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ROTEIRO - DOM CASMURRO

● Cena 1:

Sugestão - cenário: Praça (banco, lamparina, arranjo de flor/planta) + folha de papel


velho.

Dom Casmurro e o poeta estão sentados em um banco na praça. O poeta


começa a recitar seus poemas e D. Casmurro fica sonolento, pega no sono. O poeta,
vendo o desânimo de D. Casmurro, meteu os versos no bolso com insatisfação.Assim,
Dom Casmurro fala:

Sei de uma criatura antiga e formidável,


Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.

Habita juntamente os vales e as montanhas;


E no mar, que se rasga, à maneira do abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.

Traz impresso na fronte o obscuro despotismo;


Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e egoísmo.

Friamente contempla o desespero e o gozo,


Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.

Para ela o chacal é, como a rola, inerme;


E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto arealum vasto paquiderme.

Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo


Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.

Pois essa criatura está em toda a obra:


Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto,
E é nesse destruir que as suas forças dobra.

Ama de igual amor o poluto e o impoluto;


Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.

Dom Casmurro: Continue, disse ele acordado.

Poeta: Já acabei, murmurou ele.

Dom Casmurro: São muito bonitos.


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Dom Casmurro: São muito bonitos.

O poeta insatisfeito levanta-se e vai andando em direção à saída. Dom


Casmurro pega no sono.

Poeta: Dom Casmurro! Dom Casmurro!, grita o poeta indo embora.

Dom Casmurro levantasse, as luzes escurecem - ganham um tom mais sombrio


a música inicia, e fala:

Dom Casmurro: E foi assim que ganhei o apelido de Dom Casmurro, “Casmurro” por ter
hábitos reclusos e calados, o “Dom” para ironicamente dar ares de nobreza. Venho por meio
dessa peça tentar atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Talvez
narrar essa história me faça vivê-la novamente. Porém, falta-me eu mesmo, e esta lacuna é
tudo.

As luzes se apagam.

● Cena 2:

As luzes acendem.

José Dias e D. Glória vão conversando e caminhando dentro da sala. Quando chega
no final do diálogo eles vão em direção à saída. Bentinho fica espiando a conversa
sem deixar que o vejam.

José Dias: D. Glória ainda persiste a ideia de mandar Bentinho para o seminário? Já está
mais do que na hora. E agora pode ter uma dificuldade.

D. Glória: Que dificuldade?

José Dias: Ele e nossa queridíssima vizinha que cá entre nós, é um tanto desmiolada, andam
de namorico às escondidas.

D. Glória: Nada disso. Bentinho mal fez 15 anos e Capitu fez 14 semana passada. Esses dois
cresceram juntos e em suas brincadeiras nunca vi nada de mais. São duas criançolas!

José Dias: Já que a senhora está dizendo…, mas continuo achando que pode haver algo
entre os dois.

D. Glória: Bem, de qualquer forma, já é tempo de mandá-lo para o seminário. Afinal, não
posso quebrar a promessa que fiz a Deus de fazer de meu filho um padre.

● Cena 3:

Inicia a música do casal. As luzes ganham um tom claro e romântico. Capitu desce a
rampa dançando alegremente com um tecido. Bentinho desce pela outra rampa com um olhar
apaixonado e encantado. Ao se encontrarem no palco, Capitu dança em volta de Bentinho.
Eles flertam e ficam brincando e correndo um com o outro enquanto a música toca.

● Cena 4:

Sugestão - cenário: Usar a igreja sem o telhado, cobrir com cartolina preta e desenhar
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Sugestão - cenário: Usar a igreja sem o telhado, cobrir com cartolina preta e desenhar
os tijolos nela. Colocar por cima do muro algumas plantas.

As luzes ganham um tom claro e romântico.

Capitu: Você sonhou comigo hoje?

Bentinho: Não.

Capitu: Mas eu sim! Sonhei que dançávamos na lua e os anjos vinham nos perguntar nossos
nomes para dá-los a outros anjos que acabaram de nascer!

Bentinho: Seus sonhos são muito melhores que os meus. Diz ele com admiração.

Capitu: E você tinha alguma dúvida disso.

