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Tericasdereais 120123120646 Phpapp01
Tericasdereais 120123120646 Phpapp01
(aulas teóricas)
PROF. DR. LUÍS MENEZES LEITÃO
2010/2011
ÍNDICE
17 de Fevereiro de 2011................................................................................................................ 4
22 de Fevereiro de 2011................................................................................................................ 6
1 de Março de 2011....................................................................................................................... 8
3 de Março de 2011..................................................................................................................... 10
15 de Março de 2011................................................................................................................... 14
17 de Março de 2011................................................................................................................... 17
15 de Fevereiro de 2011
Os direitos reais não abrangem apenas o livro III; trata também dos direitos de garantia
e de aquisição.
Legislação: código civil e código do registo predial (teve reforma fulcral em 2008 – que
revolucionou o nosso sistema do direito predial).
17 de Fevereiro de 2011
§ Direito Romano: não trabalhava com direitos subjectivos mas com acções: os
esquemas actiones in rem vs actiones in personam: estas eram propostas contra pessoas
com uma relação obrigacional; aquelas, podiam ser instauradas contra qualquer pessoa
em defesa de uma coisa (perturbação do aproveitamento das utilidades que o
aproveitamento de uma coisa pode proporcionar).
Ramo do Direito Civil que tem por objecto a atribuição de coisas corpóreas com
eficácia real (eficácia absoluta ou erga omnes): eles autonomizam-se pelo seu objecto.
Respeitam, portanto, os parâmetros do Direito Privado: liberdade e igualdade.
A propriedade só pode ser restringida nos casos expressamente previstos na lei: 18/2 e
18/3 da CRP; dizem respeito, respectivamente, ao principio da proporcionalidade e,
quanto ao modus operandi, por via geral e abstracta.
E se as partes criarem uma figura real? Dá-se a conversão legal (1306.º), valendo como
relação obrigacional.
Especialidade – este diz-nos que a coisa corpórea objecto do direito real tem de estar
concretamente individualizada: tal desdobra-se em três subprincípios:
- Existência presente (actualidade) – a coisa tem de ser actual, i. é., tem de ter
existência presente (ao invés, art.º 399: as obrigações podem ter por objecto coisas
futuras). Coisas absolutamente futuras (nem existem ainda) e relativamente futuras (já
tem existência mas ainda não tem a titularidade) – 408.º - não se constituem, nestas
situações, quaisquer direitos reais; só quando o alienante adquirir a propriedade há
eficácia translativa.
§ Publicidade – fundamental que todos saibam/possam saber quem são os titulares dos
direitos reais; formas de assegurar: a posse e o registo. A posse é a forma mais
importante: consiste na actuação material correspondente ao exercício dum direito
(sobretudo importa nos móveis não sujeito a registo); a posse, através do 1268.º, goza
de presunção. O registo (incide sobre as coisas sujeitos a ele – é a forma mais perfeita
para assegurar a publicidade dos direitos reais).
§ Boa fé – a boa fé dos direitos reais é a boa fé subjectiva (e não a objectiva: regra de
conduta); boa fé subjectiva psicológica (mero des. Actualmente: ética – ignorância
desculpável.
22 de Fevereiro de 2011
- Teorias Mistas – O direito real teria um lado interno e um lado interna – muito
popular entre nós.
MENEZES LEITÃO – segue MENEZES CORDEIRO mas entende que definição não é
suficientemente precisa; há que atalhar alguns traços distintivos – como a inerência.
- Carácter absoluto – em virtude de ser oponível erga omnes. OLIVEIRA ASCENSÃO diz
que tem carácter absoluto porque não se estrutura em nenhuma relação. Visto de
qualquer prisma resulta na mesma o carácter absoluto. Os direitos reais dão aos sujeitos
o direito a gozarem da coisa. Direitos reais de aquisição, de gozo e de garantia.
- Prevalência – regra nos direitos de crédito é o rateio; nos direitos reais, o direito real
que se constituir primeiro é o que prevalece. Pinto Coelho veio afastar a prevalência,
sendo restrita à pluralidade. Não fazia sentido falar em prevalência em relação a
direitos de natureza diferente, ou de mesma natureza mas de espécie diferente. A
prevalência era restrita aos direitos reais de garantia – duas hipotecas; a primeira seria
paga em primeiro lugar. Oliveira Ascensão veio a aderir expressamente a esta posição;
vai mais longe dizendo que não há prevalência nos direitos reais de garantia, dizendo
que só há prevalência entre direitos reais e de crédito. Menezes Cordeiro vai mais longe.
MENEZES LEITÃO diz que é óbvio que a prevalência é uma característica dos direitos
reais. Há que dar prevalência ao direito real; a segunda alienação só é inválida porque se
constituiu um direito real.
24 de Fevereiro de 2011
1 de Março de 2011
§ Classificação dos Direitos Reais. A mais importante: distinção entre os direitos reais
de gozo (posse); garantia (consignação de rendimentos, hipoteca etc); aquisição (há
quem integre os próprios direitos de créditos) – promessa com eficácia real.
- Escola de Coimbra – não qualificam os direitos reais de aquisição como direitos reais
(Almeida Costa e Antunes Varela)
§ Direito real sobre coisa alheia ou sobre coisa própria – Clássica e antiga mas falha
em relação aos novos direitos.
§ A posse
A posse dá tutela imediata e importante.
- Art.º 1251 – Definição de posse. Exercício fáctico de poder sobre as coisas, sendo este
titulado pelo direito, independentemente da titularidade do direito. Tutela a
exteriorização do direito. Ratio - defesa da paz pública; continuidade do exercício das
posições jurídicas. É tutelada apenas porque é um valor em si. Posse formal (há
exercício fáctico apenas, sem título) e causal (posse acompanhada da titularidade do
direito). Tutela-se é a posse; basta o exercício fáctico. Só pode ter por objecto coisas e
não direitos (serve como delimitação).
