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________________________________________________________ CAPÍTULO 2

GEOMORFOLOGIA

Por

Marcelo Eduardo Dantas


e Antonio Ivo de Menezes Medina

2.1 Metodologia determina a gênese e o ambiente de sedimentação


correspondente, a saber: Apf (planícies fluviais);
O mapa Geomorfológico do Projeto Porto Apfl (planícies flúvio-lagunares); Api (planícies
Seguro visa à identificação, caracterização e intertidais – mangues); Apm (planícies marinhas);
mapeamento de unidades geomorfológicas Arp (recifes de arenito de praia).
homólogas, levando em consideração tanto O quarto taxon corresponde às unidades
aspectos descritivos, associados à geometria das morfológicas ou de padrão de formas semelhantes.
formas de relevo, quanto aspectos genéticos, Representa uma determinada forma de relevo
considerando os condicionantes geobiofísicos que homóloga individualizada do conjunto por foto-
geram a evolução do relevo ao longo do tempo. análise, sendo acrescida à convenção de unidade
Com base nesses pressupostos, adotou-se a denudacional (Dc; Dt; Da; Dp), e dois algarismos
metodologia elaborada pelo Radambrasil arábicos que introduzem dois parâmetros
(Barbosa, 1983) e aprimorada por Ross (1990; morfométricos, a saber: o entalhamento médio dos
1996), introduzindo-se algumas modificações para vales (que confere uma avaliação de
adequar a metodologia selecionada às desnivelamento topográfico) e a dimensão
características da área de estudo numa escala de interfluvial média (que confere uma avaliação de
maior detalhe. densidade de drenagem). Esses parâmetros
A metodologia de Ross (1996) hierarquiza os morfométricos são embutidos na análise
conjuntos de paisagens geomorfológicas em geomorfológica através da matriz de índices de
taxons, introduzindo critérios e uma lógica de dissecação do relevo (Tabela 2.1).
mapeamento e de análise geomorfológica. A fotointerpretação preliminar foi elaborada a
O primeiro taxon corresponde às unidades partir da análise de fotografias aéreas 1:108.000
morfoestruturais. Estas abrangem maior extensão (Sudene, 1982) e imagens de satélite Landsat
em área e representam a influência do substrato 1:100.000 na banda 4 (preto-e-branco) e bandas 7, 4,
geológico (as grandes unidades geotectônicas) na 2 (RGB), onde foram definidas unidades de relevo
configuração atual da morfologia. homólogas.
O segundo taxon corresponde às unidades As informações obtidas foram transferidas para
morfoesculturais e representam a atuação bases cartográficas elaboradas pela Sudene, escala
diferencial dos processos geomorfológicos 1:100.000 – folhas Monte Pascoal, Porto Seguro, Salto
(eventos tectônicos, processos erosivos ou da Divisa, Guaratinga e Santo André, produzindo-se,
deposicionais) na esculturação do relevo, dentro assim, o mapa geomorfológico preliminar.
de uma mesma unidade morfoestrutural. Esse mapa preliminar foi checado em etapas de
O terceiro taxon corresponde às unidades reconhecimento de campo para verificação das
geomorfológicas e representam unidades de relevo unidades de relevo e refinamento de seus limites;
homólogas. Pode-se subdividir as unidades avaliação de desnivelamentos topográficos dos vales
geomorfológicas em dois conjuntos principais, ou colinas e gradientes das encostas; observação de
conforme sua natureza genética: formas de processos geomorfológicos (erosão e sedimentação)
Denudação (D) e formas de Acumulação (A). As atuantes na área de estudo.
formas denudacionais (D) têm acrescida uma letra O mapa Geomorfológico do Projeto Porto Seguro
minúscula que determina a geometria dos topos e foi consolidado a partir das informações obtidas
os processos morfogenéticos atuantes, a saber: Dc através do reconhecimento de campo, realizando-
(topos arredondados); Da (topos aguçados); Dt se uma revisão do mapa geomorfológico
(interflúvios tabulares); Dp (superfícies planas); preliminar. Dessa forma, foram introduzidas
De (formas de escarpas); Dv (formas de modificações, com base nos levantamentos de
vertentes). As formas deposicionais (A), por sua campo e nos dados cartografados dos mapas
vez, têm acrescida uma letra minúscula que Geológico e Reconhecimento de Solos.

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Dimensão Entalhamento Médio dos Vales (Classes)
Interfluvial Média Muito Fraco (1) Fraco (2) Médio (3) Forte (4)
(Classes)
(<20m) (20 a 40m) (40 a 60m) (60 a 80m)
Pequena (1)
11 12 13 14
100 a 300m
Média (2)
21 22 23 24
300 a 700m
Grande (3)
31 32 33 34
700 a 1.500m
Muito Grande (4)
41 42 43 44
>1.500m

Tabela 2.1 – Matriz dos índices de dissecação do relevo – escala 1:100.000 (adaptado de
Barbosa, 1983; Ross, 1996).

2.2 Compartimentação Geomorfológica encaixamento recente da rede de drenagem


principal.
A geomorfologia dos municípios de Porto No contexto regional, a superfície pré-litorânea
Seguro e Santa Cruz Cabrália foi hierarquizada estende-se numa vasta área do território do extremo
em unidades morfoestruturais, unidades sul da Bahia, dos tabuleiros costeiros à encosta do
morfoesculturais, unidades geomorfológicas e planalto Sul-Baiano (Gouvêa, 1971), caracterizando-
padrões de relevo, conforme pode ser visto no se como uma depressão marginal. Trata-se de uma
Quadro 2.1. extensa superfície de erosão gerada no Terciário
superior, associada à superfície Velhas (King, 1956)
2.2.1 Faixa Móvel ou ao Pd1 (Bigarella et al., 1965).

O termo faixa Móvel (Pinto et al., 1997; 2.2.1.1a Superfície Colinosa


Moraes Filho et al., 1999) é utilizada de modo
genérico para incluir as associações litológicas, Essa unidade geomorfológica, tipicamente
até então abrangidas tanto pela faixa Araçuaí, colinosa, assemelha-se ao domínio morfoclimático
como pelo cinturão Atlântico, representadas na de “mar-de-morros”, de grande relevância no
área do projeto por granitóides e gnaisses sudeste brasileiro (Ab’Saber, 1966). Ocorre, de
migmatíticos paleoproterozóicos e granitos e forma restrita, no sudoeste do município de Porto
rochas supracrustais neoproterozóicos. Seguro, junto à estrada de acesso ao Parque
Nacional do Monte Pascoal, e no extremo noroeste
2.2.1.1 Superfície Pré-Litorânea do município de Santa Cruz Cabrália. A superfície
colinosa está representada pelos padrões de relevo
Essa unidade morfoescultural comprende um Dc22; Dc13; Dc23 e limita-se a leste com os
conjunto de formas de relevo esculpidas sobre o tabuleiros costeiros.
embasamento ígneo e metamórfico da faixa Móvel, Na área de estudo, essa unidade pode ser
constituído por gnaisses e granitóides, de idade caracterizada por colinas convexo-côncavas com
paleoproterozóica, e kinzigitos, xistos e quartzitos, vertentes suaves (10º a 20o) e topos arredondados,
de idade neoproterozóica do grupo Macaúbas localmente rampeadas, com amplitude de relevo
(Moraes Filho et al., 1999). Essa unidade localiza-se entre 40 e 80m (Foto 2.1), entremeadas por
na porção sudoeste do município de Porto Seguro, morrotes, pontões rochosos e morros um pouco mais
na porção ocidental do município de Santa Cruz elevados, com topos arredondados a aguçados (Foto
Cabrália e ao longo dos vales encaixados dos rios do 2.2). Essa zona colinosa reflete a superfície de
Peixe/Buranhém e dos Frades, podendo ser erosão associada à superfície pré-litorânea,
associada a formas de relevo residuais ao apresentando padrão de drenagem dendrítico.
afogamento generalizado do relevo proporcionado A superfície colinosa ocupa uma área de
pelos eventos de sedimentação que geraram o grupo 4,43% do município de Porto Seguro e 1,04%
Barreiras, ou a formas de relevo exumadas pelo do município de Santa Cruz Cabrália.

