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Inclinações Humanas, Moralidade e Educação
Inclinações Humanas, Moralidade e Educação
1ª Edição
Belém-PA
2020
4
https://doi.org/10.46898/rfb.9786558890218.
I37
ISBN: 978-65-5889-021-8.
DOI: 10.46898/rfb.9786558890218.
CDD 107
Conselho Editorial:
Prof. Dr. Ednilson Sergio Ramalho de Souza - UFOPA (Editor-Chefe).
Prof.ª Drª. Roberta Modesto Braga - UFPA.
Prof. Me. Laecio Nobre de Macedo - UFMA.
Prof. Dr. Rodolfo Maduro Almeida - UFOPA.
Prof.ª Drª. Ana Angelica Mathias Macedo - IFMA.
Prof. Me. Francisco Robson Alves da Silva - IFPA.
Prof.ª Drª. Elizabeth Gomes Souza - UFPA.
Prof.ª Me. Neuma Teixeira dos Santos - UFRA.
Prof.ª Me. Antônia Edna Silva dos Santos - UEPA.
Prof. Dr. Carlos Erick Brito de Sousa - UFMA.
Prof. Dr. Orlando José de Almeida Filho - UFSJ.
Prof.ª Drª. Isabella Macário Ferro Cavalcanti - UFPE.
Revisão de texto:
O autor.
SUMÁRIO
PREFÁCIO.................................................................................................................................7
Alonso Bezerra de Carvalho
INTRODUÇÃO........................................................................................................................9
PRIMEIRA SEÇÃO
O PURO E O EMPÍRICO NA FILOSOFIA PRÁTICA DE KANT...............................15
SEGUNDA SEÇÃO
INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO..........................................................27
2.1 Ação, inclinação e princípio...........................................................................................28
2.2 Educação e princípios práticos......................................................................................45
REFLEXÕES FINAIS.............................................................................................................67
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................74
SOBRE A AUTORA..............................................................................................................77
ÍNDICE REMISSIVO............................................................................................................78
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
7
PREFÁCIO
A proposta deste pequeno livro, mas grande na temática que aborda, nos desafia
e nos convoca a olhar com mais cuidado para as ideias de um autor clássico e para
um tema que tem ocupado as discussões contemporâneas. Immanuel Kant é daqueles
autores que em muitas rodas de conversas acadêmicas e intelectuais tem causado po-
lêmicas e debates acalorados, geralmente sendo acusado de um grau de hermetismo e
complexidade e que pouco ajudaria na compreensão e no esclarecimento de questões
que nos tocam cotidianamente. Por seu lado, o tema da moral e da ética nunca perde
sua validade e importância, mesmo sabendo que vivemos uma crise na humanidade
que cada vez mais precisa de discernimento, tolerância e respeito.
Com isso, o livro da Renata tem a grande virtude de apresentar uma belíssima
contribuição ao campo da filosofia e da educação, equilibrando e tratando com esmero
as ideias de Kant, deixando-as bastante compreensíveis e claras, sem perder a pro-
fundidade e o rigor. A sua análise evidencia que o ensino da moralidade, no sentido
de formar e desenvolver o ser humano, e, consequentemente, garantir a ação ética no
real, podem ser possíveis via educação. O significa dizer que deveríamos estar atentos
à capacidade própria do ser humano, ser racional e passional que é, de bem usar a sua
vontade e a faculdade de determinar o querer fazer, o querer agir, as suas decisões e
suas escolhas como um passo em direção à perfeição da natureza humana.
A Filosofia Prática de Immanuel Kant (1724-1804), por ser uma filosofia moral
que não leva em consideração o ser humano e a sua constituição na busca, formulação
e fixação dos princípios morais primeiros, foi criticada por formalismo, insensibilidade
e vazio. De fato, por vezes, o pensamento prático kantiano foi interpretado exigindo o
puro cumprimento do dever e da lei moral, não permitindo, portanto, espaço algum
às diferentes expressões dos seres humanos, por exemplo, as suas inclinações, apetites,
afeições, paixões, desejos, interesses, propósitos e a sua vida efetiva. Esses elemen-
tos, ditos empíricos ou sensíveis, são apresentados pelos críticos da filosofia moral de
Kant, em grande medida, enquanto irrelevantes ou avulsos à moralidade conforme
pensada, desenvolvida e justificada pelo filósofo alemão.
desde a Educação Básica até a Educação Superior, o Humano, em seus diversos aspec-
tos, características, especificidades, particularidades e dimensões, é o que permanece.
2 A presente obra é fruto dos estudos e pesquisas realizadas, inicialmente, na graduação em Filosofia, no âmbito da iniciação
científica sob a orientação do professor Dr. Ubirajara Rancan de Azevedo Marquês/Unesp – Campus de Marília; posteriormente,
acrescidos no contexto da escrita da dissertação em Filosofia “Princípios práticos objetivos e subjetivos em Kant”, sob a orientação
da professora Dra. Sílvia Altmann/UFRGS; ampliados, com a escrita da tese em Educação “Formação moral e educação: um estudo
a partir da filosofia prática de Kant”, sob a orientação do professor Dr. Alonso Bezerra de Carvalho//Unesp – Campus de Marília.
INTRODUÇÃO
14
PRIMEIRA SEÇÃO
Considerando que, segundo Kant, se há moralidade, então deve haver uma pro-
posição fundamental prática, o filósofo pretender descobrir e justificar a existência
desse princípio prático fundamental, isto significa a descoberta e a fundamentação do
princípio supremo da moralidade. A busca pelo princípio supremo da moralidade se
dá, inicialmente, na primeira e segunda seção da Fundamentação da metafísica dos cos-
tumes, mediante a análise dos juízos morais comuns, com essa análise Kant chega aos
conceitos de boa vontade, imperativo e dever, conceitos de suma importância para o todo
da sua filosofia prática. A fixação e o desenvolvimento do princípio supremo moral
ocorre a partir da 3° seção da Fundamentação e na Crítica da razão prática (1788). Porém,
enfatizamos que a necessidade do fundamento prático puro, ou seja, uma lei moral
que nos legisle (autolegislação) na direção do que deve acontecer do ponto de vista
da moralidade – aponte com segurança todo o dever-ser – já pode ser antevista desde a
Dissertação de 1770, por exemplo, no §9, nota de rodapé.
Primeira Seção
O PURO E O EMPÍRICO NA FILOSOFIA PRÁTICA DE KANT
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
18 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
A presente filosofia constitui, de acordo com Kant (1980, p. 106), algo distinto de
qualquer outra investigação moral. Afirmação que faz grande sentido, pois, historica-
mente, a base da moralidade fora, antes de Kant, buscada na ordem da natureza ou em
necessidades naturais, em tradições, no anseio pela felicidade, na busca pelo prazer,
na vontade de Deus, ou ainda no sentimento moral. Via-se, segundo Kant (1980, p.
138), o ser humano ligado a leis pelo seu dever, porém, não ocorreu a ninguém que
o ser humano estivesse sujeito somente à sua própria legislação. Constatamos aqui a
referência de Kant
[...] aos esforços empreendidos por seus antecessores na busca e fundamentação de
um princípio supremo para a moralidade, Kant alude às dificuldades daqueles e
aponta para a causa do fracasso de suas empreitadas. (SANTOS, 2011, p. 205).
A parte empírica da filosofia prática de Kant foi desenvolvida pelo filósofo, por
exemplo, nas obras: A religião nos limites da simples razão (1793), Metafísica dos costumes
– Doutrina do Direito e Doutrina da Virtude (1797), Antropologia de um ponto de vista prag-
mático (1798), bem como em suas preleções sobre Geografia (1793) e sobre Educação
(1803).
for conhecido segundo a natureza que ele efetivamente detém, embora ape-
nas na medida em que é necessário com relação ao dever em geral; tal deter-
minação, porém, não pertence a uma Crítica da razão prática em geral, que só
deve indicar completamente os princípios de sua possibilidade, de seu âmbi-
to e limites, sem referência particular à natureza humana. Portanto, a divisão
pertence aqui ao sistema da ciência e não ao sistema da crítica. (KANT, 2003,
p. 25-7).
Terra (2003, p. 72) aponta que a diferença entre o sistema da crítica (filosofia
prática pura) e o sistema da ciência (filosofia prática empírica) estaria no fato de que
a primeira se concentrou na formulação da lei moral – na fórmula universal da mora-
lidade – enquanto que o segundo, vale dizer, o sistema da ciência, levando em consi-
deração o ser humano e a sua natureza, existência e condição, buscou determinar a
divisão dos deveres para esse ser racional e sensível, preocupando-se com o alcance
moral a partir do ser humano. O sistema da crítica pressupõe uma fundamentação da
moralidade, representa a possibilidade de um princípio supremo da moral, indica e
justifica a fórmula que determina de todo o dever-ser. Por outro lado, a determinação
particular dos deveres como deveres humanos, encerra-se no âmbito do sistema da
ciência. Com a filosofia moral pura, se estabelece, primeiro, a noção do dever em geral,
posteriormente, com a segunda parte do seu pensamento moral, o filósofo oferece a
divisão dos deveres para o caso da natureza humana. Desse modo, há: i) o sistema da
crítica e a fórmula geral do dever; ii) o sistema da ciência, com referência particular à
natureza humana, a divisão dos deveres para o ser humano.
Por vezes, a filosofia prática de Kant não é discutida em sua totalidade, ou seja,
contemplada em sua parte pura e parte empírica, o que enxergamos, junto de outros
estudiosos de Kant, como algo pouco seguro:
O argumento de que os últimos escritos de Kant são frutos de um período de senili-
dade, junto à grande repercussão das obras anteriores à década de 1780, quase nos
limitou a uma interpretação do pensamento ético de Kant em que os estudos sobre
a antropologia, psicologia, biologia, história, educação ou qualquer outro de cunho
empírico contribuíram pouco nos trabalhos sobre a aplicabilidade de sua ética. (OLI-
VEIRA, 2006, p. 69).
