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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE HUMANIDADES

EMANUEL VIEIRA DE ASSIS


DIEMERSON SAQUETTO

NEGRO E RESISTÊNCIA
PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO

VITÓRIA
2017
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

R627e Assis, Emanuel Vieira de.

Negro e Resistência: Proposta educativa sobre a Insurreição


de Queimado / Emanuel Vieira de Assis, Diemerson Saquetto. –
Vitória: Instituto Federal do Espírito Santo, 2017.
XX f. : il. ; 30 cm

ISBN: 978-85- 8263-247- 5

1. Insurreição de Queimados. 2. . 3. Resistência negra. 4. Lei


10639/2003. I. Saquetto, Diemerson. II. Instituto Federal do Espírito
Santo. III. Título.

CDD 21: 510.72


Os autores

Emanuel Vieira de Assis

Professor de Ciências Sociais da Rede Municipal de Educação de


Cariacica no Espírito Santo. Formado em Licenciatura em Ciências Sociais
pela Universidade Federal do Espírito Santo (2008). Possui especialização
em Informática na Educação pelo Instituto Federal do Espírito Santo (2014).
Está finalizando o Mestrado em Ensino de Humanidades pelo Programa de
Pós-graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH) do Instituto Federal do
Espírito Santo (Ifes). Pesquisa a luta e organização da população negra no
Espírito Santo através da Insurreição de Queimado e do Sítio Histórico de
Queimado.

Diemerson Saquetto

Diretor Geral e Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência


e Tecnologia do Espírito Santo (IFES - campus Vila Velha), com atuação
nos Cursos Técnico em Biotecnologia, de Licenciatura em Química, espe-
cializações em formação de professores, nos Mestrados em Ensino de
Humanidades e PROFQui. Presidente do Conselho Regional de Psicologia do
ES (CRP-16). Pós-doutorado e Doutorado em Psicologia, Mestrado em His-
tória Social e Política (UFES). Especialista em Gestão de Políticas Públicas;
Especialista em Educação de Jovens e Adultos; Especialista em Filosofia e
Psicanálise; Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal
de Juiz de Fora (UFJF); Psicólogo formado pela Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES); Acadêmico de Direito (UFES). Tem experiência nos se-
guintes temas: Psicologia Social; Ensino e História das Ciências; Formação
de Professores; Gênero e Religião.
Magia negra

Magia negra era o Pelé jogando, Cartola compondo, Milton


cantando. Magia negra é o poema de Castro Alves,
o samba de Jovelina…
Magia negra é Djavan, Emicida, Mano Brow, Thalma de Mreitas,
Simonal. Magia negra é Drogba, Fela kuti, Jam. Magia negra é dona Edith
recitando no Sarau da Cooperifa. Carolina de Jesus é pura magia negra.
Garrincha tinhas duas pernas mágicas e negras. James Brow. Milton
Santos é pura magia.
Não posso ouvir a palavra magia negra que me transformo num dragão.
Michael Jackson e Jordan é magia negra. Cafu, Milton Gonçalves, Dona
Ivone Lara, Jeferson De, Robinho, Daiane dos Santos é magia negra.
Fabiana Cozza, Machado de Assis, James Baldwin, Alice Walker, Nelson
Mandela, Tupac, isso é o que chamo de magia negra.
Magia negra é Malcon X, Martin Luther King, Mussum, Zumbi, João
Antônio, Candeia e Paulinho da Viola. Usain Bolt, Elza Soares, Sarah
Vaughan, Billy Holliday e Nina Simone é magia mais do que negra.
Eu faço magia negra quando danço Fundo de Quintal e Bob Marley.
Cruz e Souza Zózimo, Spike Lee, tudo é magia negra neles. Umoja,
Espírito de Zumbi, Afro Koteban…
É mestre Bimba, é Vai-Vai, é Mangueira todas as escolas transformando
quartas-feira de cinza em alegria de primeira.
Magia negra é Sabotage, MV Bill, Anderson Silva.
Pepetela, Ondjaki, Ana Paula Tavares, João Mello… Magia negra.
Magia negra são os brancos que são solidários na luta contra o racismo.
Magia negra é o RAP, O Samba, o Blues, o Rock, Hip Hop de
Africabambaataa.
Magia negra é magia que não acaba mais.
É isso e mais um monte de coisa que é magia negra.
O resto é feitiço racista.
Apresentação

Este material é fruto de uma pesquisa do Mestrado Profissional em


Ensino de Humanidades, realizada entre 2016 e 2017. Tal pesquisa teve
como objetivo desenvolver uma prática pedagógica sobre os movimen-
tos de luta e resistência dos negros escravizados no Espírito Santo, numa
perspectiva interdisciplinar e no contexto do Ensino Fundamental, com
base na Pedagogia da Libertação.

Desejamos que este material venha a contribuir e ampliar a for-


mação de alunos e professores no que se refere ao estudo das Relações
Étnico-Raciais, de modo a impulsionar mudanças na realidade, gerando
conscientização e transformação em todos os sujeitos envolvidos.

Os autores
Sumário

INTRODUÇÃO
Pedagogia da Libertação..........................................................................................11

CAPÍTULO 1
Escravidão no Brasil: formas de resistência......................................................13

CAPÍTULO 2
Escravidão no Espírito Santo.................................................................................23

CAPÍTULO 3
A Insurreição de Queimado.....................................................................................29

CAPÍTULO 4
O Sítio Histórico de Queimado...............................................................................45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................53
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INTRODUÇÃO

A Pedagogia de
Libertação
O presente material educativo foi construído com base nos pres-
supostos da Pedagogia da Libertação, tendo como precursor Paulo Freire.
Esta perspectiva pedagógica não se trata de algo fechado, de um método
engessado, concreto e pronto para ser inserido em qualquer realidade es-
colar. Trata-se, antes de tudo, de um movimento político e em constante
modificação do pensamento e da linguagem. Assim, o movimento propos-
to por esta Pedagogia não se esgota, pelo menos enquanto houver desi-
gualdades sociais e relações de opressão no contexto social.
A Pedagogia da Libertação tem como matriz teórica e metodológica
o materialismo histórico dialético, o que fornece uma base para compreen-
der melhor o movimento de ensino proposto por Freire para a superação
das relações de dominação entre opressor e oprimido. De acordo com o
próprio Freire, esse deve ser o principal objetivo do ensino: a libertação de
situações de opressão.
Para que este objetivo seja alcançado, faz-se necessário que os
oprimidos libertem-se não somente a si, mas também os opressores (FREI-
RE, 2005, p. 33). Este cuidado na sistematização do ensino é importante
para que simplesmente não ocorra uma inversão da situação de domina-
ção, onde o oprimido se sinta opressor, tampouco opressor do opressor.
Esta não é a lógica proposta por Freire, mas a libertação de todas as for-
mas de opressão.
Para que este objetivo seja alcançado, Freire propõe algumas cate-
gorias que estruturam sua metodologia de ensino, não como elementos
rigorosamente lineares, fechados e amarrados como uma receita pronta
a ser aplicada, mas algumas reflexões sobre o fazer e o modo de fazer
ensino, que não reproduza ou exclua, mas que inclua e liberte.