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Unidade Unidade
Unidade Geomorfológica Padrão de Relevo
Morfoestrutural Morfoescultural
Superfície Colinosa Dc13; Dc22; Dc23
Colinas Tabulares Dct14; Dct23; Dct24
Montes Residuais
Superfície Pré- Da
Faixa Móvel (Monadnocks)
Litorânea
Colinas Residuais Isoladas Dcr; Dcr23; Dcr24
Escarpas Degradadas Ded13; Ded14
Vales Encaixados Dve
Tabuleiros Muito Dissecados Dt11; Dt12
Dt21; Dt22; Dt23;
Tabuleiros Dissecados
Tabuleiros Dt31; Dt32; Dt33
Grupo Barreiras
Costeiros Tabuleiros Pouco Dissecados Dt41; Dt42; Dt43
Superfícies Tabulares Dp
Escarpas de Tabuleiros De
Rampas de Colúvio Arc
Planícies Fluviais Apf
Planícies Flúvio-Lagunares Apfl
Formações
Planícies Flúvio- Planícies Intertidais
Superficiais Api
Marinhas (Mangues)
Quaternárias
Planícies e Terraços Marinhos Apm
Recifes de Arenitos de Praia Arp
Recifes de Bancos de Corais Ar

Quadro 2.1 – Legenda do Mapa Geomorfológico do Projeto Porto Seguro (Escala: 1:100.000).

2.2.1.1b Colinas Residuais Isoladas As colinas residuais isoladas estão representadas


pelo padrão de relevo Dcr; Dcr23; Dcr24.
Essa unidade geomorfológica consiste de colinas Essa unidade pode ser caracterizada por colinas
suaves e isoladas em meio aos tabuleiros e convexas de topo arredondado e gradientes suaves a
representam os topos mais elevados da médios (10º a 25o), e com amplitude de relevo entre
paleotopografia terciária, que não foi soterrada pelos 40 a 60m, que emerge da superfície deposicional dos
pulsos de sedimentação que geraram o espesso tabuleiros costeiros (Fotos 2.3 e 2.4).
pacote sedimentar do grupo Barreiras. São, portanto, As colinas residuais isoladas ocupam uma exígua
formas de relevo residuais ante o processo de área de 0,18% do município de Porto Seguro e
afogamento generalizado do relevo ocorrido no 2,75% do município de Santa Cruz Cabrália.
Terciário superior. As colinas residuais isoladas
ocorrem de forma disseminada na porção centro- 2.2.1.1c Montes Residuais (Monadnocks)
oeste da área de estudo, especialmente no noroeste
de Porto Seguro, e em toda a porção ocidental de Essa unidade geomorfológica consiste de relevos
Santa Cruz Cabrália. Destaca-se, nesse contexto, residuais proeminentes (monadnocks), que se
uma elevação onde foi instalada a torre de destacam topograficamente do relevo colinoso da
transmissão da Embratel, com formato ovalado e superfície pré-litorânea e ocorre, de forma restrita,
padrão de drenagem centrífugo e anelar, embasado no extremo sudoeste do município de Porto Seguro,
por um gnaisse granítico (Moraes Filho et al., 1999) junto à estrada de acesso ao Parque Nacional do
e destacado das outras colinas residuais e dos Monte Pascoal. Os montes residuais ocupam
tabuleiros por erosão diferencial, com altitude de pequenas áreas representadas pelo padrão de relevo
255m e cerca de 100m acima da superfície regional. Da. Registram apenas duas ocorrências na área de

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estudo: o imponente monte Pascoal, com 549m de À medida que progride o recuo erosivo das escarpas
altitude e 400m acima da superfície pré-litorânea, e a estruturais, ocorrem fenômenos de captura de drenagem
porção setentrional de um alinhamento serrano e inversão de relevo. Nesses sítios, os processos erosivos
isolado que se estende em direção ao município de são potencializados, conforme observado na escarpa sul
Prado, com altitudes em torno de 300 a 400m. do rio do Peixe/Buranhém, onde seus curtos tributários
Na área de estudo, essa unidade pode ser com forte gradiente estão avançando de forma
caracterizada por um relevo montanhoso, que se remontante, destruindo os divisores rebaixados dos
destaca da superfície aplainada circundante por tabuleiros e capturando cabeceiras de drenagem de
erosão diferencial e consiste de escarpamentos canais extensos e de fraca declividade das bacias dos
rochosos, com gradientes acima de 45o, rios dos Frades e Trancoso. Freqüentemente, esse
apresentando depósitos de tálus localizados no sopé. processo de inversão de relevo inicia-se com a captura
Os solos são muito pouco desenvolvidos e a de água subterrânea (lençol freático), antes de se
drenagem é incipiente, devido à reduzida extensão concretizar a mudança de trajetória do rio capturado
dessas formas de relevo (Foto 2.5). (Coelho Netto & Fernandes, 1990).
Os montes residuais ocupam apenas uma exígua As escarpas degradadas produzem vertentes
área de 0,18% do município de Porto Seguro. íngremes e bastante dissecadas, com gradientes
muito elevados (30º a 45o) e desnivelamentos
2.2.1.1d Escarpas Degradadas significativos (60 a 100m). Verificam-se, em campo,
sérios problemas relacionados à erosão dos solos
Essa unidade geomorfológica consiste, também, (Foto 2.6).
numa zona de transição entre as formas de relevo As escarpas degradadas ocupam uma área de
esculpidas sobre terrenos sedimentares e cristalinos, 6,50% do município de Porto Seguro.
caracterizada pelo recuo erosivo das escarpas
estruturais produzidas por neotectônica ao longo do 2.2.1.1e Vales Encaixados
médio curso dos vales principais na região, sendo que
o substrato cristalino aflora na base e meia-encosta Essa unidade geomorfológica é gerada ao longo
das escarpas recuadas e os sedimentos do grupo dos principais canais fluviais da região, onde os rios
Barreiras afloram na parte superior da escarpa. As têm maior competência em dissecar e aprofundar seu
escarpas degradadas ocorrem nos médios cursos dos leito, produzindo vales mais entalhados e escavados
vales dos rios do Peixe/Buranhém e dos Frades, sobre os tabuleiros do grupo Barreiras. Os vales
bordejando os tabuleiros costeiros, e a montante das apresentam desnivelamentos bastante superiores em
grandes planícies flúvio-lagunares, sendo também relação aos seus vales adjacentes. Os vales
mapeadas no médio curso do vale do rio Caraíva, encaixados ocorrem ao longo dos médios cursos dos
embora não sendo tão representativas. Essa unidade vales dos rios do Peixe/Buranhém, João de Tiba ou
está representada pelos padrões de relevo Ded13; Santa Cruz, Santo Antônio, Pedra Branca, Pedrinhas
Ded14. e córrego da Queimada. Com exceção do rio do
A rede de drenagem tributária dos canais-tronco Peixe/Buranhém, todos os outros rios localizam-se
promove a dissecação e o recuo das escarpas no município de Santa Cruz Cabrália. Os vales
estruturais, demonstrando, em diversas situações, encaixados estão representados pelo padrão de
facetas triangulares, ao longo dos escarpamentos. relevo Dve, sendo bordejado pelos tabuleiros
Essa rede de canais tem curta extensão e elevado costeiros. Ocorrem, também, associados às escarpas
gradiente, sendo iniciados freqüentemente em degradadas e colinas tabulares. Esses vales
cabeceiras de drenagem sob a forma de anfiteatros assemelham-se aos vales encaixados observados na
profundos de formato conchoidal, muito zona de tabuleiros muito entalhados da bacia do rio
semelhantes às concavidades estruturais descritas Caraíva.
por Avelar & Coelho Netto (1992). Devido à Essa unidade pode ser caracterizada por vales
morfologia dessas cabeceiras de drenagem, sua profundos e escavados, por vezes escarpados (rio do
origem deve estar associada à exfiltração de água Peixe/Buranhém) (Foto 2.7) ou recobertos por
subterrânea pela rede de fraturamentos na base dos sedimentos fluviais (rio Santo Antônio) (Foto 2.14).
escarpamentos onde aflora substrato cristalino, ou no Os vales apresentam vertentes com gradientes muito
contato entre o embasamento e os sedimentos do íngremes (acima de 45o) e desnivelamentos
grupo Barreiras. Essa surgência de água nas significativos (40 a 60m nos rios menores e 60 a
vertentes gera túneis erosivos (pipe erosion) e 100m nos rios do Peixe/Buranhém e João de Tiba).
cataliza movimentos de massa, promovendo, assim, Justifica-se individualizar os vales encaixados como
a gênese dessas formas côncavas peculiares nas uma unidade geomorfológica por tratar-se de área
vertentes. com alta vulnerabilidade à erosão.