Capitu pega um giz do chão e o divide com Bentinho. Os dois começam a brincar e a rabiscar
no muro. Quando Bentinho fica desatento, Capitu escreve no muro “Bento e Capitolina".

Bentinho começa a olhar para Capitu querendo contar-lhe sobre o seminário.

Capitu: O que é que você tem?

Bentinho: Nada.

Capitu: Nada, não. O que é que você tem! Diz com mais ênfase, mas sem gritar.

Bentinho: É uma notícia.

Capitu: Notícia de quê?

Bentinho enrola um pouco.

Capitu: E então…

Bentinho: Você sabe..

Capitu lembra do que escreveu no muro e risca o que havia escrito, mas Bentinho vê.

Bentinho: Bento e Capitolina!

Os dois começam a se olhar apaixonadamente e se aproximar um do outro, até que o pai de


Capitu grita de dentro de sua casa.

Sr. Pádua: Pare de estragar o muro e venha já para dentro, Capitu!

Capitu: Já estou indo, papai!

Assim, ela e Bentinho se despedem apenas com os olhares.

Bentinho fica em cena com um olhar apaixonado quando se lembra do jantar em família e sai
correndo apressado.

Bentinho: Céus, o jantar!

● Cena 5:

D. Glória, José Dias, prima Justina, e Bentinho estão sentados à mesa de jantar
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D. Glória, José Dias, prima Justina, e Bentinho estão sentados à mesa de jantar
conversando sobre a entrada de Bentinho no seminário.

Prima Justina: Prima Glória, como andam as coisas para colocar Bentinho no
seminário?

D. Glória: Já estão muito bem encaminhadas.

José Dias fala logo depois apressadamente.

José Dias: Creio que, até o final do ano, Bentinho estará lá. Não é?

D. Glória: Com toda certeza, José Dias!

Bentinho: Mas e se eu não quiser se….

Bentinho é interrompido por sua mãe.

D. Glória: Nem pense em terminar essa frase. Vamos, vá para o seu quarto e termine
de fazer suas lições.

Bentinho fica com um olhar triste e perdido. Sai da sala.

José Dias: É… por que as senhoras não me acompanham em uma caminhada pelo
jardim?

D. Glória: Depois do que quase tive que ouvir, isso me parece uma boa ideia.

Prima Justina: Eu passo, prefiro ficar de olho em Bentinho do que passar tempo com
este senhor. Diz em tom debochado e se retira da sala.

José Dias: Era o que me faltava, nada fiz de mau a essa mulher. Diz com certo ar de
revolta.

D. Glória dá uma leve risada e ambos saem da sala.

● Cena 6:

Capitu está sentada um tanto desajeitada em uma cadeira da sala de visitas


desenhando em uma folha quando Bento entra em cena com um olhar meio tristonho, o que
desperta curiosidade em Capitu.

Capitu: O que é que você tem para estar com esse olhar?

Bentinho: Eu não quero! Desembuchou de uma vez. Podem teimar comigo o quanto
quiserem, não quero entrar em seminário nenhum, não entro!

Capitu fica com um olhar distante e reflexivo até que a resposta ao que Bento disse sai
por meio de palavras furiosas.

Capitu: Beata! carola! papa-missas!

Bentinho: Calma, Capitu. Diz ele amedrontado e assustado. Posso ir falar com minha
mãe e tentar convencê-la.

Capitu: Você? Você vai é entrar. Diz com tom sarcástico.


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Capitu: Você? Você vai é entrar. Diz com tom sarcástico.

Bentinho: Não entro!

Capitu: Tá bem…..

Capitu acalma-se e tem uma ideia.

Capitu: Já sei! Por que não pede ajuda a José Dias. Ele gosta muito de você e pode
ser um bom aliado.

Bentinho: Mas foi ele mesmo que nos denunciou.

Capitu: Não importa. O segredo é você não ter medo quando for falar com ele, não dê
nenhum indício de que é um favor e faça-lhe elogios, ele adora elogios. E outra coisa, D.
Glória lhe dá atenção.

Bentinho: Não sei não, Capitu. Diz ele apreensivo.

Capitu: Então vá para o seminário.

Bentinho: Isso não.