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 11


A problematização é um dos pontos principais na metodologia de
ensino da Pedagogia da Libertação, pois ao invés de somente explicar e
reproduzir conhecimento, ela cria situações que possibilitam a construção
do conhecimento de forma conjunta, entre educandos e educadores, atra-
vés de um esforço coletivo em que os sujeitos envolvidos se percebem
criticamente no mundo e meios para agir na realidade vivida.
Dessa forma, este material destaca algumas possíveis problemati-
zações em relação à temática trabalhada.
Esta problematização proposta por Freire não é possível sem a prá-
tica constante do diálogo. Segundo Freire (2005, p. 96), o conhecimento
não tem o educador como ponto de partida, tampouco o educando, mas
é algo a ser construído de forma a envolver todos os sujeitos imersos no
processo de ensino.
Ao tratar da necessidade da conscientização como fator importante
para conquistar a libertação através do processo de ensino, Freire está se
referindo ao momento da tomada de consciência por parte dos sujeitos
envolvidos.
O sujeito que se abre ao mundo através do diálogo e da tomada de
consciência, possibilita a propulsão de uma constante curiosidade, que de
acordo com Freire é a pedra fundamental do ensino. A curiosidade deve
ser trabalhada a todo momento no processo de ensino, através da proble-
matização e do diálogo e não por meios de procedimentos autoritários e
paternalistas, pois estes impedem que o exercício da curiosidade se esta-
beleça, a tolhendo. A conduta de problematização permite que a curiosi-
dade espontânea se transforme em curiosidade epistemológica, pois para
Freire “o que importa é que professor e alunos se assumam epistemologi-
camente curiosos” (FREIRE, 2011, p. 83).
É com base nos pressupostos da Pedagogia da Libertação que este
material e as atividades produzidas se assentam. Não se trata de um guia
prescritivo, mas de uma proposta educativa que possibilite a libertação
das situações de opressão racial colocadas socialmente.

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CAPÍTULO 1

Resistência negra
na escravidão
Como eram os comportamentos dos negros
diante da escravidão? Eles aceitavam a condição
a eles imposta de escravos?
Eles lutavam contra essa estrutura?
Se sim, de que forma?

Não se pode negar que a vida dos negros escravizados no Brasil


foi marcada pelo sofrimento, humilhação, exploração e muita dor. Apesar
destas marcas, é importante destacar um aspecto importante da escra-
vidão no Brasil: a luta e a resistência da população negra durante este
período. Até hoje algumas pessoas e determinados materiais, como livros,
tratam os negros escravizados como passivos e acomodados.
Foram diversas as formas de resistência, o negro escravizado
dançava, cantava, cultuava relações religiosas para além do catolicismo
europeizado, defendia sua família e lutava quando possível e necessário.
Ou seja, a resistência não se dava somente em grandes revoltas, mas
também no cotidiano de suas vidas, onde nem sempre os senhores de
escravos percebiam que se tratava de formas de resistência. Ainda assim,
as principais formas de resistência foram a formação de quilombos e as
rebeliões contra o sistema escravista.

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 13


MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

As danças, as músicas, a associação entre orixás e santos católi-


cos, as comidas, as lutas - como a capoeira - são elementos culturais dos
negros que buscavam de alguma forma negar a cultura branca europeia
constituída. Muitos destes foram consolidados na formação cultural bra-
sileira.

Figura 1. Ilustração realizada pelos alunos Luiz Phelipe, Egle, Carol, Eduarda e
Gerliane, turma 8o B da EMEF “Antário Alexandre Theodoro Filho”

INCÊNDIOS E DESTRUIÇÃO EM PLANTAÇÕES

Incendiar e/ou destruir plantações era outra maneira de resistên-


cia. Além disso, alguns destruíam ferramentas, máquinas e qualquer outro
instrumento utilizado no trabalho escravo e que pudesse causar prejuízos
aos senhores de escravos.

Figura 2. Ilustração realizada pelos alunos Matheus Littig, Cristhyan e Vinicíus,


turma 8o B da EMEF “Antário Alexandre Theodoro Filho”

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ASSASSINATO DE SENHORES E FEITORES

Esta forma de resistência ocorria de diversas formas: assassinato


com machados, envenenamento, pauladas, emboscadas, etc. Os negros
escravizados preferiam atacar os feitores, que eram responsáveis por fis-
calizar a disciplina no trabalho escravo.

Figura 3. Ilustração realizada pelo aluno Walerrandro, turma 8o A da EMEF


“Antário Alexandre Theodoro Filho”

TOMADA DE POSSE

Como forma de garantir a sobrevivência e a satisfação de neces-


sidades básicas, muitos eram levados a realizar furtos e roubos. Os bens
mais comuns eram comida, roupas e dinheiro. Importante destacar que
isto ocorria devido a um sistema escravista injusto que obrigava os negros
a tais práticas. Ou seja, eram estratégias de sobrevivência e resistência.

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 15


Figura 4. Ilustração realizada pelos alunos Estefani, Pedro e Kainan, turma 8o A
da EMEF “Antário Alexandre Theodoro Filho”

ABORTO

As mulheres negras escravizadas que usavam desta prática tinham


motivos diversos. Muitas engravidavam devido à violência sexual sofrida
por parte senhores brancos e o aborto era uma recusa em gerar filhos
frutos do estupro. Além disso, era um meio de livrar suas crianças da
condição de escravos que lhes seriam impostas. Muitas eram obrigadas a
amamentar os bebês das famílias brancas e, além de cuidar dos próprios
filhos, teriam que cuidar dos pertencentes aos senhores. A carga de tra-
balho destas mulheres era muito alta, o que as levavam, muitas vezes, a
esta prática como negação do sistema escravista.

