56.562/2010, Provimenton. 32/00-CG]/ que houver disponibilidade razoável de provas com maior potencial epistêmico para o
TJSP) , a perícia no local do fato e também a busca por fontes abertas de investigação mesmo desiderato probatório. Tal conclusão, repita-se, não decorre da desvalorização
(v.g., câmeras de segurança de vias públicas, estabelecimentos empresariais ou resi- da palavra do policial, mas da valorização dos meios de corroboração razoavelmente
dências contíguas). disponíveis ao Estado-acusação, e é então guiada pela diretriz de incentivar (nudge) a
Nesse contexto, vale reiterar que a exigência de meios de corroboração do depoi-
produção de tais meios de corroboração.
mento testemunhal do policial não tem por pressuposto o menor valor da palavra do po-
Nesse sentido, é oportuna a menção ao AREsp 1.940.381/AL, em que a Quinta
licial em relação à da testemunha "comum" , mas sim a natureza profissional da atividade
Turma do Superior Tribunal de Justiça (j. 14.12.2021) aplicou a teoria da perda de uma
policial. Vale dizer, por sé tratar de uma atividade estatal oficial, orientada justamente
chance probatória, ao argumentar que" [ql uando o Ministério Público se satisfaz em
à prevenção/repressão criminal, a prova decorrente de tal atividade pode (e deve) ser
produzir o mínimo de prova possível- por exemplo, arrolando como testemunhas
produzida com maior rigor e qualidade, com o emprego de métodos e instrumentos
previamente formatados para propiciar a melhor recognição dos fatos no processo, os somente os policiais que prenderam o réu em flagrante -, é, na prática, tirada da defesa
quais não são exigíveis da testemunha comum - o qual, ao contrário, produz prova no a possibilidade de questionar a denúncia", de modo que "quando a acusação não pro-
processo de forma meramente ocasional (e não profissional). Trata-se de consectário duzir todas as provas possíveis e essenciais para a elucidação dos fatos, capazes de, em
do princípio da cooperação processual, conforme exposto antes. tese, levar à absolvição do réu ou confirmar a narrativa acusatória caso produzidas, a
Tal exigência também pode ser correlacionada, ademais, ao princípio do contra- condenação será inviável, não podendo o magistrado condenar com fundamento nas
ditório. Com efeito, o contraditório compreende não só o direito de informação, mas provas remanescentes" 13.
Tal conclusão pode ser alcançada à luz dos princípios da melhor prova e com-
pletude do conjunto probatório. Se a investigação é injustificadamente incompleta,
11. Exemplificativamente: T]PR, Apelação 0000331-54.2019.8.16.0079 - Segunda Cãmara
caracterizada pela não obtenção de meios de prova relevantes para a elucidação do fato
Criminal, j. 15.03.2021; T]PR, Apelação 0001473-26.2018.8.16.0145, Quarta Câmara Cri-
minal, j. 09.05.2019; T]R], Apelação 0011782-59.2020.8.19.0014, Sétima Câmara Crimi- probandum, sem justificativa razoável (omissão probatória inescusável), então não há
nal,j. 22/0412021; T]R], Apelação 0040883-78.2019.8.19.0014, Oitava Câmara Criminal, segurança suficiente para a condenação à luz do standard probatório de elevadíssima
j. 21/04/2021; T]SP; Apelação Criminal 0090955-34.2017.8.26.0050; 6" Câmara de Direito probabilidade exigido para tanto conforme a doutrina e à luz da regra de julgamento
Criminal;j.22/04/2021. decorrente do princípio da presunção de inocência (in dubio pro reo).
12. Exemplificativamente: STF, RHC 108.586, ReI. Min. Ricardo Lewandowski, j. 9/8/2011; ST],
HC 165.561/AM, Sexta Turma,j. 2/2/2016;ST], HC 166.979/SP, Quinta Turma, D]e 15.08.2012;
T]SP; Apelação Criminal 1502002-10.2019.8.26.0548; 16" Câmara de Direito Criminal; 13. No caso, adolescente havia sido submetido ao cumprimento de medida socioeducativa apenas
j. 27/04/2020; T]SP; Apelação Criminal 1500121-45.2020.8.26.0618; 16" Câmara de Direito com base em depoimentos indiretos sobre o ato infracional. Concluiu-se pela injustificada
Criminal;j.20/04/2021. omissão da polícia judiciária na obtenção de outras provas, embora disponíveis.