Primeira Seção
O PURO E O EMPÍRICO NA FILOSOFIA PRÁTICA DE KANT
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
22 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
Moral pura, filosofia moral pura ou apenas moral diz respeito a uma lei que le-
gisla a ação necessariamente, ou seja, independentemente de todo e qualquer dado,
Há, na Filosofia Prática de Kant, a busca pelo fundamento puro dos costumes – a
lei fundamental da razão prática, e, posteriormente, a investigação filosófica do alcan-
ce e efetividade desse fundamento. Não é seguro perder de vista o todo do pensamen-
to prático kantiano e cair, desse modo, no engano de apontar a sua filosofia prática
enquanto mero formalismo. Observamos que a divisão e complementariedade entre
puro e empírico na filosofia prática kantiana foi anunciada na Crítica da razão prática em
um pequeno capítulo sob o título de “Doutrina do método da razão prática pura”, quando
o filósofo afirma:
Muito antes entender-se-á por esta doutrina do método o modo como se pode pro-
porcionar às leis da razão prática pura acesso ao ânimo humano, influência sobre
as máximas do mesmo, isto é, como se pode fazer a razão objetivamente prática
também subjetivamente prática. (KANT, 2003, p. 531).
atuações dos professores de filosofia das universidades alemãs nos cursos de Pedago-
gia se justificam facilmente pois, para além das exigências ministeriais (WEISSKOPF,
1970, p. 97), muitos dos filósofos da época tiveram por objeto de estudos, reflexões e
indagações o tema da educação e os seus elementos.
Lembrando que, de acordo com Kant (2001, p. 622): “Todo o interesse da minha
razão (tanto especulativa quanto prática) concentra-se nas seguintes três perguntas: 1.
O que posso eu saber? 2. O que devo eu fazer? 3. O que está me permitido esperar?”.
Essas são as questões do sistema crítico kantiano, a primeira questão é uma questão
especulativa, a segunda é prática e a terceira “se faço o que devo fazer, que me é permi-
tido esperar?” (Kant, 2001. p. 622) é, ao mesmo tempo, prática e teórica. As três ques-
tões postas pelas Críticas – da razão pura, da razão prática e do juízo – se agrupam na
questão singular: o que é homem? Assim, vemos no criticismo kantiano a busca pela
compreensão do ser humano, um ser constituído, de acordo com as suas três Críticas,
sob as perspectivas: cognitiva/epistemológica, moral/prática e estética.
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O PURO E O EMPÍRICO NA FILOSOFIA PRÁTICA DE KANT
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
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Sobre o primeiro elemento – o que significa dizer e como Kant justifica que o
valor moral da ação está no princípio do querer – devemos analisar com atenção a
afirmação kantiana na obra Fundamentação da metafísica dos costumes, quando o filósofo
diz que a ação praticada precisamente por princípios tem o seu valor não no propósito
que com a ação se deseja atingir, mas, precisamente, na máxima que determina essa
ação. Isso significa que o valor da ação não é dependente da realidade dos objetos do
desejo, mas somente do princípio segundo o qual a ação foi realizada. Ponderemos
sobre da distinção realizada por Kant entre propósitos e máximas, entre inclinação,
objeto e princípio.
Se ficamos com a definição de máxima como algo que diz respeito ao nosso que-
rer e que move as nossas ações, “Máxima é o princípio subjetivo do querer” (KANT,
1980, p. 115), podemos pensar que os propósitos, do mesmo modo com uma máxima,
também determinam o nosso querer fazer, assim, propósitos e máximas seriam equi-
valentes. No entanto, Kant afirma que o valor de uma ação não reside em seu propósi-
to, mas em sua máxima, logo, propósitos e máximas determinam o nosso querer fazer,
mas não são equivalentes. E, reforçando, somente podemos vislumbrar o valor moral
de uma ação por sua máxima, não pelo seu propósito pois, por mais nobre que seja um
propósito, ele, de acordo com Kant, nada pode nos dizer sobre o valor moral da ação
resultante desse propósito.
Notamos que o propósito de uma ação se baseia exatamente naquilo que par-
ticularmente desejamos, no que nos inclina, em suma, em um objeto desejado sensi-
velmente. Ora, se nos deixamos guiar por objetos do desejo e, desse modo, se o valor
moral de uma ação se sustenta pelo e no propósito dessa ação, haveria, pelo menos,
dois problemas:
i) se o objeto não existir, se a ação não alcançar o seu propósito, ela não terá
valor algum e,
ii) o valor de qualquer objeto, mesmo de um objeto desejado, é sempre relati-
vo, não absoluto.
Vale dizer que, conforme elucidado por Kant nos parágrafos iniciais da primeira
seção da Fundamentação da metafísica dos costumes, o moralmente bom significa abso-
lutamente bom, um bom não limitado por esse ou aquele sujeito, por esse ou aquele
objeto, antes, é um bom ilimitado e sem reservas – sempre bom. Wittgenstein (1993)
ilustrou a correspondência entre o moralmente bom e o ilimitadamente bom com o se-
guinte exemplo. Suponha que alguém esteja jogando tênis e você diga: “Você não deve
segurar a raquete assim, mas de outro jeito”. Suponha que essa pessoa responda: “Ok,
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não me importo em não jogar tão bem, apenas jogo por prazer”. Poderíamos pensar
simplesmente: “Então, tudo bem”. Mas, suponha que disséssemos algo como: “Você
não deve maltratar seus pais só porque eles estão velhos”. E a pessoa diga: “Ok, não
me importo em tratá-los bem”. Poderíamos dizer: “Então, tudo bem?”. Certamente
não, e diríamos: “Você deve tratá-los bem”. Notamos que a própria ideia de moralida-
de supõe que tomemos algo com um valor mais alto que condiciona as nossas atitudes.
O que podemos pensar de “mais alto” somente pode ser algo que é bom em todos os
casos, que é ilimitadamente bom, algo que deve ser bom sempre e sem reservas. (AN-
DRADE, 2015, p. 15-16).
Veja, a máxima, assim como o proposito de uma ação, pode estar ligada a um ob-
jeto, porém, a máxima da ação pode não ser necessariamente condicionada em função
desse objeto, em função do efeito que se espera da ação. Noutras palavras, a máxima,
assim como o propósito, também pode estar ligada aos objetos do querer, a diferença
entre a máxima e um propósito é que a máxima, diferentemente de um propósito, é
capaz, além de realizar a abstração desse objeto, de incorporar (por querer – por dever
moral ou de virtude) o princípio prático da ação, passando de uma máxima geral para
uma máxima moral. Nesse sentido, é preciso observar que, segundo Kant, a máxima
da ação que é subjetiva (válida para um sujeito), pode ser, também, objetiva (válida
para todos os sujeitos), o que delimitará uma máxima enquanto subjetiva e objetiva
será a sua condição de determinação da ação.
Diz ele, certamente não é no sentido de abarcar um maior número de casos, tam-
bém não é o caso de uma máxima valer por mais tempo, os propósitos, assim como
uma máxima, podem valer por toda uma vida. A peculiar possível objetividade de
uma máxima está muito além de quantidades ou sucessão temporal. Assim, Bittner
aponta, como central para que possamos compreender a posição de Kant, a questão
do que podemos pensar enquanto um fundamento razoável para o abandono de uma
máxima por oposição à mudança de um propósito. Noutras palavras, segundo Bitt-
ner, a distinção entre o propósito de uma ação, impulsionado por nossas inclinações,
e a máxima de uma ação, que pode revelar o princípio da ação, é melhor evidenciada
quando pensamos sobre os motivos que nos levam ao abandono de uma máxima em
oposição aos abandonos de um propósito. São sinalizadas por Bittner três possibilida-
des: 1) circunstâncias particulares e externas; 2) razões morais (as quais só podem ser
compreendidas quando compreendemos o que é uma máxima); 3) um melhor conhe-
cimento dos fatos. Vejamos um pouco mais de perto essas três possibilidades.
Disso, continua Bittner, implica uma marca decisiva na distinção entre um pro-
pósito da ação e uma máxima da ação. Se uma melhor compreensão dos fatos nos leva
a alterar as nossas ações, trata-se de uma máxima, pois essa compreensão abrange o
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Nesse sentido, verifica-se que, para Bittner, quando agimos segundo uma máxi-
ma, consequentemente, por um princípio que determina a nossa ação, a máxima que-
rida estará sempre presente em nossas escolhas e decisões. O que realizamos ontem
segundo uma máxima, deve nos mover e determinar hoje, ou seja, estará presente em
todos os casos de nossas ações futuras. Assim, estamos diante de um agir segundo
máximas e princípios e não de propósitos, inclinações ou hábitos consolidados com o
dia-a-dia. Isso significa que, se adotamos uma máxima, se a queremos enquanto prin-
cípio do nosso agir, não basta apenas uma vez tê-la querido, isso precisamente des-
classifica uma máxima, é necessário querer sem ressalvas. Qualquer exceção permitida
já não estaremos agindo segundo uma máxima. Podemos mudar as nossas máximas,
mas uma vez adotada enquanto (minha) máxima, ela estará sempre presente enquanto
princípio em nossas ações particulares. Se permitimos uma exceção, já não estamos
agindo segundo a máxima e por princípio.
indicar que, no lugar de uma inclinação, que apenas pode nos colocar propósitos liga-
dos aos objetos que desejamos sensivelmente, o que moverá a vontade e sustentará a
máxima da ação moral será a ideia ou princípio do dever, o motivo (Bewegungsgrund)
da ação será a própria ideia do dever – uma ordem de força apodítica, necessária (que
não pode ser de outro modo) e universal. Nesse sentido, por dever, ou razões morais,
certas máximas são negadas, algumas permitidas e outras requeridas. Nas palavras de
Kant.
Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há além disso muitas almas
de disposição tão compassiva que, mesmo sem nenhum outro motivo de vai-
dade ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta e se
podem alegrar com o contentamento dos outros, enquanto este é uma obra
sua. Eu afirmo porém que neste caso uma tal ação, por conforme ao dever,
por amável que ela seja, não tem contudo nenhum verdadeiro valor moral,
mas vai emparelhar com outras inclinações, por exemplo, o amor das honras
que, quando por feliz acaso topa aquilo que efetivamente é de interesse geral
e conforme ao dever, é consequentemente honroso e merece louvor e estí-
mulo, mas não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda
que tais ações se pratiquem, não por inclinação, mas por dever. [...] se a natureza
não tivesse feito de um tal homem (que em boa verdade não seria seu pior
produto) propriamente um filantropo, – não poderia ele encontrar dentro de
si um manancial que lhe pudesse dar um valor muito mais elevado do que
um temperamento bondoso? Sem dúvida! – e exatamente aí é que começa
o valor do caráter, que é moralmente sem qualquer comparação o mais alto,
e que consiste em fazer o bem, não por inclinação, mas por dever. (KANT,
1980, p. 113, grifo nosso).