Capitu: Pois então tente. Você não perde nada em experimentar. Ande, peça, mande!
Diga a ele que está pronto para ir estudar direito em São Paulo.

Bentinho pensa e acaba concordando.

Bentinho: Está bem, irei falar com ele.

Capitu sorri e os dois saem da sala de visitas e vão para fora da casa quando o
vendedor da cocada passa.

Vendedor: Qué cocada, minha sinhazinha?

Capitu: Não.

Vendedor: Cocadinha tá boa.

Capitu: Vá-se embora. Fala sem rispidez.

Bentinho: Dê cá! Quero duas.

Vendedor: Aqui. Muito obrigado, menino.

O vendedor vai embora cantando.

Vendedor: Chora, menina, chora/ Chora, porque não tem/ Vintém

Bentinho oferece uma cocada para Capitu, mas ela recusa e os dois saem de cena.

● Cena 7:

José Dias está caminhando enquanto lê um jornal e Bentinho está junto com ele.
José Dias dobra o jornal e começa a conversar com Bentinho.
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Depois dos dois começarem a conversar, Capitu e Sancha aparecem, vão
caminhando e conversando sobre a escola com os livros na mão. Capitu vê ambos e começa
a espiar a conversa deles. Quando José Dias sai, ela vai falar com Bentinho.

José Dias: Estava cá me recordando de Sr. Pádua e sua filha. Ele não é de todo má. Capitu,
apesar daqueles olhos… Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e
dissimulada. Apesar deles, poderia passar, se não fosse pela vaidade e a adulação.

Bentinho: Bem, vejo que o senhor não quer nada além de meu benefício.

José Dias: E como não poderia querer, Bentinho!

Bentinho: Neste caso, vou te pedir um favor.

José Dias: Um favor… Mande, ordene. O que é? Diz gesticulando bastante.

Bentinho: Não posso ir para o seminário, não posso, não tenho jeito e não gosto da vida de
padre. Assim, quero que fale com minha mãe e a convença.

José Dias fica espantado e meio temeroso.

José Dias: Isso não tem como, já é tarde e esse sempre foi o sonho de D. Glória.

Bentinho: Claro que há tempo! O senhor sempre foi tão bom com as palavras, mamãe já lhe
pediu vários conselhos, mas o mais importante é que sempre foi bom amigo e sei que pode
falar com ela. Sabe que se mamãe quiser, vou até estudar leis em São Paulo.

José Dias pensa por alguns instantes.

José Dias: É tarde, mas para provar-lhe que não foi por falta de vontade, vou falar com ela.
Não prometo nada, porém irei tentar. Não quer ser padre, as leis são belas! Pode ir para São
Paulo, Pernambuco ou até para a Europa!

Bentinho: Muito bem, então!

José Dias sai dando um pequeno pulo.

● Cena 8:

Capitu vai conversar com Bentinho.

Capitu: Sancha, você se importa de esperar um instante?

Sancha: Claro que não, só não demore muito.

Capitu: Está bem.

Capitu vai andando rapidamente até Bentinho.

Capitu: E então, vocês conversavam sobre o que falamos?

Bentinho: Foi sim.

Capitu: E o que ele disse?

Bentinho: Disse que irá ajudar.


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Capitu: Que maravilha! Sabia que iria conseguir. Bem, tenho que ir, nos vemos mais tarde.

Bentinho: Está bem!

Bentinho sai de cena. Capitu se encontra com Sancha e elas vão para casa de Capitu.

● Cena 9:

Capitu está sentada em uma cadeira no seu quarto penteando seu cabelo junto
com Sancha conversando sobre a escola.

Sancha: Então, o que você achou das aulas de hoje? Eu gostei. Até que foram bem
divertidas.

Capitu: Verdade. E elas sempre despertam a minha curiosidade. Acho maravilhoso!

Sancha olha para o relógio.

Sancha: Olha, disse para minha mãe que iria direto para casa, mas acabei passando
aqui. É melhor eu ir antes que ela se preocupe. Tchau, beijos!

Capitu: Está bem. Beijos.

Na saída, Sancha encontra com Bentinho. Ele a chama e pergunta meio


envergonhado.