210 COLEÇÃO JUSTIÇA CRIMINAL
A INVESTIGAÇÃO DE RUA À LUZ DO PRINCÍPIO DA MELHOR PROVA 211

4. A gravação audiovisual por câmeras corporais policiais Nesse cenário, vale destacar que o uso de câmeras individuais como estratégia de
Uma conhecida consequência do avanço da tecnologia consiste no seu impacto incremento da transparência e da legitimidade das ações policiais e como instrumento
sobre a produção probatória, consistente no surgimento e no desenvolvimento de para elevar a qualidade das provas é tema que vem sendo estudado academicamente por
novos meios de prova antes inexistentes ou inacessíveis, o que também deve impactar membros das corporações policiais, valendo destacar os trabalhos de Robson Cabanas
a valoração probatória pelo órgão julgador, à luz do princípio da melhor prova. Deter- Duque (2017) e Vanderlei Ramos (2014), ambos da Polícia Militar do Estado de São
minado meio de prova, valorado como suficiente para a demonstração de um fato em Paulo-PMSP
dado contexto tecnológico pode, com o avanço da tecnologia, passar a ser valorada Recentemente, após a constatação do sucesso da iniciativa em outras corporações
como insuficiente para a demonstração do mesmo fato, em razão do surgimento de policiais de ponta em outros países, a PMSP anunciou a aquisição de 2,5 mil câmeras
novos meios disponíveis e com maior potencial epistêmico para o mesmo desiderato. corporais a serem empregadas no policiamento ostensivo e apresentou as funciona-
Nesse sentido, vale a menção à orientação pacificada do Supremo Tribunal Fe- lidades ao Tribunal de justiça do Estado de São Paulo - TjSP diante das vantagens
deral (RE 363.889/DF, j. 2.6.2011) e do Superior Tribunal de justiça (REsp 226.436/ do uso do equipamento, inclusive a partir da sua relevância probatória 17 . Em recente
PR, Quarta Turma, j. 28.6.2001)14 no sentido de ser possível a relativização da coisa evento promovido pela Escola Paulista da Magistratura - EPM, houve apresentação a
julgada de sentença de improcedência de pedido de investigação de paternidade por magistrados e ao público externo do robusto sistema de filmagem e armazenamento
insuficiência probatória proferida sem a produção de exame pericial de origem genética implementado pela PMSP, inclusive com a indicação de que o sistema implantado será
(exame de DNA) , em razão do superveniente avanço tecnológico, que tornou tal prova apresentado a corporações estrangeiras para compartilhamento de experiências 1s . Nesse
acessível e disponível às partes em geral. contexto, o uso de gravações audiovisuais originadas de câmeras corporais policiais
já no atual cenário, o avanço tecnológico tem provocado candentes debates a como meio de prova no processo parece uma realidade próxima.
respeito da necessidade de gravação audiovisual da abordagem policial e de seu valor Embora não seja adequado ou sensato conceber a gravação audiovisual como
probatório no processo penal deflagrado pela abordagem. panaceia para as dificuldades da atividade policial- até por ainda haver muita contro-
As Polícias Militares, notadamente dos Estados de Santa Catarina, São Paulo e do vérsia sobre os melhores métodos e formas de sua implementação e armazenamento-,
Rio dejaneiro, em escalas variáveis, têm promovido instalação das chamadas câmeras a relevância probatória do uso de câmeras policiais tem sido debatida a partir de alguns
corporais (body-wom cameras - BWC ou câmeras operacionais portáteis - COP) para casos notórios em que a gravação serviu como meio de elucidação do fato, tanto no
uso pelos policiais em patrulha 15 . A importância das câmeras policiais tem sido então exterior 19 como no BrasiPo. Assim, a reconstrução de fato (abordagem) que, há alguns
f
enaltecida pelas próprias corporações 16 .