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Figura 5. Ilustração realizada pelos alunos Remerson, Lorran, Enzo e Ricardo,
turma 8o B da EMEF “Antário Alexandre Theodoro Filho”

INSURGÊNCIAS

Esta era uma prática de resistência muito comum dos negros es-
cravizados. Podemos caracterizá-las em dois tipos: as fugas de rompi-
mento e as fugas reivindicativas. As primeiras eram uma forma de buscar
a liberdade do sistema escravista. Geralmente, eles fugiam pelas matas e
formavam comunidades em lugares mais isolados que hoje chamamos de
quilombos. A segunda forma de fuga consistia na reivindicação de melho-
rias das condições de vida. Muitos fugiam e voltavam somente se fossem
feitos acordos que melhorassem de algum modo as condições de vida e
de trabalho dos negros escravizados.

Figura 6. Ilustração realizada pelos alunos Estefani, Pedro e Kainan, turma 8o A


da EMEF “Antário Alexandre Theodoro Filho”

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 17


QUILOMBOS

As fugas de rompimento geralmente provocavam a formação de


quilombos, que eram locais onde os escravizados se refugiavam com o
objetivo de uma vida livre da escravidão. Os quilombos eram lugares isola-
dos nas matas e ali os negros formavam comunidades, construindo casas,
plantando, formando laços de comunidade e vivendo livremente suas ma-
nifestações religiosas e culturais.
Os descendentes destes grupos são chamados de quilombolas.
Existem hoje cerca de 1500 comunidades quilombolas. O tamanho dos
quilombos variava muito de um para outro. Alguns eram grandes, outros
pequenos. O maior já conhecido foi o de Palmares, que tinha como líder
principal Zumbi dos Palmares.

Figura 7. Ilustração realizada pelos alunos Williander, Lucas, Matheus Freitas e


Gistavo, turma 8o B da EMEF “Antário Alexandre Theodoro Filho”

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Muitos quilombos, por estarem em locais afastados, permane-
ceram ativos mesmo com a Abolição da Escravatura, dando origem às
chamadas comunidades quilombolas. Existem atualmente cerca de 1500
comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Palmares, embora
as estimativas apontem para mais de três mil. Grande parte está situada
na região Norte e Nordeste.

Você sabe como surgiu o dia da Consciência Negra?


Qual o significado desta data?
Alguns afirmam que há a necessidade do dia da
Consciência Humana e não da Consciência Negra,
mas porque essa ideia apaga a importância da
valorização da luta dos negros no Brasil?

Qual a importância da formação dos quilombos na


luta por liberdade dos negros escravizados?
Por que é importante a organização na luta
contra a opressão racista?

TEXTO COMPLEMENTAR:

Como surgiu o Dia da Consciência Negra?


As origens do Dia da Consciência Negra estão relacionadas aos
esforços dos movimentos sociais para evidenciar as desigualdades his-
tóricas que afligem as populações negra e parda no Brasil. A data é co-
memorada em 20 de novembro para coincidir com o aniversário da mor-
te de Zumbi dos Palmares (1655-1695), líder do Quilombo dos Palmares,
no período colonial brasileiro.
O Quilombo dos Palmares, localizado no atual estado de Alagoas,
é uma das mais famosas comunidades de escravos foragidos da nossa

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 19


história. Seu último líder foi Zumbi dos Palmares, nascido no quilombo,
mas capturado por colonos portugueses quando ainda era criança. Seu
retorno aconteceu quando o governo da Capitania de Pernambuco nego-
ciava com as lideranças quilombolas sua submissão à Coroa Portuguesa.
Por não concordar com essa proposta, Zumbi desafiou Ganga Zumba,
então líder dos negros. Ganga Zumba acabaria envenenado por um aliado
de Zumbi, que se tornou assim o governante da comunidade. No final do
século17, o Quilombo foi alvo de diversos ataques de bandeirantes. Aca-
bou sucumbindo aos poder bélico superior das tropas. Nesse período,
Zumbi foi caçado e morto. Sua cabeça foi exibida em praça pública para
desencorajar os outros escravos.
Desde a década de 70, a data do falecimento de Zumbi tem sido
utilizada para relembrar as condições desumanas da escravidão no Brasil
e as formas de resistência dos povos escravizados. Mais recentemente,
leis estaduais e municipais criaram o feriado no dia 20 de novembro com
o objetivo de valorizar a cultura negra e reconhecer a contribuição de
ex-escravos e seus descendentes para a história. (Maiko Rafael Spiess)
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br (adaptado)

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SUGESTÕES DE ATIVIDADES

Atividade 1

Divida a turma em grupos, onde cada um deve ilustrar uma diferen-


te forma de resistência negra no período da escravidão. A ilustração pode
ser por meio de charge, desenho livre, história em quadrinhos, meme, etc.

Disciplinas que podem ser envolvidas:


Artes
História
Língua Portuguesa
Sociologia

Atividade 2

Os alunos podem pesquisar o número de comunidades quilombolas


existentes no Brasil atualmente e apresentar gráficos com estas infor-
mações, divididos em estados e regiões brasileiras. Após esta pesquisa,
pode-se problematizar: por que algumas regiões possuem mais comunida-
des quilombolas que outras? Como se encontra a valorização da cultura e
da resistência nestas comunidades hoje? Se possível, organize uma visita
a uma destas comunidades e um diálogo com os membros.

Disciplinas que podem ser envolvidas:


Matemática
História
Sociologia
Geografia

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ANOTAÇÕES

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CAPÍTULO 2

Escravidão no
Espírito Santo
Você sabe como era a escravidão no Estado do
Espírito Santo? Você consegue imaginar quantos
negros desembarcaram no ES?
Para onde iam? Como viviam aqui?

Na Província do Espírito Santo, há registros da chegada de negros


africanos a partir de 1621. Foram mais de 200 anos de tráfico negreiro no
Espírito Santo, já que esta prática só foi proibida em 1850, com a chamada
Lei Eusébio de Queiroz. A Província do Espírito Santo era uma das que mais
fazia contrabanda de negros a serem escravizados no país e mesmo com a
proibição da lei nº 581 de 1850, muitos navios continuavam desembarcando
pessoas negras de forma clandestina nos portos de Vitória e São Mateus.
Em Vitória, os dois principais mercados de compra e venda de pes-
soas escravizadas eram: O Forte São João, onde hoje é o Clube Saldanha da
Gama e o Mercado de Campinho (figura 8), onde hoje é o Parque Moscoso.