O dever (Sollen), por definição é o respeito a uma lei à qual o indivíduo oferece
a si mediante a sua razão prática (KANT, 1980, p. 114), “A razão pura é por si prática
e dá (ao homem) uma lei universal, que chamamos lei moral” (KANT, 2003, p. 107).
Uma vez que o ser humano não é determinado imediatamente por essa lei, pois é um
ser racional finito e encontra-se também sujeito às inclinações sensíveis, que podem
tomar o lugar de fundamento de determinação de sua ação, a relação do ser humano
com a lei moral é de dependência e chama-se dever. Como explica Rohden na introdu-
ção à edição brasileira da Crítica da razão prática:
Desde a Antiguidade a moral requereu, para poder instaurar-se, um controle das
apetições pela razão. Portanto, enquanto o homem for um ente racional finito, ele
jamais será santo; na melhor das hipóteses, empenhar-se-á pela virtude, que a Crítica
da razão prática definiu como “a disposição moral em luta”. Quer dizer, o vir bonus
de Kant é o homem em luta contra a sua propensão de transformar o amor de si no
princípio objetivo da ação. Devido a consciência da finitude humana, a ética kantia-
na é uma ética do dever, que como tal implica uma autocoerção da razão, mas que
torna também dever e liberdade internamente compatíveis. (ROHDEN, 2003, p. XV).
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nós, se chama consciência. A consciência é de fato a referência das nossas ações a essa
lei”. (KANT, 1999, p. 99).
Ser livre (e moral), segundo o filósofo, significa, portanto, ser capaz de subme-
ter-se a uma lei prescrita pelo dever-ser, de submeter-se às leis práticas e assim ser
independente (livre) dos desejos particulares, das leis naturais e de todo e qualquer
fundamento alheio enquanto a razão de determinação da nossa vontade. Os desejos
meramente particulares, bem como toda a determinação externa, são, em sua totalida-
de, condicionados, “ignóbeis e perniciosos” (KANT, 2003, p. 567), podem ora mover e
ora não, ora levar ao bem e ora levar ao mal. Nesse sentido, pela capacidade da prática
da razão humana, o ser humano pode ser, concomitantemente, moral, autônomo e
livre, por ser capaz de se dar e por querer seguir a lei prática universal, uma vontade
livre e a vontade submetida a essa lei são apenas uma coisa só. Pode parecer surgir
aqui uma espécie de círculo vicioso, é comum pressupor não haver liberdade nenhu-
ma nessa conduta, já que o ser humano somente será livre ao obedecer a uma lei. O
círculo parece se estabelecer pois estamos livres das determinações naturais, livre da
ordem das inclinações sensíveis, mas nos encontramos, ao mesmo tempo, submetidos
às leis morais.
Kant fala sobre essa possível circularidade em que se encontra a natureza huma-
na na terceira sessão da Fundamentação, “Mostra-se aqui – temos que confessá-lo fran-
camente – uma espécie de círculo vicioso [...]” (KANT, 1980, p. 152). Nos enxergamos
livres ao agir e, no entanto, também “submetidos” a determinadas leis. Estamos livres
na ordem das causas naturais, das paixões e inclinações, para nos colocarmos subme-
tidos às leis práticas e, por estarmos submetidos a estas leis, podemos, desse modo,
atribuir liberdade à nossa vontade, ou seja, considerarmos moral e livre. Se somente ao
nos submetermos às leis práticas podemos atribuir liberdade à nossa vontade, mister
se faz compatibilizar o dever e a liberdade humana, concebendo a implicação recípro-
ca entre as leis morais e a liberdade da natureza humana. É exatamente o que faz Kant,
a ação por dever, que confere o valor moral à conduta humana, é apresentada enquan-
to uma ação mediante a consciência de uma lei da liberdade, o que nos permitirá um
acesso mais fácil ao dever-ser a partir da “consciência de nossa liberdade”. (KANT,
2003, p. 567)2.
2 Como Kant concebe a compatibilidade entre dever e liberdade e livra o sujeito agente do suposto círculo, conferir em: ALMEIDA,
G. A. Moralidade e liberdade segundo Kant. Revista Analytica, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, 1997.
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Aqui está o sentido prático (moral) de abstrair a inclinação e o seu objeto de dese-
jo sensível, mesmo que haja o interesse no objeto, ele não será o que determina e move
a vontade nos fazendo agir pois, se o que nos conduz é a inclinação em relação ao obje-
to desejado ‘preservar os meus clientes’, a ação, além de não poder ter o valor próprio,
íntimo e absoluto, poderia revelar, em última instância, somente a intenção egoísta, o
“Querido EU” (KANT, 1980, p. 120), o qual sobressai eliminando o valor e a seguran-
ça de uma ação, mesmo que ela tenha ocorrido em conformidade com o princípio do
dever, no caso exposto acima, praticar preços justos. Quando o querido eu é a razão
da ação, além de excluir o valor prático (moral) da ação, não traz qualquer segurança
de que vamos sempre ser honestos e justos, afinal amanhã podemos não nos inclinar
a isso ou aquilo e, justamente por não ter a inclinação, deixamos de realizar o que, do
ponto de vista da moralidade, deveríamos fazer. Por isso, não é possível, em Kant,
que a inclinação, o desejo, o objeto e o propósito sejam o fundamento determinante da
nossa ação e se apresentem aptos a um princípio prático, vale dizer, moral.
Nesse ponto, é de grande auxílio resgatar a distinção sinalizada por Kant (1980,
p. 124) entre, do ponto de vista moral, o interesse prático e o interesse patológico. No
primeiro caso, o interesse é pela ação, no segundo, pelo objeto da ação enquanto que
ele pode nos ser agradável ou útil.
Consideremos outro exemplo: vou fazer o bem ao meu próximo porque isso me
dá enorme prazer. Nesse caso, fazemos o bem para sentir prazer, assim, fazemos o
que fazemos tendo em vista o efeito esperado, o prazer. Quando o objeto, o efeito que
se espera da ação, é o que nos move, em função de uma inclinação, o móbil (Teibfeder)
pelo qual fazemos o que fazemos é sempre derivado do objeto e ressaltamos, em espe-
cial, a contingência das ações desse tipo, ou seja, por inclinação enquanto o que move a
vontade e determina da ação. Ora, podemos fazer o bem quando quisermos ter prazer,
porém, nada nos obriga a isso, nada exige de nós querer fazer sempre o bem, podemos
ora fazer, ora não, e, se fazemos por inclinação, faremos quando tivermos a inclinação
e não faremos quando (ou se) não tivermos. Conforme exposto, segundo Kant, a base
da ação, se há a preocupação com o valor moral dessa ação, não deve ficar à sorte de
qualquer contingência.
A capacidade prática da razão pura, que se manifesta mediante a lei moral, é de-
nominada por Kant por ‘fato da razão’, nas palavras do filósofo:
[...] Pode-se denominar a consciência desta lei fundamental um factum da razão [...]
precisa-se observar que ela não é nenhum fato empírico mas o único factum da razão
3 Sobre o conceito de boa vontade em Kant, sugiro: Andrade, R. C. L.; Carvalho, A. B de. A boa vontade e o bom moral na
investigação acerca da moralidade de Immanuel Kant. In: Vinicius Oliveira Seabra Guimarães. (Org.). O Comportamento Humano
em Busca de um Sentido. 1ed.Ponta Grossa/PR: Atena Editora, 2019, v. 1, p. 1-11.
pura, que deste modo se proclama como originariamente legislativa (sic volo, sic je-
beo). (KANT, 2003, p. 107).
É válido notar que, segundo Kant, o fato da razão consiste na consciência da lei
moral e representa o único fato não empírico, mas a priori4.
Desse modo, uma lei moral, o princípio de uma possível legislação universal da
ação, conforme apresentada por Kant, representa um arquétipo que nos permite ava-
liar as nossas máximas segundo o ponto de vista moral. A moralidade, ou seja, o pró-
prio valor moral da ação, segundo Kant, dependerá do acordo da máxima subjetiva
com a lei moral objetiva/universal, daí a possibilidade de uma máxima da ação que é
sempre subjetiva, ser, também, moral e objetiva. O que fica claro quando não perde-
mos de vistas que o agente racional pode adotar as suas máximas à luz de imperativos
ou princípios práticos universais. (ALLISON, 1990, p. 86).
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É o que diz Kant, por exemplo, na Crítica da razão pura: “Na medida em que se tornam
ao mesmo tempo fundamentos subjetivos de ações, isto é, princípios subjetivos, as leis
práticas chamam-se máximas”. (KANT, 1983, p. 396).
Tendo em vista que a lei moral universal é uma lei racional, oferecida pela ra-
zão prática pura6, a sua origem e, principalmente, a sua adoção não podem vir de
fundamentos empíricos, por outro lado, os seres humanos enquanto seres finitos são
também determinados, com frequência, por regras sensíveis cujo fundamento é em-
pírico. Kant pretendeu então mostrar que, ainda que a natureza humana esteja sujeita
a determinações empíricas – máximas gerais, inclinações, desejos sensíveis – pode,
ainda assim, agir segundo a sua razão prática (segundo o princípio prático), e, por con-
sequência, moralmente. O ser humano enquanto um ser racional e sensível, deverá,
caso tenha a preocupação com o conteúdo moral de suas ações, adotar somente aque-
las máximas que se quer e que todo ser racional também possa querer e deva seguir.
Segundo Bittner (2003), uma máxima da ação, e somente a máxima, pode se submeter
ao critério moral direto da universalidade possível, e, desse modo, o ser humano sa-
berá exatamente o que fazer, isto é, o que deve ser feito do ponto de vista moral. Essa
legislação própria implica em autonomia, pois o ser humano não dependerá de nada
externo para lhe oferecer a lei, para determiná-lo ou para dizer o que deve ser feito. Eis
a capacidade da razão de ser prática, que implica na capacidade de autonomia, auto-
determinação e autolegislação, a independente de qualquer outro ou exterioridade na
fundamentação da nossa ação7.
os fins que ele se dá e assume. Esse aperfeiçoamento é possível, um dos modos, pela
educação e a formação moral do educando9.