- Preferência pela ilibação – possuidor tem de ser protegido até que se mostre
um direito mais forte.
- Presunção da propriedade.
Teorias absolutas.
Menezes Leitão diz que todas tem um pouco de verdade. A posse também tutela direitos
pessoais de gozo. Adere à ideia de Sthal.
3 de Março de 2011
§ Posse e Detenção
Artigos 1251º e seguintes; 1253.º - distinção entre posse e distinção. Possessio civilis e
a possessio naturalis (exercício da coisa mas não podemos atribuir os efeitos jurídicos).
Posições de Savigny e Jhering – importante. Savigny – O direito da posse; Jhering – a
intenção da posse. Savigny era subjectivista (depende do animus) – essencial a posse é
a detenção (controlo material sobre a coisa). Essa possibilidade de controlo sobre a
coisa era a detenção – corpus.
1251.º - define posse; mas no 1253.º dá-se a definição de detenção. O 1253/a – intenção
de agir sem intenção; aproxima-se da doutrina subjectivista de Savigny – existência de
animus domini; se tiver intenção de possuir para outrem seria mero detentor. Para
Jhering tanto há animus na posse e na detenção. A posição maioritária é a subjectivista.
Outros defendem a objectivista: no 1251 não se faz qualquer referencia ao animus; por
outro lado o 1253 é que refere pela negativa situações que não são posse mas mera
detenção (seria o elemento n de Jhering). O problema da doutrina objectivista tem que
ver com o 1253/a; adopção de várias formulações: Oliveira Ascensão – pessoa declara
que não quer ser possuidor. Prof. Menezes Cordeiro. Temos que reequacionar os
termos do debate, segundo Menezes Leitão. No direito Romano a lei não dava as acções
possessórias ao locatário/comodatário etc. No entanto, na lei portuguesa, os titulares dos
direitos pessoais de gozo tem as acções possessórias; então a distinção entre a posse e a
detenção não faz sentido nestes termos. O locatário não tem animus de proprietário mas
tem acções possessórias. A posse é atribuída em todos os direitos reais e em alguns
direitos reais de gozo. Ou seja: temos posse sempre que não cairmos no 1253.º. Refuta
Oliveira Ascensão; a formulação de Menezes Cordeiro é insuficiente – seria uma norma
remissiva. Actos facultativos – tem de ser dado por declaração expressa. O 1253 e
1407/2 – comproprietários (resolve o problema do conflito de deveres).
§ O âmbito da posse
Admite a tutela possessória do estabelecimento comercial. Não pode incidir sobre coisas
incorpóreas e coisas fora do comércio/bens públicos. Incide sobre coisas móveis e
imóveis, sendo relevante em matéria de usucapião; em Portugal, posse não vale título.
O 1251 – limita a posse aos direitos de propriedade e a outros direitos reais; mas a
hipoteca e os privilégios creditórios não admitem posse; no entanto, certos direitos reais
de gozo admitem a posse (locatário etc); reais de garantia – penhor e retenção (aqui há
tutela possessória); nos que não haja apreensão material da coisa não há posse
(hipoteca); a consignação de rendimentos é mais discutível. Quanto aos pessoais de
gozo há posse;
§ Concurso de posses
10 de Março de 2011
15 de Março de 2011
Savigny - Corpus e animus; logo: a posse será conservada quando se perder algum
destes requisitos; corpus em sentido contrário é quando alguém tira a coisa. Mantém-se
sempre que o possuidor pode repetir o acto de apreensão. Animus de intenção
contrária – dizer que não quer possuir. Se o possuidor deixa uma coisa na floresta tem a
posse, pois pode repetir o acto de apreensão.
Art 1257/1 – demonstra a tese de Savigny; não é necessário uma actuação diligente;
confusão na doutrina. A servidão extingue-se por não uso; dar-se-ia tutela possessória
mesmo extinto o direito. Pires de Lima diz que se tem de declarar judicialmente.
Menezes Cordeiro.
A acessão na posse (1256.º) – adquirir bem dum terceiro. A posse transmite-se pela
tradição da coisa mas o possuidor tem uma nova posse, mas pode querer somar uma
posse anterior; juntar a posse. Adquire bem e somar a posse para se dar a usucapião. Se
a posse do antecessor for de natureza diferente, dá-se a mais baixa.
§ Perda da Posse
- Posse de outrem por mais de um ano – posse de ano e dia – basta um ano e um
dia; posse já não está sobreposta à outra. O esbulho – se não passar um ano há uma
sobreposição de posses, podendo o esbulhado instaurar acções possessórias. Decisiva
para triunfo das acções possessórias.
Direitos do Possuidor:
- Uso da coisa – tanto na posse de boa e má fé. Cf. 1269.º- O uso não constitui o
possuidor no dever de indemnizar.
Deveres do possuidor:
17 de Março de 2011
Vamo-nos inteirar dos efeitos associados à posse. Um dos efeitos mais importantes da
posse é a sua defesa. Não é por acaso que encontramos manifestações da posse
interdictal: que é aquela posse que é conferida em determinadas situações jurídicas em
que certo regime não se aplica mas as acções de defesa possessória aplicam-se
seguramente. Em relação à defesa da posse, estamos a falar de cinco possibilidades:
acções que em termos estruturais, ao abrigo do CPCivil são acções declarativas de
condenação a um procedimento cautelar e ainda a um incidente suscitado no âmbito da
acção executiva.