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Os vales encaixados ocupam uma área de 2,35% baixa maturidade textural e mineralógica (Moraes
do município de Porto Seguro e 4,26% do município Filho et al., 1999).
de Santa Cruz Cabrália. Diversos autores têm interpretado que a
deposição dos sedimentos do grupo Barreiras
2.2.1.1f Colinas Tabulares deu-se a partir do progressivo soerguimento das
áreas continentais e concomitante abatimento das
Essa unidade geomorfológica reflete uma zona de áreas litorâneas contíguas ao longo da costa
transição entre as formas de relevo esculpidas sobre atlântica brasileira. Consistem, portanto, de um
terrenos sedimentares e cristalinos. Caracteriza-se preenchimento sedimentar proveniente de leques
por vales profundos e encaixados, escavados em aluviais e depósitos fluviais e flúvio-lacustres de
rochas pré-cambrianas, preservando, nos topos, os origem continental (Mabesoone et al., 1972;
sedimentos do grupo Barreiras. As colinas tabulares Bigarella, 1975), originando a unidade
ocorrem no noroeste do município de Porto Seguro, litoestratigráfica grupo Barreiras, que se distribui
ao longo dos divisores entre os rios do espraiadamente ao longo de toda a costa do sul do
Peixe/Buranhém e dos Frades (médio curso), estado da Bahia. Tal preenchimento consiste de
ocorrendo também, de forma localizada, na região vários pulsos de sedimentação, tentativamente
do médio curso do rio João de Tiba. A vila de São situados entre o Mioceno e o Pleistoceno inferior.
José do Panorama (antiga Queimados) situa-se nessa A neotectônica, posterior à deposição do grupo
unidade. As colinas tabulares estão representadas Barreiras, afetou esses sedimentos, atuando
pelos padrões de relevo Dct23; Dct14; Dct24, decisivamente na compartimentação dos tabuleiros
situando-se, em geral, ao longo dos canais-tronco da costeiros e na geração de grabens, preenchidos por
região, a montante das grandes planícies flúvio- uma sedimentação fluvial, flúvio-lagunar ou
lagunares. marinha de idade quaternária.
Essa unidade pode ser caracterizada por colinas
de vertentes retilíneas a côncavas e topos planos 2.2.2.1 Tabuleiros Costeiros
(tabular), formando espigões alongados e
digitados, profundamente dissecados por uma Essa unidade morfoescultural compreende um
densa rede de drenagem apresentando padrão conjunto de formas de relevo de degradação,
paralelo. Os vales encaixados são bastante esculpidas sobre os sedimentos continentais de idade
íngremes, com vertentes de 30º a 40o, produzindo terciária do grupo Barreiras. Abrange uma grande
desnivelamentos significativos (60 a 100m) (Foto extensão sobre os municípios de Porto Seguro e
2.8). Esse tipo de relevo resulta de uma dissecação Santa Cruz Cabrália, perfazendo uma área de
mais eficiente dos canais com maior competência aproximadamente 80% desses municípios. Os
fluvial (rios dos Frades, do Peixe/Buranhém e processos neotectônicos atuantes na região afetaram
João de Tiba), que removeram toda a capa de fortemente esses terrenos, gerando grabens e
sedimentos do grupo Barreiras e expuseram nos promovendo basculamento de blocos, o que
fundos de vales escavados o substrato cristalino. A acarretou em direções e entalhamentos diferenciais
capa remanescente da sedimentação terciária da rede de drenagem, com padrão paralelo, ao longo
modelou os topos planos das colinas. Nessa dos tabuleiros costeiros (Saadi, 1998). Desse modo,
unidade verificam-se, em campo, os maiores os tabuleiros foram subdivididos em unidades
problemas relacionados à erosão dos solos na geomorfológicas (tabuleiros muito dissecados;
região. tabuleiros dissecados; tabuleiros pouco dissecados)
As colinas tabulares ocupam uma área de 8.68% segundo o grau de dissecação impresso pela rede de
do município de Porto Seguro e 4.92% do município drenagem, levando-se em consideração a densidade
de Santa Cruz Cabrália. de drenagem e o aprofundamento dos vales.
No contexto regional, os tabuleiros costeiros
2.2.2 Sedimentos Terciários: Grupo Barreiras estendem-se numa vasta área da fachada litorânea
do extremo sul da Bahia, entre o relevo colinoso
Os sedimentos terciários do grupo Barreiras na proeminente da superfície pré-litorânea e o litoral,
área de estudo ocorrem sob a forma de extensos muitas vezes atingindo a linha de costa por meio
tabuleiros ligeiramente inclinados em direção à costa de falésias ativas, que atingem até 40m de
e repousam discordantemente sobre as rochas do desnivelamento.
embasamento cristalino. No grupo Barreiras é
marcante a alternância de depósitos pelíticos e 2.2.2.1a Tabuleiros Muito Dissecados
psamo-psefíticos, dando ao conjunto um aspecto
grosseiramente acamadado. Os sedimentos são Essa unidade geomorfológica consiste de
predominantemente arenosos, malselecionados, com tabuleiros costeiros apresentando uma alta densidade