Figura 8. Forte São João. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves

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Figura 9. Fonte: IPHAN. Disponível em: http://legado.vitoria.es.gov.br/
baiadevitoria/ Nota: Região do Antigo Campinho parcialmente aterrada, ao fundo,
abaixo da colina da Igreja de São Gonçalo. Autor desconhecido

O Espírito Santo tinha três grandes áreas de concentração popula-


cional escrava: Norte litorâneo, tendo a cidade de São Mateus como polo.
O Sul, onde Cachoeiro do Itapemirim era o município polo e a região Central,
onde Vitória era o município de influência principal.

Que idade você imagina que tinham os negros


escravizados? Você os imagina mais velhos ou mais
novos? Por quais motivos?

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População segundo a condição do Espírito Santo e de Vitória (1872).
Província / Município /
Livres (%) Escravos (%) Total
Paróquias
Província do Espírito
59.478 72,4 22.659 27,6 82.137
Santo
Município de Vitória 12.470 77,2 3.687 22,8 16.157

Paróquias Livres (%) Escravos (%) Total

Nossa Senhora da Victoria 3.360 77,0 1.001 23,0 4.361


Santa Leopoldina 1.455 75,2 481 24,8 1.936
São João de Carapina 906 78,3 251 21,7 1.157
São João de Cariacica 4.144 77,9 1.174 22,1 5.318
São José do Queimado 2.605 77,0 780 23,0 3.385
Fonte: elaborado por Vanderson Moreira Silva Alves a partir do Censo de 1872
(IBGE, 1872) adaptado por CEDEPLAR (2012).

Até meados do século XIX, a economia da Província do Espírito Santo


baseava-se na cana-de-açúcar, mas logo depois o café passou a ocupar
a principal fonte econômica da região. O café se expandiu rapidamente e
com isso vieram mais pessoas a serem escravizadas. No período de 1856
a 1872, os números da população livre e escrava dobraram.
Como boa parte da população negra se espalhava por terras iso-
ladas e pontos pesqueiros, muitos negros não eram contabilizados nos
levantamentos de censo populacional. Por volta de 1872, a maioria dos
negros escravizados era jovem com menos de 20 anos, sendo que 43,6%
eram crianças e adolescentes com menos de 16 anos. Como o total da
população negra e da população de pessoas escravizadas era o mesmo,
constata-se que não havia na Província escravos brancos.
Em meados dos anos 1840 houve um aumento no número de qui-
lombos no Espírito Santo, o que provocou reações imediatas do governo
provincial para combatê-los. Neste mesmo período, o governo realizou a

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 25


batida e destruição de um quilombo de dezoito casas na região de Aracruz,
onde viviam cerca de setenta negros. Na ocasião, alguns deles foram mor-
tos pela polícia.
Em 1848, o presidente da Província avalia que os crimes cometidos
diminuíram em 1847, mas, mesmo assim era necessário ampliar o efetivo
policial devido às constantes fugas dos escravizados para as matas e na
formação de quilombos. Os relatórios afirmam que a manutenção da segu-
rança era em favor do individual e das propriedades privadas e não à vida
humana de uma forma geral, o que só reafirmava a ideia de escravizado
como mercadoria e não como uma pessoa humana.
Estes relatórios justificaram a criação de leis provinciais que permi-
tiam medidas de perseguição e repressão aos negros que desobedeciam
à ordem estabelecida. A principal delas foi a lei nº 8 de 31 de julho de 1845,
que “tinha, por objetivo, a apreensão de escravizados fugidos, bem como
de desertores e de criminosos” (CARDOSO, 2008. p. 41).
No século XIX, há registros de mais de 20 quilombos no território do
Espírito Santo. Um deles é o de Divino Espírito Santo (figura 9), uma comu-
nidade quilombola que resiste em São Mateus, no norte do Estado.

Figura 10. Comunidade quilombola em São Mateus

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SUGESTÕES DE ATIVIDADES

Atividade 1

Elaborar um cartaz com o mapa do Espírito Santo. No mapa, os alu-


nos podem inserir pontos nos municípios e/ou áreas que possuem comu-
nidades quilombolas. Além disso, os pontos no mapa podem ser represen-
tados por elementos afro-brasileiros, como símbolos da música, comida,
religião, etc.

Disciplinas que podem ser envolvidas:


História
Sociologia
Geografia

Atividade 2

Pesquisar os números da escravidão no Espírito Santo: número de


escravizados em diferentes datas, crescimento populacional, municípios
com maior contingente de negros, etc. Apresentar os dados em gráficos.

Disciplinas que podem ser envolvidas:


História
Matemática
Geografia
Sociologia

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ANOTAÇÕES

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CAPÍTULO 3

A Insurreição de
Queimado
Você conhece algum movimento de resistência
dos negros no Espírito Santo?
Como os negros reagiam à escravidão no ES?
Você já ouviu falar na Insurreição de Queimado?
Do que se trata?

A FREGUESIA DE SÃO JOSÉ DE QUEIMADO

A Freguesia de São José do Queimado encontrava-se às margens


do rio Santa Maria, numa área próxima ao entorno do Monte Mestre Álva-
ro, hoje município da Serra. Em 1943, por meio do Decreto-Lei Estadual nº
15177 esta região passou a pertencer ao município da Serra e não mais de
Vitória, como era antes. De acordo com Cunha (2015, p. 15), “o nome Quei-
mado, provavelmente, surgiu devido às constantes queimadas utilizadas
na época para limpeza e preparação do solo para plantios”.
O rio Santa Maria era um canal de transportação de produtos oriun-
dos do interior da Província, como café, farinha de mandioca, cana-de-
-açúcar, milho e feijão, por meio de canoas. O povoado era um ponto de
recepção de tais produtos, pois ele mesmo quase não produzia algo.
O povoado já chegara a reunir cerca de cinco mil moradores, em
meados do século XIX, mas a pobreza tomou conta do lugar, assim como
o início de um processo de despovoamento.