Bentinho: Sancha! Oi… é…. você sabe onde está Capitu?

Sancha: Ela está no quarto se arrumando.

Bentinho: Ah, está bem! Muito obrigado.

Sancha se despede com um tom um tanto irônico e um leve sorriso.

Sancha: Tchau, Bentinho.

● Cena 10:

Bentinho entra no quarto e encontra Capitu. Por um certo tempo ele fica olhando
para ela e seus longos cabelos, perdendo-se em seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada.
Depois, pergunta.

Bentinho: Posso pentear o seu cabelo se você quiser.

Capitu: Você?! Vai é embaraça-lo todo!

Bentinho: Mas aí, você desembaraça depois.

Capitu: Hummm…. Está bem. Vamos ver o que esse cabeleireiro pode fazer.

Dom Casmurro entra e fica admirando a cena. Bentinho começa a pentear e trançar os
cabelos dela.

Dom Casmurro: Os cabelos de Capitu eram tão lindos… Poderia ficar ali penteando-o por
horas. Desejava que eles fossem infinitos, mas logo eles iam acabando.
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Depois de algum tempo Capitu vai inclinando sua cabeça para trás.

Bentinho: Pare, Capitu! Vai acabar quebrando o pescoço.

Ela continua se inclinando e ele começa a se aproximar. Os dois se beijam.

Sancha entra gritando por Capitu. Os dois, ao ouvirem os gritos, se afastam rapidamente.

Sancha: Capitu! Capitu! Eu esqueci a minha fita de cabelo.

Capitu: Ah, está aqui no meu cabelo. Olha essa trança que Bentinho fez. O que você
achou?

Sancha: Não sabia que ele fazia tranças. Não ficou TÃO horrível, até que ficou
razoável. Mas depois devolva a minha fitinha.

Capitu: Pode deixar. Então… Vamos! Eu vou com você para sua casa, Sancha. Para
sua mãe não brigar por conta do atraso.

Sancha e Capitu: Adeus, Bentinho!

Capitu e Sancha saem de cena.

Bentinho fica atordoado com o que aconteceu. Porém, logo depois é tomado por uma emoção
de alegria e grita.

Bentinho: Sou homem! Sou homem! Sou homem.

Fica em cena perplexo com o que ocorreu enquanto Dom Casmurro fala.

● Cena 11:

Música suave/ melancólica

Dom Casmurro: Naquele momento, todas as palavras recolheram-se ao coração e ficou


evidente que este não faria grande carreira no mundo, pois as emoções o dominam. Capitu
entra.
Bem, depois disso, chegou a hora da nossa separação, era tempo de ir para o seminário.
Capitu e Bentinho entram juntos. Enquanto Dom Casmurro fala, Bentinho pega no rosto de
Capitu e eles se aproximam. ( Sugestão: Depois podem sentar. Capitu pode encostar no
ombro de Bentinho e ela pega na mão dele).
Contudo, precisava me despedir de Capitu e nesse momento juramos que havíamos de nos
casar um com o outro, selando o contrato com a conjunção das nossas bocas amorosas.
Nossa despedida não durou muito, mas aos 15 anos, tudo é infinito.

As luzes vão se apagando lentamente.

● Cena 12:

Música triste/ despedida.

Todos se despedem de Bentinho com imensa tristeza, principalmente D. Glória, na estação de


trem. Capitu fica apenas a observar de longe com um olhar triste. José Dias pega a mala de
Bentinho e diz como um sussurro enquanto andam.
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Bentinho e diz como um sussurro enquanto andam.

José Dias: Dentro de um ano estaremos à bordo.

Bentinho: Só um ano?

José Dias: Verei qual é a melhor época para atravessarmos o Atlântico.

Bentinho: Eu posso estudar aqui mesmo…

José Dias: Não, não. Aguente um ano. Até lá estará tudo arranjado.

Os dois olham para trás e dão um último aceno e saem. Som de trem. Os outros esperam um
pouco e saem pelo lado oposto.

● Cena 13:

A música inicia o jogo de luzes mudam. Bentinho está sentado com uma Bíblia estudando
quando Escobar entra de forma imponente e confiante. Dom Casmurro está à espreita na
cena.