Veja, o ser humano é capaz de toda sorte de fins, os fins da ação assumidos ou
queridos, noutras palavras, podemos apresentar uma destreza no uso dos meios para
atingir toda espécie de fins queridos e assumidos, porém, para que possamos apresen-
tar um caráter, no sentido de criar ou ter um caráter, convém que consigamos a dis-
posição de querer, escolher e assumir apenas os bons fins, segundo Kant, os bons fins
são “aqueles fins aprovados necessariamente por todos e que podem ser, ao mesmo
tempo, os fins de cada um”. (KANT, 1999, p. 26). Logo, é um grande cuidado o olhar
atento para o valor das coisas que podemos eleger como os nossos fins pois, mediante
a escolha do que elegemos como os nossos fins, ou seja, o que desejamos (fins subjeti-
vos) ou queremos (fins objetivos), formamos e apresentamos o nosso caráter. A esco-
lha dos nossos fins, de acordo com Kant, pode indicar se temos ou não um caráter, e é
justamente da possibilidade do caráter da espécie humana, que podemos nos definir
enquanto Pessoa.
Do ponto de vista prático (moral) em Kant, não basta que sejamos capazes de es-
colher, ter ou realizar todo e qualquer fim, o que revelaria a nossa destreza, sagacidade
ou esperteza, é preciso que sejamos capazes de querer e escolher apenas os bons fins,
os quais também são chamados por Kant, em sua filosofia prática pura, de fins morais,
e, em sua filosofia prática empírica, de fins que são ao mesmo tempo deveres, respec-
tivamente fins queridos e realizados por dever moral e por dever de virtude10. Não há
nisso qualquer contradição, pois ao assumir um fim, mesmo sendo um fim aprovado
necessariamente por todos e que pode ser, ao mesmo tempo, o fim de cada um, faze-
mos desse fim o nosso fim. Desse modo, esse fim será um fim subjetivo e objetivo, isto
é, válido para um sujeito da ação e, ao mesmo tempo, para todos sem exceção.
Nossa destreza, sagacidade ou talentos geralmente são ditos bons e podem ser
mesmo úteis aos seres humanos, mas apenas possuem, segundo Kant (2006, p. 188)
um preço e não um valor, por exemplo: “[...] o talento tem um preço de mercado, pois
o soberano ou senhor local pode precisar de um homem assim de várias maneiras; – o
temperamento tem um preço afetivo, e a gente pode se dar bem com ele, que é um
companheiro agradável [...]”. (KANT, 2006, P. 188). Mas, somente o caráter pode apre-
sentar um valor próprio que está acima de qualquer preço, aqui está a diferença entre
preço e caráter, concebendo a distinção entre o valor de mercado, ou, conforme aponta
Kant na Fundamentação, o preço venal, e o valor moral. (KANT, 1980, p. 140). O valor
W. de Gruyter, tomo IV, 2001. ANDRADE, R. C. L. O caráter e o valor do caráter na antropologia kantiana. Revista Sofia, v.3, 2014.
9 Veremos alguns importantes elementos da educação e da formação moral, logo mais, em “2.2. A educação e princípios práticos”.
10 Lembrando as obras da Filosofia Prática Pura: Fundamentação da metafísica dos costumes e Crítica da razão prática; obras da
Filosofia Prática Empírica: A religião nos limites da simples razão, Metafísica dos costumes – Doutrina do Direito e Doutrina da Virtude,
Antropologia de um ponto de vista pragmático, bem como em suas preleções sobre Geografia e Educação.
Segunda Seção
INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
42 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
moral não está na vantagem ou na utilidade que a ação pode criar pois, se assim fosse,
seria somente um conteúdo corruptível, equivalente ou venal. O valor moral ou do
caráter centra-se na própria moralidade, ou seja, na preocupação moral que possamos
ter com o nosso agir e ação. Nenhum outro interesse estimula ou constrange esse agir.
Devemos compreender dois pontos distintos: a) temos uma inclinação, que for-
nece, em função de um desejo, um propósito e nossa ação é derivada desse desejo e, b)
11 Cf. Excertos dos cursos de Antropologia de Immanuel Kant, traduzido por Márcio Suzuki dos cursos de Antropologia de
Immanuel Kant, publicados no tomo 25 dos Kants Gesammelte Schriften. Berlim: de Gruyter, 1997. Em http://www.anpof.org.br/
spip.php?article107.
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INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
44 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
temos uma inclinação, porém a razão da nossa ação não é simplesmente derivada da
inclinação, ainda que tenhamos a inclinação pelo objeto desejado sensivelmente. Alli-
son (1990, p. 111), avalia que não distinguir essas duas alternativas ligadas ao objeto
da ação é uma falha frequente dos comentadores e críticos da filosofia moral de Kant,
que apresentam o pensamento moral kantiano reivindicando, ou pelo menos inferin-
do, que uma ação não pode ter valor moral se, em suas realizações, o agente possui o
desejo sensível por um determinado objeto, um desejo ou interesse por um objeto “A”,
também chamado por Allison de inclinação12.
O que significa dizer que, tendo em vista que a vontade humana tem de neces-
sariamente ser movida de algum modo, isto é, algo tem de colocá-la em movimento,
não será o objeto ou a inclinação, caso exista a preocupação moral, que deverá mover a
nossa vontade, antes o princípio prático moral. O ponto decisivo do “esclarecimento”
moral, na concepção do filósofo, apresenta-se justamente na consciência da faculdade
prática da razão, isto é, a capacidade humana de decidir sobre as suas ações indepen-
dentemente de fundamentos determinantes sensíveis, independentemente da condi-
ção de determinação da vontade sustentada pelos impulsos, livre das carências, das
paixões, da sensação de agradável ou desagradável, de toda e qualquer exterioridade
social ou religiosa. Será esse o verdadeiro e íntimo significado de ser esclarecido? O
sentido prático do Aufklärung?
Mas, o ser humano, um ser racional e sensível, por vezes está sob certas exaspe-
rações dos desejos, sob fundamentos meramente exteriores e empíricos, apresenta-se
inicialmente em um estado bruto, instintivo, impulsivo ou de pura inclinação. Exata-
mente por isso, para o ser humano, é preciso que esse estado inicial seja transformado,
12 “Ter o objeto”, nesse sentido especificado, é conclusão do que significa “ter uma inclinação”.
O querer fazer somente porque é bonito aos olhos alheios, resulta, de um lado, no
abandono do âmago do princípio prático, e, de outro, na admissão de motivos concor-
rentes e diversos do princípio, tornando-o heterônomo. Mesmo concebendo a dificul-
dade do acesso ou avaliação dos móbeis (Teibfeder) e dos motivos (Bewegungsgrund) da
ação, o valor moral kantiano não está em uma ética estética, pois “[...] quando se fala
de valor moral, não é das ações visíveis que se trata, mas dos seus princípios íntimos
que não se vêem” (KANT, 1980, p. 119), e a educação, pensada por Kant, é fundamen-
tal, também, nessa formação e desenvolvimento íntimo, de valores e de princípios
práticos, em razões, porquê e motivos íntimos, necessários e universais de uma ação.
A educação física, também chamada por Kant (1999, pp. 41-42) de primeira edu-
cação, tem em vista especificamente os cuidados com o infante, o que significa as pre-
cauções, a conservação, o trato, para que, por exemplo, o infante não faça um uso
nocivo e prejudicial de suas próprias forças, causando dano a si próprio.
Os animais, logo que começam a sentir alguma força, usam-na com regularidade,
isto é, de tal maneira que não se prejudicam a si mesmos. [...] A maior parte dos
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INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
48 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
animais requer nutrição, mas não requer cuidados. Por cuidados entendem-se as pre-
cauções que os pais tomam para impedir que as crianças façam uso nocivo de suas
forças. Se, por exemplo, um animal, ao vir ao mundo, gritasse, como fazem os bebês,
tornar-se-iam com certeza preza dos lobos e de outros animais selvagens atraídos
pelos seus gritos. (KANT, 1999, p. 11).
[...] o adulto possui a árdua tarefa de identificar o que é real e o que é fantasioso
naquilo que é manifestado pela criança e buscar atender as suas necessidades reais
de modo sereno e natural, sem viciá-la em seu caráter. (DALBOSCO, 2011, p. 110).
A educação física (corpórea, sensível e dos sentidos), não representa fim da edu-
cação conforme concebida por Kant, mas diz respeito ao ponto de partida que prepara
a criança para o desenvolvimento e formação da sua humanidade. Trata-se da atenção
com os movimentos, alimentação, temperatura, também a atenção com os sentidos
externos – tato, paladar, audição, visão, olfato – os sentidos pelos quais o ser humano
é afetado de modo corporal, segundo Kant (2006, p. 52), os sentidos puros da sensação
externa, necessários para que a natureza humana possa diferenciar objetos.
Desse modo, a educação física, uma das perspectivas da educação kantiana, ne-
cessária para o desenvolvimento integral do ser humano, se refere ao fortalecimento
do corpo e ao refinamento dos sentidos, “O que é preciso observar na educação física,
portanto, em relação ao corpo, se refere ao uso do movimento voluntário ou dos ór-
gãos dos sentidos”. (KANT, 1999, p 54). No primeiro caso, o movimento voluntário,
é preciso que a criança se movimente e experimente as suas forças por si mesma, de-
senvolvendo a suas habilidades, a sua rapidez e a sua segurança. Cabe aqui o cuida-
do para não permitir que o infante faça um uso prejudicial dos movimentos, forças,
habilidades e segurança desenvolvidas. Sobre a segurança, Kant revela a sua impor-
tância dizendo que um ser humano que teme, por exemplo, uma queda imaginária,
esse medo ordinariamente cresce com a idade. No segundo caso, órgãos dos sentidos,
Kant (1999, p. 56) aponta, como meio para o desenvolvimento dos sentidos, os jogos,
o brinquedo ou a brincadeira infantil. De acordo com o filósofo, os jogos são capazes
de provocar o exercício e desenvolvimento dos sentidos. Por exemplo: a cabra-cega,
para saber como poderia desempenhar-se caso a criança fosse privada de um sentido;
o papagaio, para desenvolver a habilidade, já que para empinar o papagaio depende
de uma certa posição em relação ao vento; lançar objetos à distância ou no alvo, para
exercitar o sentido da visão; o jogo de bola, para exercitar o movimento, já que requer
a corrida benéfica.