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de drenagem e, portanto, uma dissecação muito ravinamentos resultantes do escoamento pluvial
intensa associada, geralmente, a um baixo superficial concentrado.
aprofundamento dos vales. Os tabuleiros muito Os tabuleiros dissecados ocupam uma área de
dissecados ocorrem, de forma localizada, na porção 24.31% do município de Porto Seguro e 42.78% do
leste do município de Santa Cruz Cabrália e no município de Santa Cruz Cabrália, sendo que os
extremo nordeste do município de Porto Seguro, tabuleiros dissecados que apresentam vales
freqüentemente associados à presença de grandes profundos ocupam uma área de 26,34% do
manchas de Podzóis, com lençol freático raso. Está município de Porto Seguro e 3,68% do município de
representada pelos padrões de relevo Dt11; Dt12 e Santa Cruz Cabrália.
limita-se, a oeste, com tabuleiros menos dissecados.
Essa unidade pode ser caracterizada por 2.2.2.1c Tabuleiros Pouco Dissecados
tabuleiros ou colinas tabulares de topos planos a
levemente arredondados, freqüentemente sulcados Essa unidade geomorfológica consiste de
por uma densa rede de pequenos canais, tabuleiros costeiros com baixa densidade de
apresentando vales encaixados de pequeno drenagem e dissecação moderada, podendo
aprofundamento (geralmente inferiores a 20m) e comportar vales com aprofundamentos
gradientes médios (15º a 25o). Apenas os vales diferenciados. Os tabuleiros pouco dissecados
principais dessa área apresentam um entalhamento ocorrem predominantemente na porção centro-sul do
mais significativo, tais como os vales dos rios município de Porto Seguro, ocupando vastas áreas
Santo Antônio, Jardim, dos Mangues e os córregos da bacia do rio Caraíva, ocorrendo também, de
Braço do Norte e Braço do Sul. forma localizada, na porção norte do município de
Os tabuleiros muito dissecados ocupam uma área Santa Cruz Cabrália, próximo à vila de Barrolândia.
de 0,94% do município do município de Porto Estão representados pelos padrões de relevo Dt41;
Seguro e 15,90% do município de Santa Cruz Dt42; Dt43.
Cabrália. Trata-se de extensos tabuleiros episodicamente
sulcados por extensos canais, formando uma rede de
2.2.2.1b Tabuleiros Dissecados baixa densidade de drenagem, com vales encaixados
de aprofundamento variado (15 a 60m) e gradientes
Essa unidade geomorfológica consiste de médios a elevados (15º a 35o). Os extensos topos
tabuleiros costeiros apresentando uma média planos dos tabuleiros favorecem o desenvolvimento
densidade de drenagem e uma dissecação intensa, das atividades agropecuárias em larga escala.
podendo comportar vales com aprofundamentos Os vales mais profundos inseridos na bacia do rio
diferenciados. Os tabuleiros dissecados Caraíva (córregos da Água Branca, do Jambeiro, do
representam a unidade de maior abrangência Marinheiro e Grapiúna) apresentam um processo de
espacial na área de estudo e ocupam vastas alargamento responsável pela transformação dos
extensões nos municípios de Santa Cruz Cabrália vales encaixados em “V” para vales em “U”,
e Porto Seguro. Os sítios urbanos das vilas de típicos dos terrenos do grupo Barreiras, como
Pindorama, Vera Cruz, Arraial D’Ajuda, Trancoso ocorre nos vales-tronco da área de estudo. Esse
e de parte da periferia de Porto Seguro (bairros do processo de alargamento decorre de movimentos
Baianão e do Paraguai) ocupam as áreas planas de massa nas paredes escarpadas dos vales
dos topos desses tabuleiros. Essa unidade está encaixados, promovendo o seu recuo e
representada pelos padrões de relevo Dt21; Dt22; depositando no sopé rampas de colúvio que, por
Dt23; Dt31; Dt32; Dt33. As áreas dos tabuleiros sua vez, são parcialmente dissecadas e removidas
dissecados que apresentam o maior pelos canais fluviais. A sucessão de eventos de
aprofundamento dos vales localizam-se no extenso movimentos de massa promove o alargamento
interflúvio entre os rios dos Frades e do progressivo do vale e uma justaposição de
Peixe/Buranhém, onde se insere a Estação seqüência de rampeamentos, episodicamente
Ecológica Pau-Brasil e em trechos do médio curso entalhados pelo rio, configurando-se numa
da bacia do rio João de Tiba. paisagem de encostas instáveis, com marcas de
Caracteriza-se por tabuleiros sulcados por uma erosão e fundos de vales entulhados de sedimentos
rede de canais de aprofundamento variado (15 a (Foto 2.10).
60m) e gradientes médios a elevados (15º a 35o). Os tabuleiros pouco dissecados ocupam uma área
Os topos planos dos tabuleiros apresentam baixa de 6,08% do município de Porto Seguro e 13,29%
vulnerabilidade à erosão (Foto 2.9). Os vales do município de Santa Cruz Cabrália, sendo que os
encaixados, principalmente os de maior tabuleiros pouco dissecados que apresentam vales
aprofundamento, consistem em área de alta profundos ocupam uma área de 9,66% do município
vulnerabilidade à erosão, onde ocorrem sulcos e de Porto Seguro.