Dom Casmurro: Chegando no seminário conheci Ezequiel de Sousa Escobar. Era um rapaz
esbelto, olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos, como os pés, como a fala, como
tudo. Seu sorriso era instantâneo, mas também ria folgado e largo.

Escobar: Estava recordando a lição passada.

Bentinho: Ah… não a entendi muito bem.

Escobar: Posso explicá-la a você.

Dom Casmurro: Depois que me explicará a lição, começou contar-me de sua irmã e histórias
que havia vivido. Eu, seduzido por suas palavras, estive quase a lhe contar logo,logo, a
minha história. Escobar veio abrindo a alma toda, desde a porta da rua até o fundo do quintal.
Bom, na minha alma, as portas não tinham chaves nem fechaduras, bastava empurrá-las, e
Escobar empurrou-as e entrou. Cá o achei dentro, cá ficou e acabei lhe contando minha
situação.

Durante a fala de Dom Casmurro, Escobar pega a Bíblia e encena explicar a lição,depois
fecha. Começa a gesticular de acordo com a fala de Dom Casmurro e Bentinho fica admirado
com ele.

Escobar: Bem, de qualquer forma, é melhor você começar a se concentrar mais. Percebi que
está muito distraído.

Bentinho: Tenho meus motivos.

Escobar: Deve ter mesmo, ninguém fica voando desse jeito à toa.

Bentinho fica meio inquieto e pensativo até que solta a fala.

Bentinho: Escobar…

Escobar: O que foi?


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Bentinho: Você é meu amigo, eu sou seu amigo também. Não há nesse seminário ninguém
em que eu confie mais do que você. Mesmo lá fora não tenho amizade com mais ninguém.

Escobar: Digo o mesmo. Você é o único aqui com quem me sinto à vontade.

Bentinho se comove com a fala de Escobar e pergunta.

Bentinho: Escobar, você é capaz de guardar um segredo?

Escobar: Se pergunta, é porque duvida…

Bentinho: Desculpe, é só um jeito de falar. Sei que você é um moço sério, e faço de conta
que me confesso a um padre.

Escobar responde rindo.

Escobar: Se precisa de absolvição, está feito.

Bentinho: Escobar, não posso ser padre. Não posso.

Escobar: Nem eu, Santiago.

Bentinho: Nem você?

Escobar: Segredo por segredo. Não pretendo terminar o curso de maneira alguma. Sempre
tive vocação para o comércio. Mas esta conversa fica somente entre nós. Não me entenda
mal, eu sou religioso, porém o comércio é minha paixão.

Bentinho: Só isso?

Escobar: O que mais há de ser?

Bentinho: Uma pessoa.

Escobar ri de forma sarcástica.

Escobar: Uma pessoa… deve ser uma moça.

Bentinho: Sim, é Capitu. O que acha de conhecê-la e também a toda a minha família? Vão
adorar te conhecer.

Escobar: Seria uma honra!

As luzes se apagam. Os atores saem de cena.

● Cena 14:

As luzes acendem. Bentinho e Dom Casmurro aparecem sentados em uma praça.

Dom Casmurro: No jantar, todos gostaram muito de Escobar.

Bentinho: Sim! Até Capitu se interessou por ele.

Dom Casmurro: Depois disso, começamos a tratar da minha saída do seminário e a ida à
Europa para estudar direito.
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Bentinho: E isso foi dito e feito com a ajuda de José Dias. Além de me ajudar com isso, dava-
me informações sobre como estava Capitu. Admito que tive ciúmes ao saber que ela estava
feliz e rindo sem a minha presença. Cheguei a dizer que nunca mais queria vê-la, mas esse
sentimento passou.

Dom Casmurro: Sempre fomos apaixonados por ela, mas isso não nos impediu de ir estudar
fora. Passei dos 18 aos 22 na Europa e voltei como bacharel em direito. E não posso
esquecer de contar-lhe que Escobar casou-se com Sancha.

Bentinho: Eles se casaram?!

Dom Casmurro vai falando em direção a saída.


Dom Casmurro: Era de se esperar, não é mesmo.

