Você está na página 1de 2

Apresentação oral de um livro: Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago

Bruna Cristina Fernandes Morais n.°4 11ºD

Olá, boa tarde a todos! Hoje estou aqui com a finalidade de vos apresentar um livro juntamente com
a minha opinião acerca do mesmo e, quem sabe, despertar em vós interesse na sua leitura.

Para começar, o livro que eu escolhi é da autoria de José Saramago e tem como título Ensaio sobre a
cegueira. Tenho a confessar que não foi uma escolha difícil, visto que já há algum tempo que pretendia
ler alguma das obras de Saramago. Além disso, foi um livro que me chamou bastante à atenção no
quesito de ter bastantes críticas positivas.

Antes de partir para a minha opinião em concreto, gostaria de falar um pouco acerca da citação que
dá início ao livro: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”. Logo após a leitura desta, é possível
concluir que não é da doença cegueira que se irá falar na obra, mas sim da cegueira moral, cultural e
ética da sociedade em que vivemos. Isto é, através de um jogo de palavras, no qual “olhar” representa
o simples ato de poder ver e “ver” e “reparar” representam a capacidade de analisar criticamente
tudo aquilo que nos é apresentado, Saramago condena então o facto de o ser humano se deixar cegar
pela raiva, arrogância, medo, egoísmo, entre outros sentimentos que acabam por o levar à perdição.
Temos ainda o facto desta cegueira ser branca, brancura causada pelo excesso de informação e
estímulos que nos iludem ao ponto de nos convencer que estamos “iluminados”. Tal é possível ser
confirmado nesta citação:

“(…) os cegos sempre estavam rodeados duma resplandecente brancura, como o sol dentro do
nevoeiro. Para estes, a cegueira não era viver banalmente rodeado de trevas, mas no interior de uma
glória luminosa”

Posto isto, penso que posso agora seguir para o meu ponto de vista em si.

Em primeiro lugar, um dos aspetos que queria destacar positivamente é o modo como a escrita de
Saramago desencadea em nós os sentimentos narrados na obra. Isto, pois foi um livro que realmente
me fez vivenciar todas as angústias, desesperos, dificuldades, resumidamente, todo o alvoroço de
emoções sentidas pelos personagens. Como exemplo disto, tenho uma das cenas que mais me custou
a ler, uma cena em que mulheres foram obrigadas a aceitar serem violentadas em troca de comida
para matarem a sua fome e a fome dos seus companheiros:

“Amanhecia quando os cegos malvados deixavam ir as mulheres. A cega das insónias teve de ser
levada dali em braços pelas companheiras, que mal se podiam, elas próprias, arrastar. Durante horas
haviam passado de homem em homem, de humilhação em humilhação, de ofensa em ofensa, tudo
quanto é possível fazer a uma mulher deixando-a ainda viva. (…) Nesse preciso momento a cega das
insónias foi-se abaixo das pernas (…). Está morta, disse a mulher do médico (…).”

Além disso, houve ainda uma passagem que me fez parar e refletir por um tempo:

“Quantos cegos serão precisos para fazer uma cegueira”

Esta frase fez-me questionar até quando se aceitará a arrogância, a tirania, a violência, como sendo
normais. Até quando seremos indiferentes diante de problemas sociais que nos são expostos
diariamente. Reformulando a questão, quanta maldade será precisa para tornar um problema digno
de ser questionado pela sociedade?

Em segundo lugar, um outro aspeto que também gostaria de salientar positivamente é a problemática
do género presente nesta obra. Por diversas vezes deparámo-nos com cenas nas quais os atos “maus”
são realizados pelos homens e os atos “bons” são realizados pelas mulheres. Permitam-me
exemplificar: face a uma disputa pela comida, visto que esta era roubada e racionalizada pelos “cegos
malvados”, os personagens masculinos, além de egoístas, mostraram-se covardes, pois, embora
descontentes com a mísera quantia de alimento disponibilizada, acovardam-se perante a perspetiva
de um confronto. No entanto, como referi ainda há pouco, foram as mulheres que deram um passo à
frente e aceitaram ser maltratadas em prol do bem de todos da ala onde habitavam. Ademais, ao
longo da obra toda somente uma mulher não é afetada com a cegueira, a mulher do médico. Assim,
Saramago opõe o egoísmo e a solidariedade, personificando-os, respetivamente, nos homens e nas
mulheres, propondo ainda uma esperança de um mundo radicalmente diferente do qual onde
vivemos ao transferir a uma mulher o poder de ver e de guiar todos os outros cegos.

Acho ainda importante realçar que as personagens masculinas e femininas são personificações de
atitudes, não constituindo representações de indivíduos singulares. Elas são elementos da alegoria
que opõe a razão e os sentimentos, não os homens e as mulheres, enfatizando a necessidade de uma
sociedade altruísta, em oposição à lógica do capitalismo.

Por fim, antes de partir para as minhas considerações finais, gostaria ainda de acrescentar que esta é
uma obra extremamente atual, como se pôde ver com as críticas abordadas. De facto, no Ensaio sobre
a cegueira há uma variedade imensa de expressões que, na minha opinião, podem ser usadas como
descrição do nosso dia a dia. Destaco algumas delas:

“O medo cega (…) são palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos
cegou, o medo nos fará continuar cegos”

“A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança.”

“Quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o
animalzinho que somos.”

Em conclusão, termino dizendo que o Ensaio sobre a cegueira é um livro que me cativou bastante,
abrindo-me os olhos para alguns aspetos da nossa sociedade acerca dos quais nunca tinha refletido e,
por isso mesmo, recomendo bastante a sua leitura.

Você também pode gostar