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2.2.2.1d Superfícies Tabulares Essa unidade destaca-se por uma vulnerabilidade
muito alta à erosão dos solos na região.
Essa unidade geomorfológica consiste de As falésias do grupo Barreiras consistem em
tabuleiros costeiros não-dissecados devido à escarpas erosivas dos tabuleiros devido à abrasão
inexistência de uma rede de drenagem sobre os marinha, possuindo uma grande beleza cênica. Essas
interflúvios planos. As superfícies tabulares falésias podem ser classificadas em falésias ativas ou
ocorrem, de forma restrita, na porção noroeste do paleofalésias. As paleofalésias não sofrem mais
município de Santa Cruz Cabrália e consistem em ataque da erosão marinha, devido ao
zonas de interflúvio entre os rios Jequitinhonha, desenvolvimento de uma planície costeira em linha
Santo Antônio, João de Tiba e córrego de costa progradante. As falésias ativas sofrem ainda
Malacacheta, onde se situam os núcleos urbanos a ação erosiva das ondas e situam-se em trechos da
de Ponto Central e Barrolândia. Essa unidade está linha de costa entre Arraial D’Ajuda e Trancoso e
representada pelo padrão de relevo Dp e limita-se entre Itaquena e Caraíva (Foto 2.12).
a oeste com a superfície colinosa; a leste e a sul, As escarpas de tabuleiros ocupam uma exígua
com os tabuleiros dissecados. área de 1,09% do município de Porto Seguro.
Pode ser caracterizada por extensas superfícies
planas ou aplainadas, com gradientes inexpressivos 2.2.2.1f Rampas de Colúvio
(menos de 3o), amplamente utilizadas para
atividades agropecuárias, com destaque para a Essa unidade geomorfológica situa-se nos fundos
cultura de cana-de-açúcar e o plantio de eucaliptos. de vales de alguns cursos fluviais da área de estudo,
O rebordo dessas superfícies aplainadas é delimitado notadamente sobre tabuleiros pouco dissecados e de
pelas vertentes íngremes dos vales encaixados, tais grande entalhamento dos vales (Dt43), localizados
como os rios Santo Antônio e João de Tiba. na porção centro-sul do município de Porto Seguro.
As superfícies tabulares ocupam uma área de As rampas de colúvio consistem de depósitos de
5,97% do município de Santa Cruz Cabrália. encosta, arenoargilosos ou argiloarenosos,
malselecionados, originados por movimentos de
2.2.2.1e Escarpas de Tabuleiros massa (Bigarella & Mousinho, 1965). Essas feições
localizam-se embutidas em vales encaixados em
Essa unidade geomorfológica resulta das “U”, com aprofundamentos muito pronunciados
atividades neotectônicas responsáveis pela formação (entre 40 e 80m de desnivelamento), sendo
de grabens, onde foram instalados os principais resultantes do recuo das bordas íngremes dos
canais da região. Tais atividades geraram, nas bordas tabuleiros (Foto 2.13). Esses depósitos ocorrem, de
de tabuleiros, escarpas estruturais, íngremes e forma localizada, no médio curso do rio Caraíva,
elevadas. Ao contrário das escarpas degradadas que sendo encontradas, também, evidências de
ocorrem a montante em substrato cristalino, as rampeamento na escarpa de tabuleiro degradada da
escarpas de tabuleiros não apresentam grande recuo borda sul do baixo curso do rio dos Frades. As
erosivo, demonstrando ainda facetas trapezoidais e rampas de colúvio denotam um processo de
triangulares em certos trechos. As escarpas de alargamento progressivo dos vales da bacia do
tabuleiros ocorrem nos baixos cursos dos vales dos rio Caraíva e, freqüentemente, seu padrão
rios do Peixe/Buranhém, dos Frades e João de Tiba, morfológico acusa sucessivos eventos de
formando degrau imponente entre os tabuleiros rampeamento das bordas dos tabuleiros
costeiros e as grandes planícies flúvio-lagunares intercalados com períodos de entalhamento dos
(Foto 2.11). Próximo às desembocaduras desses rios, depósitos pelos sistemas de drenagem, gerando
as escarpas tornam-se mais baixas e degradadas, os denominados “Complexos de Rampas”,
apresentando declives mais suaves e rampeamentos, conforme descrito por Meis & Moura (1984) no
especialmente nas bordas sul dos rios dos Frades e sudeste brasileiro. Diversas rampas de colúvio
do Peixe/Buranhém. Contudo, as feições mapeáveis situadas em córregos de menor porte da bacia do
na escala de análise resumem-se às escarpa norte e rio Caraíva (córregos das Bocas, da Água
sul do rio do Peixe/Buranhém e à escarpa norte do Branca, do Jambeiro e Grapiúna) não foram
rio dos Frades. Essa unidade está representada pelo mapeadas devido à falta de representatividade
padrão de relevo De. espacial na escala de análise. Essa unidade está
A rede de drenagem tributária dos canais-tronco é representada pelo padrão de relevo Arc e
muito efêmera, não promovendo uma dissecação delimita-se com as bordas íngremes dos
expressiva das escarpas dos tabuleiros. As escarpas tabuleiros costeiros.
de tabuleiros apresentam vertentes muito íngremes e As rampas de colúvio ocupam uma exígua área
uniformes, com gradientes muito elevados (30º a de 0,37% do território do município de Porto
45o) e desnivelamentos significativos (60 a 100m). Seguro.

15
2.2.3 Formações Superficiais Quaternárias representatividade espacial na escala de análise do
trabalho. Essa unidade está representada pelo padrão
As formações superficiais quaternárias foram de relevo Apf e delimita-se com as bordas íngremes
classificadas na área em estudo por Moraes Filho et dos tabuleiros costeiros.
al. (1999) em oito unidades: quatro de ambientes As planícies fluviais ocupam uma exígua área de
continentais e quatro de origem marinha. 0,48% do município de Porto Seguro e 0,99% do
As unidades continentais são representadas município de Santa Cruz Cabrália.
pelos depósitos detrítico-lateríticos, arenosos
predominantemente residuais, flúvio-lagunares e 2.2.3.1b Planícies Flúvio-Lagunares
fluviais.
As unidades marinhas, por sua vez, são Essa unidade geomorfológica situa-se nos
representadas pelos recifes de corais, arenitos de fundos de vales dos principais rios da área de
praia, pântanos e mangues, além dos terraços estudo, abaixo do limite máximo atingido pela
arenosos de ampla distribuição ao longo da costa. penúltima transgressão. Tais planícies foram
geradas a partir do último máximo transgressivo
2.2.3.1 Planícies Flúvio-Marinhas (há cerca de 5.100 anos AP), com a formação de
antigos corpos lagunares, isolados do oceano pela
Essa unidade morfoescultural compreende um formação de ilhas-barreiras, que preencheram as
conjunto de formas de relevo de agradação geradas reentrâncias da linha de costa e que foram sendo
durante o Pleistoceno superior e o Holoceno por progressivamente colmatadas pela sedimentação
uma interação de processos fluviais, lagunares e fluvial com o movimento regressivo subseqüente
marinhos determinada pelos ciclos transgressivo- (Martin et al., 1999a). As planícies flúvio-
regressivos atuantes na costa leste brasileira (Suguio lagunares resultam, portanto, da interface de
et al., 1985). Localiza-se de forma restrita junto à processos de sedimentação de ambientes lagunares
linha de costa e adquire expressão ao longo dos e fluviais e consistem de depósitos argilosos ou
baixos cursos dos principais rios da região (Caraíva, argiloarenosos, enriquecidos de matéria orgânica,
dos Frades, do Peixe/Buranhém e João de Tiba). estando embutidos nos baixos cursos dos vales
Ao longo da costa dos municípios de Porto encaixados em “U”, freqüentemente inundáveis.
Seguro e Santa Cruz Cabrália, as planícies flúvio- Ocorrem com grande expressão espacial nos
marinhas não abrangem uma área expressiva, sendo baixos cursos dos vales tectônicos dos rios dos
diversas vezes interrompidas por trechos das falésias Frades, do Peixe/Buranhém (Foto 2.11) e João de
ativas do grupo Barreiras. Essas planícies se alargam Tiba, sendo relevantes também nos baixos cursos
tanto a norte, associadas à planície deltaica dos rios dos rios Corumbau, Caraíva e tributários,
Jequitinhonha e Prado, quanto a sul, associadas à Trancoso, Caramugi e Santo Antônio, assim como
planície marinha de Caravelas-Nova Viçosa (Martin em rios de menor porte que deságuam diretamente
et al., 1980). no litoral. As planícies flúvio-lagunares também
são relevantes junto às planícies costeiras,
2.2.3.1a Planícies Fluviais principalmente na zona costeira do município de
Santa Cruz Cabrália. Essa unidade está representada
Essa unidade geomorfológica situa-se nos pelo padrão de relevo Apfl e delimita-se com as
fundos de vales dos principais rios da área de bordas íngremes, ou com as escarpas estruturais dos
estudo, acima do limite máximo atingido pela tabuleiros costeiros.
penúltima transgressão, sendo descartada qualquer As planícies flúvio-lagunares ocupam uma área
influência de sedimentação de origem marinha ou de 6,16% do município de Porto Seguro e 2,63% do
lagunar nesses fundos de vales, conforme proposto município de Santa Cruz Cabrália.
por Martin et al. (1980). As planícies fluviais
consistem de depósitos arenosos ou 2.2.3.1c Planícies Intertidais (Mangues)
argiloarenosos, embutidos em vales encaixados
em “U”, episodicamente inundáveis e ocorrem, de Situam-se nas desembocaduras protegidas dos
forma restrita, nos médios cursos encaixados dos principais rios, na zona de influência de marés,
rios dos Frades e do Peixe/Buranhém e, sofrendo influência de variações do nível do
espraiadamente, ao longo dos médios vales dos mar ou da descarga de sedimentos dos sistemas
rios Caraíva, João de Tiba, Santo Antônio (Foto fluviais, acarretando um avanço ou recuo do
2.14) e córregos Braço do Norte e Braço do Sul. ambiente, em relação à linha de costa. As
Diversas planícies fluviais de rios e córregos de planícies intertidais (mangues) consistem de
menor porte ou a montante das áreas já assinaladas depósitos argilosos orgânicos, localizados em
não foram mapeadas, devido à falta de áreas alagadas, e ocorrem nas desembocaduras