A educação prática, por sua vez, diz respeito, precisamente, à formação e ao de-
senvolvimento do ser humano em direção da sua humanidade, junto dos momentos
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INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
50 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
Analisemos, então, o que Kant entende por disciplina e a sua contribuição espe-
cífica no processo de desenvolvimento da Humanidade. A disciplina é posta por Kant
como negativa pois não se trata ainda, mediante a educação, de formar ou desenvolver
algo, mas apenas de abordar o estado bruto do ser humano, abordar a sua condição
instintiva, impulsiva ou de inclinação, sua animalidade ou selvageria, preparando o
ser humano para os momentos de formação e de desenvolvimento, isto é, a parte po-
sitiva da educação prática. Eis “a formação geral da humanidade para além da anima-
Kant (1999, p. 13), chama de selvageria, estado bruto, brutalidade, puro instinto
ou animalidade, a independência de toda e qualquer lei, a disciplina, por sua vez,
será o início do processo do querer fazer humano segundo as leis da sua humanidade.
As leis da humanidade, de acordo com o conjunto da filosofia prática de Kant, nada
mais são, senão, as leis morais ou da liberdade, uma legislação que o ser humano, pela
capacidade prática da sua razão, é capaz de oferecer a si mesmo. Nesse sentido, com
a disciplina, há o início do processo educacional para que a criança, quando atingir a
idade juvenil e adulta, seja capaz de dar a si mesma, e seguir por querer, o princípio
supremo da ação, uma legislação própria e independente de toda e qualquer exterio-
ridade – apetitiva, social, religiosa, política – também, para que a criança, posterior-
mente, não se lance aos perigos ou siga, de fato e imediatamente, a cada um de seus
caprichos, instintos, impulsos ou inclinações, antes, possa querer e seguir as leis da sua
própria humanidade, possa agir segundo princípios práticos e, nesse sentido, realize
ações com valor moral no mundo. Nas palavras de Kant: “Disciplinar quer dizer: pro-
curar impedir que a animalidade prejudique o caráter humano [...] Portanto, consiste
em domar a selvageria”. (KANT, 1999, p. 25). Noutra palavras, a disciplina é o início
do processo educacional que possibilitará que a criança, ao atingir a idade juvenil e
adulta, possa manifestar e fazer uso da faculdade prática da sua razão, ou seja, dar-se
os princípios ou leis práticas que guiarão as suas ações. Para tanto, o primeiro passo
toca à disciplina, não à formação.
13 Eis, ademais, a relação de complementariedade da Sobre a pedagogia com as demais obras kantianas ditas autênticas.
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INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
52 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
Afetado por tantas inclinações, em muitas situações, o ser humano por si só pode
não apresentar a capacidade imediata de efetivar a sua humanidade, para que isso
ocorra necessariamente, é preciso a educação, nesse sentido, podemos pensar que o
valor das ações humanas, e o próprio alcance da humanidade no/do ser humano,
pressupõe a educação, uma vez que “por natureza o ser humano não é um ser moral
em absoluto”. (KANT, 1999, p. 95).
Entretanto, é preciso a atenção para o fato de que o dizer não (negar) à selvageria,
o transformar a animalidade em humanidade, não significa destruir ou erradicar com
todo e qualquer instinto, não significa ter que abolir ou suprimir com toda e qualquer
inclinações, desejos, paixões, apetites ou sensações, em suma, não significa erradicar
com a porção sensível do ser humano, o que nem seria possível, dada a própria cons-
tituição humana, racional e sensível. Disciplinar, em Kant (1999, p. 13), significa, espe-
cificamente, procurar evitar que a animalidade cause danos à humanidade, significa
evitar que a selvageria, o estado de ausência de toda e qualquer lei, cause prejuízos ao
processo de formação e de desenvolvimento da humanidade. Kant (1999, p. 50) explica
que, no que diz respeito à disciplina, é preciso atentar-se para que no disciplinar não
se trate a criança como escrava, antes, que a faça começar a sentir a sua liberdade que
se manifesta pela faculdade prática de sua razão, conciliando, desse modo, sensibi-
lidade e razão. Do mesmo modo, como desenvolvido na Fundamentação da metafísica
dos costumes e Crítica da razão prática, na Sobre a pedagogia Kant, também, não afirma a
necessidade de qualquer erradicação das inclinações humanas.
Suponhamos que eu vá à igreja e o padre me diga: ‘você deve ser boa, ser justa,
honesta e virtuosa, caso contrário, não ganhará o reino dos céus’. Ora, eu quero ganhar
o reino dos céus, então, serei boa, justa, honesta e virtuosa. As minhas ações, derivadas
do meu interesse em ir para o céu, certamente, serão corretas, mas, terá valor? Terá o
valor que, segundo Kant, é de longe o mais alto e sem comparação, o valor moral? O
que determina a minha ação, nesse caso, é o meu fim subjetivo, ou seja, o meu desejo
pelo reino dos céus. Quais os problemas desse tipo de determinação e por que, para
Kant, ela carece de valor?
i) Faço o que faço por causa dos meus interesses particulares e o que prevalece
ou sobressai é o meu Querido Eu;
ii) Amanhã, eu posso deixar de temer a Deus ou não ter mais o interesse no
reino dos céus, desse modo, não havendo mais o temor ou o meu desejo, posso
deixar de ser boa, justa, honesta e virtuosa.
Segunda Seção
INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
54 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
domar a selvageria, de modo que ela não cause danos ao ser humano na formação e
no desenvolvimento da sua humanidade, prepara o caminho à parte positiva (forma-
tiva) da educação prática e, nesse sentido, ela se torna necessária, visto que, de acordo
com Kant, não se pode abolir, mais tarde, o estado selvagem e corrigir um defeito de
disciplina.
A falta de disciplina é um mal pior que a falta de cultura, pois esta pode ser remedia-
da mais tarde, ao passo de que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um
defeito de disciplina. (KANT, 1999, p. 16).
Ao cuidar das inclinações, por meio da disciplina, abre-se o caminho para a parte
positiva da educação prática, abre-se o caminho para as leis, as normas e os princípios
da própria humanidade, “prepara-se, então, através da disciplina, o exercício de um
homem verdadeiramente livre”. (VICENTI, 1994, p. 23).
Ressaltamos que a adoção de uma máxima moral é possível, para Kant, mediante
a ideia do dever14, mediante a consciência do dever, o agente reconhece o seu dever
e adota as leis práticas enquanto fundamento subjetivo da ação (máximas morais),
válido para o sujeito da ação e, ao mesmo tempo, válido para as ações de todos. Desse
modo, destacamos o olhar do outro momento da educação prática de Kant, ou seja, o
momento da formação e a tentativa de que o ser humano seja, mediante a consciência
do seu dever moral ou de virtude, de fato determinado por uma máxima que ao mes-
mo tempo é lei (uma máxima moral), o que significa transformar em móbil o motivo,
transformar em móbil o próprio dever. Inicialmente essas máximas são as máximas
gerais da escola, depois, as máximas morais da humanidade – humanidade presente
em todo ser humano, portanto, “no primeiro período, o constrangimento é mecânico;
no segundo, é moral”. (KANT, 1999, p. 30).
14 Por dever, isto é, por razões morais, converto a minha máxima em uma máxima moral, o que significa o reconhecimento, o
respeito e a adoção do princípio prático fundamental.
Segunda Seção
INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
56 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
o outro de modo a não nos servirmos de outros seres para a realização dos nossos fins
pessoais. Segundo Kant, “[...] por um prazer universalmente comunicável e pelas boas
maneiras e refinamento na sociedade, ainda que não façam o homem moralmente me-
lhor, tornam-no porém civilizados”. (KANT, 1993, p. 274).
Finalmente, a educação moral, que diz respeito à ética e ao intrínseco valor das
ações humanas, a saber, o valor moral. A educação ou formação moral em Kant en-
volve os valores morais, o cultivo de máximas morais, a virtude e os deveres de vir-
tude conforme anunciado por Kant na Metafísica dos costumes, parte II, a autonomia,
a emancipação, a liberdade, o caráter, os bons fins, em suma, os princípios práticos
fundamentais com o desenvolvimento da consciência do dever prático (dever moral
ou dever de virtude) e a realização de ações por essa consciência, o que a faz distinta
de toda educação meramente moralizante15. Com o desígnio de formar moralmente a
educação deve,
[...] cuidar da moralidade. Na verdade, não basta que o homem seja capaz de toda
sorte de fins; convém também que ele consiga a disposição de escolher apenas os
bons fins. Bons são aqueles fins aprovados necessariamente por todos e que podem
ser, ao mesmo tempo, os fins de cada um. (KANT, 1999, p. 26).
o valor da ação, de acordo com a filosofia prática kantiana. Como ressalta Kant nas
preleções Sobre a Pedagogia: “Que a criança seja completamente impregnada não pelo
sentimento, mas pela idéia do dever!”, afinal:
É inútil tentar fazer as crianças sentirem o lado meritório das ações. Os padres co-
metem frequentemente o erro de apresentar os atos de beneficência como algo me-
ritório. Mesmo sem pensar que, em relação a Deus, não podemos fazer mais do que
o nosso dever; fazer benefícios aos pobres é simplesmente o nosso dever. Já que a
desigualdade de bem-estar entre os homens deriva de meras condições ocasionais.
(KANT, 1999, p. 92).
Não se trata da recusa de Deus, antes, de não colocar a razão de nossas ações,
ou seja, as nossas escolhas e decisões sob a responsabilidade de Deus ou de qualquer
outro externo. Assim, continua Kant, “Deus é o ser soberanamente santo e não quer
senão o que é o bom, exige que pratiquemos a virtude pelo seu valor intrínseco e não
porque Ele o ordena”. (KANT, 1999, p. 27-8). Porém, alerta Kant, para que a formação
moral da criança seja possível, – “[...] o próprio mestre deve formar para si mesmo
esse conceito”. (KANT, 1999, p. 98). Podemos pensar que isso implica, também, as
exigências de uma formação moral e de tudo o que diz respeito à humanidade posto
por Kant, já na formação inicial dos professores, afinal é difícil representar e formar
no outro aquilo que não temos formado em nós: os valores morais autênticos não são
valores que podemos improvisar.
Segunda Seção
INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
58 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
ou de virtude. De acordo com o filósofo (1999, p. 68): “É necessário que ele veja sempre
o fundamento e a consequência da ação a partir do conceito de dever”. Assim, o ser
humano, além de saber o que deve fazer, sem depender necessariamente da orientação
de outrem, se ordenará, por querer e por princípio, a fazer16. Em um silogismo prático,
temos:
16 Em linhas gerais, a independência do outro para o nosso pensar e agir é o que Kant chamou de Emancipação. Sobre a
emancipação em Kant: KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento? Rio de Janeiro: Vozes, 1985.
