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NEGRO E RESISTÊNCIA
PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO
VITÓRIA
2017
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
Diemerson Saquetto
Os autores
Sumário
INTRODUÇÃO
Pedagogia da Libertação..........................................................................................11
CAPÍTULO 1
Escravidão no Brasil: formas de resistência......................................................13
CAPÍTULO 2
Escravidão no Espírito Santo.................................................................................23
CAPÍTULO 3
A Insurreição de Queimado.....................................................................................29
CAPÍTULO 4
O Sítio Histórico de Queimado...............................................................................45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................53
10 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES
INTRODUÇÃO
A Pedagogia de
Libertação
O presente material educativo foi construído com base nos pres-
supostos da Pedagogia da Libertação, tendo como precursor Paulo Freire.
Esta perspectiva pedagógica não se trata de algo fechado, de um método
engessado, concreto e pronto para ser inserido em qualquer realidade es-
colar. Trata-se, antes de tudo, de um movimento político e em constante
modificação do pensamento e da linguagem. Assim, o movimento propos-
to por esta Pedagogia não se esgota, pelo menos enquanto houver desi-
gualdades sociais e relações de opressão no contexto social.
A Pedagogia da Libertação tem como matriz teórica e metodológica
o materialismo histórico dialético, o que fornece uma base para compreen-
der melhor o movimento de ensino proposto por Freire para a superação
das relações de dominação entre opressor e oprimido. De acordo com o
próprio Freire, esse deve ser o principal objetivo do ensino: a libertação de
situações de opressão.
Para que este objetivo seja alcançado, faz-se necessário que os
oprimidos libertem-se não somente a si, mas também os opressores (FREI-
RE, 2005, p. 33). Este cuidado na sistematização do ensino é importante
para que simplesmente não ocorra uma inversão da situação de domina-
ção, onde o oprimido se sinta opressor, tampouco opressor do opressor.
Esta não é a lógica proposta por Freire, mas a libertação de todas as for-
mas de opressão.
Para que este objetivo seja alcançado, Freire propõe algumas cate-
gorias que estruturam sua metodologia de ensino, não como elementos
rigorosamente lineares, fechados e amarrados como uma receita pronta
a ser aplicada, mas algumas reflexões sobre o fazer e o modo de fazer
ensino, que não reproduza ou exclua, mas que inclua e liberte.
Resistência negra
na escravidão
Como eram os comportamentos dos negros
diante da escravidão? Eles aceitavam a condição
a eles imposta de escravos?
Eles lutavam contra essa estrutura?
Se sim, de que forma?
Figura 1. Ilustração realizada pelos alunos Luiz Phelipe, Egle, Carol, Eduarda e
Gerliane, turma 8o B da EMEF “Antário Alexandre Theodoro Filho”
TOMADA DE POSSE
ABORTO
INSURGÊNCIAS
Esta era uma prática de resistência muito comum dos negros es-
cravizados. Podemos caracterizá-las em dois tipos: as fugas de rompi-
mento e as fugas reivindicativas. As primeiras eram uma forma de buscar
a liberdade do sistema escravista. Geralmente, eles fugiam pelas matas e
formavam comunidades em lugares mais isolados que hoje chamamos de
quilombos. A segunda forma de fuga consistia na reivindicação de melho-
rias das condições de vida. Muitos fugiam e voltavam somente se fossem
feitos acordos que melhorassem de algum modo as condições de vida e
de trabalho dos negros escravizados.
TEXTO COMPLEMENTAR:
Atividade 1
Atividade 2
Escravidão no
Espírito Santo
Você sabe como era a escravidão no Estado do
Espírito Santo? Você consegue imaginar quantos
negros desembarcaram no ES?
Para onde iam? Como viviam aqui?
Figura 8. Forte São João. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves
Atividade 1
Atividade 2
A Insurreição de
Queimado
Você conhece algum movimento de resistência
dos negros no Espírito Santo?
Como os negros reagiam à escravidão no ES?
Você já ouviu falar na Insurreição de Queimado?
Do que se trata?
Chico Prego - pessoa forte e robusta, ficou conhecido por ser mais
ativo e rebelde.
[...]
Chamei pra relatar
O que o padre falou
Disse que alforria
Nossos donos não aprovou.
E que fez imploração,
Em nome da religião,
Mas de nada adiantou.
Traçou um plano
Pra gente executar:
Ir aos donos dos cativos,
Ir pra convencer, tentar
Preencher a assinatura
Neste Papel, sem rasura,
Para se documentar.
E depois do preenchimento,
Fazendo toda a rotina,
Colhendo as assinaturas
Dessa raça suína,
Damos ao padre Zé Maria,
Pra tratar da alforria
Com a rainha Dona Cristina.
Atividade 1
Momento 1:
O juiz abre a sessão e lê brevemente os motivos que fazem do Frei
Gregório um réu.
Momento 2:
O juiz abre espaço para os argumentos da acusação (10 min), sendo
possível réplica e tréplica entre as duas partes.
Depois, o juiz abre espaço para os argumentos da defesa (10 min),
sendo possível réplica e tréplica entre as duas partes.
Momento 3:
O juiz encerra as discussões e o corpo de jurados decide qual será
a sentença do réu.
O Sítio Histórico de
Queimado
Devido a forte presença de uma cultura branca europeizante em
nossa realidade, por muito tempo os patrimônios culturais eram enten-
didos somente como aqueles que tinham como herança os aspectos de
uma cultura ocidental europeia. Assim, os patrimônios eram reconhecidos
sob um ponto de vista elitista, como os palácios imperiais do Rio de Janeiro
e as cidades barrocas mineiras.
Apesar disso, o Sítio Histórico de Queimado é um patrimônio tomba-
do e rico em elementos educativos a serem desenvolvidos nos processos
escolares.
A Educação para as Relações Étnico-raciais, direcionadas pela lei
10639/2003 e alavancada numa proposta interdisciplinar, pleiteia uma pro-
posta educativa que transgrida o formato linear e positivista de ensino.
Tratar de educação é algo que não se limita ao espaço escolar e princi-
palmente a sala de aula, como pressupõe as perspectivas de ensino mais
tradicionais. É importante reconhecer que há outros espaços educativos
na formação dos sujeitos.
O ensino é uma área que comporta uma grande diversidade de ins-
trumentos educativos e métodos de ensino. A Educação Patrimonial é um
deles, se configurando como um forte trabalho educativo do contexto da
educação não formal.
A Educação Patrimonial consiste em “um instrumento de ‘alfabeti-
zação cultural’ que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o
rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória
histórico-temporal em que está inserido” (Horta; Grumberg; Monteiro, 1999,
p. 4). Assim, o trabalho de Educação Patrimonial com o Sítio Histórico de
Queimado possibilita aos alunos identificarem todo o significado histórico
Atividade 1