treinamento; (vi) fortalecimento da disciplina; e (vii) transparência e legitimidade (acwuntabi-
14. A ementa do julgado é elucidativa quanto à fundamentação do entendimento, no que ora é lity). O portal também possui informaçôes sobre regras de uso, sobre o embasamento jurídico e
relevante: "I Não excluída expressamente a paternidade do investigado na primitiva ação de sobre os sistemas e equipamentos utilizados. Disponível em: https://www.policiamilitar.sp.gov.
investigação de paternidade, diante da precariedade da prova e da ausência de indícios suficientes br/COPlIndex. Acesso em: 14.5.2021.
a caracterizar tanto a paternidade como a sua negativa, e considerando que, quando do ajuiza- 17. Sobre o tema: https://www.tjsp.jus.br/Noticias/Noticia?codigoNoticia=68248. Acesso em:
mento da primeira ação, o exame pelo DNA ainda não era disponível e nem havia notoriedade a 22.3.2022.
seu respeito, admite-se o ajuizamento de ação investigatória, ainda que tenha sido aforada uma 18. Reportagem em: https://www.tjsp.jus.brlNoticiaslNoticia?codigoNoticia=82016. Acesso em:
anterior com sentença julgando improcedente o pedido. II Nos termos da orientação da Turma, 24.4.2022.
'sempre recomendável a realização de perícia para investigação genética (HLA e DNA), porque 19. Como exemplo da importância do registro policial para a comprovação e a punição de abusos
permite ao julgador um juízo de fortíssima probabilidade, senão de certeza' na composição do policiais, pode-se remeter ao recente e rumoroso caso do homicídio de George Floyd pelo po-
conflito. Ademais, o progresso da ciência jurídica, em matéria de prova, está na substituição licial Derek Chauvin, nos Estados Unidos da América, que inflamou os debates públicos lá já
da verdade ficta pela verdade real." (REsp 226.436/PR, ReI. Ministro Sálvio de Figueiredo Tei- existentes em relação à violência policial contra a população negra do país. No julgamento do
xeira, Quarta Turma, julgado em 28/06/2001, D] 04/02/2002, p. 370). caso (State oJ Minnesota v. Derek Michael Chauvin), a controvérsia quanto à dinâmica fática da
15. Sobre o tema: https://www.pm.sc.gov.br/tudo-sobre/cameras-policiais-individuais; https:// abordagem policial foi analisada pelos jurados não só a partir de depoimentos testemunhais, mas
www.policiamilitar.sp.gov.br/CO P/Index; http://alerjlnl.alerj.rj.gov.br/contlei. nsf/f25e- também a partir das filmagens do fato realizadas por câmeras corporais utilizadas pelos próprios
dae7e64db53b032564fe005262eU6134814e71c8165983257689006d53f1?OpenDocumen- policiais (body-wom cameras) e por câmeras de segurança posicionadas no local da abordagem.
t&Highlight=0,5588. Acesso em 14 de maio de 202l. Reportagem: https:/lwww.duluthnewstribune.comlderek-chauvin-trial/6961419-Chauvin-trial-
16. Em robusto portal inserido no sítio eletrônico da PMSp, elencam-se vantagens do emprego -updates-]ury-sees-several-different-videos-from-police-body-worn-cameras. Acesso em: 14de
das câmeras operacionais portáteis a partir da perspectiva da própria instituiçâo: (i) prova maio de 202l.