§ Defesa da Posse – 1276.º e ss. 1277.º - claro; a acção directa é um meio de defesa
privado. O 1277 remeter para lá é igual a zero. A nível perceptivo eu não ganho nem
perco rigorosamente nada com isto. Claro que estando em causa uma situação jurídica
eu vou ter meios de defesa judiciais ou não. Logo, é inútil. O único sentido útil que eu
poderia retirar daqui era o seguinte: para quem entender que a posse não é situação
jurídica, mas, sim, uma situação de facto, este artigo permitia-nos chamar a norma da
acção directa que está vocacionada para defender situações jurídicas. Bom, por aí o
artigo faria sentido. No entanto, se assim fosse, o legislador estaria a fazer algo que não
lhe compete: que é definir e qualificar. A natureza jurídica da posse não deve ser
definida pelo legislador; deve resultar do regime. Se for essa a interpretação eu tenho
uma dificuldade clara, que é o legislador tomar posição pela construção que menos
apoio recolhe na doutrina, que é a posse como simples relação de facto.
Acção de manutenção e restituição – que são duas acções diferente (não confundir);
se olhar-mos para o 1278.º - vemos que a acção de manutenção é para o caso do
possuidor ser perturbado enquanto que a acção de restituição é para o caso de o
possuidor ser esbulhado. O esbulho é uma perda involuntária da posse, sendo certo
que eu quando falo aqui de posse não falo de posse jurídica; já sabem também que nos
termos do 1267/1/d, a posse jurídica mantém-se sempre, pelo menos, durante um ano
após o esbulho. Então o esbulho é a perda involuntária da posse por terceiro, posse,
leia-se, acto matéria, contacto com a coisa; a posse é muito mais que o contacto com a
coisa, podendo nem envolver, sequer, contacto material. O que dizer em relação a
estas duas acções? Quando tenho uma perturbação, eu, por definição, não tenho esbulho;
quando tenho uma perturbação o possuidor continua a ter contacto com a coisa, mas o
gozo que retira da coisa idóneo ou, pelo menos não é total - p. ex., é o caso de
encontramos alguém que pernoita no hall do nosso prédio – no caso de propriedade
horizontal; ele não está a esbulhar nada – o hall, aliás, é uma coisa comum 1420/1 CC;
todavia, há uma perturbação ao gozo da coisa: para além dos meios policiais eu posso
recorrer, claro, à acção de manutenção. Outra hipótese: Pessoa que aproveita o facto de
estarmos no estrangeiro e usa a nossa piscina. Também aqui terei uma acção de
manutenção na posse se necessário for. Notem que isto se relaciona com um instituto
que já conhecemos: o enriquecimento sem causa; só que o instituto possessório e o
instituto do enriquecimento sem causa funcionam em paralelo, porque visam a
satisfação de pretensões distintas; em relação ao instituto possessório, eu viso – no
caso da manutenção, a garantia do gozo pleno e exclusivo da coisa enquanto que
através do enriquecimento sem causa eu vou querer obter uma compensação pelo
enriquecimento que alguém obteve à custa do meu património.
Quanto ao esbulho excelências, claro que eu terei então uma acção de restituição que
vossas excelências farão o favor de não confundir em caso algum com a acção de
reivindicação. Reparem, eu por exemplo, em relação a este código civil, se for
esbulhado, eu neste momento posso exercer quer uma quer outra; enquanto possuidor
posso exercer a acção de restituição; enquanto proprietário – articulado a outro
direito real de gozo, nos termos do 1315.º posso exercer a acção de reivindicação. Mas,
meus senhores: isso já é uma situação de posse causal, em que eu sou ao mesmo tempo
o possuidor e o titular do direito subjacente à posse – titular do direito subjacente à
posse e não proprietário. Porquê? Porque, primeiro, existem outros direitos reais
para além da propriedade; segundo a posse não tem de ser exercida em termos de
propriedade; pode ser exercida em termos de outro direito real, nomeadamente
posse em termos de usufruto.
Bem, em termos técnicos estas duas acções distinguem-se quanto à sua legitimidade
processual – o 1281.º trata disto; reparem que a acção de manutenção pode ser
intentada pelo perturbado ou pelos seus herdeiros, mas apenas contra o perturbador; e,
muito importante, a acção de restituição pode ser intentada pelo esbulhado ou pelos
seus herdeiros (aqui é igual) contra o esbulhador ou seus herdeiros; não só contra o
esbulhador mas ainda contra que esteja na posse da coisa e tenha conhecimento do
esbulho. Então reparem: na manutenção e na restituição a legitimidade activa é igual; a
legitimidade passiva é que é diferente: na manutenção é só contra o perturbador
ou herdeiros (lá está: porque é que isso aparece aqui? Porque, para todos os efeitos os
Imaginem que eu tenho este código civil; ele é esbulhado, é subtraído por um dos senhores e é transmitido
por vós a outra pessoa. De acordo com o 1281/2 (10:42) eu posso agir contra essa outra pessoa; aliás: só
posso agir contra ela, se pensarem bem, porque se os senhores me esbulharem e tiverem transmitido a
coisa, leia-se, a posse, se me esbulharem os senhores não são titulares dum direito subjectivo, pois não há
nenhuma transmissão subjectiva. Se venderem a coisa a um terceiro a venda é nula, como é óbvio – 892.º.
Mas este terceiro pode ter a posse: mas reparem que se ele tem esta posse, em princípio será por
cedência, nos termos do 1263/b. Se ele adquire por cedência ou tradição quem transmite perde também
por cedência, nos termos do 1267/1/c. O que é que estou a tentar dizer? Estou a tentar dizer que, como é
óbvio, se o esbulhador transmitir a terceiro o esbulhador deixa de ter posse; portanto: eu não vou
intentar nenhuma acção contra o esbulhador; vou ter necessariamente de colocar a acção contra
terceiros. Só isto é que satisfaz o meu interesse processual; no limite, se intentar a acção contra o
esbulhador, sic, há uma excepção dilatória que se chama falta de interesse processual.