Bentinho: Espere! Mas como eu fico com Capitu?

Dom Casmurro: Sua ingenuidade é admirável.

Bentinho sai correndo atrás de Dom Casmurro.


Bentinho: Como assim???

● Cena 15:

Som de trem e mudança no jogo de luzes. Bento desce da estação com sua mala, encontra
D. Glória, prima Justina e José Dias. Eles se cumprimentam e vão para casa (andar na
direção oposta).
Taças/ mesa pequena

Na casa, todos comemoravam a volta de Bento. José Dias abre o Champanhe e dá uma taça
para Bentinho.

José Dias: Este é o nosso Doutor Bento Santiago!

José D. dá um forte abraço em Bento.

D. Glória: Que orgulho de você, meu filho!

D. Glória dá um beijo em cada bochecha de Bento.

Prima Justina: Sempre soube que conseguiria!

A música inicia com volume baixo e vai aumentando. Bento dá um leve sorriso e olha para
Capitu que aparece na cena.

Capitu: Parabéns, Bento! Tenho muito orgulho de você.

Bento: Obrigado, Capitu! Não via a hora de revê-la.

Capitu: Digo o mesmo.

Bento: Sei que acabamos de nos encontrar, mas preciso perguntar algo de extrema
importância a minha mãe.

Capitu: Tudo bem, não se preocupe.

Capitu vai em direção a José D. e prima Justina e fica conversando com eles. Depois de
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Capitu vai em direção a José D. e prima Justina e fica conversando com eles. Depois de
alguns segundos, José D. aponta para a saída e os três saem.

Bento vai conversar com sua mãe.

Bento: Mamãe, já não posso mais esperar.

D. Glória: Diga, meu filho.

Bento: Gostaria de pedir sua permissão para casar-me com Capitu.

D. Glória: Mas é claro que permito. Seja feliz, meu filho!


Bento dá um sorriso e ambos saem de cena.

● Cena 16:

Música

Bento e Capitu entram de lados opostos, dão as mãos, tiram a foto e saem juntos. (Atores
estão livres para fazer a encenação após a foto).

As luzes se apagam lentamente.

● Cena 17:

Bento, Capitu, Escobar, Sancha e os demais do elenco estão na cena que está “congelada”.
O cenário remete a um baile.

Dom Casmurro: Ao fim de dois anos de casados, salvo o desgosto grande de não ter um
filho, tudo corria bem. Nossa saúde era excelente. Escobar e Sancha viviam felizes, tinham
uma filhinha. Capitu gostava de rir e divertir-se, principalmente nos bailes para os quais
éramos convidados. Em um desses, em específico, ela estava com os braços nus e eram os
mais belos da noite, a ponto que me encheram de ciúmes ao ver os outros homens olharem
para eles.

A música começa. As pessoas vão conversando e interagindo.

Capitu conversa em um canto com Escobar sobre as libras.

Bento e Escobar convidam suas esposas para dançar.

Os casais iniciam a dança. Quando trocam os pares, Bentinho não tira os olhos de Capitu
dançando com Escobar. Depois, Capitu diz a Bentinho que vai conversar com Sancha
(Depois, as duas saem). Aos poucos os demais atores vão saindo da cena.

Bento e Escobar iniciam o diálogo.

Bento: Escobar, não sei o porquê Capitu insiste em vir com os braços nus. São lindos, mas
não foram feitos para que todos os vissem.

Escobar: Concordo com você, caro amigo. Sanchinha só vai de mangas compridas, o
contrário parece-me indecente.

Bento: Não é? Mas não diga o motivo, hão de chamar-nos seminaristas. Capitu já me
chamou assim.

Enquanto Bento fala a sua última fala, eles vão andando em direção à saída.
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Enquanto Bento fala a sua última fala, eles vão andando em direção à saída.

● Cena 18:

Capitu e Escobar estão sentados mexendo nas libras.

Capitu: Muito obrigada pela ajuda.

Escobar: Disponha, estou aqui sempre que precisar.

Escobar e Capitu se despedem com um abraço, seguram as mãos e flertam com o olhar.
Quando Escobar fala "quebrando" o clima. Escobar precisa de uma maleta.