documental altamente confiável; (ii) redução do uso da força (efeito Hawthome); (iii) redução 20. Mais recentemente, no Brasil, a Polícia Militar do Estado de Mato Grosso do Sul decidiu afastar
de reclamaçôes e denúncias; (iv) afirmação da cultura profissional; (v) aprimoramento do cautelarmente agentes envolvidos na agressâo a uma mulher algemada, dentro de uma Delegacia
212 COLEÇÃO JUSTIÇA CRIMINAL A INVESTIGAÇÃO DE RUA À LUZ DO PRINCÍPIO DA MELHOR PROVA 213

anos, provavelmente seria promovida exclusivamente a partir do depoimento oral pôde Com efeito, a gravação audiovisual pelo policial em patrulhamento de rotina
ser promovida também a partir de registros audiovisuais do fato. configura um meio de prova, razoavelmente disponível ao aparato estatal e apto à de-
A esse respeito, no julgamento do HC 598.051/SP, a Sexta Turma do Superior monstração dos fatos alegados pelo policial, inclusive, por vezes, o próprio fato-crime
Tribunal de Justiça firmou a tese de que, em especial no caso de ingresso policial em (thema probandum). Assim, se há alguns anos a melhor prova disponível em diversos
domicílio motivado pelo consentimento do morador, a diligência policial deve ser casos resumia-se ao depoimento policial sobre a abordagem, atualmente a gravação
"totalmente registrada em vídeo e áudio, de maneira a não deixar dúvidas quanto à audiovisual configura meio de prova razoavelmente disponível para a corroboração
legalidade da ação estatal como um todo e, particularmente, quanto ao livre consen- do depoimento policial. Logo, a valoração probatória, à luz do princípio da melhor
timento do morador para o ingresso domiciliar." (HC 598.051/SP, ReI. Min. Rogerio prova, deve ser feita de modo a incentivar (nudge) a produção de tal meio de prova hoje
Schietti Cruz, Sexta Turma,j. 02.3.2021)21. existente, o que implica considerar insuficiente o depoimento policial isolado quando
Por outro lado, no julgamento dos EDcl na MC na ADPF 635 (conhecida como houver outros meios de prova razoavelmente disponíveis para a sua corroboração.
"ADPF das Favelas"22), finalizado em 3.2.2022, o Supremo Tribunal Federal reiterou Assim, no plano probatório, propõe-se que o incipiente debate sobre o tema
a importância da gravação audiovisual das diligências policiais e determinou "que o seja orientado a partir dos princípios supra analisados, de modo a se compreender a
Estado do Rio deJaneiro, no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, instale equi- gravação como metaprova da idoneidade da abordagem e como meio de corroboração
pamentos de GPS e sistemas de gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas do depoimento policial, cujo ônus de produção deve recair sobre o Estado-acusação.
fardas dos agentes de segurança, com o posterior armazenamento digital dos respectivos Conclusão
arquivos." (item 9 da ementa). Assim, no julgamento da MC na ADPF 635, afirmou-se
que não é razoável que a colocação de câmeras em viaturas seja obstada pela alegação Diante do avanço tecnológico, muito se tem debatido quanto à necessidade e à
de custo elevado, "porquanto há hoje tecnologias relativamente baratas e que permitem conveniência de gravação audiovisual de ações policiais em abordagens a cidadãos.
o funcionamento desse sistema por meio de aplicativos de celular." (MC na ADPF 635, Neste artigo, especificamente em relação à valoração probatória de tais gravações no
Plenário, ReI. Min. Edson Fachin,j. 18.8.2020, p. 75). âmbito do processo penal, propõe-se que o debate seja orientado pelos princípios da
Nesse mesmo rumo, está em aberto o debate acerca do uso de tais dispositivos, melhor prova, do contraditório e da cooperação processual, a fim de incentivar a gra-
dado o reconhecimento de que "as tecnologias não são neutras e devem ser mais bem vação audiovisual e assim incrementar a qualidade da prova no processo penal.