Agora este terceiro do caso prático não é um terceiro qualquer: eu só posso intentar
esta acção se: i) estiver na posse da coisa, claro; ii) tiver conhecimento do esbulho.
Meus senhores, ter conhecimento ou não ter conhecimento do esbulho é um estado
subjectivo do sujeito, ou seja, eu estou a falar de má fé subjectiva. E aqui, a lei não
diz nada em relação a saber se ela é ética ou psicológica; já agora, notem, que eu na
posse tenho uma indicação literal de má fé subjectiva psicológica – 1260.º; basta
comparar esta norma com outras, por exemplo, com o 291/3 do CC – é
considerado de boa fé o terceiro adquirente que no momento da aquisição
desconhecia, sem culpa – isto é boa fé subjectiva ética, claramente. Este “sem culpa”,
que elimina da boa fé o desconhecimento culposo não surge, na realidade, no 1260.º. É
por isso que os comentadores ao Código Civil – Pires de Lima/Antunes Varela
entendem, que aqui está apenas a boa fé subjectiva mas só psicológica. Se eu pegar
nisto e estender ao resto do regime da posse estou a dizer que este terceiro adquirente
possessório pode ser atingido se conhecer efectivamente o esbulho, ou seja, má fé
subjectiva psicológica. Isto, claro, se eu sobrevalorizar o elemento literal, o que não é o
que me parece adequado. O que me parece adequado, e é por isso que a doutrina
entende é que, apesar da letra do 1260.º, a boa fé ainda no domínio possessório deve
ser psicológica ética; mutatis mutandis excelências: também no artigo 1281.º¸ se eu
posso atingir um terceiro que desconheça o esbulho, mas que tivesse o dever de o
conhecer. Imaginem que este CC, que os senhores me esbulham, é depois vendido por
vossas excelências por 1€; perfeitamente fora do seu normal quadro aquisitivo de valor;
eu posso dizer que este terceiro, ainda que não soubesse que o código tinha sido
esbulhado, provavelmente deveria saber – e então posso agir contra ele. Qual é o
drama? O drama é que eu posso agir contra o terceiro de má fé. E discute-se, depois, se
quiserem, se a má fé é ética ou psicológica. Eu não posso agir contra o terceiro de
boa fé. E nisto a acção possessória se distingue claramente da acção de reivindicação;
quando eu sou titular de um direito real de gozo eu ajo contra quem quiser, com a coisa,
esteja ela de boa ou de má fé – é irrelevante. Eu vou exercer o meu direito contra
esse sujeito – é isso que resulta do 1311.º. Já agora percebam: é também por isto que
se diz, para alguns, que a posse não é um direito real, porque afinal de contas eu posso
opô-la ao terceiro de má fé, não é? Mas não posso opô-la ao terceiro de boa fé. Então,
a posse não é um direito oponível a todos os terceiros. Não goza desta
oponibilidade, que é uma característica estrutural dos direitos reais, logo, não é um
direito real. Esta é a tese do Prof. Oliveira Ascensão, quanto à natureza jurídica da
posse que já falaremos adiante.
De todo o modo, olhando ainda para o quadro legal, gostava que os senhores
constatassem que o artigo 1282.º estabelece um prazo de caducidade da acção
possessória que (i) primeiro não existe na acção de reivindicação, que é
imprescritível – vejam o artigo 1313.º e que (ii) segundo, se encontra em consonância
com a perda da posse um ano após o esbulho. Os senhores encontram isso no artigo
1267/1/b. Por outro lado, os senhores encontram aqui outra norma que também tem
efeitos jurídicos relevantes: 1283.º CC. Quando o 1283.º refere que aquele que for
restituído considera-se que nunca foi perturbado ou esbulhado – o que a lei está a dizer
é que ele nunca perdeu a posse; considera-se que a posse está ininterrupta; isto é
relevante? É relevantíssimo, desde logo, por exemplo, para usucapião, em que eu
preciso do prazo. Se eu tenho posse a correr para usucapião e se a minha posse é
interrompida por esbulho, e depois eu só voltasse a ter posse quando fosse restituído, o
meu prazo para usucapião contava a partir daqui depois. Esta solução permite anular
quer o esbulho quer a interrupção. Este é claramente o objectivo legal do 1283.
Bem, agora o que eu tenho de fazer é articular com vossas excelências a acção
possessória com a acção de reivindicação; e para isso os senhores tem de ter em
atenção o artigo 1278/1 – ele permite-me logo dizer que, como vos disse, a acção de
manutenção é para a perturbação e a acção de restituição é para o esbulho. Mas
permite-me dizer outra coisa: quando se diz que o possuidor é restituído enquanto
não for convencido na questão da titularidade do direito – meus senhores, eu não
estou a falar de presunção de água benta e cada um toma a que quer – é que
convencimento não é aquele que existe eventualmente em mais alguns seres do sexo
feminino; o convencimento é apenas e só a prevalência do direito substantivo sobre a
posse; mais nada; o que é que eu estou a tentar dizer? Estou a tentar dizer que é
através desta norma que se diz que a posse é um direito de protecção provisória,
porque o possuidor só é protegido se não for convencido em relação à titularidade do
direito. Como é que isto se passa? Acção: o possuidor pede, por exemplo, a restituição
da posse; fá-lo através do primeiro articulado normal que é a petição inicial.