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 29


A CONSTRUÇÃO DA IGREJA

Devido ao crescimento do povoado, em 1845 o Frei Gregório Maria


de Bene anuncia o início da construção da Igreja de São José de Queimado,
mas para isso precisava de mão de obra para a edificação. Com isso, o Frei
convocou os negros escravizados da região para a construção da Igreja,
que ocorreu em cerca de três anos e meio, sendo de agosto de 1845 até
março de 1849. Cerca de vinte e poucos escravos participaram da cons-
trução da igreja.
O padre João Clímaco, um defensor dos escravos do Espírito Santo
na época, fez crer que Frei Gregório prometeu aos negros escravizados a
carta de liberdade ao final da obra. Com isso, eles trabalhavam dia e noite,
nos horários em que não estavam trabalhando para os senhores, para
alcançar a sonhada liberdade, empregando todos os esforços necessários
para isso.
Para Cardoso (2008, p. 85-86), existe a possibilidade de “que os es-
cravos utilizaram-se do artifício da promessa para atrair um número signi-
ficativo de cativos para a execução do plano de conquista da alforria”, po-
rém esta informação não é comprovada por nenhum relato ou documento.
Outra versão é de que o frei não prometeu a liberdade, mas somen-
te mediar a libertação dos negros com os senhores brancos.
Já Afonso Cláudio afirma que não é possível chegar à conclusão
que o frei prometeu a alforria aos negros escravizados, pois ele era covar-
de. Em meio a esta discussão, não se pode concluir se o frei prometeu ou
não a alforria, por ausência de mais dados históricos.

Das diferentes versões sobre a promessa do frei,


qual lhe faz mais sentido? Por quais motivos?
A Igreja foi construída em três anos e meio, neste
tempo o que você imagina de conversa e expectativa
entre os negros escravizados?

30 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


A REVOLTA

No dia 19 de março de 1849 chegara o dia da primeira missa e a


inauguração da igreja, mesmo que ainda não totalmente acabada. Neste
momento, os escravos já estavam organizados nos arredores da igreja
aguardando o anúncio da alforria e articulados para uma revolta, caso o
anúncio da liberdade não ocorresse.
Alguns negros articularam a organização de um movimento que
viesse a reivindicar a alforria dita prometida a eles. Entre as lideranças,
encontram-se cinco pessoas:

Elisiário Rangel - era a cabeça intelectual do movimento. Por fre-


quentar a casa do Padre João Clímaco, ampliou seu vocabulário e adquiriu
uma forma de falar que se aproximava dos brancos ditos detentores de
uma cultura erudita. Ele foi o responsável por dialogar com Frei Gregório e
animar os companheiros.

Chico Prego - pessoa forte e robusta, ficou conhecido por ser mais
ativo e rebelde.

João, o Pequeno - estava em constante diálogo com Elisiário e foi


responsável por convocar escravos nas regiões cortadas pelo rio Santa
Maria para a Insurreição.

João Monteiro ou João da Viúva - foi responsável por convocar es-


cravos na região de Queimado.

Carlos - amigo de Elisiário e escravo do padre João Clímaco, tinha a


tarefa de convocar escravos na região de Mangaraí juntamente com João
Pequeno.

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 31


De acordo com Cardoso (2008, p. 88-89), Elisiário se colocou a
frente da organização do movimento, por ser um escravo doméstico e que
transitava livremente pela vila, o que o permitia ter contato constante com
os senhores, fazendo com que desenvolvesse uma compreensão mais
ampla das relações políticas e culturais daqueles homens.
Ainda assim, “não se pode negar que o movimento foi de caráter
coletivo” (Cardoso 2008, p. 89), pois ocorreu de forma horizontal, com
divisão bem definida de funções e descentralizada.
Passada mais de uma hora do início da missa, o frei levantava a hós-
tia em consagração, momento este que se encontra quase no final da missa,
e o anúncio da liberdade ainda não sido realizado. Foi quando Chico Prego,
considerado um dos mais bravos e afoitos entrou na igreja aos gritos de
“liberdade, liberdade!”. A confusão se estabelece no templo e inflamava os
insurgentes que se encontravam na área externa, sendo em cerca de du-
zentos. A celebração é paralisada e as portas da igreja são fechadas.
Às três horas da tarde do dia 19 de março, o presidente da Província
tomou conhecimento da revolta, fazendo com que ele fizesse a convoca-
ção da tropa do Exército do Rio de Janeiro a Queimado.
A luta não se limitou ao povoado de Queimado e a ação da igreja,
pois os insurgentes saíram pelas fazendas pressionando os fazendeiros
para que concedessem a alforria aos seus escravos. Em algumas, como
na fazenda de propriedade de Paulo Coutinho Mascarenhas, declarações
de liberdade foram alcançadas e ele foi obrigado a entregar armas e muni-
ções aos insurgentes. Estas ações ampliaram para trezentos o número de
insurgentes, motivados pelas ações bem sucedidas do movimento.
No dia 20 de março, a polícia é enviada a Queimado como forma de
repressão. Logo no início da ação policial, foram mortos oito escravos e
outros seis foram presos, incluso uma mulher. “Os insurgentes se dividi-
ram em dois grupos – um liderado por Elisiário, e, outro, por Chico Prego”.
A repressão policial durou dois dias, alguns escravos fugiram pelas matas,
outros foram mortos e outros presos.
Durante quase toda a segunda quinzena de março de 1849, as tro-
pas provinciais percorreram os arredores de Queimado, nas matas e mor-
ros, com o objetivo de capturar os insurgentes que tinham fugido.

32 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


LEITURA COMPLEMENTAR

“No dia 28 de março, a tropa da polícia que havia combatido


em Queimado regressa à capital da província, conduzindo os
revoltosos capturados. Ainda assim é organizada uma guer-
rilha para dar combate aos insurgentes que se encontravam
evadidos, bem como fazer cumprir a lei de nº 10, de 11 de
maio e 1849, que institui uma legislação sobre o trânsito de
escravos no Espírito Santo, e tinha, por objetivo, estabelecer
uma nova cultura no controle da população escrava, na pro-
víncia” (Cardoso, 2008, p. 95)

Esta lei foi promulgada como resposta à ação dos insurgentes de


Queimado e por isso estabeleceu determinações mais repressoras a po-
pulação negra do Espírito Santo, como:

Nenhum escravo poderá andar pelas ruas desta Vila com


armas de fogo, sob pena de cinquenta açoites, nem com
qualquer instrumento cortante, perfurante, ou contundente,
sob pena de vinte e cinco açoites além das marcadas pelo
código. A pena acima estabelecida será aplicada em dobro,
quando a infração for cometida de noite (art 1 da lei de 11 de
maio de 1849)

A promulgação desta lei revela a força do letrado branco contra a


força da luta e resistência da população negra nos oitocentos. Força maior
gerada pelo julgamento dos insurgentes e a punição dada a eles.

O que pode ter acontecido com o Frei?


Quem você imagina que sofreu punições?
Os negros ou o Frei? Ou os dois?
Por quais motivos?