Escobar: Tenho que ir. Até logo.

Capitu: Tudo bem. Até logo.

Escobar sai. Capitu esconde o dinheiro. Bento entra.

Capitu: Querido, que bom que você chegou! Tenho uma surpresa para você!

Bento: Por um acaso, é isso que está atrás de você?

Capitu mostra-lhe as libras sorrindo.

Bento: Mas que libras são essas?

Capitu: Não é muito, apenas 10 libras, pode me chamar de pão duro se quiser.

Bento: Quem foi o corretor?

Capitu: O seu amigo Escobar.

Bento: Mas ele não me disse nada. Quando foi?

Capitu: Hoje mesmo.

Bento: Ele esteve aqui?

Capitu: Pouco antes de você chegar. Eu não disse nada para que você não desconfiasse.
Queria lhe fazer uma surpresa.

Capitu entrega as libras nas mãos de Bento.

Capitu: O que você fará com elas?


Bento: São suas.
Capitu põe suas mãos sobre as de Bento.

Capitu: São nossas.

Bento: Então guarde-as você.

Os dois saem juntos.

● Cena 19:

As luzes estão com um ar escuro. Dom Casmurro entra.


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As luzes estão com um ar escuro. Dom Casmurro entra.

Dom Casmurro: Por mais que a minha vida junto a Capitu fosse boa e tranquila, não me
bastava. Queria ser pai. Víamos a filhinha de Escobar e Sancha, Capituzinha, quando
jantávamos juntos. E isso só aumentava o meu desejo pela paternidade. Depois de algum
tempo, após eu ter voltado de viagem, Capitu contou-me que estava grávida e o meu desejo
finalmente se tornou uma verdade. Ezequiel nasceu e Capitu e eu nos alegramos
ROTEIRO
intensamente. Capitu-mal
DOM CASMU…
conseguia ficar longe do menino. Infelizmente, o tempo passou
mais rápido do que esperávamos, e logo quatro anos se foram.

Enquanto ele fala, o apoio posiciona a cena do jantar. Dom Casmurro sai.

● Cena 20:

Mudança no jogo de luzes. Bento, Capitu, Sancha, Escobar, D. Glória, Prima Justina e José
Dias entram. Eles se comprimentam. (os atores têm liberdade para algumas falas de
cumprimento), depois sentam-se à mesa.

D. Glória: Bem, não poderia estar mais feliz com essa família toda reunida. É maravilhoso
poder ver vocês quatro tão realizados.

Prima Justina: (Tom sarcástico) Quem imaginaria que Bento conseguiria arranjar alguém tão
majestosa quanto Capitu, hein? Ele era tão acovardado…

José Dias: Pela primeira vez vou ter que concordar com a prima Justina.

Bento: (Cof, cof) Bento fala envergonhado. Acho que já está na hora de mudar de assunto.
Escobar, como andam os negócios?

Escobar: Está tudo indo muito bem. Estamos em nossa melhor fase financeira. A taxa de…

Capitu rapidamente interrompe.

Capitu: Desculpa, Escobar, mas falar de negócios em um jantar de família… isso é tão
inconveniente. Por que não conversamos sobre…

Sancha: Já sei! Sobre o nosso passado! Capitu, lembra de quando passávamos horas
fofocando sobre… rapazes

Todos riem, menos Bento, que demonstra certo ciúmes. Escobar vendo a cara de Bento
comenta sobre seus planos para o dia seguinte.

Escobar: Nós também tivemos nossas aventuras, não é, Santiago?

Ele fala isso olhando para Bento e dando-lhe duas cotoveladas. Bento dá um sorriso forçado.

Escobar: Enfim, parece que o mar estará desafiador amanhã.

Bento: Você vai entrar!? Está ficando louco?

Escobar: Tenho entrado com mares maiores, muito maiores. É preciso nadar bem, como eu,
e ter estes pulmões (ele diz batendo no peito), e estes braços; apalpa

Bento apalpa os braços de Escobar.

Bento: Sanchinha, por que não o convence de cometer essa besteira?