16
dos rios Corumbau, Caraíva (Foto 2.16), dos tabuleiros costeiros (falésias).
Frades, do Peixe/Buranhém, João de Tiba e Santo As planícies e terraços marinhos ocupam uma área
Antônio, assim como na desembocadura de rios de 1,45% do município de Porto Seguro e 1,29% do
de menor porte, associados a planícies costeiras. município de Santa Cruz Cabrália.
Está representada pelo padrão de relevo Api e
delimita-se com as planícies marinhas e flúvio- 2.2.3.1e Recifes de Arenitos de Praia
lagunares, ou com as bordas íngremes dos
tabuleiros costeiros. Essa unidade geomorfológica situa-se junto à
As planícies intertidais ocupam uma exígua linha de costa ao largo das desembocaduras dos rios
área de 0,78% do município de Porto Seguro e do Peixe/Buranhém e João de Tiba, formando áreas
0,47% do município de Santa Cruz Cabrália. protegidas da ação das ondas, onde se desenvolvem
extensos manguezais à sua retaguarda, assim como
2.2.3.1d Planícies e Terraços Marinhos formam excelentes atracadouros naturais que
justificaram a implantação dos núcleos urbanos e
Essa unidade geomorfológica situa-se nas portuários de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália.
planícies costeiras, adjacentes à linha de costa da Os recifes de arenitos de praia consistem de antigos
área de estudo. Os cordões arenosos são de idade cordões arenosos, sob forma de ilhas-barreiras,
holocênica e foram gerados a partir do último consolidados por cimentação carbonática, gerando
máximo transgressivo (há cerca de 5.100 anos importantes obstáculos físicos à propagação das
AP), com a consolidação de ilhas-barreiras ondas sobre a linha de costa adjacente e interferindo
paralelas ao litoral. Durante o posterior período de nos processos de erosão e sedimentação costeira.
regressão marinha, ocorreu uma progradação da Essa unidade está representada pelo padrão de relevo
linha de costa com uma sucessiva incorporação de Arp.
cristas de cordões arenosos à ilha-barreira inicial, Os recifes de arenito de praia ocupam uma ínfima
freqüentemente associada à colmatação de área adjacente ao litoral, correspondente a 0,02% do
incipientes corpos lagunares gerados à sua município de Porto Seguro e a 0,03% do município
retaguarda. Esse empilhamento de cristas de de Santa Cruz Cabrália.
cordões arenosos forma as planícies ou terraços
marinhos, variando conforme sua posição
altimétrica. Geralmente, os terraços marinhos 2.2.3.1f Recifes de Bancos de Corais
holocênicos atingem 4m de altitude na zona
costeira da Bahia (Martin et al., 1980). As Essa unidade geomorfológica situa-se próximo à
planícies e terraços marinhos consistem de linha de costa, na plataforma continental interna, e
depósitos arenosos quartzosos, bem selecionados, caracteriza-se por feições submersas ou parcialmente
situados ao longo das planícies costeiras e com emersas durante os períodos de maré baixa. Os
maior desenvolvimento junto às desembocaduras recifes de bancos de corais consistem de
dos principais rios da região, devido ao “efeito de acumulações carbonáticas (formações coralinas),
molhe” produzido pela descarga fluvial geralmente fixados em afloramentos rochosos no
(Dominguez et al., 1983), ou devido ao fundo submarino, produzindo bancos de recifes ou
aprisionamento das areias marinhas em circulação podendo desenvolver formas peculiares,
pela corrente de deriva por recifes de arenitos de denominadas de “chapeirões”, atingindo até 20m de
praia, como visto no cabo inconsolidado de Ponta altura na lâmina d’água (Leão, 1996). Os bancos de
Grande-Coroa Vermelha (Foto 2.15). Destaca-se o corais exercem marcante influência na morfologia
desenvolvimento de planícies e terraços marinhos costeira. Esses obstáculos físicos, situados frente à
ao longo dos arcos praiais de Corumbau-Caraíva, linha de costa, promovem a refração das ondas,
Buranhém-Ponta Grande e João de Tiba-Santo podendo, assim, alterar localmente a direção da
Antônio-Ponta do Guaiú, assim como as planícies corrente de deriva litorânea. Segundo estudos
marinhas associadas à desembocadura dos rios dos efetuados por Martin et al. (1999a; 1999b), as
Frades e do Peixe/Buranhém. Sobre as planícies e variações de sentido da deriva litorânea ao longo
terraços marinhos assentam-se os principais da linha de costa induzem à ocorrência de trechos
núcleos urbanos da área de estudo, tais como as da linha de costa, onde predominam os processos
cidades de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália e erosivos, com exposição de falésias ativas ou
as vilas de Caraíva, Itaquena, Coroa Vermelha, trechos onde predominam os processos de
Santo André, Santo Antônio e Guaiú. Essa acumulação marinha, destacando-se o tômbolo
unidade está representada pelo padrão de relevo formado pela Ponta do Corumbau, e a retaguarda
Apm e delimita-se com as planícies intertidais e dos recifes dos Itacolomis. A unidade está
flúvio-lagunares, ou com as bordas íngremes dos representada pelo padrão de relevo Ar.