17 Sobre os princípios práticos materiais, de acordo com a Metafísica dos costumes, parte II: Dos deveres para consigo: reconhecer
e conservar a própria dignidade ou o amor próprio, conservar a própria vida, desenvolver e aumentar a perfeição natural e a
perfeição moral [...]. Dos deveres para com os outros: beneficência, gratidão, atenção, respeito, amor, amor universal ou amizade
[...].
agente deve querer que tal princípio seja o seu princípio, ou seja, seja o princípio de
suas ações. Por exemplo, ‘Todo ser humano deve preservar a sua vida’, um dever de
virtude para consigo exposto e justificado por Kant (2004) na Metafísica dos costumes,
para que esse princípio prático tenha validade para um ser humano específico, esse ser
deve, necessariamente, querer o princípio prático como seu, afinal de nada valeria a
universalidade de princípio moral da ação se o agente não o quisesse enquanto o seu
princípio, a sua lei, o seu motivo da ação. Nesse sentido, temos um princípio prático
universalmente válido que é, ao mesmo tempo, por ser querido pelo agente, subjetivo.
O que expressa o sentido de uma máxima moral ou máxima da ação universalmente
pessoal.
O conteúdo moral das ações, de um modo geral o conteúdo da vida moral, cen-
tra-se no reconhecimento e adoção do princípio prático fundamental. De acordo com
Kant: “Devo considerar uma ação valiosa, não porque se adapta à minha inclinação,
Segunda Seção
INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
60 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
mas porque através dela eu cumpro o meu dever”. (KANT, 1999, p. 106)18. Eis a base,
de acordo com a educação kantiana, da formação e aperfeiçoamento moral da espé-
cie humana. Considerando a educação prática kantiana, os alunos devem ir à escola,
não somente para aprenderem técnicas e expressões, mas para aprenderem a pensar e
conduzirem-se do ponto de vista da moralidade por si mesmos, para desenvolverem a
capacidade de pensar e agir moralmente por si próprios, o que nos remete ao autoco-
nhecimento, à autodeterminação e à autolegislação. “Urge que aprendam a pensar” e
“observar os princípios dos quais todas as ações derivam”. (KANT, 1999, p. 27).
Note que, para poder querer uma ação sob princípios práticos, os quais o próprio
ser humano é capaz de oferecer a si graças à sua capacidade prática da razão, não é
requerida a instrução de como se comportar, sendo assim, a formação moral em Kant
não se trata de meras instruções de como é preciso agir do ponto de vista moral, não
se trata de exortações, conselhos ou advertências comportamentais19, mas trata-se do
exame, da reflexão, da compreensão prática e do cultivo da moralidade, que somente
poderão ocorrer se forem despertadas as forças morais do aluno, possibilitando a to-
mada de decisão moral, isso significa que, de acordo com pensamento moral e ético
kantiano, não se é possível ser ético ao acaso, ou seja, sem o querer, sem a escolha, sem
a deliberação.
O homem, com efeito, afetado por tantas inclinações, é na verdade capaz de conce-
ber a idéia de uma razão pura prática, mas não é tão facilmente dotado da força ne-
cessária para tornar eficaz in concreto no seu comportamento. (KANT, 1980, p. 105).
A ação moral, segundo Kant, requer a fortaleza moral, chamada por Kant de vir-
tude, justamente pelos obstáculos que o próprio ser humano pode gerar a si mediante
determinações sensíveis que, em muitas ocasiões, podem mesmo levar ao vício. No
que diz respeito ao vício e ao prejuízo moral de seguir uma inclinação como determi-
nante da ação, Kant aponta que o ser humano, ao se entregar e seguir uma inclinação
sustentando a sua ação, pode permitir ao ânimo forjar princípios que são opostos aos
princípios práticos fundamentais, de modo a permitir que se incorpore, por adotar
tais “princípios”, o mal na máxima da ação, o que é, na concepção do filósofo (2004, p.
43), um mal qualificado, ou seja, um verdadeiro vício. Os vícios são, para o filósofo, o
grande desafio moral, ou seja, o desafio que o ser humano, se há a preocupação moral,
deve combater, daí decorre a força moral entendida enquanto fortaleza – fortitudo mo-
ralis (KANT, 2004, p. 41). Segundo Kant (2004, p. 29-30), toda a força moral (virtude)
se reconhece pelos obstáculos que é capaz de superar, para o caso da virtude, o grande
obstáculo a ser superado são as inclinações da natureza humana, ou seja, a sua facul-
dade de desejar face às sensações enquanto a razão da ação.
Ainda sobre a virtude humana, vale dizer que, além de trazer à luz o cume do va-
lor de uma ação – o valor moral –, constituir a verdadeira sabedoria – a sabedoria prá-
tica –, recupera a natureza humana enquanto livre, sã e rica, pois, de acordo com Kant,
o ser virtuoso não perde a sua virtude, a posição de Kant é de que, quando é formada,
desenvolvida, estabelecida a (cons)ciência do dever-ser e o ser humano não a realiza, é
como se isso lhe causasse uma espécie de asco, de repulsa, de aversão, bem como uma
lástima ou desprezo mesmo com o menor desvio dela20. Daí a imprescindibilidade da
formação moral, possível via educação, em Kant. A fortaleza moral, a força de virtude,
diz respeito ao “ânimo tranquilo, com uma resolução reflectida e firme de pôr em prá-
tica o seu dever. Tal é o estado de saúde na vida moral”. (KANT, 2004, p. 44).
Segunda Seção
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INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
62 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
humana, como apontamos, a razão, segundo o filósofo, apresenta dois usos ou inte-
resses: o especulativo e o moral. Sendo a razão a faculdade dos princípios, do conheci-
mento e morais, se segue a possibilidade da formação moral, ou seja, a formação ou o
desenvolvimento de uma faculdade ou capacidade própria do ser humano. Não se tra-
ta de aprender regras ou normas morais, o que se encerraria em mera moralização, não
se trata de qualquer transferência ou imposição, mas antes, da formação e desenvolvi-
mento de uma capacidade própria da natureza humana. Dada a natureza racional do
ser humano, a moralidade pode ser ensinada, no sentido de formada ou desenvolvida,
dada a sua natureza sensível, a moralidade deve ser ensinada. O ser humano é o des-
tinatário da moralidade em sua perspectiva sensível e, ao mesmo tempo, o portador
da moralidade em sua perspectiva racional. Desse modo, o que é constitutivo do ser
humano, enquanto ser racional, é preciso ser desenvolvido e conquistado devido à
sua constituição também sensível. (SANTOS, 2011, p. 208-209). Um dos recursos que
podemos lançar mão para esse desenvolvimento e realização é a educação, de acordo
com Kant, a arte de educar. A educação enquanto uma das condições de possibilidade
para a efetivação da consciência da moralidade em nós.
seguir imediatamente esse princípio, para os seres humanos, esse princípio está sob
a forma do dever moral ou de virtude, com a formação e o desenvolvimento da ideia
do dever, o ser humano irá, por escolha, querer o princípio prático necessariamente
em suas ações, o que evidencia a sua liberdade, a independente de motivos alheios
que possam determinar a sua vontade, sendo movida apenas por um princípio prático
que o próprio ser oferece a si. Não podemos nos esquecer de que o princípio prático
fundamental é sempre universal, seja em sua forma “Age de tal modo que a máxima
de tua vontade possa sempre valer ao mesmo tempo como princípio de uma legislação
universal” (KANT, 2003, p. 103), ou material expresso pelos deveres de virtude. Eis o
significado derradeiro do pensamento prático de Kant:
E é este o sentido mais alto da moralidade kantiana: de formular uma concepção
moral que exige o respeito incondicional pelo ser humano enquanto capaz de auto-
nomia, ou de formular uma concepção que faz “do pensamento do dever – que abate
toda a arrogância e todo o vão amor-próprio – o princípio de vida supremo de toda
moralidade do homem”. (ROHDEN, 2003, XXIII).
Segundo Kant, é nisso que se baseia a eticidade, vale dizer, o conteúdo moral da
ação em geral, poder e querer transformar em móbil o próprio dever, o que nos revela,
ademais, a junção e a inseparabilidade do puro e do empírico na filosofia prática de
Kant, a parte empírica que, neste momento, nos dedicamos com a educação. Revela,
do mesmo modo, a coerência da sua filosofia prática. A coerência e indispensabilidade
postas podemos evidenciar nas palavras do próprio filósofo:
Remontar aos princípios metafísicos para transformar em móbil o conceito de dever,
purificado de todo o empírico (de todo o sentimento), parece opor-se à própria ideia
desta filosofia (da doutrina da virtude). Pois, que conceito poderemos fazer de uma
força e de um vigor hercúleo para superar as inclinações que engendram vícios, se a
virtude tiver de ir buscar as suas armas no arsenal da metafísica, que é obra da espe-
culação, em que só poucos homens sabem adestrar-se? Por isso, todas as doutrinas
da virtude geram o ridículo nas aulas, do alto dos púlpitos e nos livros populares,
21 Kant, em sua filosofia da educação, utiliza os termos pedagogia (Pädagogik), educação (Erziehung), doutrina da educação
(Erziehungslehre), arte da educação (Erziehungskunst), entendemos que esses termos são substitutos e estão relacionados.
Segunda Seção
INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
64 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
quando se adornam com citações metafísicas. – Mas nem por isso é inútil, nem mui-
to menos ridículo, rastrear numa metafísica os primeiros princípios da doutrina da
virtude; pois alguém tem de ir, como filósofo, até os primeiros princípios do conceito
de dever; de outro modo, não seria de esperar segurança ou pureza alguma para a
doutrina da virtude em geral. (KANT, 2004, p. 07-8).