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 33


O JULGAMENTO E A PUNIÇÃO

No dia 31 de maio de 1849, o júri do município se reuniu para o julga-


mento dos insurgentes capturados durante as ações de repressão pelas
tropas provinciais. Devido ao volume do processo, tal julgamento durou
três dias, sendo presidido pelo juiz de direito Dr. Accioli de Vasconcelos.
A defesa foi realizada pelo padre João Clímaco, que pediu a absolvição de
todos os insurgentes envolvidos e a punição do Frei Gregório como único
responsável por motivar a revolta.
“O magistrado que presidia a sessão absolveu seis dos insurgentes,
condenou cinco à pena última e os outros a açoites que variaram de mil a
trezentos” (Rosa, 1999, p. 65)
Os açoites foram realizados na praça do cais junto à alfândega, local
onde hoje se encontra a praça oito. “Os gritos de dor dos justiçados seme-
lhavam notas agudas irrompidas de um coro medonho” (Rosa, 1999, p. 66)
Alguns meses se passaram e no dia 7 de dezembro do mesmo ano,
chegou a noticia de que três dos cinco presos tinha fugido da cadeia. Estes
cinco tinham sido condenados à forca. Os três que fugiram foram Elisiário,
Carlos e João Pequeno. Os outros dois, Chico Prego e João da Viúva, não
conseguiram fugir, porque estavam em outra cela.
A polícia pôs-se a procura dos insurgentes fugitivos, a imprensa
estimulava a ideia de que os negros deveriam ser repreendidos e nisso a
população se assustava. Com uma pressão do governo, a execução dos
dois insurgentes que ainda estavam presos foi enviada. A decisão foi de
que Chico Prego fosse executado na Serra e João da Viúva na freguesia
de Queimado.
Depois de caminhar a pé da cadeia, que se localizava na Cidade
Alta, hoje Centro de Vitória, até a praça da Vila da Serra, local hoje onde se
encontra a praça Barbosa Leão, em Serra Sede, sendo açoitado e humilha-
do durante todo o trajeto, Chico Prego chega até o local de sua execução.

34 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


Figura 11. Pelo trajeto atual, Chico Prego teria caminhado por cerca de 27km, sen-
do açoitado por todo o caminho

“Depois de feita a última unção religiosa, Prego de mãos atadas gal-


gou os degraus da escada, seguido do carrasco; em seguida o executor
passou-lhe a corda ao pescoço, tendo antes ligado à trave o instrumento
mortífero, impeliu o rebelde para o espaço e arrimado à corda cavalgou
no pescoço do negro, apoiando nas mãos ligadas os pés para fazer maior
pressão. Alguns momentos depois era a corda e atirado no chão o corpo;
como, porém, ainda não tivessem cessado as agonias, o executor lançou
mão de um madeiro que se achava ao lado da forca e esmagou por partes
o crânio, os braços e as pernas do justiçado” (Rosa, 1999, p. 68-69)

Chico Prego, descrito por Afonso Cláudio como um homem “calmo,


frio e resoluto” (Rosa, 1999, p. 64), tornou-se o maior símbolo da luta do
movimento negro no Espírito Santo. Hoje na praça onde foi executado, há
uma estátua em homenagem a este mártir. Alguns dias depois, este mes-
mo horror foi provocado com João da Viúva, mas em local diferente, na
própria freguesia de Queimado.

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 35


Figura 12. Estátua de Chico Prego na Praça Barbosa Leão, Serra-Sede/ES

A decisão da justiça foi de ordem racista? Por quais


motivos? A justiça era em algum momento justa com
os negros? Alguém mais deveria ser julgado?

36 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


TEXTO COMPLEMENTAR:

Uma mulher na Insurreição


Por Clério Borges

A notícia do fim da Insurreição (Revolta) do Queimado é relatada


em Ofício (Carta) do Chefe do Polícia, José Inácio Acioli de Vasconcelos ao
Presidente da Província, datado de 20 de março de 1849. O Ofício revela a
presença de uma Escrava participando da Insurreição, da Revolta do Quei-
mado. Guerreira. Mulher de um dos Escravos:
“Cumpre-me levar ao conhecimento de Vossa Excelência que che-
guei hoje a esta Freguesia do Queimado às 4 horas da manhã e constando-
-me, poucos momentos depois, que um grupo de escravos armados, em
número de cinquenta mais ou menos, estava reunido nas imediações dela,
e que se dirigia para aqui com o plano de proclamarem a sua liberdade,
e de assassinarem todos aqueles que porventura a isso se opusessem,
dei imediatamente ordem ao Alferes, comandante do Destacamento, que
marchasse sobre eles com as praças à sua disposição e com mais alguns
cidadãos que pude reunir, conservando-me aqui com algumas pessoas
deste Distrito. E, sendo os ditos Escravos encontrados na ladeira que des-
ce para Aroaba, em direção para esta Freguesia, foram aí completamente
batidos pelo referido Destacamento, e gente a ele reunido, em um ataque
que durou seguramente meia hora, sendo em resultado mortos oito, pre-
sos seis e uma Escrava, mulher de um deles (...)”
O escritor Luiz Guilherme Santos Neves na sua obra Literária “O
Templo e a Forca”, que funde ficção com o fato histórico da Revolta do
Queimado, cria a figura da Escrava Bastiana. Ela seria a tal negra anônima
citada no ofício do Chefe de Polícia e que participa da luta entre os Negros
revoltosos e a milícia (Polícia) e seria a mulher de Chico Prego. Um romance
amoroso de um herói da Serra.
Já o Escritor João Felício dos Santos, autor do Romance “Chica da
Silva”, sucesso no Cinema sob a direção de Cacá Diegues, cria a figura de
Benedita Torreão, trabalhando de forma literária dentro de uma ficção his-
tórica, explorando a presença da mulher, afro-brasileira presa pelo Chefe