Contestação: o réu invoca a titularidade do direito Resultado final, excelências: se se
provar a titularidade do direito o possuidor não é protegido; a posse cede em face
do título; se houver convencimento quanto à titularidade, este direito de protecção
provisória que é a posse não mexe. É isso que resulta do 1278.º. Se a questão da
titularidade não se suscitar, se eu tiver posse, não contra direitos subjectivos mas posse
contra posse, então neste caso eu vou ter de recorrer às regras do artigo 1278/2 e 3, e
vou ver que posse é que prevalece. Em primeiro lugar eu tenho um desfavor em
relação à posse adquirida com prazo anterior a um ano. Porquê? Porque eu estou a
pensar claramente naquelas situações em que há um conflito de posses – em que há
esbulho, em que o esbulhador adquiriu a posse pelo esbulho, mas o esbulhado mantém
a posse durante um ano. Ora, nessas situações, automaticamente o esbulhador não
ganha. Porquê? Porque ele não pode ser restituído porque não tem melhor posse.
Noutras situações em que a posse se discuta, eu tenho três critérios: tenho o critério
da posse titulada, depois o critério da antiguidade da posse e finalmente o critério
da posse actual. Reparem, eu sublinho isto, isto só se aplica no conflito de posses
com posse; e eu estiver a falar de posse/direito substantivo não chego aqui;
resolvem a questão directamente pelo artigo 1278.º.
fazer queixinhas ao senhorio; ele pode defender-se pela sua própria mão – ele tem legitimidade activa
para recorrer a uma acção possessória; e se esta norma não existisse, percebam: imaginem, agora outro
exemplo: imaginem que a casa que os senhores me arrendaram está “ocupada”. Meus senhores, eu
reivindicar não posso, porque não tenho um direito real de gozo; então, se esta norma não existisse o
que é que eu tinha de fazer? Tinha que me dirigir ao senhorio para que fosse ele a exercer o direito, ser ele
a reivindicar; dizer que, no limite, havia incumprimento contratual. A lei permite-me mais: a lei
permite que eu – o locatário, o titular de um direito pessoal de gozo – aja em nome próprio em relação à
minha posse. A minha posse entre aspas: a minha posse de arrendamento só serve para isto. Então eu
posso dirigir-me ao terceiro directamente. E mais: e aqui está o busílis do regime: eu posso dirigir-me
inclusivamente contra o locador. Isto quer dizer que é perfeitamente possível uma acção possessória
contra titulares substantivos; e nestas situações o funcionamento base de posse cede perante realidades
substantivas não funciona. Será isto uma anátema ao sistema? Não meus senhores – só o será se os
senhores não conhecerem a lei. Porque? Porque na própria acção de reivindicação, no 1311/2, diz que a
restituição só pode ser recusada nos casos previstos na lei. Excelências: se há um direito pessoal de gozo
que onera a propriedade, então a restituição pode ser recusada ainda que o locador invoque na acção
possessória que é proprietário e que o locatário não lhe pagava rendas. Os contratos de locação cessam
através de despejo, não cessam através da acção directa.
Esta norma é uma das normas possíveis para efeitos de posse interdictal, mas há mais:
e já agora, agradecia que vossas excelências percebessem o que é que quer dizer posse
interdictal – quando eu digo que a posse interdictal é aquela que faculta o exercício aos
meios de defesa possessória, quer isto dizer que o resto do regime da posse não está
contemplado; e não está contemplado porquê? Desde logo porque os tipos
contratuais em questão o prevêem. Reparem: se eu tivesse de pensar no locatário
como possuidor típico, eu agradecia que não pensassem nisto com base numa
reserva de conceito, porque não é: se ele é possuidor, então ele vai ter o direito de
usar, de fruir, do regime das b, b, benfeitorias, das acções possessórias, do risco
possessório, tudo…Excelências: isto não se verifica; por exemplo, vejam o artigo
1046.º CC – no número 1 diz-se que o locatário é equiparado ao possuidor de má fé
quanto a benfeitorias; então pensem lá: se eu fosse possuidor, esta norma não era
necessária, não é? Se eu fosse possuidor já teria o regime das benfeitorias da posse.
A lei está a dizer, em abstracto, que o regime das benfeitorias não se aplica. Outro
exemplo: vejam o artigo 1044.º - esta norma não se aplicava/não era necessária se eu
aplicasse o regime da posse, não é? No regime da posse há uma norma de
responsabilidade – 1269.º (?). Então percebam que eu aqui só vou buscar mesmo as
normas de defesa. O resto do regime fica intacto. E é por isto que se chama posse
interdictal. E os senhores encontram precisamente a mesma situação a respeito do
comodato: reparem que o comodatário, nos termos do 1183.º tem acções de defesa
possessória e pode ser mesmo contra o comodante; vou introduzir aqui uma limitação:
o comodato é um contrato gratuito pelo qual alguém empresta a outrem uma
determinada coisa: desde logo o comodato tem de ser temporalizado, ou seja: eu posso
emprestar o meu código civil durante um ano ou simplesmente para um colega fazer um
exame; vejam que é a isso que se reporta o artigo 1137/1 CC: se eu emprestei o código,
durante um ano e depois eu vos esbulhar, é normal que os senhores possam usar da
acção possessória contra mim. Se eu emprestar o código para uso determinado, como
diz na lei e antes desse uso determinado eu vos esbulhar, sim senhor, o comodatário
deve poder usar da acção possessória contra o comodante. Quanto a isso não há
dúvida. O problema é naquelas situações que, sendo jurídicas, eu não tenho prazo.
Percebam que nos contratos gratuitos, há uma grande zona cinzenta entre o que é
jurídico e o que não é jurídico. Ou seja: se os senhores neste momento emprestarem o
CC ao colega do lado para ele ver alguma coisa, estão a celebrar algum contrato de
comodato com ele? Ou será que isto é absorvido directamente pelas normas do trato
social? A meu ver é óbvio: isto é absorvido pelas normas do trato social. Isto não é
jurídico. Então para haver comodato, tem de haver um mínimo de
intenção/vinculação jurídica. Supondo que eu passo essa barreira, e tenho comodato,
eu posso recorrer aos meios conferidos pela lei ao comodatário; mas reparem que o
comodato pode ser a prazo, para uso determinado ou então pode ser sem prazo – cf.