Sancha: Já falei pra ele que ter esses braços não basta. O mar estará muito perigoso. Mas
:
Sancha: Já falei pra ele que ter esses braços não basta. O mar estará muito perigoso. Mas
ele não quer me ouvir.

Capitu: Realmente, você não deveria ir.

Escobar: Não se preocupe, cunhadinha. Eu sei o que faço.

D. Glória: Muito bem, acho que já prolongamos essa noite o suficiente. Já está na hora de
deixarmos Escobar e Sancha descansarem. Bento, vá pegar Ezequiel. Ele está dormindo no
quarto junto com Capituzinha.

Bento pega Ezequiel e todos se despedem. Sancha aperta a mão de Bento, e demora para
soltá-la mais do que o esperado. Mais uma vez, eles trocam olhares.

O cenário é retirado durante a despedida. As luzes se apagam.

● Cena 21:

Sons de ondas e tempestades. Jogo de luzes. O apoio estará balançando os tecidos para
remeter ao mar. Escobar está nadando e depois se afoga. As luzes se apagam junto ao som
de um forte trovão.

● Cena 22:

Som de velório e iluminação mais sombria. Todos entram com tristeza por causa da morte de
Escobar. O apoio leva o caixão com Escobar dentro. Sancha, chorando desesperadamente,
despede-se de seu amor. Capitu olha entristecida para Escobar e chora singelamente.
Enquanto isso Bento olha para Capitu cheio de ciúmes. O apoio fecha o caixão e o retira de
cena. Sancha grita, abraça Capitu e cai no chão. Os atores vão saindo lentamente. As luzes
apagam lentamente e o som vai diminuindo.

● Cena 23:

As luzes se acendem. Bentinho está sentado à mesa colocando veneno na xícara de café.
Ezequiel entra correndo.

Ezequiel: Papai, papai!


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Ezequiel: Papai, papai!

Bento: Já tomou café?

Ezequiel: Já, papai, vou à missa com mamãe.

Bento: Toma outra xícara, meia xícara só

Ezequiel: Papai…

Bento segura a boca de Ezequiel e tenta fazê-lo beber à força, mas desiste e abraça Ezequiel.

Ezequiel: Papai! Papai!

Bento: Não, não, (grita) eu não sou teu pai!

Capitu entra.

Capitu: Saia, meu filho. Explique-se.

Bento: Não há nada que explicar.

Capitu: Como não há? Por que você e Ezequiel estavam chorando? O que aconteceu entre
vocês dois?

Bento: Não ouviu o que eu disse a Ezequiel?

Capitu: Só ouvi choro.

Bento: Tenho certeza que ouviu. Ele não é o meu filho!

Capitu: O que!?

Bento: Não - é - meu - filho!

Capitu: De onde você tirou essa ideia?

Bento não responde.


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Capitu: Ande, diga tudo! Que é que lhe deu tal convicção? Fale, Bentinho, fale! Despeje-me
desta casa, mas diga tudo primeiro.

Bento: Existem coisas que é melhor não serem ditas.

Capitu: Se começou, vá até o fim. Fale tudo para que eu me defenda, se acha que eu tenho
direito a defesa, ou eu vou me separar de você; já não posso mais!

Bento: A separação é coisa certa! E já que insiste, aqui vai o que lhe posso dizer e é tudo.

Bento mostra a foto Escobar para Capitu. Capitu solta um riso irônico e melancólico.

Capitu: Nem os mortos escapam aos seus ciúmes! Sei a razão disto, é a semelhança entre
eles… A vontade de Deus explicará tudo. Chega! Vou sair. Não temos mais nada a dizer um
para o outro.

Capitu sai. Bento senta desiludido na cadeira.

● Cena 24:

Luzes mais escuras. Música pesada.

Dom Casmurro: Depois da discussão e para não termos mais problemas, Capitu e Ezequiel
se mudaram para a Europa. Os meus demais familiares faleceram e a amargura aumentou
ainda mais em minha vida. Anos depois, Ezequiel me encontrou, mas logo morreu de febre
tifóide. E Capitu morrera na Suíça. E bem, qualquer seja a solução, uma coisa fica, e é a
suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior
amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem
juntando-se e enganando-me…A terra lhes seja leve!

FIM!
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