Veja, a ideia de educação concebida por Kant, a qual concebe o alcance da huma-
nidade do ser humano, é trazida a partir de uma visão cosmopolita e podemos pensar
essa universalidade pelo menos sob dois aspectos. Primeiro, porque a Humanidade é
intrínseca a todo ser humano sem exceção. Segundo, porque em Kant a humanidade ou
é para todos ou para ninguém, ou seja, o ser humano somente terá a sua humanidade
completamente desenvolvida no âmbito da espécie e não somente do indivíduo par-
ticular. Conforme expusemos, a ideia de educação kantiana “abre a perspectiva para
uma futura felicidade da espécie humana” (KANT, 1999, p. 17), ou ainda, a educação
oferece ao ser humano um valor que diz respeito à inteira espécie humana (KANT,
1999, p. 35) e, por fim, ao considerar a escolha dos nossos fins, de acordo com Kant, isso
pode indicar o nosso caráter, é justamente pela possibilidade do caráter da espécie hu-
mana que podemos nos definir enquanto Pessoa (KANT, 2006, p. 181), o ser que possui
conhecimentos, mas que principalmente pode e quer agir segundo valores e princípios
práticos, princípios que condicionam a nossa ação, porém não são condicionados por
qualquer capricho, bem como por nenhuma exterioridade. Isso, porque a justa medida
da plena formação humana via educação, segundo Kant, envolve a formação ética – a
moralidade, a virtude, a autonomia, a emancipação, a liberdade, o caráter, a pessoa.
Na filosofia da educação de Kant, há a possibilidade de uma ação educacional, pen-
sada e apresentada, com um importante desígnio, fundamentalmente, Moral e Ético.
Um valor moral e uma ética que cessam com o ‘querido Eu’, que retiram os in-
teresses e propósitos subjetivos e particulares da sustentação da vida ética, enquanto
a razão ou motivo das ações em detrimento da Humanidade, do mesmo modo, se
Renata Cristina Lopes Andrade
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
65
escusam, por exemplo, da ordem e das necessidades naturais, das tradições, do mero
anseio pela felicidade, do âmbito religioso. Sempre se viu os seres humanos ligados
a regras morais, mas ninguém supôs que essas regras poderiam estar no próprio ser
humano, então à educação cabe desenvolvê-las e, nesse sentido, desenvolver a huma-
nidade que se pode definir por suas ações com e por valor. (DELBOS, 1969, p. 592).
Como expõe Kant: “Fica claro, portanto, quantas coisas uma verdadeira educação re-
quer!”. (KANT, 1999, p. 27).
Segunda Seção
INCLINAÇÕES, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
66
REFLEXÕES FINAIS
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
68 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
Não assegurar a formação dos outros aspectos e dimensões dos seres humanos,
não garantir a formação da humanidade inerente de todo ser humano sem exceção,
implica, ademais, na tecnização dos conhecimentos e, no campo da humanidade e das
ações humanas, apenas a informação ou o conhecimento técnico não são suficientes.
Somente a instrução para os conhecimentos que, sem a atenção com a formação hu-
mana, podem se tornar apenas técnicos, além de não bastar ao pleno desenvolvimen-
to do ser humano, pode ser muito prejudicial pois, quando consideramos somente a
instrução para os conhecimentos técnicos, e nada além, corre-se o risco da barbárie,
exemplificando, a pior dentre todas, o paradoxo da civilização: Auschwitz (ADORNO,
1995, p. 119). Logo, é preciso extinguir a “formação” educacional que assegura e ofe-
rece somente a mera tecnização, as banais receitas do “faça” ou “não faça”, a qual des-
considera a humanidade, a prudência e a consciência moral em relação ao ser humano
total e plural. Decerto essa questão é, no campo das implicações éticas, o significado da
recusa da coisificação dos seres e de suas práticas.
Essa posição nos impõe, uma questão vital, a necessidade de pensar em uma
formação educacional que não se reduza à perspectiva epistemológica como a única
possível, mas que leve em conta o plano plural e heterogêneo do ser humano. O que
implica em uma crítica à formação meramente especulativa que, enquanto única, re-
duz todo conhecimento em mera técnica, empobrece as relações com o outro, retira da
vida a possibilidade de novos modos de pensar e de agir, traz o hábito das ações cris-
talizadas, é incapaz de cuidar dos diversos aspectos e dimensões humanas, consolida
o desrespeito por tudo o que diz respeito ao ser humano e às suas relações, sejam elas
privadas, públicas, sociais, políticas, amigáveis, educacionais.
REFLEXÕES FINAIS
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
70 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
Pensamos ser urgente o olhar atento para uma dignidade última, possível na
esfera do vir a ser humano. Talvez, ainda temos que negar e não aceitar o que o ser
humano é, daí a necessidade de pensar, com seriedade, e buscar efetivar, o que ele
pode e deve ser, contemplando o que é e o que não é possível na esfera de um vir a ser
humano. Em Kant, conforme vimos, isso significa atentar-se, fundamentalmente, para
uma faculdade própria do ser humano, a saber, a faculdade prática da nossa razão.
Uma capacidade da razão de determinação do querer fazer, do querer agir, das es-
colhas pelos bons fins e das decisões genuinamente morais, uma capacidade racional
prática que pode ser desenvolvida pela educação para a sociedade, o que se contrapõe
às interpretações da moralidade kantiana baseadas no entendimento de uma razão
individual e isolada.
sas realidades possam ser melhores e propícias, nas quais o ser humano se realize de
forma plena. Precisamos avistar um futuro como um modo de resposta ao presente.
Destacamos que atravessamos uma situação de crise humana intensa. Não são
poucas as situações que nos sinalizam para uma espécie de fracasso da humanidade
que se mostra, por exemplo, na barbárie das relações entre os externos, na violência, na
banalização do que é o bem ou o mal, no esvaziamento da pessoa humana, em resumo,
no desrespeito e desencantamento por tudo aquilo que se refere ao ser humano e suas
relações. No entanto, reforçamos, ainda que o interesse pelo ser humano tenha se per-
dido e as questões da pessoa, do caráter, da cidadania, da virtude, da autonomia moral
e da liberdade estejam, ao que parece, cada vez mais raras nas experiências cotidianas
da vida humana, ainda assim podemos, e devemos, olhar, com discernimento, para a
possibilidade do ser humano enquanto humano. Nesse sentido, “o ser humano tem,
pois, de ser educado”. (Kant, 2006, p. 219).
REFLEXÕES FINAIS
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
72 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
Nossa posição é, seja por seu valor próprio, seja pelo seu valor prático enquanto
práxis, vemos a indispensabilidade da união entre o pensamento e a realidade. Por
Renata Cristina Lopes Andrade
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
73
REFLEXÕES FINAIS
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
74 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
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INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
77
SOBRE A AUTORA
ÍNDICE REMISSIVO
A Dever 6, 12, 13, 14, 18, 19, 21, 22, 23, 26, 32, 35, 36,
37, 38, 39, 40, 42, 43, 49, 52, 57, 58, 59, 60, 61,
Acordo 12, 19, 20, 21, 27, 30, 31, 34, 36, 37, 40, 41, 62, 63, 64, 65, 66, 71
43, 45, 48, 51, 52, 53, 56, 57, 59, 60, 61, 62, 63,
64, 66, 71 Disciplina 48, 52, 53, 54, 55, 56, 66
Agir 9, 10, 18, 32, 34, 36, 37, 38, 40, 41, 42, 43, 47, 48, E
49, 52, 53, 56, 58, 60, 62, 64, 65, 66, 71, 72
Educação 3, 7, 29, 31, 33, 35, 37, 39, 41, 43, 45, 47, 49,
Alcance 12, 18, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 39, 42, 51, 53, 55, 57, 59, 61, 63, 65, 67
47, 48, 54, 56, 62, 66, 74, 75
Empírica 9, 12, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 41, 43, 44, 65,
Análise 6, 9, 10, 13, 14, 18, 23, 47, 67, 74 71, 76
Animalidade 52, 53, 54, 55, 56 Empírico 19, 20, 23, 24, 25, 27, 40, 41, 42, 46, 65
Autonomia 39, 42, 47, 58, 64, 65, 66, 73, 77, 78 Ética 6, 9, 10, 13, 14, 19, 23, 24, 25, 26, 28, 35, 36, 45,
47, 48, 49, 55, 57, 58, 64, 66, 67, 70, 72, 75
B
Exemplo 9, 12, 14, 18, 19, 20, 22, 25, 26, 27, 30, 31,
Busca 12, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 27, 65, 72, 74 33, 34, 35, 36, 38, 41, 43, 45, 46, 47, 48, 49, 50,
51, 54, 57, 60, 61, 67, 70, 73, 74
C
Experiência 19, 20, 22, 24, 25, 39, 47, 72, 73
Capacidade 10, 36, 37, 39, 40, 42, 46, 47, 53, 54, 57,
62, 63, 64, 70, 72 F
Capaz 19, 20, 32, 33, 36, 37, 39, 40, 42, 43, 45, 48, 49, Faculdade 10, 21, 22, 25, 30, 31, 32, 34, 36, 39, 40,
53, 56, 58, 60, 62, 63, 64, 65, 72 42, 46, 53, 54, 55, 57, 63, 64, 72, 73