17
Os recifes de bancos de corais ocupam uma suscetibilidade à erosão e riscos de inundações nos
exígua área situada na plataforma continental vales. Nesses setores, a erosão tem se tornado
interna, correspondente a 30,20km2 ao longo da acelerada devido à expansão agropecuária, que tem
costa do município de Porto Seguro e a 16,63km2 ao conduzido a um desmatamento generalizado.
longo da costa do município de Santa Cruz Cabrália. As atividades agropecuárias, sem controle
sistemático e adoção de práticas conservacionistas,
2.3 Considerações Finais têm propiciado a degradação do relevo,
principalmente nas encostas e cabeceiras de
O estudo geomorfológico nos territórios dos drenagem, o que vem se refletindo quase que
municípios de Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália imediatamente na rede de drenagem através de um
identificou três unidades morfoestruturais que assoreamento bastante expressivo.
refletem a influência do substrato geológico, estando A construção de estradas com obras de cortes e
representadas pelas unidades geotectônicas da faixa aterros nas vertentes convexas dos tabuleiros
Móvel, pelos sedimentos terciários do grupo costeiros ou em rampas de colúvio vem induzindo e
Barreiras e pelas formações superficiais acelerando processos de erosão localizados.
quaternárias; três unidades morfoesculturais Nas áreas de planícies fluviais, flúvio-lacustres e
representadas pela superfície pré-litorânea, pelos flúvio-marinhas ocorrem problemas de poluição
tabuleiros costeiros e pelas planícies flúvio- inerentes à ocupação e conseqüente degradação dos
marinhas; e 19 unidades geomorfológicas ambientes (ocupação urbana de manguezais e da
subordinadas. faixa de praia).
Os tabuleiros costeiros abrangem cerca de 80% Portanto, no aspecto ambiental, o conhecimento
da área de estudo, constituindo o domínio geomorfológico possibilita estabelecer a relação
morfológico de maior relevância. entre a dinâmica natural dos sistemas de relevo e a
As unidades geomorfológicas comportam formas ocupação e uso dos solos, sendo possível detectar
de relevo distintas, concentradas em formas de áreas com diferentes graus de suscetibilidade à
dissecação tabulares (tabuleiros) e convexas erosão, movimentos de massa, fontes potenciais de
(colinas). Os setores dissecados em elevações sedimentos e sítios passíveis de inundações.
residuais e isoladas, tais como o monte Pascoal, são O mapeamento e a análise das formas de relevo
restritos e representados pelas formas de dissecação desses municípios permitem, então, identificar a
aguçadas. As formas de acumulação são vocação natural de cada tipo de terreno, conforme
representadas pelas áreas planas das planícies flúvio- suas limitações e potencialidades. Este produto visa
marinhas. a proporcionar orientação técnica para etapas
Além da compreensão da evolução do relevo posteriores de planejamento, antes da implantação
considerando a natureza e estrutura das rochas e o de empreendimentos, assim como colaborar com o
clima da região, responsáveis pelo intemperismo e desenvolvimento de métodos adequados para
agentes erosivos, foi considerado o grau da atividade avaliação de parâmetros fisiográficos, geológicos,
antrópica a que a área foi e está sendo submetida. pedológicos, hidrogeológicos e de vulnerabilidade à
As formas de relevo tabulares pouco dissecadas erosão.
são as mais conservadas. Essas formas oferecem Assim, este estudo pode servir como uma das
menos restrições ao uso e ocupação, pois apresentam ferramentas à disposição do planejador para
superfícies amplas, com declives suaves, geralmente direcionar o desenvolvimento dos municípios,
estáveis. tornando possível determinar que tipo de problemas
As formas mais dissecadas, tais como as escarpas, surgirão com as diferentes intervenções e evitar as
colinas e vales encaixados, são mais restritivas ao uso e distorções do uso e ocupação dos espaços
ocupação em função das declividades das encostas, geográficos.

18
2.4 Bibliografia

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20
2.5 Glossário

Amplitude de relevo ou desnivelamento tabuleiros, delimitadas por vertentes abruptas.


topográfico – diferença de altitudes entre o ponto Falésia – escarpa costeira gerada por erosão
mais alto e o ponto mais baixo de uma determinada marinha, sob influência de processos de abrasão
feição do relevo. marinha.
Bacia de drenagem ou bacia hidrográfica – área Graben – depressão de formato alongado,
da superfície terrestre delimitada por divisores de enquadrado por uma série de degraus produzidos por
drenagem, que drena água, sedimentos e materiais falhas paralelas.
dissolvidos para uma saída comum, num Ilha-barreira – extenso cordão litorâneo,
determinado ponto do canal fluvial; funciona como depositado paralelamente à linha de costa, que isola
um sistema aberto, que recebe energia por meio da as lagunas do oceano; geralmente, esses cordões
entrada de água (precipitação) ou elevação do nível estão apoiados por saliências (pontões rochosos) do
da base (tectônica) e a dissipa através da vazão de litoral.
água e sedimentos pelo rio principal. Interflúvio – segmento do divisor de águas que
Captura de drenagem– fenômeno de inversão do separa vales fluviais adjacentes.
sentido do fluxo de um curso d’água, promovido Laguna – corpo de água constituído por água
pelo avanço de um canal pertencente a outra bacia salobra ou salgada, localizado em planícies costeiras
de drenagem, destruindo o divisor de águas. e separado do oceano por ilhas-barreiras e pontões
Colina – elevação do terreno, de topos convexos, de afloramentos rochosos; esses corpos d’água
declive entre 0-5% e vertentes variando entre 5- possuem comunicação com o oceano através de
20%; amplitudes de relevo até 50m de altura. pequenos canais, temporariamente tamponados pela
Cordão arenoso ou cordão litorâneo – conjunto de sedimentação costeira.
cristas arenosas lineares, paralelas ou subparalelas à Mangue – zona de sedimentação flúvio-marinha
linha de costa; originam-se por processos de situada junto a reentrâncias do litoral, sujeita ao
sedimentação marinha e, subordinadamente, fluvial refluxo das marés e constituída de terrenos argilosos
ou lagunar. orgânicos.
Corrente de deriva litorânea – corrente paralela ao Monadnock – elevação residual rochosa que resiste
litoral, que determina a direção do transporte de mais à erosão em áreas aplainadas; é também
sedimentos ao longo da linha de costa; a direção denominado relevo-testemunho.
dessa corrente é definida pelo predomínio e pela Morfometria – estudo ou análise quantitativa do
intensidade de uma determinada direção dos ventos relevo, através de parâmetros morfométricos, tais
e, conseqüentemente, pela incidência das ondas em como: amplitude de relevo, declividade ou gradiente
relação à linha de costa. das vertentes, densidade de drenagem etc.
Densidade de drenagem – razão entre o Morro – monte pouco elevado, com topos convexos
comprimento total de canais e uma determinada área de declive entre 0% e 10% e vertentes variando entre
expressa em km/km2; esse parâmetro representa a 10% e 30%; as amplitudes de relevo variam entre
dissecação do relevo promovida pela rede de canais. 100 e 200m de altura.
Denudação – arrasamento das formas de relevo pelo Morrote – pequeno morro, com topos convexos de
efeito conjugado de diferentes processos erosivos. declive entre 5% e 10% e vertentes variando entre
Depressão – forma de relevo ou conjunto 10% e 30%; possui um gradiente mais elevado que a
morfológico situado em posição altimétrica mais colina; as amplitudes de relevo variam entre 50 e
baixa que as porções adjacentes. 100m de altura.
Dissecação – ação de um conjunto de processos Neotectônica – estudo de movimentações tectônicas
erosivos que modelam ou esculpem uma mais recentes numa determinada região, ocorridas
determinada paisagem. após o Terciário superior (a partir do Mioceno).
Escarpa – relevo de transição entre duas superfícies, Padrão de drenagem – configuração geométrica
apresentando, em geral, uma elevada amplitude de em planta dos sistemas de drenagem, podendo
relevo e vertentes abruptas. evidenciar aspectos hidrológicos, litológicos ou
Escarpa erosiva – desnível abrupto cujo traçado, estruturais na evolução da rede de canais e nos
geralmente sinuoso, é nitidamente relacionado ao processos de dissecação do relevo; assim sendo, a
trabalho de erosão. rede de drenagem pode ser classificada nos seguintes
Escarpa estrutural – escarpa resultante do padrões de drenagem: dendrítica, paralela,
deslocamento vertical ou horizontal de blocos retangular, treliça, anelar, radial, centrífuga,
falhados. centrípeta etc.
Espigão – partes altas e estreitas, às vezes planas, Paleofalésia – escarpa costeira, íngreme ou
que surgem como prolongamentos das serras ou suavizada, resultante de processos de abrasão