1137/2 – meus senhores, isto em rigor não é um contrato de comodato, o que está no
1137/2: é um contrato que os romanos denominavam de precário, que é aquilo que os
senhores fazem muitas vezes pressupondo a intenção de vinculação jurídica, ou seja:
quando emprestam um CD ou um livro a alguém, no fundo estão a emprestar
pressupondo que, quando o quiserem de volta pedem e a coisa vem automaticamente.
Fará sentido aplicar a acção possessória aqui? Fará sentido aplicar a acção
possessória aqui? É que os senhores em abstracto tinham sempre direito a que ela
(coisa) vos fosse devolvida a qualquer momento; então, uma acção possessória, neste
caso, nesta figura em específico, no contrato de precário, ‘a meu ver’ não tem
qualquer sentido. Está em contradição com o tipo legal de contrato. O mesmo se passa
com outra norma: cf. 1188.º - o depósito. O depositário também não tem um direito real;
aliás: é possível que ele tenha apenas um direito pessoal de gozo; o depositário também
pode recorrer às acções possessórias, quando for privado da detenção da coisa ou for
perturbado. E reparem que também aqui se diz mesmo contra o depositante: isto é
extraordinário! No fundo: eu dou-vos uma coisa para guardar – eu sou o depositante e
os senhores são os depositários; temos um contrato de depósito. Não sei se se recordam,
mas no contrato de depósito o prazo corre por conta do credor, do depositante. Ou seja:
eu posso reaver a coisa quando quiser. Exemplo clássico:
Se eu vos pedir para me guardarem o cão durante as férias, se eu quiser antecipar o meu regresso, claro
que eu vou buscar o cão mais cedo, se quiser. Ou então, imaginem que eu vou buscar o cão mais cedo, os
senhores não estão em casa, mas como o cão está a ganir muito eu passo no local de depósito para ir
buscar a coisa. Fará sentido que os senhores usem contra mim uma acção possessória? Eu que sou o
dono da coisa? E agora atenção: não é só ser dono da coisa: sou eu o titular do interesse no contrato de
depósito, ao contrário do que ocorre no contrato de comodato; é que no contrato de comodato, o interesse
é do comodatário; no contrato de depósito o interesse é do depositante, como é óbvio, mesmo no depósito
oneroso. O interesse primordial – estamos a falar da obrigação principal – é do depositante até porque, no
limite, se eu quiser que haja restituição antes do prazo e houver pagamento, ela procede mas eu tenho de
pagar a contraprestação do depósito, sempre. É o que resulta od artigo 1194.º . Então como é que eu posso
interpretar este 1181/2? Meus senhores, duma forma muito simples: fazendo uma interpretação restritiva
desta norma às situações em que o depósito seja promíscuo com o comodato – estou a falar do artigo
1189 – ou seja: o depositário não pode usar a coisa, pois claro que não…pois o objectivo do depósito é
que ele a guarde. Todavia admite a parte final do 1189 que o depositante possa: então é possivel
excepcionalmente que haja um depósito que está a meio caminho entre o depósito e o comodato.
Excelencias: só neste caso é que fará sentido uma acção possessória contra o depositante. Só neste
caso é que eu tenho um interesse do depositário objecto de tutela legal.
Bom: claro que existem mais exemplos de posse interdictal: cf. 1125/2 - no fundo, o
contrato de parceria pecuária é um contrato de pastorícia. Ou seja, é o contrato clássico
celebrado entre quem é dono das ovelhas e o pastor, pressupondo, claro, que o pastor
não é o dono das ovelhas mas sim quem as pasta. Eu digo isto porquê? Porque já me
aconteceu uma aluna aplicar estas normas às relações entre pais e filhos, o que é
sempre desagradável e eu espero que os senhores não façam.
Caminhando para a frente excelências, vamos passar a outro veículo possessório, muito
importante: é uma providencia cautelar que está consagrada no artigo 1279.º CC; ora,
excelencias, os senhores encontram no artigo 1279.º, que devem articular com o artigo
393.º do CC – uma providencia cautelar tipificada, chamada restituição provisória da
posse. O que é que isto pressupõe? Pressupõe 3 coisas: (i) posse prévia, (ii) esbulho e,
finalmente (iii) violência. E percebam, agora, porque é que as classificações
possessórias podem ser muito importantes: porque, afinal de contas, se eu tiver posse
violenta eu posso recorrer a este mecanismo; e meus senhores: porque é que eu quererei
recorrer a este mecanismo? Por uma razão muito simples: é porque o processo judicial
demora tempo e os procedimentos cautelares são mais expeditos. Segundo: o
processo civil está enformado por várias regras básicas; uma dessas é o princípio do
contraditório; ora, se os senhores olharem bem para isto, esta providencia é decretada
sem audiencia do esbulhador, o que quer dizer que há uma derrogação expressa na lei
ao princípio do contraditório; quer isto dizer que havendo esbulho e posse violenta eu
posso ser restituído provisóriamente sem que o esbulhador tenha de ser chamado a
dizer o que quer que seja. O que é que vai acontecer? Ele depois tem direito a
contraditório subsequente. Mas quando o contraditório é exercido eu já tenho a
posse restituída. Exemplo, meus senhores:
Olhem o caso que eu ainda há pouco vos dei de um locatário pegar na sua posse interdictal mesmo
contra o locador. Vai ser relevante se o esbulho, e se bem que vai ser sempre um esbulho muito sui
generis, porque é um esbulho feito pelo próprio proprietário ao titular do direito pessoal de gozo, vai
ter relevância saber se o esbulho corporiza ou não posse violenta. E, quando os senhores discutem o que é
afinal a posse violenta: se os senhores entenderem que violência é só sobre pessoas – portanto: é
necessário que o senhorio entre em casa e ameace, por exemplo, o inclino, então o que vão dizer é que a
violência não se pode aplicar. Se os senhores entenderem, pelo contrário, que (i) pode existir violência
sobre “coisas” [entretanto ele atira o telemóvel para cima da mesa…], na realística do intérprete eu não
fui violento com este telemóvel, como é óbvio, não é? A violência entre coisas é um conceito absurdo.