Caráter 13, 35, 42, 43, 44, 47, 48, 51, 53, 58, 62, 64, Filosofia 6, 10, 12, 13, 14, 15, 18, 19, 20, 21, 22, 23,
66, 72, 73 24, 25, 26, 27, 28, 36, 39, 43, 44, 45, 46, 47, 48,
Caso 13, 22, 23, 26, 30, 32, 33, 35, 38, 39, 41, 42, 44, 49, 52, 53, 58, 59, 65, 66, 71, 72, 73, 74, 75, 78
46, 48, 50, 51, 53, 54, 55, 60, 63, 75 Filósofo 6, 12, 13, 18, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 26, 30,
Compreender 13, 22, 27, 28, 33, 34, 35, 38, 45, 59, 37, 38, 39, 40, 44, 46, 48, 49, 50, 51, 52, 54, 55,
70, 72, 74 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 72
Compreensão 6, 9, 13, 24, 27, 33, 34, 44, 62, 74, 75 Fins 5, 31, 39, 42, 43, 44, 47, 48, 57, 58, 65, 66, 70, 72
Conceitos 6, 9, 13, 14, 15, 18, 24, 28, 47, 52, 74, 75 Formação 6, 10, 13, 14, 25, 26, 28, 42, 46, 47, 48, 49,
50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 62, 63,
Concepção 6, 13, 14, 25, 26, 36, 42, 46, 47, 48, 49, 57, 64, 65, 66, 67, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 77
63, 65, 72, 73
Fundamentação 6, 18, 23, 24, 30, 31, 37, 38, 40, 43,
Condição 12, 22, 23, 24, 25, 26, 28, 32, 36, 39, 40, 41, 46, 54, 76
44, 46, 50, 52, 56, 64, 70, 72, 75
Fundamental 9, 10, 12, 13, 18, 25, 26, 40, 49, 57, 59,
Conhecimento 19, 22, 24, 33, 39, 48, 61, 64, 70, 71, 61, 62, 64, 65
73, 74
Fundamento 18, 19, 20, 21, 24, 25, 26, 33, 35, 37, 38,
Consciência 10, 33, 35, 36, 37, 40, 41, 45, 46, 57, 58, 39, 40, 41, 42, 45, 54, 57, 60
64, 65, 71
H
Costumes 6, 14, 18, 22, 23, 24, 25, 27, 30, 31, 40, 43,
46, 54, 58, 60, 61, 67, 77 Homem 22, 24, 27, 35, 36, 43, 45, 47, 50, 52, 53, 56,
Crítica 6, 18, 19, 21, 22, 23, 25, 27, 30, 35, 40, 41, 42, 57, 58, 62, 63, 65
43, 48, 52, 54, 55, 76, 77, 78 Humana 6, 9, 10, 12, 13, 19, 22, 23, 24, 25, 26, 35,
36, 37, 39, 40, 41, 42, 43, 46, 47, 48, 49, 50, 51,
D 52, 53, 54, 55, 61, 62, 63, 64, 66, 70, 71, 72, 73,
75, 77
Desejo 9, 12, 30, 31, 32, 34, 38, 39, 42, 45, 46, 52, 55,
63 Humano 9, 10, 12, 13, 14, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26,
27, 30, 32, 35, 36, 37, 39, 40, 42, 43, 44, 45, 46,
Desenvolvimento 18, 19, 26, 46, 47, 48, 49, 50, 51,
47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 60,
52, 54, 55, 56, 57, 58, 60, 62, 64, 65, 66, 70, 71,
61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 70, 71, 72, 73, 74, 75
73, 74
Determinação 14, 20, 21, 22, 23, 32, 35, 37, 39, 40, I
41, 46, 54, 55, 62, 63, 72
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
79
Ideia 24, 32, 35, 42, 47, 56, 57, 61, 64, 65, 66, 72, 73, P
78
Paixões 9, 12, 25, 28, 36, 37, 44, 46, 54, 55, 59, 61,
Immanuel 4, 6, 9, 12, 26, 40, 45, 60, 76, 77, 78 63, 70
Inclinações 6, 9, 12, 13, 14, 15, 25, 28, 30, 31, 33, 34, Palavras 9, 18, 20, 25, 26, 32, 33, 35, 40, 43, 44, 48,
35, 36, 37, 39, 41, 42, 44, 45, 46, 47, 48, 50, 53, 53, 61, 62, 65, 74
54, 55, 56, 59, 61, 62, 63, 64, 65
Pedagogia 6, 14, 26, 27, 48, 50, 53, 54, 64, 65, 73, 76,
Instinto 50, 53, 54, 55, 56 77
Interesse 13, 27, 34, 35, 38, 41, 43, 46, 55, 59, 70, 73 Pensamento 6, 9, 12, 13, 14, 19, 21, 22, 23, 24, 25, 27,
Investigação 10, 14, 19, 21, 22, 23, 25, 40, 48 46, 47, 48, 52, 62, 64, 65, 71, 72, 73, 74, 75
Pensando 45, 56
K
Poder 20, 33, 35, 38, 54, 55, 58, 61, 62, 65
Kant 3, 7, 14, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27,
30, 31, 32, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 43, 44, 45, Possibilidade 13, 18, 20, 21, 22, 23, 25, 26, 28, 39,
47, 48, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 56, 57, 58, 59, 60, 41, 43, 48, 56, 58, 61, 64, 66, 71, 72, 73, 74, 75
61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 71, 75, 76, 77, 78 Prática 6, 12, 13, 14, 15, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25,
Kantiana 6, 12, 13, 14, 18, 19, 22, 25, 27, 30, 35, 36, 26, 27, 30, 35, 37, 39, 40, 42, 43, 44, 45, 46, 47,
39, 41, 42, 48, 49, 50, 51, 52, 55, 56, 57, 59, 62, 48, 49, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61,
64, 65, 66, 70, 72, 73 62, 63, 64, 65, 66, 67, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 78
Prático 6, 12, 13, 14, 18, 19, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 30,
L 32, 36, 38, 39, 41, 42, 43, 44, 46, 48, 49, 52, 54,
55, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 71, 74
Lei 12, 18, 19, 22, 23, 24, 25, 35, 36, 37, 39, 40, 41, 42,
44, 45, 52, 53, 54, 57, 58, 59, 60, 61, 64 Preocupação 18, 19, 20, 23, 30, 39, 42, 43, 44, 46, 48,
49, 54, 63, 70, 71
Liberdade 14, 19, 35, 36, 37, 47, 48, 50, 51, 52, 53, 54,
57, 58, 64, 65, 66, 73, 78 Princípio 7, 12, 13, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 26, 30,
31, 32, 33, 34, 35, 38, 39, 40, 41, 42, 44, 45, 46,
Livre 14, 21, 36, 37, 46, 48, 52, 56, 57, 63, 64 48, 49, 53, 54, 55, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64,
65
M
Propósito 13, 30, 31, 32, 33, 34, 38, 40, 45, 46
Máxima 21, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 40, 41, 42, 49, 56, Própria 10, 12, 21, 26, 32, 35, 42, 43, 48, 50, 52, 53,
57, 60, 61, 62, 63, 65 54, 55, 56, 60, 63, 64, 65, 70, 72
Metafísica 6, 18, 20, 23, 24, 26, 30, 31, 40, 43, 46, 54, Próprio 13, 20, 25, 28, 36, 38, 40, 41, 42, 43, 49, 50,
65, 66, 77 54, 57, 58, 59, 60, 62, 63, 64, 65, 67, 74
Modo 9, 12, 14, 20, 23, 25, 26, 27, 30, 31, 33, 34, 35, Pura 12, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27, 35, 39,
36, 37, 40, 41, 42, 43, 45, 46, 47, 48, 49, 50, 51, 40, 41, 42, 43, 44, 46, 52, 61, 63, 71, 78
52, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 61, 62, 63, 64, 65, 66,
70, 71, 72, 73, 75 Q
Momento 13, 18, 19, 21, 24, 28, 40, 47, 48, 52, 54, 55,
56, 57, 62, 65, 67, 75 Querer 10, 12, 30, 31, 32, 34, 37, 38, 41, 42, 43, 48,
49, 52, 53, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 72
Moralidade 6, 9, 10, 12, 13, 14, 15, 18, 19, 20, 21, 22,
23, 24, 25, 26, 28, 30, 32, 36, 38, 39, 40, 41, 42, Questão 9, 18, 20, 22, 26, 27, 30, 33, 46, 47, 60, 64,
43, 44, 45, 47, 48, 52, 58, 59, 62, 63, 64, 65, 66, 70, 71, 72
72, 73
R
Motivo 19, 20, 21, 31, 32, 34, 35, 39, 42, 45, 46, 57,
59, 60, 61, 62, 66 Racional 9, 10, 12, 13, 22, 23, 24, 31, 35, 36, 39, 40,
41, 42, 46, 50, 54, 61, 64, 72
N
Razão 76, 77, 78
Natureza 10, 12, 13, 14, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 35, 36, Realidade 14, 20, 23, 25, 30, 74
37, 41, 42, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 61, 63, 64, 65,
70 Realização 12, 18, 22, 23, 26, 47, 48, 58, 60, 64, 73
Necessidade 18, 19, 20, 24, 25, 44, 45, 46, 52, 53, 54, Reflexão 9, 13, 14, 24, 62, 72, 74, 75
55, 56, 61, 70, 71, 72, 75 Relação 6, 9, 12, 13, 23, 30, 32, 35, 38, 42, 49, 51, 53,
55, 57, 58, 59, 61, 71
O
Respeito 9, 14, 18, 24, 27, 31, 34, 35, 36, 44, 47, 48,
Objeto 19, 27, 30, 31, 32, 33, 34, 38, 41, 45, 46 51, 52, 54, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65,
INCLINAÇÕES HUMANAS, MORALIDADE E EDUCAÇÃO
80 PENSANDO JUNTO DE IMMANUEL KANT
66, 71
Sensível 12, 13, 22, 23, 30, 34, 35, 36, 38, 39, 41, 42,
44, 46, 50, 51, 54, 61, 63, 64, 72
Sentido 10, 19, 21, 26, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38, 39,
40, 43, 46, 49, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58,
61, 63, 64, 65, 66, 67, 70, 73, 74
Seres 6, 9, 12, 13, 21, 25, 26, 27, 36, 40, 42, 43, 48, 50,
57, 58, 65, 66, 67, 70, 71, 75
Significa 10, 14, 18, 19, 28, 30, 31, 34, 37, 46, 47, 48,
49, 52, 54, 57, 58, 60, 62, 70, 71, 72, 73
Sujeito 19, 21, 22, 31, 32, 35, 36, 37, 41, 42, 43, 57, 58,
60, 61, 62, 65, 78
Supremo 13, 18, 19, 21, 23, 24, 26, 48, 53, 65
Universal 18, 19, 20, 21, 23, 26, 35, 37, 40, 41, 42, 44,
53, 60, 61, 65, 77
Vida 9, 12, 33, 41, 50, 55, 57, 60, 61, 63, 65, 66, 70,
71, 73, 75
Virtude 10, 20, 22, 27, 32, 35, 43, 44, 45, 47, 57, 58,
59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 73, 77
Vontade 10, 14, 18, 21, 25, 32, 33, 35, 36, 37, 38, 39,
40, 41, 42, 44, 46, 62, 63, 65
A partir da análise teórica-filosófica do pensamento Prático
de Immanuel Kant (1724-1804), oferecemos, neste livro, o
esclarecimento conceitual acerca das inclinações humanas,
moralidade e educação, bem como a compreensão das relações
entre esses conceitos na Pedagogia do filósofo alemão do século
XVIII. A filosofia prática de Kant requer a inteira supressão de
toda e qualquer inclinação ou sensibilidade humana? Como
a educação, segundo a concepção kantiana de educação, se
estabelece em relação às inclinações e à formação moral e ética
dos seres humanos? Qual é o dever da educação segundo
Kant? Abordamos aqui os conceitos de inclinações humanas,
moralidade e educação, em especial, nas obras de Kant:
Fundamentação da metafísica dos costumes, Crítica da razão prática
e Sobre a pedagogia. O que nos permite, ademais, observar a
complementaridade das obras que constituem o pensamento
prático de Kant, considerando a sua arquitetura, arranjo e
divisão.