compreendidas a partir do contexto social de suas aplicações" , razão pela qual "impor- Aduziu-se que, a partir de tais princípios, o Estado-acusação tem o ônus de produzir
ta discutir as iniciativas ~oncretas que, por vezes, produzem efeitos não previstos na metaprovas da idoneidade das diligências policiais empreendidas na fase de investi-
vida social". Sem prejuízo, pode-se identificar que a instalação das câmeras pode ser gação, bem como de produzir meios de corroboração do depoimento policial sobre o
justificada tanto para promover mecanismos de controle de atividade policial (e, mais fato ocorrido na fase de investigação. A partir de tais premissas, a gravação audiovisual
especificamente, de redução do uso da força) 23, quanto para promover a qualidade da de abordagens policiais (além de outros atos de investigação e de produção de prova
prova do fato-crime investigado pela atividade policial (DUARTE, 2021). É esta última pré-constituída) pode e deve ser utilizada, tanto como prova (prova de primeiro grau:
perspectiva que está em análise neste artigo. prova do fato-crime) quanto como como metaprova (prova de segundo grau: prova
da prova). Tal exigência é movida por um esforço de racionalização da valoração pro-
batória e de formatação de critérios de valoração probatória voltados a incentivar a
de Polícia no Município de Bonito (MS), também com base no registro visual do fato, para produção de um acervo probatório mais completo e mais confiável, com a consequente
investigação do fato em inquérito policial militar. Reportagem: https:J/correiodoestado.com.
redução do risco de erro judicial, o que se aplica também às provas cautelares e irrepe-
br/policia/governador-afasta-policiais-envolvidos-em-agressao-a-turista/3 796 77. Acesso em:
tíveis produzidas na fase de investigação.
14 de maio de 2021.
21. Tal determinação foi posteriormente anulada pelo Supremo Tribunal Federal (RE 1.342.077/ Assim, em resumo, propõe-se que a razoável disponibilidade de metaprovas e
Sp, ReI. Min. Alexandre de Moraes,j. 2.12.2021). meios de corroboração, a ser aferida a partir do caso concreto, impele à construção de
22. Acórdão ainda não publicado. Ficaram vencidos, quanto ao ponto, os Ministros André Men- uma distinção restritiva (restrictive distinguishing) do entendimento anterior, no sentido
donça e Kassio Nunes Marques. Minuta do voto condutor, proferido pelo Min. Relator Edson da suficiência do depoimento policial isolado para amparar a condenação. Se houver
Fachin, disponível em: https:J/www.conjur.com.br/dl!voto-fachin-policia-rio.pdf. Acesso provas razoavelmente disponíveis ao aparato policial- entre as quais hoje se pode incluir
em: 22.03.2022. a gravação audiovisual por câmeras corporais (body-wom cameras) - para a demonstra-
23. Como sintetiza Duarte (2021), sob a perspectiva da justiça procedimental e da legitimidade ção da idoneidade da diligência policial e para a corroboração do depoimento policial,
policial, pode-se estudar o efeito das cãmeras corporais em três planos: (i) a reorganização
de relações hierárquicas nas corporações (uso das câmeras como mecanismos de supervisão);
tais provas devem ser consideradas necessárias para elevar a segurança (probabilidade
(ii) alteração do cotidiano das relações de trabalho (vigilância potencial da rotina e do contato de acerto) do juízo de fato e assim amparar a condenação à luz do standard probatório
entre pares); e (iii) transformação da relação entre policiais e sociedade. da elevadíssima probabilidade.
214 COLEÇÃO JUSTIÇA CRIMINAL

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Nessa dinâmica, não há dúvida de que a maioria dos fatos criminosos teria seus autores
identificados - muitas vezes até mesmo ainda em etapa preparatória do iter crímínís - e,
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posteriormente, punidos, caso iniciados os atos executórios.
do conjunto probatório (evidential completeness) e a melhor prova (be,st evidence) como
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YARSHELL, Flávio Luiz. Antecipação da prova sem o requisito da urgência e o direito autônomo à de suas privacidades e intimidades?
prova. São Paulo: Malheiros, 2009. A resposta a essa pergunta passa pelo intrigante tema das físhing expedítions - cada
vez mais em voga no cenário jurídico do país -, ao qual se dedica este artigo. Pretende-
-se aqui tecer algumas considerações sobre a origem, o conceito e a aplicabilidade do
instituto às medidas de busca pessoal e domiciliar, notadamente à luz dos contornos
delineados por dois recentes julgados da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça
no ano de 2022, ambos de relataria do Ministro Rogerio Schietti, quais sejam: HC
663.055/MT e RHC 158.580IBA.

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