Os únicos sujeitos de violência são as pessoas, como é óbvio. Bom, mas se não há violência, então no
caso de o senhorio mudar das fechaduras e de arrombar a porta, fico sem ninguém lá dentro de casa: esta
providência não pode ser suscitada, porque, das duas, uma: ou os senhores admitem violência sobre
coisas ou então admitem violência potencial/hipotética sobre pessoas, ou seja, consideram que arrombar
uma porta ou arrombar/mudar a fechadura deve ser equiparado a um acto de violência sobre pessoas.
Porquê? Porque provavelmente a coacção existiria se o locatário estivesse no local ou era previsível
que o locatário estivesse no local. Isto para conseguirmos entrar na previsão do artigo 1279.º.
Pergunta: não havendo violência, não pode haver providência cautelar? Resposta: não!
Pode sempre haver providência cautelar mesmo que a posse não seja violenta, leia-se:
que o esbulho não seja violento. Há uma única diferença, como os senhores podem ver
no artigo 395 CPC: é que não havendo violência no esbulho, há providência cautelar,
sim, mas ela não é nominada, mas sim inominada: consequência: é que o esbulhador
Bom, última nota que eu gostava que os senhores tivessem em atenção neste âmbito é a
norma da defesa da composse. Meus senhores, porquê? Porque não tendo isto nada que
ver com o Direito das Obrigações – espero que os senhores já tenham percebido que o
tipo dos direitos reais são opostos, em regra, aos princípios de Direito das
obrigações – e daí a autonomia Dogmática entre as duas disciplinas, pressupondo aqui
uma derrogação expressa ao que seria a regra no direito das obrigações; no direito das
obrigações temos a regra – que não sei se se recordam – que é a parciariedade ou
conjunção; não é a solidariedade. E eu aqui estou a falar duma obrigação plural da
parte activa. O que é que o 1286 diz? (leu): ou seja, eu tenho aqui um fenómeno, em
termos processuais na posse assemelhável ao quê? À figura da solidariedade activa
no exercício das obrigações, sendo certo que eu aqui não tenho uma obrigação, não
tenho sequer um direito real: eu tenho uma situação jurídica sui generis. Bom, de
todo o modo, notem também que eu vou ter um fenómeno na posse que é paralelo
depois ao fenómeno que eu vou encontrar no domínio substantivo; eu vou encontrar no
domínio substantivo a compropriedade, e a sua extensão a outros direitos reais, à
comunhão de outros direitos reais – cf. 1403 e 1404 CC. Eu no domínio da posse vou
ter um (direito?) paralelo, que é a composse, que, contudo, não tem um tratamento
dogmático autónomo na lei – aliás, não era expectável; é objecto apenas de pequenos
apontamentos – cf., 1291.º - onde mais uma vez a solidariedade manifesta-se.
22 de Março de 2011
Ver o que é mais ou menos comuns. Estabelecer os quadros comuns sa todos os direitos
reais.
O conteúdo dos direitos reais. Os direitos reais, em termos de conteúdo tem sempre
faculdades que se traduzem no aproveitamento da coisa. 1306.º - partes não gozam da
estipulação de efeitos; usufruto e servidão são feitas dentro dos pressupostos legais.
Como é que a posse se insere no conteúdo dos direitos reais? OS reais de garantia – o
penhor – só produz os seus efeitos com a entrega, ou então a retenção – põe-se a questão:
como relacionar a posse com o conteúdo? Menezes Cordeiro insere a posse no conteúdo
dos direitos reais de gozo. Posse é constante normal dos direitos reais de gozo. Os 1251
e ss referem os direitos reais de gozo. Menezes Leitão discorda – o que as disposições
regulam é a própria posse; mais nada. Menezes Leitão a posse pode ser causal mas o
problema é que a posse resulta do seu exercício – 1251 – só os poderes relativo à coisa.
Logo, não fazem parte dos direitos reais de gozo. Para os reais de garantia é um
pressuposto, mas não é uma consequência. Não sendo a posse um direito real,
também não faz parte do conteúdo; mas liga-se intensamente, pois liga-se a eles.
Conteúdo dos direitos reais de gozo: direito de usar, fruir e dispor da coisa (fórmula
Romana) – 1305º - o direito real máximo. Mas a questão: todos os direitos reais de gozo
conferem pelo menos uma destas faculdades? Problema: servidões
negativas/desvinculativas – alguém se obriga a não construir no terreno vizinho, em
consequência da servidão/ fazer gotejar sobre o prédio vizinho. Pergunta-se: mas há
aqui algum aumento dos poderes do prédio dominante? Aumento dos poderes de uso
que cabem ao poder. Outra questão: a nua propriedade – o usufrutuário. Isto impede
que, mesmo que o gozo fique totalmente excluído, a nua propriedade é temporária –
Oliveira Ascensão – temos um direito de propriedade temporariamente excluído.
Ius utendi – a propriedade: o uso é pleno. Nos outros o gozo pode ser limitado (1446.º);
necessidades pelo titular (só pode ser usado em casos específicos).
Ius fruendi – tirar os rendimentos da coisa sem a perda da sua substancia. Natural ou
civil (rendas). A fruição não é essencial aos direitos reais de gozo. Quem obtenha
rendimentos a partir das coisas, mesmo que os frutos sejam civis, está a adquirir a posse
da coisa. Posse em nome alheio.