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 37


do Polícia, José Inácio Acioli de Vasconcelos, no dia 20 de março de 1849.
Trata-se do Romance, “Benedita Torreão da Sangria Desatada”, publicado no
Rio de Janeiro em 1983, que conta a saga de uma Escrava que realiza abor-
tos na intenção de livrar os Negros do Cativeiro ainda antes de nascerem.
Na propaganda do referido Romance consta como Sinopse (resumo), o se-
guinte: “O romance põe em relevo a insurreição de Queimado, um efêmero
levante de escravos, ocorrido no Espírito Santo em 1849, cujo pivô foi a igre-
ja Matriz do Queimado, que os escravos construíram numa enganosa cren-
ça, suscitada pela má fé de um capuchinho italiano, frei Gregório de Bene,
de que ganhariam alforria no final da obra. Igreja erigida com suor de escra-
vos e consagrada com seu sangue. Multifloriado romance, que ainda lega
à literatura brasileira essa personagem maiúscula que é Benedita Torreão,
individualidade humaníssima, carnal e óssea que, “amante do incendiado
da liberdade”, encarna o espírito da ressurreição escrava, tornando-se seu
próprio símbolo e alegoria.” Usando de uma licença poética e romanceando
a Insurreição, com a força da ficção, técnica de imaginação inerente aos
Escritores, podemos dizer que Sebastiana Benedita Torreão era a Escrava
anônima citada por José Inácio Acioli de Vasconcelos. A mulher Guerreira
Sebastiana, a Bastiana, companheira do Guerreiro Chico Prego.
Fonte:http://www.clerioborges.com.br/revolta.html

38 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


TEXTO COMPLEMENTAR:

A Insurreição do Queimado - Em versos de cordel


Por Teodorico Boa Morte

[...]
Chamei pra relatar
O que o padre falou
Disse que alforria
Nossos donos não aprovou.
E que fez imploração,
Em nome da religião,
Mas de nada adiantou.
Traçou um plano
Pra gente executar:
Ir aos donos dos cativos,
Ir pra convencer, tentar
Preencher a assinatura
Neste Papel, sem rasura,
Para se documentar.

E depois do preenchimento,
Fazendo toda a rotina,
Colhendo as assinaturas
Dessa raça suína,
Damos ao padre Zé Maria,
Pra tratar da alforria
Com a rainha Dona Cristina.

Com aquela decisão


Do grande Eliziário,
Alguns chefes duvidaram,
Não aprovaram o cenário.
“Os brancos tão furiosos!”

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 39


(Disse Chico, já nervoso)
“É mais uma do vigário.”

Foi aí que a sentinela


A Eliziário bradou:
“Desculpa, meu grande chefe,
A liberdade gorou.
Os negros foram traídos,
Foi negado o prometido,
O seu comando falhou,”
Ele então foi repelido
Por Josino, retrucando:
“Recolhe a arma, abusado,
A chefia está mandando!...
Cativo desatinou?
“Pois já cativo não sou!
Nem reconheço o comando!”

Fonte:Insurreição do Queimado em poesia de cordel –


Teodorico Boa Morte (trecho)

40 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


SUGESTÕES DE ATIVIDADES

Atividade 1

Após ler e discutir o capítulo sobre a Insurreição de Queimado, res-


ponda:
a) Como ocorreu o plano de conquista de liberdade por parte dos
negros escravizados?

b) Quais são as versões existentes a respeito da promessa do Frei


Gregório? Qual versão você considera mais provável de ser verídica?

c) Havia um plano de organização por parte dos negros escraviza-


dos durante a Insurreição? Como ocorreu esta organização?

d)“Todo camburão tem um pouco de navio negreiro” (O Rappa). Po-


de-se afirmar que a repressão policial a Insurreição de Queimado foi
uma ação de caráter racista? Por quê?

e) Houve racismo por parte dos juízes que julgaram os envolvidos na


Insurreição de Queimado? Por quê?

f) Por que Chico Prego é considerado o maior símbolo da luta do


movimento negro no Espírito Santo?

Disciplinas que podem ser envolvidas:


História
Geografia

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 41


Atividade 2

Organize um júri simulado ambientalizando a época e os envolvidos


na Insurreição de Queimado. Diferente do que ocorreu, proponha o julga-
mento do Frei Gregório como réu.
A turma pode dividir-se em dois grupos maiores, sendo um de de-
fesa do vigário e outro de acusação. Os alunos podem vir caracterizados,
para assim, ambientalizar melhor a atividade. Outro grupo compõe o corpo
de jurados.

Momento 1:
O juiz abre a sessão e lê brevemente os motivos que fazem do Frei
Gregório um réu.

Momento 2:
O juiz abre espaço para os argumentos da acusação (10 min), sendo
possível réplica e tréplica entre as duas partes.
Depois, o juiz abre espaço para os argumentos da defesa (10 min),
sendo possível réplica e tréplica entre as duas partes.

Momento 3:
O juiz encerra as discussões e o corpo de jurados decide qual será
a sentença do réu.

Disciplinas que podem ser envolvidas:


História
Sociologia
Filosofia
Língua Portuguesa

42 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


Atividade 3

Com base nos estudos sobre a Insurreição de Queimado, complete


a cruzadinha a seguir:

1. Nome dado a revolta dos negros em Queimado.


2. Principal representante que simboliza a luta dos negros no ES.
3.Edifício construído pelos negros em busca de liberdade.
4. Monte localizado próximo ao local da revolta.
5. Grito dos negros ao entrar na Igreja, no início da revolta.
6. Celebração religiosa que inaugurou a Igreja de Queimado.
7. Principal objetivo dos negros ao construir a Igreja.
8. Suposto compromisso do Frei Gregório com os negros.
9. Município que possui a estátua de Chico Prego.
10. Um dos líderes da Insurreição de Queimado.
11. Município onde os líderes estiveram presos após a Insurreição.

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 43


ANOTAÇÕES

44 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


CAPÍTULO 3

O Sítio Histórico de
Queimado
Devido a forte presença de uma cultura branca europeizante em
nossa realidade, por muito tempo os patrimônios culturais eram enten-
didos somente como aqueles que tinham como herança os aspectos de
uma cultura ocidental europeia. Assim, os patrimônios eram reconhecidos
sob um ponto de vista elitista, como os palácios imperiais do Rio de Janeiro
e as cidades barrocas mineiras.
Apesar disso, o Sítio Histórico de Queimado é um patrimônio tomba-
do e rico em elementos educativos a serem desenvolvidos nos processos
escolares.
A Educação para as Relações Étnico-raciais, direcionadas pela lei
10639/2003 e alavancada numa proposta interdisciplinar, pleiteia uma pro-
posta educativa que transgrida o formato linear e positivista de ensino.
Tratar de educação é algo que não se limita ao espaço escolar e princi-
palmente a sala de aula, como pressupõe as perspectivas de ensino mais
tradicionais. É importante reconhecer que há outros espaços educativos
na formação dos sujeitos.
O ensino é uma área que comporta uma grande diversidade de ins-
trumentos educativos e métodos de ensino. A Educação Patrimonial é um
deles, se configurando como um forte trabalho educativo do contexto da
educação não formal.
A Educação Patrimonial consiste em “um instrumento de ‘alfabeti-
zação cultural’ que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o
rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória
histórico-temporal em que está inserido” (Horta; Grumberg; Monteiro, 1999,
p. 4). Assim, o trabalho de Educação Patrimonial com o Sítio Histórico de
Queimado possibilita aos alunos identificarem todo o significado histórico