21
marinha, não mais atuantes no local, devido à Sedimentação ou deposição ou acumulação –
formação de uma planície marinha ou flúvio- processo pelo qual se verifica a deposição de
marinha no seu sopé. sedimentos ou de matéria orgânica.
Planalto – superfície plana ou ondulada, situada em Superfície de erosão, superfície de aplainamento
altitudes elevadas em relação aos terrenos adjacentes. ou pediplano – área do relevo, aplainado ou
Planície – área plana resultante de acumulação arrasado por processos erosivos durante um longo
fluvial, marinha ou flúvio-marinha, geralmente tempo, truncando diferentes litologias ou estruturas
sujeita a inundações periódicas, correspondendo às do substrato geológico.
várzeas atuais ou zonas embrejadas. Tabuleiro – forma topográfica do terreno que se
Rampa de colúvio – superfície ligeiramente assemelha a planaltos, terminando geralmente de
inclinada (5% a 15%), constituída por depósitos de forma abrupta em bordas íngremes dos vales
encosta que entulham os fundos de vales fluviais. encaixados ou em falésias, no litoral; podem ser
Recifes – são formações litorâneas que ocorrem denominados também de baixos platôs.
geralmente próximas à linha de costa; os recifes de Tectônica – área de conhecimento da Geologia que
arenitos de praia, que ocorrem numa disposição estuda a movimentação de blocos do substrato
alongada ao largo da linha da costa, consistem de rochoso, por efeito de forças internas, promovendo
antigos cordões arenosos sob forma de ilhas- importantes transformações na configuração
barreiras, consolidados por cimentação carbonática; geomorfológica de uma determinada região.
já os recifes de bancos de corais, que possuem uma Tômbolo – cordão arenoso que une uma ilha ao
conformação aproximadamente circular e situam-se continente.
mais distantes do litoral, consistem de acumulações Transgressão marinha – invasão da zona costeira
carbonáticas através de atividade biogênica pelas águas oceânicas, causada pela elevação do
(formações coralinas), geralmente fixados em nível relativo do mar.
afloramentos rochosos no fundo submarino.

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Foto 2.1 - Colinas amplas e suaves e vales colmatados por sedimentação alúvio-coluvial. Morfologia carac-
terística da Superfície Colinosa. Próximo ao povoado de Montinho, na rodovia BR-101 (Fazenda
Boa Esperança).

Foto 2.2 - Morros baixos com gradientes médios e amplitudes de relevo mais elevadas que o domínio coli-
noso circundante. Feição de relevo subordinada à Superfície Colinosa. Estrada de acesso ao Par-
que Nacional de Monte Pascoal (Fazenda Macaco).

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Foto 2.3 - Colinas residuais amplas e suaves remanescentes do afogamento generalizado do relevo, repre-
sentado pelos sedimentos terciários do grupo Barreiras. Estrada Ponto Central-Eunápolis (Fazen-
da Fechadinho).

Foto 2.4 - Aspecto regional dos tabuleiros pouco dissecados esculpidos sobre sedimentos do grupo Barreiras
e a ocorrência esporádica de elevações residuais do substrato precambriano. Elevação da torre da
EMBRATEL (Fazenda Macadan).

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Foto 2.5 - Vista de um monte residual com vertentes íngremes e rochosas (Monte Pascoal), a partir de tabu-
leiros pouco dissecados com vales profundos. Trata-se de uma elevação residual (“monadnock”)
que se destaca topograficamente do conjunto da paisagem. Próximo ao povoado de São João do
Monte (Fazenda Nazareno).

Foto 2.6 - Pequeno tributário do rio dos Frades, promovendo o recuo da escarpa degradada, caracterizada por
vales profundos, muito dissecados e cabeceiras de drenagem em forma de anfiteatro conchoidal.
Estrada Itabela-Caraíva (Fazenda Palmares).

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Foto 2.7 - Vale encaixado rio Buranhém, caracterizado por vertentes íngremes de grande amplitude de rele-
vo, sendo cruzado pela nova rodovia que liga a BR-367 aos núcleos urbanos de Arraial da Ajuda
e Trancoso. Próximo ao povoado de Vale Verde (Fazenda Santana).

Foto 2.8 - Morfologia das colinas tabulares que consistem de espigões alongados e digitados intensamente
dissecados por uma densa rede de vales profundos. Estrada São José do Panorama-Trancoso (Fa-
zenda Santa Maria do Trancoso).

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Foto 2.9 - Aspecto da morfologia suave dos tabuleiros dissecados com vales pouco entalhados. Próximo a
Pindorama.

Foto 2.10 - Aspecto da morfologia dos tabuleiros pouco dissecados com vales profundos, apresentando ver-
tentes íngremes nos vales em forma de “U” e fundos de vales recobertos por sedimentos fluviais.
Córrego do Jambeiro. Estrada Vila Monte Pascoal-Caraíva (Fazenda Duas Barras).

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Foto 2.11 - Extensa planície flúvio-lagunar do baixo curso do rio Buranhém e aspecto uniforme de sua es-
carpa estrutural, bastante íngreme e elevada, pouco recuada por erosão. Povoado de Ibiruçu de Dentro, às
margens da rodovia Eunápolis-Porto Seguro (BR-367).

Foto 2.12 - Aspecto das falésias ativas do grupo Barreiras em processo de recuo erosivo por abrasão marinha.
Condomínio Outeiro das Brisas.

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Foto 2.13 - Detalhe do fundo de vale do médio curso do rio Caraíva, entulhado por depósitos de encosta
(rampas de colúvio) e por sedimentos fluviais, estes localizados no eixo do vale. Estrada Vila
Monte Pascoal-Caraíva (Fazenda Boa Vista).

Foto 2.14 - Aspecto de extensa planície fluvial, inserida no vale encaixado do rio Santo Antônio. Estrada
Ponto Central-Barrolândia.

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Foto 2.15 - Morfologia da planície marinha do cabo inconsolidado da Ponta do Mutá, constituída por uma
sucessão de cristas de cordões arenosos, ocasionalmente intercalados com planícies flúvio-
lagunares, junto à linha de costa. Coroa Vermelha.

Foto 2.16 - Aspecto da planície intertidal (mangue) da desembocadura do rio Caraíva. Caraíva Nova.

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