24 de Março de 2011
29 de Março de 2011
- Expropriações – 1310 CC. O art. 62/2 apenas prevê a expropriação por utilidade
pública. Por utilidade particular – 1370.º – comunhão forçada. Decisão do TC acerca da
cessão industrial imobiliária – ac. 205/2001 – artigo 1340/1 não é caso de
expropriação particular. Lei 168/99 – Código das Expropriações regula as
expropriações por utilidade pública. Subtracção de um bem imóvel por utilidade pública
mediante o pagamento de uma justa indemnização. Cf. 3/1 CE. Direito de reversão a
favor do proprietário (5/1/a e b). Cf. 11/1. A expropriação implica sempre, face ao 62/2
CRP implica uma justa indemnização ao proprietário (cf. 23/1 CE). Para evitar
confusões, o 23/1 diz que não vida indemnizar mas sim compensar o valor económico
para o valor normal. A requisição – sujeita ao mesmo regime da expropriação (cf.
1309.º). A requisição (80.º e ss CE) também pode incidir sobre bens móveis e imóveis.
Caso particular – 1388 – requisição das águas. Nacionalização (bens para o estado) e
colectivização (beneficiários são os particulares). Estas caracterizam-se por serem
realizadas directamente pela lei. Lucros privados e prejuízos colectivos.
receber águas do prédio superior. São proibidas as obras que obstem ao escoamento.
Relação propter rem. É possível – 1563 – possível o escoamento.
31 de Março de 2011
5 de Abril de 2011
Obras defensivas para conter as águas – 1352.º - resulta este dever, de salvaguardar a
coisa. Objecto de interpretação de formas distintas. 1ª – proprietários tem obrigação de
tolerar as obras. 2º os proprietários tem a obrigação de fazer as obras (Menezes
Cordeiro e Carvalho Fernandes; seguida por Menezes Leitão). Só em caso de
incumprimento é que se deve tolerar que os outros façam as obras.
Pode ocorrer em qualquer direito real. Cf. 1404º. Pode haver no usufruto, superfície, etc.
Regime especial para a compropriedade das águas – 1398 e ss. Compropriedade
1403/1 – duas ou mais pessoas são titulares do direito de propriedade seja de duas
pessoas. 1403/2 – os direitos são qualitativamente iguais, embora possam ser
quantitativamente diferentes. Cf. 1405.º - comunhão romana - Prevê-se a existência de
quotas. Na comunhão germânica não há quotas – propriedade em mão comum.
Comunhão conjugal é germânica, pois não há quotas que possam ser alienadas. Na
propriedade temos a comunhão romana.
Compropriedade pode ser constituída por várias formas. Contrato; facto jurídico
não negocial (p. ex., usucapião, ocupação); sentença judicial – pessoa pede que lhe seja
atribuída a compropriedade; pode resultar da lei também.
1406/1 – Uso da coisa. Cada um tem a faculdade de usar a coisa. Essa faculdade está
limitada: ao fim – restrição funcional – questão do uso. Estranho, pois a propriedade
tem gozo pleno. Restrição quantitativa – se tiver 1/3 das quota tem de usar em apenas
1/3. Uso simultâneo também. O uso da coisa envolve a posse. Cf. 1406/2 – para adquirir
posse superior à sua quota tem de haver inversão do título da posse, sob pena de estar a
exercer a posse de todos.
Reivindicação – basta que a coisa esteja na posse dum terceiro para que o
comproprietário possa agir.
Não pode dispor da coisa, mas pode dispor da sua quota. Quotas tem direito
económico (comunhão romana). Cf. 1408/3. 3 comproprietários. Cada um cultivava 1/3.
Isto não permite alienar o seu 1/3 – venda alheia. A quota pode alienar – parte abstracta.
Exigir a divisão da coisa comum – prazo de indivisão não pode ser superior a cinco
anos. Se não for estipulada a indivisão, pode-se pedir a divisão. Se a coisa for
indivisível não pode ser dividida.
§ Extinção
Tese do Direito Sobre quotas (Paulo Mota Pinto, Guilherme Moreira). Quota incide
sobre parte ideal. Objecto seria a quota ideal. Menezes leitão discorda, pois o direito
real surge sobre coisas corpóreas, e não sobre quotas, coisas corpóreas
Direito único com pluralidade de titulares. Henrique Mesquita – quotas significa parte
do direito e não parte de uma quota ideal. Menezes Leitão concorda.
1398 e ss. Águas pertencerem a 2 pessoas ou serem usadas por mais de uma pessoa. É o
chamado condomínio das águas. Os co-utentes são obrigados a contribuir. É uma
obrigação propter rem. Não é admitida a renuncia liberatória. Divisão das águas para
aproveitamento de todos. Lei admite a relevância do costume – 1400/1 para efeitos de
divisão. Costume por mais de 20 anos – para os que se aproveitam da passividade.
7 de Abril de 2011
12 de Abril de 2011
14 de Abril de 2011
Demarcação – estabelecer limites entre os prédios. Era sujeita a processo especial; hoje
processo comum.
Perda da Coisa – extingue o direito real. 1476/1/b. Perda tem de ser total. Se for parcial
há apenas modificação do objecto. Destruição.
Impossibilidade de exercício do direito – se o direito é para ser usado pelo titular, se ele
não o pode usar o direito deve extinguir-se. Só não se aplica às servidões – 1571 CC.
Impossibilidade tem de ser definitiva.
Renuncia
Não uso – 298/3 – aplicar o não uso aos direitos reais de gozo.
Confusão – reunião na mesma pessoa do direito real maior e menor, extinguindo-se este
último.
(…) – nemo pluris iuris – se tiver usufruto de 20 anos não posso constituir a servidão de
30 anos.