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 45


construído naquele local. Não se trata de visitar e conhecer somente um
conjunto de pedras edificadas para formar uma igreja e um cemitério, onde
atualmente tudo se encontra em ruínas, mas de uma apropriação cultural
de todos os fatos ocorridos em torno deste patrimônio histórico.
Para planejar melhor as atividades de Educação Patrimonial com o
Sítio Histórico de Queimado é importante entender como estão as ruínas
da Igreja atualmente e que ações têm sido tomadas para sua valorização
e conservação, tanto no plano estrutural, como no âmbito histórico e sim-
bólico.
Até a década de 1940: A Igreja de São José de Queimado esteve em
uso até esta data, quando a Vila de São José de Queimado ainda era com-
posta por alguns moradores.

Figura 13. Igreja de São José de Queimado em 1945

1991: A Igreja ainda apresentava todas as suas fachadas de pé, ape-


sar de bastante degradadas.

1992: O Conselho Estadual de Cultura do Estado do Espírito Santo


aprovou o tombamento em caráter definitivo de Domínio Público a Igreja de
São José de Queimado como Patrimônio Histórico e Cultural.

46 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


Figura 14. Ruínas da Igreja de São José de Queimado em janeiro de 2017

Figura 15. Ruínas da Igreja de São José de Queimado em janeiro de 2017

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 47


1998: Surge o Fórum Chico Prego, tendo como participantes grupos
organizados da Região Metropolitana de Vitória, como grupos de religiões
de matriz africana, Fórum da Juventude Negra, Centro de Defesa dos Direi-
tos Humanos da Serra (CDDH), Mulheres Negras, Pastorais Sociais, grupos
culturais e outros. O Fórum Chico Prego foi o principal movimento a reivin-
dicar a conservação da Igreja de São José de Queimado.

Figura 16. Ruínas da Igreja de São José de Queimado em janeiro de 2017

1999: a Prefeitura Municipal da Serra realizou uma obra emergencial


de escoramento das Ruína da Igreja de São José do Queimado. As obras
tinham como objetivo impedir a continuidade do acelerado processo de
arruinamento e preservação do que restava do monumento. As paredes
sofriam de desaprumo tendendo a abrir e ameaçando ruir, pois já não pos-
suíam os elementos de amarração da construção (cobertura, paredes da
fachada principal, fachada fundo e do arco frontal). A ação de intempéries
tinha contribuído para a degradação das ruínas da antiga Igreja de São
José do Queimado.

48 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


Figura 17. Antigo cemitério da Vila de Queimado, em janeiro de 2017

2011: O Conselho Municipal do Negro (CONEGRO), ligado a Secretaria


Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura Municipal da Ser-
ra, por meio da Resolução nº01/2011, aprova o projeto do Sítio Histórico de
Queimado envolvendo o restauro e o projeto de edificação de um núcleo
cultural. Tal projeto contaria com a participação do Governo Federal.

Figura 18. Perspectiva do Projeto de Restauração e Revitalização do


Sítio Histórico de Queimado

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 49


Figura 19. Perspectiva do Projeto de Restauração e Revitalização do
Sítio Histórico de Queimado

2015: Doação do terreno da área das ruínas da Igreja de São José de


Queimado. A doação foi formalizada pela lei municipal da Serra/ES nº 4341,
de 2015, em que o prefeito sanciona:
Art 1º Fica o Poder Executivo Municipal autorizado a receber na for-
ma de doação, uma área de terreno medindo 8294,80 m2 [...]
Art 2º A área citada no a rtigo 1º será utilizada, exclusivamente, para
implantação do Projeto de Restauração do Sítio Histórico de Queimados, em
um prazo máximo de 05 anos.
Parágrafo Único. Em caso de descumprimento, a área retornará au-
tomaticamente para a propriedade do Sr. Carlos Larica.

50 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


Figura 20. Estrada de acesso ao Sítio Histórico de Queimado

2015: Solicitação de tombamento do Sítio Histórico a nível federal.


2017: Levantamento de recursos para a obra de revitalização e res-
tauração do Sítio Histórico de Queimado.

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 51


SUGESTÕES DE ATIVIDADES

Atividade 1

Organize uma aula de campo ao Sítio Histórico de Queimado. Toda


aula de campo deve acontecer em três momentos: o pré-campo, o campo
e o pós-campo.
Pré-campo: discuta todos os elementos relacionados à Insurreição
de Queimado e ao Sítio Histórico de Queimado em sala de aula.

Campo: delimite os espaços a serem visitados, questões problema-


tizadoras e a apropriação do patrimônio visitado como um elemento a ser
preservado.

Sugestão: a sequência cronológica construída no capítulo pode ser


trabalhada na aula de campo, de forma a levar questões, como: por quais
motivos há um abandono do Sítio Histórico de Queimado por muitos anos?
Por que alguns patrimônios recebem mais atenção dos órgãos do governo
do que outros?

Lembre sempre aos alunos: é aula de campo, não é passeio!

Pós-campo: discuta com os alunos a percepção que eles tiverem do


Sítio Histórico de Queimado. A partir destas discussões, os alunos podem
elaborar algum material que represente a memória construída do lugar,
como painel com fotos e/ou ilustrações ou uma maquete representando
as ruínas da Igreja de São José de Queimado.
Disciplinas que podem ser envolvidas:
História
Geografia
Sociologia
Artes
Língua Portuguesa
Filosofia

52 INSTITUTO FEDERAL DO ESPIRITO SANTO - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENSINO DE HUMANIDADES


Referências
Bibliográficas
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Vitória ES pela construção imobiliária entre o final do século XIX e meados
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Pós-graduação em Geografia, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitó-
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BRASIL. Presidência da República. Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de


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as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo ofi-
cial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura
Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Brasília, 2003. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm>. Acesso
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CUNHA, Guanair Oliveira da. Memória da Insurreição do Queimado


(1845-1850) Serra-ES: a precursora da Lei nº 10.639/2003. Revista Simbió-

NEGRO E RESISTÊNCIA - PROPOSTA EDUCATIVA SOBRE A INSURREIÇÃO DE QUEIMADO 53


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